A República Saharaui, uma história de luta anticolonialista (Emiliano Gómez López) Localizaçao e dados gerais A República Árabe Saharaui Democrática (RASD) - antigo Sahara Espanhol - também conhecido como Sahara Ocidental, está localizada na costa atlântica do noroeste africano na frente das ilhas Canárias. Sua superficie é de 286.000 km². O território da RASD limita ao norte com Marrocos. No extremo nordeste está a fronteira com Argélia. No leste e pelo sul compartilha fronteira com Mauritânia. Sua capital é El Aaiún (hoje sob ocupação marroquina). O território saharaui está dividido em duas grandes regioes: Saguia El Hamra no norte, e Rio de Oro no centro e sul. O relevo do Sahara Ocidental é predominantemente plano e vai se elevando gradativamente da costa para o interior, até atingir alturas de 500 metros. No nordeste se extende a Hamada, um planalto muito árido, onde a temperatura no verao pode atingir os 60 graus centígrados. A população do Sahara Ocidental é de aproximadamente 500.000 habitantes de origem árabe, bereber e negro. Sua cultura é árabe, e suas línguas oficiais são o hassania (variante dialetal do árabe) e o espanhol. De fato, a República Saharaui é o único país árabe que tem o espanhol como segunda língua oficial. Seu território possui as maiores jazidas de fosfatos do mundo. Possui petróleo, gás, ferro, urânio, etc, e ao longo dos seus 1.062 km de costas, localiza-se uma das áreas de pesca mais ricas do planeta. Capítulo 1 - Contexto histórico da colonizaçao do Sahara Espanhol até 1945 1.1 - Causas da ocupaçao e colonizaçao do Sahara O processo de colonizaçao espanhola no Sahara Ocidental começou em 1882 e teve duas razoes principais: 1) - A primeira foi a pescaria e processamento industrial de espécies semelhantes ao bacalhau, que naquele tempo era um dos principais alimentos para milhoes de trabalhadores espanhois. 2)- La segunda tem a ver com a estrategia e a política espanhola para o Magreb árabe (1) e as ilhas Canárias. Em 1830, a França começou a conquista da Argélia e antes do fim do século XIX, seu dominio tinha-se extendido práticamente por todo o Magreb: Argelia, Tunísia e uma grande parte do Marrocos e Mauritânia. Os setores colonialistas da Espanha viam com alarme como a expansao francesa pelo noroeste africano, ia se projetando ameaçante sobre a faixa costeira do deserto. O impulso colonial francês punha em perigo o controle espanhol sobre essa porçao do território sahariano e as áreas de pesca do seu litoral. Era necessário portanto impor um freio à expansao francesa embora fosse pela própria segurança das ilhas Canárias. O Real Decreto do 24 de dezembro de 1884 colocou sob a proteçao da Espanha o tramo de costa comprendido entre os cabos Bojador ao norte e Blanco ao sul, além do “hinterland” correspondente. Simultaneamente o Presidente do Conselho de Ministros enviou uma circular às potências extrangeiras comunicando a decissao do seu governo. A dominaçao espanhola no Sahara ficou legalizada segundo o estabelecido pela Conferência Internacional de Berlím 18841885, que consagrou o repartiçao colonial da África. 1.2 - O processo de ocupaçao e a resistência anticolonial Desde épocas anteriores ao começo da ocupaçao espanhola, a estrutura política existente no Sahara Ocidental foi bem diferente das estruturas políticas dos seus vizinhos, Marrocos e Mauritania. O território saharaui constituia uma entidade independente cuja populaçao, agrupada em tribos nômadas, jamais tinha reconhecido a autoridade do sultao marroquino nem de nenhum emir mauritano. As tribos saharauis estavam organizadas numa confederaçao regulada pelo Ait Arbain ou “Conselho dos Quarenta”. Esta instituiçao estava integrada por representantes de cada tribo designados pelos homens e mulheres maiores de dezoito anos. O Ait Arbain exercia funçoes legislativas e mediava nos conflitos surgidos entre as diferentes tribos. Também assumia o poder político militar quando havia perigo de agressao externa. Em janeiro de 1885, la Companhia Comercial Hispano-Africana iniciou a construçao de um forte para proteger a planta processadora de pescado de Villa Cisneros (Río de Oro). Dois meses depois, grupos armados do Ait Arbain atacaram as obras e saquearam a planta. Logo, no mês de agosto chegou una companhia de atiradores reforçada com artilharia. A revolta foi esmagada rapidamente e continuou a construçao do forte. Entre 1887 e 1894 se registraram incursoes esporádicas contra o enclave militar e comercial de Villa Cisneros. Algumas tribos nao consentiram em se submeter ao dominio da Espanha e continuaram resistindo muitos anos. De qualquer modo, o processo de ocupaçao seguiu avanzando apesar das controvérsias e disputas com a França pela questao dos limites das respectivas zonas de influência. Em 1934, o governo da República Espanhola dividiu sua colônia em três zonas administrativas: Tarfaya, Saguia El Hamra e Rio de Oro. A cidade de El Aaiún, fundada em 1932, passou a ser a capital do Sahara Espanhol. 1.3 - O militarismo e a guerra do Rif Em 1998, Espanha perdeu as últimas colônias do seu antigo império -Cuba, Puerto Rico e Filipinas- após uma guerra desastrosa contra os Estados Unidos. Os setores colonialistas espanhois procuraram compensar os efeitos negativos da derrota iniciando um processo de investimentos industriais e financeiros no Marrocos. Eles impulsionaram a ocupaçao pacífica do norte de Marrocos (o Rif) a partir das praças fortes de Ceuta y Melilha. Porém, no dia 9 de julho de 1909, nacionalistas da zona de Melilha atacaram e destruiram as obras ferroviárias e as instalaçoes mineiras de uma empresa espanhola. Assím, estourou uma guerra que esperava e necessitava o militarismo hispano. A campanha de Melilha foi muito curta mas valeu para justificar o incremento do contingente militar no Marrocos. Poucos anos depois, a partir das comandâncias de Ceuta e Melilha se impulsionou a penetraçao “manu militari” do interior montanhoso do Rif, que acabou provocando uma rebeliao generalizada das cábilas (tribos) bereberes. Em 1921, o caudilho nacionalista Abd El Krim levantou em armas a populaçao, e invocando o Islam propagou a guerra contra os infiéis por todo o Rif. Nesse mesmo ano, as forças de Abd El Krim destroçaram o exército espanhol causando-lhe dez mil baixas na batalha de Annual. Em janeiro de 1923 foi proclamada a “Naçao Republicana do Rif” e em 1925, a revolta nacionalista se espalhou pela zona sob controle francês. Perante esta situaçao, ambas as metrópoles coordenaram esforços para lançar uma ofensiva conjunta. A Espanha preparou uma grande força expedicionária que foi desembarcada na bahia de Alhucemas, e a França fez entrar em combate cem batalhoes. Trás uma campanha extraordinariamente dura, se impôs a superioridade técnica das tropas européias. Em 1926, a resistência cabilenha foi aniquilada e Abd El Krim foi capturado pelos franceses. O Rif ficou "pacificado". A guerra reforçou o militarismo espanhol com uma nova geraçao de oficiáis superiores forjada nos campos de batalha. Estes oficiáis, conhecidos como “africanistas” sentiam um profundo desprezo pelos políticos e os intelectuais, e se consideravam uma espécie de cruzados da fé católica e guardioes da grandeza imperial da Espanha. 1.4 - Queda da monarquía, proclamaçao da República e guerra civil na Espanha A contenda com Marrocos teve como consequência um enorme desprestigio para a monarquia espanhola. Os efeitos da guerra traduziram-se em recrutamento forçado da juventude e dezenas de milhares de mortos e feridos. Esta situaçao facilitou a agitaçao social promovida pelo anarco sindicalismo e o Partido Socialista Obrero Español (PSOE). Ano trás ano foi crescendo o sentimento antimonárquico da sociedade espanhola até que em abril de 1931, através de eleiçoes municipáis, a populaçao se manifestou massivamente a favor das candidaturas republicanas e socialistas. O rei Alfonso XIII abdicou do trono e partiu para o exilio. No dia 14 de abril foi proclamada a Segunda República. Durante o período republicano se acelerou a polarizaçao da sociedade em dois campos com concepçoes político-ideológicas cada vez mais radicalizadas e antagônicas. Nas eleiçoes nacionais de abril de 1936 rivalizaram dois grandes blocos políticos, a Frente Popular e a Confederaçao Espanhola de Direitas Autônomas (CEDA). O bloco da esquerda ganhou a contenda eleitoral. Quase de imediato, as forças mais conservadoras, aglutinadas em torno de um ideário fascista, começaram a preparar uma sublevaçao militar contra o governo da esquerda. O Estado Maior da conspiraçao estava integrado pelos generáis “africanistas”, e foi no Protetorado marroquino onde começou o movimento sedicioso que rapidamente propagou-se por todas as guarniçoes da Espanha. No dia 18 de julho de 1936, uma grande parte dos chefes militares complotados, se levantaram contra o governo constitucional. O chamado “Alçamento Nacional” desencadeou a guerra civil e dividiu à Espanha em duas zonas. A zona democrática e republicana se enfrentou durante três anos à zona “nacionalista”, na qual instaurou-se uma ferrenha ditadura castrense, chefiada pelo general Francisco Franco, quem tinha galgado posiçoes na hierarquia militar combatendo contra os rebeldes do Rif como oficial da Legiao Espanhola. Os generais golpistas deram para Franco o título de “Generalíssimo” e “Caudilho da Espanha”. A guerra civil acabou com a queda do governo republicano e a vitória das armas franquistas, em abril de 1939. 1.5 - Projeto franquista para o Sahara Do mesmo modo que seus aliados e protetores, Hitler e Mussolini, o “Generalíssimo” também sonhava com um império colonial. A ocupaçao da França pelas tropas do III Reich em 1940, fez Franco acreditar que tinha chegado a hora de construir o novo imperio espanhol. O governo capitulador francés nao poderia se opor à expansao colonial espanhola pelo noroeste africano. Um Sahara Espanhol ampliado graças aos territórios vizinhos, com grandes bases militares, uma boa rede rodoviária, prospecçoes e exploraçoes mineiras, etc., poderia ser o primeiro passo para a construçao desse império. Acontece que para realizar tais projetos, era preciso ter recursos técnicos, pessoal qualificado e grandes investimentos. Tudo isso estava além das possibilidades de uma Espanha subdesenvolvida, endividada e com sua economia destruida pela guerra civil. Sobrevieram entao quinze anos durante os quais a populaçao saharaui permaneceu marginada de toda posibilidade de desenvolvimento. A administraçao colonial fez a tentativa de estabelecer no Sahara familias canárias e peninsulares e, ao mesmo tempo, forçou a sedentarizaçao de inúmeras familias nómadas ao redor de media duzia de centros urbanos e alguns postos militares, mas a vida da colonia só girava em torno dos afazeres militares e administrativos. (1) Ocidente (em língua árabe). O Magreb abrange os seguintes países: Líbia, Tunisia, Argelia, Marrocos, Sahara Ocidental e Mauritânia. Capítulo 2 - Processo emancipador do Magreb 2.1 - Independência de Marrocos Com a terminaçao da 2ª Guerra Mundial veio a desintegraçao do sistema colonial do imperialismo. A luta anticolonialista começou bem cedo no Magreb árabe, sobre tudo em Marrocos, cujo território estava dividido -desde 1912- em dois Protetorados, um francés e o outro, espanhol. Já em 1944, intelectuais e setores radicalizados das camadas médias marroquinas, fundaram o Partido da Independência “Istiqlal” (1). De imediáto, os nacionalistas enviaram um manifesto ao sultao Mohamed V e ao governo colonial francés, exigindo o fim do Protetorado e a concessao da independência a Marrocos. Em 1947, Mohamed V pronunció um discurso em Tánger defendendo as teses nacionalistas do partido Istiqlal. O governo colonial reagiu fomentando uma rebeliao dos senhores feudáis contra o sultao para depois tirá-lo do trono e deportá-lo, junto com a sua familia para Madagascar. A arbitrariedade dos franceses transformou o soberano num símbolo da resistência anticolonialista. En poucos meses, o Partido da Independência radicalizou suas posiçoes, criou o Exército de Libertaçao Nacional -ALN- (2) e no dia 1º de outubro de 1954 realizou a primeira açao armada. As açoes nacionalistas no Marrocos eram só um aspecto do processo emancipador do Magreb. Durante o período 1952-1956, o nacionalismo magrebí coordenou seus esforços numa frente comum anticolonial. Foi assím que em 1952, também o partido independentista tunísio, Neo Destur, começou o combate. Dois anos depois, em 1954, fundou-se a Frente de Libertaçao Nacional de Argélia (FLN) e quase de imediato encabeçou a insurreiçao popular contra o dominio francês. O rumo dos acontecimentos obrigou à França a reformular sua estrategia de dominaçao. Para o governo de París, a frente nacionalista do Magreb constituia um sério perigo. Era necessário neutralizá-lo introduzindo a divisao no seu séio, e para isso o governo da França deu a independência a Marrocos e Tunísia. Em agosto de 1955, representantes do nacionalismo marroquino e do governo francês se reuniram en Aix-les-Bains. Pouco depois Mohamed V fue libertado e retornou a Marrocos. No dia 2 de março de 1956, a França otorgou a independência ao seu Protetorado e no 7 de abril, o general Franco concedeu a independência à zona norte do Protetorado espanhol. A partir de entao, a França concentrou seus esforços em isolar a revoluçao argelina para descarregar contra ela todo seu poder repressivo. Na Argélia estavam os maiores interesses económicos da metrópole. 