. . . revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 editorial DE VOLTA AO PLANETA DOS MACACOS E SEUS APOCALIPSES DIGITAIS Esse tema, supostos apocalipses digitais, tem sido tratado desde a primeira edição da Agulha, dez anos atrás. E não sem motivo. Avaliações e opiniões preconceituosas relativas ao meio digital retornam. Têm sido acolhidas e transformadas em tema de ampla circulação. Uma das amostras mais recentes, o livro de Andrew Keen, O Culto do Amador, que trata de “como blogs, MySpace, YouTube e a pirataria estão destruindo nossa economia, cultura e valores”; e as resenhas e artigos na imprensa elogiando essa obra. Culto do amador? Como assim? Nós, editores da Agulha, não somos amadores, porém profissionais da cultura; temos currículo, obra, bibliografia crítica. E o meio digital ampliou enormemente a veiculação do que produzimos e temos a dizer. A experiência da Agulha contesta frontalmente e factualmente os juízos mais apocalípticos sobre as conseqüências da difusão pelo meio digital: sua qualidade é evidente, reconhecida, e a conseqüência é que temos audiência, estamos situados entre páginas bem visitadas na Internet. É, portanto, falsa a premissa da mediocridade universal e vulgaridade obrigatória. Imaginemos que o livro impresso se tornasse muito, muito acessível, que sua produção e preço de venda passassem a custar uma fração dos valores atuais. Alguma dúvida de que quantitativamente, em volume de títulos oferecidos, predominariam bobagens, mediocridades, entretenimento vulgar, subliteratura, achismos, manifestações idiossincráticas, picaretagens? Na lógica de Andrew Keen e demais apocalípticos da Internet, tal hipotética ampliação da circulação de livros justificaria, então, severo controle do seu conteúdo e restrições à sua circulação. O diagnóstico catastrofista dos efeitos da Internet desvia o foco do debate realmente importante, examinando aquilo que efetivamente promove formação cultural: ensino e políticas culturais públicas. Além disso, deixa de lado a crítica às mídias tradicionais, impressas inclusive – como se estas fossem inocentes, como se a mediocridade fosse uma prerrogativa do meio digital. Por trás do discurso de alguns desses críticos, subjacente, nas entrelinhas, uma defesa da censura. A implantação de uma espécie de obrigatório Pravda digital, a tutela, em nome da defesa de direitos autorais, da cultura, da economia, e, é claro, da ideologia “justa” e da moral e bons costumes, daquilo a que teríamos o direito de acessar. Por vezes, legisladores apresentam projetos de policiamento do meio digital. Felizmente, não prosperam, não só pela rejeição por parte do público em países democráticos, mas pela inviabilidade técnica. A Internet é incontrolável, para o mal e para o bem – felizmente. O controle é nosso, de cada um de nós, e, esperamos, continuará sendo assim. A falência da mídia impressa, tomando por base a justificativa recente do The New York Times no que diz respeito à perda de anunciantes para a mídia virtual, não se distancia, em termos principais, do velho temor de que a Internet roube audiência em zonas de produção de livros e discos. Igualmente a indústria cinematográfica tem manifestado seus temores, como no caso mais recente envolvendo o filme X-Men Origins: Wolverine. Multiplicação de pirataria virtual, antes de ser classificada como atividade criminal, deve ser percebida como reação a uma má política de preços do objeto final e o correspondente tratamento dado ao pagamento de direitos autorais. A contravenção, qualquer que seja, quando em larga escala, não pode ser entendida sem seu correspondente estímulo em um ambiente social mal definido. O ladrão ocasional é fruto da oportunidade. O ladrão sistêmico é uma instituição amparada pela má salvaguarda institucional do patrimônio, material ou imaterial, de uma nação. Uma infestação de "lacerdinhas", um mosquito fascinado pelo globo ocular humano cujo ataque provocava uma profunda irritação nos olhos, levou, nos anos 60 do século passado, o prefeito de uma cidade brasileira – especificamente, Fortaleza, a capital do Ceará – a extinguir o fícus benjamin, árvore predileta do mosquito e majoritária em sua cidade, como única solução que imaginou possível de erradicação do problema. A velha confusão entre o todo e a parte, exemplificada no tratamento, por exemplo, entre o público e o privado, é que encontramos aqui, uma vez mais, no empenho por legislar sobre a Internet, em caráter genérico, como se a eletrificação dos instrumentos musicais fosse a responsável principal da má qualidade de músicos que a essa tecnologia recorreram como válvulas de escape – ou como curiosos, ansiosos, megalomaníacos, inocentes de toda ordem. É irresponsável, portanto, não medir a inestimável fonte de consulta em que se converteu a Internet na área de apoio aos estudos das ciências médicas. Há hoje sítios Web em que se pode escutar o distinto comportamento pulsante dos pulmões de acordo com cada enfermidade. Agulha é uma universidade, considerando a amplidão de seus registros e a forma como tem sido visitada por especialistas, estudantes e curiosos de toda ordem, pelo interesse não somente em pesquisar como também em divulgar seus textos. Se relacionarmos duas áreas imediatas em que a Internet tem já podido dar provas de valiosa atenção, como arte e educação, mesmo considerando a presença indesejável de farsantes de toda ordem, é quando menos curioso notar que a rejeição ao mundo virtual vem do fato de que seu antípoda declarado não descobriu ainda como lidar tecnicamente com este novo ambiente de circulação de idéias. Em face disto, se utiliza de um recurso banal, cuja matriz é a velha hipocrisia que tem movido a espécie humana ao longo dos tempos. Tática fugaz em que um Andrew Keen não é mais do que um oportunista que busca atenção comercial falseando uma moral em um ambiente que permanece indefinido por sua jovem aplicação. Na medida em que se utiliza de má fé para questionar o lixo que correspondente, em percentuais os mais agravantes em todos os casos, à manifestação do humano, não importa o instrumento, não pode deixar de ser visto como alguém de péssimo caráter e pouco desejável em um momento tão delicado quanto o que atravessamos. Os editores sumário 1 carlos calero: "para no arriesgar el espíritu y la nostalgia hay que meterles un poco más de nostalgia" [entrevista]. alfonso peña 2 corazón y fusil. cuando ellas dan cuenta de la insurgencia armada. una lectura a el desolvido (1971), aquí no ha pasado nada (1972) y no es tiempo para rosas rojas (1975). adlín de jesús prieto rodríguez 3 el color luminoso de pierre bonnard. miguel ángel muñoz 4 el surrealismo y los límites del lenguaje. carlos m. luis 5 entre gatos, péndulos y licores: homenaje a edgar allan poe. luis fernando cuartas 6 hélène cixous, édouard glissant e alain didier-weill: à mesa com betty milan [entrevistas]. betty milan 7 la ciudad en la poesía dominicana. soledad álvarez 8 la influencia y el valor del cine. plinio chahín 9 o leitor insano. camilo prado 10 o neo-surrealismo de josé maria. kothe 11 o perfume em estela guedes flávio r. herberto helder. maria 12 roberto piva: a vida iluminada pelo verbo [entrevista]. marco vasques 13 sátira e paródia no modernismo brasileiro: anotações de leitura sobre macunaíma. claudio willer 14 traganíqueles para el bolero. juan manuel roca 15 vaikom basheer: la narrativa como destino. maría helena barrera-agarwal artista convidado carlos colombino [vária, textos de ticio escobar e susy delgado] banda hispânica visitação permanente galeria de revistas poesia de língua espanhola ping pong (república dominicana) | plebella (argentina) expediente editores floriano martins & claudio willer projeto gráfico & logomarca floriano martins jornalista responsável soares feitosa jornalista - drt/ce, reg nº 364, 15.05.1964 correspondentes todos os colaboradores artista plástico convidado (vária) carlos colombino apoio cultural jornal de poesia traduções éclair antonio almeida filho [inglês, francês ð português] floriano martins [espanhol ð português] marta spagnuolo [português ð espanhol] galeria de revistas | coordenação editorial josé geraldo neres & editores da agulha banco de imagens acervo edições resto do mundo os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista agulha não se responsabiliza pela devolução de material não solicitado todos os direitos reservados © edições resto do mundo escreva para a agulha ð floriano martins ( floriano.agulha@gmail.com ) Caixa Postal 52874 - Ag. Aldeota Fortaleza CE 60150-970 Brasil ð claudio willer ( cjwiller@uol.com.br ) Rua Peixoto Gomide 326/124 São Paulo SP 01409-000 Brasil revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 Carlos Calero: "Para no arriesgar el espíritu y la nostalgia hay que meterles un poco más de nostalgia" [entrevista] Alfonso Peña . La poesía de Carlos Calero está amalgamada en el humus del mensaje chamánico. Es ritual y palpitante, mágica y llena de enigmas; su verbo es una especie de “ojo cósmico” que va develando la vida y los misterios de los hombres (atávicos y modernos) de esta zona telúrica llamada Centroamérica. Al son de su tambor ceremonial desfilan ciudades, hombres, caseríos, volcanes, cerros, calles, niños, lagos y animales. Carlos utiliza su herramienta predilecta, “el prosema”, para trazar un esquema vertiginoso de la memoria. Pasado/presente interactúan en un tránsito configurado por las audacias lingüísticas, los ecos disímiles, las sentencias apocalípticas, el contrapunteo cotidiano, el devenir incierto. Solo hay que imaginarse al artífice (tras prolongadas pausas y sesiones de luna y sol), al pie del cerro Tarbaca, afinar sus artilugios, con fervor remover y aderezar las hierbas y pócimas encontradas en los confines de la montaña (el verbo riguroso, el sustantivo preciso, uno que otro adjetivo) y sin perder la calma, día a día, noche a noche, como un orfebre solitario, aunará los diversos elementos y bocetos de lo que será su mosaico fecundo. Desenfadados brochazos van a graficar la síntesis del friso universal, como en una delirante comedia. La simbología del caos, la masificación, la soledad, los vicios, van a ser permanentes expresiones de esta aventura intelectual y estética. De repente intuimos que de ese entresijo bulle la luz; es el acto amatorio como un elemento totalizador e impugnador. Como dirá Calero: “La mujer es el bastión humano para experimentar que somos seres sensibles y eróticos, y está el gozo para seguir luchando por esa vida que da y también reclama la mujer que te acompaña”. Sus guías tutelares –como estrellas luminosas– lo acompañan en su itinerario, son las figuras estelares de Carlos Martínez Rivas, Pablo Antonio Cuadra, José Coronel Urtecho, solo para nombrar unos cuantos. El aeda sueña y está con nosotros. [AP] AP En nuestros primeros encuentros, se percibía en vos gran influencia de los talleres de poesía que Ernesto Cardenal había popularizado en territorio nicaragüense. Háblanos en términos de vida y de creación. CC Es lógico y razonable pensar en ese planteamiento que manejás, Alfonso. Es el dato que da fe de lo que yo empecé a plantearme como poeta novel y, hasta cierto momento, en mis años de autoexilio. Que, según algunos poetas y amigos, esto es lo mejor que me haya ocurrido en la vida, pues consideran que mi salida de Nicaragua, ese desarraigo terrible, estrictamente para mí, como poeta, que parece no importarle a nadie, me hizo revisar todo lo que había escrito con la tranquilidad y el tiempo suficientes para podar, desbrozar, sintetizar, retomar los impulsos, hacer algunas lecturas básicas e irme complicando; con lo que quiero decir, y lograr así un poco más de conciencia de lo que debe ser el ejercicio de escribir. Lo que deseo es que esto no se convierta en una pose mitómana, en el sentido de que autoexiliarse sea un elemento que incida en el destino de quien escriba; me refiero al pretexto, hasta las últimas consecuencias, de que en la posibilidad de revertir la experiencia humana y personal que, en esa época, podría denominarse ”desarraigo”, a fin de cuentas no sea más que una versión de la decisión estrictamente personal y que uno tiene que buscar la respuesta en su propia actitud ante la vida; pero también activa la emoción, las ideas y la circunstancia de verse metido a escritor, en mi caso a poeta. En cuanto a la figura y personalidad de Ernesto Cardenal, directamente ligada con una concepción del discurso poético de lo cotidiano, lo confesional, lo épico y sociológicamente comunicable para involucrarse en la apología ideológica de la revolución, como discurso del compromiso y la defensa del proyecto estético que él se proponía, creíamos verdaderamente que funcionaba, por lo menos en el nivel de lo partidario y militante; en mi caso, en estrecho contacto con las bases populares, de donde yo provenía (el sector obrero). Había que traducir, en poesía, la reconquista y urgencia de que los sectores populares ocuparan, por primera vez, un espacio vedado en el ejercicio de lo estrictamente intelectual; entendamos en tal sentido el acceso a la escritura poética. Eso era correcto, y a mí siento que me sirvió en buena medida, en determinado momento. Lo curioso es que después de mí no veo, y me lo han aseverado otros poetas, ninguna otra voz poética consolidada y salida de aquellos talleres; no se vislumbran otros escritores que hayan publicado varios libros surgido de ese proyecto. Algo pasó, algo sucedió que colapsó la experiencia. Yo siento que no estuve casado con ninguna fórmula. Aproveché lo que me servía y nada más. En el tono de mis poemas está intrínseca la actitud antidogma, algo de vocación iconoclasta; en el fondo, había algo de paradójico, que con el tiempo me he dado cuenta que hay en mi poesía: no me sentía bien repitiendo fórmulas poéticas, si es que las hubiera, que no me funcionaban, debido quizás a ese espíritu de transgresión y aventura que mostraría ulteriormente, y eso podría incluso, definir lo que tal vez, si persisto y tengo suerte, llegue a ser mi propuesta estética. Así parecen demostrarlo mis primeros textos publicados en los suplementos literarios Nuevo Amanecer Cultural y Ventana, de Barricada, que, de alguna manera, se alejaban de cierto estilo de los talleres. Voy a ser honesto: Ernesto Cardenal siempre fue tolerante y comprensivo, con lo que yo hacía. Y no sé si en el fondo le gustaba. Pero yo lo hacía. Esto, siento, fue lo que me caracterizó, pienso. Esto es lo que debe validar, en sus objetivos y mecánica productiva, un taller donde se trabaja con algo tan sorprendente como la palabra. Doy la razón al poeta, ensayista y novelista nicaragüense Erick Aguirre cuando afirma que yo mantuve cierta visión de independencia del discurso “tallerista” incluso trabajando dentro de este proyecto bajo la égida de Ernesto Cardenal, que en ese entonces era ministro de Cultura. En el libro Cornisas del asombro incluyo el primer poema que se publicó en pleno fervor de la revolución: “En la laguna de Masaya”. Ya en su textura interna se nota algo un poco distinto de lo que hace Cardenal con su poética. Pienso que la construcción, la mecánica formal y semántica de mis poemas, es más experimental; y disfruto del hecho de que la poesía es fundamentalmente una especie de juego de niños en que se salta al vacío y se asciende con la posibilidad de versar sobre el entorno dual de lo externo e interno, con imágenes y juegos de palabras que me divierten, y quizás también a quienes están en su lectura frente a lo que escribo. En cierto momento, es cierto, existió cierta polarización por los estilos y espacios que han existido en Nicaragua, quizá posteriormente a la Vanguardia con las vertientes europeas y fundamentalmente la estadounidense. Yo sentía eso en los debates, porque se decía que los talleres pretendían ser una especie de facilismo. Yo sobreviví a eso, no sé si por talento o intuición de la misma palabra y necesidad de ser yo mismo. Cardenal tenía razón al decir que los talleres únicamente eran una especie de alfabetización, después (y me quedaba muy claro, pues varias veces se lo pregunté) de que una vez que el novel poeta incorporara las normas básicas por medio del exteriorismo cada uno encontraría una manera propia de decir las cosas. Siento que en aquel momento histórico, después de 1979, el hecho de que la poesía en Nicaragua ha estado vinculada al poder político generó celos ideológicos, al ver el “peligro” de una masificación de lo que por razones obvias estaba en manos de ciertos sectores “letrados”. Esto no es tan fácil de tolerar, me imagino. Yo mantenía amistad con poetas de otras tendencias y siento que me respetaban, como yo a ellos. La poesía no debe, ni puede tener bandos ni prejuicios estéticos. Sin embargo eso de que somos demasiados egoístas los poetas también jugó su parte, en ese conflicto. Siento que soy un poco alérgico a esas costumbres. Yo no puedo pelearme con nadie, ni me gustan las cofradías de las malas intenciones, las estrategias invisibilizadoras pues siento que me distraen, me perturban en lo que yo creo y deseo como poeta. Celebro al buen poeta, disfruto leyéndolo y se lo digo porque esto me hace crecer y dimensionar la humildad a mi manera. Pero también comprendo y respeto las actitudes y gustos de los otros. En algún caso he propuesto la idea de la publicación de otro poeta, porque pienso que es bueno y vale la pena que lo editen, en vez de proponer un libro mío para que lo publiquen; eso sucedió en el caso de un gran poeta de mi generación como Santiago Molina. AP ¿Hasta que punto puede decirse que ese “movimiento tallerista”, concebido por el poeta Cardenal, que caló con profundidad en algunos ámbitos de la poesía hispanoamericana, no se convirtió en un mero artificio populista. A veces la defensa que hacían los “talleristas” de los poetas/zapateros, poetas/ebanistas, poetas/ carboneros, se aquietaba en una jerigonza que nada tenía que ver con la poesía. Conversemos sobre esto y sus consecuencias ulteriores. CC Eso es lo que cuestionan, y con cierta razón, muchos escritores de Nicaragua, y digamos del sector que, de alguna manera, se ha vinculado con la poesía escrita por nicaragüenses. Interrogan sobre dónde quedó el resultado de esa experiencia. Sociológica y políticamente la intención era aceptable; y no sé si incluso se convirtió como un gancho publicitario para difundir el populismo de la experiencia del sandinismo de aquella época. Un sandinismo muy diferente a lo que se vive ahora. Pero esto es otro asunto que no me interesa abordar, aunque en mi discurso político no lo evado, pues pienso que en Nicaragua hace falta que alguno o varios poetas asuman parte de la crítica y valoración de lo bueno o lo malo que se hace. Así lo hemos asumido en otras condiciones y épocas de nuestra historia. Y por qué no repetirlo ahora; ¿en dónde está el pecado? No podemos encerrar ni limitar la poesía, a lo político ni a lo puramente estético. Resultaba cándido y conmovedor ver a muchachos y muchachas con una escolaridad incipiente leyendo poemas escritos a la manera de lo que se hacía en muchos países de Latinoamérica, en los años setentas y ochentas, pues existen todavía poetas que siguen escribiendo de esa forma, muy conversacional, y exteriorizan hasta la saciedad la lengua coloquial con vocablos muy propios de la cotidianidad. Casi reproducen lo que ven y sienten, como no sé si sea posible que lo haga una fotografía. Es cuestión de talento; pues si se logran poemas con calidad literaria siguen siendo bienvenidos dichos poemas. Pero, volviendo al comienzo: era la temática de lo épico; el discurso recursivo de la defensa política e ideológica, la intención experimental de una propuesta sociológica sin antagonismo de clases, la participación masiva en los intereses colectivos, la amenaza latente de una contrarrevolución, la fe en una utopía tangible… en esto se centraba buena parte del aliento temático que se abordaba. Creo que el talón de Aquiles estuvo en politizar un proyecto cultural: lo hicieron quienes creíamos y los quienes no, en los talleres de poesía. Cómo es la vida, ya casi nadie ni se acuerda de lo que se hizo y no se hizo. Ahora es otro el paradigma y el contexto histórico- literario en Nicaragua. AP Al tiempo que te estableces en Costa Rica, en las cercanías de Aserrí, al pie del cerro Tarbaca, adquieres una conciencia lúcida acerca de la poesía y el poder de la palabra. ¿Cómo observabas el movimiento de la poesía en Nicaragua? CC Duré algunos años sin publicar un solo poema; fue una especie de autosilencio; no buscaba, adrede, el escenario en suplementos ni en nada; y sabía que esto era lo que debía hacer; no apresurarme, no engolosinarme con lo poco que había publicado y creerme ya un auténtico poeta. Yo voy aprendiendo, cada día más, a respetar el oficio. De vez en cuando me asomaba a ciertos espacios de encuentros literarios en San José, como Andrómeda donde confluyen muchos artistas amigos, Miércoles de Poesía coordinado por el poeta Adriano Corrales, el Centro Cultural Español o la Universidad, pero era algo esporádico. Me volví, hasta cierto punto, huraño; quizá resultado de la sensación del ser inmigrante. Sentí la falta de los amigos, las voces del paisaje, el aire, las calles, la dinámica de una Nicaragua impredecible que yo ya había sospechado no iba por un rumbo que me atrajera. Nunca me enfilé en la contrarrevolución. Fui y soy fiel en mi actitud y reflexión. Así lo he sido y lo seguiré siendo. Cómo quisiera haber sido un protagonista en esa dimensión, pero yo tengo mi propio destino, que de alguna manera desenvocará, pienso yo, en algo bueno para mí y lo que escribo. No solo la distancia ha contribuido a subyacer, escarbar, diseñar una estrategia semántica y verbal, sufrir el caos y tocar con la conciencia el trágico largometraje del descalabro político y social de mi país. Empecé a aproximarme a voces poéticas de Nicaragua que ya todos conocemos y resultaría empalagoso mencionar. Retomé los versos de poetas como Cavafis, Huidobro, Whitman, Poe, Vicente Aleixandre, Jorge Guillén, un poco de Lezama Lima, Vallejo, y muchos otros. Fue una especie de alquimia textual y vivencial de los poemas de estos grandes poetas. Fui ensayando lo sacro y lego, la paradoja de lo sinuoso e inamovible, el quieto resplandor de la oscuridad que se hace luz; la magia y profecía de la palabra simple que dice algo y siempre nos deja con el asombro de que fue casi imposible decirlo todo. Y éste es un oficio de lúdicos, visionarios, orfebres que asientan su vida en un espacio tan etéreo como el lenguaje, en función o revelación de los estético. Fui escribiendo, borrando, celebrando en silencio, odiando al alba, levantándome en horas del amanecer en un rapto de fe de que quizá valiera la pena escribir algo que me había sobrecogido y que debía registrarlo, en ese instante, como poema. Pero esto son asuntos muy personales, lo que a todos nos pasa. No hay nada extraordinario en esto. Lo interesante es que en este espacio invisible uno se siente vivo y, a lo mejor, hace posible que otros también vivan. En Nicaragua empecé a observar que muchos poetas, sobre todo los jóvenes, empezaron a contradecir, sin contrariar, porque esto no se logra cuando no existe conciencia de lo que se hace, el discurso retórico que estaba muy apegado al fenómeno de lo ideológico en el sandinismo. Registré que había un afán casi obsesivo, en términos de entusiasmo, en subvertir lo dicho y escrito durante el periodo revolucionario. Esto nunca lo he visto mal; por el contrario, lo celebro y me siento bien de que así sea. El asunto es cómo hacerlo dignificando y hasta equilibrando la gran herencia poética que siempre ha caracterizado a los nicaragüenses. El reto no será nada fácil. Dadas las aristas posmodernas del arte, todo empezó a caber en poesía; desde el vacío y la frustración de las utopías, las drogas, la elección de género y el absurdo de sentirse vivo de manera sórdida y delirante; pero poco he visto que se critique lo que algunos han denominado el advenimiento de un desvirtuado sandinismo. Prevalece el hedonismo y la gracia de lo inclinado a surtir efectos esteticistas con lo doméstico y rutinario. También he notado que se proclama cómo dilucidar poéticamente el vacío de la incomunicación en medio de la avalancha tecnológica y globalizada. AP ¿Cómo sitúas la poesía que se escribe en Costa Rica? CC Igual que en Nicaragua y Latinoamérica, primaban las tendencias hacia una poesía vivencial y el tratamiento de lo cotidiano con un fuerte acento exteriorista, junto con otra manera de escribir poesía trascendentalista que parece ha dominado un poco más el escenario, y que algunos achacan a voluntades de edición y promoción de este tipo de poesía. Los vasos comunicantes fluyen en nuestros países, dada la maravilla de los medios tecnológicos y cierta influencia de las editoriales y revistas de difusión cultural que permean los gustos y aficiones por uno u otro estilo de escribir poesía. Sin duda que las cofradías y grupos se moverán, según el gusto que prevalezca como identidad grupal y sobrevivencia de una propuesta estética. Esto ocurre y ocurrirá en todos los países. El asunto se simplifica cuando no hay talento ni visión por parte de alguno de los grupos; sino que se dedican al diletantismo y ataques de jaurías, cosa que distrae y solo sirve para alimentar la chismografía. El asunto trasciende cuando hay verdaderos poetas que, por lo general, se apartan de estas guerras de guerrillas literarias, que muchas veces no conducen a nada. AP Llama la atención que en tu poesía pueda registrarse la dualidad tico/nica. El paisaje nicaragüense y sus rituales (lagos, volcanes, aldeas) con el cono urbano, el argot y los matices del paisaje costarricense. CC Todo forma parte del magma, de la sustancia, el bosquejo, una especie de friso, en que se conjugan la tradición, las creencias, los ritos enclavados en la memoria de lo atávico, del germen ritual de lo que suponemos identidad y búsquedas en la dinámica de la existencia y la lucha del ser que se debate entre el pasado, el presente y lo que está por venir en un mundo cada vez más fragmentario, dado a la vacuidad y la deshumanización. Entonces, al poeta no le resulta gratuito, como en mi caso, registrar todo ese barullo de elementos que cobran vida y trascienden con el tratamiento poético. La paisajística de lo costarricense, los imaginarios de ambos países coexisten, se cruzan, se dan la mano y me permiten amalgamar el sentimiento de dos patrias, sin que una niegue a la otra, y en que una complementa a la otra. La pluriculturalidad es el germen de nuestro tiempo. El habla, la lengua, su dinámica semántica y civil, sus tragicomedias y abismos existenciales de las ciudades nicas-ticas están siempre presentes en mi poesía. Para mí son identidades de una misma moneda con las que pago el derecho a existir literariamente, y en un mundo en que fluctúo sin perder el sentido de una lucha constante, que encuentra aquí lo que allá me hace falta; y traslado de allá lo que aquí no tengo: me refiero a la herencia literaria y al memorial de las costumbres. AP Si retrocedemos la cinta de la memoria, percibimos que a otros poetas nicaragüenses les ha sucedido algo similar. La larga estancia en San José de Carlos Martínez Rivas; las frecuentes visitas y permanencias de Pablo Antonio Cuadra; el exilio voluntario de Álvaro Urtecho; la “invisibilidad” de Francisco Valle, entre otros. Es una especie de ósmosis poética. CC Sin duda que Costa Rica es un punto de paso, traslado, trasiego de la poesía nicaragüense. Es que históricamente hemos estado amalgamados; nos une lo económico y político, lo cultural; sobre todo en la zona del norte de Guanacaste, donde el folklore y ciertas formas de reproducir la vida, muy similares a la nicaragüense, han emigrado a la meseta central en sus canciones, vestuarios, como en la música, y otros elementos de la cultura costarricense. Sería importante realizar una investigación literaria de cuánto y cómo ha influido la poesía nicaragüense en la de Costa Rica; cómo, efectivamente, se ha dado esa amalgama, si la hubiera, entre lo poético y la relación sociocultural con la estadía, en este país, de poetas como Carlos Martínez Rivas, Coronel Urtecho, Pablo Antonio Cuadra, Manolo Cuadra, Álvaro Urtecho, Francisco Valle, Francisco y Mario Santos, el mismo Rubén Darío. Me imagino que la convivencia entre poetas de Costa Rica y Nicaragua, es un elemento catalizador que de alguna manera beneficia a la poética costarricense. AP No podemos pasar por alto sobre todo al poeta de la frontera José Coronel Urtecho. Es el mayor paradigma de lo que estamos conversando. Desde los confines del río San Juan ejercía un apasionado “discurso” poético. CC Sin duda, el magisterio literario del maestro José Coronel Urtecho es un punto de referencia en los afanes de la vanguardia centroamericana. Es el segundo aire para la poesía de Nicaragua y Centroamérica. Contribuye a meter el mundo a la casa de estos países, va a lo nacional, lo atávico con un acento universal; prodiga un lenguaje que entraña la vida de lo cotidiano y las costumbres; un lenguaje que derivará con Carlos Martínez Rivas, Mejía Sánchez y concretamente en Cardenal con lo histórico y político, que mediará, de alguna manera, para enfrentar poética y políticamente a la dictadura de Somoza, y que otros poetas latinoamericanos ya estaban asumiendo, políticamente, a la sombra de Nicanor Parra, sólo para mencionar a éste gran poeta sudamericano. AP El mosaico poético, configurado por tus poemarios La costumbre del reflejo (2006), Paradojas de la mandíbula (2007) Arquitecturas de la sospecha (2008), da la impresión de que tuvo una prolongada experimentación y maduración. La palabra está cimentada como una red de osadías lingüísticas, imágenes yuxtapuestas, parábolas apocalípticas. Todo bajo la firme tutela de la “prosa poética”; la palabra manejada con destreza, aunque el lector sienta un terremoto en la contradanza de las vocales. CC No sé si, con estos libros, de manera consciente, me planteé que debía amalgamar un gran retablo, una visión integradora del caos, y de la supuesta sospecha existencial y política que me ha tocado vivir y que está viva y doliente; pues los elementos del vacío han tomado terreno, la sordidez y la falta de conjunción de lo colectivo ha golpeado las voluntades y el corazón de quienes, de alguna manera, han sido o fueron solidarios con un planeta y un ser que necesita respuestas efectivas que lo hagan feliz; un ser humano dueño de su entorno, su asombro, y la esperanza reeditada en cada acto compartido con el que te acompaña, el que te exige, el que está con vos o no lo está pero te complementa como ser integrado a la mecánica de la vida organizada para devolver una idea de que somos personas. Hay razón y sentido en lo que estás planteando. Yo sospeché que debía trascender, esforzarme como poeta, por asumir una sospechosa manera de decir las cosas en poesía. Sospechosa, digo, porque cuando el lector te lee, te profundiza, te atisba, complementa lo que has escrito y entonces tiene sentido y valor literario; por supuesto, esto no depende sólo del lector sino que de antemano el poeta debe tener el olfato y la osadía de proponer otras maneras novedosas de comunicar su mundo. Yo he preferido la prosa poética, lo que llamó Ernesto Mejía Sánchez el prosema, porque me resulta adecuado para graficar, de alguna manera, la idea de mural, de friso, de pared universal en que el horror, la soledad, el silencio, la culpa, los vicios, la corrupción, los subterfugios, la mentira y las hazañas se amalgamen en un entresijo o yuxtaposición de elementos para que se despeje un poco la urdimbre arquitectónica de cómo nos someten a experiencias nada gratificantes los pésimos administradores de la vida colectiva, del destino económico y político; así como los estilos de vida y la automasificación fragmentaria. Cada día somos la parte menor, de una totalidad que no agrega, sino deja a los seres humanos más vulnerables y expuestos a la gran muerte y soledad que se codean con la indiferencia y frivolidad por el cosismo consumista en las sociedades actuales. Que el lector interprete, a su manera, lo mucho o poco que pueda elucubrar en los poemas; su lectura complementará mi intención decodificadora del enigma y los símbolos que, de alguna manera, revelan la profundidad de una poesía viva, cuestionadora, preocupada por el ser y la nada; por la esperanza, en contrapunto con el desencanto y que, por otra parte, punza en la ternura y capacidad de amar, pues para mí el universo está basado en un infinito reto de amor. AP Carlos, como contraparte de tu perspectiva cataclísmica, en tu poesía hay un encuentro con lo amatorio. Es una recurrencia a lo largo de los tres poemarios: “Salí a tocar los pezones con la prehistoria de las caricias”; “Nos desnuda la ofídica amada con mordida y locura en los ojos”; “Te quiero desnuda y plena, te quiero en mis ojos y lo que no está en la carne”. ¿Se podría hablar de símbolos eróticos como búsqueda de conocimiento y placer? CC La mujer deja de ser símbolo y se integra a la visión fragmentaria, pero como razón y sentido de lo vivo; en la imbricación de las ideas es un elemento integrador de lo solidario, del gozo que buscamos los seres humanos, pues creo que cuanto más estamos en crisis mucho más no aferramos al acto amatorio. La mujer es el bastión humano para experimentar que somos seres sensibles y eróticos, y está el gozo para seguir luchando por esa vida que da y también reclama la mujer que te acompaña. En las cosmovisiones, de todos los pueblos, creo, la mujer es la fuente nutricia y fecundadora. El recurso sexual para generar la idea de que la vida es esencia y origen de lo renovado. En nuestras sociedades patriarcales, creo que los hombres, queda claro, que hemos fallado como administradores del destino humano, y en esto la mujeres son muy claras; por eso celebro y respeto a la mujer, y propongo en mi poesía que las amemos en cada acto de la vida, que implica compartir la eroticidad de los deseos por sobrevivir en libertad y acompañándonos. AP Muchos poetas circulan por los parajes del erotismo, algunos con mayor sutileza. ¿Hasta qué intersección los temas eróticos han liberado conciencia e imaginación del lector. En última instancia, en este caso, lo que interesa no es el poeta, sino la comunicación entre el poema erótico y el posible lector. CC Hay una suerte de complicidad entre lo que propone el poeta y el lector; la relación con lo erótico estimula la experiencia de los sentidos. Es una manera de volver los ojos a lo humano, porque causa placer luchar por la vida; y esto nos debe preocupar, pues cada día nos estamos volviendo más insensibles. Nuestra capacidad sensorial se fragmenta, se diluye en la idea de poseer cosas, acumular patrimonios; no sensibilizar las relaciones humanas. El poeta, sin proponérselo, activa su propia conciencia y la del posible lector. El sensor de la razón y la afectividad se activa en cada acto de reflexión, en toda experiencia comunicativa, en las conexiones con el paisaje, el aire, el fuego, la tierra. Y la mujer sintetiza, por razones de la ficción literaria, este ejercicio de la experiencia poética. AP Pueden bucearse en tu poesía ciertos rasgos de humor negro. Manejás con acierto la intertextualidad, el humor, el erotismo y la cotidianidad. Es un cóctel denso. Vas hasta las últimas consecuencias y llevas al lector contra las cuerdas. Es un modo de propinarle un Knock out, apoderarse del lector anónimo y no ser complaciente. CC Bueno, esto es lo que uno concluye como valor agregado del texto. Propongo una experiencia individual, una forma o arquitectura del lenguaje; construyo el verso con una intención totalizadora, pero procuro que golpee la conciencia y las actitudes sin caer en moralismos trasnochados. Estoy, igual que todos, vivo, abro el ojo y sintetizo los elementos que podrían ser comunes para un lector de poesía; pero no lo hago de manera pensada, sino que son impulsos vitales de mi afán por contribuir, si es que se pudiera, a compartir una experiencia literaria que pueda interesar o mover a la reflexión; al reposo de la conciencia pero con el caldo de la crítica y la reflexión de manera permanente. Trato de humanizar cada elemento disímil, cada elemento congruente, cada atisbo que me permita transitar del lenguaje al proceso como se produce la dinámica de la vida. A veces siento que urge conmover, punzar, sobrepujar, demandar, denunciar, asumir las contradicciones humanas; todo lo que nos está llevando a un caos total. Pero no dejo de lado que la poesía es, en esencia, una experiencia con el lenguaje, y como tal lo estrujo, lo estiro y alargo para tensionar la expresión hasta donde sea posible; pero sin faltarle el respeto al lector. La semántica de cada poema debe sobrepasar la intención de todo poema. AP Hace unas semanas estuvimos en la bella ciudad de Granada en el V festival de la poesía. Mientras unos poetas africanos y del medio oriente (en algún bar de la Calzada) saboreaban el ceviche agridulce, acompañado de una cerveza Toña; varios poetas y amigos conversábamos sobre la nostalgia revolucionaria. El proceso truncado, birlado… Y es qué en esas maravillosas tierras la nostalgia está presente en los niños que inhalan pegamento por las orillas del lago, en los ojos atormentados de las madres, en el dolor de los ancianos, en contraposición con los encumbrados del poder y la entronización de la mentira. ¿Carlos, de qué modo tu escritura esta impregnada de nostalgia? CC Como digo en uno de mis poemas, Teorema de la nostalgia: “Para no arriesgar el espíritu y la nostalgia hay que meterles un poco más de nostalgia”, porque resulta que esta sensación de poner los ojos en el pasado y retornar con la conciencia lúcida de que hay algo que nos perturba, nos deja en desasosiego, nos produce una roncha en la saboración de lo posible, hace que de alguna manera nos aferremos a lo que es posible en el presente, a cuestionarnos y develarnos, a no dejar nada amañado, mediante subterfugios, como bien saben hacer los políticos avenidos a dirigir las colectividades. En Nicaragua las cosas no andan bien, y esto es tema de la gran mayoría de escritores que deseamos y, de alguna manera, hemos colaborado a la propuesta de una sociedad más tolerante e inclusiva, que no cree abismos irreconciliables, que haya espacios para abrir los oídos a otras formas de ver la realidad. Una buena parte de los nicaragüenses sienten que esto no está ocurriendo. Las tentaciones han podido más que la voluntad, que el ideario genuino para construir una sociedad amplia y diversificada. A veces, pienso, por la conducta social de algunos sectores de cualquiera de los bandos que han estado en el poder, que conculcan el derecho a ser escuchados e incluidos. Nicaragua ha sido jalonada, arriesgada, dilapidada; no se la ve como un proyecto de sociedad competitiva, generadora de riqueza cultural, material y espiritual, sino que se han dedicado a empujar a la sociedad al odio y defensa mitómana de los cacicazgos. No hay amor por Nicaragua. Es importante detectar qué función o responsabilidad asumen los escritores y poetas en esta dinámica que tiende, cada vez más, al anquilosamiento. AP Al recorrer la geografía de Granada, con sus lagos, volcanes y leyendas y sus mitos, me remito a tu obra plástica. Me comentaste que quieres volver a pintar. Hace varios años que no ejerces la pintura. Recuerdo tus óleos primitivos, el color tropical, la exuberancia de la composición, la lectura que puede hacerse del mito de la Llorona, El Macho Ratón, El punche de oro, entre otros. ¿Será interesante saber cual es el diálogo que mantienes con la poesía y la pintura? CC Yo era primitivista, y eso me permitía adentrarme en lo que vos me recordás. El acto pictórico te traslada de manera visual, en perspectiva, al monumento cotidiano de lo observado, ya sea en la comunidad, el paisaje, los íconos de lo sobrenatural, las apariciones, el imaginario popular con sus mitos y leyendas. Esto, de alguna manera, también aparece en mis poemas. Trato de zambullirme en la psicología del nicaragüense, o buena parte de éste, para develar las posibles significaciones textuales de los carnavales, los hechizos, el agua, lo telúrico, las costumbres, como parte de una experiencia universal, pues no estamos aislados de los impulsos y avances tecnológicos. Esto es así. Ahora un monimboseño comparte una pantalla, abre un archivo y ya está en conexión con la cultura japonesa, europea, de ahora o del pasado, por decirte algo; y esto permea su cosmovisión, su lectura del mundo en contraposición con lo que fue, es y será el suyo. Todo esto es una parte muy importante, una faceta de identidad progresiva en mis poemas. Como en el poema, todo está cambiando. Y, como respuesta a tu pregunta, muy certera, debo decirte que el ejercicio de la pintura es una deuda que tengo conmigo mismo. Alfonso Peña (Costa Rica, 1950). Narrador, ensayista y editor. Autor de libros como Noches de celofán (1996), La novena generación (1991), y Labios pintados de azul (2004). Actualmente dirige las Ediciones Andrómeda y la revista Matérika (www. materika.com). Entrevista realizada en febrero de 2006. Contacto: manija05@yahoo. es. Página ilustrada con obras del artista Carlos Colombino (Paraguay). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 Corazón y fusil. Cuando ellas dan cuenta de la insurgencia armada. Una lectura a El desolvido (1971), Aquí no ha pasado nada (1972) y No es tiempo para rosas rojas (1975) Adlin de Jesús Prieto Rodríguez . I.En las décadas de los sesenta y setenta del siglo XX, se produjo en Venezuela un doble frente: el bélico y el cultural. El primero propició los alzamientos de Carúpano y Puerto Cabello que culminaron en fracaso y el desplazamiento de un contingente de jóvenes por las montañas del país desde 1960 con el fin de luchar por la construcción de una sociedad nueva, justa. El segundo, el frente revolucionario cultural, se alzaba contra la cultura oficial, emanada del Estado, desde las revistas Zona Franca, Revista Nacional de Cultura, Imagen, el Instituto Nacional de la Cultura y Bellas Artes (INCIBA) y la editorial Monte Ávila a través de los grupos literarios, sus manifiestos y testimonios. Así Sardio, El techo de la ballena, Tabla redonda, Crítica contemporánea, En HAA, Pez Dorado, entre otros, insurgieron “…con una especie de guerrilla surrealista para atacar satíricamente el orden existente, o con la postulación del problema de la relación entre expresión y violencia…” (Ramírez, 1998) Estos grupos y revistas literarias fueron el medio utilizado por los intelectuales para hacer sentir su voz disidente en un ambiente cultural institucionalizado. Voces colectivas, amalgamadas en una sola enunciación: los manifiestos, los testimonios. Aunque ya en 1958 Sardio publicaba su primer “testimonio” para posicionarse críticamente ante la situación del país y en 1962 Caupolicán Ovalles y el resto de los balleneros despertaban al somnoliento presidente, es la revista Rocinante (1968-1971) la que inaugura en Venezuela la publicación periódica de testimonios. [1] A partir de esta iniciativa, aparecen con más profusión “…entre 1968 y 1975 una serie de testimonios de ex-guerrilleros de la FALN o de delincuentes publicados como libros de reportaje principalmente por la Editorial Fuentes…” que llegaron a ser best-sellers (Beverley, 1987). Esta producción cuya temática es la participación en la insurgencia durante los 60, se inicia a mediados de esa década y se mantiene hasta la de los 90; [2] aunque el mayor número de testimonios guerrilleros venezolanos publicados aparecieron durante el auge del testimonio latinoamericano, es decir, en las décadas del sesenta y setenta del siglo XX. En ese lapso, circularon por el campo cultural venezolano alrededor de cuarenta testimonios guerrilleros; de los cuales, sólo cinco fueron escritos por mujeres, a saber: El desolvido (1971) de Victoria Duno (ahora De Stéfano), Aquí no ha pasado nada (1972) de Ángela Zago, ¿Qué carajo hago yo aquí? (1974) de Irma Acosta, No es tiempo para rosa rojas (1975) de Antonieta Madrid y Los farsantes (1976) de Clara Posani. Las cinco autoras irrumpieron en el campo cultural venezolano de los 70’ con los textos mencionados; de ellas, apenas tres siguieron produciendo hasta la década finisecular y lo que va del siglo XXI. [3] De los “testimonios” mencionados, abordaré El desolvido (1971), Aquí no ha pasado nada (1972) y No es tiempo para rosa rojas (1975) porque me interesa en ellos el modo de recrear la historia de la insurrección armada y la construcción de la voz que narra cada relato con la intención de precisar si en los textos hay una voz otra enunciadora de una historia alternativa de la guerrilla venezolana. II.Los textos, relacionados con el testimonio guerrillero, fueron vinculados con la tradición testimonial venezolana, por algunos (Ramírez, 1998), y continental, por otros (Leal, 1972). Esto se debió a la temática guerrillera; al contexto de aparición, determinado por “… una crisis de representatividad de los viejos partidos políticos, incluso los de la izquierda” (Beverley, 1992); al hecho de que comenzaron a circular a pocos años del inicio de la insurrección armada en Venezuela; a la relación de las autoras con la guerrilla venezolana [4] y, en el caso de Aquí no ha pasado nada (1972), a la presencia de los paratextos. [5] Por estas razones, han sido leídos como una imagen narrativizada surgida en los avatares de la organización guerrillera, en el peligro de la lucha armada (Jara, 1986); como el relato de una experiencia personal definida como memoria de una militancia (Nofal, 2002); como un testimonio de la lucha revolucionaria que “… se refiere directamente a la lucha armada o… en términos más generales, trata de las alternativas de la resistencia política llevada a cabo por movimientos de liberación nacional” (Moraña, 1997). Sin embargo, estos relatos no registran ni configuran textualmente “…la suerte histórica de una empresa planificada, desde que se la emprende, hasta que vence o fracasa…” ni narran “…el desarrollo de un plan de acción dirigido a transformar una realidad social.” que serían, según Duchesne (1992), las características propias de los discursos testimoniales guerrilleros. Esta adscripción al testimonio guerrillero latinoamericano, que prestigia los textos pues los equipara de alguna manera con los de formación histórica y político-militar escritos por Ernesto Che Guevara y los emparenta con la teoría general de la lucha armada revolucionaria para la América Latina contemporánea, es un tanto forzada. Si bien es cierto que en los tres textos se alude a la actividad guerrillera y ésta forma parte importante del soporte anecdótico, en uno más que en los otros; también lo es que el hecho de que la acción del relato no se centre sólo en ella, lo aleja de los textos fundacionales del testimonio guerrillero latinoamericano, a saber los escritos realizados por el Movimiento 26 de julio (1956-1959), entre los que se encuentran Pasajes de la guerra revolucionaria (1963), Diario de Bolivia (1968) y La guerra de guerrillas (1969) de Ernesto Che Guevara. [6] Estas narraciones “testimoniales” guerrilleras son muy particulares, pues se alejan considerablemente del canon del testimonio guerrillero latinoamericano por varios aspectos, de los cuales me interesan: el ingreso en la trama ficcional de otras matrices discursivas distintas a la testimonial y la presencia de una voz femenina que relata. Los tres textos, enunciados en las voces de los narradoresprotagonistas y en un lenguaje coloquial y nada elaborado, [7] relatan la participación de jóvenes citadinos en la lucha armada revolucionaria de la Venezuela de los 60. Las acciones se desplazan de la ciudad a la montaña, pasando por el Frente y los caseríos campesinos de la zona, y, oscilan entre la rutina del guerrillero rural -el aprendizaje de saberes relativos a la guerra y a la condición del estado, así como de actitudes de convivencia general; el relacionarse con los campesinos y otros habitantes de la región- y el urbano; la decepción del proceso revolucionario y la historia de amor entre dos camaradas con sus respectivas intrigas. En El desolvido (1971), es una voz masculina, la de Pascual, la que enuncia el relato -desde su posición de niño bien, ganado a la causa revolucionaria- y cede su espacio enunciativo a los personajes guerrilleros más afines a su perspectiva de enunciación; a pesar de “…creer que… [h]abía una gran diferencia y todo cuanto hacían o dejaban de hacer [s]e lo revelaba… Esas son diferencias que no acortan la distancia entre un hombre y otros hombres.” (Duno, 1971). De ellos, destaca Carmen por varias razones. La primera, ser el único ente de papel femenino significativo de esta historia; [8] aunque su participación en la misma no sea tan activa, pues su función es la de establecer los contactos entre los guerrilleros urbanos, ayudar a sus camaradas y a la clase obrera desde la clandestinidad; nótese su rol de mensajera. Esta limitación ante la acción es “autoimpuesta” pues estaba “…sola amarrada por la sensatez de la subsistencia familiar…” (Duno, 1971). La segunda, tener voz aunque sea una “…dulce, humilde y mantenida” (Duno, 1971). La tercera, ser construida como “representante” de una minoría vejada, los zambos, los campesinos, los indios (Duno, 1971). Por último, por ser el único personaje con el que Pascual establece alianzas políticas y amorosas. Si Carmen tenía una voz prestada, contenida, disminuida y era “construida” como una otra. La voz narrativa de Aquí no ha pasado nada (1972) se erige como una voz monológica que sólo cede su espacio discursivo en los “diálogos” establecidos con los otros personajes y que trata siempre de construirse como un yo. Este personaje guerrillero femenino, representado como pequeño burgués, estudiante y militante de un partido de izquierda (Zago, 1972), no se corresponde con la tradicional representación guevareana del personaje femenino guerrillero ni tampoco con la del hombre nuevo. [9] Por el contrario, es construido como un sujeto distinto que es capaz de sonreír, hacer bromas y enamorarse; al mismo tiempo que es capaz de asumir su rol de mando dentro de un destacamento. Por eso, Morela, lejos de ser un hombre nuevo o su equivalente femenino, es una brave new woman (Rodríguez, 1996) que enuncia en primera persona la historia y se autorrepresenta como un sujeto redentor. En este texto, la participación de la figura femenina está regulada por la voz que narra. Sólo la narradora-protagonista es construida como un sujeto activo e independiente que se distancia del resto de las mujeres del relato. A lo largo del mismo, la narradora no establece alianzas reales con los otros personajes femeninos. El hecho de que la voz narrativa de este relato guerrillero sea femenina, es muy significativo; pues, le da cabida en él a una voz distinta a la del macho redentor o redimido. Y contrarresta la tendencia presente “…en nuestras ficciones arraigadoras [donde] no hay lugar para un imaginario alternativo al del macho redentor o redimido. El macho ocupa el centro de todas nuestras ficciones… como si se tratara del único modo de arraigo que somos capaces de imaginar” (Rivas, 2005). Pero, esta elección de la voz que narra no es gratuita. Responde a una redimensión de la presentación del héroe revolucionario; ya no como hombre nuevo (Guevara, 1969), sino como una brave new woman (Rodríguez, 1996) que construye una fábula revolucionaria autorreferencial para posibilitar la legitimación de una posición de sujeto femenino letrado. El caso de No es tiempo para rosas rojas (1975) es distinto. Este relato retrospectivo es construido como una imbricación de dos historias que se van trenzando una con la otra a partir de fragmentos intercalados: la historia de amor de la protagonista narradora, una joven universitaria de los años sesenta, con un líder guerrillero -Daniel- y la intrahistoria misma de ella. El mundo narrado reúne en el espacio ficcional a toda una sociedad fragmentada: la burguesía fascinada por los objetos caros y de moda, los universitarios intelectuales, los revolucionarios, los jóvenes que escuchan a los Beatles, los aficionados a las drogas. En él, destaca la voz que narra por ser una voz anónima, femenina y en una constante lucha interna. Una voz que se niega a enunciar todo “…asunto serio…” porque “…prefería estar callada…”, porque se “…moría antes de que [l]e saliera la voz…”; de ahí que estuviese “… resignada a [su] posición…” “…en la base del partido… siempre en la base, no ascendía, siempre contra el suelo, pegada a la tierra…” (Madrid, 1975). Y que está “…embebida…” (Madrid, 1975) en su idilio amoroso. En este texto, el sujeto femenino enunciador del relato es construido como uno “lelo” (Madrid, 1975), ido, absorto de la realidad y del conflicto armado en sí y que sólo repara en “Daniel Sin Nombre… daniel, calcomanía de hombre-nuevo incrustada en el hombre viejo… daniel producto genuino de una generación frustrada…” (Madrid, 1975). Un sujeto que “…no pertenecía a este conglomerado… a la Universidad, ni a la organización, ni al país, ni al tercer mundo, ni siquiera al planeta…” (Madrid, 1975). En estos tres relatos, las voces que narran enuncian la historia y se autoconstruyen de modo distinto. En El desolvido (1971), desde un espacio enunciativo cedido, disminuido y contenido, como un sujeto menor; en Aquí no ha pasado nada (1972), como un yo activo e independiente, dueño de sí aunque en crisis que vacila entre la persona pública (la guerrillera, la Sargento Mayor) y el yo privado (la enamorada de un camarada del Frente Guerrillero Simón Bolívar: Marcelo) y en No es tiempo para rosas rojas (1975) como una voz, resignada a permanecer en un lugar preestablecido, el de la amante pasiva, el “…del simple aditivo que ayuda a matizar la cosa…” (Madrid, 1975) del revolucionario, que da cabida al mundo interior femenino. III.Si bien es cierto que los discursos testimoniales guerrilleros se elaboraron alrededor de la participación pública de los miembros del género masculino, que pertenecían a un sector social específico, también lo es que la participación de la mujer en actividades cada vez más relacionadas con el espacio público -maestras, parteras, vendedoras, artesanas, escritoras, compositoras e intérpretes de alto nivel, entre otras actividades- obligó al sector letrado masculino a incorporar en su discurso a ese sector de la población que estaba tomando terreno debido a su participación efectiva en la construcción del espacio social. No obstante, esta incorporación de la figura femenina en el testimonio guerrillero obedeció a la necesidad de regular la participación de este sujeto emergente, más que a la intención de incorporarlo plenamente al imaginario como sujeto activo e independiente (Rodríguez, 1996). De ahí que incluso en los testimonios producidos por mujeres, como el de Victoria Duno, privan los guerrilleros y la voz que enuncia es masculina generalmente. Por eso, el personaje de Morela -la narradora protagonista de Aquí no ha pasado nada (1972)- y la narradora anónima de No es tiempo para rosas rojas (1975) evidencien un alejamiento del modelo del personaje guerrillero femenino, cuya actuación está restringida a funciones específicas dentro del relato, y la presencia de una voz femenina que da cuenta de asuntos menores, privados, personales imbricados con la historia pública. Ahora bien, estos sujetos emergentes y enunciadores al ingresar en la trama un idilio amoroso vinculan los relatos con la tradición romántica, con la narrativa femenina; pues al ser incorporado por la voz narrativa, la historia enunciada se distancia de la trama testimonial. Este idilio permite el ingreso en la trama del lazo amoroso que incorpora a la ficción la articulación de los temas de la familia, la nación y el estado. Es la configuración de una idea de nación y de un modo de entender y administrar lo público, lo que legitima la noción de familia que resulta pertinente al proyecto de comunidad imaginada (Rivas, 2001). De esta manera, se incorpora la representación ficcional de un tipo de pareja -de la que se originará la familia futura- que será el basamento de una comunidad imaginada desde el centro de las instituciones tradicionales (familia, nación, estado) que aquí cambian de signo para ponerse al servicio del ideal revolucionario. Sin embargo, la pareja “legítima” que lucha por forjar un nuevo proyecto de nación (socialista) es cancelada con la muerte de Marcelo en Aquí no ha pasado nada (1972) y con el exilio de Daniel y el suicidio de la narradora protagonista en No es tiempo para rosas rojas (1975). Esta pareja sólo queda en pie en El desolvido (1971) con la unión de los contrarios -Carmen y Pascualque recuerda el mestizaje conciliador presente en la narrativa regionalista. El sujeto enunciador del relato que se presentaba en un primer momento como un sujeto político (testimonio), elige dentro de la ficción ser uno deseante y no estar confinado en una trama puramente heroica; deviene en un sujeto ficcional en fuga hacia otros géneros discursivos. De ahí que nos extrañe que el campo cultural del momento haya leído estas historias como textos con función testimonial [10] y el contrato novelesco presente en ellas haya sido obviado; pues, lo que aquí tenemos es un proyecto diametralmente opuesto, en términos políticos, al del testimonio. En ellas está presente una historia alternativa de la de la guerrilla venezolana y una voz otra enunciadora de la misma; pero, no una historia ejemplarizante contada desde abajo, desde el sujeto menor, subalterno, sino una historia ficcionalizada de la empresa guerrillera, signada por el deseo amoroso y relatada desde una voz femenina. NOTAS 1. Desde el N• 13 (septiembre de 1969), Rocinante presenta testimonios de guerrilleros venezolanos y colombianos. Este número está dedicado a la lucha armada en el país. “Esta publicación, pues, sería una de las primeras en Venezuela en apreciar el valor de una escritura que años más tarde sería considerada característica del discurso literario latinoamericano.” (Porras, 2001) 2. Si bien es cierto que casi toda la producción testimonial guerrillera venezolana apareció entre los 60 y 70, también lo es que en las décadas posteriores siguieron editándose algunos textos como: Ochoa, José (1982) La pipa y el gavilán. Caracas: Publicaciones Seleven; Esteller, David (1983) Weekend en las guerrillas (Memorias de un combatiente en dos épocas críticas de nuestra reciente historia) Caracas: Editorial Fuentes; Gómez García, Alí (1985) Falsas, maliciosas y escandalosas reflexiones de un ñángara. La Habana: Casa de las Américas; Faur Brandao, Eduardo (1989) Entre dos sistemas. Valencia: Gráficas Litho Slomar; Ontiveros, Eleazar (1992) Entre cuarto menguante y luna nueva. Mérida: Universidad de los Andes; Guaitero Díaz, Genaro (1993) Yo, bandolero. Caracas: José Agustín Catalá/Centauro; Cordero, Rafael (1996) Mi vida recomienza en Ponte Cestio. Caracas: Fundación Cátedra Pío Tamayo. 3. Me refiero a Victoria De Stéfano, otrora de Duno, Ángela Zago y Antonieta Madrid. Para más detalles, ver Pantin, Yolanda y Torres, Ana Teresa (2003) El hilo de la voz. Antología crítica de escritoras venezolanas. Caracas: Fundación Polar. 4. La relación de las autoras con la insurrección armada en Venezuela se dio de modo distinto. Ángela Zago no sólo militó en el Partido Comunista de Venezuela (PCV), sino que fue guerrillera rural; Victoria Duno se vinculó de un modo indirecto con la guerrilla, su esposo para la época, Pedro Duno, fue quien participó como guerrillero urbano; mientras que en el caso de Antonieta Madrid, no hay evidencias de su nexo con el movimiento armado venezolano. 5. La adscripción al género testimonial a través del uso de los paratextos sólo se observa en Aquí no ha pasado nada (1972); éstos varían de edición en edición. En el caso de la primera, la nota editorial de la contraportada que lo emparenta con “…la literatura latinoamericana contemporánea, que se nutre, como pocas, de la realidad testimonial de nuestros pueblos y de nuestros autores” (Aquí no ha pasado nada, 1972). De la segunda a la quinta, se incorporan fragmentos de las reseñas publicadas sobre el texto que continúan la afiliación al fenómeno testimonial latinoamericano iniciada en la primera edición. En estas ediciones se incluyen una serie de fotografías que establecen, por un lado, una identidad entre los personajes y el sujeto real y entre el personaje protagónico, Morela, y la autora del texto, Ángela Zago, al presentar una foto de ésta portando su uniforme de guerrillera durante su participación en el Frente; y, por otro, una voluntad de verdad un efecto de veracidad para que el lector acepte “…lo narrado como una verdad y no como si fuera verdad” (Achugar, 1992); pues, “…una imagen fotográfica es una prueba irrefutable” de que algo ha acontecido (Freund, 2001). 6. Este alejamiento de los textos de formación histórica y políticomilitar guevareanos, por otro lado, los relaciona con algunos testimonios guerrilleros venezolanos anteriores como Entre las breñas (1970) de Argenis Rodríguez. En este texto, como en el resto de los testimonios guerrilleros, se narran las vicisitudes de un grupo de guerrilleros rurales: ejercicios, comida racionada, misiones infructuosas, emboscadas, deserciones, etc.; pero en esa narración irrumpen historias alejadas de lo bélico bien sea en sueños, recuerdos o desvaríos aunque no sean de corte amoroso -como en el caso de los textos escritos por las féminas-. Otra particularidad del texto es que está enunciado en tercera persona; no obstante, el uso de la primera aparece cuando los personajes guerrilleros toman la voz prestada para relatar su desempeño dentro del destacamento. 7. Cabe destacar que No es tiempo para rosas rojas (1975) experimenta con una sintaxis atropellada, con un lenguaje fresco y coloquial, que permite acceder a mundos lingüísticos disímiles, separados por las clases sociales y dar cuenta de la lucha interna del personaje; la narradora protagonista anónima. 8. La preeminencia del personaje guerrillero masculino se observa en textos como los de Guevara y el de Rodríguez, mencionado anteriormente, quien sigue la línea de aquél en este sentido. En estos textos, los personajes femeninos son reducidos a líneas y en algunos casos son entes ficcionales anónimos que cobran vida en la ficción por ser familiares de alguno de los personajes masculinos. Esta “ausencia” del personaje guerrillero femenino responde al “Papel de la mujer” dentro de la lucha armada y la concepción que de éste tenía Guevara. En sus Escritos y discursos (1972), señala que el rol de la mujer es de “…extraordinaria importancia. Es bueno recalcarlo, pues… hay cierta subestimación hacia ella…”; sin embargo se agrega que “…puede trabajar lo mismo que el hombre…” aunque “…es más débil…” y seguidamente “…las mujeres combatientes son las menos. En los momentos en que hay una consolidación del frente interno y se busca eliminar lo más posible los combatientes que no presenten las características físicas indispensables, la mujer puede ser dedicada a un considerable número de ocupaciones… quizás la más importante, sea la comunicación entre diversas fuerzas combatientes…” “Pero también… puede desempeñar sus tareas habituales de la paz… es más fácil mantenerla en su tarea doméstica…” [énfasis mío] Guevara en estos escritos sigue subestimando y discriminando a la mujer; a pesar de cuestionar la “mentalidad colonial” (1973) que pervive aún en los países latinoamericanos. Por un lado, aboga por la participación de la mujer en la guerrilla, equiparando su disposición al trabajo con la del hombre y, por otro, la presenta como un ser débil carente de las características físicas indispensables para asumir la actividad guerrillera. No sólo eso, sino que además se recomienda mantenerla en su tarea doméstica por ser más fácil. La extraordinaria importancia de la mujer está pues en facilitarle al guerrillero “…sometido a las durísimas condiciones de esta vida…” (Guevara, 1973) su estadía en la montaña. De ahí que la actuación de los personajes femeninos esté restringida a funciones específicas en el testimonio guerrillero. Esta especificidad de la actuación del personaje femenino y la casi inexistencia del mismo, también se observa en El desolvido (1971) de Victoria Duno. En él, aunque la representación del personaje femenino guerrillero sigue estando ajustada al rol de la mujer señalado por Guevara en sus Escritos y discursos (1972), hay un distanciamiento, en relación con los textos mencionados, dado por la facturación de Carmen. 9. Aunque esta propuesta es de Guevara, Omar Cabezas le dedica las reflexiones más detenidas. “El hombre nuevo… está más allá del hombre, más allá de la lluvia, más allá de los zancudos, más allá de la soledad. El hombre nuevo está ahí, en el plus esfuerzo. Está ahí donde el hombre normal empieza a dar más que el hombre normal. Donde el hombre empieza a dar más que el común de los hombres. Cuando el hombre empieza a olvidarse de su cansancio, a olvidarse de él, cuando se empieza a negar a él mismo… el Frente tiene que ser una organización de hombres nuevos que cuando triunfen puedan generar una sociedad de hombres nuevos…” (Cabezas, 1982). 10. Concha (1978) acuña la denominación de función testimonial para referirse a ciertos textos cuyos límites genéricos parecen estar desfigurados, pero que coinciden en: presentar un narrador en primera persona, contar una historia “ejemplarizante”, producir un efecto de oralidad… La define como “…una nueva modalidad político-literaria…”. Adlin de Jesús Prieto Rodríguez (Valencia, Venezuela, 1978). Profesora de Lengua Española y Literatura Latinoamericana adscrita al Departamento de Lengua y Literatura de la Universidad Simón Bolívar (Caracas). Investigadora candidata del Programa de Promoción del Investigador (PPI) del Observatorio Nacional de Ciencia, Tecnología e Innovación (ONCTI). Miembro del Comité Editorial de El Hablador. Revista Virtual de Literatura (www.elhablador.com). Contacto: adlinpri@usb.ve. Página ilustrada con obras del artista Carlos Colombino (Paraguay). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 El color luminoso de Pierre Bonnard Miguel Ángel Muñoz . Pierre Bonnard (Fontenayaux Roses, 1867 Le Cannet, 1947), es sin duda, el mayor ejemplo de las exclusiones históricas que marcó la crítica de arte del siglo XX. Bonnard creció alineado en la tradición del panteísmo sensualista y cromático que definía el tópico estético de luz y color – Monet, Gauguin y Matisse- que convirtió a la pintura francesa en una añoranza de eternidad pictórica. El incómodo Cézanne, los constructivistas policromos de inicios de siglo, el transcendentalismo geometrista de Cercle et Carré quedan al margen, por supuesto. Sin embargo, la pintura de Bonnard adquiere niveles de originalidad en la muestra que organiza el El Metropolitan Museum of Art de Nueva York, que presenta una exposición dedicada a la obra de Pierre Bonnard, con obras realizadas entre 1923 y 1947, cuyo eje temático en su pintura de interiores; un género en el que el francés destacó notablemente, como podemos comprobar en algunas de sus obras más celebradas de 1932 -Dining Room at Le Cannet, The White Interior o The French Window- que constituyen el núcleo duro de esta exposición, en la que se presentan un total de 80 piezas del artista (45 pinturas, 16 acuarelas y 19 dibujos). En 1998 pudo verse en la Tate Gallery de Londres, una inesperada selección del artista. La muestra quedó en una invitación a la aventura de Bonnard. Pero la retrospectiva que el Metropolitan Museum presenta en esta ocasión, y particularmente ese cuidadoso subrayado de las escenas de baño, en las antípodas de Cézanne y Picasso, nos acerca al núcleo creativo de Bonnard. La impecable secuencia narrativa distribuida en las salas da la seriedad con que el artista afrontó, a contrapelo de convenciones, el proceso siempre tentativo de educar la mirada en la perfección visual. El ojo y la mirada son para Bonnard los agentes de una renovada experiencia estética que, a través de unos temas de siempre, naturaleza y paisaje, construcciones, desnudos, retratos y autorretratos, nos adiestran en el goce de lo que vemos. Pero a partir de una doble polarización: intensidad e interioridad. Pierre Bonnard, hijo sensible de la burguesía ascendente, saltó a la pintura en unas oposiciones al funcionarioestatal. Lanzado al arte se vinculó con mayor aliento que convicción al grupo de los Nabis, seguidores del cromatismo plano y la sencillez constructiva e Gauguin, con un punto de mesianismo social del que Bonnard siempre desconfió. Su afinidad electiva fue Vuillard y la beligerancia peleona de la Revue Blanche su campo de acción, capitaneada por el coleccionista Natason y la vehemente Misia, más tarde Madame Sert. El anarquismo vital y el descaro inconformalista fin de siécle convierten al artista en un irónico fláneur de la calle parisina que comparte en la figuración el plano de voluntad exótica de Toulouse- Lautrec y las invectivas disolventes de Ubu roi, de Jarry es para Bonnard la tentación del presente en unos años de aprendizaje acelerado. La tendencia de Bonnard hacia el intimismo constrictivo, la búsqueda de una percepción subjetiva e internalizada a través del color y el espacio se convierten muy pronto en las raíces de un lenguaje visual rico y personal. A partir de 1908, el estilo de Bonnard se aleja del impresionismo y las convenciones naturalistas y se depura en el proceso de una síntesis imaginativa que lo convirtió en el gran periférico de las vanguardias del siglo XX. Es, sin discusión, uno de los mayores coloristas modernos, capaz como nadie de extraer del naturalismo romántico unos signos formales positivos y originales. En la década de los veinte, decepcionado del decorativismo anecdótico del visualismo fauve, se recluye en un ámbito cerrado que lo acerca a las poéticas de Mallaré, al intuicionismo bergsoniano. Le sobra cuanto va más allá del objeto y su mediación a través del color y la composición. Personalmente le basta con la presencia inquietante de Martre, su compañera, criatura también mágica para él, para destilar de un complejo complot depresivo. Motivo eterno de su pintura: cómo construir un instante visual con soportes formales. Bonnard es también, por qué no, uno de los grandes artífices de la mirada moderna, ajeno por entero a la dinámica de negatividades que llamamos vanguardias históricas, pero con matices que marcaron la profunda huella del artista. Aspira a reproducir sobre el lienzo sólo aquellos “instantes de visión”, capaces de configurar sensaciones sensibles que convierten en espectrales sus escenas de baño y en inquietantes sus plácidos interiores. Quedan así en espacios sin tiempo, en bellísimos artificios visuales que disuelven los límites entre el objeto y sus fondos. Son, por ejemplo, gamas de amarillo que disuelven en ocre rostros más y más genéricos, descarnados y delimitados en un tiempo de arte. Sus pinturas de estos años se caracterizan por el uso muy particular del color, con una paleta brillante y llena de matices, así como de la iluminación, las composiciones y la perspectiva, configurando escenas en las que los objetos y el espacio aparecen como elementos superpuestos, alterándose de este modo la percepción de las distancias. Para Bonnard pensar en pintura no es sino intensificar el valor de cada gama cromática, su densidad y transparencia. Biografía y autobiografía se entrecruzan en el acto pictórico que condensan las obras. El arte de Bonnard es complejo. Elija el mejor artista de nuestro tiempo, preguntaron a Balthus. ¿ Bonnard o Matisse? Bonnard…¡ Para qué más! El color se razona mejor que el dibujo, repetía nuestro artista a su sobrino Terrase. No es casual que se haya convertido en el enemigo declarado del mecanicismo de la historiografía lineal que sitúa en las secuencias de influencias y negaciones el proceso de lo nuevo. El desdén de Picasso hacia la pintura de Bonnard pone el dedo en la llaga de una intensidad mal comprendida en tiempos de frentes y batallas estéticas. Su pintura, decía Picasso, es una "mescolanza de indecisiones", sin entender que esos titubeos hacen la grandeza artística de Bonnard reducir la pintura a un registro de sensaciones perceptivas y visuales sobre las que se construyen nuevas formas de mirar. Las obras últimas alcanzan el impresionante estadio de depuración que califica el gran arte. El almendro, por ejemplo, traduce una secuencia de pinceladas breves en azul y blanco, El baño se transforma en tumba radiante de amarillo y añil; formas y formas sobrepuestas a la búsqueda de un significado estético y poético, que le ha dado a la pintura del siglo XX la grandeza de delicioso traductor de la naturaleza y el color. Parece acertado asegurar que el artista grande es aquel que ha “visto” de una manera la naturaleza y nos ha dado las razones formales para hacerlo de esa manera, enseñaba Berenson. En la tradición clásica las sombras eran siempre oscuras; pero los impresionistas, sin embargo, nos enseñaron a verlas rojas, azules o violetas, y Pierre Bonnard, nos dejó como gran enseñanza darle luz a todos los contrastes del color y de la vida. Miguel Angel Muñoz (México, 1972). Poeta, historiador y crítico de arte. Es autor de los libros de ensayo: La imaginación del instante: signos de José Luis Cuevas (2001), Materia y pintura: aproximaciones a la obra de Albert Ràfols-Casamada (2002), y Travesías (2004). Es director de la revista literaria Tinta Seca. Contacto: miguelamunozpalos@prodigy.net.mx. Página ilustrada con obras del artista Pierre Bonnard (França). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 El surrealismo y los límites del lenguaje Carlos M. Luis . I. EL AUTOMA En su ensayo titulado “El Surrealismo en sus Obras Vivas” André Breton manifestó que: En la actualidad es bien sabido que el Surrealismo, en cuanto movimiento organizado, nació de una operación de gran envergadura con respecto al lenguaje… (1) ¿Hasta qué límites estuvo Breton dispuesto a llegar con respecto al lenguaje? Después de los primeros experimentos automáticos que hiciera junto con Philippe Soupault: “Les Champs Magnetiques”, (2) Breton continuó practicando el automatismo con ciertas precauciones. El límite se encuentra pues, en las precauciones que Breton tomó con relación a la escritura automática, cuya historia, para decirlo en sus propias palabras, fue la de un infortunio continuo. A pesar de ello, el automatismo le suministró a la expresión surrealista, una fuente inagotable de energía poética, que aún se mantiene viva. En “Le Surrealisme et la Peinture” Breton pudo afirmar entonces: El automatismo heredado de los mediums, se mantendrá en el Surrealismo como una de sus dos grandes direcciones… sostengo que el automatismo gráfico asi como el verbal… tiene el mérito de manifestar y en una cierta manera resolver… la sola estructura que responde a la no distinction cada vez más establecida, de las cualidades sensibles y de las cualidades formales… de las funciones sensitivas y las funciones intelectuales (3) Para Breton la práctica del automatismo significaba la recuperación de los poderes perdidos, no sujetos a los determinismos impuestos por la cultura occidental. Para ello recurre entonces a los primitivos, los dementes y los hermetistas, con la intención de recuperar la conciencia de los orígenes. Lo que trae el automatismo al primer plano, es lo que nuestro inconsciente colectivo continua guardando y que aparece, cada vez con menos frecuencia es necesario añadir, en las pocas culturas primitivas que aún quedan. En ese sentido Breton nunca cesó de ver en Freud el que abriera las llaves de un trasmundo donde se juega el destino humano: Es necesario concederle a Freud que la exploración de la vida inconsciente suministra las únicas bases de apreciación válidas de los móviles que hacen obrar al ser humano… partiendo de ahí, el surrealismo no ha cesado de hacer valer el automatismo, no solo como método de expresión en el plano literario y artístico, sino como primera instancia con vistas a una revision general de los modos de conocimiento (4). La riqueza poética que el automatismo genera, ha sido conservada además dentro de la tradición hermética, sobre todo en la Alquimia. El lenguaje, los emblemas y los alfabetos herméticos, realizan la doble función de comunicar y a su vez ocultar, un mensaje destinado sólo a los videntes, en el sentido que Rimbaud le dio a ese término. En segundo lugar existe lo que Michel Thévoz llamó “el lenguaje de la ruptura” que le pertenece a los locos literarios. Los elementos disociadores de las manifestaciones verbales de los dementes, formaron parte de uno de los experimentos poéticos más logrados del Surrealismo: “La Inmaculada Concepción” escrita en conjunto por André Breton y Paul Eluard. En tercer lugar el mensaje que nos trasmiten las leyendas y mitos primitivos, participan de la concepción surrealista que desea un regreso al “oro del tiempo”, es decir, a un acontecer donde el ser humano entendía el lenguaje en función de lo maravilloso. Otro ejemplo importante del esfuerzo surrealista de sumarse a esa función, lo representa “La Historia Natural” de Benjamin Péret, donde el poeta recurriendo a la escritura automática, reinventa el mito de la creación. Si se corre el riesgo de acuerdo con Breton, de salirse del surrealismo en la medida que el automatismo deja de caminar por lo menos bajo la roca, es porque la escritura automática pone en movimiento el engranaje poético del lenguaje, aunque manteniendo al mismo tiempo, la integridad de la palabra. Este hecho provocará un conflicto aparentemente indisoluble dentro de la aspiración surrealista de convertirse en lo que será, de acuerdo con lo que el mismo Breton había manifestado. La aparición de los llamados “poetas vi suales”, ha puesto de nuevo sobre el tapete, la posibilidad de una síntesis que podría solucionar la resistencia de Breton a no romper ese último baluarte del lenguaje que es la palabra. El automatismo no dejó de tener sus detractores, aún en autores que lo veian con mirada beneplácita. Como ya había señalado, el automatismo tuvo en Breton uno de sus primeros críticos, sobre todo cuando llegó a la conclusion, que su práctica corría el riesgo de convertirse en un recetario para satisfacer las ambiciones literarias de algunos. No se trataba de eso para Breton. Se trataba de obtener una revelación, cuyo dictado (5), pusiese al descubierto el lenguaje del inconsciente. Ese lenguaje inscrito en la sintaxis de los sueños, produce lo que podríamos definir como una eyaculación automática. Si bien es cierto que el automatismo puro nos conduce a un estado de trance, (que por lo demás sentimos durante el orgasmo), también es cierto que sólo en contadas ocasiones logra alcanzar el “punto supremo” que Breton coloca como centro de su proyecto. Volviendo a sus detractores y críticos escépticos, algunos dudaron como J.Starobinski en su ensayo sobre “Breton, Freud, Meyers” (6), de la calidad de sus manifestaciones: Ceder –nos dice este autoral automatismo, es degenerarse, es recaer en un mundo de existencia primitiva donde el ser, como presa de los determinismo elementales, solo es capaz de dar pobres manifestaciones… Otro autor Jean Claude Blachere nos recuerda sin embargo, que la escritura automática es primitiva y no primitivista (7). Pero fijémonos por un momento, en el significado del término “determinismo” que J. Starobinski utiliza en relación con los primitivos, y contra el cual los surrealistas se opusieron. Al contrario de lo que piensa este autor, existe el determinismo mágico, el que obedece a lo que Lezama Lima llamó “una causalidad de las excepciones”. Ese determinismo utiliza como medio de expresión, un causalismo que rompe con la lógica racionalista. El mundo de los primitivos con sus mitos y leyendas, el de los niños, o el de los dementes, se sustenta en un lenguaje cuya magia atraerá a los románticos, a Novalis sobre todo, que los surrealistas heredaron. Hasta ese límite Breton pudo llegar. Pero había algo más, algo que se encontraba inserto en la aspiración utópica surrealista de cambiar la vida y de transformar al mundo en una praxis simultánea. Esto llevó a Breton a postular que: Sólo apelando al automatismo bajo todas sus formas y nada más, se puede aspirar a resolver, fuera del plano económico, todas las antinomías que tras existir con anterioridad a la forma de regimen social bajo el cual vivimos, muy bien pudieran desaparecer con ellas (8). Vemos entonces que lejos de asociar el automatismo a una mímesis de lo primitivo, lo que intenta en realidad, es lograr un proceso de liberación partiendo de la esencia primitiva del lenguaje. Pero regresemos a la pregunta inicial ¿Hasta qué límites estuvo Breton dis puesto a llegar con respecto al lenguaje? Sólo tenemos que leer sus grandes libros: “Nadja”, “Los Vasos Comunicantes”, “El Amor Loco” y “Arcano 17”, para descubrir en los mismos, a un artifice del lenguaje dentro de la mejor tradición francesa. La “operación de gran envergadura” preconizada por Breton, iba por otros caminos que indicaban una revolución conceptual pero no estructural. La escritura automática fue su instrumento de liberación que podia desencadenar un efecto “mariposa” mediante el automatismo, una vez que se hipostasiara en la realidad. Fue su creencia en el causalismo mágico lo que inspiró a Breton a llevar a cabo su “operación de gran envergadura’ sobre el lenguaje. El mejor ejemplo de ese causalismo lo ofrece la poesía de Benjamin Péret. Su obra no obedece a los dictados de la lógica, pues crea la suya propia partiendo del principio de “indeterminación”. Quiero decir con esto que mientras el discurso de Breton en sus lineamientos poéticos, se desplaza como grandes frescos, el de Peret rompe radicalmente con esa trayectoria. Su mirada y su mano colaboraban al unísono para sorprender un mundo al revés, un mundo donde sólo los primitivos, los niños o los dementes pueden ser acogidos. Leamos por ejemplo un fragmento tomado al azar, de su colección de cuentos “Mueran los Cabrones y el Campo de Honor” (9) En el cine pasaban una película triste, cuya heroína perfectamente rubia -que ejercia la profesión de vendedora de jabones- gemía, lloraba y sollozaba sin tregua, sin que el argumento justificase aquel diluvio de lágrimas. El vendedor de escobas, que asistía a la proyección, no se sentía en absoluto ganado por la tristeza que se desprendía de la película. Al contrario! Aquella desesperación injustificada desencadenaba en él una risa atronadora… De pronto la película cesó y en la pantalla apareció una especie de Quasimodo mofletudo que deglutía penosamente un buitre vivo… el público indiferente continuó llorando con mayor ímpetu que nunca… sorpresivamente cambiaron de película para proyectar otra titulada “diversas maneras de aderezar los caracoles”… pero ay! El público lloraba a más y mejor y las butacas comenzaban a flotar sobre aquellas lágrimas agitadas por una verdadera tempestad, a tal punto que el mareo invadió poco a poco al público mezclando los hipos a los llantos… Lo primero que nos llama la atención, es la similitud de lo sucedido en este cuento con lo que le ocurriera a Alicia en su deslizamiento hacia el país de las maravillas. Una conexión se encuentra entre la imaginación infantil de la heroina de Lewis Carroll y la de Peret, que prosigue por esa misma vía. En ambos casos la materia lógica se desintegra a favor de una “fantástica” que Novalis quiso poner en su lugar, para permitir que acontecimientos irracionales pudieran ocurrir. Peret que fue un explorador de las leyendas y mitos de la América, continua la más amplia excursion que hiciera Pierre Mabille en su libro “El Espejo de lo Maravilloso”. Ambos convergen en un mismo punto, donde el lenguaje alcanza su máxima tensión, para comunicar lo que ocurre en el reverse habitado por los primitivos y los locos. Es ahí donde Breton ve en Péret a la palabra que se libera de toda regulación. Veamos a continuación, hasta qué punto ocurrió así en otras manifestaciones poéticas. II. HACIA EL LENGUAJE DE LA RUPTURA En su libro “Madness and Modernism” (10) Louis A. Sass cita a Wittgenstein, filósofo que siempre está presente en las cuestiones sobre el lenguaje, subrayando que el filósofo busca: una comprensión que consiste en ver conexiones. Para Sass el causalismo no respondía a una explicación de las conexiones que existen entre el lenguaje y las distintas formas expresivas de la locura. Un poco más adelante cita esta vez al creador del término esquizofrenia Eugen Bleurer, quien sostenía que: esencialmente sólo existen diferencias cuantitativas entre las fantasias de un niño que juega a ser un general montado en su caballo de madera… el estado de semiensoñación de un histérico, y las alucinaciones de un esquizofrénico en la cual sus deseos más imposibles aparecen realizados. Estas tres instancias constituyen puntos que continuan la misma escala… (11). En el Número 11 de la “Revolution Surrealiste” fechado en 1928, Aragon y Breton celebraron el cincuentenario de la histeria como El más grande descubrimiento poético de los finales del siglo XIX. Cabe recordar de paso, que durante la Primera Guerra Mundial, Breton fue asistente de un discípulo de Charcot en una clínica de neuropsiquiatría, donde se encontró con Louis Aragón quien como Breton, era estudiante de medicina. Fue Breton quien intuyó en los delirios mentales de los soldados que acudían a ese centro, una ruptura “poética” con la realidad, que a la larga lo condujo a su elaboración del surrealismo. “Los Campos Magnéticos” fueron concebidos en la Primavera de 1919, un año después de la conclusion del conflicto. El escenario pues estaba montado para hacer las conexiones entre el lenguaje surrealista y el lenguaje de los lunáticos, término más apropiado -por sus sugerencias míticas-, para designar a los afectados por toda suerte de alucinaciones. El fundador de la “Companía de Arte Bruto” el pintor Jean Dubuffet, a la cual Breton perteneció durante un tiempo, escribió el prefacio del libro mencionado de Michel Thevoz: “Le Langage de la Rupture”. (12). Esta obra más otra suya titulada “Ecrits Bruts”, conjuntamente con la de Raymond Queneau “Aux Confines des Tenebres: Les Fous littéraires francais du XIX Siecle” (13), realizan una extensa recopilación de textos provenientes de la imaginación lunática. En dicho prefacio Dubuffet expresa que: el condicionamiento ejercido por las palabras y por la gramática es más coercitivo que el de las imágenes para el pintor. El registro de las palabra parece ser el piano idóneo de la institución cultural a la cual el pensamiento no puede escapar… El vocabulario muestra a primera vista el repertorio exhaustivo de todas las nociones existentes o imaginables. Ocurre lo mismo con la ilusoria realidad que el condicionamiento cultural le impone a los pintores. Ese repertorio responde únicamente a las nociones manipuladas e inventadas por la cultura… Ante esa situación el pintor ofrece entonces, crear otro piano diferente al pensamiento y mediante su uso, otro mecanismo de acercamiento. Otra gramática. Otra lógica. Una vision distinta de las cosas. (14) Como es natural, lo que Dubuffet pidió, los lunáticos se lo brindaron. El Surrealismo no fue ajeno a esa petición, de ahi que Breton se uniese a Dubuffet en su búsqueda de un lenguaje nuevo. Sin embargo para el poeta surrealista la materia prima que le ofrecía el llamado arte bruto, iba más allá de las expectativas del pintor. Para Breton era indispensable una reformulación del entendimiento, partiendo de los datos que las diversas técnicas propuestas por el surrealismo iban suministrando. Esas técnicas por lo demás se valían del juego como su raíz generadora: desde los “Cadáveres Exquisitos” hasta “Lo Uno en lo Otro”. Gracias a la práctica del juego, la innovadora fuente lúdica del surrealismo nunca se agotó como fuerza opositora a la praxis utilitaria. Dentro del pensamiento surrealista, la similitud del lenguaje de los dementes con los productos del automatismo, se sumó a lo maravilloso implícito en los mitos y leyendas primitivos, y a la imaginería hermética; abriendo las compuertas de lo reprimido por la sociedad. Breton se apasionó con autores, pintores o mediums, que como Jean Pierre Brisset, Wolfli o Helen Smith, navegaron por otras aguas, aguas que el pragmatismo de la sociedad contemporánea se niega a surcar. Jean Pierre Brisset fue incluído por Breton en su “Antología del Humor Negro” (15) bajo la siguiente advertencia: Si la obra, destacable entre todas, de Brisset puede considerarse por sus relaciones con el humor, la voluntad que la preside no puede en lo absoluto pasar por humorística. Por el contrario, la obra de este “loco literario” a quien Raymond Queneau le dio un puesto merecido en su libro citado, fue tomada muy en serio por numerosos autores, entre los cuales se encontraba Foucault. El descubrimiento que Brisset hiciera con respecto al lenguaje consiste según él en que La creación de Dios no es el hombre animal, es el hombre espiritual que vive por el poder de la Palabra y la palabra tuvo su origen en el biarchiantepasado, la rana, hace más de un millón y menos de diez millones de años (16). El análisis que hace Brisset del origen de las palabras, se encuentra unido según él: a las necesidades sexuales que determinaron todos los movimientos, todas las acciones, que se encontraban designadas con los gritos que los acompañaban la mayoría de las veces… fueron pues las más ardientes pasiones amorosas las que soltaron la lengua de nuestros antepasados… se ve claramente por esta explicación en qué se va a convertir el análisis de la palabra, pues todas las sílabas y casi todas las palabras tienen ahí su origen… (17) Una lectura atenta de este párrafo nos lleva a la conclusión que Freud no estaba lejos de sus elucubraciones fantásticas. Era de esperar que tanto Breton para quien “las palabras hacían el amor”, como los Patafísicos y los Oulipianos, se entusiasmaran con la obra del autor de “La Ciencia de Dios” y de la “Gramática Lógica”. Aparte de su pansexualismo, lo que toca el núcleo de la cuestión sobre el lenguaje, es que Brisset procede a justificarlo através de unas minuciosas investigaciones fonéticas, investigaciones que influyeran decisivamente en la obra de Raymond Roussel o Marcel Duchamp. Todo sonido –nos dicepuede ser perseguido en todas las palabras en las que se encuentra y se puede desta car de él un valor único, que es siempre una llamada hacia el sexo (18). Las posibilidades aleatorias de la palabra se encuentran vivas en cada sílaba la cual conforme a Brisset, contienen una idea propia. De ahi a la deconstrucción del lenguaje a la manera que un e.e.cummings, Joyce, los letristas, y el experimento aleatorio que Raymond Queneau llevó a cabo en su libro “Cent Mille Milliards de Poemes”, o los “eventos” de Fluxus, no hay más que un paso. Veamos un ejemplo de esos juegos verbales con el mundo acuático de las ranas como escenario: Donde terminan las aguas, las aguas tierra minan. Cuando lo hayan tierra minado todo, todo estará terminado… Estoy bien, el agua tengo decía el antepasado acuático, y cuando se alojó por encima de las aguas dijo: estoy bien lo alto tengo. Los primeros fuera alojados se convirtieron en relojeros. En el agua no eran puntuales, pues la hora era la salida a la orilla, en las altas horas, en la altura, donde venían los saltadores… en esta altura, los canta ahora, los cantores… (19). Brisset como todo lunático, estaba convencido de la verdad de sus aserciones, que para él constituían su credo religioso: La vida empezó bajo el polo donde el año dura un solo día. El primer antepasado del hombre es la rana que nació por toda la Tierra. Son verdades evidentes y desde ahora irrefutables. Lo sabemos por el mismo Dios y no por nuestro talento de hombre; en su nombre y en el nombre del señor Jesús, declaramos que el reino de Dios ha empezado, que sus profecías se han realizado y que los hombres van a gobernar la tierra (20). Adolf Wolfli presenta un caso diferente. Tras haber sido encarcelado por violador de menores, fue recluído en un asilo de dementes. Declarado en 1895 enfermo mental incurable y además una amenaza para la sociedad, Wolfli pasó el resto de su vida (hasta 1930), bajo tratamiento psiquiátrico en una institución de Berna. Durante ese proceso sufrió períodos de alucinaciones que transcribió en sus libros autobiográficos: “Desde la Cuna hasta la Tumba”, de viajes imaginarios: “Libros Geográficos y Algebráicos” o de notaciones musicales: “Libros con canciones y danzas” y “Album de Danzas y Marchas”. En 1904 comenzó a dibujar con creyones de color dejando una obra alucinante que constituye para Breton, una de las tres o cuatro más importantes del siglo XX. Wolfli pasó a formar parte del panteón surrealista desde que fue descubierto por Walter Morgenthaler en su monografía sobre Wolfli en 1921, y por Hans Prinzhorn cuyo libro “el Arte de los Enfermos Mentales” apareciera en 1922. Dubuffet lo incluyó en su colección de “Arte Bruto”, y en la última exposición surrealista presidida por Breton en 1965: “L’Ecart Absolu”, Breton le reservó un puesto privilegiado. Lo que nos interesa aqui es destacar su obra escrita, que fue pasando paulatinamente desde la descomposición del lenguaje, hasta el grafismo asémico de sus escrituras musicales. En primer lugar el contenido de sus alucinaciones, posee referencias religiosas. En el libro 11 de sus “Libros Algebráicos y Geográficos” leemos lo siguiente: 1. Su divina excelencia, Príncipe de la corona, Adalberto de Dios-Padre-Cielo-Sala en el gran mar del Este: Planeta, Tierra 2. Sus ocho hermanas: la santa y todopoderosa Diosa, Gran Majestad, Princesa de la corona, Santa Maria, la casada, absolutamente legítima, dulce esposa, del sacro San Adolfo… 3. la divina majestad Princesa Amalia. 4. La divina majestad la princesa Bianca 5. la divina majestad la princesa Cornelia. 6. La divina majestad la princesa Flora 7.La divina majestad princesa Girrlanda 8. La divina majestad Princesa Martha y 9. La divina majestad princesa Magdalena. Todas las diosas de esta familia que gobiernan no solo nuestro globo. No: la entera, enorme, majestuosa creación, sobre todo en asuntos femeninos, fueron nombrados desde mis primeros ancestros hasta mi grande y dulce esposa Santa Maria. Estos nueve hijos son, como sus queridos padres y antepasados, resultado de su divino y poder omnipotente, en todas partes y en ninguna parte” (21). A partir de esas visiones el lenguaje fue desintegrándose en fragmentos como el siguiente: Cuando comenzé a escalar una parte approppiadaaa de ese parapeto masivo y de un lujo extraorrrdinarrio, sentí un vértigo cayendo hacia el fondo a gran velocidad… cai y cai hasta la PlazaGigantesca-de la Catedral gigante-del-Aaastro-de-Santa Maria de un lujo extraorrrdinarrio, donde al fffin fui radical y absolutamente aplastado y reducido a papilla. Eh bin! A ras y muuuerto, como una rata muuerta. De repente después de mi caída, todddda la majjjjestuosa Compañia de lo alto, se avistó de esta espantosa y horrrible desgracia: Y no por la escalera de la torre: No! fue por una blanca nube floreciente sobre la cual toda la Compañía dessscendendió volando hasta la mencionada Plaza con la rapidez de un relámpago gigantesco y en ese lugar la toda poderosa, Maravillosa y encantadora Diiioosa bien amada, la Gran-Alteza y Princesa Santa Maria, por medio de su milagrosa vara mágica y, de sus palabras todo-poderosas: En verdad Yo teu lo digo pequeño, levántate, camina, despertándome de la muerte fruia y horrible a una nueva vida alegre y feliz… .(22) Wolfli fue aún más lejos con sus formularios mágicos. He aqui un ejemplo: Mitta z’witt! Hung noi noi Bitta Stritt!! El lenguaje rebasa aqui el umbral de lo comunicante, para entrar en la pura asemia que a la larga se convertirá, como veremos, en grafismos. La obra de Wolfli pasa entonces de lo visual a los escrito, donde los surrealistas pudieron percibir las revelaciones de un espíritu vidente. Dentro del espacio de la videncia hace su entrada la intrigante personalidad de la medium Helen Smith. Su vida y sus sesiones de espiritismo, fueron estudiadas y anotadas por el psicólogo Theodore Flournoy cuyo libro, basado en sus experiencias con la medium: “De las Indias al Planeta Marte”, ejerció una fuerte impresión en André Breton. Sabemos algo de la vida de Catherine Muller, cuyo pseudónimo era Helen Smith, gracias a la dedicación del autor, quien siguiera de cerca los diversos procesos mentales por los cuales atravesara. Flournoy estuvo presente en casi todas las sesiones, donde varios espiritus tutelares se le aparecían: desde Víctor Hugo hasta el conde Cagliostro, y sobre todo uno llamado Leopold. Durante las sesiones que Flournoy presenció, sobre todo las que transcurrieron durante dos ciclos: el martiano y el indio, Helen Smith escribió en un lenguaje dictado por seres de otras latitudes, inventando un alfabeto, al mismo tiempo que pintaba los paisajes marcianos que ella veía durante sus trances. En una de sus fases de sonambulismo, Helen Smith escribió bajo los dictados de un marciano, el siguiente texto al cual le siguieron otros: Dodé né ci haudan té méche Astané ké mé méche (23) Varias semanas más tarde la medium indicó que esa frase describía la extraña casa de un marciano llamado Astané. En otra sesion Astané le habló a Helen Smith mientras ella lo veía al pie de su cama: amés mis tenses amés ten tivé aven me koumé ié ché pelisse amés some tesé. Tras ser cuestionada por Theodore Flournoy, Helen Smith le interpretó ese mensaje: Ven hacia mi por un instante, ven cerca de un Viejo amigo y disuelve todas tus penas… Los eventos donde se manifestba la glosolalia, iban acompañados por intensos raptos emocionales. Poseída por Astané, la medium utilizaba un procedimiento automático auditivo y verbo-visual durante los mismos. La naturaleza puramente auditiva de las palabras escritas por Helen Smith, poseen el mismo efecto que las de Wolfli, como más tarde ocurriría con las de Artaud. Por otra parte el automatismo gráfico que la lleva a crear su propio alfabeto en medio de sus trances, responde a una tendencia asémica liberada de las posibilidades enunciadoras de su lenguaje escrito. Helen Smith confirma lo que Breton afirmó en el “Surrealismo y la Pintura”, acerca de la herencia mediúmica del automatismo. Jean Pierre Brisset, Adolf Wolfi y Helen Smith son tres instancias, entre otras, que demuestran la ruptura que se produce en la palabra que intenta traducir en un lenguaje incoherente, las revelaciones de la mirada interior. Breton se sintió atraído por esas revelaciones, guardándose al mismo tiempo de no transgredir ciertas leyes del lenguaje. Esas leyes sufrieron de entrada, una profunda crisis con el advenimiento del Futurismo y el Dadaísmo. Apollinaire ya lo había anunciado en uno de sus poemas: Oh bocas el hombre está en búsqueda de un nuevo lenguaje/al que gramático de lengua alguna tendrá nada que decir. Marinetti tomó en serio la profecía de Apollinaire cuando comenzó a desatar las palabras poniéndolas en libertad. Breton sin embargo, no se interesó por los experimentos del poeta futurista cuando dijo: es preciso ser el último de los ingenuos para prestarle alguna atención a la teoría futurista de las palabras en libertad, basada en la creencia infantil de la existencia real e independiente de las palabras. (24). Curiosamente durante la década de los cincuenta, Breton vio con mirada complaciente al letrismo de Isidore Isou. Pero Breton siempre creyó en la unidad del lenguaje a pesar de su potencial para ser transgredido: Quedan –escribió en su “Introducción al discurso sobre la Poca Realidad” (25) las palabras… las palabras que tienden a agruparse de acuerdo con afinidades particulares. Breton nunca abandonó su creencia en la magia que hacia que las palabras se unieran en abrazos amorosos, de ahi su rechazo instintivo a convertirlas en instrumentos del caos. Pero el caos vino disfrazado de DADA. Aunque Breton y otros futuros surrealistas se sumaron al dadaísmo, lo cierto fue que a Breton le costaba admitir el nihilismo que se anidaba en sus acciones. A la larga pues la separación se produjo. Tristan Tzara fue uno de los puntos focales del Dadaísmo. Durante un tiempo militó en las filas surrealistas contribuyendo sobre todo con un largo poema épico “El Hombre Aproximativo”. Otro fue Jean Arp quien junto con su esposa Sofia Tauber realizó una serie de collages con papeles desgarrados, que iban dejando caer al azar. Arp se sumó al surrealismo con sus esculturas y poemas donde su sentido del humor predominaba. Picabia por su parte mantuvo unas relaciones distantes, guardando celosamente su autonomía como pintor y poeta. Pero su obra no pudo evitar caer en la órbita de Dada y después del Surrealismo. Los primeros collages de Max Ernst, distintos a los confeccionados por Arp, hicieron su aparición durante la época Dada, asi como los “Merz” de Kurt Schwitters, considerados hoy en día como uno de los precusores del arte informal. Detrás de todo esto se extendía la sombra de la eminencia gris del arte moderno: Marcel Duchamp. El interés de los dadaístas por el arte primitivo, sobre todo por el proveniente del Africa, no era el mismo que los cubistas compartieron. Si éstos buscaban una nueva estructura, los dadaístas vieron lo contrario: lo informe que conducía a la destrucción de las bases mismas del arte. Con respecto al lenguaje, la poemas de Tzara, reflejaron su tendencia a crear unas onomatopeyas que reprodujeran los ruidos percusivos de los instrumentos musicales primitivos. Por lo demás el poema obedecía a las palabras o sentencias sacadas al azar dentro de un saco, según la famosa fórmula dadaista: PARA HACER UN POEMA DADAISTA: Tomad un periódico Tomad unas Tijeras. Escoged un artículo que posea la longitud que usted desea darle a su poema. Recortad el artículo Recortad despues cada palabra que forma parte del artículo. Metedlas en un saco. Sacúdalo dulcemente. Sacad cada recorte uno tras el otro. Copiarlo concienzudamente En el mismo orden que hayan salido del saco El poema se os parecerá… El resultado de ese procedimiento fueron sus “Veinte y Cinco Poemas” publicados en 1919 con ilustraciones de Arp. (26) A e u o yuyuyu I e u o Yuyuyu Drrrdrrrgrrrgrrr Pedazos de duración verde revolotean por mi habitación A e o I ii e a u ii vientre Muestra el centro quiero asirlo Ambran bran bran y vomitar dentro de las cuatro Beng bong beng bang… . Si por un lado la desarticulación del lenguaje en los lunáticos, respondía al ritmo de una ruptura interior producto de su estado mental, la espontaneidad dadaísta intentaba desde afuera desarticular las bases del lenguaje. Ambos coincidieron en sus resultados pero no en sus intenciones o la falta de las mismas, ya que lo locos nos poseen el control de las voces que los incitan a comunicarse. El camino que prosiguió el surrealismo, fue el de tomar las riendas de ese control para crear un discurso poético que ejerciera la función que un ídolo o una máscara primitiva. Es decir un lenguaje que se transformase en una fuerza mágica. Ese mismo camino lo recorrieron con fines puramente literarios James Joyce, Ezra Pound, e.e.Cummings o los letristas. Pero no así Antonin Artaud. Su caso fue otro ya que este poeta, actor y autor teatral, cayó víctima de la demencia. Mucho se ha escrito sobre la obra de Artaud, cuya influencia ha sido considerable sobre todo por sus ideas sobre el teatro. Artaud pues creó poemas-ídolos. Instalado en su mundo particular, buscó dentro del mundo de las asociaciones mágicas una mirada. ¿Qué mirada fue esa? Lejos de ser la mirada que encuentra un motivo de delectación estética, Artaud la recubre con su mierda escatológica, y de ahi no puede salir si no hablando un lenguaje como el siguiente: El espíritu anclado, Atornillada en mí por el impulso Psicolúbrico Del cielo Es quien piensa Cada tentación, Cada deseo, cada inhibición. O dedí A dada orzurá A du zurá A dada skizí O kayá A kaya panturá O punorá A pená Poní Es la tela de arena prenatal La pela anura De o – a la vela La placa anal de anavú (27) Artaud no es Tzara haciendo malabarismos sonoros. Tampoco es Breton cuidando de que la palabra no se escape de sus límites. Artaud, el Momo, los traspasó encontrándose con otra dimension. El texto que acabo de citar, escrito hacia los finales de su vida, en medio de sus encerronas en los asilos de alienados, no pertenece ni al dadaísmo ni al surrealismo, aunque se acerca más a éste. Va mucho más allá, como dibujando a su paso un horizonte al que desde luego nunca se llega. Eso era precisamente lo que Breton temía: deambular como un alma en pena, por los espacios que Artaud recorrió. III. UNA SINTESIS POSIBLE: LA POESIA VISUAL La historia del Surrealismo ha demostrado su inclinación a la apropiación de lo que durante el camino, fue encontrando como válido para enriquecer sus fuentes. Si Breton afirmó que el Surrealismo es lo que será, podemos entonces especular acerca de la aportación de la poesía visual al Surrealismo futuro. Desde la antiguedad los intentos de integrar la poesía escrita a la visual fueron numerosos. Durante la Alta Edad Media, Publio Optaciano de Porfirio (540-600), y Rhabanus Mauro (784-856) confeccionaron una serie de textos conocidos como las “Carmina Figurata” precusores de los caligramas de Apollinaire. Durante el Renacimiento y la época Barroca, el calígrafo italiano Giovanni Battista Palatino (1490-?), el sacerdote y teólogo español Juan Caramuel Lebkowitz (1606-1682), y el jesuíta alemán Athanasius Kircher (1602-1680), compusieron textos y poemas donde las imágenes sustituían a las palabras, siguiendo la tradición de las “Carmina Figurata”, interrumpiendo el discurso lineal mediante la interjerción de figuras. Los alquimistas por su parte, contribuyeron en 1677 con un “Mutus Liber” o libro mudo, compuesto únicamente por imágenes. Influídos por las ideas del alquimista Michel Maier (1568-1622) que había expuesto en su “Obra Secreta de la Filosofía Hermética” que: los filósofos se expresan más libre y claramente, através de carácteres y figuras enigmáticas, así como por un lenguaje mudo, que por palabras”, los alquimistas optaron por representar con sus emblemas, un lenguaje cifrado para uso de los adeptos. El cabalista y mago John Dee (15271608) en una de sus conversaciones con los ángeles recibió la siguiente respuesta a una de sus preguntas: ¿Cómo podemos hablar con sonidos mortaels de cosas que son inmortales? La tradición hermética había enseñado que existía el lenguaje de los pájaros o el “lenguaje verde” como lo llamaba Cornelio Agrippa (1486-1535). Ese lenguaje pertenecía a la antigua sabiduría de la Cábala, la Alquimia, la Astrologia y el Tarot. Los cabalistas creyeron que el mundo había sido hecho através del alfabeto Hebreo, cuyas palabras son instrumentos simbólicos, que sirven como emanaciones de la Creación. ¿Adónde nos conduce todo esto? A dos de los momentos poéticos más importantes de la modernidad. El primero a los collages concebidos por Max Ernst, como el lenguaje mudo de un mundo intraducible en textos, pero grávido de resonancias poéticas. Los tres libros de collages de Max Ernst constituyen uno de los aportes definitivos del Surrealismo a la sensibilidad moderna. Varios decenios después surgió la poesía visual, y en la misma se inició un proceso de recuperación del texto poético unido a la imágen. El auge de la poesía concreta a partir de la década de los cincuenta, ofreció otro rumbo expresivo, rumbo que iba por los caminos de los experimentos musicales que partieron del dodecafonismo y las corrientes plásticas del abstraccionismo geométrico. A partir de esa corriente numerosas experiencias han ido surgiendo en diferentes latitudes: desde el brasileño Kac hasta el francés Julien Blaine o el uruguayo Clemente Padin, la poesía ha cobrado direcciones imprevistas que están lejos de mostrar agotamiento. IV. PARENTESIS ASEMICO ¿Qué decir por otra parte de la corriente llamada asémica? En la medida que participa de los signos que desde los albores de la humanidad fueron dejados en cuevas, piedras, trazados en la arena o en las cortezas de los árboles, su aporte al Surrealismo fue decisivo. Las pinturas de Miró o de André Masson estan ahí para probarlo. Por otra parte los alfabetos sagrados o los inventados por los locos, representan también una forma muy particular de comunicación, a la cual los surrealistas no fueron ajenos. La escritura asémica ha recibido un impulso reciente por el australiano Tim Gaze cuyas publicaciones recogen ejemplos que van desde las pictografías de los aborígenes de su país natal hast a las escrituras de Henri Michaux, Mirtha Dermisache, Karl Kempton etc. V. CONCLUSION Pero más que las diversas manifestaciones de la visualidad abstracta o asémica de la poesía, lo que nos interesa destacar aquí es su integración a la imagen, que se abre a nuevas exploraciones poéticas. Las combinaciones verbales y gráficas de la poesía visual, han contribuído a reformular los intentos que desde la antiguedad se han hecho para trascender los límites del lenguaje. En ese sentido cabe la posibilidad de abrirle un nuevo horizonte al Surrealismo. NOTAS 1. “El Surrealismo en sus Obras Vivas” en “Manifiestos del Surrealismo”, Ed. Guadarrama, Trad. De Andrés Bsoch. Pag. 329 2. Existe una versión en español editorial Tusquet, 1976. 3. “Le Surrealisme et la Peinture”, Gallimard, paris, 1965 pag. 68. 4. “Situación del Surrealismo entre las dos Guerras” en ‘La Llave de los Campos” Trad. De Ramón Cuesta y Ramón García Fernández. Peralta Ediciones, Madrid. Pag. 80. 5. tomado de “Entrada de los Mediums” en “Los Pasos Perdidos”. Trad. Miguel Veyrat. Alianza Editorial, Madrid, 1972. Pag. 111. 6. Jean Starobinski: “Freud, Breton, Meyers” en André Breton” ed. A la Baconniere, Neuchatel, 1970. Pag. 153-175. 7. Jean Claude Blachere “Les Totems D’André Breton”, L’Hartmattan, Paris 1996, Pag. 239. 8. “La Llave de los Campos” ibid. pag. 20. 9. “Cuadernos Marginales”, Ed. Tusquet, Madrid 1976. Pag. 101 10. Louis A. Sass: “Madness and Modernism”, Harvard UP. 1992, pag. 9 11. Ibid. pag. 19 12. Presses Universitaires de France, Paris. 1978. 13. Ed. Gallimard, paris 2002. Existe traducción al español por Julian Mateo Ballorca, Asociación Española de Neuropsiquiatría, Madrid, 2004. 14. Ibid. pag. 7 15. André Breton: “Antología del Humor Negro”, Trad. De Joaquin Jordá, Ed.Anagrama, Pag. 203-14. 16. Raymond Queneau en Asociación Española… pag. 181. 17. Ibid. pag. 185. 18. Ibid. pag. 188. 19. Ibid. pag. 186. 20. Ibid. pag. 196. 21. Tomado de varios autores: “The Art of Adolf Wolfli” Princenton UP. Pag. 51. 22. Tomado de “Cahiers D’Art Brut” # 2 dedicado a Wolfli pag. 77. 23. Theodore Flournoy “From India to Planet Mars” University Books, NY 1963. Pag. 163. 24. André Breton: “Apuntar del Dia” Monte Avila, Caracas, Trad. De Pierre de Place. Pag. 35. 25. Ibid. pag. 18. 26. Tristan Tzara “Sept Manifestes Dada” Jean Jacques Pauvert Paris, 1963. Pag. 64. 27. Tomado de Tristan Tzara “Poemas” traducci¢n y selección de Fernando Millan. Alberto González Editor, Madrid 1969. 28. “Artaud el Momo y Otros Poemas”. Ed. Caldera, Buenos Aires 1976. Trad. De María Irene Bordaberry y Nora Pasternac. Carlos M. Luis (Cuba, 1932). Poeta e artista plástico. Dirigiu em seu país o Museo Cubano. Como ensaísta, publicou Tránsito de la mirada (1991) e El oficio de la mirada (1998). Nos anos 90, já residindo em Paris, publica juntamente com Jorge Camacho Le Bulletin de Liason Surrealiste. Contato: karmaluis1@bellsouth.net. Página ilustrada com obras do artista Carlos Colombino (Paraguai). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 Entre gatos, péndulos y licores: homenaje a Edgar Allan Poe Luis Fernando Cuartas . Poe era el Poeta. Una rara y compulsiva relación con la literatura lo unía a la realidad. Él mismo creyó que en Estados Unidos del siglo XIX, era posible creer en la literatura como un seño de vida, como una profesión de fe y como una garantía de existencia en medio de un industrialismo en ascenso. Más en el caso de Poe, podríamos aplicar esta bella frase de Rilke, “por que lo bello no es más que el comienzo de lo terrible…”, este hombre huérfano busco esa condición estética por excelencia, la aspiración a la poesía, la formulación de un código racional de entender el descenso a los infiernos, las claves del “Nunca más” de un cuervo. Ese hombre que confió en su arte, su medio nunca le permitió poder desarrollarlo en condiciones óptimas. Un desventurado como decía Baudelaire, su medio siempre le fue hostil. Poe desheredado de su padrastro, a penas paso una breve temporada en la Universidad, dedicado a escribir para pequeños periódicos y a deambular por garitos y descubrir las soledades en los licores del alma más que en las botellas. Buscó indagar en la oscuridad mientras bebía sorbos de luz en una extraña relación entre la ciencia y el misticismo, entre la matemática y los ciclos melancólicos. En un texto donde manifiesta ese profundo respeto por la ciencia, en EUREKA, habla de Kepler y las conjeturas de las leyes y sus movimientos, entonces él así mismo se abroga el derecho de hacer postulados para su propia creación, como si fuera un demiurgo inventándose su magia personal. “La convicción que surge de esas inducciones o deducciones cuyos procesos son tan oscuros que escapan a nuestra ciencia, eluden nuestra razón o desafían nuestra capacidad de expresión” , no es más que un preludio hechizante de otra realidad, un surrealismo en ciernes o de una búsqueda de imantada condición de lo deslumbrante en medio del fatigoso material de lo cotidiano, para hacer aparecer otros mundos, que siempre estarán en este, como lo diría Pauwels en sus búsquedas con el retorno de los brujos. Esto no es más que un llamado a la imaginación a la exaltada capacidad creativa que busca hacer del pozo oscuro, del gato negro y de la casa desvencijada, un laboratorio de sensaciones, una conversación con la alteridad del mundo. La realidad que transita Poe no es la ciencia en el sentido exacto, es una fuerza intuitiva, una mirada penetrante sobre el submundo del mundo. Poe es esencialmente un Poeta… Una capacidad de viajar en las pasadillas, como lo haría el pintor Henry Fuseli (1757-1827) donde yeguas, gnomos o pequeños diablos se posan sobre una bella mujer que languidece sobra la atmósfera enrarecida del sopor del sueño. Poe, restablece en la narrativa un encuentro con el mundo de los excesos, algo no buscado originalmente, la relación de los deseos de lo truculento, de la avidez por lo prohibido, una pulsión que atrae y repulsa entre el sexo y la muerte, entre los licores perfumados de la noche y la búsqueda de racionalizar lo desconocido. El encuentro con la narrativa, su mejor peso literario, se da por una urgente necesidad de establecerse como escritor, por ganar unos dólares, por encontrar un lugar donde escribir sus enormes dimensiones imaginarias. Es como encontrar un gato en una biblioteca, el maullido de una antigua selva mental, algo que nos previene de en una página nueva. Con Poe el mundo cotidiano, la prosaica y brutal existencia de oficios diarios, la higienizada materia de nuestras tareas, entra en una corrupción revolucionaria de los sentidos, se altera el orden, se mueve el piso. Literalmente movernos la baldosa o sacarnos de quicio, la teja corrida (el pensamiento) y el piso deslizante ( el sentido de realidad) es una manera de crear, de proponer nuevas maneras de comprender nuestro entorno: una estética de una rara belleza, una sensación pendular, la oscilación de lo que va y lo que viene, la huida y el regreso, pero un péndulo que en la narrativa de Poe, siempre esta pendiendo de un hilo que poco a poco se va rompiendo, se desgasta y se tensa, haciendo que todo parezca tan frágil y a la vez tan eternamente débil. El Lago de la casa Usher siempre quiso devorarlo, en enigmático Augusto Dupin estuvo siempre tras su pista, Legrand adivinaba que el escarabajo estaba en su mente, la momia habla en su dialogo infinito con las momias de nuestras angustias, por eso Allamistakeo, desde una Egipto remoto establece contacto con el presente en un macabro recordarnos lo efímero de nuestras arrogancias. Poe se hermana y se hace cercano a esa literatura que establece un diálogo entre fuerzas contrarias, ciencia y magia, la religiosidad con los ojos abiertos y la duda con la angustia oscura. Desde William Blake, casi antecesor de su noche vigilante, pasando por el Frankenstein de Mary Shelley (1818), y las novelas de Matthew Lewis (El monje), William Beckford y Ann Radcliffe. Los novelistas góticos modernos, como Angela Carter, Patrick McGrath y Toni Morrison son muy apreciados, y el gótico continúa influenciando el cine y la televisión -desde obras clásicas como Nosferatu (1922) hasta Buffy Cazavampiros (1997-2002)- y a artistas visuales como Glenn Brown y los hermanos Chapman. En literatura su huella esta en su gran mentor y traductor Baudeliere, quién lo dio a conocer en Francia y que lo propuso como un código estético de donde bebieron de sus alcoholes posteriormente muchos grandes escritores. Mallarmé escribe un poema sobre la Tumba de Poe, Valery hace su Señor Teste, como una geometría donde todos los elementos son postulados de una serie de axiomas resultados de una imaginación ordenadora y fascinante, un señor cerebro que obtura todas las operaciones del espíritu. Pues bien Poe, en su ensayo sobre el cómo escribió el poema del Cuervo, habla de esa estructura que une lo espiritual con una matemática de la composición, una idea que integra el yo creador en el componente de su propia creación, algo que llevado al extremo es la punta de un nihilismo aterrador. La idea de ordenar la gelatinosa existencia, de formular el concepto rector, la insignia gestativa de la invención artística, hasta encontrar una forma de nadar en el cacumen de la entelequia, para abandonar el ruin ruido exterior, la anécdota de la novela miserable de la vida, esos lloriqueos y esas fabulaciones sobre pasiones estranguladas en destellos miserables de humanos estupidizados por la rutina y las simplificaciones aplanadores de la existencia. Pues bien, Valery hace suyo esa estética que Poe insinuaba y trataba de balbucear. Más que decir de la herencia otorgada desde Los crímenes de la calle Morgue, con la trasformación de la novela negra y la novela policial. Nuestro detective Sherlock Colmes y su elemental Watson, de Arthur Conan Doyle, el padre Brown de Chesterton, para luego pasar al folletín de Ágata Christie y las novelas de Graham Greene, todos ellos heredaros de Dupín, de la noches de lluvia y de las conjeturas sobre el más mínimo detalle. Julio Verne toca la única novela de Poe, una demencial historia de canibalismos, de sueños y de trampas, donde un aventurero sale a la mar en un buque donde pululan ratas, historias de náufragos, pesadillas y silencios. Estamos hablando de la novela Las aventuras de Gordon Pym y de la continuación que hace Verne con su La esfinge de los Hielos” ambos escritores de un autodidactismo científico bastante sorprendente. Más esta rara novela se convierte en tema para los surrealistas, para los viajeros de lo onírico, para las capacitados para fantasear, recordando raros relatos como los de Jeremías N. Reynolds en el Pacífico y en el Polo Sur, o el tema de Cleridge, El viaje del viejo marinero. Robert Louis Stevenson retoma estos enigmáticos viajes, H. P. Lovecraft admira este extraño relato que es como un disparo en el ritmo sanguíneo del relato, un torrente que no para, que deja sin aliento y que no deja al lector abandonar fácilmente el texto. Julio Cortázar hace de Poe una traducción muy bella, y lo pone ante nuestros ojos con su indiscutible talento. Poe deja sus uñas de gato en la piel y en la memoria, Borges tiene bellas páginas sobre este autor, Rubén Darío no deja de llamarlo a su casa mental y lo realza como el lúdano perfumado de la literatura, más crítica la forma cruenta como fue vejado y apabullado por la crítica de su propio país, por periodistas envidiosos y por la mala saña que se tira cuando se trata de vilipendiar a un genio. Honrar su memoria es hacer un encuentro con sus libros, no sólo sobre su literatura y sus obras, es a la vez hace una invitación para reconocer en otros autores sus influencias y sus marcas. En buena hora saludar a este gato del libro, a este péndulo del tiempo de lo imaginario y tomar del dulce alcohol de sus hechizantes letras. Poe no deja de ser de nuestra estirpe sedienta, un ser que estuvo bajo las señales de la dificultad, un perdedor en vida, un hálito de mala suerte condenando su sombra entre la taberna y las envidias feraces que crecen como semillas sobre sus huesos, después de ser arrojado a la cuneta del olvido. Más él suele despertar de esas empalizadas, sale de los muros, se muestra entre el polvoriento paso de una calle oscura a una habitación de palpitantes lámparas. Saca su mano, su intensa mano de escribiente, la mano de un ser que creyó profundamente en su tarea, que no se dejó demesticar por nadie, la que se abstuvo de intervenir en politiquerías y en camorras literarias, la que le costó la muerte en una contienda electoral donde a él nunca le importo intervenir y de la cual sus opositores quisieron ridiculizarlo haciéndolo aparecer como un borrachito vulgar. Poe no dejará de maullar en nuestro oído, de hacer sonidos desde una esquina del alma, de saltarnos las quimeras, de asuzar las pesadillas, de hacernos sentir el peso humanamente humano de su palabra contra el tedio viciado de las rutinas diarias. Luis Fernando Cuartas (Colombia, 1959). Escritor y ensayista. Fundador de Taller de Luna, grupo de escritores de la Universidad Nacional. Cofundador de la Revista Punto Seguido, de la ciudad de Medellín, Colombia. Coordina un espacio en la Radio Universitaria sobre poesía y música. Dirige la Fonoteca de la Universidad Nacional, sede de Medellín. Inédito en libro. Contacto: lfcuarta@gmail.com. Página ilustrada con obras del artista Carlos Colombino (Paraguay). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 Hélène Cixous, Édouard Glissant e Alain Didier-Weill: à mesa com Betty Milan [Entrevistas] . 1. HÉLÈNE CIXOUS Nascida em 1937 na cidade de Oran, Hélène Cixous descobriu a França em 1955, dada a expulsão de seus pais da Argélia, devido à perseguição antissemita. Nesse ano, afirma ter adotado uma nacionalidade imaginária que é, aliás, a de vários outros escritores – a nacionalidade literária. Anglicista e especialista em Joyce, Hélène Cixous foi amiga de Jacques Lacan (1901-1981), assim como de Jacques Derrida (1930-2004). Teve participação decisiva na formação da Universidade de Vincennes, onde criou o Departamento de Estudos Femininos – que foi o primeiro da Europa –, e é considerada uma das mães da teoria feminista pósestruturalista. Sua obra literária é considerável: poesia, romance, teatro, ensaio. Com o ensaio L’heure de Clarice Lispector (“A hora de Clarice Lispector”), divulgou a obra da escritora brasileira na França e, em 1989, recebeu do Brasil a Ordem do Cruzeiro do Sul por sua contribuição à difusão da nossa literatura. Embora publicada pela editora Gallimard em 1950, Clarice Lispector permaneceu desconhecida na França até 1976. Hoje é muito lida. Foi redescoberta, por um lado, graças à Editions des Femmes, que readquiriu os direitos de publicação da obra, e, por outro, graças ao trabalho apaixonado de análise e divulgação feito por Hélène Cixous, autora do primeiro ensaio de fôlego publicado no exterior sobre a nossa escritora. Para saber um pouco mais sobre Lispector, fui ouvir Hélène Cixous, que me deu uma entrevista no seu apartamento de Paris. [BM, 1982] BM Foi necessário muito tempo para que a maior escritora brasileira fosse descoberta na França. Na sua opinião, a que isso se deve? HC Acredito que ela tenha sido vítima de um recalque causado por fatores tradicionais na França, que não é muito receptiva aos textos estrangeiros. Ademais, acho que a obra de Lispector é monumental, de uma profundidade e de uma importância inusitadas, e o estado da literatura francesa é tal que o leitor médio, o da mídia, do jornalismo, é pouco capaz de segui-la. Ela escreve textos que têm uma mensagem cujo teor é quase filosófico e isto não é aceito na França, atualmente. Passamos por uma regressão extraordinária no mundo da literatura. Havia ainda, logo após a guerra, textos dessa qualidade intelectual. Agora, não há mais. BM Será que você poderia dizer o que torna Clarice Lispector tão difícil? O fato de ser um pensamento metafísico, o estilo, o quê? HC Tudo, eu acho. A começar pelo fato de ser uma mulher, de ter o handicap, a desvantagem que nós conhecemos. Em seguida, eu diria que é o fato de escrever um texto inteiramente marcado pelo que poderíamos chamar de “feminilidade libidinal”; é uma intensidade que a torna difícil para a maioria dos leitores, que são classicamente misóginos. Penso sobretudo em textos como Água viva, modelo de inscrição de uma feminilidade libidinal no nível formal. É um texto que não começa, que não termina, constituído de inúmeros começos; é uma enorme corrente de água, uma água viva, um texto que não tem limite, moldura, que pede uma leitura diferente. Uma leitura que seja uma aventura, como o próprio texto, em que é necessário mergulhar. Trata-se de um movimento que as pessoas não têm o hábito de fazer. Isso no nível formal. Mas no nível do conteúdo é a mesma coisa, aquilo de que Clarice fala é absolutamente subversivo em relação à mentalidade média, ela sempre se interessa, por exemplo, pelo que há de menor, de mínimo. O maior, para ela, é o menor, o mais extraordinário; o sobrenatural é o natural etc. Enfim, ela inverte permanentemente os valores e explicita o seu projeto no momento em que o realiza. Assim, se opõe completamente ao sistema de valores clássicos. A ordem, a organização à qual todo mundo se refere não existe. Se quisermos ler a história de alguém, não a encontramos. Aliás, ela sempre diz que não escreve histórias, e sim fatos simplesmente. BM É problemático falar de economia libidinal da feminilidade. Há quem diga que não existe uma escrita feminina. Seria possível explicar o que é a economia libidinal da feminilidade? HC Não me refiro a uma oposição masculino-feminino, que reenviaria a homem e mulher. Mas, por razões de época, mantenho com aspas adjetivos como “masculino” e “feminino” para caracterizar as economias libidinais que podemos fazer surgir, observar e que são diferentes. Vemos essas economias manifestarem modos de ser, quer na vida cotidiana, quer nas produções discursivas em geral. BM Como situar a diferença no texto? HC Nem sempre é claro. Mas, se tomarmos, por exemplo, a questão dos gêneros na literatura, há uma economia libidinal literária que produz o gênero do romance, quer dizer, algo construído, organizado, apropriado, delimitado e que obedece a certas regras, tem um começo, um meio e um fim. Eu diria que são caixinhas e que a economia masculina se compraz em enquadrar, reter, ordenar um espaço. Em contrapartida, encontramos, numa outra economia, textos que não são caixinhas, que estão fora da moldura, não são passíveis de ser enquadrados, estão sempre em aberto, e, contrariamente àquilo que se deixa enquadrar, existem num movimento, numa continuidade. Ocorre que são sobretudo as mulheres que produzem esse tipo de texto, ao mesmo tempo jubilatório e angustiante, como tudo o que recomeça incessantemente. BM Como a fruição feminina? HC Exatamente. E é verdade que isso cria um problema, tanto para aqueles que escrevem como para aqueles que leem. A continuidade coloca o problema da sua interrupção. São problemas vitais e inteiramente literários, técnicos, são problemas de que Clarice Lispector trata com uma acuidade inacreditável. Quando há uma continuidade, quando há um fluxo e uma potência vital que o sustenta, como em Água viva, então, não vemos por que parar de repente. O que faz parar é uma perda de fôlego num determinado momento ou uma preocupação com o outro, e daí o texto para. O admirável é que ela para arbitrariamente. Não para porque construiu um modelo arquitetado, que seria geométrico ou matemático, equilibrado como as dissertações que nos ensinaram a fazer. O texto segue o ritmo do corpo. Bem, agora eu paro, diz ela. Diz e faz. Eu paro, eu recupero o fôlego, tomo uma xícara de chá e recomeço. É algo que está o mais perto possível do corpo, que o mima, quando a literatura em princípio recalca o corpo. BM Onde situaria Joyce nisso tudo? Sei que estamos aqui para falar de Clarice Lispector, mas, como Joyce a interessou tanto, gostaria de saber onde o situaria. HC Ele me interessou na medida em que ousou tomar certas liberdades com a língua. Porém, o tipo de mensagem que ele faz passar não me agrada. Num certo nível, ele é totalmente reacionário. É um homem clássico, o lugar da mulher na obra dele é bem pouco invejável. Verdade que ele analisou as estruturas familiares de modo admirável, mas, no fundo, só fez isso. Questionou e reproduziu ao infinito o drama familiar de uma maneira engraçada, magnífica mesmo, só que nada descobriu de novo. Foi no nível da língua que ele desenvolveu seu trabalho – aliás, no limite da língua. Joyce ousou aplicar descobertas que já existiam e que diziam respeito ao significante, à sua riqueza, à sua polissemia etc., como, por exemplo, as descobertas de Mallarmé. Não ignorava as tradições europeias de trabalho com o significante, que ademais existiam na Inglaterra renascentista. Shakespeare trabalhava com o significante. Mas antes de Joyce ninguém havia feito desse trabalho a regra geral do texto. Ele generalizou o trabalho de “tormento do significante”. Os efeitos disso são fabulosos, é importante para quem escreve. BM O tormento de Clarice é de outra ordem... HC Não tortura o significante, pelo contrário. Posso me enganar, porque o meu conhecimento do português é insuficiente, mas me parece que ela trabalha a frase, o parágrafo, tem uma relação com a pesquisa formal, a sintaxe, a elipse etc. etc. Não é diretamente no nível da palavra que ela opera. O que ela faz, e é isso que é absolutamente admirável, é filosofia poética ou poesia filosófica. Enfim, algo que eu nunca vi em outro lugar. E só há uma pessoa no mundo que produziu textos tão densos, foi Kafka. Só que ele inscreveu tudo no nível da alegoria, ele alegoriza o real para chegar a produzir efeitos de sentido, faz dele uma fábula. Para Lispector, o real é, em si mesmo, portador do sentido mais fino. Só os filósofos fizeram o que Clarice faz, mas sem a liberdade que ela, como poeta, tem. Às vezes eu me dizia que ela parecia Heidegger. Há, por exemplo, um trabalho sobre “a coisa” que tem a força, a potência, a precisão do discurso filosófico heideggeriano. Ela ousa casar, ousa celebrar o casamento da escrita mais leve, quase oral, com o pensamento mais profundo. E é absolutamente excepcional. BM Escrita oral? HC Sim, porque tenho a sensação de que ela tem uma maneira direta de escrever que tem a ver com o relato. E ela recupera na escrita, o que é muito raro, muito feminino, a economia oral. No limite, poder-se-ia dizer que, para chegar a escrever como se fala, é preciso levar a escrita ao ápice. Mas eu digo isso porque um dia vi na televisão um filme sobre a Bahia e havia gente do povo que tinha uma fala de uma grande beleza e eu me disse que, no fundo, Clarice Lispector tinha fontes locais extraordinárias. Eram mulheres que, na fala mais simples, tocavam no coração da vida... É épico, é a epopeia popular contemporânea, coisa que nós não temos na Europa. Por tudo isso, é impossível ler Clarice Lispector rapidamente. Ela pede um verdadeiro trabalho de leitura e as pessoas em geral não leem assim, sobretudo quando se trata de literatura. Se se tratar de filosofia ou de textos psicanalíticos, dizem a si mesmos que é preciso prestar atenção, refletir. Porém, quando leem literatura, não se detêm. E com Clarice Lispector é preciso não ter pressa. BM Como foi que a descobriu? HC A Editions des Femmes quis fazer o público redescobrir Clarice Lispector. Ela havia sido publicada na França, mas sem eco algum. Chegou mesmo a desaparecer, e a Gallimard, que detinha os direitos, não mostrava nenhuma intenção de continuar a publicação de livros considerados sem interesse para a sua política comercial. Um dia, Antoinette Fouque, da Editions des Femmes, me falou do projeto de comprar os direitos autorais da Gallimard. Depois, Regina de Oliveira Machado, que se tornou tradutora de Clarice Lispector, me mostrou algumas páginas de Lispector em que ela estava trabalhando. Posteriormente, li numa antologia de textos de mulheres brasileiras publicada pela Editions des Femmes um pequeno fragmento de Água viva e fiquei abismada, achei aquilo sublime. Não acreditei no milagre e me disse que não ia acreditar, sem mais nem menos, que existia uma obra com a qualidade daquelas páginas. Depois, saiu A paixão segundo GH, pela Editions des Femmes, e foi decisivo. Admiti que era para mim o maior escritor contemporâneo. Para uma mulher que escreve, Clarice Lispector é uma iniciadora, abriu um território que eu sequer imaginava adentrar um dia. Para trabalhar sobre a feminilidade e a escrita, eu sempre me valia de textos de homens nos quais a feminilidade aparecia. BM Quais? HC Textos de todos os tipos e sempre em edições bilíngues. Kleist, os românticos alemães em geral. Trabalhava muito com Rilke, com a poesia, textos ingleses, Shakespeare... Enfim, eu estava sempre retrabalhando textos de homens, o que politicamente não era prático. Era incômodo não encontrar exemplos de economia aventureira em textos de mulheres, e eu andava um pouco triste. Clarice me salvou e me deu um universo. BM Você acha que o interesse por ela na França é devido a uma leitura reveladora? HC Acredito que contribuí para isso. Desde 1978, trabalho ininterruptamente com os textos de Clarice, falo deles em todo lugar... Há dezenas de teses que se fazem no Canadá depois que fui fazer conferências sobre Clarice, que simplesmente não existia lá. É a mesma coisa nos Estados Unidos e na França. Não para mais. É incrível! O texto de Clarice responde a uma necessidade e, por outro lado, também era preciso que houvesse um mediador. BM É frequentemente assim? HC Talvez. Eu diria que é a questão do amor e da transferência. Se começo a dizer com toda a minha força que amo o que ela faz, isso produz efeitos desse tipo. Penso numa cadeia transferencial – e que é maciçamente feminina. São as mulheres que a leem; os homens, menos. Fiz os homens que eu conhecia lerem Lispector. Eles são bem menos abertos do que a maioria das mulheres. Isso é curioso, porque eu não considero que Clarice se enderece especificamente às mulheres. BM Você poderia falar dos problemas de tradução que o texto da Clarice traz? HC Inicialmente, compreendi a língua de Clarice a partir do latim, quando o francês está muito longe do latim. Há um trabalho da subjetividade inteiramente diferente, porque o sujeito pode estar implícito no verbo, o que não acontece no francês. Há mil elementos da língua portuguesa no Brasil que favorecem o projeto filosófico de Clarice Lispector. Na tradução, somos obrigados a acrescentar o sujeito, porque o francês não tolera uma frase em que o sujeito esteja ausente. A força do português do Brasil me fascina. Quando penso que no francês não temos gerúndio! É uma verdadeira loucura. Temos que encompridar as frases por causa disso. Clarice sabia o que o português do Brasil permite, como eu sei o que o francês interdita, porque tenho origem linguística diferente. Na minha infância, falava alemão e depois, inglês. O trabalho que Clarice fez é um trabalho total, uma obra em que não falta nada. Há mesmo elementos romanescos, embora os livros dela não sejam propriamente romances. Há todos os gêneros, mas o gênero não é um fim em si, é antes um resquício de uma forma antiga. BM Um resquício de uma forma antiga? HC Sim. Se tomarmos A maçã no escuro, podemos acreditar que se trata de um romance. Aparentemente, é um romance. No limite, poderíamos dizer que é um romance à maneira americana, de Faulkner, por exemplo. E não é isso. Em A maçã no escuro, o elemento romanesco é apenas um dos elementos do texto. Cada página é, em si mesma, uma espécie de meditação filosófica. 2. ÉDOUARD GLISSANT Originário da Martinica, onde nasceu em 1928, Édouard Glissant estudou na França, formandose em etnografia no Museu do Homem e em história e filosofia na Sorbonne. Nos anos 1950, o seu papel no renascimento cultural negroafricano foi fundamental. Com o primeiro romance, em 1958, ganhou o Prêmio Renaudot, que lhe valeu a consagração literária. Por ter fundado, em 1959, a Frente Antilhano-Guianense, de inspiração separatista, foi expulso de Guadalupe – ilha do Caribe colonial francês, hoje com status de províncias de ultramar, como a Martinica – e passou a residir na França. Ao voltar para a Martinica, em 1965, fundou um estabelecimento de ensino, o Instituto Martiniquense de Estudos, e uma revista de ciências humanas, Acoma. Desde então, sua obra não parou de crescer, sempre testemunhando as particularidades da cultura das Antilhas. Em 1991, ele recebeu o Grande Prêmio Roger Caillois de poesia e, em 1994, a editora Gallimard publicou Poèmes complets (“Poemas completos”). No Brasil, existe tradução de seu romance O quarto século. Segundo Édouard Glissant, é preciso que o escritor esteja atento ao grito do mundo e a literatura possa se enriquecer com o imaginário dos povos pela repetição dos temas da mestiçagem, do multilinguismo e da crioulização. Para ouvi-lo falar sobre esses temas, entrevistei-o em Lisboa, no contexto da reunião do Parlamento Internacional dos Escritores, de cujo conselho ele é membro. De uma a outra resposta, ele me surpreendeu pela modernidade do seu pensamento, que tanto justifica o prestígio de Glissant na Europa quanto nos Estados Unidos e só pode atrair o intelectual brasileiro. [BM, 1995] BM O que é a literatura para o senhor? EG A literatura é a possibilidade de exprimir o que é difícil, ambíguo, impossível. A literatura é sempre, aliás, uma procura de impossíveis. A situação do mundo cria novos campos para o exercício literário. Não se trata de fazer uma literatura aplicada, mas de ser sensível ao que se passa no mundo, detectar, no que chamo de caos-mundo, as variações e as invariantes. BM Nós, brasileiros, assim como os antilhanos, não somos praticantes da escrita e sim da oralidade; não tendemos a ter leitores, mas ouvintes. O escritor brasileiro, como o escritor antilhano, contraria a tendência natural da cultura do seu país, pratica o seu ofício na contracorrente. A posição dele é particularmente difícil, e ele é, por definição, um combatente. O que justifica esse combate, na sua opinião? Por que insistir na escrita? EG Se nós nos reportamos às civilizações antigas, nos damos conta de que, no momento em que a escrita aparece, ocorre a passagem de uma para a outra. Os textos do Antigo Testamento, por exemplo, foram primeiro ditos e depois escritos. Durante dois milênios, vivemos com a ideia de que o escrito é transcendente em relação ao oral. A civilização oral foi considerada inferior. Hoje, com a emergência das velhas culturas orais – na África, por exemplo – e com o cinema e a televisão, nós deixamos de considerar que a oralidade é inferior. BM Mas o que justifica um antilhano ou um brasileiro escrever, contrariar a tendência natural da própria cultura, que é a oralidade? EG Se não fizermos a experiência da escrita, nós entramos na modernidade com algo a menos. Seria melhor mostrar que a escrita pode se tornar mais interessante com as técnicas da oralidade. O melhor é tender para soluções de síntese, e não de fechamento. Quando escrevo na língua francesa, aplico a ela a economia da oralidade, do contador de histórias crioulo, tento construir algo que ultrapassa tudo o que já foi feito; que ultrapassa os próprios gêneros literários... BM A sua posição resulta na produção de textos que não aceitam os limites dos gêneros e nem obedecem às regras estabelecidas para os diferentes gêneros literários. O mercado internacional tende a recusar esses textos e o escritor tende a desaparecer. O senhor poderia falar sobre isso? EG Não tende a desaparecer, e, sim, a levar mais tempo para ser aceito. Foi o que me aconteceu na França, onde consideravam que meu texto era difícil por causa da oralidade. Mas pouco a pouco a coisa foi se impondo. O que eu digo hoje é muito ouvido nos meios intelectuais franceses; vinte anos atrás, não era. É preciso se obstinar, não levar em conta as rejeições, que são sempre passageiras. BM O senhor diz que o conceito, hoje, deve ser fecundado pela imaginação. Seria possível me explicar isso? EG No início das culturas ocidentais, o pensamento poético era fundamental. Na época dos pré-socráticos não existia separação entre o homem e o mundo. Foi com Sócrates que houve a separação – e o poético, que não separa o homem do mundo, se tornou secundário. Mas em certas culturas africanas, nas culturas ameríndias, a separação não existe, e também no movimento ecológico. O que diz a ecologia? Que se você estraga a terra, o ar, isso faz o homem morrer. Trata-se de uma volta ao poético, a uma forma de conhecimento que não é separável da palpitação do mundo, a um conceito fecundado pelo imaginário. Acho que a falência do pensamento do sistema, do marxismo, por exemplo, favorece um outro modo de pensar, que é mais frágil, porém menos imperativo e menos tirânico. Ao pensamento do sistema, que ignora o tempo, podemos opor um outro que implica a rememoração: o pensamento do traço, única possibilidade de sobrevida no Novo Mundo para os descendentes dos africanos deportados. Não fosse o traço dos deuses, dos costumes e das línguas, esse povo não teria tido como se perpetuar e, não fosse a reinvenção do traço, não poderia fazer o seu gênio se espraiar pelo planeta, com o jazz, as músicas do Caribe e das Américas. 3. ALAIN DIDIER-WEILL Alain Didier-Weill nasceu em Lyon. Fez medicina e se formou em psicanálise com Jacques Lacan, de quem foi um dos interlocutores privilegiados. A convite do mestre, fez longas intervenções no seu seminário e por isso se destacou no movimento psicanalítico dos anos 1970. Depois da dissolução por Lacan da Escola Freudiana de Paris, da qual Didier-Weill era membro, ele criou com outros colegas Le Coût Freudien e participou da fundação do InterAssociatif, que hoje reúne mais de vinte associações europeias. Além de psicanalista, é autor de várias peças de teatro, entre as quais O banco e Pol, que recebeu o prêmio da crítica parisiense em 1975 e foi representada em Dublin, Lyon, Montreal e Nova York. Entre suas obras publicadas no Brasil estão Os três tempos da lei, Inconsciente freudiano e transmissão da psicanálise, Invocações, A hora do chá na casa dos Pendlebury. Talvez por ser também um artista, Alain Didier-Weill lançou um livro de psicanálise, Os três tempos da lei, que surpreende pela absoluta originalidade. Didier-Weill ousou fazer o que as associações psicanalíticas tendem a impedir e a psicanálise preconiza: renovar. A partir da sua obra, já não há como ignorar a importância da surpresa, em torno da qual o autor faz girar a teoria psicanalítica, mostrando, por exemplo, que o homem não pode dispensar o jogo e tampouco a arte porque ele precisa se surpreender. Os três tempos da lei torna claro que a verdadeira referência da psicanálise é a arte e é preciso desconfiar dos que se dizem psicanalistas e são dogmáticos. Alain Didier-Weill talvez tenha chegado para dizer, como Édouard Manet, que o fundamental é não fazer de novo o que já foi feito pelos outros, mas autorizar-se a invenção. Para ouvir este psicanalista supreendente, fui ao Rio de Janeiro, onde ele fazia uma série de conferências a convite da associação O Corpo Freudiano. [BM, 1995] BM Você diz no seu livro que nós precisamos da arte e do jogo para podermos nos surpreender. Como é que você explica esse gosto pela surpresa? AD-W Precisamos reencontrar a possibilidade de nos surpreender que tínhamos na infância. A surpresa é a irrupção na vida cotidiana de uma experiência que nos priva do que já sabíamos. BM Mas por que isso é importante? AD-W Nós que idolatramos o nosso saber descobrimos com a experiência da surpresa que gostamos de ficar despossuídos do saber. O homem tem a nostalgia da infância, da época em que se surpreendia com todas as coisas e se deparava com a novidade absoluta. BM O que mais o surpreende no Brasil? AD-W A bossa nova. Há no ritmo da bossa nova – tão contrário ao do tango, que nada tem de surpreendente – uma relação com o tempo que permite cantar sem gritar, como os roqueiros. A bossa nova dá vontade de dançar. A maneira como as mulheres brasileiras andam também me surpreende, é uma dança que vai se esboçando. Eu me pergunto ainda porque há tantos travestis nesse país. Trata-se de algo que eu não compreendo. BM Você dedica o seu livro a Jacques Lacan, que você também chama de “a nota azul”... AD-W Dediquei o livro ao meu mestre e à minha amante, a música. Achei interessante associá-los. A nota azul remete ao blues, claro, mas a ideia de associar a nota de música a uma cor me ocorreu lendo uma carta de Chopin, em que ele fala da nota azul como uma nota especial, porque ela propicia o máximo de surpresa. BM Será que você poderia falar da relação existente entre o psicanalista e o músico? AD-W Como psicanalistas, nós vivemos no mundo das palavras e trabalhamos com elas. Mas as palavras têm os seus limites. Não conheço, por exemplo, uma interpretação que possa curar uma melancolia ou um delírio. Um analista deve poder ouvir, além das palavras, a música da voz do analisando. Trata-se de algo que não se pode ensinar. Um dia, um analisando me contava uma história que era muito triste, mas ao mesmo tempo ele me fazia ouvir, através da música da sua voz, uma grande alegria. E eu ri. Com o riso, que obviamente não era de zombaria, a pessoa ficou aliviada. Quando eu ri, restituí ao analisando uma alegria que ele tinha e não sabia. BM Vocé é psicanalista e dramaturgo. Isso não é habitual. O que significa se dedicar à psicanalise e à arte? AD-W Não existe uma contradição. Na cura analítica, a gente tenta apreender, para além da prosa, as palavras que são verdadeiramente as do sujeito, as palavras que o constituíram e eu chamo de “o poema de cada um”. E, quando o sujeito encontra esse poema, ele pode dar continuidade ao mesmo. O que nós temos de melhor são as palavras do poema que nos criou e nada têm a ver com o discurso universitário. BM Depois da dissolução da Escola Freudiana de Paris, você participou da criação do Inter-Associatif. Por que e como nasceu esse movimento? AD-W Quando Lacan dissolveu a Escola Freudiana de Paris, apareceram 12 associações que, durante muitos anos, ficaram isoladas, à procura da sua identidade. Quando esta foi conquistada, surgiu a necessidade de estabelecer uma relação entre elas, construir uma passarela. O diálogo interassociativo evoluiu e nós resolvemos oficializá-lo, criando o Inter-Associatif, que hoje reúne vinte associações europeias. A ideia é criar uma comunidade de psicanalistas que não estejam ligados por um discurso uníssono. Queremos manter a heterogeneidade de concepções. BM Qual é o futuro da psicanálise na sua opinião? AD-W Temo o pior e espero o melhor. A psicanálise que Freud nos transmitiu, a da descoberta do sujeito do inconsciente, é o oxigênio de que hoje precisamos, mas ela é algo perecível. Como, aliás, o discurso da tragédia na Grécia, que só durou um século. Com a aparição do discurso filosófico, o da tragédia sumiu de circulação. Só voltou com Shakespeare, muitos séculos depois. Algo de comparável pode agora se passar com a psicanálise. Por isso, eu me empenho em transmiti-la e sou extremamente grato a Lacan, não porque ele tenha feito o retorno a Freud, mas porque nos mostrou como cada analista pode fazer o retorno, à sua maneira. Betty Milan (Brasil, 1944). Romancista, ensaísta e dramaturga. Colaborou nos principais jornais brasileiros e atualmente é colunista da revista Veja. Sua bibliografia inclui títulos como O papagaio e o doutor (1991), Paris não acaba nunca (1996), e Fale com ela (2007). Seus 25 anos de colaboração com o jornal Folha de S. Paulo foram reunidos em dois volumes de entrevistas, A força da palavra (1996) e O século (1999). Do primeiro deles selecionamos as três entrevistas aqui publicadas, com o devido consentimento da Autora. Contato: bettymilan@free.fr. Página ilustrada com obras do artista Carlos Colombino (Paraguai). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 La ciudad en la poesía dominicana Soledad Álvarez . Santo Domingo es una y muchas. Ciudad antigua y nueva, ilustre en su blasón de Primada de América y plebeya en el desorden urbano y el deterioro de sus instituciones. Pretenciosa en casas y edificios magnificentes, y en la falsa modernidad de torres, elevados y túneles rodeados de callejones y patios mugrientos, de barrios que agonizan de pobreza, sin agua y sin infraestructura sanitaria. Santo Domingo es un entramado de opulencia y hambre, espacio fragmentado, universo en expansión contenido sólo por el mar, cuerpo abotargado, acuchillado una y otra vez por la mano artera de la desidia estatal y la voracidad de los políticos. Pero redivivo y bullente de humanidad, de luz y color, de olores y ruidos. Recorrer la ciudad es recorrer los diferentes momentos de la historia dominicana. Desde Las Atarazanas hasta los lejanos suburbios de construcciones recientes, Santo Domingo es un objeto estético susceptible de lectura, un sistema de significación, un discurso –como diría Barthesque habla a sus habitantes, un texto en el que podemos leer lo que fuimos y lo que somos (1): En monumentos y piedras coloniales la prosperidad efímera y la decadencia de la Colonia; la lucha por la independencia simbolizada en la Puerta de El Conde; y extramuros, hacia el Oeste, inscritas en la estructura urbana, en el trazado de las calles, en la arquitectura y en los múltiples lugares icònicos, las vicisitudes de la República, la accidentada formación de la nacionalidad, el surgimiento del capitalismo, la injerencia norteamericana y la dictadura trujillista, que marcó la ciudad hasta el hueso y la hizo suya en la inmisericorde cruzada totalitaria que permitió al dictador rebautizarla con su nombre y convertirla en “metáfora espacial” de su régimen (2). La transformación y la instrumentalización de la ciudad adquirió nuevos visos en los períodos presidenciales de Joaquín Balaguer, el heredero de la dictadura consagrado como el gran constructor y redentor de la herencia colonial hispánica, y quien transformó la fisonomía de la ciudad desde una visión monumentalista y jerárquica de los espacios urbanos. Pero Santo Domingo no es sólo la ciudad trazada por el poder, y como territorio de la memoria colectiva no se agota en la épica de lo vencedores ni en la historia oficial. Otras ciudades, superpuestas a la ciudad colonial, a la ciudad trujillista y a la ciudad moderna con su valor de cambio, nos hablan del negro que preservó sus dioses vistiéndolos con el ropaje de los dioses blancos, de la huella de los inmigrantes en la cultura dominicana, de la resistencia a las intervenciones extranjeras, del 30 de mayo y de sus héroes en el recorrido trágico por las calles de Gazcue, de los estudiantes asesinados en la calle Espaillat, de la gesta constitucionalista y de Francisco Alberto Caamaño en la Torre del Homenaje devolviéndole al pueblo el poder que el pueblo le había otorgado, de las luchas populares y del sentimiento de pertenencia de sus habitantes. Ciudad hecha a imagen y semejanza nuestra, Santo Domingo no es sólo la ciudad real y la ciudad histórica. Existe también esa ciudad invisible - tan bellamente descrita por Italo Calvino - a la que, para verla, no basta con tener los ojos abiertos. Ciudad como los sueños, construida “de deseos y de temores, aunque el hilo de su discurrir sea secreto, sus normas absurdas, sus perspectivas engañosas” (3) Es la ciudad que recorremos con los ojos cerrados y el corazón abierto en busca de desentrañar sus más recónditos secretos; ciudad imaginada, ciudad interior, ciudad textual recreada por sus escritores: viajeros, novelistas, poetas, y en la que se revela la esencia y el espíritu de la ciudad. En sus iluminadoras páginas sobre España, Pedro Henríquez Ureña traza el camino: “Cada ciudad tiene su espíritu, decimos siempre; cada ciudad tiene su aire, su “sello propio”. Pero hay más: el espíritu de la ciudad está en el paisaje que la rodea, y en el trazo de sus calles, y en sus edificios, y en sus jardines, y en las costumbres de su gente; y va aún más lejos: está en la pintura y en la literatura que produce, en la música que canta y toca. Así, de cada ciudad española pudiera hacerse una antología, demostrando la unidad de carácter en el paisaje, en la arquitectura, en la poesía.” (4) Esta es la ciudad que intentaremos descubrir en un recorrido tras su espíritu, su poética particular, propósito de ninguna manera tan exhaustivo ni abarcador como propone el ensayista dominicano, pero que al menos nos conducirá por sus calles y registros más significativos. Nuestro punto de partida es el momento en el que la ciudad hace su entrada a la poesía dominicana como espacio discursivo del proyecto de modernidad, cuando los nuevos modos del pensar-vivir y los metarrelatos de civilización y progreso generan una tensión entre la concepción rural y la emergente realidad urbana, entre el presente y el pasado. Esta es la contradicción que en nivel latinoamericano establecen escritores como José Sarmiento y Rómulo Gallegos, entre otros, y que por diferentes caminos anima la imagen de la ciudad en José Joaquín Pérez, Salomé Ureña de Henríquez y Gastón Fernando Deligne. José Joaquín Pérez y Salomé Ureña de Henríquez fundan la imagen de la ciudad desde una visión nostálgica del pasado, por lo demás recurrente hasta los primeros años del siglo XX. Pleno del espíritu romántico que le caracterizó, en “La vuelta al hogar” José Joaquín Pérez reafirma el sentimiento patriótico a través de la exaltación de la Naturaleza como representación de lo nacional y prolongación de la subjetividad. En el poema, escrito en 1874, a su regreso al país después de seis años de exilio en Venezuela, el sujeto poético es el desterrado que regresa jubiloso a la patria idealizada, al lugar paradisíaco de los orígenes, y ante la visión del “dulce Ozama” deja atrás “lejanos climas y humilde historia” para reafirmar su identidad: “!todo cuanto su ser le diera!”. La nostalgia y la idealización del pasado, que encontraremos en Salomé Ureña de Henríquez, no refieren en Pérez a las glorias perdidas de la ciudad sino a la infancia, a la vida personal y emotiva del poeta. El reencuentro alborozado con el lar nativo disuelve “El antagonismo entre lo íntimo (el yo) y lo ajeno (los otros)”, constante en los inicios de la poesía urbana, según Dionisio Cañas. (5) En el conocido poema “Ruinas”, escrito en 1876, Salomé Ureña recupera la ciudad ilustre de la Colonia, centro de conocimiento y de cultura en América durante los primeros cincuenta años del dominio español, para oponerla al presente –realidad estigmatizada, rechazada en su especificidad histórica de barbarie y de ignorancia por la élite dominante del país, que hizo suya la dicotomía ”civilización contra barbarie” puesta en circulación en toda América Latina por el Facundo (1837) de Domingo Antonio Sarmiento: Memorias venerandas de otros días, soberbios monumentos, del pasado esplendor reliquias frías, donde el arte vertió sus fantasías, donde el alma expresó sus pensamientos En la antinomia ciudad real - ciudad utópica, que habrá de caracterizar una buena parte de nuestra poesía, Salomé retoma el mito de la “Atenas del Nuevo Mundo” y profetiza el triunfo del progreso y la civilización, acorde con la ideología positivista y el hostosianismo asumido por la poetisa en el discurso poético y en su proyecto pedagógico. Esta es también la estrategia de José Joaquín Pérez en el poema “Ciudad Nueva”, cuando celebra el nacimiento del barrio extra-muro como un signo del progreso, clarinada que despertará al “Campo inculto” y que le hace exclamar: “¡Oh, ciudad de los sueños de la idea / creación de los delirios del progreso”. La recuperación de la ciudad del pasado la encontramos también en Víctor Garrido, en el poema “Pax”, a las Ruinas de San Francisco; en la “Estampa Colonial” de Ligio Vizardi, y en “Never More” de Enrique Henríquez, que dice: Por las interminables avenidas, en busca de pretéritos mesones, veo plazas desiertas, luces emustiecidas, graníticos balcones, ventanas ojivales y monásticas puertas que, vistas a través de sus cristales, fingen estar de par en par abiertas. Pero ya en Henríquez advertimos una sensibilidad diferente a la de sus predecesores, en tanto el hombre que busca por avenidas interminables esos “pretéritos mesones” es un sujeto interiorizado, que monologa en la noche frente a “una casa vetusta” y no encuentra respuesta a sus preguntas existenciales. Antes, percibe la ciudad como un espacio engañoso, separado de sí mismo. Como vemos, muy pronto el optimismo progresista de Salomé y de José Joaquín Pérez entra en conflicto con la complejidad de la sensibilidad moderna, a lo que se agrega la lógica perturbadora de la realidad política- social, con sus ciclos de violencia y la invencible pobreza. Así, en el poema “Incendio” (1883), de Gastón Fernando Deligne, no encontramos la imagen idílica de la ciudad de José Joaquín Pérez y Salomé sino la irrupción del caos y la destrucción, simbolizados en el incendio que atestigua la presencia del mal en la ciudad. Deligne contempla la ciudad dormida “bajo los limpios reflejos/ de una luna sin mancilla/ en un nacarado cielo”, y en la búsqueda simbolista de las afinidades secretas de las cosas trasciende la realidad exterior para advertir que “Todo, hasta el aire, es marasmo,/ todo, hasta la luz, es sueño;/ todo, hasta el duelo, es quimera:/ ¡sólo el mal està despierto!”. La visión terrible es apenas esbozada porque ante la figuración apocalíptica de sus versos el poeta termina aclarando la transitoriedad del mal, ya “que el bien es el solo eterno”. En el poema de Deligne, afortunadamente recuperado por Manuel Rueda en su antología Dos siglos de literatura dominicana (6) vislumbramos la sensibilidad moderna y elementos que encontraremos mucho más tarde en la que podríamos llamar lectura maldita de la ciudad. En el ensayo “Santo Domingo en la literatura” Andrés L. Mateo señala, con acierto, que “El río Ozama es el primer personaje literario de la ciudad de Santo Domingo” (7). Y ciertamente, como él demuestra, desde José Joaquín Pérez hasta José Mármol, pasando por Domingo Moreno Jimenes y Abelardo Vicioso, el Ozama ha sido metáfora, símbolo y sobre-significante de la relación ciudad-historia. A lo que yo agregaría, en diálogo con que el excelente ensayo de Mateo, que el barrio es el segundo personaje literario de la ciudad, espacio emblemático y significante de la modernidad y la expansión urbana. Y es que la ciudad, que permaneció amurallada por más de 400 años, desde los últimos años de la dictadura de Ulises Hereaux se multiplica en barrios que son un hervidero de vivencias y significados disímiles: Ciudad Nueva, San Carlos, Gazcue, Villa Francisca. Entrado el siglo XX, los poetas vuelcan la mirada hacia esos barrios extra-muros, populares y heterogéneos, que libres del peso de la herencia colonial se convierten en cantera feraz para la ficción literaria. San Carlos ha sido uno de los temas de esta poesía. En 1903 Enrique Henríquez registra el incendio de la Villa en el poema “Miserere”, pero es Vigil Díaz en el poema “Rapsodia”, quien con gesto vanguardista y referencias clásicas y multiculturales, reelabora el barrio como lugar donde converge el universo, especie del Aleph que descubriera el personaje de Borges en el sótano de la casa de Beatriz Viterbo, en la calle Garay, donde están, sin confundirse, todos los lugares del orbe. Utilizando el procedimiento de enumeración totalizante que después sería tan característico en Borges, el poeta nos dice que en los árboles de la villa blanca de San Carlos ha sentido las arengas de Matatías, el guerrero bíblico las quejas de Leopardi las lágrimas de Kosciusco; los siete sellos de Emerson y las crueldades de Marte; Árboles de la villa blanca de San Carlos; en la armonía pitagórica de la alta noche, he sentido los festines de Nínive y Babilonia; he visto los estercoleros de Job y los círculos candentes de Dante; a Mercurio u Shylock pesando oro; a Moloch y Nemrod bebiendo sangre: a Ariel y el Marqués de Lafayette estribando el pegaso alado… No puedo dejar de señalar el estupendo poema de Vigil Díaz como prefiguración de ese momento cenital en la mitificación del barrio que encontramos en la novela Materia Prima, de Marcio Veloz Maggiolo, cuando Papiro expresa la certidumbre radical que impulsa la magnífica saga de Villa Francisca del escritor dominicano: “Mi querido Papiro, como ves, la historia del mundo es la de Villa Francisca. Todo el pasado de la humanidad se entremezcla con el pasado de nuestro barrio” (8). Décadas después, San Carlos reaparece como barrio emblemático de nuestra ciudad textual en Lupo Hernández Rueda, uno de los poetas dominicanos que más ha trabajado la poesía urbana. La ciudad es el tema en algunos textos de sus primeros libros, en Santo Domingo Vertical (1962), en La ciudad y el amor, escrita en conjunto con Marcio Veloz Maggiolo, Tony Raful y Tomás Castro; y en el poemario Con el pecho alumbrado, de 1998. En este último, el poeta regresa al barrio para reconstruir la historia de esa comunidad y para buscar en la memoria asideros que le salven de la angustia y de la muerte. Pero el barrio ha cambiado, sus casas y sus parques han sido derribados por el empellón indetenible del progreso, y con ellos han sido destruidos formas de relación y valores esenciales al ser humano. Si Marcio Veloz Maggiolo es el arqueólogo y el cronista de la vida y la muerte de Villa Francisca y sus habitantes, Lupo Hernández Rueda recupera en la figuración poética la memoria de un San Carlos perdido para siempre, y lo hace con tono elegíaco y desde esa nostalgia que hemos advertido como una de las características de la poesía urbana dominicana: “San Carlos no es San Carlos,/ es la urbe voraz,/ que desbordada,/destruye los ángeles del sueño, la techumbre que cobija la infancia.” Podría parecer curiosa, aunque como veremos no inexplicable, la escasa presencia de la ciudad en la poesía dominicana durante el período de las vanguardias literarias, que se inicia en toda América Latina con el trasfondo de los grandes cambios en la década de 1910-1920: revolución mexicana, revolución rusa y Primera Guerra Mundial. El sonido de las locomotoras, del teléfono y los aeroplanos en los futuristas, la angustia de Vallejo, el Buenos Aires mitificado de Borges y el cansancio del hombre nerudiano que deambula por la selva inhóspita de la ciudad en “Walking around” nacen de la conciencia de enajenación de la vida urbana, vivida sin la mediatización del tiempo ni de la nostalgia. Y es lo que no encontramos en Domingo Moreno Jimenes y los postumistas, ni en los primeros textos de la Poesía Sorprendida, ni en Tomás Hernández Franco ni en Héctor Incháustegui Cabral, que en su “Canto triste a la patria bien amada”, desde un auto veloz apenas avizora “dos o tres casi ciudades” y luego el paisaje movedizo y eminentemente rural. En el caso de Moreno Jimenes y los postumistas, la proclamada renovación temática frente al modernismo significó la vuelta hacia el terruño y el paisaje dominicanos, hacia el pueblo y la aldea donde perviven las raíces de la dominicanidad. Personajes humildes, de gran intensidad humana como “La Niña Pola” y como “El haitiano”, o paisajes rurales como los de “Campiña poblada” y “Atardecer campestre”, expresan en su identificación con las cosas más humildes y en su conciencia social una implícita toma de posición con respecto a la modernidad, pero no hay un espíritu urbano ni una lectura de la ciudad en los textos postumistas. Y si hay un registro en Moreno Jimenes de lugares populares urbanos, como el mercado de Santiago, la intención no es reflejar la vida de la ciudad, sino fijar, a través de vegetales, frutos y creencias populares ese color criollo al que en algún momento se refirió el crítico Ramón Francisco en su análisis sobre el postumismo. En Moreno encontramos flores, pájaros, ríos, los nombres de pequeños pueblos y un trazado definido de la geografía nacional. Pero no encontraremos ni en él ni en los demás la ciudad como referente temático ni una percepción de la realidad urbana. Tampoco el “hombre universal” de la Poesía Sorprendida necesitó de los contextos para emprender su aventura creativa-espiritual. Antes, en su manifiesto rechazo a “lo circunstancial”, y en la asunción de la cultura universal y del mundo helénico como paradigma de su búsqueda de la trascendencia, establece una concepción de la poesía como abstracción y del hombre como un ser genérico, exiliado de la historia. Poesía de la crisis, sí, pero como explica Alberto Baeza Flores (9) por la “perdida del sentido verdadero del mundo a causa de la caída del hombre que le ha dado la espalda a Dios”. En la obra de Franklyn Mieses Burgos, para citar uno de las figuras centrales del Movimiento, hay un despliegue barroco de la naturaleza tropical, elementos de la flora y la fauna, “principalmente marinas, abundosas, peculiarísimas”, señala Pedro René Contín Aybar, pero es un trópico íntimo – como el título de su antologado poema- “en el que ritmo y paisaje proceden de un particular estado de alma” (10) en una especie de subjetividad romántica resucitada. Y hasta podemos encontrar en Mieses Burgos esa espléndida reflexión de nuestro devenir histórico que es “Paisaje con un merengue al fondo”, pero es el campesino y no el hombre de la ciudad el sujeto referencial, y es en los campos de caña y en los conucos donde se baila, a ritmo de merengue, nuestro destino. ¿Hasta dónde la ausencia de la ciudad en los postumistas y en los sorprendidos implica la negación de la ciudad trujillista, significante y significado del régimen y coto cerrado de su discurso mitificador, y hasta dónde esa ausencia expresa la ruptura del proceso de modernidad y la pérdida dramática de la naturaleza esencial de la ciudad como forma de vida y espacio desde el cual sus habitantes y escritores cuestionan el mundo y construyen sus utopías? De la ciudad trujillista sólo quedan, en unos cuantos poemas lastimosos, la imagen de una ciudad fantasma sembrada por los símbolos del poder, como en el poema “El obelisco de Ciudad Trujillo” de Víctor Garrido, en el que el monumento trujillista vela, atemorizante y despiadado “el sueño secular de la Primada” Bajo el dombo eternal de las esferas, titán de piedra que la mar trasunta, levanta al cielo su acerada punta oteando la extensión de las riberas. (…) Y cuando herido por la muerte el día el mundo se adormece en armonía que fluye de la bóveda estrellada, es el altivo y mudo centinela que en el silencio de la noche vela el sueño secular de la Primada. No es sino en los años finales de la dictadura, y después, en la vorágine de los profundos cambios sociales y políticos que se producen en el país a raíz de la muerte del dictador, cuando los integrantes de la Poesía Sorprendida se descubren habitantes de la ciudad, ciudadanos, y nos dejan representaciones poéticas de alto nivel formal, y visiones críticas de la cotidianidad, como la de Freddy Gatón Arce en el poemario Estos días de tíbar y en “La mella”, poema de denuncia social de gran fuerza descriptiva. Me detengo en dos ejemplos sobresalientes: “Ciudad de los escribas”, de Antonio Fernández Spencer, y “Santo Domingo es esto” de Manuel Rueda. El poema de Spencer es la puesta en página del drama interior del hombre de la ciudad, un ser anónimo que se reconoce en su soledad y que atribuye al abandono de Dios el origen de sus desventuras y el fracaso de la humanidad. Para Spencer, en el desierto sin alma de la ciudad, quizás exista una posibilidad de salvación en el amor y en el reencuentro con lo sagrado. Nadie me conoce cuando subo por la calda de los ríos Ahora que el amor se quiebra sobre los almenares deslumbrantes, No te siento acoger al hombre O a las estrellas que ocultaron su paso en la noche Manuel Rueda es poeta de la provincia, de su tantas veces evocado Montecristi natal, y también poeta de la ciudad, de un Santo Domingo con el que establece una relación apasionada de pertenencia, articulada a su visión integradora del mundo y la poesía, en la que experiencias y situaciones concretas alimentan la reflexión y el pensamiento crítico. Santo Domingo es tema y escenario en una gran zona de la producción literaria de Rueda. En sus ensayos y cuentos, en sus obras de teatro y en su poesía, incluyendo una especie de guía sobre la ciudad, un texto al que no dio mucho valor pero que es testimonio de su profundo conocimiento sobre la historia y la arquitectura de Santo Domingo. La percepción literaria de la ciudad en Rueda, contrapuesta a su imagen de la provincia, podría ser tema de un estudio amplio; por ahora baste señalar la materialidad de sus imágenes y su avidez por asimilar la complejidad lacerante de la experiencia urbana, con su violencia y artificios, con esos juegos de máscaras en los que se revelan las duplicidades del ser y de la moral establecida. La contraposición entre individuo-muchedumbre, común en la poesía urbana, anima el texto de Rueda: Santo Domingo es esto: un millón de habitantes que te miran Un millón de moribundos que se esfuerzan Bajo el sol Que hacen ruido y te miran te gritan te esquivan a sabiendas te persiguen te violan te agarran la solapa te sacuden los hombros te interrogan te besan te preguntan te comprimen te arreglan la corbata -te ha costado dos horas de labor frente al espejo ese nudo que ahora te aplastan de un solo manotazote metan la mano en los bolsillos -no sabes qué te pasate aconsejan. La década del 60 marca la gran eclosión de la ciudad en la poesía dominicana. La noche del 31 de mayo de 1961 la ciudad encarcelada, cerrada a cal y canto a los vientos del cambio y de las ideologías en circulación, abre de par en par sus muros y sus ventanas, y un remolino desde las profundidades de la sociedad reprimida echó por tierra no sólo los símbolos de la Era, sino también los modos de relación social y la concepción del arte y la literatura. De repente un mundo nuevo, el más nuevo y beligerante de todos, se abre ante los ojos de los escritores dominicanos. Y en las maletas de los exiliados, y por el contacto con autores y países antes vedados, surgen en la literatura dominicana nuevas formas de expresión, nuevos temas y preocupaciones, entre ellos la ciudad, protagonista de la narrativa y la poesía europea y latinoamericana de esos años. Pero más decisivo y definitorio fue el cambio de la ciudad misma. Las movilizaciones populares, el despertar político y el estallido de contradicciones subyacentes en el entramado económico-social cambiaron para siempre la vida de la ciudad, con fuerza tal que los escritores no pudieron más que sumergirse en la vorágine de los acontecimientos que se sucedían en las calles. La ciudad se convierte entonces en testigo, personaje, escenario, metáfora y símbolo de los nuevos tiempos, y con la argamasa de la historia comienza a construir sus mitos. La revolución del 65 catapultó las contradicciones y también la gesta de la ciudad. La ciudad sitiada, en pie de guerra por la defensa de la dignidad nacional, la ciudad intramuros heroica y libertaria, territorio de la muerte transfigurada en el amor y en el encuentro con los otros, es la de Miguel Alfonseca en “El mar de abril”, la de Jacques Viau en “Canto sin tregua”, la de Luis Alfredo Torres en “Canción del pueblo”, y de Rafael Valera Benítez en “Cantata número cinco”. Es el “Santo Domingo vertical” de Abelardo Vicioso, y desde otra orilla, es la que interpreta Héctor Incháustegui Cabral en su Diario de la guerra – Los dioses ametrallados. Pero la ciudad mitificada de abril es también la ciudad derrotada de Máximo Avilés Blonda en “Cuadernos de la infancia”, y la ciudad del viento frío de René del Risco Bermúdez, el poeta-ícono de su generación, que en su poesía y en su muerte acontecida en el malecón de Santo Domingo simboliza el desgarramiento de una generación que transitó desde el compromiso político a la frustración, de las cárceles trujillistas a la desesperanza de los bares y a la futilidad de las tertulias. Los poemas del Viento frío son poemas del desencanto, estaciones agónicas del combatiente derrotado que regresa a la ciudad indiferente y a la alienación consumista, ésta última expresada en la proliferación de letreros, tiendas perfumes, corbatas, tecnologías, al sinsentido y a la futilidad de la vida cotidiana, perdida ya la esperanza: Belicia, mi amiga Tú y yo debemos comprender Que estamos en el mundo nuevamente (…) Atrás quedaron humaredas y zapatos vacíos, Y cabellos flotando tristemente… Ya no son tan importantes los demás Ni siquiera tú eres tan importante; Podemos marcharnos, separarnos Y nadie lo reprocharà por mucho tiempo Ni siquiera tú, Belicia. La utopía redentorista y las luchas por la ciudad de la justicia atraviesan la poesía de la post-guerra hasta bien entrados los años 70. La ciudad textual se ideologiza y las protesta y los reclamos de justicia y libertad se alzan en sus páginas frente a la pobreza y las profunda desigualdad que caracterizan a la sociedad dominicana. Esa rebelión contra la ciudad enemiga de los sueños es la que anima el poema “Los techos”, de Ramón Francisco, y la poética de Juan Sánchez Lamouth en su “Romance al río Ozama”, de una tendencia social que décadas antes había sido pulsada por Pedro Mir en su antologado “Poema del llanto trigueño”. Es la calle del Conde asomada a las vidrieras, aquí las camisas, allá las camisas negras, ¡y dondequiera un sudor emocionante en mi tierra! ¡Què hermosa camisa blanca Pero detrás: la tragedia. De una dimensión más honda y más fecunda que la lectura ideologizada de la ciudad es la poesía que se escribe desde la negación y la rabia, desde esa “mirada (alegórica) del alienado” a la que se refiere Walter Benjamín cuando analiza la obra de Baudelaire. La ciudad vilipendiada en la desesperación del amor, oscuro objeto del deseo, es la que asoma, aunque todavía tímidamente, en el libro La ciudad y nosotros, de Rafael Añez Bergés, publicado en 1965, y que junto a El viento frío de René del Risco, es referencia obligada de la poesía citadina de post-guerra. “Sé que tanto tú como yo/ hemos odiado esta ciudad/ y que del odio ha nacido el amor inevitable/ hacia las cosas/ porque la ciudad es como una puta festiva/ que se vende.” La más singular y notable poesía de la ciudad en esta vertiente existencial y desgarrada, y a mi juicio una de las más perdurables, es la que produce Luis Alfredo Torres, que en 1974 publica el poemario La ciudad cerrada. Torres es el más atormentado de los poetas de la ciudad, el que expresa con mayor violencia las encrucijadas del hombre urbano. La ciudad es una maldición, realidad hostil y experiencia desesperante en la que, sin embargo, el poeta se sumerge delirante de pasión y rechazo enamorado. Recógeme en tu arcilla, Ciudad perdida, Ciudad infame, Ciudad de los malvados; Vengo de lejos, errante, Cansado como tú, hostigado como tú, Y lleno de hechizo que te envuelve. Eres tú la que ama mi corazón Y en tus inmundicias soy feliz, En tus cuencos de sangre soy feliz, En tus desvaríos y errores soy feliz, Ciudad maldita como arcos destruidos en la noche ciudad tierra como ojos de lesbiana y llena de cintas y de lazos y fetiches. La negación y la crítica corrosiva de Luis Alfredo Torres la reencontramos en la poesía de la ciudad de Jeannette Miller, en particular en los poemas “Los ángeles son propicios a las cuatro”, y “Jeannette”. En este último, la ruptura con las convenciones funciona desde la titulación del texto con el nombre de la poetisa, que al reafirmar con orgullo la naturaleza biográfica del poema rechaza la doblez y la falta de autenticidad de la vida citadina. En el recorrido por calles y lugares de Santo Domingo – registro topográfico de calles y lugares identificables que encontraremos después en Enriquillo Sánchez y Martha Rivera – Jeannette reafirma su identidad de mujer contestataria en “este país de comemierdas” al que opone su aspiración de “un país sin modas,/ sin competencia,/ sin tener que temer por la comida, /sin que me utilizaran para el sexo, /sin creer que soy libre porque disputo a un pendejo su fama de poeta o de pintor.” Como vemos, una ciudad y un país recusados, pero en los que la poetisa aspira a morir “debajo de una mata inmensa de anacahuita/ escribiendo mis versos.” Tiene razón Andrés L. Mateo cuando señala que la “ciudad como espacio existencial que alberga contradicciones infinitas, se plasma en la literatura dominicana tardíamente”. Pero desde la década del 60-70, la poetas establecen una relación íntima, indisoluble con la ciudad, convirtiéndola no en sólo en tema y motivo literarios sino también en estado de ánimo, objeto del pensamiento, perspectiva determinante de su visión del mundo y de la literatura. Los poetas de las últimas jornadas no convocan la ciudad desde el distanciamiento que implica la nostalgia del paraíso perdido. Tampoco prefiguran un futuro idealizado. Son todos o casi todos poetas urbanos, ciudadanos del presente que viven la ciudad y la piensan, expresándola en su complejidad inabarcable para asumirla desde una identidad contradictoria (des)integrada. Punto de convergencia de vivencias concretas y metafísicas en Tony Raful y su “Ritual onírico de la ciudad”, plural en José Enrique García, cuando dice “Hay una ciudad, su nombre no lo guardo, donde todos los caminos del mundo convergen. Allí los múltiples caminantes se encuentran y en las tabernas se intercambian las historias.” Como podemos advertir, la historia como absoluto ha sido relegada en la figuración poética por la multiplicidad enriquecedora de las microhistorias individuales, por el gesto ambivalente y el rescate de la cotidianidad en un proceso de simbolización enriquecedor. Las últimas generaciones han potencializado la ciudad literaria privilegiando el lenguaje y el entrecruzamiento semántico de la realidad real y la realidad imaginada. Así, la ciudad de Alexis Gómez Rosa, sonora, lúdica, construida gozosamente a golpe de imaginación con elementos del lenguaje y la cultura popular, es una conceptualización crítica de la contemporaneidad pero también es vivencia plena de experiencias circunstanciales y de (a)venturas. Oigo a diario aparatos respirar. Salir de su cuerpos a la calles bajo el tumulto de letreros carnívoros, esgrimen su chinchín químico de miedo Silencio diesel ahogado en la mecánica del aire. Árbol de luz, factorías, autopistas, desdoblo de metáfora [Hábito plural] Como Alexis, y más cercano a Luis Alfredo Torres y a Manuel Rueda en la tensión emocional, José Mármol piensa la ciudad en desgarradora contradicción, desde sus disyunciones y desde la más radical materialidad. Como ninguno en su generación, con poderío verbal y alucinada imaginería Mármol ausculta la ciudad, la violenta, la desnuda para hacer salir de sus entrañas los demonios, el mal que la consume pero que asume y reivindica esa criatura desamparada pero indócil que es el habitante de la ciudad. Es el mal de la ciudad - “boca de sarcoma” - la define, en las calles y en los barrios, y fluyendo por su río, el Ozama, que “suda leche de luna y baba” y “empieza a mostrar sus ahogados. Sus ángeles suicidas. Sus dioses imperfectos. Sus luases orinados. Sus vírgenes violadas por murciélagos y sapos.” La visión atormentada y perturbadora de la ciudad, en una especie de expresionismo baconiano, intensifica hasta la deformación los contornos de las cosas para que esta muestre su verdadera esencia. La ciudad textual no se agota en estos registros Si Basilio Belliard fija en el poema una imagen fotográfica, instantánea de la ciudad, “Presencia del instante” como la define en “La ciudad en prosa”, también Martha Rivera capta en el poema “No”, con recurso gráfico y lenguaje referencial, experiencias instantáneas que se despliegan como fragmentos en la página para delinear los nuevos rostros de la realidad urbana en su intricada relación con la cotidianidad y la intimidad personal, estrategia que también encontramos en Miguel Aníbal Perdomo, Radhamés Reyes Vásquez, Dioniosio de Jesús y Miguel D. Mena. Los poetas de las últimas generaciones han interpretado la ciudad que les ha tocado vivir con una diversidad de poéticas y de registros excepcional en la poesía dominicana. “Ciudad pensada” en César Zapata, ciudad de las transgresiones y de barroca sensualidad en Plinio Chahín, dimensión existencial en Adrián Javier, León Félix Batista y Fernando Cabrera, exuberante en Almánzar Botello, de la violencia, la nocturnidad y las drogas en Homero Pumarol; y en la mayoría de los textos el énfasis en la estructura formal, las concatenaciones fónicas y lexicas, la paradoja y la parodia, el talante irónico, la mirada incisiva, la tesitura intelectual. Santo Domingo es una y muchas. Como dijo Italo Calvino, bajo un mismo nombre de ciudad ciudades distintas se suceden y se superponen, pero hay un elemento de continuidad que la ciudad ha perpetuado, el que le da sentido y debe reencontrar. “Toda ciudad debe reencontrar a sus dioses”, concluye. Y dónde buscarlos sino en la poesía, dónde sino en las visiones de esa ciudad invisible que hemos construido a golpe de rabia y esperanza a lo largo de nuestro decurso trágico; dónde sino en esa ciudad del hombre para el hombre, reclamada una y otra vez, talismán en este presente cambiante y fragmentado, cementerio de ideales que ya nadie recuerda. NOTAS (1) Sobre la ciudad como texto, Yolanda Izquierdo recoge diversas interpretaciones de la ciudad: “La ciudad es un texto, “form as a receptacle of meaning,” un objeto estético generado por condiciones económicas, sociales y culturales, susceptible de lectura: en él se manifiestan formas y estructuras mentales y sociales.” Acoso y ocaso de una ciudad. La habana de Alejo Carpentier y Guillermo Cabrera Infante, San Juan, Puerto Rico, Ed. Isla Negra, 2002 ,pág.19 (2) Andrés L. Mateo: Mito y cultura en la era de Trujillo, Santo Domingo, 1993; y Santo Domingo, elogio y memoria de la ciudad, Santo Domingo, Codetel, 1998. (3) Italo Calvino: “Los dioses de la ciudad” en Punto y aparte, Barcelona, Tusquets, España, y Las ciudades invisibles, Madrid, Ediciones Siruela, 2002 (4) Pedro Henríquez Ureña: “La antología de la ciudad”, en Obra crítica, Mexico, Fondo de Cultura Económica, 1981, pag. 200 (5) Dionisio Caña: El poeta y la ciudad. Nueva York y los escritores hispanoamericanos, Madrid, Cátedra, 1994 (6) Manuel Rueda: Dos siglos de Literatura Dominicana, Poesía (1) Santo Domingo, Editora Corripio Col. Sesquicentenario de la Independencia Nacional., 1996 (7) En Santo Domingo, elogio y memoria de la ciudad, Santo Domingo, Codetel, 1998 (8) Marcio Veloz Maggiolo, Materia Prim. Protonovela, Santo Domingo, Fundación Cultural Dominicana, 1998, pag. 119 (9) Alberto Baeza Flores: “Consideraciones generales sobre `La poesía Sorprendida´ en Publicaciones y opiniones de La Poesía Sorprendida, San Pedro de Macorís, Universidad Central del Este, 1988. (10) En Dos siglos de literatura dominicana, op.cit., pag. 46. Soledad Álvarez (República Dominicana, 1950). Poeta y ensayista. Graduada de Filología con especialidad en Literatura Hispanoamericana de la Universidad de La Habana. Ha publicado los poemarios Vuelo posible (1994) y Las estaciones íntimas (2006). Como ensayista, ha publicado La magna patria de Pedro Henríquez Ureña: una interpretación de su americanismo (1980), y Complicidades. Ensayos y comentarios sobre literatura dominicana (1998). Contacto: soledadalvarezvega@yahoo.com. Página ilustrada con obras del artista Carlos Colombino (Paraguay). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 La influencia y el valor del cine Plinio Chahín . implicaciones comerciales, políticas e ideológicas que ello implica. El cine, como la fotografía, ha marcado de un modo central e irreversible la cultura y las artes contemporáneas. Es evidente, por demás, que antes que nada está concebido como una industria, con todas las Una industria fuertemente centralizada y jerárquica que actúa como un elemento básico de ejercicio y expansión de la hegemonía de los Estados Unidos sobre todo el planeta. Porque nadie puede negar la fuerza de penetración del cine: pensamos y vivimos a través de las películas, y de ello hace ya todo un siglo. Siendo, como es, primariamente una industria, no puede extrañarnos que el vertiginoso incremento cuantitativo de la demanda de imágenes en movimiento, desarrollada de las televisiones por cable y por satélite, produzca una degradación cada vez más acusada de las exigencias estéticas del medio. Pero esto ha sido siempre así: la elevación de la obra fílmica a rango de arte se ha hecho en no pocas ocasiones con grandes dificultades, a contra corriente de la industria. Un caso ejemplar es la trayectoria truncada de Orson Welles. Aunque, en sentido contrario, tenemos en Alfred Hitchock el ejemplo de un gran creador que pudo en gran medida (no del todo) conciliar su voluntad estética con las exigencias del sistema. Así, siendo el cine como es, el arte que mejor define nuestra época, conviene no olvidar que las obras fílmicas alcanzan en contadas ocasiones el grado de auténtica obra de arte, si somos mínimamente exigentes en el empleo de esta categoría. Otra cosa es el papel de la producción masiva de películas en el entretenimiento, y su valor comunicativo y cultural en la expansión de tendencias y estereotipos. Un aspecto, este último, en el que el cine está más cerca de la moda que el arte. Sobre esta práctica industrial y artística a la vez joven y madura, y centenaria, gravita de forma más acusada, como en la moda, el vértigo de lo nuevo, la búsqueda de algo distinto para atraer a los diversísimos públicos que son sus consumidores potenciales. La pregunta “¿Qué hay de nuevo?” es, en sí misma, una pregunta “de cine”. Está inscrita en lo más profundo (memoria, emociones íntimas) de todos los que, como yo, tuvimos en el cine, antes de la implantación de la televisión, el vehículo primario de “aculturación”. No mucho después de saber hablar, pero antes de haber aprendido a escribir, yo veía películas. Y ahí se forjaron las raíces de mi sensibilidad: un espacio donde lo audiovisual, la imagen y el sonido en movimiento, integraba todos los planos posibles de representación de la experiencia. “¿Qué hay de nuevo?” evoca, para mí, un eco distante de mis orígenes como ser humano. Una variante de la inextinguible pregunta de Bugs Bunny: “Wat´s up, Doc?” Por desgracia, a esa pregunta, referida al propio cine (no sólo al cine dominicano, de factura incipiente y precaria, carente de imaginario y originalidad), no daría hoy una respuesta demasiado optimista: lo nuevo me parece escaso, o apenas deseable. Creo que la cuestión tiene que ver con la propia edad del cine. Cuando se han cumplido cien años es difícil que la invocación sea el punto de referencia de cualquier actividad humana. Es verdad, quiero insistir en ello, que el cine es el arte de nuestro tiempo, el arte que mejor caracterizó el siglo XX. Pero lo que pudo resultar realmente nuevo hasta los años sesenta del siglo ahora ya pasado: una forma de “aculturación” tan intensa u homogénea como, hasta entonces, los seres humanos no habían conocido, se ha convertido para nosotros hoy, entrando en el siglo XXI, en una tradición. Algo similar encontrábamos en nuestro estudio de la experiencia de las vanguardias artísticas. Las dimensiones expresivas del cine, que propiciaban una “auténtica revolución antropológica”, una síntesis incalculable de visión, sonido y conocimiento, ahora ya no son nuevas, constituyen nuestro patrimonio. Las posibilidades de innovación expresiva, tanto conceptuales como formales, resultan así sumamente problemáticas en el cine de hoy. Al cine ha acabado por pasarle lo que a las demás artes: es como si todo hubiera sido ya inventando. Lo realmente nuevo, en el universo audiovisual que en su día abrió el cine, se encuentra actualmente en las incipientes experiencias multimedia desarrolladas a partir de la informática y los nuevos soportes electrónicos. No sólo el cine. Resulta evidente que el universo de la imagen audiovisual en su conjunto tiene un futuro, e incluso un presente, marcadamente digital. Películas como “Matrix” (1999), con todas sus secuelas, “Final Fantasy” (2000), enteramente producida por ordenador a través de un videojuego de éxito, expresan nítidamente hacia donde va el cine. La demanda de “novedad” para captar público es tan intensa, y está luego tan bien desarrollada en su segmentación de esos públicos potenciales (desde luego, no me refiero a la República Dominicana, carente de una infraestructura de mercado, y del apoyo financiero de muchos de nuestros empresarios), que el creador cinematográfico tiene cada vez márgenes más estrechos dentro de una industria también cada vez más voraz. Y, a la vez, más amenazada, porque el horizonte digital implica, a largo plazo, la posibilidad de una quiebra de las estructuras industriales, basadas en la inversión de sumas extraordinariamente altas de capital y la obtención de unos márgenes de beneficio que, salvo en los casos de auténtico acierto, sólo pueden asegurarse por imposiciones oligopólicas de mercado o por políticas proteccionistas. Más que una “expansión estética”, lo que actualmente estamos viviendo es una desmesurada transformación comercial de una industria que a veces era arte en un mecanismo planetario de producción y transmisión de imágenes en movimiento. El material cinematográfico se multiplica más allá de todo límite para que la “gran pantalla icónica” esté encendida continuamente y en cada rincón del planeta. La emoción de la sala oscura y del carácter excepcional de la imagen, pasó ya para siempre. No es extraño, entonces, que la repetición y la estandarización del estilo (a partir de las pausas más comerciales del cine americano) se conjuguen con una importancia creciente de los “efectos especiales” (una dimensión que cualquier amante de los valores cinematográficos no puede dejar de considerar secundaria). Pero, entonces, ¿es posible “lo nuevo” actualmente en el cine? Quizás le haya pasado al cine algo similar a lo que experimentó la poesía al desarrollarse la escritura: perdió el dominio exclusivo de la palabra. O la pintura con la fotografía: las imágenes visuales podían fijarse con la máquina. El cine ha perdido también la exclusividad de lo audiovisual. Pero eso no tiene por qué significar su agotamiento expresivo. Considero, al contrario, que debería significar una reorientación de sus objetivos estéticos. Centrados ahora mucho más en la densidad de la obra que en la dudosa novedad. Lo nuevo despunta en el cine moderno, igual que en las demás artes seculares, como innovación en el marco de una tradición. Plinio Chahín (República Dominicana, 1959). Poeta y ensayista. Ha publicado libros como Hechizos de la Hybris (1999), Escritos sobre el silencio y otros textos (2005), y Pasión en el Oficio de escribir (2007). Contacto: pliniochahin@yahoo.com. Página ilustrada con obras del artista Carlos Colombino (Paraguay). Pesquisa personalizada revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 O leitor insano Camilo Prado . O demônio é o livro, ler é estar possuído. Daniel Fabre É preciso estar possesso. Fausto Marthe (Vzyadoq Moe) Penso que não há aqui necessidade de definir os múltiplos tipos de leitores possivelmente existentes, já que pretendo apenas falar de um tipo que se define por si mesmo, o tipo de leitor insano. Um tipo raro, mas existente. Dele muitos escritores, e leitores, estão cientes, e eu também, pois sofro dessa patologia. Aliás, mal vista como muitas outras patologias atuais. Há quase vinte anos o governo brasileiro vinculou na mídia propagandas que mostravam jovens leitores viciados em leitura. Lembro de uma, estampada em revistas semanais, em que mostrava um jovem com o rosto oculto, imagem em preto e branco, e entre aspas “foi a professora quem me viciou”, ou algo semelhante. A relação com as drogas aí era clara, por isso aboliu-se logo das revistas e da televisão tais propagandas de incentivo à leitura. A presente conjuntura política não aceita insanidades improdutivas, daí ser esse tipo de leitor, que absurdamente o ministério da educação tentou incentivar há vinte anos atrás, raro em território nacional. Ler – refiro-me a livros – num sentido geral, mesmo que falsamente glorificado por todos, é uma atividade quase que clandestina, uma anomalia espiritual. Retirar um livro do bolso, ou de uma bolsa, em lugar público sempre atrai um olhar curioso, não pelo que se vai ler, mas pelo simples fato de se estar com um livro em punho. Isso, exibir um livro em meio à multidão, curiosamente, é uma espécie de bizarria. Os olhares já te julgam um outro, não mais o mesmo de minutos antes. Você se transforma, sofre uma mutação instantânea, no simples ato de exibir um livro em público. E mais bizarro você se torna quanto mais longe esteja de uma cidade universitária. A impressão clássica ainda permanece, aquela de que você deve ser inteligente, mas também é comum a impressão de que você deve ter “tempo” para poder ler, ou seja, ou tem dinheiro ou é vagabundo; desse julgamento não se escapa! Mesmo dentro das cercas universitárias. E aí falam por si os olhares dos professores quando te vêem com um livro que não é de estudo. Muitos escritores têm colocado a insanidade como tema literário, mas um em especial, me parece, colocou a literatura como uma insanidade em si mesma. Trata-se de Théophile Gautier (1811-1872), num conto intitulado Onuphrius, em que o personagem escritor, “saído do arco do real, lançara-se nas profundezas nebulosas da fantasia e da metafísica; mas não lograra regressar com o ramo da oliva; não encontrara terra seca onde pousar o pé e não soubera reencontrar o caminho por onde viera; quando se apossou dele a vertigem de estar tão alto e tão longe, não pôde voltar a descer como o teria desejado, e reatar com o mundo positivo”. [1] Passando a confundir a realidade com o mundo dos seus escritos, perdeu o controle de ambos. Também o escritor austro-húngaro Arthur Schnitzler (1862-1931), no conto Meu amigo Ypsilon, aborda o mesmo tema. E para não se pensar que isso é mera ficção, é sempre bom lembrar o caso de Honoré de Balzac (1799-1850) que, conta-se, um amigo o encontrou chorando no quarto, e, perguntado sobre o motivo das lágrimas, o escritor respondeu que um de seus personagens havia falecido. Se a literatura, por um lado, não apenas coloca a insanidade como tema, mas, em certa medida, o próprio artista criador como um insano, por outro, a idéia de leitores e da leitura é apresentada em diversas formas, nos mais diversos autores. Vejamos alguns: O “Selvagem”, personagem de Admirável mundo novo de Aldous Huxley (1894-1963), aprendeu a ler com os livros de Shakespeare e todas as suas idéias são expressas através das falas das peças do dramaturgo. As leituras que “des Esseintes” (personagem de Às avessas de J.-K. Huysmans, 1848-1907) faz, no seu quarto abaixo do nível do chão, onde se isola por mais de um ano, são dos autores amigos do escritor e que ainda hoje podem ser lidos como crítica literária. Quase a totalidade da novela A casa sobre o abismo de William H. Hodgson (18771918) é uma leitura que dois amigos fazem, durante uma noite, de um manuscrito encontrado num local onde vão acampar. Um manuscrito completo é o conto de Edgar Alan Poe (1809-1849) Manuscrito encontrado numa garrafa. E ainda um manuscrito é o romance de Yan Potocki (1761-1815) intitulado Manuscrito encontrado em Saragoça. E de manuscritos passamos às cartas e aos diários e à imensa quantidade de romances epistolares, como por exemplo, Werther de Goethe (1749-1832) ou O homem da areia de Ernst Hoffmann (1776-1822), e aos escritos em forma de diários, aos que são supostos manuscritos encontrados em algum lugar, e àqueles em que há referências explícitas a leituras, escrituras e mesmo auto-referências literárias. Podendo ainda acrescentar livros como Dois irmãos de Milton Hatoum, cujo personagem narrador, que se mostra aos poucos o escrevente da narrativa, é um grande leitor, ou ainda os escritos que “falam” com o leitor, como nos Contos de Belkin, de Alexandre Pushkin (1799-1837). E chegamos a conclusão de que a idéia da leitura é interna à literatura. Não apenas o óbvio: escrito é para ser lido, mas algo mais do que isso. Os artifícios são inúmeros para que um leitor, como eu, possa deleitar-se pelas páginas brancas ou fungosas e amareladas pelo tempo, e insanamente alheio ao tempo. Pois ler, creio, é a forma mais perfeita de matar o tempo. Quebra Depois de anos como freqüentador assíduo de bibliotecas, especificamente do setor bellatrix, encontrei-me com uma monumental obra, Panorama do movimento simbolista brasileiro. Foi uma parte importante de minha formação autodidata, pois eu encontrava um mestre: Andrade Muricy. Com ele conheci Bernardino Lopes, Emiliano Pernetta, Pedro Kilkerry, Rocha Pombo, Francisco Mangabeira, César de Castro, Adelino Magalhães e outros mais. E com ele também aprendi a olhar com outros olhos a literatura nacional. Olhos de paixão, não de estudioso. Meu olhar de estudioso sobre a literatura começou recentemente. E deste olhar resultou já uma dúzia de páginas acerca da literatura brasileira excluída das histórias literárias em um texto intitulado A literatura do lado de fora – elementos para uma outra história da literatura brasileira, [2] escrito de um modo perfeitamente acadêmico, e justamente por ter escrito aquele de modo acadêmico, dedico-me agora, em forma menos acadêmica, a esta espécie de auto-análise literária, a esta arqueologia interior, escavando isso que poderíamos chamar de as origens e desenvolvimento do gosto pela leitura, de minha relação com a literatura, ou enfim, de minha insanidade enquanto leitor. O gosto acima de tudo A obra de arte literária, enquanto objeto-livro, só é apreciada enquanto tal (ou seja, enquanto obra de arte) fora das muralhas institucionais. Nenhum professor, aluno ou crítico lê literatura enquanto obra de arte. Para esses, a literatura é objeto de estudo, de trabalho, enfim, de ganha-pão. Que possa as duas coisas, arte e ganha-pão, mesclarem-se, é possível, mas no mais das vezes estão a milhas de distância. Arriscaria mesmo a dizer que a literatura que transita pelos corredores institucionais, acadêmicos sobretudo, é algo já selecionado, empacotado e etiquetado com ismos, espécie de produto de consumo de professores e estudantes, críticos e editores, destinados a teses e dissertações e objetos de uso e lucro. A senhora aposentada que vai ao sebo comprar um livro velho para saciar sua sede de leitura, e assassinar seu tédio, ou o jovem punk que, no mesmo sebo, fica abstraído lendo poemas de Augusto dos Anjos, poeta até então desconhecido para ele, não estão movidos por interesses de estudiosos, não possuem eles arcabouços teórico-críticos com os quais farão suas leituras. A literatura aí, enquanto obra de arte, é válida pelo seu conteúdo imediato; se algum verso desagrada, se o estilo não empolga à leitura, o livro não é levado para casa. O que não faz um estudioso, que normalmente compra livros “recomendados pela crítica”, ou pela “área de estudo” ou pelo “ismo” que lhe agrada, lamentando quando o estilo é enfadonho, já que sua leitura é quase sempre obrigatória ou de proselitismo, raramente por um gosto estético ou ânsia de leitura que, via de regra, move o comum mortal amante da leitura literária. Entre esses últimos sinto que me enquadro: comum mortal amante da leitura literária. E é sob essa perspectiva que me coloco como observador privilegiado da literatura, já que além de comum leitor, sou estudioso institucionalizado. E, no entanto, não foi através da universidade, menos ainda das aulas em colégios, que me deparei com a literatura. Os sebos, lojas de livros usados, têm um papel importante nesse meu encontro com esta arte suprema. O fato de ali se encontrar obras há tempos não reeditadas, algumas em grafia antiga, edições estrangeiras não encontradas em livrarias (de novos), e normalmente a preços muito inferiores aos dos livros novos, fazem dessas lojas algo acessível e bem mais atraente, visto disporem a raridade do volume único. Foi num sebo, numa desagradável tarde nublada, no primeiro andar de uma galeria isolada no centro de Desterro, que encontrei um livro de título sonoro: Mocidade morta, em página do qual li no início de um capítulo: “Agrário caíra numa lúgubre invernia de espírito, atormentado pela concubinagem do cambista”. Foi meu primeiro encontro com a arte exótica de Gonzaga Duque (1863-1911). Foi num sebo também que encontrei um livrinho cor de vinho, com uma capa horrível, mas que aberto a esmo mostrou-me os versos: “Amo as tardes idílicas do Norte! • As palavras que nascem sem viver... • Mais um dia que passa e a minha Morte!”. Eu me encontrava aí com o poeta Ernani Rosas (1886-1955). E foi ainda em sebo que me encontrei com a obra da escritora francesa Violette Leduc, com a prosa profana do americano William Burroughs, com a poesia moderna do argentino Leopoldo Lugones, com a intimista poeta russa Anna Akhmátova, com a Angústia de Graciliano Ramos, com a Confissão de Lúcio de Mário de Sá-Carneiro, com a Peste de Albert Camus, com a poesia de Fagundes Varella, com Gide, Maupassant, Garcia Márquez, Gorki, Xavier Marques, Sade, Tchekhov, Nerval, Saramago, William Blake, Boris Vian, etc., etc.. Ao jovem amante da leitura literária que eu fora, e sigo sendo, e sem recursos para freqüentar livrarias de novos, coisa a qual passei a freqüentar somente mais tarde, e tendo chegado à universidade aos vinte e quatro anos, me foi de grande proveito comprar em sebos obras as mais diversas da literatura universal, sem outro critério que o do gosto pessoal, pois que foram elas que me “formaram”, em amplo aspecto, em Literatura. Também a assídua freqüência com que estive em bibliotecas públicas ajudoume muito nessa formação, que outrora era mui comum: a formação autodidata. Pois é esta que tenho em Literatura. Na universidade, quase aos trinta anos, formei-me em Filosofia. Obviamente tenho também amplo desconhecimento “teórico” e “científico” da literatura, pois li muito pouca teoria e crítica literária. O que não deixa de ser importante, pois para mim a literatura permanece imaculada de interpretações. Por isso aqui posso falar como leitor, um leitor pouco comum, mas ainda assim um leitor. Reminiscências Na minha infância nunca recebi incentivos para leituras. Aprendi a ler aos nove anos de idade, na escola. Na minha casa havia um único livro: a bíblia cristã. Meu pai era analfabeto; minha mãe sabe assinar o nome e lê precariamente. Quando entrei na escola meus irmãos dela já haviam fugido. Guardo, no entanto, uma lembrança remota que me parece ser uma primeira ânsia pela leitura. Minha mãe limpava o escritório de uma companhia de seguros. Lembro-me que um dia, era um sábado de manhã, um dos funcionários emprestou-me um gibi para que eu ficasse quieto, imagino, pois lembro também da recomendação dele e de minha mãe, de que não era para “rasgar”. Sentei-me no chão, junto à parede, ao lado de um grande armário de madeira, e comecei a folhear o livrinho. Vendo as imagens coloridas e os balões com palavras que nada me diziam, mas que eu sabia algo dizer, pois minha irmã já me havia lido gibis antes, o desejo de aprender a ler apossara-se de mim. Eu tinha então cinco ou seis anos de idade, e tive que esperar mais três... Nasci no mês de junho, por isso podia entrar na escola aos seis anos, mas meu pai achou que eu era muito pequeno. No ano seguinte, ele perdeu a data de matrícula. Quando então eu tinha já oito anos, ainda sem saber escrever uma única palavra, entrei na escola, completando então, em junho, nove anos. Não me senti atrasado: ao fim daquele ano fui premiado como o melhor aluno dentre todos das cinco primeiras séries da escola: ganhei uma bola de futebol e a certeza de que as outras crianças do meu bairro eram muito burras. Na minha cartilha o a era de árvore, o b de bola e o c de casa. Não lembro de ter tido nas mãos algum livrinho infantil além da cartilha. Lembro, no entanto, de uma historinha, contida na cartilha, que se chamava Memórias de um cabo de vassoura e que eu detestava, primeiramente por ser uma baita mentira, sabia eu aos nove anos de idade, que vassoura não podia ter memória, e depois, por que era um cabo de vassoura muito estúpido, pois gostava de ser útil. Digo isso porque me parece ser a primeira expressão de meu gosto literário. Ainda hoje, na proximidade dos quarenta, não gosto de histórias demasiadamente fantasiosas. Gosto, no entanto de histórias fantásticas. Penso que há uma diferença entre ambas. Outra quebra, de reminiscências Creio haver alguma importância em gostar ou não gostar de um texto. Pois isso define suas preferências, seus gostos pessoais, chegando mesmo a expressar uma atitude diante do mundo. Minha insanidade como leitor tem suas peculiaridades. Certa vez fiquei dois dias sem comer porque gastei minhas últimas notas num livro. Isso me aconteceu por duas vezes. Na primeira, numa sexta-feira de inverno, ao passar por um sebo, encontrei um livro sobre o qual já havia lido muito, mas que nunca havia visto, não o encontrara em nenhuma biblioteca. Era Os cantos de Maldoror, do maldito uruguaio Conde de Lautréamont. Comprei-o, pedindo apenas um desconto no valor da passagem do ônibus para que eu pudesse voltar para casa. Na época eu dividia um moquifo com outro estudante que ia para a casa dos pais no fim de semana. Como eu não tinha dinheiro, nem para onde ir, ficava em casa sozinho, lendo alucinadamente. Dessa vez, no entanto, li de barriga vazia até o domingo à noite, quando meu colega retornou com a mochila cheia dos restos do familiar almoço de domingo. Na segunda vez que isso me aconteceu foi por causa da autobiografia de Luis Buñuel, Meu último suspiro. Foram-se nesse livro também meus últimos trocados, e mais dois dias sem comida. É que por essa época, 1995 creio, eu ganhava uma mísera bolsa de trabalho na universidade, que sempre acabava antes do fim do mês, e se eu gastasse com algo que não fosse comida ficava, como se diz, “a ver navios”; principalmente nos fins de semana, quando meus colegas iam para a casa dos pais e eu não tinha a quem pedir o que quer que fosse. Por essa época, só para acrescentar mais uma reminiscência de minha insanidade como leitor, o estudante que dividia o moquifo comigo era um sujeito com séria dificuldade para se concentrar na leitura de um livro, o que o impossibilitava de concluir a leitura de qualquer livro. Para incomodá-lo, eu fazia uma lista dos livros que iria ler e colava na parede do quarto, à medida que ia lendo, ia fazendo um sinal. E os sinais sobre os livros lidos aumentavam semanalmente. Durante dois meses de férias, janeiro e fevereiro de 1995, eu li o Ulisses de James Joyce, fazendo intervalos em que li uma lista estabelecida antecipadamente com oito livros, entre os quais dois romances de Aldous Huxley, Kafka, Cortazar e outros que já não lembro. Foi o ápice de minhas afrontas ao pobre coitado que não conseguia chegar ao fim de nenhuma leitura. Detalhe que me parece pertinente acrescentar: esse estudante posteriormente se tornou professor. É preciso estar possesso Eu disse que odiava as Memórias de um cabo de vassoura porque era visivelmente falsa. Talvez eu já fosse velhinho demais aos nove anos para ter que ler tais histórias, mas penso que o motivo é outro, pois que o tenho ainda dentro de mim: o gosto pelo que me leva para longe, e que não seja mera fantasia. A grandiosidade da literatura para mim está no fato de me convencer de uma veracidade, de algum acontecimento, de um correr de um tempo outro que não é o meu. Por isso sinto certo desprezo pela literatura realista. Vassouras são algo demasiadamente familiar. Ler o que se passa do outro lado da rua, de tipos que são como meus vizinhos, como pessoas que me são próximas, é demasiadamente enfadonho, e de enfadonho já me basta a realidade da vida, ou da existência, se se preferir um sentido metafísico a este fado. Muitos dos livros que li me foram profundamente transformadores, primeiramente por serem perturbadores, e depois, por serem dominantes, no sentido em que me dominaram o espírito. Deles fiquei possuído. Considero, no início de minha formação como leitor, um conjunto de livros que me transformaram e, em algum sentido, me instruíram bastante. Dois romances de Aldous Huxley, Geração Devassa e As despedidas estéreis, um romance de JeanPaul Sartre, A náusea, uma novela de Albert Camus, O estrangeiro, e, em segundo plano, três anti-utopias: A laranja mecânica de Antoni Burgues, 1984 de George Orwell e Admirável mundo novo do já referido Aldous Huxley. Depois da leitura dessas obras, lidas quase que na seqüência, deixei de ler místicos com Paulo Coelho e Carlos Castañeda, romances políticos, como os de Fernando Gabeira, e romances policiais, abandonando até mesmo as leituras da dama do crime: Agatha Christie, da qual li 16 livros. Entre as obras individuais que me deixaram, literalmente, contaminado em épocas diferentes de minha vida e que me marcaram desde então, que foram lidas com a máxima insanidade, posso listar: Os cantos de Maldoror, já mencionado; o romance Mocidade morta de Gonzaga Duque, livro que me arrastou os olhos para os “nacionais”; a singular peça de Samuel Beckett, Esperando Godot; A filosofia na alcova do divino Marquês de Sade; O almoço nu e, mais recentemente, Cidades da noite escarlate, ambos de William Burroughs; o longo poema de Allen Ginsberg, Uivo; O casamento do céu e do inferno de Willian Blake; a poesia decadente de Augusto dos Anjos; e os contos alucinantes de Adelino Magalhães. Mas como ao longo do tempo, e das leituras foras do tempo, modificamos-nos e nos tornamos mais exigentes e seletivos, penso agora também em algumas das obras lidas nos dois últimos anos, sob o domínio das quais estive por horas e dias a fio: Akhenaton: a história do homem contada por um gato, do historiador Gerard Vincent; A erva vermelha de Boris Vian; Vaca de nariz sutil de Campos de Carvalho; Contos reunidos de Gastão Cruls; e A Eva futura de Villiers de L`Isle-Adam. É claro que essas listagens não são completas e nem muito certas, visto os efeitos do tempo sobre a memória. Mas o simples fato de ainda agora eu lembrar de personagens, de situações, mesmo de emoções que senti na época em que os li, fazem sua importância sobre meu espírito. Pensando que li doze livros de Gabriel Garcia Márquez, uns quatro ou cinco de Julio Cortazar, todos os romances de Graciliano Ramos, inumeráveis contos de Guy de Maupassant, de Tchekhov e de Gorki, além de Edgar Poe, Pushkin, Rodenbach, Jack London, Jean Lorrain, H. G. Wells, Chamisso, Mérimée, Bioy Casares, Kleist, etc., etc., não sei dizer o quê disso tudo me permaneceu na memória, mas sei que sempre me lembro de alguma história em conversas com amigos ou em situações do dia-a-dia. E de autores muito pouco conhecidos tenho registros memoriais que me parecem eternos. Como a lembrança que tenho do absurdo e maravilhoso conto de Marcel Aymé, O cupom do tempo, do livro O passaparedes. Com tantos nomes, tantas histórias, a literatura parece ser um vasto mundo paralelo ao nosso fútil mundinho mercantil. Os livros são passagens para a vastidão do desconhecido, portas que abrimos para mundos muito diferentes do nosso. E quando o livro nos encarna é possível que agimos como aquele patético personagem de Italo Calvino, em Aventura de um leitor, que enquanto a mulher conquistada na praia tira a roupa, ele ainda aproveita uns segundos para poder ler mais algumas linhas... ? Penso naquele triste poeta apaixonado por uma prostituta que conheci numa tarde em Paris, em A canção dos loureiros de Eduard Dujardin; penso no menino que ficou amarrado pela cintura no fundo de uma mina de carvão em Lota, Chile, em La compuerta número 12 de Baldomero Lillo; penso no sangue frio do inesquecível Lafcádio, de Os subterrâneos do Vaticano de André Gide; penso no excitante vestido vermelho de mãe Dolores, em Sobras de Deus de Floriano Martins; penso na senhora que cuida de uma boneca que lhe deram em substituição à filha morta, em La señora de Del Pino de José Pedro Bellan; penso na angústia de Gerard de Nerval trancafiado numa casa de saúde, em Aurélia; penso em Tonio Kröger vendo juntos a mulher que ele amava com o homem que ele amava – dupla impossibilidade –, de Thomas Mann; penso no infeliz destino do enfermeiro Silvino, em G.C.P.A. de Gastão Cruls; penso na indignação de André Breton contra os psiquiatras, em Nadja; penso no boêmio poeta apaixonado por Niní, em O pássaro azul de Ruben Darío; penso no adorável burrinho de Juan Ramón Riménez, em Platero e eu; penso no homem que desafia a ciência moderna duvidando da existência dos átomos, em A vida dos átomos de Pío Baroja; penso nas inúmeras noites sozinho ou na companhia de um amigo, com vinho e maconha, lendo e relendo poesias de Georg Trakl, Junqueira Freire, Paul Verlaine, César Vallejo, Maiakovski, Cruz e Souza, Benjamín Péret, Joaquin Pasos, Florbela Espanca, Arthur Rimbaud, Olga Orozco, Garcia Lorca, Bocage, Alphonsus de Guimaraens, Lucian Blaga, Castro Alves, Charles Baudelaire, Marcello Gama, Novalis, Konstantinos Kaváfis, Emiliano Pernetta, George Bacovia ou outro bardo iluminado, e concluo que a insanidade é inerente à literatura. Sem insanidade não haveria literatura, talvez apenas parnasianismo, formalismo e concretismo, um mundo árido e leitores universitários. fim NOTAS 1. GAUTIER, Théophile. Contos fantásticos. Tradução de Geraldo Gerson de Souza. São Paulo: Imaginário/ Primeira Linha, 1999; p.45. 2. Artigo publicado nos Anais do VII Seminário Internacional de História da Literatura, Faculdade de Letras – PUCRS; coord. Maria Eunice Moreira. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. Camilo Prado é escritor, tradutor e editor das Edições Nephelibata. Atualmente é doutorando em Literatura na UFSC, com tese em tradução da obra Tribulat Bonhomet de Villiers de L’Isle-Adam. Contato: nephelibatas@gmail.com. Página ilustrada com obras do artista Carlos Colombino (Paraguai). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 O neo-surrealismo de José Maria Flávio R. Kothe . O tronco de uma árvore sem galhos nem folhas, sem transcendên nem esperança, mas com um olho no centro, a mirar o espectador, como a perguntarlhe: o que tem feito o homem com a natureza? Uma ave de rapina ataca um corpo exposto, como se mais uma vez Prometeu fosse acorrentado por querer ajudar os homens; um livro queima no ar, como se se extinguissem os bons espíritos numa era em que a terra se mostra árida e seca, quando a bondade mal sobrevive, quase se extingue, sob a garra da ganância. O contorno de uma figura de Rafael perde o rosto no azul do infinito, enquanto a mão esquerda segura uma corda que liga ao transcendente uma pomba da paz, sem cabeça, pousada num cesto de frutas. À direita da figura, o corpo de um homem, cuja cabeça é apenas uma maçã rachada, cujo topo fumega como se fosse um vulcão. Livros se espelham a cada lado, porém fechados, sem dizerem o seu dizer. Um pobre menino flutua no ar, acima do campo, enquanto a sua caixa de engraxate deixa cair letras, números, pedaços de melancia, todas as pequenas realidades e sonhos. Assim vai se formulando, de quadro em quadro, a reflexão neosurrealista de José Maria Machado, inventando-se uma realidade para definir-se diante dessa que o cotidiano lhe impõe aos olhos. Ele não quer, porém, inventar mais uma vez o já inventado: não se trata de requentar Dali aqui, com uma cabaça para conferir-lhe uma pitada de cor local. Isto seria atestar, mais uma vez, a dependência cultural, com o atraso e anacronismo típicos dos imitadores, a fazerem de conta que é arte a mera cópia servil e menor do que já foi consagrado na metrópole de preferência. Usar o termo surrealismo apontaria para um movimento de natureza inclusive política. Embora aqui se queira atuar na sociedade com uma perspectiva crítica, não se está em Paris, prensado entre duas guerras mundiais. Por isso, sequer se adota o nome. Não se quer mais uma vez macaquear a Europa, com atraso. Ele serve apenas para lembrar uma técnica e um estilo, numa perspectiva que não pretende requentar, imitando, na colônia, o movimento francês pretérito. Trata-se de assumir a pósmodernidade como livre utilização do patrimônio legado por artistas do passado, sabendo não só que é um nome problemático, mas que não resolve o gesto de criar uma obra original, que valha e se defenda por si. Não, o que José Maria quer é o direito de expor suas preocupações e visões, expondo com os pincéis as intuições de uma mente moldada entre o Ceará e a Índia. Mais que um pós-modernista do cerrado, com os pés na terra de Sobradinho, em contato com o povo, tem-se uma sensibilidade aberta para a imensidão, para a noite que se estende entre os morros ao norte de Brasília, prenunciando visitas de estranhas luzes, que se adensam e condensam em cristais. Aqui e ali lampejam tons dourados, que encenam a nostalgia de um mundo melhor e que nunca esteve conosco: registrado em cores e formas, torna-se presente, como a querer tocar-nos, a levar-nos à superação de nós mesmos, a lembrar que também podemos, com arte e reta intenção, ir além de nosso tempo e nossa precária condição. Nós não podemos saber se iremos lograr essa transcendência, mas podemos ter quase a certeza, de que a arte de José Maria há de testemunhá-la, pois é o espaço que lhe está reservado. Flávio R. Kothe (1946). Contista, poeta, ensaísta e tradutor. Professor titular de estética na Universidade de Brasília. Publicou recentemente três livros com inéditos do espólio de Nietzsche. É autor da revisão crítica da literatura brasileira em quatro tomos: O cânone colonial, O cânone imperial, O cânone republicano I e II. Contato: frkothe@unb.br. Página ilustrada com obras do artista José Maria (Brasil). Pesquisa personalizada revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 O perfume em Herberto Helder Maria Estela Guedes . A alma dos seres é o seu perfume. Patrick Süskind,O Perfume Mas graças sejam dadas a Deus, que, em Cristo, nos conduz sempre em seu triunfo e, por nosso intermédio, difunde em toda a parte o perfume do seu conhecimento. Porque somos para Deus o bom odor de Cristo, para aqueles que se salvam e para aqueles que se perdem: para uns, odor da morte que conduz à morte; para outros, odor da vida que conduz à vida. Paulo, 2 Coríntios 2:14-16 Ferro em brasa no flanco de um só dia, um buraco de perfume: a rosa florescendo o seu lugar interior. Herberto Helder, Ofício Cantante 1. A essência do mundo antigo Herberto Helder desde muito longe começou a fazer versões de poemas étnicos, próprios de literaturas e culturas antigas: dos índios da América do Norte e do Sul, do Antigo Egipto e do Antigo Testamento, entre outros. A sua primeira recolha, com data de 1968, recebeu o título de O bebedor nocturno. Essa poesia faz parte da inspiração pessoal, de tal modo que, volta e meia, vem à tona, mais ou menos declaradamente. É assim que, no mais recente dos seus novos conjuntos de poemas, A faca não corta o fogo, [1] reencontramos o “Cântico do Cânticos” - com as falas de Sulamite a inclinarem a estrutura dialogal do poema para o travesti [2] -, cuja versão ele publicara pela primeira vez n' O bebedor nocturno, quarenta anos antes. O antigo, o primordial, é uma das duas facetas que definem a sua obra: de um lado é um poeta muito moderno, com contributo ativo nos mais importantes movimentos de vanguarda em Portugal, caso do Surrealismo e da Poesia Experimental. Não se tratando tanto de participação direta, mas de sintonia com a agitação cultural da juventude na segunda metade do século XX, não devemos subestimar a afinidade existente entre Herberto Helder e a beat generation. Ela é mais óbvia n’Os Passos em Volta, narrativas em que, à temática da viagem e da vagabundagem, acresce a construção da personagem do poeta, numa vertente marginal, psiquiátrica, sexualmente transgressora, boémia, consumidora de estimulantes, partidária da contracultura, com sobrevivência mal assegurada por tarefas de ocasião, como vimos já em extratos da vida do poeta fixada por Maria de Fátima Marinho. [3] Refletem-se como objeto e imagem, em certos momentos, a biografia de Herberto Helder e das grandes figuras da beat, como Kerouac e Ginsberg, nas várias inclinações da marginalidade, caso do uso de estimulantes. Neste domínio é ilustrativo o ciclo de poemas “Cinco canções lacunares”, em especial “Um deus lisérgico” e “Os brancos arquipélagos”. [4] Jack Kerouac esteve internado três meses como louco, antes da sua viagem de alto risco à Gronelândia. Claudio Willer traça esse retrato: Antes do sucesso de On the road, ganhou a vida com ofícios modestos: na ficha que preparou como prefácio de Lonesome Traveler (Viajante solitário), diz que foi ajudante de cozinha e lavador de pratos (em bares e não só nos navios), balconista, guarda-freios em ferrovias (em companhia de Cassady), frentista em postos de gasolina, carregador de malas, colhedor de algodão, guarda florestal. [5] O próprio poeta manifesta a intimidade com a beat generation, ao comentar, na sua fase africana, um dos maiores temas da beat, o apelo à viagem. Na Poesia Toda, ela assume nomes diversos, seja “Retrato em movimento”, seja “Movimentação errática”, e noutro tipo de textos, como os jornalísticos, exprime-se pelo ataque ao turista. [6] Vejamos então como Herberto Helder fala do autor de Pela estrada fora, tradução portuguesa de On the road: Isto mesmo (ou mais ou menos) se passou na Marginal de Luanda, enquanto, com toda a minha (ninguém suspeita) riqueza interior em laboração, eu me lembrava de Jack Kerouac, cadáver desacreditado, andando pela estrada fora com a dourada astronomia do México impressa nas meninges. A minha astronomia era infindamente mais humilde, e consistia em imaginar que a vida não tem grande importância, podendo-se ir por aí fora “evidentemente de qualquer maneira”. O processo é de uma excelência incontroversa e até se pode morrer dele. O que a gente inventa como exercício espiritual! [7] Do outro lado da contemporaneidade, Herberto Helder é um poeta inspirado, como os profetas, e isso implica a herança da Tradição, com os seus pontos fortes no esoterismo e nas práticas xamanísticas e sacerdotais antigas. Acabámos de o ver referir essa circunstância a propósito das viagens místicas à pátria dos índios, em Jack Kerouac. Herberto Helder não viajou pelo México, pelo