2.2 - Lutas pelo poder e raízes do expansionismo marroquino Durante os primeiros anos de vida independente, Marrocos teve um sistema de governo representativo onde coexistiam forças com ideologias e interesses econômicos diferentes, às vezes contrapostos. A tendencia mais progressista, formada por setores operários e intelectuais, pequenos comerciantes, camponeses e camadas médias, era partidária de reformas econômicas e políticas radicais. Do outro lado estava a grande burguesia agrária e comercial que, junto com a nobreza terratenente, constituiam a força conservadora, interessada em manter o neocolonialismo e preservar as estruturas feudais. Ambas as tendencias se confrontaram para impor seus interesses e seu peso nas decisoes da política do Estado, mas aos poucos foi se processando uma maior concentraçao de poder nas maos da monarquia. A Coroa alauí, personificada por Mohamed V, tinha se servido das forças independentistas radicais para recuperar seu poder, e logo após ter atingido seu objetivo quebrou sua aliança com éstas para se apoiar nos grupos mais conservadores e partidários da forma autocrática de governo. Entretanto, dentro do Istiqlal também existia uma luta entre a ala revolucionaria, dirigida pelo “Mahdi” Ahmed Ben Barka e a conciliadora mas ao mesmo tempo ultranacionalista, liderada por Allal El Fassi. Ambas as facçoes tratabam de se apoderar da direçao do partido e, naturalmente, a ala conciliadora contou com o apóio da Coroa, dos latifundiarios e dos representantes do neocolonialismo. Em junho de 1957, o sultao proclamou seu filho Muley Hassan como príncipe herdeiro. O príncipe assumiu imediatamente a chefia da policía e do exército. Com a proclamaçao de príncipe Hassan, o conservadorismo e o ultranacionalismo reforçaram suas posiçoes em prejuízo dos setores progressistas. Foi assím que a ideologia expansionista de Allal El Fassi, que sustentava o projeto do "Grande Marrocos", foi adotada pelo sultao e seu herdeiro e se converteu em doutrina oficial da dinastia alauí. Esse “Grande Marrocos” ia desde Gibraltar até o río Senegal, englobando a totalidade do Sahara Espanhol e a Mauritânia, além de grandes extensoes do sul-oeste argelino e Mali. No total, a monarquia marroquina pretendía anexar sob seu dominio dois milhoes de quilômetros cuadrados, muito ricos em minérios estratégicos. Os planos expansionistas fixaram como primeiros objetivos a recuperaçao do enclave espanhol de Ifni, a anexaçao de Tarfaya -regiao nortenha do Sahara Espanhol- e a ocupaçao da Mauritânia. 2.3 - Insurreiçao nacionalista de 1958 no Sahara Espanhol A partir de outubro de 1956, o ALN começou a infiltrar pequenos grupos armados no Sahara Espanhol com a desculpa de hostilizar as posiçoes fronteiriças do exército francés na Mauritânia. A meados de 1957 já agiam na colônia espanhola uns dois mil e quinhentos combatentes, quase todos eles membros das tribos saharauis e mauritanas. A presença destas formaçoes armadas respondia, por um lado, à intençao do comando marroquino de exercer pressao política e militar sobre os espanhois para recuperar o enclave de Ifni, e sobre os franceses para expulsá-los da Mauritânia, por outro lado, os combatentes saharauis e mauritanos também queriam libertar seus respectivos territorios do colonialismo européio. Para a estrategia marroquina nesse momento, o Sahara Espanhol era um objetivo secundario mas servia para ocultar o objetivo principal: os 1.700 km² do enclave de Ifni. E foi precissamente contra esse enclave que o ALN lançou sua ofensiva na madrugada do 23 de novembre de 1957. Uma semana depois, quase todas as localidades do enclave estavam em poder das forças nacionalistas. Só a capital, Sidi Ifni, resistia esperando a chegada de reforços para lançar a contraofensiva, que na primeira semana de dezembro expulsou os atacantes de todas as posiçoes que tinham ocupado. Ao mesmo tempo que estava desenvolvendo a ofensiva contra Ifni, o ALN iniciou as hostilidades no Sahara Espanhol atacando sua capital, El Aaiún, o dia 26 de novembro. Até o 23 de dezembro houveram várias tentativas de tomar por asalto esta cidade sem êxito. Embora a ofensiva militar marroquina contra Ifni e o Sahara Espanhol foi um fracasso, os setores ultranacionalistas do reino tinham criado as condiçoes políticas para exigir a Espanha a devoluçao de Ifni e a entrega da regiao de Tarfaya. Pouco tempo depois, o príncipe herdeiro marroquino Muley Hassán ordenou a retirada do ALN da colônia espanhola. Esta ordem nao foi obedecida pelos combatentes saharauis, e no dia 11 de janeiro de 1958 recomeçaram as hostilidades no Sahara. Rapidamente a insurreiçao se generalizou e as tropas espanholas foram forçadas à defensiva. Aos poucos as açoes bélicas se alastraram até atingir Mauritânia e obrigaram o governo francés a estabelecer um acordo de cooperaçao militar com a ditadura franquista. A partir do 10 de fevereiro, ambas as metrópoles desenvolveram conjuntamente e de forma simultânea duas ofensivas militares: a ofensiva espanhola, conhecida como “Operaçao Teide”, que mobilizou dez mil soldados e cem avioes, e a francesa, denominada “Operaçao Ecouvillon”, que mobilizou cinco mil homens e setenta avioes. Duas semanas depois, os exércitos européios tinham esmagado a insurreiçao, e a "paz" e a “ordem” coloniais foram restabelecidos na regiao. Com a derrota do movimento nacionalista, o colonialismo espanhol evitou que a revolta se espalhara pela regiao, garantindo segurança para os investimentos franceses no setor mineiro da Mauritânia. Também o governo francés foi beneficiado porque reforçou o cerco em torno da guerrilha independentista argelina impedindo-lhe a possibilidade de contar com uma retaguarda segura no Sáhara Espanhol e na Mauritânia. Finalmente até a monarquia alauí atingiu um dos seus objetivos: no dia 1º de abril de 1958, a Espanha cedeu Tarfaya em troca de que Marrocos garantisse que no futuro nao se iria alterar novamente a “tranquilidade” na regiao sahariana. (1) Independência (em língua árabe) (2) ALN - Armée de Liberation Nationale. Capítulo 3 - Os protagonistas do conflito 3.1 - Evoluiçao sócio-econômica do Sahara Espanhol 1960-1974 Trás a derrota da insurreiçao de 1958, o governo espanhol aplicou severas represálias contra a populaçao saharaui e forçou milhares de famílias a buscar refúgio nos territórios limítrofes de Marrocos, Argélia e Mauritânia. Os acontecimentos do ano 58 fizeram conque o governo de Madrí se ocupasse mais da sua longiqua colônia africana. Ao longo dos anos 60 foi se dando um lento processo de mudanças econômicas e sociais no Sahara Espanhol. Em 1963 se realizaram fortes investimentos produtivos nas jacidas de fosfatos de Bu-Craá que incentivaram a atividade económica da colônia e modificaram os costumes da populaçao autóctona. Com a urbanizaçao e o abandono progressivo da vida nómada os laços e as relaçoes tribáis começaram a desaparecer possibilitando a formaçao de uma consciência nacional saharaui. A populaçao de El Aaiún passou de 5.200 pessoas em 1959, a 28.000 em 1974. Um cálculo elaborado em 1959 estimava em 24.500 os habitantes da colônia e, segundo o último censo oficial de 1974, o número de saharauis era de 73.497. A fináis de 1975, a populaçao espanhola, entre civis e militares superava os 30.000 individuos. 3.2 - Importância os recursos naturais saharauis O Sahara Ocidental possui grandes riquezas minerais, principalmente fosfatos, ferro, petróleo e gas. Em 1947, um engenheiro espanhol detectou a existência de fosfato tricálcico na regiao de Saguia El Hamra. Dezesseis anos depois, foi descoberta uma enorme jazida de fosfatos na comarca de Bu-Craa. Sob uma camada de aréia de nove metros de espessura, estende-se a camada de apatita (minério portador do fosfato), cuja grossura média é de 5,6 metros. A jazida tem um área aproximada de 250 km² e suas reservas sao estimadas em dois bilhoes de toneladas. Em 1964, Espanha criou a empresa “Fosfatos de Bu-Craa”, FOSBUCRAA. As instalaçoes e o equipamiento para a exploraçao da jazida foram comprados a empresas francesas, norteamericanas e alemas. A firma Krupp da Alemanha construiu a fita transportadora com quase cem quilómetros de comprimento, que une a mina com a terminal de embarque de El Aaiún. A mina de Bu-Craa pode fornecer até dez milhoes de toneladas por ano trabalhando a plena capacidade. Sabe-se que na regiao centro-sul há uma grande jazida de ferro e além disso, há poucos anos que as prospecçoes realizadas no território saharaui confirmaram mais uma vez a existência de reservas de petróleo e gas natural, tanto no interior do pais quanto na plataforma continental. Além dos minérios o Sahara Ocidental tem um outro recurso muito valioso. Se trata do banco pesqueiro canário-sahariano, considerado um dos mais grandes e ricos do planeta. Esta zona pesqueira situada no sul das Canárias, se estende por 150.000 km² na frente do litoral saharaui. Duzentas espécies de peixes, sessenta de moluscos e várias de crustáceos, além do plancton e as algas, fazen com que as águas saharauis sejam visitadas cada ano por milhares de barcos pesqueiros de diferentes nacionalidades. Os recursos naturáis do subsolo e do mar territorial saharauis despertaram as apetências de alguns países ocidentais e dos seus vizinhos, Mauritânia y Marruecos. O rey Hassan II desejava conquistar o Sahara Ocidental e se apoderar dos seus fosfatos, porque assím a empresa estatal marroquina “Office Chérifien des Phosphates” teria o controle da maior parte das reservas e dos mercados internacionais do fosfato. 3.3 - Marrocos rumo à autocracia. A partir do ano 59 a monarquía em aliança com os representantes do neocolonialismo, da nobreza terratenente e da ala direita do Istiqlal tomou o controle do poder. Isso fez conque os elementos radicais do Istiqlal abandonaram o partido para fundar a "Union Nationale des Forces Populaires" UNFP sob a liderança de Ahmed Ben Barka Em maio de 1960, o rei nomeou um governo presidido por ele mesmo e pelo príncipe herdeiro, e acabou com as últimas apariências de participaçao democrática. Pouco depois, en fevereiro de 1961, faleceu Mohamed V e seu filho assumiu o trono com o nome de Hassan II. O novo monarca impôs uma Constituiçao "pré-fabricada" que elevou sua vontade à categoría de norma do governo e aplicou uma política repressiva, fazendo con que a monarquía constitucional projetada pelo seu pai em 1958, se transformasse numa autocracia ferrenha. Além do anterior, a monarquia aplicou uma política econômica regressiva que provocou uma grave crise social e o conseqüente incremento do movimento grevista, operário e estudantil. A violência repressiva do governo esquentou ainda mais a situaçao. Foi assím que no dia 23 de março, houve uma explosao de protesto popular em Casablanca que imediatamente se estendeu a Rabat, Fez, Marrakech e outras cidades. Hassan II empregou o exército e sufocou a revolta com um saldo de centenas de mortos e milhares de feridos. O 29 de outubro foi seqüestrado e desaparecido el "Mahdi" Ben Barka em París. A operaçao foi executada por agentes marroquinos em colaboraçao com a CIA e a "Sûreté" francesa. Com este crime, Hassan II se desfez do seu principal opositor e reforçou ainda mais seu poder pessoal. O poder absoluto do rei gerou nepotismo e muita corrupçao em torno dele. Isso fez com que uma parte da oficialidade, que tinha lutado pela indepêndencia e por uma forma de governo mais progressista, ficasse revoltada com o contraste entre a miséria da populaçao e a riqueza da corte. O descontentamento levou um grande grupo de oficiais a conspirar contra a monarquia, e a conspiraçao desembocou numa tentativa de golpe de Estado. El 10 de julio de 1971, os alunos de uma academia militar, comandados pelo seu coronel, assaltaram o palacio real de Sjirat quando o rei festejava seu aniversário. Essa tentativa de depor o rei Hassan fracassou, e sobreveio uma sangrenta depuraçao dos comandos militares. Centenas de oficiais e sub-oficiais foram executados, entre eles o general que organizou a tentativa de golpe e o coronel, diretor da academia militar. A monarquía superou a crise e fez com que o exército pagasse um preço muito alto. Mas o nepotismo e a corrupçao continuou a gerar descontentamento nos comandos castrenses. Foi assím que quando Hassan II estava de férias no seu castelo na França, se sublevou a base aérea de Kenitra, a mais importante de Marrocos. A nova crise obrigou o rei a regressar no dia 16 de agosto, mas quando o aviao real sobrevoava a regiao de Tánger em direçao a Rabat, foi interceptado por avioes de combate procedentes da base sublevada. A escuadrilha ametralhou o aviao real para forçá-lo a aterrissar em Kenitra, mas mesmo assím, com a aeronave metralhada e incendiada, o rei conseguiu chegar a Rabat. Apenas chegou no seu Palacio, Hassan II ordenou esmagar a rebelión, capturar os responsáveis e fazer uma severa depuraçao da força aérea. Em outubro desse ano compareceram perante o tribunal militar duzentos e vinte oficiais, acusados de conspiraçao e tentativa de assasinato contra o rei. Os acontecimentos de Sjirat e Kenitra criaram desconfiança e ódio entre a monarquia e as forças armadas. O rei adoptou medidas para afastar o exército bem longe com o objetivo de evitar novas tentativas golpistas. Dentro de esse esquema Hassan II enviou tropas a Golao (Síria) durante a guerra árabe-israelense de 1973, e iniciou a invasao do Sahara Ocidental em outubro de 1975. Quer dizer que, a necessidade de afastar o exército longe do Palácio Real, foi uma das razoes para invadir o Sahara. A oficialidade submetida a disciplina de guerra e sob a vigilância dos serviços de inteligência, teria pouco tempo e menos oportunidades para conspirar contra a monarquía. 3.4 - Mauritânia, da independência fictícia à utopia expansionista No dia 28 de novembro de 1960 a França concedeu a independência formal a Mauritânia. Assím nasceu a República Islámica de Mauritânia. As primeiras eleiçoes deram o governo ao Partido Popular Mauritano e a presidência nacional a Mohtar Uld Daddah. Desde entao, Marrocos hostilizou esta república com agressoes militares, campanhas publicitárias ofensivas e o desconhecimento da sua independência. Só em janeiro de 1970, o reino marroquino reconheceu diplomáticamente a Mauritânia graças à açao mediadora argelina e à influência francesa. Durante aqueles primeiros anos, a Mauritânia manteve uma quase total subordinaçao económica, política, militar e cultural a respeito da França. Mas a partir da segunda metade dos anos 60 dois importantes fatores contribuiram a quebrar essa dependência absoluta. O primeiro foi a chegada de investimentos británicos, japoneses, espanhois, norte-amercianos e alemaes, e o segundo foi o aprofundamento do nacionalismo económico orientado a reducir a dependência do exterior. Foi assím que o governo mauritano criou em 1966 o monopólio estatal sobre o comercio exterior, em 1972 a “Societé Nationale Industrielle et Minière” para a exploraçao do cobre e do ferro e, em 1973, o Banco Central. Pela primeira vez Mauritânia emitiu sua própria moeda. Mas apesar de ter diminuido sua dependência da França, o país continuou sendo subdesenvolvido e sua populaçao continuou a ter um dos níveis de vida mais baixos do mundo. Nesse contexto era um grande paradoxo que o governo mauritano sustentasse ambiçoes expansionistas a respeito do Sahara espanhol. Em tanto a coroa marroquina reivindicava uma boa parte do território mauritano e realizava açoes concretas para atingir seu propósito, o governo do presidente Uld Daddah se esforçava para demonstrar o direito mauritano sobre o território do Sahara Espanhol. Finalmente, em 1974, o regime de Uld Daddah e a monarquía marroquina decidiram agir conjuntamente para pressionar o governo espanhol com atitudes, declaraçoes e ameaças francamente anexionistas. Capítulo 4 - Antecedentes históricos e fundaçao da Frente POLISARIO 4.1 - O Movimento de Libertaçao do Sahara Durante a década dos anos 60, uma nova geraçao de independentistas, nascida das experiências e fracassos anteriores. impulsionou um nacionalismo essencialmente renovado, baseado na consciência nacional e nao no tribalismo, fundamentado com argumentos políticos e nao com sentimentos religiosos. Em 1968, um intelectual, Mohamed Sidi Ibrahim “Bassiri”, fundou o Movimento de Libertaçao do Sahara -MLS- para reivindicar pacificamente a independência. Em breve, a organizaçao clandestina já tinha reunido centenas de militantes entre os operários e empregados da indústria, funcionários da administraçao colonial, estudantes, suboficiais e soldados das tropas indígenas. 4.2 - Espanha perante o problema da descolonizaçao Em novembro de 1960, a Assembléia Geral da ONU, no seu XV período de sessoes, aprovou a Resoluçao 1514 referida ao processo de descolonizaçao dos enclaves coloniais que ainda subsistiam no mundo. O Comitê Especial encarregado de aplicar dita resoluçao, confeccionou uma lista de territórios a serem descolonizados, entre os quais figurava o Sahara Occidental. Em 1966, o Comitê Especial solicitou a Espanha a criaçao de condiçoes para realizar um referéndo no Sahara, afim de que a populaçao saharaui pudesse se expressar livremente sobre seu futuro político. O governo franquista aceptou formalmente a solicitaçao, mas o que realmente fez foi transformar o Sahara numa "provincia" da Espanha e para isso introduziu algumas reformas no regime jurídico e administrativo da colônia, entre elas a criaçao da Assembléia Geral do Sahara (a Yemáa) (1). Foi assím como o franquismo desperdiçou a oportunidade de proporcionar aos saharauis uma saída decorosa para sua emancipaçao política. As pressoes internacionais sobre o governo de Madrí, e mais em particular sobre a própria colônia, fez com que o governador do Sahara, organizasse uma atividade política em El Aaiún com fins propagandísticos. Dita atividade era para mostrar ao mundo a vontade da populaçao saharaui de se integrar ao Estado espanhol. A administraçao colonial convidou muitos jornalistas e observadores estrangeiros para que fossem testemunhas do acontecimento. Mas também o Movimento de Libertaçao convocou seus militantes e simpatizantes para uma manifestaçao paralela contra a manobra colonialista. Na manha do 17 de junho de 1970 uns poucos grupos se concentraram na frente da sede do Governo, entanto uma multidao enchia uma esplanada gritando consignas independentistas. Naquela tarde, um destacamento militar abriu fogo contra a multidao causando inúmeras vítimas entre mortos e feridos. Essa noite se desatou uma caçada de dirigentes e militantes do MLS; centenas foram detidos; alguns desapareceram, incluido o líder nacionalista Bassiri. Aquela açao repressiva acabou para sempre com os projetos de “confraternizaçao” entre espanhois e saharauis. 4.3 - A reorganizaçao nacionalista Como conseqüência da repressao, a militância nacionalista se dispersou e muitos dos seus integrantes se refugiaram nos países vizinhos, onde encontraram a ajuda das comunidades saharauis alí residentes. Em 1971 novamente começaram a se articular alguns grupos nacionalistas nas cidades de Zuerat, Tantán e Rabat. Foi precisamente em Rabat onde surgiu um núcleo muito ativo de estudantes universitários, entre os quais se destacava El Uali Mustafa Sayed. Este grupo, ao longo de 1972 promoveu encontros entre os diversos agrupamentos saharauis dispersos por Marrocos, Argélia e Mauritânia. A partir de janeiro de 1973 se multiplicaram as reunioes clandestinas e se fortaleceu a coordenaçao entre os diferentes setores da militância. Deste modo, nos derradeiros dias de abril começou uma conferência cujas sessoes se realizaram de forma intermitente e em distintos lugares do deserto para despistar o serviço de inteligência franquista. Esta conferência alcançou um consenso a respeito da necessidade de criar uma organizaçao político-militar para lutar pela independência. O dia 10 de maio de 1973, a conferência culminou suas atividades fundando a Frente Popular de Libertaçao de Saguia El Hamra e Río de Oro - Frente POLISARIO. 4.4 - A Frente POLISARIO, concepçao política e linha de açao A Frente POLISARIO é um movimento de libertaçao nacional de caráter democrático e definiçao anticolonialista e terceiro-mundista. Esta organizaçao reúne todos os setores e personalidades mais progressistas da sociedade saharaui, onde quera que estejam: exilio, regioes libertadas ou sob ocupaçao marroquina. Seus objetivos principais sao a independência total do Sahara Ocidental e a construçao de um Estado moderno no contexto de uma integraçao magrebí. No plano internacional, a Frente POLISARIO defende a criaçao de um Estado palestino, a unidade do mundo árabe e a eliminaçao de toda forma de colonialismo ou neocolonialismo na África. O manifesto político fundacional da F.POLISARIO, declarava: “Uma vez comprovado que o colonialismo quer manter sua dominaçao sobre nosso povo árabe, tentando aniquilá-lo pela ignorancia, a miséria, assím como pela sua separaçao do Magreb árabe e da Naçao árabe. Perante o fracasso de todos os métodos pacíficos utilizados, tanto pelos movimentos espontâneos como pelas organizaçoes impostas ou outros círculos, a Frente Popular de Libertaçao de Saguia El Hamra e Río de Oro, nasce como a expressao única das massas, que opta pela violência revolucionária e a luta armada como meio, para que o povo saharaui, árabe e africano possa desfrutar da sua total liberdade e se enfrentar às manobras do colonialismo espanhol. Parte integrante da revoluçao árabe, apóia a luta dos povos contra o colonialismo, o racismo e o imperialismo, e condena éstes pela sua tendência a exercer sua dominaçao sobre os povos árabes mediante o colonialismo direto ou pelo bloquéio económico Considera que a cooperaçao com a Revoluçao Popular Argelina, numa etapa transitória, constitui um elemento essencial para enfrentar as manobras contra o Terceiro Mundo. Convidamos todos os povos em luta a se unirem para enfrentar o inimigo común. Com o fusil arrebataremos a liberdade!” 4.5 - A guerra de libertaçao nacional No 20 de maio de 1973, dez dias após a sua fundaçao, a Frente POLISARIO realizou sua primeira açao armada contra o exército colonial. O alvo do ataque foi o posto policial de El Janga, e marcou o começo de uma guerra que aos poucos ultrapassou a capacidade de contrôle da administraçao espanhola. Aquele ataque foi o batismo de fogo do Exército de Libertaçao Popular Saharaui, cujas açoes posteriores fizeram con que o prestigio da Frente POLISARIO fosse crescendo entre a populaçao saharaui e os soldados nativos nas fileiras do exército colonial. Nos derradeiros dias de 1973, o ELPS já tinha quase cem combatentes. 1974 foi um ano chave para a consolidaçao do Exército de Libertaçao; por um lado multiplicou suas açoes de combate e intensificou sua campanha política para ganhar simpatizantes entre os soldados saharauis do exército colonial. Por outro lado, começou a receber armas da Líbia e da Argélia. O governo franquista reagiu à ofensiva independentista com uma manobra política para ganhar tempo e criar as bases sobre as quais erigir um futuro governo saharaui “independente” que garantisse os interesses económicos espanhois. No dia 20 de agosto enviou uma nota ao secretário geral da ONU anunciando a intençao de celebrar um referendo no Sahara sob os auspícios e garantias desse organismo, durante o primeiro semestre de 1975. Ao mesmo tempo impulsionou a formaçao de um partido político fiel aos interesses espanhóis, o “Partido de Uniao Nacional Saharaui” - PUNS. Durante o ano 1975, patrulhas completas de militares saharauis se uniram ao ELPS com veículos e armamento. Ao longo desse ano o Exército de Libertaçao foi tomando conta de inúmeros postos abandonados pelos espanhois. Porém a guerrilha independentista nunca estabeleceu bases permanentes, ela preferia preservar sua segurança na imensidao do deserto. Entretanto, o anúncio sobre a próxima celebraçao do referendo de autodeterminaçao, fez com que os governos marroquino e mauritano solicitaram levar a questao do Sahara perante a Corte Internacional de Justiça. A Assembléia Geral da ONU aceitou a solicitaçao e por isso foi adiada a consulta popular até que o Tribunal de Háia emitisse seu dictame à respeito. 