menos que se saiba, mas foi ao encontro da mesma “astronomia”, vertendo para português poemas dos Maias, dos Quechuas, dos Incas e de outras etnias índias da América do Sul, como vemos nas coletâneas O bebedor nocturno, Ouolof, As magias e outros livros de traduções. Citemos de novo Claudio Willer, desta feita acerca da publicação da antologia O Corpo O Luxo A Obra, no Brasil: Foi bem assinalado, em matérias já publicadas, que Herberto Helder é um representante - talvez, hoje, o maior deles - da linhagem de poetas visionários, sistematicamente desregrados, inaugurada pelo Rimbaud de Iluminações e Uma Temporada no Inferno. [8] Já em 1961, no poema-prefácio ao livro A Colher na Boca, [9] ele define o poema como casa, túmulo, barca a sulcar o rio que leva à eternidade, e entende a poesia como “exercício de um poder/ tão firme e silencioso como só houve/ no tempo mais antigo”. [10] Que poder é esse, detido pelos antigos? É o poder dos construtores, o poder dos poetas, que também constroem casas, catedrais e túmulos. “Mansões filosofais”, como lhes chamaria Fulcanelli. Construir casas é imagem para construção da alma. Essa é a desconhecida função da Arte: ela modela a alma, por isso está na base da evolução do cérebro. Por alma entenda-se a sublimidade do Homem, a sua “essência”, já que estamos a tratar de perfumes, e o termo “essência” é portador dessa polissemia. Quando S. Paulo declara que os cristãos são o perfume de Cristo, não se afasta muito de Jean-Baptiste Grenouille, ao entender que o perfume é a alma dos seres. [11] Vejamos a parte final de "Prefácio", em que, à ideia de barca para passagem dos mortos para o Oriente Eterno, ou morada dos deuses, se acrescentam o tão importante elemento aromático, no caso proveniente das rosas, e a indispensável condição de beleza que todo este cortejo fúnebre deve exibir para exaltação da alma: Falemos de casas, da morte. Casas são rosas para cheirar muito cedo, ou à noite, quando a esperança nos abandona para sempre. Casas são rios diuturnos, nocturnos rios celestes que fulguram lentamente até uma baía fria - que talvez não exista, como uma secreta eternidade. Falemos de casas como quem fala da sua alma, entre um incêndio, junto ao modelo das searas, na aprendizagem da paciência de vê-las erguer e morrer com um pouco, um pouco de beleza. Em toda a obra herbertiana, é no corpo de versões de poemas de culturas antigas que encontramos mais perfumes, pois bem sabemos do uso variado que tinham entre as classes governantes e sacerdotais: na morte, para embalsamar os corpos e agradar aos deuses; e na vida, para os purificar, conservar, e também para os tornar sedutores, bem com ao espaço doméstico e de culto. As substâncias aromáticas também se usam nos alimentos, sob a forma de especiarias. Porém não é só neste caso que os aromas se relacionam com os sabores: não é possível separar aquilo que é do domínio do olfato do que é do domínio do gosto. No poema que tem por primeiro verso “o fogo arrebata-se do gás até à cara, e lavra-a”, em que a matéria a sublimar é algo de tão raso como a sopa de grão que se cozinha e o ato de a comer, nele reaparecendo a mítica colher de A colher na boca, encontramos essa mistura alquímica ao forno, exalando o perfume que resulta da transmutação dos corpos: cantam: […] para chamar como quem toca na cabeça e se inclina entre cru e cozido? e talha uma ferida na têmpora esquerda, quando a pessoa está mais dentro de um lado e mais fora de outro, e legumes, sal, azeite, especiarias, ervas, suam, rebenta-lhes a flor na fervura ¡que de perfume, que de lume até ao fundo da boca! E se considerarmos que os perfumes são frios e quentes - “frio aroma respirado muito”, [12] escreve o poeta -, entramos na esfera do tato, com a vastíssima capacidade de percepção sensorial da pele. Na realidade, como anota Miriam Agostinho, o olfato é o órgão da imaginação, [13] por isso a sua complexidade é ainda maior do que a implícita nesse título de Herberto Helder tão revelador do movimento que vai do comezinho ao sublime, como é A Colher na Boca. A complexidade, de amplitude antropológica, pois o aroma que a nós, ocidentais do século XXI, anuncia uma boa refeição, não corresponde ao que anuncia a mesma comida a um indígena da Amazónia, e vice-versa, é justamente a analisada por Rousseau no texto que contém a sua muito citada frase sobre ser o olfato o órgão da imaginação: “L’odorat est le sens de l’imagination; donnant aux nerfs un ton plus fort, il doit beaucoup agiter le cerveau”. [14] O alimento só se ingere se o nariz o autorizar, mas lembremo-nos de que “comer” é uma expressão larga. A colher não leva o alimento só à boca, também o leva ao espírito. Com a ideia de alimento abarcamos desde o erotismo à comunhão religiosa, e é precisamente neste ponto que os perfumes tocam o seu ponto mais alto, ao manifestarem a emoção do sublime. Vejamos o que escreve Havelock sobre um assunto que de novo reenvia para Rousseau: Aucun sens n'a une si forte puissance de suggestion, aucun n'a la force d'évoquer des souvenirs anciens avec une réverbération émotionnelle plus large et plus profonde, tandis qu'en même temps aucun sens ne fournit des impressions qui modifient aussi facilement leur couleur et leur ton affectifs, en harmonie avec l'attitude générale du patient. Les odeurs sont ainsi spécialement appropriées tant à contrôler la vie émotionnelle qu'à en devenir les esclaves. Par l'usage de l'encens, les religions ont utilisé les vertus imaginatives et symboliques des odeurs agréables. Toutes les légendes des saints ont insisté sur l'odeur de sainteté qu'exhalent les corps des personnes saintes, surtout au moment de la mort. Dans les conditions de notre civilisation, ces associations affectives primitives de l'odeur ont une tendance à se dissiper, mais, d'autre part, le côté imaginatif du sens olfactif s'accentue, et des idiosyncrasies personnelles de toute nature se manifestent dans la sphère de l'odorat. Rousseau regardait l'odorat comme le sens de l'imagination. [15] Os perfumes podem ser inebriantes, deixarem-nos em êxtase. Por isso estão associados aos rituais e aos milagres. Daí que se fale do aroma de santidade e do perfume de Cristo. Não dispomos de metáfora melhor para o que nos cumula de prazer e de felicidade. Nada mais alto que o perfume e o mel, que também é um perfume. Motivo caro a Herberto Helder, bastante frequente na sua poesia, o mel pode surgir no entanto desviado da função alimentar. Mais geralmente, corre nos regatos do cérebro, como um dos fluidos viscerais na imagem do corpo. O mel é afeto, alimento da mente amorosa. Os aromas mais comuns do mundo antigo, preservados na poesia de Herberto Helder, são a mirra, o incenso e o perfume de lótus. Não esquecendo a sensualidade de imagens como a do nardo que exala o seu perfume, e a do corpo concebido todo ele como jardim perfumado, do “Cântico dos Cânticos”. No “Fragmento do Cairo”, pertencente aos poemas do Antigo Egipto, que só tem os três versos da citação abaixo, encontramos o perfume na relação amorosa, a exprimir a ideia de inebriamento e felicidade, num enquadramento idêntico ao do “Cântico dos Cânticos”: Quando eu a cinjo e ela me abre os braços, Sou como um homem que regressa da Arábia, Impregnado de perfumes. [16] NOTAS 1. Lisboa, Assírio & Alvim, 2008. 2. A propósito do travesti, ver o meu livro Herberto Helder, Poeta Obscuro, 1979. 3. www.triplov.com/herberto_helder/Fatima-Marinho/ index.htm. 4. Ofício Cantante, 2008, pp. 241-254. 5. Claudio Willer, Geração Beat. São Paulo, L&PM Pocket Encyclopaedia, 2009. 6. O meu turista preferido. Notícia, 26 de Fevereiro de 1972. 7. Seca!. Notícia, 15 de Abril de 1972. 8. "Herberto Helder e a grande poesia contemporânea". Em Agulha, 2001. Ver Bibliografia. 9. Ofício Cantante, pp. 9-12. 10. In Ofício Cantante, 2009, pp. 9-12. 11. Patrick Suskind, O Perfume. 12. Ofício Cantante, p. 589. 13. Miriam Priscila Gonçalves Lopes Agostinho, Os perfumes na vivência religiosa das antigas civilizações pré-clássicas. Tese de Mestrado em História e Cultura Pré-Clássicas, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2006. 14. Wikipédia, em: http://fr.wikisource.org/wiki/Page: Œuvres_complètes_de_Jean-Jacques_Rousseau_-_II. djvu/487. 15. ELLIS, Havelock (1964) - Études de psychologie sexuelle. Tome II – L’odorat. Paris, Éd. Mercure de France, 1ª ed. 1935. Em linha: http://membres.lycos.fr/ papidoc/506Ellisodoratchap1.html. 16. Herberto Helder, “O bebedor nocturno”. In Poesia Toda, 1973, p. 162. Maria Estela Guedes (Portugal, 1947). Escritora, investigadora do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa. Dirige o TriploV [http:// triplov.org]. Autora de livros como Herberto Helder, Poeta Obscuro (1979), Lápis de Carvão (2005) e Ofício das Trevas (2006). Contacto: estela@triplov.com. Página ilustrada com obras do artista Carlos Colombino (Paraguai). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 Roberto Piva: a vida iluminada pelo verbo [entrevista] Marco Vasques . Roberto Piva é uma das figuras centrais da poesia brasileira. Em torno de 1960 um grupo de poetas amigos (Claudio Willer, Rodrigo de Haro, Bicelli, Sérgio Lima, De Franceschi e Roberto Piva) se reunia para ler poemas, ouvir música… Esse grupo provocou uma releitura do modernismo, a reafirmação do surrealismo e, sobretudo, introduziu a beat generation nas rodas literárias brasileiras. Roberto Piva é uma das figuras centrais desse grupo e acaba de ter sua obra completa reunida e publicada pela editora Globo em três volumes: Um estrangeiro na legião (2005), Mala na mão & asas pretas (2006) e Estranhos sinais de Saturno (2008). Após uma negociação iniciada pelo amigo e poeta Claudio Willer chego na residência de Roberto Piva, no bairro Santa Cecília, São Paulo, para entrevistá-lo. Já na entrada ele mostra um carimbo com o gavião de penacho. E diz: “o Oswald de Andrade, no Manifesto da poesia pau-brasil, disse que esquecemos o gavião de penacho, eu não esqueci, aqui está o meu”. Fala certeira! Com mais de 70 anos e uma briga árdua contra o mal de Parkinson Roberto Piva continua um poeta de personalidade e agressiva. Nesta entrevista ele nos fala um pouco sobre sua trajetória, sobre poesia, xamanismo, literatura, política. [MV] MV Fale um pouco sobre o grupo dos anos 1960. Você, Rodrigo de Haro, Claudio Willer... RP Nós éramos um grupo de amigos. O nosso grande trunfo era a leitura. Líamos muito. O Oswald de Andrade, no “Manifesto da poesia pau-brasil”, diz que esquecemos o gavião de penachos. Eu não esqueci, fiz um carimbo em que coloco o gavião de penacho. Eu não esqueci. Voltando ao encontro que tivemos naquela década, posso dizer que foi um encontro muito proveitoso, muito rico em farras, em leituras, em trocas de experiências, de bibliografias, de discos. Eu, por exemplo, ouvia muito jazz, ainda ouço. Então trocávamos todo tipo de informação. Aproveitávamos o saber do outro. Esse é um grupo, podemos dizer assim, que enriqueceu pela troca, pelo apreço ao outro e pelo apreço exacerbado à vida. Vivíamos intensamente. Foi uma belíssima junção de pessoas de espírito de escrever diferente, mas que congregaram a partilha da poesia. MV Vocês fizeram uma releitura do modernismo brasileiro e trouxeram o surrealismo para o centro da discussão poética. RP O surrealismo está presente em toda a minha obra. A linha mestra da minha poesia passa pelo surrealismo, contudo não podemos esquecer do futurismo italiano e do futurismo português, sobretudo Fernando Pessoa, Sá-Carneiro e Almada Negreiros. MV Seus dois primeiros livros, Paranóia e Piazza, já apontam um poeta maduro. O mesmo ocorre com o Willer de Jardins das provocações e do Rodrigo de Haro de Amigo da labareda. Contudo, nos últimos anos é que vocês vêm recebendo uma melhor acolhida da crítica e das gerações de novos poetas. RP Octavio Paz já disse que a poesia é uma arte minoritária. E nesse sentido a força do que escrevíamos atingiu porque tem dinamite própria. Nunca fizemos concessões. Tínhamos como referência, além dos surrealistas que você já apontou, a Beat Generation que nos marcou profundamente tanto pela poesia ácida e voraz quanto pela atitude em relação ao mundo da experiência. MV No livro Ciclone você diz que “os poetas têm que deixar de ser brocha para ser bruxos”. Qual o real significado desse trocadilho? RP É a minha rechaça ao racionalismo absoluto que se instituiu na poesia brasileira. Tem poeta que disputa o título de mais racional, pode? Veja o que o Pasolini nos diz sobre isso: Grido, nel cielo dove dondolò la mia culla: Nessuno dei problemi degli anni cinquanta Mi importa più! Tradisco i lividi Moralisti che hanno fatto del socialismo um cattolicesimo Ugualmente noioso! Ah, ah, la provincia impegnata! Ah, ah, la gara a essere uno più poeta razionale dell’altro! La droga, per professori poveri, dell’ideologia! Abiuro dal Ridicolo decennio. Ou seja: Grito no céu onde embalou o meu berço: Nenhum dos problemas dos anos cinqüenta Me importa mais! Traio os lívidos Moralistas que fizeram do socialismo um catolicismo Igualmente tedioso! Ah, ah, a província empenhada! Ah, ah, a competição para ser o poeta mais racional que o outro! A droga para os professores pobres da ideologia! Renego o ridículo do decênio. Sou aquele que bebeu em Rimbaud, Artaud e Blake. Quero dizer que bebi do delírio do verbo de cada um para estremecer a estrutura da minha própria poesia. George Bataille também alerta sobre o lugar de onde vem a verdadeira poesia: “a verdadeira poesia se encontra fora das leis”. MV Podemos voltar à questão dos poetas bruxos X brochas? RP Nós, por exemplo, somos bruxos e não brochas. Você falava há pouco sobre o nosso grupo. Aquele foi um momento muito forte da poesia e da literatura. Os bruxos estão soltos aí. MV Embora o misticismo esteja presente em outros livros seus, é em Ciclone que o Piva místico mais se revela. RP Ciclone é um livro que me impressionou porque, depois que eu publiquei, começaram a existir ciclones em algumas partes do Brasil. Parece que a poesia se fez profecia e saiu do livro para devastar a terra. Essa desordem chegou mesmo a me apavorar. Mas você tem razão, porque nesse livro está o pacto da minha experiência com o xamanismo. Eu estudei muito o xamanismo e vivenciei experiências xamânicas. Eu fiz parte de grupo junguianos. Eles, inspirados em mim, organizaram a Fundação Paz Geia, da Carminha Levy. Fiz parte de outros grupos também e ainda fundei um grupo só para mim. No meu último livro Estranhos Sinais de Saturno, eu começo com a seguinte epígrafe: “Xamãs de todo o mundo, espalhem-se”. MV Como você definiria um bom poeta? O que um bom poema tem que ter? RP Um bom poema só vai ser bom se aliar emoção a poesia vivida. O Vinícius de Moraes já dizia que “nenhuma concessão à poesia não vivida”. “A poesia é subversão do corpo”, diz Octavio Paz. Então um bom poeta é aquele que ilumina a vida via verbo. MV Sua poética reflete essa visão da poesia vivida. Há de algum modo a busca por trazer para o poema a primeira pessoa singular, o “eu” poético. RP A poesia na primeira pessoa do singular é uma influência do Whitman, do surrealismo e da Beat Generation. Eu tinha uma tia que morava nos Estados Unidos. Então eu mandava uma carta com o nome de alguns livros e ela me enviava. Eu pedia também discos do Miles Davis, do Coltrane. O surrealismo é de uma importância fundamental para o nosso grupo. O surrealismo é tão importante para história da literatura que o Octavio Paz, antes de ganhar o Nobel, declarou na ONU que o século não será conhecido como o século do marxismo, mas como o do surrealismo. MV Graciliano Ramos disse que todo escritor acaba escrevendo sobre si mesmo. É assim com você? RP Claro, essa era a visão do Nietzsche também. Todo mundo no fundo está escrevendo sua própria biografia. Vai e volta e ele acaba caindo no imenso poço que é a existência. Minha obra é, sim, o meu espelho. MV Por que tanta bronca com o socialismo? RP Sou monarquista desde 1958. MV Mas o que o incomoda tanto no socialismo? RP Incomoda o fato de ele ter se transformado num catolicismo tedioso, repetindo Pasolini. Como isso não me atrai nem um pouco, eu pesquiso outras realidades políticas. MV O que o atrai tanto no monarquismo? RP Na monarquia me atrai a extrema hierarquização da cúpula, porque ela permite a maior anarquia das bases. MV A editora Globo acaba de reunir a sua obra completa em três volumes. Como você recebe a acolhida? RP Eu mereço. Afinal de contas estou na batalha, na guerrilha poética, faz muitas décadas. Eu recebo a acolhida como uma conseqüência natural do meu trabalho. MV Você ainda se comunica com muitos poetas daquele grupo de 1960? RP Eu falo muito com o Claudio Willer e com o conde de Haro, por telefone. Temos muitas lembranças daquela época. Eu conheci pessoas brilhantes naquele período, pessoas excepcionais. Uns morreram. Outros desapareceram. Nós estamos firmes. MV Se você tivesse que escrever uma carta a um jovem poeta à maneira de Rilke, o que diria a ele? RP Tenho muita coisa a dizer, seria necessário muito tempo. Simplificando: leiam Blake, Álvaro de Campos, os futuristas, os surrealistas, Artaud bastante Artaud. Porque Artaud seguiu à risca a proposição do Rimbaud de que um poeta se torna vidente. Ele foi um verdadeiro bruxo, um vidente. Ele fez um longo e sistemático desregramento de todos os sentidos. MV Quais os novos poetas que você lê e recomenda? RP A poesia brasileira é muito promissora e múltipla. Posso falar apenas por aqueles que acompanho. Sérgio Cohn, Danilo Monteiro... MV Você gostaria de dizer algo mais? RP Quero agradecer a tua vinda aqui a São Paulo. O teu estado vive uns momentos difíceis, catastróficos [enchente de novembro de 2008]. Espero que o povo catarinense possa se reerguer e que depois mergulhe na poesia. Estou grato pelo teu interesse pela minha poesia. Espero que possamos nos encontrar outras vezes. Eu estou fora de forma, pois o mal de Parkinson me afeta mais em alguns dias do que em outros. Marco Vasques (Brasil, 1975). Poeta, crítico de poesia. Autor de Elegias Urbanas (2005) e Diálogos com a literatura brasileira – volumes I e II (entrevistas, 2004/2007). Contato: vasques@sol.sc.gov.br. Página ilustrada com obras do artista Risques Pereira (Portugal). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 Sátira e paródia no modernismo brasileiro: anotações de leitura sobre Macunaíma Claudio Willer . parte O que vem a seguir é adaptado de palestra que dei em 2003 na UniFMU, como de um ciclo cujo tema central era: As idéias de Mário de Andrade continuam vivas? A seguir, foi publicado na Revista de Cultura da UniFMU (v. 10, 2003). O ciclo foi, portanto, sobre a atualidade de Mário de Andrade, e, por extensão, do modernismo brasileiro por ele liderado. Mas em que consiste, o que viria a ser essa atualidade de um autor ou de uma obra? Cabem algumas reflexões, à luz do que foi dito por Octavio Paz, em Os Filhos do Barro: [1] Cada leitura produz um poema diferente. Nenhuma leitura é definitiva, e, nesse sentido, cada leitura, sem excluir a do autor, é uma acidente do texto. Soberania do texto sobre seu autorleitor e seus sucessivos leitores. [...] Não há poema em si, mas em mim ou em ti. Vaivém entre o trans-histórico e o histórico: o texto é a condição das leituras e as leituras realizam o texto, inserem-no no transcorrer. Cada leitura é histórica e cada uma delas nega a história. As leituras passam, são históricas, e ao mesmo tempo ultrapassam-na, vão mais adiante dela. Resumindo: atualidade não é apenas uma qualidade da obra em si. Depende de como a lemos. Podemos ler Mário de Andrade de modo mais atual ou mais anacrônico; manter vivas as suas idéias através de leituras inovadoras, ou declará-las mortas. A crítica, com a conseqüente avaliação, é evidentemente um modo de atualização. Pode informar nossa leitura de agora. Mário de Andrade, por sua vez, foi um leitor, e conseqüentemente um atualizador do passado, da tradição literária. A leitura atualizadora dará especial atenção a Macunaíma. Isso, mobilizando algo do que sabemos hoje sobre sátira e paródia. Espero não estar sendo redundante, repetindo o já sabido, autores que fazem parte do repertório corrente da teoria literária. Entre outros, Linda Hutcheon, [2] que considera a paródia meta-gênero, um gênero de gêneros, por ser uma reescrita de outra obra, através de sua recontextualização. Portanto, a natureza da paródia é intertextual. Mas, ainda usando as definições propostas por Hutcheon, o prefixo para significa contracanto em grego, e por isso tem duplo sentido: de oposição entre dois textos, onde um ridiculariza o outro, e também como sinônimo de ao longo de, assim sugerindo acordo ou intimidade, em vez de contraste. Portanto, são paródicas as auto-referências, os comentários e intervenções metalinguísticas de um autor, tanto quanto as utilizações de textos alheios, recontextualizando-os. Outra característica importante é o seu caráter ambivalente: pode ser [...] ora acentuadamente conservadora, animada pela intenção de censurar ou refrear certas inovações mais ou menos polêmicas; ou marcadamente revolucionária, sempre que rompe, de um modo provocatório e iconoclasta, com regras, modelos ou códigos literários mais ou menos exaustos numa dada época, visando, de um modo preferencial, manifestações literárias de natureza epigonal ou a corrosão das auréolas mitificadoras de certos escritores e suas obras. Em outros termos: paródia, mesmo aquela do tipo mais corrosivo ou demolidor, é o reconhecimento de que algum autor ou obra é um modelo, paradigma ou cânone. Um exemplo é a obra paródica inaugural de Marcel Duchamp, seu quadro LHOOQ!, reprodução da Mona Lisa de Leonardo da Vinci, porém com o acréscimo de bigodes. De um lado, ridiculariza a obra; de outro, reconhece sua importância. Se não fosse referencial, não haveria motivo para atacá-la desse modo. Utilizarei também a distinção, igualmente adotada por Hutcheon, entre a sátira, que tem um referente externo e uma intenção crítica, e paródia, uma operação do texto não necessariamente ridicularizadora, conforme já visto. Contudo, sendo intertextual, a paródia também tem uma dimensão extra-textual, na medida de sua intencionalidade. Por isso, pode confundir-se com a sátira. E acrescento ainda que sátira e paródia são modos da ironia, tal como entendida por Octavio Paz em Os Filhos do Barro, ao afirmar que, na poesia moderna, do romantismo até nossos dias, há uma polaridade de analogia e ironia, vistas por ele como instâncias opostas: Ironia e analogia são irreconciliáveis. A primeira é a filha do tempo linear, sucessivo e irrepetível; a segunda é a filha do tempo cíclico: o futuro está no passado e ambos estão no presente. A analogia se insere no tempo do mito e, mais ainda: é seu fundamento; a ironia pertence ao tempo histórico, é a conseqüência (e a consciência) da história. A analogia converte a ironia em mais uma variação do leque de semelhanças, porém a ironia rasga o leque. A ironia é a ferida pela qual sangra a analogia; é a exceção, ao acidente fatal, no duplo sentido do termo: o necessário e o infausto. [...] O universo, diz a ironia, não é uma escrita; se fosse, seus signos seriam incompreensíveis para o homem porque nela não figura a palavra morte, e o homem é mortal. Poetas já sabiam disso. Manuel Bandeira, em Menipo, um poema precursor, de 1907, retratava o patrono da sátira como um deus sereno e forte em cujo lábio cansado um sorriso luzia./ E era o sorriso eterno e sutil da ironia,/ Que triunfara da vida e triunfava da morte. [3] Depois de haver criticado, em mais de uma ocasião, o hiperteoricismo e o exagero formalista em estudos literários, penso poder afirmar, reciprocamente, que um pouco de teoria literária não faz mal algum. E mais: fornece os instrumentos para proceder a atualizações do modernismo brasileiro. Por isso, ainda acrescentarei à presente argumentação, recorrendo a Julia Kristeva, as noções de ambigüidade, do caráter ambíguo do significado poético, e de seu estatuto ambivalente, por ser conjuntamente (portanto, ao mesmo tempo e não sucessivamente) concreto e geral. [4] Em outras palavras, para Kristeva um poema “diz” algo, e também o seu contrário; portanto, é polissêmico ou plurissignificante. Para esclarecer, cito-a: o significado poético não pode ser considerado como dependente de um único código. Ele é ponto de cruzamento de vários códigos (pelo menos dois), que se encontram em relação de negação um com os outros. Essa ambigüidade ou ambivalência do enunciado poético é associada à intertextualidade, entendida como: espaço textual múltiplo, cujos elementos são suscetíveis de aplicação no texto poético concreto. E, também, a outros conceitos que, hoje, são moeda corrente em estudos literários, como os de dialogismo e polifonia, tais como propostos por Bakhtine. A dupla característica da paródia apontada acima, de tanto poder ser conservadora quanto revolucionária, capaz de negar ou de afirmar algo, corresponderia, penso, a um dos modos da ambivalência do enunciado poético. Com isso, estamos equipados para examinar sátira e paródia no modernismo brasileiro em geral, e em Macunaíma de Mário de Andrade, em especial. E para tratar da ambigüidade ou ambivalência nessa e em outras obras importantes do período. Admitida a distinção feita por Octavio Paz entre analogia e ironia, e a polaridade desses termos, o modernismo brasileiro pende para o pólo da ironia, mais do que para aquele da analogia. Fornece-nos exemplos importantes de sátira. Por exemplo, no Manoel Bandeira de Os Sapos, lido na Semana de 22, no qual comparava os poetas parnasianos aos sapos, ou em Poética, com seu protesto contra o lirismo bem comportado [...], o lirismo funcionário público com livro de ponto, etc. [5] Sátira também, dirigida não só contra os literatos, mas contra a sociedade do seu tempo, é o que encontramos em Mário de Andrade, entre outros lugares em sua Ode ao Burguês, [6] com as invectivas dirigidas ao burguês-níquel, o homem curva, o burguêsburguês, o burguês-mensal, burguês-tílbiuri, etc. Logo ao lado (na edição citada) temos uma versão mais refinada de sátira no poema dramático (“oratório profano”, intitulou-o Mário) As Enfibraturas do Ipiranga, com seus Orientalismos Convencionais, Juvenilidades Auriverdes e Senectudes Tremulinas. Contudo, estas são sátiras monovalentes, pela definição explícita de seus alvos, do referente externo. O principal acervo de sátira e de paródia do período mais próximo à Semana de 22 está, sem dúvida, em Oswald de Andrade. Tudo o que modernistas tinham contra os literatos convencionais foi convertido no imortal perfil de Machado Penumbra, personagem das Memórias Sentimentais de João Miramar, retrato do bacharel e da sociedade dos náufragos eruditos atacados no Manifesto da Poesia Pau-Brasil. Ainda a propósito de Oswald, por sua riqueza e sua dimensão transgressiva, as Memórias Sentimentais de João Miramar e o Serafim Ponte-Grande, com seus manifestos anarquistas, demandariam um estudo à parte. Junto com Macunaíma de Mário de Andrade, constituem a grande prosa, ou mais apropriadamente, a prosa poética desse ciclo do modernismo, da Semana de 22 até 1928. Ainda em Oswald, na Mensagem Poética ao Povo Brasileiro de 1928, que faz parte de Poemas Menores, [7] há uma múltipla sátira, em um registro mais complexo e elaborado, justificando este poema haver-se tornado um dos clássicos do modernismo brasileiro, com a apropriação de versos como América do Sul/ América do Sol/ América do Sal em epígrafes e músicas, em um bom exemplo de leitura atualizadora. A sátira, a propósito da visita de Herbert Hoover, presidente norte-americano, é dupla: visa a dominação norte-americana, e a submissão brasileira, incluindo o estereótipo da nossa cordialidade e caráter pacífico: Mas digam com sinceridade/ Quem foi o povo que recebeu melhor/ O Presidente Americano/ Porque, seu Hoover, o brasileiro é um povo de sentimento/ E o senhor sabe que o sentimento é tudo na vida/ Toque! Mas a poesia oswaldiana da década de 1920 é, sobretudo, paródica. E mais: ilustra à perfeição e de um modo original, quando não inaugural em sua visão crítica e soluções literárias, o que foi exposto acima sobre paródia, conforme a bibliografia recente. Possibilitaria uma aula ou palestra ilustrando características da paródia. A série História do Brasil da Poesia Pau-Brasil é toda calcada nos primeiros viajantes e cronistas do Brasil, a começar pela carta de Pero Vaz de Caminha, passando por Gandavo, Frei Vicente do Salvador, etc. Sendo paródica ao reaproveitar e recontextualizar textos alheios (reconhecendo-os portanto como modelos), também é sátira da visão paradisíaca dos trópicos. Aliás, idealização dos trópicos foi um alvo preferencial dos nossos modernistas, conforme será visto a seguir. Mas a paródia oswaldiana vai mais longe, e alcança o Romantismo brasileiro. Por exemplo, em meus oito anos: [8] Oh que saudades que eu tenho/ Da aurora da minha vida/ Das horas/ De minha infância/ Que os anos não trazem mais (...) Debaixo da bananeira/ Sem nenhum laranjais// Eu tinha doces visões/ Da cocaína da infância/ Nos banhos de astro-rei/ Do quintal de minha ânsia/A cidade progredia (...) Ou no canto de regresso à pátria: Minha terra tem palmares/ Onde gorgeia o mar/ Os passarinhos daqui/ Não cantam como os de lá (...) Temos, em canto de regresso à pátria, paródia em dobro, ou metaparódia (no sentido amplo aqui adotado, a partir de Hutcheon), pois o famoso poema de Gonçalves Dias é um decalque de outro, escrito por Goethe, sobre a Sicília, onde florescem os laranjais. A paródia oswaldiana não abrange apenas peças literárias, mas a língua toda, o corpus do português e seu uso brasileiro, em peças conhecidíssimas, como erro de português, ou em pronominais (Dême um cigarro/ Diz a gramática/ Do professor e do aluno/ E do mulato sabido/ Mas o bom negro e o bom branco/ Da Nação Brasileira/ Dizem todos os dias/ Deixa disso camarada/ Me dá um cigarro) e em vício na fala. Há, nesses e em outros poemas modernistas, não apenas um ataque a modelos, mas uma indagação e uma reflexão crítica sobre o que vem a ser o Brasil. Desnecessário repetir o que já foi escrito sobre a originalidade do pensamento de Oswald e de Mário (mesmo levando em conta as diferenças entre ambos) e sua distância do primitivismo, do nacionalismo verde-amarelo, no fundo um ufanismo recuperado, de Menotti, Cassiano, Guilherme de Almeida e outros participantes do mesmo movimento, acusados por Oswald, a justo título, de promoverem macumba para turistas. [9] Cabem observações adicionais sobre o indianismo romântico brasileiro, e como essa vertente, inspirando-se principalmente em Chateaubriand, [10] consagrou, quando não sacralizou o índio brasileiro. O tupi-guarani heróico, apolíneo, retratado por Gonçalves Dias e José de Alencar, é um estereótipo redutor, que desconhece a diversidade de povos e culturas abrangidas pelo rótulo “índio”. E mais: é herdeiro de uma visão européia dos trópicos, que vem desde o Descobrimento. Somos, simultaneamente, de modo ambivalente, vistos como paraíso (desde a carta de Caminha) e inferno (desde o relato de Hans Staden, “best-seller” na época). Como se sabe, a visão paradisíaca foi consagrada por Montaigne, em Les Caniballes, e tornou-se um mito iluminista a partir de Rousseau. A propósito de índios, recorrendo ao depoimento pessoal, observaria que, quando estive no Xingu, vi naquele território povos tupiguarani, gê, caribe e arauaque, além de outros pertencentes a grupos lingüísticos isolados. Sabemos que língua constitui cultura, e a essa diversidade também correspondem diferentes fazeres e outros traços culturais. O que, à distância, pareceria uma cultura homogênea (algo como o ocidental que, desconhecendo o Oriente, pensa que japoneses, coreanos, chineses, etc, são equivalentes, a mesma coisa, um povo só), visto de perto, com mais acuidade, mostra a sua diversidade e heterogeneidade. E Mário de Andrade, pesquisador, folclorista, etnógrafo, tinha essa visão mais próxima. Ao tematizar índios, sabia perfeitamente do que estava falando. Macunaíma [11] é, sem dúvida, a perfeita expressão do ceticismo com relação à existência do “índio”, de “um índio”, como entidade homogênea. Comprova-o seu caráter mutante: o protagonista é índio, nasce em uma tribo, um povoado indígena, mas vem ao mundo como preto retinto e filho da noite, e, através de artes mágicas, não pára de metamorfosear-se. Em acréscimo, sendo apresentado como personagem tipicamente brasileiro, seria, na verdade, originário das Guianas, calcado em relatos de Koch-Grünberg sobre mitos indígenas do Orenoco. A qualidade mais transgressiva dessa narrativa, o mais importante sob o prisma da ruptura, é a integral desobediência ou desconhecimento das categorias que organizam a realidade, a saber, o espaço, o tempo e a própria noção de identidade. Cabe até mesmo aplicar-lhe o que Breton disse de Os Cantos de Maldoror de Lautréamont: Um princípio de mutação perpétua se apoderou dos objetos, como das idéias, tendendo a sua libertação total, que implica aquela do homem. [12] O vilão Venceslau Pietro-Pietra é ao mesmo tempo o gigante Piamã. Cy e Vei, protagonistas femininas, tornam-se astros; o próprio Macunaíma será a Ursa Maior, entre tantas outras metamorfoses já examinadas pela crítica. Calcada em narrativas míticas, seu espaço é onírico: a ação se passa como em um sonho, com deslocamentos espaciais e temporais impossíveis. Embora transcorra no tempo de Mário de Andrade, no Brasil e, em boa parte, na São Paulo da década de 1920, também se fazem presentes outros tempos, ou, ao menos, personagens e situação de outras épocas, a exemplo do Bacharel de Cananéia, logo no início. É, portanto, uma narrativa mitopoética, regida pela analogia. Sua lógica se assemelha àquela do inconsciente, lembrando o que Freud havia dito, que o inconsciente desconhece o princípio da identidade. Justifica-se, portanto, a observação de Alfredo Bosi sobre entrecruzamentos surreais em Macunaíma. [13] Seria impróprio qualificá-la como escrita automática, mas, mesmo assim, cabe lembrar seu famoso processo de criação, de uma enfiada só, espontaneamente, em oito dias no final de 1926 (mas sempre observando que Mário precisou de mais duas semanas para revê-la e que o livro incorpora seu enorme conhecimento etnográfico e folclórico, além de literário). Macunaíma é uma das obras mais estudadas da literatura brasileira, com uma bibliografia crítica que não pára de crescer; isso, merecidamente, por sua complexidade e riqueza, por tudo o que Mário condensou em cerca de 130 páginas. Não cabe, no espaço desta intervenção, rever essa bibliografia. Pretendo examinar, por alto, apenas algumas questões, como a da sátira, paródia e intertextualidade. Nessa extensa bibliografia macunaímica, merece menção especial o Roteiro de Macunaíma de M. Cavalcanti Proença, [14] entre outras razões por seu pioneirismo. Depois do que foi observado acima sobre teoria literária e suas contribuições mais recentes, Roteiro de Macunaíma pode ser invocado para mostrar que o mais importante, ao se estudar uma obra literária, é mesmo lê-la com atenção e pesquisá-la exaustivamente. Em 1950, época da sua publicação, não se conhecia Bakhtine; não se falava em polifonia, dialogismo e carnavalização; menos ainda, em intertextualidade; os estudos sobre sátira e paródia não tinham o alcance que adquiriram ultimamente. Contudo, de modo implícito, sem que Cavalcanti Proença dispusesse desse instrumental, já está tudo lá. Em especial, o levantamento do que Mário de Andrade utilizou, das fontes a que recorreu – estudos etnográficos, relatos sobre o Brasil, obras de outros autores – na criação de Macunaíma. É claro que também se deve dar o devido desconto ao que esse ensaio tem de anacrônico e datado, como na defesa, logo no início, perante a acusação de “imoralidade” em Macunaíma. Hoje, na perspectiva contemporânea, preferiríamos até um texto mais transgressivo, e lamentamos que Mário houvesse normalizado Macunaíma na revisão do texto, atenuando passagens mais “lúbricas” (para usar a expressão de Proença). E isso, não só no tocante ao contínuo desempenho sexual de Macunaíma, um perverso polimorfo ao longo das páginas do livro. Também se vislumbra, na série de mutilações, flagelações e outras maldades, de modo mais evidente (corretamente apontada por Proença, Gilda de Mello e Souza e outros estudiosos) uma parentesco com Rabelais; mas, em segundo plano, há uma sombra fugidia do próprio Marquês de Sade. Não que o apologista da crueldade houvesse sido fonte direta; mas foi um crítico radical e irredutível da tese do “bom selvagem”, da inocência primitiva, corrompida pela civilização, também satirizada em Macunaíma. Contudo, rever passagens da obra no sentido da sua normalização é algo que também fazia parte das ambigüidades e ambivalências do próprio Mário de Andrade. Este é um assunto que demandaria estudos mais longos, incluindo a difícil coexistência, nele, do católico e do intelectual que se identifica ou tem empatia com o paganismo tribal, e do inovador que ao mesmo tempo quer estabelecer limites para o vanguardismo. Já em 1922, em A Escrava que não era Isaura, [15] Mário alertava contra os perigos formidáveis, dizia, da Substituição da ordem intelectual pela ordem