4.6 - A Convençao de Ain BenTili Trás dois anos e meio de guerra, a Frente POLISARIO coroou seus esforços político-militares com a realizaçao, no dia 12 de outubro de 1975, da Convençao para a Unidade Nacional, na localidade mauritana de Ain Ben Tili. Nesse entao já era evidente a existência de um acordo entre Espanha e o reino de Marrocos para a entrega do território saharaui a este último. Á convocatoria da Frente acudiram representantes de todas as forças políticas, partidárias da independência: personalidades diversas, membros da Yemáa e alguns dirigentes do PUNS. Todos eles, sob a presidência de El Uali Mustafa Sayed, proclamaram a uniao do povo em torno do programa e das estruturas da Frente POLISARIO com o intuito de alcançar a independência e defender a integridade territorial do Sahara. (1) Assembléia (em lingua árabe) foi criada por decreto. A metade dos seus integrantes era designada pelas autoridades coloniais. A Yemáa era um órgao consultivo do Governador Geral. Capítulo 5 - Período 1974-1975, a complexidade de uma tragedia 5.1 - A monarquia se apronta para o assalto final Em 1973 Marrocos era um país inseguro para os investidores estrangeiros. As rebelioes militares de 1971 y 1972 tinham diminuido a credibilidad do regime e criado dúvidas a respeito da estabilidade da monarquia. Por isso Hassan II teve que adotar medidas para melhorar a imagem do seu governo e para evitar que a crise seguisse piorando até se tornar irreversível. O rei abriu o jogo político procurando estabelecer alianças com setores da burguesia nacional, para conter a luta popular e isolar os grupos golpistas do exército. Esta abertura fez com que a burguesía apoiara a política do Palacio em troca de uma cuota de participaçao no governo. Mas a aliança necessitava um aglutinante ideológico para convocar as cúpulas partidarias e as massas populares. Foi Hassan II quem aportou esse fator ideológico reativando o projeto do "Grande Marrocos" e fazendo da “recuperaçao do Sahara”, uma questao vital para a unidade nacional e a integridade territorial. Nesse contexto a monarquía desencadeou uma campanha ultranacionalista e convocou os dirigentes “opositores” a se unirem com o rei para alcançar a unidade nacional em torno do objetivo supremo da “recuperaçao” do Sahara Espanhol. Todos os partidos responderam positivamente ao trono e contribuiram a diluir o movimento reivindicativo da populaçao num oceano de fraseologia patriótica. A partir de 1974, a monarquía começou a pressionar o regime franquista para forçá-lo a negociar o traspaso da colônia. Nesse mesmo ano, o governo espanhol anunciou sua intençao de realizar o referendo de autodeterminaçao no Sahara. O anúncio fez o rei Hassan apelar à Corte Internacional de Justiça para solicitar um ditamen sobre a existência ou nao de laços jurídicos entre Marrocos e o Sahara Ocidental. Segundo o monarca, caso o território saharaui fosse “terra nullius” (1) quando se iniciou a colonizaçao espanhola, Marrocos aceptaria a realizaçao do referendo. Pelo contrário, se existissem vínculos jurídicos entre Marrocos e o Sahara, Madrí teria que negociar diretamente com Rabat a transferência da soberania sobre a colônia. 5.2 - O ditamen da Corte Internacional de Justiça A Assembléia Geral da ONU solicitou uma opiniao consultiva à Corte da Háia, sobre duas questoes: I - ¿Era o Sahara Ocidental (Río de Oro e Saguia El Hamra) ao tempo da colonizaçao espanhola um território sem dono (terra nullius)? Se a resposta à primeira questão for respondida negativamente, entao: II - ¿Quais eram os vínculos jurídicos entre esse território com o Reino de Marrocos e a entidade Mauritânia? O dia 16 de outubro a Corte Internacional emitiu seu ditamen. Em relaçao com a primeira questao, entendeu que: “A informação fornecida à Corte demonstra que ao tempo da colonização o Sahara Ocidental era habitado por populações que, mesmo nômades, eram social e politicamente organizadas em tribos, sob o comando de chefes competentes para representá-las" Em relaçao com a segunda questao a Corte concluiu que: “Os elementos e informaçoes levados ao conhecimento da Corte demonstram a existência ao tempo da colonizaçao espanhola de laços e “allegiances” (espécie de vassalagem) entre o Sultao de Marrocos e algumas das tribos que habitavam o território do Sahara Ocidental. Monstram igualmente a existência de direitos, incluindo alguns relacionados à terra, que constituíam vínculos jurídicos entre a entidade da Mauritânia, como entendeu a Corte, e o território do Saara Ocidental. Por outro lado, a Corte concluiu que os elementos e informações levados ao seu conhecimento não estabeleceram a existência de nenhuma relação de soberania territorial entre o território do Sahara Ocidental e o Reino de Marrocos ou a entidade da Mauritânia. Deste modo, a Corte não encontrou vínculos jurídicos de natureza a modificar a aplicação da Resolução 1514 (XV) da Assembléia Geral quanto à descolonização do Sahara Ocidental e, em particular, à aplicação do princípio da autodeterminação graças à expressão livre e autêntica da vontade das populações do território." 5.3 - Se aperta o arrocho em torno do Sahara Durante o segundo trimestre de 1975 ficou evidente o declínio do regime franquista que tinha exercido um autoritarismo ferrenho durante quase quarenta anos. A oposiçao à ditadura aumentava a cada dia, e à tensao causada pelas greves e manifestaçoes anti-ditatoriais, se sumou a incerteza perante a morte iminente do general Franco. Nessas circunstâncias, a conduta política do governo espanhol no assunto do Sahara foi muito ambivalente, quase que esquizofrênica. Entanto a delegaçao permanente da Espanha na ONU denunciava as ameaças de invasao feitas por Hassan II, e entanto o comando político-militar da colônia tinha conversaçoes e negociava com a Frente Polisario, destacados dirigentes do regime discutiam com o rei marroquino o preço de venda do território saharaui. Ao mesmo tempo, os EEUU e a França, em nome dos seus interesses geopolíticos, decidiram dar seu apóio total ao expansionismo marroquino e mauritano Para a concepçao geopolítica norte-americana, o mar Mediterráneo é um área estratégica como via de acesso rápido e direto à regiao do Oriente Médio e às jazidas de petróleo no Golfo Pérsico. Por tanto é vital para seus interesses assegurar a entrada pelo estreito de Gibraltar e a saída através do canal de Suez, assím como evitar quaisquer conflito que pudesse dificultar o trânsito por essa via marítima. Por tanto a península Ibérica e Marrocos eram objetivos prioritários na política global dos EEUU, pelo que Washington fez todo o possível para garantir a transiçao democrática na Espanha assím como evitar que a questao do Sahara provocasse um confronto armado com Marrocos. Porém a carta marroquina era a mais valiosa porque significaba manter um aliado para contrabalançar a influência da Argélia e Libia no Magreb. Isto fez com que o Departamento de Estado desse seu apóio ao rei Hassan II exercendo uma discreta pressao sobre Madrí para a entrega da colônia africana a Marrocos. Por sua vez, a França necessitava reafirmar sua presença em Marrocos e Mauritânia para impedir que os EEUU tirassem os dois países da sua esfera de influência. O expansionismo marroquino e mauritano permitiu que París retomasse a iniciativa no Magreb porque a preparaçao para a conquista do Sahara aumentou a dependência tecnológica, militar e financeira destes países. Como conseqüência, a França fez esforços diplomáticos para impulsionar o entendimento hispano-marroquino, e começou a fornecer armamento ofensivo ao exército de Marrocos. 5.4 - A Marcha Verde No mesmo dia em que se conheceu o dictamen da Corte Internacional de Justiça, o rei marroquino anunciou ao pais que o organismo internacional tinha reconhecido o direito de Marrocos de estender sua soberanía sobre o Sahara Ocidental. O rei convocou à populaçao a participar voluntariamente da Marcha Verde para tomar conta do Sahara. O argumento empregado pela monarquia era muito eficaz porque mexia com dois sentimentos coletivos básicos da sociedade marroquina: o patriotismo e a fé religiosa. Segundo o discurso oficial repetido até o cansaço desde 1974, o povo marroquino, inspirado pelo seu máximo líder espiritual, o rei Hassan II, atravessaria o deserto para reconquistar pacificamente as terras ocupadas pelos infieis estrangeiros. Na realidade, a Marcha Verde era uma encenaçao que tinha três objetivos. O primeiro era se constituir em justificativa da política entreguista do governo espanhol. Era óbvio que o governo madrilenho preferisse perder o Sahara antes do que entrar numa guerra contra Marrocos. O segundo objetivo era tornar inefetiva pela via dos fatos, qualquer resoluçao da ONU em pró da autodeterminaçao do povo saharaui. O terceiro objetivo era montar um espetáculo que atraísse a atençao da opiniao internacional para ocultar a verdadeira invasao militar que iria acontecer a duzentos quilômetros de distância. Os detalhes organizativos de essa maré humana tem sido revelados por publicaçoes oficiais marroquinas. Em princípio, se determinou a participaçao de 350.000 pessoas que foram transportadas a Marrakech empregando dez trens diarios durante doze días. De Marrakech até Agadir, e depois até Tarfaya, se utilizaram 7.813 caminhoes. No total, a enorme coluna dispunha de 17.000 toneladas de comida, 23.000 toneladas de água, 2.950 toneladas de combustível, 230 ambulâncias e 470 médicos e enfermeiros. 5.5 - Breve cronologia dos fatos nos trinta dias decisivos Sábado 18 outubro - O Chefe do Alto Estado Maior do exército espanhol comunicava que o presidente do Governo, Carlos Arias Navarro, tinha decidido iniciar a evacuaçao do Sahara no día 10 de novembro. Isto supunha deixar o território e seus povoadores à mercê de Marrocos. Terça 28 outubro - O Governo Geral da colônia decretou toque de recolher e cercou com arame farpado os bairros de El Aaiun habitados pela populaçao saharaui. Simultâneamente os soldados e suboficiais nativos do exército colonial, foram desarmados e dispensados do serviço. No decorrer da jornada se confirmou que as forças armadas espanholas tinham abandonado suas posiçoes num extenso setor da fronteira com Marrocos. Neste dia, a populaçao saharaui iniciou uma fuga massiva desde os centros urbanos para os acampamentos da F.POLISARIO, no interior do deserto. Quinta 30 outubro - As tropas espanholas continuaram abandonando posiçoes. Entretanto, nove batalhoes marroquinos, com tanques e artilharia, entravam pelo nordeste do Sahara Ocidental contando com o conhecimento e o consentimento do governo madrilenho. Domingo 2 novembro - O príncipe Juan Carlos de Borbón, - Chefe de Estado em funçoes viajou a El Aaiún e lá fez um discurso para a oficialidade reunida no casino militar: “Tenho vindo a saudar vocês e viver umas horas com vocês; conheço vosso espíritu, vossa disciplina e vossa eficacia. Sinto nao poder estar mais tempo aquí, com estas magníficas unidades, mas quería vos-dar pessoalmente a segurança de que se fará quanto seja necessario para que nosso Exército conserve intacto seu prestigio e seu honor. Espanha cumplirá seus compromissos e tratará de manter a paz, dom precioso que temos que conservar (...) Desejamos proteger também os legítimos direitos da populaçao civil saharaui, já que nossa missao no mundo e nossa história exigem isso de nós". Segunda 3 novembro - Na cidade de Tarfaya os voluntarios da Marcha Verde já ultrapassavam os trezentos mil. Quase todos eles eram desempregados das grandes cidades marroquinas. Neste día, autoridades espanholas e marroquinas se reuniram em Madrí para acordar que a Marcha Verde entraria durante cuarenta e oito horas e só até as barreiras de arame farpado e os campos minados da linha defensiva espanhola. Sexta 7 novembro - O Conselho de Ministros da Espanha tomou a resoluçao de negociar a entrega da colônia a Marrocos com a única condiçao de que o rei Hassan II ordenasse a retirada da Marcha Verde. Sexta 14 novembro - Neste día foi assinado o Acordo Tripartito de Madrí, pelos representantes dos governos da Espanha, Marrocos e Mauritânia. O acordo de Madrí foi a culminaçao das negociaçoes secretas entre delegaçoes oficiais de uns e outros governos. Seu conteúdo só se conheceu através de uma Declaraçao feita pública no dia 5 de dezembro, cujo texto dizia: “Em Madrí a 14 de novembro de 1975 e reunidas as delegaçoes que legitimamente representam os Governos da Espanha, Marrocos e Mauritânia, se manifiestam de acordo nos seguintes princípios: 1) - Espanha ratifica sua resoluçao, reiteradamente manifestada perante a ONU, de descolonizar o território do Sahara Ocidental pondo fim à responsabilidades e poderes que tem sobre dito território como potência administradora. 2) - De conformidade com a anterior determinaçao e de acordo com as negociaçoes impulsionadas pelas Naçoes Unidas com as partes afetadas, Espanha procederá de imediato a instituir uma administraçao temporal no território na que participarao Marrocos e Mauritânia em colaboraçao com a Yemáa (...) A terminaçao da presença espanhola no território se fará definitivamente, antes do 28 de fevereiro de 1976. 3) - Será respeitada a opiniao da populaçao saharaui expressada através da Yemáa. 5) - Os três países declaram ter chegado à anteriores conclusoes com o maior espírito de compreensao, fraternidade e respeito dos princípios da Carta das Naçoes Unidas e como a melhor contribuiçao à manutençao da paz e da segurança internacionais. A Espanha transferiu as responsabilidades e poderes que tinha como potência administradora a uma administraçao temporal tripartita. Esta transferência entrava em contradiçao com o artigo 73 da Carta da ONU segundo o qual, uma potência administradora nao pode dispor livremente da sua colônia nem transferir sua administraçao para outro país. Além disso, a España nao podia traspassar uma soberanía que nao possuia, porque dita soberania era patrimonio exclusivo do povo que habitava o território administrado. Com a assinatura do Acordo Tripartito, a Espanha legitimou a invasao do Sahara Ocidental, cujas consequências foram a morte ou o exilio para dezenas de milhares de seus povoadores. 5.6 - Plano estratégico da invasao O governo marroquino elaborou seu plano de invasao levando em conta alguns fatores muito favoráveis para o desenvolvimento das operaçoes militares: 1) - O apóio político, económico e militar da França, dos EE.UU. e de vários países da Liga Arabe. 2) - A cumplicidade do Estado espanhol e o repliegue sem combate do seu exército no Sahara. 3) - A superioridade técnica e numérica das Forças Armadas Reais sobre o exército saharaui. 4) - A participaçao do exército mauritano que possibilitava a abertura simultânea de duas frentes convergentes 5) - A garantia de que Argélia nao interviria diretamente no conflito. 6) - A possibilidade de obter a colaboraçao de alguns setores políticos saharauis. Mas o governo de Marrocos nao quis ou nao soube avaliar corretamente os seguintes fatores: 1) - A resistência do povo e do exército saharaui e a capacidade de combate deste último. 2) - A autodissoluçao da Yemaa, cuja representatividade poderia ter sido manipulada política e propagandisticamente em favor da anexaçao do território. 3) - A dureza do médio sahariano como fator de desgaste humano e técnico. 4) - A condena da invasao pelos países da Africa subsahariana. 5) - O desenvolvimento da solidariedade internacional com a causa independentista saharaui. Pode se afirmar que o plano estratégico da invasao do Sahara Ocidental, fracassou, porque os exércitos invasores nao puderam esmagar a resistência saharaui com uma guerra relâmpago. O outro fator principal do fracasso foi a autodissoluçao da Yemáa impedindo assím que fosse usada como marco institucional para legitimar a anexaçao do território saharaui. En efeito, o 28 de noviembre de 1975, se reuniram sessenta e sete membros da Yemáa (dos cento e dois que a compunham) e sessenta shiuj (2), para proceder à autodissoluçao da Assembléia Geral. Os participantes da reuniao votaram por unanimidade um documento condenando a traiçao do governo espanhol e proclamando sua adesao à Frente POLISARIO. 5.7 - Um povo rumo ao exílio Com a entrada do exército marroquino através da fronteira norte do Sahara Ocidental, começou a fuga da populaçao civil para as zonas sob controle da F.POLISARIO. À medida que a invasao avançava e se conhecia das detençoes massivas, torturas e assassinatos perpetrados contra a populaçao indefesa, a fuga se generalizou e se transformou num autêntico éxodo. Em grupos ou isoladamente, os fugitivos se internaram no deserto com a esperança de encontrar a proteçao dos destacamentos guerrilheiros. A travessia do deserto foi uma odisséia que costou a vida de centenas de pessoas, principalmente crianças e velhos. O clima, a fome, a sede, as doenças e o esgotamento, causaram estragos na massa de fugitivos. No final de dezembro de 1975, cerca de de vinte mil pessoas estavam nos acampamentos sem atençao médica nem medicamentos, com graves carências de água e alimentos, e quase sem abrigo para se protegerem do clima extremamente rigoroso. Em fevereiro e março de 1976, os refugiados já superavam a cifra de cinquenta mil e para piorar, foram atacados pela aviaçao marroquina. Só no acampamento de Um Draiga houve duas mil vítimas após três dias de bombardéios com napalm e fósforo branco. As incursoes aéreas continuaram até final de março, quando Argélia abriu sua fronteira à castigada populaçao saharaui. Rapidamente o ELPS e a Meia Lua Vermelha argelina trasladaram essa multidao dizimada e traumatizada para a regiao de Tinduf, no interior do território argelino, onde se instalaram acampamentos para os refugiados. (1) Terra de ninguém. (2) Shiuj, plural de Sheij - Caudilho, chefe tribal (em língua árabe) Capítulo 6 - A República Saharaui e sua batalha pela independência 6.1 - Nasce um novo Estado árabe e africano A República Árabe Saharaui Democrática nasceu na noite do 27 de fevereiro de 1976 em Bir Lehlu, na regiao de Saguia El Hamra, bem perto da fronteira com Mauritânia. Poucas horas antes, na capital, El Aaiún, o último representante da administraçao colonial tinha anunciado oficialmente o final da presença espanhola no território e, portanto, era necessário evitar que o vácuo jurídico deixado pela metrópole, fosse utilizado no plano internacional pelo expansionismo marroquino e mauritano. Naquela noite, perante um grande número de combatentes e dezenas de jornalistas, o secretário geral da Frente POLISARIO, El Uali, proclamou o novo Estado com as seguintes palavras: “Em nome e com a ajuda de Deus e materializando a vontade do nosso povo árabe saharaui, por fidelidade ao sangue dos nossos gloriosos mártires e como coroaçao de imensos sacrificios, se iça hoje a bandeira da República Árabe Saharaui Democrática sobre a terra de Saguia El Hamra e Rio de Oro” (ver documento 1) 6.2 - Primeiras ofensivas militares da Frente POLISARIO Depois da proclamaçao da República Saharaui, a jovem diplomacia saharaui se lançou à batalha pelo reconhecimento do seu Estado. Antes do final de março nove países ja tinham estabelecido relaçoes diplomáticas com o novo país africano. (ver documento 2) De forma paralela, o Exército Popular Saharaui lançou a denominada “Ofensiva de Verao” que se prolongou até finais de agosto. Nesse tempo extendeu suas operaçoes até o interior dos países agressores atacando as posiçoes fortificadas, a logística e as comunicaçoes na profundidade da retaguarda inimiga. Os bombardéios contra a capital da Mauritânia, distante mais de 350 km. da fronteira com o Sahara, demonstraram a capacidade militar dos saharauis. O III Congresso da F.POLISARIO, celebrado no mês de agosto, definiu à Mauritânia como o elo mais fraco da aliança expansionista e orientou concentrar as açoes de combate contra as posiçoes inimigas com maior valor estratégico tanto militar quanto econômico. A partir desse momento, o trem que transporta minério de ferro quanto o próprio complexo mineiro de Zuerat -coraçao da economia mauritana- se converteram em alvos permanentes dos destacamentos saharauis. 6.3 - Mauritânia rumo à derrota 1977-1978 A guerra causou danos irreparáveis na economia mauritana. A exportaçao de minério de ferro ficou práticamente paralizada pelas açoes militares saharauis. A capacidade de transportar minério até o porto de Nuadhibu reduziu-se em 70% e provocou uma queda vertical da entrada de divisas para o Estado. Ao mesmo tempo os gastos militares cresceram até absorver o 60% do orçamento nacional. Isso trouxe como conseqüência o incremento da carga impositiva sobre a populaçao e o encarecimento dos gêneros de primeira necessidade. Paralelamente com a crise econômica e militar, foi-se processando uma profunda crise de governo que o debilitou e acabou provocando a intervençao das forças armadas através de um Comitê Militar de Salvaçao Nacional. O Comitê derrubou o presidente Mohtar Uld Daddah no dia 10 de julho de 1978, e assumiu o governo da Mauritânia. Esse mesmo dia as novas autoridades manifestaram seu desejo de estabelecer a paz com a Frente POLISARIO e sair do território ocupado. Pouco depois começaram as primeiras conversaçoes entre os governos saharaui e mauritano, e trás muitas dificultades e empecilhos, o dia 5 de agosto de 1979, um representante do Comitê Militar de Salvaçao Nacional assinou em Argel o Acordo de Paz com a Frente POLISARIO. 6.4 - A estrategia marroquina dos muros defensivos Em janeiro de 1979, o Exército Popular desfechou a ofensiva “Hauari Bumedian” concentrando suas açoes na regiao de Saguia El Hamra e, sobre tudo, no território fronteiriço marroquino. Dois anos depois, o ELPS controlava as três quartas partes do Sahara Ocidental e mantinha sob ameaça todo o sistema militar do sul de Marrocos. Para evitar uma catástrofe total, o Estado Maior das FAR resolveu passar à defesa estática de suas posiçoes mediante muros fortificados. A nova estrategia marroquina se baseava na criaçao de uma área inexpugnável, que pudesse ser estendida gradativamente até abranger a totalidade do território saharaui. Os dois objetivos imediatos dessa estrategia foram: 1º - Proteger a zona económica mais importante do Sahara, isto é, o denominado “triângulo útil” cujos vértices eram a capital, El Aaiún, a cidade sagrada de Smara e as jazidas de Bu-Craa. 2º - Proteger o sul de Marrocos mediante uma barreira infranqueável para o exército saharaui. A partir de 1980 e até 1987, foram construidos sucessivamente seis muros totalizando 2.500 km. O muro está construido de pedra e aréia, e tem uma altura média de três metros. Na sua frente se estendem linhas de arame farpado e faixas de terreno minado. O complexo defensivo possui uma guarniçao de 150.000 soldados, protegidos por um sistema de radares que detectam o movimento de uma pessoa distante vários quilómetros. Dez quilómetros detrás do muro tem dispositivos de artilharia pesada, unidades de tanques e vehículos blindados. Todo o sistema está reforçado com helicópteros artilhados e avioes caças bombardeiros. A estrategia marroquina do muro foi possível graças ao assessoramento técnico o apóio económico dos Estados Unidos. A colaboraçao militar entre EEUU e Marrocos se intensificou depois de que Hassan II agisse como mediador para a aproximaçao entre Israel e alguns países árabes, aproximaçao que culminou com a assinatura dos acordos de Camp Davis em 1978. 6.5 - Batalha política na OUA Em julho de 1980, a XVII Reuniao Cimeira da Organizaçao da Unidade Africana, incluiu na sua agenda o análise da situaçao no Sahara Ocidental e a petiçao de ingresso da RASD como membro de pleno direito. Porém, Marrocos se opôs ao processo de admissao, e durante quatro anos semeou intrigas e criou confusao entre os movimentos políticos e governos africanos, e até fez chantagem ameaçando com dividir a Organizaçao Continental para impedir o ingresso do Estado Saharaui na OUA. Ficou muito evidente que a campanha marroquina contra a participaçao da República Saharaui nas atividades da OUA, nao ia se deter embora provocasse a quebra definitiva da organizaçao. Finalmente, alguns chefes de Estado africanos resolveram votar pela incorporaçao plena da República Saharaui na OUA durante a XX Cimeira realizada em Addis Abeba do 12 ao 15 de novembro de 1984. O governo marroquino, muito contrariado, se retirou da Cimeira e se autoexcluiu da mesma OUA, ficando totalmente isolado no continente africano. 6.6 - Assalto aos muros e ofensiva “Grande Magreb” De 1982 a 1984, a Frente POLISARIO estudou a estrategia marroquina para detectar seus pontos fracos e desenhar uma tática para furar o sistema defensivo dos muros. Pouco depois da XIX Cimeira da OUA o exército saharaui se lançou ao assalto dos muros e até outubro de 1984, continuou a atacar as posiçoes do inimigo, conseguindo furar o complexo fortificado em inúmeras oportunidades. A política dos muros fez com que o exército do rei fosse refém da sua própria estrategia. Os marroquinos se condenaram a uma defesa estática o que lhes impidiu desenvolver qualquer contra-ataque e transformou suas unidades em alvos fixos. Pelo contrário, os comandos do ELPS podíam escolher a hora e o lugar para executar seus ataques. A experiência de combate acumulada pelo exército independentista durante esse período, lhe possibilitou articular e lançar no dia 13 de outubro de 1984 a ofensiva "Grande Magreb". Essa ofensiva se estendeu até fináis de 1989 e teve como objetivo erosionar a moral e a capacidade de combate das forças armadas monárquicas mediante uma guerra onde se combinavam as pequenas e contínuas açoes guerrilheiras, com as operaçoes militares de grande envergadura. A estrategia de desgaste desenvolvida durante a ofensiva “Grande Magreb” conseguiu atingir seu objetivo pricipal ou seja, obrigar à monarquia a dialogar com a Frente POLISARIO e começar um processo de negociaçoes de paz sob o auspício das Naçoes Unidas. 6.7 - Marrocos 1979-1985 A maré ultranacionalista que inundou Marrocos quando a Marcha Verde e o início da invasao do Sahara, foi disminuindo lentamente perante a força dos problemas sociais e econômicos. Estes problemas foram se agravando pela guerra e descarregaram todo seu peso sobre a populaçao trabalhadora. A guerra no Sahara trouxe como consequência imediata um grande desequilibrio no orçamento nacional a favor dos gastos militares. O esforço bélico fez que a monarquia tivesse que aumentar os impostos. A medida desatou um movimento grevístico que rapidamente pulou das reivindicaçoes sindicais a outras referidas à falta de liberdades e às péssimas condiçoes de reclusao que sofriam centenas de presos políticos. A situaçao ficou mais tensa a partir de 1980 quando a seca causou danos irreparáveis na agricultura e começou a escassez de alimentos. O governo teve de importá-los à custa de elevar a dívida externa até níveis intoleráveis para o país. Perante a gravidade da situaçao, o Fundo Monetário Internacional ajudou à monarquia com empréstimos de emergência, mas, em troca, exigiu uma violenta reduçao dos subsídios estatais aos alimentos, à moradia e aos combustíveis. A aplicaçao das orientaçoes do FMI geraram uma grande carestia, o que provocou uma nova onda de greves e protestos sociais. No mês de junho de 1981, o protesto popular se transformou numa insurreiçao, cujo epicentro foi a cidade de Casablanca. Lá o exército tomou conta das ruas com seus blindados e metralhou as multidoes. O saldo de vítimas mortais foi de 60, segundo o governo, e de 637, segundo a oposiçao. Os feridos sumaram milhares, e dois mil os presos. A massacre de Casablanca provocou a quebra definitiva da “unanimidade nacional” criada pelo palacio para realizar a invasao do Sahara Ocidental Entretanto a monarquía enfrentava crescentes dificuldades por causa da retirada mauritana da guerra, o que obrigou o exército marroquino a estender sua presença no território do Sahara até entao ocupado pelas forças armadas da Mauritânia. Isso demandou o emprego de mais tropas e por conseguinte, o aumento dos gastos militares. O ano 1984 começou com uma nova explosao popular. Desta vez a insurreiçao se estendeu a Marrakech, Agadir, Fez, Nador e Casablanca. Durante uma semana de janeiro a populaçao saiu às ruas para protestar contra a política econômica governamental e a continuidade da guerra no Sahara. Uns quinhentos manifestantes foram mortos pelas forças repressivas e outros dois mil foram detidos. Nos fináis da década do 80, a guerra, a opressao e a miséria continuavam a ser uma dura realidade para a sociedade marroquina. Em 1988, o país tinha uma dívida de 20 bilhoes de dólares e gastava cerca de cinco milhoes diários para manter no Sahara um contingente de 160.000 homens. Capítulo 7 - O esforço final 7.1 - Negociaçoes de paz ONU - OUA De acordo com as resoluçoes AHG/104 da OUA e 41/16 da ONU , os máximos dirigentes de ambas as organizaçoes, tinham que conseguir que as duas partes em conflito negociaram as condiçoes de um cessar-fogo, assím como as modalidades para a realizaçao do referendo de autodeterminaçao no Sahara Ocidental. Em março de 1988 o plano de paz ONU-OUA recebeu o pleno apóio norte-americano quando o secretário de Estado adjunto, Richard Murphy, declarou que os Estados Unidos nao reconheciam a soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental, e que o problema nao podia ser resolvido militarmente senao mediante negociaçoes. Porém o caminho para a paz tinha dois obstáculos: a rejeiçao marroquina a dialogar diretamente com a Frente POLISARIO, e a insistência de Hassan II em realizar o referendo sem tirar do Sahara os 165.000 soldados e os 200.000 colonos marroquinos. Finalmente, graças às gestoes da ONU e da OUA foi possível elaborar o texto de um plano de paz para ser submetido à consideraçao do governo marroquino e da Frente POLISARIO. No dia 30 de agosto, os representantes das duas partes comunicaram ao secretário geral, Javier Pérez de Cuéllar, que estavam de acordo com o plano de paz ONU-OUA. Um mês depois o Conselho de Segurança deu luz verde para esse plano e autorizou o Secretário Geral a nomear um representante especial, cuja missao fosse promover iniciativas para a aplicaçao do plano de paz no Sahara Ocidental. Em outubro de 1988, Javier Pérez de Cuéllar anunciou a designaçao do jurista uruguaio, Dr.Héctor Gros Espiell, como seu representante especial para o Sahara Ocidental. 7.2 - A Missao Gros Espiell e o encontro de Marrakech De forma surpresiva, dias antes do natal, Hassan II manifestou sua vontade de ter um encontro pessoal com os dirigentes da F.POLISARIO. Pouco depois, a organizaçao saharaui anunciou o envio de uma delegaçao de alto nível para se entrevistar com o rei de Marrocos. No dia 3 de janeiro de 1989 chegou a Marrakech a delegaçao da Frente POLISARIO que durante os dias 3, 4 e 5 de janeiro se encontrou duas vezes com o monarca e mais duas vezes com altos funcionários muito próximos do rei. O encontro de Marrakech concluiu com o compromisso de Hassan II de continuar o diálogo numa outra data, supostamente próxima. Entretanto e graças às gestoes do Dr.Gros Spiell, o Reino de Marrocos e a Frente POLISARIO reafirmaram seu acordo de realizar o referendo, e aceitaram acatar obrigatoriamente seus resultados. Ao mesmo tempo uma comissao de técnicos espanhois elaborava a lista de votantes a partir do censo feito pela Espanha em 1974. Também o Comitê Internacional da Cruz Vermelha iniciava as pesquisas para a deteçao dos prisioneiros de guerra de um e outro bando, assím como dos prisioneiros civis saharauis (1) desaparecidos nos cárceres da monarquia. No dia 28 de enero, a organizaçao independentista declarou unilateralmente uma trégua de trinta días para facilitar o processo de negociaçoes e seguir avançando em questoes tais como, as tropas que seriam retiradas do Sahara durante a preparaçao do referendo, os acantonamentos das tropas restantes, e outros aspectos de caráter militar. Nesse contexto, no dia 9 de maio, o governo saharaui resolveu libertar duzentos prisioneros marroquinos (2). Porém o rei Hassan se negou a receber os militares libertados a pesar dos esforços da Cruz Vermelha para conseguir sua repatriaçao. 7.3 - A guerra em funçao da paz. Ofensiva de 1989 No 28 de fevereiro acabou a tregua decretada pela Frente POLISARIO um mês antes. Nao obstante, a organización saharaui ficou atenta a qualquer indício de vontade negociadora do rei marroquino. Porém, depois de esperar nove meses após o encontro de Marrakech, Hassan II nao deu nenhum sinal de estar disposto a continuar dialogando. Pelo contrário, se empenhou em proclamar que a marroquinidade do Sahara nao era negociável. Perante essas circunstâncias a Frente POLISARIO ordenou recomeçar as operaçoes militares em grande escala para forçar a retomada do processo de paz e obrigar o governo marroquino a seguir com as conversaçoes iniciadas em janeiro. A ofensiva começou com um ataque contra o sector de Guelta Zenmur que causou 200 baixas ao exército marroquino. Quatro dias depois, o ELPS atacou o sector de Hausa e ocupou dezessete quilómetros do muro fortificado. Nessa açao morreram ou foram feridos 340 marroquinos, e outros 36 cairam prisioneiros. No 7 de novembro os ocupantes receberam mais um duro golpe perto de Amgala. Nove dias depois foi assaltado outro sector do muro entre Amgala e Guelta. Nesses dois combates, as forças monárquicas sofreram 350 baixas. 7.4 - A paz apesar de todo As gestoes da ONU e da OUA, além dos sérios reveses militares sofridos no final de 1989, fizeram com que el governo marroquino finalmente aceitara o Plano de Paz elaborado por ambas as organizaçoes. Este Plano continha os pontos seguintes: A- Declaraçao do cessar-fogo no dia “D” com data a ser fixada. B- Estabelecimento de um período transitório de 24 semanas a partir do día “D” até a realizaçao do Referendo. C- Atualizaçao e verificaçao do censo espanhol de 1974 mediante uma Comissao de Identificaçao. D- Reduçao das forças marroquinas no Sahara nos três meses seguintes o cessar fogo, e acantonamento de todos os combatentes em lugares determinados. E- Desenvolvimento da campanha política pelo Referendo, garantindo a liberdade de movimento, de expressao, de reuniao, de manifestaçao e de imprensa. F- Retorno pacífico ao território de todas as pessoas que queram fazé-lo e que reúnam as condiçoes para votar no referendo. G- Intercâmbio de prisioneiros através da Cruz Vermelha. Anistia e libertaçao de todos os prisioneiros políticos saharauis. Derogaçao de leis e disposiçoes opostas à realizaçao do referendo onde os votantes escolherao entre independência ou integraçao a Marrocos O Conselho de Segurança da ONU aprovou em abril de 1991 a criaçao da Missao de Naçoes Unidas para o Referendo do Sahara Ocidental - MINURSO (3) Em contraposiçao às gestoes da ONU, a monarquia marroquina desplegou através dos partidos políticos domesticados, uma barulhenta campanha nacionalista contra o Plano de Paz. A campanha ultranacionalista alcançou seu ponto álgido no mês de agosto quando Hassan II manifestou num discurso que só aceitaria um referendo que fosse confirmativo da marroquinidade do Sahara Ocidental. Paralelamente, os partidos da “oposiçao” declaravam que a recuperaçao das provincias saharianas era definitiva, e que o referendo nao podia ser aceito porque atentava contra a "integridade" de Marrocos. Para completar a encenaçao "patriótica", o 22 de agosto as forças armadas reais atacaram regioes controladas pela Frente POLISARIO; seus blindados alcançaram Bir Lehlu e a aviaçao bombardeou Tifariti. Ambas as localidades ficaram destruidas. Porém, apesar dos empecilhos criados pela monarquia, o día 6 de setembro às seis horas da manha entrou em vigor o cessar-fogo em todo o território do Sahara Ocidental. O primeiro contingente da MINURSO tinha chegado ao aeroporto de El Aaiún na última hora da véspera num aviao norte-americano. Mais tarde chegaria uma aeronave soviética com outro contigente de capacetes azuis. (1) Os civís saharauis desaparecidos sao aproximadamente 550. (2) A Frente POLISARIO tinha cerca de 3.000 soldados e oficiais marroquinos prisioneiros. (3) A MINURSO estaria integrada pelo Representante Especial e seu pessoal: a unidade civil, a unidade de segurança e a unidade militar. A unidade civil teria três componentes: a Comissao de Identificaçao e Referendo, a Comissao de Repatriaçao e a Comissao Administrativa. No total, a Missao iria ter quase três mil pessoas. Capítulo 8 - A monarquia barra o referendo no Sahara Apenas alguns dias depois de ter entrado em vigor o cessar-fogo, o governo de Marrocos interrompeu a instalaçao da MINURSO e pus como condiçao para continuá-la a aceitaçao de uma lista com 120.000 nomes de “saharauis” domiciliados no Marrocos que teriam o direito de votar. Ao mesmo tempo começou a trasladar para o território ocupado grandes contingentes de esses potenciais votantes e os instalou em acampamentos precários nos arredores de El Aaiún e outras cidades. O governo marroquino pretendía impôr seus critérios de identificaçao para possibilitar a inclusao no padrao eleitoral desses colonos, supostamente saharauis. Com esse propósito aplicou sistematicamente uma política de distorçao e obstruçao com a finalidade de frustrar a aplicaçao do Plano de Arranjo e involucrar às Naçoes Unidas na manobra fraudulenta. Sorpresivamente, no 19 de dezembro de 1991 – três dias antes de deixar seu cargo-, Javier Pérez de Cuéllar informou ao Conselho de Segurança que ele aceitava a solicitaçao marroquina de ampliar os critérios electorais, e recomendava levar em conta a lista complementar de possiveis votantes, fornecida pelo Marrocos. Pouco depois, durante a última sessao do Conselho de Segurança, varios países terceiromundistas encabeçados por Cuba e o Iêmen, alegaram que as recomendaçoes do Secretário Geral eram muito vantajosas para Marrocos porque permitiam participar no referendo a dezenas de milhares de marroquinos, partidários da anexaçao do Sahara Ocidental. Porém, o Conselho de Segurança votou o relatório de Pérez de Cuéllar e deste modo, o referendo de autodeterminaçao, previsto para janeiro de 1992, foi adiado e o processo de paz ficou paralisado até 1997. 8.1- Breve cronologia de uma sabotagem consentida 1992- Ao longo deste ano o governo marroquino continuou deslocando para o Sahara Ocidental mais contingentes de supostos saharauis. Entretanto, a gestao do novo Secretário Geral da ONU, Boutros Ghali, se limitava a questoes administrativas e a impulsionar, através do seu representante especial, Yahub Jan, reunioes em Genebra de antigos chefes tribais saharauis para unificar critérios sobre como definir e identificar os integrantes do padrao eleitoral. 1993- No dia 2 de fevereiro o grupo financeiro marroquino Omnium Nord- Africain (ONA), presidido pelo genro de Hassan II, anunciou em Casablanca a nomeaçao de Javier Pérez de Cuéllar como vice-presidente de uma das suas filiais. A notícia foi confirmada pelas agências de imprensa da França (AFP) e Marrocos (MAP), despertou a suspeita de que a nomeaçao era a recompensa por ter propiciado mudanças no Plano de Arranjo da ONU em favor do Marrocos. Durante todo o ano continuou a polêmica sobre os procedimentos para identificar os votantes do referendo. 1994- Em fevereiro a ONU informava que o trabalho para identificar os votantes já tinha começado nos territórios sob ocupaçao marroquina mas nao assím nos acampamentos, porque a Frente POLISARIO rejeitava os critérios que estavam se aplicando. Por outro lado, a monarquia seguia manifestando seu acordo com a celebraçao do referendo sempre que ele fosse para confirmar a "marroquinidade" do Sahara. Em novembro, o Conselho de Segurança mostrou su inquietaçao pela lentidao dos procedimentos e Boutros Ghali teve que visitar a regiao para "ativar o processo de identificaçao dos eleitores". 1995- Em Janeiro, o vice-presidente da Comissao de Identificaçao, o norte-americano Frank Ruddy, declarou perante o Congresso dos Estados Unidos que a MINURSO "tinha se convertido num instrumento marroquino para manipular o processo identificatório". Ao final de junho a Frente POLISARIO suspendeu sua participaçao no processo porque Marrocos seguia deslocando grandes quantidades de colonos para o Sahara Ocidental para forçar à ONU a identificá-los e assím enlentecer os procedimentos. 1996- Boutros Ghali recomendou interromper a organizaçao do referendo e propus buscar uma nova soluçao política para o conflito do Sahara Ocidental. Ghali deixou seu cargo a final do ano sem que o Plano de Arranjo tivesse progresado. 8.2- A extensa e fracassada Missao Baker Em abril de 1997, o novo Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, designou como enviado especial para o Sahara Ocidental ao ex-Secretário de Estado norte-americano, James Baker. Baker consiguiu levar Marruecos e a Frente POLISARIO à mesa de negociaçoes para superar as dificuldades que tinha conduzido ao estancamento do Plano de Arranjo. Como resultado desses encontros ambas as partes assinaram em setembro os Acordos de Houston e se reativaram as tarefas de identificaçao para o referendo. Finalmente, em janeiro do ano 2000, a MINURSO pôde publicar a lista completa de votantes (1) e deu um prazo para exercer o recurso de apelaçao a todos aqueles que apresentando "provas suplementarias" pudessem eventualmente ingressar no padrao eleitoral. Esta circunstância foi aproveitada pela monarquia para apresentar 130.0000 recursos no mês de fevereiro e com isso conseguiu colapsar a organizaçao do referendo e paralisar mais uma vez o Plano de Arranjo. À respeito do referendo, apesar do falecimento de Hassan II em julho de 1999, a política marroquina nao tinha experimentado nenhuma mudança. Seu herdeiro, o rei Mohamed VI, -apoiado e assessorado pela França- continuava a ignorar as resoluçoes da ONU e sabotava qualquer iniciativa para a soluçao do conflito em concordância com o Direito Internacional. Perante a situaçao gerada pela avalanche de recursos de apelaçao, Baker teve que promover uma nueva ronda de negociaçoes para destravar o processo de paz. Foi assím que Marrocos e a Frente POLISARIO se reuniram duas vezes em Londres e depois em Berlim. Neste último encontro - realizado em setembro de 2000- a delegaçao marroquina declarou que o Plano de Arranjo era inaplicável e que só levariam em conta uma soluçao que reconhecesse a soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental. Em Berlim ficou evidente que tinha se produzido uma mudança na conduta da ONU, porque Baker nao pressionou Marrocos para que cumprisse o acordado no Plano de Arranjo, senao que admitiu uma nova proposta da França e Marrocos referida a uma "terceira via". Essa terceira via se materializou no denominado "Projeto de Acordo Marco" segundo o qual, durante cinco anos o Sahara Ocidental permaneceria sob a soberania marroquina. No final desse período se decidiria o futuro político do Território mediante um referendo no que “teriam direito ao voto todas as pessoas que tivessem residido no território durante o ano anterior ao referendo”. A Frente POLISARIO rejeitou esse Projeto e o Conselho de Segurança também o fez reafirmando a validez do Plano de Arranjo. Um ano depois, em janeiro de 2003, James Baker apresentou o "Plano de Paz para a Libre Determinaçao do Povo do Sahara Ocidental, ou Plano Baker II" muito parecido com o anterior “Projeto de Acordo Marco”. Nele se estabelecia que, transcorrido o período de cinco anos, a ONU realizaria o referendo no que poderiam votar os saharauis e também os colonos marroquinos instalados no território desde dezembro de 1999. Apesar de que o Plano Baker II era desvantajoso, a Frente POLISARIO comunicou sua aceitaçao no mês de julho, e pelo contrário, Mohamed VI o rejeitou um ano mais tarde porque constituia uma "ameaça à integridade territorial marroquina". Ficou em evidência que a monarquia já nao confiava na fidelidade dos seus próprios súbditos. Finalmente, depois de sete anos de esforços infrutuosos, James Baker apresentou sua dimissao no mês de junho de 2004. Segundo a Frente POLISARIO, a decissao de Baker foi causada pela "posiçao intransigente do Marrocos" e "a falta de firmeza e a debilidade do Conselho de Segurança para impor suas resoluçoes". Para o ministro das Relaçoes Exteriores de Marrocos, a demissao de Baker foi "o resultado da tenacidade da diplomacia marroquina". 8.3 - A revolta popular entra no cenário político A meados de maio de 2005 a populaçao saharaui das cidades ocupadas iniciou um movimento de protesto que rápidamente se espalhou por todo o território até atingir as cidades do sul do Marrocos, onde reside um grande número de pessoas de origem saharaui. A revolta, barulhenta mas pacífica, protagonizada por multidoes de jovens pus em evidência que a política de assimilaçao desenvolvida pelo reino, tem sido um fracasso total. Milhares de jovens, nascidos e criados sob o domínio marroquino, educados nas escolas e institutos marroquinos, desafiam a repressao policial e saem às ruas agitando bandeiras da RASD. Embora centenas deles tenham sido presos e torturados, a intensidade do protesto nao diminui. Alguns tem sido assassinados na rua ou nos centros de tortura, outros passaram a engrosar la longa lista de dessaparecidos, e muitos ficaram com danos físicos e psíquicos permanentes, mas o espírito da rebeliao despertou na juventude saharaui e nao há aparelho repressivo capaz de sufocá-lo. A denominada "Intifada saharaui" chegou para ficar. Desde seu inicio já experimentou momentos de grande empuxo mais também de recuo. Desde seu inicio, o protesto nacionalista tem se expressado de diversas maneiras mas, acima de todo, tem se convertido num fenômeno inocultável apesar da censura informativa estabelecida pelo regime. Graças aos atuais méios de comunicaçao hoje é impossível manter à opiniao pública internacional desinformada sobre o que está acontecendo nas cidades saharauis sob ocupaçao marroquina. Essa opiniao pública levantou sua voz contra a tentativa de submeter a tribunal militar sete ativistas saharauis de direitos humanos, presos no aeroporto de Casablanca quando retornavam de visitar os acampamentos de refugiados de Tinduf, em outubro de 2009. Essa mesma opiniao pública se solidarizou com a militante independentista Aminetu Haidar durante sua prolongada greve de fome num aeroporto de Tenerife (ilhas Canárias), para exigir a devoluçao do seu passaporte e a permissao para entrar no seu país, da onde tinha sido expulsa pela policia marroquina. Mas o episódio mais dramático começou nos primeiros días de outubro de 2010 quando um grupo de vizinhos de El Aaiún decidiu armar um pequeno acampamento num lugar no deserto, distante quince quilómetros da capital, para manifestar seu protesto pela discriminaçao social, o desemprego e a repressao contínua que sofre a populaçao saharaui das zonas ocupadas. Em pouco mais de uma semana o acampamento, denominado Gdeim Izik ou “Acampamento da Diginidade” já tinha mais de vinte mil povoadores, e dias depois se acercavam aos trinta mil. A resposta das autoridades marroquinas consistiu em cercar o acampamento com batalhoes militares e de gendarmeria. Na madrugada do 8 de novembro as forças repressivas iniciaram o assalto, arrasaram o acampamento e dispersaram violentamente a multidao com disparos, pauladas, gas lacrimogênio e jatos d'água quente . Vários mortos e centenas de feridos e presos foi o saldo da açao punitiva.(2) Até hoje, finais de agosto de 2011, continua a repressao de cualquer manifestaçao em contra da presença marroquina. Há dezenas de presos políticos distribuidos em várias prisoes marroquinas, se tortura a todos aqueles que sao detidos pela policia sem distinçao de idade nem de sexo. Cerca de seiscentos civis tem desaparecido desde o inicio do conflito e o governo monárquico nega qualquer informaçao sobre o destino deles. A novidade é a crescente utilizaçao dos próprios colonos marroquinos como tropa de choque para espancar, arrombar moradias e cometer agressoes de todo tipo contra a populaçao saharaui. Esta modalidade repressiva faz conque o regime de ocupaçao marroquina se pareça cada vez mais com os regimes fascistas européios da primera metade do século XX. Embora a violaçao dos direitos humanos dos saharauis nas cidades ocupadas é muito grave, devido à pressao do governo francês, o Conselho de Segurança da ONU nao pode dar ordens à MINURSO para protejer a populaçao civil saharaui dos abusos que sofre diariamente. A França é, por tanto, a potência responsável de que a MINURSO seja a única Missao das Naçoes Unidas que carece de atribuiçoes para fazer respetar os direitos humanos. (1) - Das quase 200.000 solicitaçoes apresentadas, só 86.000 corresponderam a saharauis com direito a votar, ou seja, 13.000 a mais dos incluidos no último censo espanhol de 1974. (2) - Vários analistas políticos, entre eles o norte-americano, Noam Chomsky, consideram que Gdeim Izik marcou o inicio da revolta popular que derrubou os regímes de Ben Ali na Tunisia e de Hosni Mubarak no Egito. Nota final Em abril de 2007 Marrocos apresentou na ONU um novo projeto de autonomia para o Sahara Ocidental. A proposta era otorgar à populaçao local faculdades de autogestao mas sob a soberania marroquina. Também a partir de junho desse ano, Marrocos e a Frente POLISARIO tiveram alguns encontros perto de Nova Iorque, auspiciados pela ONU. Porém, ao longo das quatro rondas de negociaçao no se conseguiu avançar nem um pouco porque Marrocos continuou a insistir na sua proposta de autonomia excluindo absolutamente o referendo, no entanto os saharauis seguem reclamando a celebraçao do referendo que contenha como uma das alternativas, a da independência. O atual representante especial do Secretário Geral da ONU, o diplomata norte-americano Christopher Ross, está coordenando encontros informais entre os representantes marroquinos e saharauis mas apesar dos vários encontros já realizados, os avanços rumo à soluçao do conflito sao insignificantes. O rei Mohamed VI com o apóio total dos atuais governos da França e da Espanha, continua a afirmar que o Sahara é marroquino e nao aceita nenhuma outra alternativa. Entretanto o povo saharaui através do seu legítimo representante, a frente POLISARIO, prossege sua luta nas cidades ocupadas exigindo o fim da presença marroquina, e nos acampamentos de refugiados assím como nas zonas liberadas, construindo seu Estado (ver documento 3) que mais cedo ou mais tarde poderá exercer a soberania sobre a totalidade do território nacional. Documento 1 Carta de Proclamaçao da Independência da República Árabe Saharaui Democrática “O povo Árabe Saharaui, lembrando os povos do mundo que tem proclamado a carta das Naçoes Unidas, a Declaraçao Universal dos Direitos Humanos e a Resoluçao 1514 das Naçoes Unidas no seu décimo-quinto período de sessoes, e levando em conta o texto da mesma, na que se afirma que: “Os povos do mundo tem proclamado na Carta das Naçoes Unidas que estao decididos a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a promover o progresso social e a elevar o nível de vida dentro de um conceito amplo de liberdade.” Os povos do mundo conscientes dos crescentes conflitos que surgem do ato de negar a liberdade a esses povos ou de impedi-la, o qual constitui uma grave ameaça à paz mundial… Convencidos de que todos os povos têm o direito inalienável à liberdade absoluta, ao exercicio da sua soberania e à integridade do seu território nacional… E proclamando solenemente a necessidade de pôr fim rápido e incondicional ao colonialismo em todas as suas formas e manifestaçoes para a consecuçao do desenvolvimento econômico, social e cultural dos povos militantes. Proclama solenemente perante o mundo inteiro, em base à libre vontade popular baseada nos princípios e alternativas democráticas: A constituiçao de um Estado livre, independente e soberano regido por um sistema nacional democrático, ARABE de tendência UNIONISTA, de confesionalidade ISLÁMICA progressista, que adquire como forma de regimen o da República Árabe Saharaui Democrática. De acordo com sua doutrina e orientaçao, este Estado Árabe, Africano, Nao Alinhado, proclama: Seu respeito aos tratados e aos compromissos internacionais. Sua adesao à Carta da ONU. Sua adesao à Carta da Organizaçao da Unidade Africana, reafirmando sua adesao à Declaraçao Universal dos Direitos Humanos. Sua adesao à Carta da Liga Arabe. O povo árabe da República Árabe Saharaui Democrática tendo decidido defender sua independência e sua integridade territorial e exercer o controle dos seus recursos e riquezas naturais, luta ao lado de todos os povos amantes da paz para a manutençao dos valores primordiais da paz e da segurança internacionais. Afirma seu apóio a todos os Movimentos de Libertaçao dos povos da dominaçao colonialista. Neste momento histórico em que se proclama a constituiçao de esta nova República, pede a seus irmaos e a todos os países do mundo o RECONHECIMENTO desta nova Naçao, ao tempo que manifesta expressamente seu desejo de estabelecer relaçoes recíprocas baseadas na amizade, na cooperaçao e a nao ingerência nos assuntos internos. A República Árabe Saharaui Democrática pede à comunidade internacional, cujas metas sao o estabelecimento do Direito e a Justiça no intuito de reforçar os pilares da paz e a segurança mundiais: Que colabore com a construçao e o desenvolvimento deste novo país para garantir nele a dignidade, a prosperidade e as aspiraçoes da pessoa humana”. O Conselho Nacional Provisional Saharaui em representaçao da vontade do povo da República Árabe Saharaui Democrática. BIR LEHLU 27 de fevereiro de 1976 Documento 2 Reconhecimentos internacionais da RASD 01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. Madagascar 28/02/1976 Burundi 01/03/1976 Argelia 06/03/1976 Angola 11/03/1976 Benin 11/03/1976 Moçambique 13/03/1976 Guiné-Bissau 15/03/1976 Togo 16/03/1976 Coreia do Norte 16/03/1976 Ruanda 01/04/1976 Iêmen 02/02/1977 Seychelles 25/10/1977 Congo 03/06/1978 Sao Tomé e Príncipe 22/06/1978 Panamá 23/06/1978 Guiné Ecuatorial 03/11/1978 Tanzania 09/11/1978 Etiopía 24/02/1979 Vietnam 02/03/1979 Cambodia 10/04/1979 Laos 09/05/1979 Afganistán 23/05/1979 Cabo Verde 04/07/1979 Ghana 24/08/1979 Granada 24/08/1979 Dominica 01/09/1979 Guiana 01/09/1979 Santa Lucía 01/09/1979 Jamaica 04/09/1979 Nicaragua 06/09/1979 Uganda 06/09/1979 México 08/09/1979 Lesotho 09/10/1979 Zambia 12/10/1979 Cuba 20/01/1980 Irao 27/02/1980 Serra Leoa 27/03/1980 Libia 15/04/1980 Siria 15/04/1980 Swazilandia 28/04/1980 Botswana 14/05/1980 Zimbawe 03/07/1980 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77. 78. 79. 80. 81. 82. 83. Chade 04/07/1980 Mali 04/07/1980 Costa Rica 30/10/1980 Vanuatu 21/11/1980 Kiribati 12/08/1981 Nauru 12/08/1981 Papua Nova Guiné 12/08/1981 Ilhas Salomao 12/08/1981 Tuvalu 12/08/1981 Mauricio 01/07/1982 Suriname 11/08/1983 Ecuador 14/11/1983 Bolivia 14/12/1983 Mauritânia 27/02/1984 Burkina Faso 04/03/1984 Perú 16/08/1984 Nigeria 12/11/1984 [Yugoslavia 28/11/1984] Colombia 27/02/1985 Libéria 31/07/1985 India 01/10/1985 Guatemala 10/04/1986 República Dominicana 24/06/1986 Trinidade e Tobago 01/11/1986 Belize 18/11/1986 Saint Kitts e Nevis 25/02/1987 Antigua e Barbuda 28/02/1987 Albania 29/12/1987 Barbados 27/02/1988 El Salvador 31/07/1989 Honduras 08/11/1989 Namibia 11/06/1990 Paraguai 09/02/2000 Sao Vicente e Granadinas 14/02/2002 Malawi 24/03/2002 Timor Leste 20/05/2002 República Sulafricana 15/09/2004 Kenia 26/06/2005 Uruguai 26/12/2005 Sudao do Sul 09/07/2011 Documento 3 Estrutura político-administrativa do Estado Saharaui Nao é fácil imaginar uma multidao de duzentas mil pessoas sobrevivendo no méio da regiao mais seca do deserto e com as temperaturas mais extremas. Poreḿ, os refugiados saharauis souberam se agrupar em acampamentos e, além da simples sobrevivência, conseguiram construir uma estrutura organizativa e funcional assím como um sistema político-social o suficiêntemente efetivos para dar forma e conteúdo a um Estado democrático moderno. A autoridade política suprema da República é o Comitê Executivo da Frente POLISARIO, também denominado Conselho de Mando da Revoluçao. Este órgao tem sete membros, um dos quais é, ao mesmo tempo, secretário geral da Frente POLISARIO e presidente da República. Adjunto ao Comitê Executivo está o Bureau Político composto por 21 membros. Como todo Estado republicano, a RASD possui os três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário: O Poder Executivo está representado pelo Governo nacional ou seja, pelo Presidente da República e seu Conselho de Ministros. El Poder Legislativo ésta representado pelo Conselho Nacional Saharaui, constituido por 41 membros, 21 dos quais formam parte do Bureau Político da Frente POLISARIO e outros 20 sao eleitos pelos Congressos Populares de Base. Isto quer dizer que os 21 representantes que estao no Bureau Político, sao eleitos cada três anos pelo Congresso Popular Geral, no entanto os 20 restantes sao renovados todo ano pelos Congressos Populares de Base. El Poder Judiciário está representado pelo Conselho Judiciário do qual depende a Corte Suprema do Povo e o Tribunal de Apelaçao. A “sharia” (1), de acordo com a Constituiçao, é a fonte das leis na RASD. A administraçao da República consta de três níveis: Nacional, Wilaya (provincia) e Daira (municipio). Atualmente existem quatro Wilayas cujos nomes: Aaiún, Dajla, Smara y Auserd, se correspondem com outras tantas cidades saharauis sob ocupaçao marroquina. Cada Wilaya esta composta por várias Dairas e sua administraçao é exercida pelo Conselho Popular de Wilaya, presidido por um Wali (governador) e integrado pelos presidentes dos Conselhos Populares de Daira. cada uma das quais agrupa vários milhares de cidadaos. As Dairas agrupam vários milhares de cidadaos e sao administradas pelo Conselho Popular de Daira, composto pelo presidente e os encarregados dos cinco Comitês Populares de Base que agem nas suas respectivas áreas de atividade: educaçao, alimentaçao, saúde, justiça, etc., A actividade das Dairas e analisada anualmente pelos Congressos Populares de Base. Nestes Congressos se elegem os 20 membros do Conselho Nacional Saharaui (Parlamento) que vao estar representando às bases durante um ano. O Congresso Popular Geral é a máxima assembléia do povo saharaui. Ele se realiza cada três anos, elege o Comité Executivo, o Bureau Político e o Secretário Geral da Frente POLISARIO, e pode introduzir mudanças na Constituiçao Nacional. (1) Direito islámico. Lei corânica. Índice Prólogo Localizaçao e dados gerais Capítulo 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 Contexto histórico da colonizaçao do Sahara Espanhol até 1945. Causas da ocupaçao e colonizaçao do Sahara. O processo de ocupaçao e a resistência anticolonial. O militarismo e a guerra do Rif. Queda da monarquia, proclamaçao da República e guerra civil na Espanha Projeto franquista para o Sahara. Capítulo 2 2.1 2.2 2.3 Processo emancipador do Magreb. Independência de Marrocos. Lutas pelo poder e raízes do expansionismo Marroquino. Insurrección nacionalista en el Sahara, 1958. Capítulo 3 3.1 3.2 3.3 3.4 Os protagonistas do conflito. Evolución socioeconómica 1960-1974. Importância estratégica de los recursos naturales saharauis. Marrocos rumo à autocracia. Mauritânia, da independência fictícia à utopia expansionista. Capítulo 4 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 Antecedentes históricos e fundaçao da Frente POLISARIO O Movimento de Libertaçao do Sahara. Espanha perante o problema da descolonizaçao. A reorganizaçao nacionalista. A Frente POLISARIO, concepçao política e linha de açao. A guerra de libertaçao nacional. A Convençao de Ain Ben Tili. Capítulo 5 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 5.7 Período 1974 - 1975, a complexidade de uma tragedia. A monarquia se apronta para o assalto final. O ditamen do Tribunal Internacional de Justiça. Se aperta o arrocho em torno do Sahara. A Marcha Verde. Breve cronología dos fatos nos trinta dias decisivos. Plano estratégico da invasao. Um povo rumo ao exílio. Capítulo 6 6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 A República Saharaui e sua batalha pela independência Nasce um novo Estado árabe e africano. Primeiras ofensivas militares da Frente POLISARIO. Mauritânia rumo à derrota, 1977-1978. A estrategia marroquina do muro defensivo. Batalha política na OUA. Assalto aos muros e ofensiva “Grande Magreb”. Marrocos 1979-1985. Capítulo 7 7.1 7.2 7.3 7.4 O esforço final. Negociaçoes de paz ONU-OUA. A Missao Gros Espiell e o encontro de Marrakech. A guerra em funçao da paz. Ofensiva de 1989. A paz apesar de todo. Capítulo 8 8.1 8.2 8.3 A monarquia barra o referendo no Sahara Breve cronologia de uma sabotagem consentida. A extensa e fracassada Missao Baker. A revolta popular entra no cenário político. Nota final Documento 1 Documento 2 Documento 3 Carta de Proclamaçao da Independência da RASD Estrutura político-administrativa do Estado Saharaui Reconhecimentos internacionais da RASD