subconsciente. E proclamava, enfático: Mas, oh bem-pensantes! É coisa evidente: NÃO SOMOS LOUCOS... Chamava ainda de erro perigosíssimo o modo como avulta na poesia modernista a associação de imagens, rejeitando liminarmente o que, na mesma época, ia sendo adotado por Dada e surrealistas como fundamento da criação. O tom de prédica ao apontar “erros” e “perigos” mostra um Mário de Andrade a empreender uma discussão estritamente literária, centrada na defesa do verso livre em oposição ao então vigente preciosismo parnasiano, e ainda impondo limites à criação. Claro que, ao escrever Macunaíma, Mário se ultrapassou; em uma demonstração de fidelidade à escrita, foi além de suas próprias idéias. Retornemos à contribuição substantiva de Roteiro de Macunaíma, ao apontar o que hoje seria denominado de intertexto de Macunaíma. A principal fonte dessa obra, conforme M. Cavalcanti Proença deixa bem claro, é o próprio Mário, tudo o que ele estudou e viveu, em suas pesquisas e suas viagens. Fala da selva amazônica e dos seus habitantes (e de tantos outros lugares do Brasil) porque esteve lá e os viu. Há em Roteiro de Macunaíma um capítulo intitulado Iracema e Macunaíma, que compara Mário de Andrade e José de Alencar. Algumas dessas comparações são demasiado distantes e aproximativas, e autores mais recentes têm manifestado restrições ao modo como Proença as efetuou (um deles é Alfredo Bosi, no já mencionado Roteiro de Macunaíma). Mesmo assim, permanece (corroborado por estudos da importância de Morfologia de Macunaíma, de Haroldo de Campos) a visão de um Mário de Andrade alencarino, admirador do autor de Iracema e O Guarani, valorizado como inovador da linguagem literária naquele momento, pela inclusão do português usado no Brasil. Por isso, Proença vê como traço em comum entre ambos, o narrador romântico e o modernista, o sentido de manifesto lingüístico, de plataforma para a criação de uma língua nacional, um grito contra o complexo colonial na literatura brasileira. Essa interpretação de Proença é precipitada. O próprio Mário negou expressamente que Macunaíma correspondesse a um projeto de “língua brasileira”. Mas, por outro lado, a tese de um confronto de língua brasileira versus língua colonizada é reforçada por outro tópico do Roteiro de Macunaíma, aquele dedicado à Carta pras Icamiabas. Lembrando, trata-se do famoso texto empolado em que o protagonista pede dinheiro à tribo de sua falecida esposa, possibilitando-lhe continuar em São Paulo, em busca da pedra Muiraquitã, perdida para o gigante Piamã. Nele (citando Proença), Mário de Andrade (...) quis mostrar a incoerência dos que imitam essa linguagem desusada, intercalando, sem querer, trechos da linguagem falada no Brasil (...) para mostrar o artificialismo de uma linguagem anacrônica. No testemunho do próprio Mário: Não só copiei os etnógrafos e os textos ameríndios, mas ainda, na Carta pras Icamiabas, pus frases inteiras de Rui Barbosa, de Mário Barreto, dos cronistas portugueses coloniais... [16] Portanto, a Carta pras Icamiabas é, declaradamente, um pastiche do estilo bacharelesco, pseudo-culto, desenvolvido sobre a influência, entre outras, de Rui Barbosa. Seu autor fictício poderia muito bem ter sido o Machado Penumbra de Oswald. Podemos agora retomar a teorização com que abri esta apresentação. Macunaíma, à luz do que foi visto, é uma obra especialmente adequada para quem for empreender o estudo de intertextualidade na criação literária. Não há dúvida quanto à propriedade de se falar também, a seu respeito, em sátira e paródia, e, ainda, em leitura recriadora. Quanto à leitura, tal como associada à criação por Octavio Paz, vê-se que Mário fez um reaproveitamento original e procedeu a reinterpretações de Alencar, dos cronistas sobre o Brasil, dos relatos de viajantes, da literatura etnográfica, enfim, do colossal acervo de fontes de sua narrativa. Na mesma medida, há inumeráveis modalidades da paródia e da sátira em Macunaíma. O trecho que comentamos, das Icamiabas, é sátira ao beletrismo bem-pensante, por meio de uma paródia de Rui Barbosa e dos demais autores que Mário declarou haver copiado; ou seja, que ele recontextualizou. Mas, no conceito mais amplo de paródia aqui proposto, este também se aplica à utilização da linguagem, estilo e dicção de José de Alencar. E, nesse caso, com a duplicidade apontada acima: o autor de Iracema, sendo parodiado, é reconhecido como modelo. Contudo, também é objeto de sátira indireta, pois Macunaíma ataca o indianismo romântico, do qual Alencar foi um expoente. Contrapõe a seus heróis um perfeito antiherói, um negativo do estereótipo adotado pelo romantismo brasileiro, de um índio virtuoso, apolíneo, clássico, representação de qualidades morais. Principalmente, é atacada a idéia de que pudesse haver “o índio”, um personagem que encarnasse ou contivesse as características de nossos povos pré-colombianos. Em seu lugar, a celebração da diversidade e da inconsistência. A expressão herói sem nenhum caráter, sub-título da obra, pode agora ser interpretada: não se trata apenas de julgamento moral, mas da declaração de inexistência de um “caráter nacional”, ou, ao menos, a dúvida quanto à possibilidade de um conjunto de traços em comum que efetivamente caracterizassem positivamente o brasileiro. Esses traços são negativos, ausências, a começar pela falta de caráter e incluindo a reiterada “preguiça”, ausência de ação. Macunaíma é, portanto, uma obra escrita – e a ser lida – sob o signo da ambivalência, em todas as suas características, desde os enredos, os grandes sintagmas narrativos, até seus recursos de estilo. Nela, tudo é e ao mesmo tempo não é; sendo algo, metamorfoseia-se: seus bichos humanizados são entidades míticas, os seres humanos se convertem em astros, o natural e o cultural interagem em um mundo antropomorfo, porém selvagem. Daí, certamente, vem o enorme interesse que essa obra despertou, traduzido em um volume crescente de estudos críticos. Neste rápido sobrevôo, não há como deixar de citar um deles, O Tupi e o Alaúde, de Gilda de Mello e Souza, [17] ao qual já estão incorporadas contribuições teóricas recentes, como a carnavalização e o dialogismo de Bakhtine. Sem entrar na discussão das relações de Macunaíma com as gestas heróicas, em especial o romance arturiano e as lendas da busca do Graal (por sua vez símbolo da pedra filosofal dos alquimistas, à qual equivale a Muiraquitã perdida e recuperada por Macunaíma), e na conseqüente discussão de Metamorfoses de Macunaíma de Haroldo de Campos (isso demandaria outro ensaio), cito sua conclusão: [...] Macunaíma foi tomado – e continua sendo até hoje – como um livro afirmativo, antropofágico, isto é, como devoração acrítica dos valores europeus pela vitalidade da cultura brasileira. A leitura que propus se afasta dessa interpretação triunfal e retoma a indicação pessimista de Mário de Andrade, de que a obra é ambivalente e indeterminada, sendo antes o campo aberto e nevoento de um debate, que o marco definitivo de uma certeza. O Tupi e o Alaúde, é indispensável observar, não encerra a discussão sobre a existência ou não de parentesco entre o que está em Macunaíma e a antropofagia oswaldiana. Para Leyla PerroneMoisés (no texto citado acima), antropofagia implica seleção, escolha; portanto, não seria acrítica. E Benedito Nunes, no prefácio à edição dos manifestos de Oswald por ele organizada, vê a ambos, Oswald e Mário, como próximos no plano das idéias, embora rompidos pessoalmente. Mas essa interpretação de Macunaíma como obra não apenas ambivalente e indeterminada, porém pessimista, portanto negativa, apresentando uma pergunta, mais que respostas (sobre o Brasil, nossa identidade, etc), não seria ela corroborada através da leitura de poemas do próprio Mário de Andrade? Acredito que sim – e cito seu Improviso do Mal da América de 1928, portanto contemporâneo de Macunaíma. [18] Na primeira frase do poema, Mário, um mulato como se sabe, ouve o Grito imperioso da brancura em mim..., e também os ecos das coisas de minha terra, (...) outras vozes de outras falas de outras raças, para terminá-lo assim: minha alma crivada de raças! Mas eu não posso me sentir negro nem vermelho! De certo que essas cores também tecem minha roupa arlequinal, Mas eu não me sinto negro, não me sinto vermelho, Me sinto só branco, relumeando caridade e acolhimento, Purificado na revolta contra os brancos, as pátrias, as guerras, as posses, as preguiças e as ignorâncias! Me sinto só branco agora, sem ar neste ar-livre da América! Me sinto só branco, só branco em Branco, neste poema, equivale a não-negro e não-vermelho (nãoíndio); corresponde a não ser, definido negativamente, como ausência de cor, ou, metaforicamente, como ausência de identidade. Trata-se, portanto, de um poema negativo. Não há resposta afirmativa à pergunta sobre a identidade americana (tema central em Mário), porém apenas um modo veemente e dramático de formular a pergunta. E, em uma versão muito mais complexa, além de literariamente grandiosa, em Macunaíma, através de seu anti-herói e de uma mitologia às avessas. O modo honesto e radical como a questão foi apresentada está diretamente ligado à atualidade de Mário de Andrade, na mesma medida em que continua presente a pergunta sobre a nossa identidade. NOTAS 1. Paz, Octavio, Los Hijos del Limo, Editorial Seix Barral, 1974, edição brasileira Os Filhos do Barro, Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1984. 2. Uma Teoria da Paródia, de Linda Hutcheon, Edições 70, Lisboa, s/d, obra da qual extraí as citações a seguir (a edição original, A Theory of Parody, é de 1985). 3. O poema está, entre outros lugares, no recém-editado Testamento de Pasárgada, organizado por Ivan Junqueira, 2ª edição revista, Academia Brasileira de Letras/ Editora Nova Fronteira, 2003. 4. Em Introdução à Semanálise, de Julia Kristeva, Editora Perspectiva, São Paulo, 1974. 5. Também no já citado Testamento de Pasárgada. 6. Entre outros lugares, em Mário de Andrade – Melhores Poemas, seleção de Gilda de Mello e Souza, Global Editora, São Paulo, 1988. 7. Em Oswald de Andrade, Poesias Reunidas, nas Obras Completas, volume 7, prefácio de Haroldo de Campos, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1974 (IV edição). 8. Sigo a grafia dos títulos, em minúsculas, da edição citada, que corresponde, ao que tudo indica, à intenção do próprio Oswald. 9. Conforme bem examinado no prefácio de Haroldo de Campos para a já citada edição da poesia de Oswald. 10. Sobre Chateaubriand, um dos iniciadores do romantismo francês, e nossa literatura romântica, ver, entre outros bons estudos, A recepção de Chateaubriand no Brasil, de Maria Cecília Queiroz de Moraes Pinto, em Aquém e além mar – Relações culturais: Brasil e França, coletânea organizada por Sandra Nitrini, Editora Hucitec, São Paulo, 2000. 11. A edição consultada é: Mário de Andrade, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, texto revisto por Telê Porto Ancona Lopez, Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1984 (19ª edição). 12. Na Anthologie de l’humour noir; cf. meu Lautréamont – Obra Completa, Editora Iluminuras, São Paulo, 1997. 13. Em seu Itinerário de Macunaíma, ed. 34 Letras. 14. Editora Civilização Brasileira, 1974 (3ª edição). 15. Em Mário de Andrade, Obra Imatura, Livraria Martins Editora e INL/MEC, 1972 e reedições. 16. Essa declaração de Mário é reproduzida em inumeráveis peças da copiosa bibliografia disponível, inclusive na contracapa da edição citada. 17. O Tupi e o Alaúde – Uma interpretação de Macunaíma, de Gilda de Mello e Souza, Livraria Duas Cidades, São Paulo, 1979. 18. Também publicado em Mário de Andrade – Melhores Poemas. Claudio Willer (Brasil, 1940) é um dos editores da Agulha. Contato: cjwiller@uol.com. br. Página ilustrada com obras do artista Carlos Colombino (Paraguai). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 Traganíqueles para el bolero Juan Manuel Roca . Traganíque 1. El traganíquel, que en algunas regiones de América Latina se llama “vitrola”, “victrola” o inclusive “piano” o “rocola”, podría ser una suerte de altar o de tabernáculo de la religión del bolero. Voy a señalar varias instancias del bolero, como si el repertorio estuviera en diferentes traganíqules. No hay necesidad de echar monedas en la ranura del recuerdo para que nos asalten varias instancias pasadas y presentes en torno de esa música bailable, cantable, sufrible, gozable, amable y detestable a un mismo tiempo que es el bolero. En el mapa del bolero hay vitrolas en las que suena solamente, casi de manera privativa, el bolero mexicano, el de tríos como Los Panchos, llenos de sacarina y nostalgia. Hay otras vitrolas que no olvidan el aporte colombiano al bolero en las que se oye alguna pieza clásica del recientemente fallecido José Barros o ese bolero de Lucho Bermúdez que se hizo delicias en la voz de Matilde Díaz, “Te busco”. En algunas habita, como si se tratara de una inmensa ballena, lo que para mi gusto musical es lo mejor del bolero, de ese género que muy pronto se distanció y que muy pronto volvió a tener contactos con España. Hablo de la cadencia venida de esa gran matriz musical que es la música de Cuba. Una música que, no obstante haber cercenado su lado indígena a través de sus olvidados areítos, lejos de las sonajas y fotutos de esa prehistoria musical, se mestizó en momentos tan ricos como el danzón, el son, el chá y el bolero. Todavía, cuando voy a La Habana y entro al Monseñor, donde tocaba el inmortal “Bola de Nieve”, pueden sentirse los pasos rastrillados de antiguos bailarines ya muertos y la voz pedregosa de don Ignacio Villa. Algunas de sus composiciones suenan en la memoria recodándonos las vecindades de poema y bolero. Traganíquel 2. Cuentan que cuando Bola de Nieve pedaleaba su piano en épocas del cine mudo, cuando se hizo el mejor cine, antes de pasar de ser mudo a ser ciego, Ignacio Villa alias “Bola de Nieve”, recorría desde su piano la geografía del sueño. Decía que su voz de lija era una voz de botellero, de esos hombres que en las viejas calles cambiaban a los niños pirulís por botellas. Yo lo pongo a cantar en las mañanas. Y lo imagino en una silenciosa película que filma mi adentro: “Bola de Nieve” recorre pedaleando con su piano una legión de paisajes, de seres y de olvidos. Y Paul Robeson lo mira cruzar a su lado, agitando su mano enguantada como la fruta de la guama, mientras canta una “bequeriana” o la graciosa canción de “Mesié Juilián”. Y ahí cruza el aire como si no reposara en un solar de muerte en vecindades del azul, del cielo azul de su país, justo allí, en la sonora Guanabacoa. Y si bajo el telón y no hay más monedas para echar al traganíquel, “Bola de Nieve” rueda su voz por las pendientes del recuerdo y crece en el silencio su exuberante flor de la canela. De nuevo, poetas, un guiño de una febril poesía. Traganíquel 3. Lo mismo podría hacerse cuando se oye a Antonio Machín, nacido en Sagua la Grande, provincia de Las Villas, ese gran bolerista que en España, donde murió, se considera vivo como el cadáver de “El Cid”, ganando la batalla de los sentimientos más sencillos. Machín amaba la poesía desde cuando tarareaba canciones siendo alarife, un albañil en Cuba que entre empañetar casas y acomodar ladrillos, soltaba su hermosa voz para darle ritmo a las casas en construcción. Para no dejarle todo el coto de caza del bolero, cómo no recordar una voz pequeña pero más que armoniosa, una cadencia que influyó en tantos cantantes, desde Vitín Avilés y Felipe Pirela hasta Jimmy Savater, Cheo Feliciano y Héctor Lavoe. Lo anuncio con una fanfarria, como se haría en un bar de las antillas: el puertorriqueño renovador del bolero, Tito Rodríguez. Traganíquel 4. Quien dude de la relación del bolero con la poesía, con la tragedia que ronda muchas veces esas dos instancias creativas, que vaya a las páginas de Guillermo Cabrera Infante en “Ella cantaba boleros”, un homenaje a la que el llamaba “la estrella”, Fredesbinda García, más conocida como La Freddy, una muchacha del servicio doméstico a la que no pudieron domesticarle su voz ni su bohemia y que fuera descubierta en 1959 con unas palabras recogidas en la revista habanera “Show”: “del servicio doméstico surge una bolerista que pesa 220 libras. Su rostro parece una luna llena color sepia. ¡Pero cómo canta boleros esta voluminosa mujer!”. Traganíquel 5. Hay quienes señalan con desdén la poética del bolero, tan cercana al “kitsch”, palabreja alemana que designa lo pretencioso que se avecina con lo cursi. Y pueden, qué duda cabe, tener razón. Sólo que huyéndole al “kitsch” también le huirían a Rimbaud, poeta que podría tener todo menos un grado de cursilería o de pretensión ante su destino o su tragedia. Cuando Rimbaud dice en “Una temporada en el infierno”: “Gustaba de las pinturas idiotas, ornamentos de puertas, decorados, telas de saltimbanquis, enseñas, iluminadas estampas populares, la literatura pasada de moda, latín de iglesia, libros eróticos sin ortografía, novelas de nuestros abuelas, cuentos de hadas, pequeños libros de infancia, viejas óperas, estribillos bobos, ritmos ingenuos”, ¿no hablaba ya de una estética del “kitsch”? ¿No señalaba que esos aires ingenuos a veces tienen más pureza y hondura que tantas preocupaciones ontológicas y tantos falsos hermetismos? Todo ese recuento de sentires populares deviene poesía en el bolero. Traganíquel 6 No se si esto figure en algún tratado de ornitofilia, pero lo cierto es que en las noches de bohemia, en algún rincón del Caribe y del cruce de las habaneras calles Prado y Neptuno, se reunían los trasnochadores a mesurar sus tragos tomando una espesa sopa de tortuga. No se si esto lo soñé o lo leí al acaso en un libro olvidado o alguien lo narró al trasluz de las copas que deforman la realidad como un gran calidoscopio. Pero es de suponer que alguna vez, en un restaurante mañanero e insomne de La Habana, se encontraron el cantante bohemio y el poeta gastrónomo. Se trata, para no dilatar más el asunto, del gran bolerista Bienvenido Granda y del poeta gastrónomo don José Lezama Lima. El bohemio cantor habría salido de alguna emisora –quizá Radio Progreso-, donde cantaba con la Sonora Matancera un bolero, un merengue, un bolerengue. Con sus bigotes de herradura, caídos, espesos y negros, Bienvenido Granda tomaría su crema de tortuga, en un cuchareo musical que recordaba acaso una canción: “Morena”, del haitiano Guy du Rosier, o un trozo en donde Lino Frías hacía llover sobre su piano la lluvia formidable de sus dedos. El poeta, el gastrónomo de las viandas habaneras, don José Lezama Lima, llegaría puntual al rito de la sopa, y pensaría en el poeta Julián del Casal o en sus versos del “Llamado del deseoso”. Lo cierto es lo que dicta la buena imaginación. Imagino a Lezama cuando observaba a un hombre sumido en su sopa, sin levantar cabeza, un hombre que al culminar su cuchareo y erguir su cabeza, le daría al poeta la posibilidad de la metáfora: Bienvenido Granda era un hombre con un bigote tan negro y tan espeso que parecía siempre estar comiéndose una golondrina. Por algo le decían “el bigote que canta”. Debo decir que esto jamás ocurrió, pero gracias a la libertad que me entrega por partida doble la poesía y el bolero, gestores de imposibles, me atrevo a señalarlo para algún libro de encuentros imaginarios, o para algún curioso manual de ornitofilia. Traganíquel 7 Unos pocos años después de que el bolero saliera por puertas y ventanas de las casas soleadas de su lugar de nacimiento: Santiago de Cuba, este ritmo se regó por toda la región antillana. Yo imagino que así como los estibadores subían a las naves surtas en los puertos racimos de plátano, bultos de cacao o grandes pacas de algodón, muchos marineros subieron a los barcos el ritmo meloso del bolero. Lo llevaban en sus memorias como un polizón y luego, en alta mar, dejaban salir esos recuerdos bailables y sentimentales en forma de tarareo o de silbido. El bolero se bajó entonces de piraguas y canoas y se subió a los grandes navíos comerciales, primero para recorrer el continente americano y luego para regresarle modificado –y muy mejorado-, un aire musical a España, como si se les devolvieran unas nuevas carabelas cargadas de puro sabor. De purísima inspiración mestiza y criolla, ¡caballeros! Es difícil decir quién es el fundador de una música, tanto como decir quién es el fundador de un baile. Son asuntos que se hacen de a poquito y entre todos, de manera colectiva: uno pone un ritmo, otro una letra, alguien más le agrega una interpretación, otros más le incorporan sus pasos en la pista de baile. Sin embargo nuestro amigo cubano Helio Orovio se anima y señala que el primer bolero de que se tenga noticia, cuya composición data de 1883, se titula “Tristezas”, con lo cual se inicia una saga de melancolías, y se le adeuda a José Sánchez, un santiaguero más conocido como Pepe Sánchez, que además de bolerista fue guarachero y, antes que nada, trovador. De don Pepe, pasando por el maravilloso Sindo Garay y haciendo grata escala en las barriadas populosas donde vivían cada uno de los tres Matamoros, el bolero ha sonado en todas las rocolas de América, en los oídos abiertos de un continente que antes de acudir al doctor Freud o a Lacan a la hora de sus sinsabores amorosos, acude al diván del bolero. Sintetizando el asunto para no sentirnos repitiendo un viejo long play, el bolero tiene carta de navegación musical desde finales del siglo XIX, desde esa mañana en que Pepe Sánchez, guitarra en mano cantó su fundacional bolero en el que decía: “No hay pena mayor que me haga sentir/ cuánto sufro y padezco por ti”. Traganíquel 8 (Bolero y Tarantismo) Todos los boleros nacen en la caleta del pecho y desembocan en la calle. Pero hay calles ligadas a la evocación que nos remiten más que otras al bolero, como hay ciudades que tienen su ritmo secreto. Para mí esa ciudad es Medellín, así esté oculto su bolerismo bajo los fuelles del bandoneón, bajo las voces del tango. Los bolerólatras que tuvimos una infancia en ese valle, que por esas calendas era un conato de ciudad cuya forma repetía la estructura ósea de un pescado: una larga calle como espina dorsal y pequeñas callejuelas saliendo hacia los montes, supimos del bolero en las esquinas. Sí, un bolero brotaba de un surtidor de música que tenía el alias de rocola, por lares de Barriotriste. Al paso del alarife que cruzaba las calles de La Floresta, el silbo era, por supuesto, el del bolero. Y por Boston y por Aranjuez y en los lares de Otrabanda, el bolero. Ahora, y a propósito de la zona de Otrabanda, cómo no mencionar dos palabras que designan un par de ámbitos, cuya escritura empieza con la b de bailes o de besos, de bálsamo y balanceo. Me refiero a la palabra bolero y a la palabra bar, asociadas desde que el amor y la ebriedad bailan su antigua ronda, aún en esos que no son rumbeaderos sino lánguidos tristeaderos donde también se escucha música de telaraña. A cada rato regreso a Medellín, a esa ciudad donde más claro me resulta que Dios inventó a las muchachas para goce y sufrimiento de los poetas (he ahí otro tema para un bolero). Y en esa vocación de bumerang, mientras más lejos me arrojan la vida o el azar, se que regreso al punto de partida, a las raíces que se tienden sin otro estímulo que ellas mismas para anclarme, no en un pasado nostálgico, sino en un amplio tejido vital que se hila de futuros ya cumplidos. Voy por calles de La Habana o de México, por rincones de Bogotá, de Barranquilla o cualquier otro fundo, y puedo ser arrastrado por la música sin que se me imponga un ritmo único, desde el mambo o el porro hasta la cumbia o el son. Puede inclusive ser una charanga: la elección depende del ánimo, del silencio o el furor. Pero en Medellín no: bajo su cielo de cobalto, a cualquier hora y en cualquier lugar, me acecha un bolero, su ubicuidad melodiosa. Y es que el oído está acostumbrado a nuestras primeras músicas, como los pies de quien sufre de tarantismo, a moverse por su cuenta. El tarantismo es, por si las dudas, una condición patológica que se manifiesta en el hombre por un ataque de baile irrefrenable. Se dice que en Aachen, Alemania, en un mediodía de julio de 1374, un enjambre de hombres y mujeres iniciaron una coreografía frenética y mucho más que compulsiva por las calles, un ataque de baile como existen los ataques de risa, que duró hasta que lesionados, exhaustos, casi muertos, cayeron en el profundo foso de un agotamiento colosal, luego de cinco febriles noches de iniciado el bailoteo. Tal me ocurre con el bolero, con el tarantismo de su música: oigo uno que me gusta y ya quiero escucharlos todos. Para curarme de esa anomalía, si estoy en Medellín, me dirijo sin saber cómo ni a qué horas, a la zona de Otrabanda: pido un bolero doble y lo sirvo en un vaso del bar, en un coctel personal para la sed de la noche. Traganíquel 9 (Más poesía y más boleros) Todo poema de desamor –y recuerdo ahora el “Tango del viudo”, de Pablo Neruda, o ese otro de Henri Michaux dedicado a Juana, la que se divertía seduciendo a los muchachos “con su triste mirada de hospital-es proporcional en su intensidad al amor que desaloja. Igual cosa ocurre con los poemas de amor, con esa lírica que asume como centro de gravedad la pasión o el festejo de Eros: al fondo, al final de cada tema, está el otro, la persona amada. De todas estas pasiones amorosas, da cuenta, más aún que el poema, el bolero. Cuando un viejo anarquista decía, como adelantándose a la idea de Borges de que el amor es la única religión cuyo Dios es falible, que la pasión amorosa no correspondida es igual al caso del gusano enamorado de una estrella, estoy seguro –y ya no recuerdo si el aserto es de Bakunin, de Kropotkin o de Malatesta-, que no escuchó ni trompetas apocalípticas ni el órgano de una catedral: oyó, de seguro, junto al tic-tac del corazón, algo parecido a las notas remotas de un bolero. Si esto lo señalamos de alguien como Bakunin, qué podríamos decir de un hombre de estas tierras. La educación sentimental del hombre latinoamericano, su cercanía a una poesía popular que casi siempre le ha llegado más por vías del bolero, de su música y su jadeo, que del verso en sí mismo. El bolero le ha puesto en el centro de su vida un lirismo bailable. ¿No podría uno imaginar, cuando el Papa del surrealismo, André Breton, señalaba que “amar es estar seguro de sí”, esa misma frase en labios de Lucho Gatica? Si hasta en Rilke hay bolero. ¿No oye quien lee estos versos del autor de las “Elegías de Duino” la voz entrecortada de Pedro Vargas repitiendo que “no somos más que boca que canta el corazón”? Me atrevo, así se enardezcan los poetas puros, a señalar que no hay casi ningún poeta ni ningún gran pensador al que no asalte, de cuando en cuando, el bolero. No así los militares, que como en el caso de Napoleón, están más cerca de la ranchera. Esta frase de Bonaparte podría haber salido muy bien de boca de Jorge Negrete: “La bala que me haya de matar no ha sido fabricada todavía”. Pero volvamos al bolero. ¿No bastaría aplicar bien el oído, como esos niños que en el campo lo ponen contra la carrilera para saber si algún tren se aproxima, a la poesía o a la lírica de la novela para oír al fondo un bolero? Fragmentos de “El amante de Lady Chaterley” o de “Madame Bovary”, resultarían así un coto de caza para Agustín Lara o para Bobby Capó. Repito que en la educación sentimental de nuestros pueblos, más que acudir a Freud o a Lacan al momento de la crisis amorosa, de la catarsis si se quiere del amor o el desamor, hombres y mujeres acudimos al diván del bolero. Cuántos enamorados, luego de la ausencia o el desamor – despecho le dicen algunos a ese momento en que lo que más se tiene es precisamente pecho, corazón habitado por tormentas-, no logran su ensalmo, su hechizo, su vitalidad hiperbólica en versos como este de un bolero magistral.: “Aunque me cueste la vida, sigo buscando tu amor, te sigo amando, voy preguntando, dónde poderte encontrar”. Ese fragmento, que podría servir de itinerario del bolero por su carácter nómada: “aunque vayas donde vayas, al fin del mundo yo iré”, no es otra cosa que una hipérbole, que ese pensar con el deseo, tan propio del bolero y de nuestros pueblos. La lógica del que ve esto desde afuera, con aquello que Bertolt Brecht llamó distanciamiento, se podría preguntar, dado el origen popular del bolero, cómo un hombre que haya gastado sus últimas monedas en el bar, frente al traganíquel, a la engullidora rocola que ejerce su juglaría mecánica, puede creer que sin moverse de su silla irá “al fin del mundo” con tal de oír el sí de su amada. Pero la lógica del bolero es una lógica de la utopía, del deseo de alcanzar lo inalcanzable. Casi no hay –e incluyo en esto al otro bastión de la música popular, el tango- una música que, como el bolero, haga más suya su vocación de atrapar imposibles, algo que lo emparentará, siempre, con la poesía. Así, alguien, ojalá Alberto Beltrán, pueda encontrar “los aretes que le faltan a la luna”, o hacer “la noche perpetua” como en el legendario bolero “Reloj” o, más aún, asegurar que una mujer llevará, antes que el sabor de un pintalabios, un indeleble “sabor a mí”. Eso, y ponerse citas imposibles. Más que en un parque (mucha gente alrededor), más que en un cine (muy oscuro para mirar los ojos de la amada o del amado), más que en las contingencias cotidianas, el bolerista –por algo ama la utopía-, cita al objeto de su amor nada menos que en el cielo y, por si fuera poco, después de la muerte: “Espérame en el cielo corazón, si es que te vas primero. Espérame, que pronto yo me iré, para empezar de nuevo. Este amor es tan grande y tan grande que nunca termina, y esta vida es tan corta que no basta para nuestro idilio”. Nadie enamorado se va a parar en incongruencias, a preguntarse si podría haber un amor tan grande y tan grande. Pero si usted se pone a dudar de la certeza del bolero, de sus grandes verdades no comprobables, pues parafraseando al gran letrista, no llame corazón lo que usted tiene. A propósito de despropósitos, una tarde en Managua Jorge Enrique Adoum me mostró, con sorna y cariño a la vez, la incongruencia de un bolero que dice que “no me cansaría de decirte siempre pero siempre siempre, que eres en mi vida ansiedad, angustia, desesperación”, lo que equivaldría a una queja, a una cantaleta eterna, aunque estuviera acompañada de maracas. La razón indicaría que una mujer a quien quiere seducirse no se arrimaría a alguien que le va a decir, durante toda la existencia, que ella causa “angustia y desesperación”. Lo anterior sirva solo para señalar la presencia del absurdo en el bolero y para no dejarle esto solamente a Beckett o a Ionesco. A propósito, Beckett dijo que “el hábito es la gran sordina”. ¿No es el bolero el hábito asordinado del sentimiento? Traganíquel 10. Todos, absolutamente todos los sentimientos, todas las estéticas, caben en el bolero. Hay muchos ejemplos. La ironía de un bolero que no obstante ser una canción latina podría haber sido escrito, quién lo creyera, por un compositor alemán, el fundador del legendario grupo Alzheimer. Hablo de esa canción que expresa en uno de sus versos un orgulloso y pleno desenfado: “a pesar de lo mucho que te amé, me puedes tu creer, se me olvidó tu nombre”. También hay quien tiene una suerte de visión planetaria del amor: “Qué me importa que el cielo no tenga estrellas ni luna, si yo tengo en tus ojos el cielo, la luna y el mar”. Y un sentir religioso: “Santa, santa mía, mujer que brilla en mi existencia, Santa, sé mi guía, en el triste calvario del vivir”. Un viejo bolero nutricio mezcla harina, levadura y cariño: “Amor es el pan de la vida”. Y hay desvelos de amor que en la voz de Celia Cruz se hacen ensoñación: “Dejo el lecho y me asomo a la ventana, contemplo de la noche su esplendor”. Sentimientos, deseos, no hay obstáculos para el bolerista, capaz de ejercer oficios tan exuberantes como el de buzo: “Por hondo que sea el mar profundo no habrá una barrera en el mundo que mi amor profundo no pueda romper”. El kitsch. El gran lirismo. Las pruebas del dolor espiritual. El humor, muchas veces inconsciente. La vida toda fluye en un bolero. Qué político de América Latina no quisiera que alguien, desglosando la estrofa de un bolero, le dijera trocando amor en ideología: “Supiste esclarecer mis pensamientos, me diste la verdad que yo soñé”. Sí, la vida fluye en un bolero. El transcurrir del tiempo, que va más allá del tiempo mecánico de los relojes. Cuando el bolerista le pide al reloj que no marque las horas y le implora: “Detén el tiempo en tus brazos, haz esta noche perpetua”, en mi mente surreal aparece una de las más bellas imágenes del cine mudo: Harold Lloyd pende, más que de las manecillas, de su propio sombrero canotier, mientras intenta detener los brazos del implacable reloj de una alta torre. Es una escena de una poética cercana al bolero, otro guiño a Lucho Gatica. He querido señalar el humor que subyace en la ternura del bolero, pues no hay rasgo más humano que el que descansa en el humorismo. Pero más allá de esto, está su hondo lirismo: las voces de Tito Rodríguez, del inmortal Benny Moré, aunque algunos lo recuerden más como sonero que como bolerista (mientras escribo esto oigo, una y otra vez, el más espléndido de sus boleros “Cómo fue”), o las voces de Toña la Negra, Luis Alcaraz, Leo Marini, Cheo Feliciano, César Portillo de la Luz, Bola de Nieve y compositores como Agustín Lara, ese modernista del bolero, o como María Greever, José Antonio Méndez, Rafael Hernández, Guty Cárdenas, Consuelo Velásquez, entre otros, forman un santoral en la educación sentimental y poética de América Latina. La envidia de cualquier poeta por encontrar aquellos legendarios aretes de la luna, es proporcional a la envidia que suscita la popularidad del bolero lírico. No hay sentimiento, por pobre que resulte la esfera sentimental para la poesía, ni alegría o tristeza, que no hayan sido llevados al plano del bolero. Todo cambia mientras gira la luna negra del disco, pero aún así, el reino del bolero no es exclusivo de la nostalgia. Es el de la evocación desde un presente que se perpetúa cada noche junto a la rocola, algo así como un capítulo del amor en Occidente. Más allá de las racionalidades al bolero, todo, le “sobra mucho, pero mucho corazón”. Tras la pesquisa anterior, tras un memorioso rastreo, todo me lleva a pensar que el perro de la R.C.A. Víctor, ese perro melómano que ponía impasible su oreja en la flor metálica de una vitrola, lo que oía era un bolero. A lo mejor fuera un tango, pero con esa estampa de fondo proveniente del almacén de imágenes de la infancia, de un lugar donde embodegamos jirones de tiempos idos, no me queda otra cosa que garabatear una pequeña plegaria desde el bolero mismo: Bolero, Adorarte para mí fue religión. Aunque perdiera el arcoiris su belleza Me gusta todo lo tuyo, todo me gusta de ti. Bolero, En la boca llevarás el mar, espejo de mi corazón. Bolero, Si acaso te ofendí, perdón. En esta vida lo mejor es callar. Juan Manuel Roca (Colombia, 1946). Poeta, crítico de arte y periodista. Ha publicado los libros Ciudadano de la noche (1989), Teatro de sombras con César Vallejo (2002), Un violín para Chagall (2003), Las hipótesis de Nadie (2005), El ángel sitiado y otros poemas (2006), y Testamentos (2008). Contacto: juan_manuelroca@hotmail.com. Página ilustrada con obras del artista Carlos Colombino (Paraguay). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 Vaikom Basheer, la narrativa como destino María Helena Barrera-Agarwal . El sur de la India jamás sufrió el destino que le cupo al norte. Nunca fue el escenario de conquistas, repetidas y violentas, ni se convirtió en la presa codiciada de dinastías, sucediéndose las unas a las otras con la regularidad de las gotas del oriental proverbio. Su estabilidad, reflejo tal vez de aquella solidez tectónica que lo convierte en el más inalterable espacio geológico del planeta, se percibe sin dificultad en sus templos. Los hay, como Tirupati, que alcanzan los dos mil quinientos años de tradición sin aparente tensión para la imaginación o la historia. La influencia de los mongoles, omnipresente en el norte, es simplemente un hecho de alejada rememoración en el sur. Los avances de sus ejércitos, como aquellos de muchos otros, apenas si pudieron socavar pequeñas regiones, por tiempo limitado, a la integralidad de la vasta región. Solo cuando el avance británico se convirtió en dominio subcontinental, el sur se vio existir como parte de un todo centralizado fuera de sus fronteras ancestrales, y manejado por un poder extranjero. Aún así, lo dilatado de su particular pasado no pudo ser modificado en apenas cien años y continuó a ser el más indio de los elementos constituyentes de la nueva, independiente India de Ghandi y Nehru. Tal vez el cambio más importante jamás sufrido por el sur y su destino ha sido el promovido por la llegada de la cultura digital. Centrada en gran medida en la urbe jardín de Bangalore, su impacto ha sido substancial y ha radiado a urbes como Madras y Hyderabad. No es difícil hallar jóvenes pujaris (sacerdotes hindúes), quienes conjugan su ancestral profesión con aquella, moderna, de ingeniero en sistemas. O encontrar entre las nuevas representaciones de Ganapati, dios del buen comienzo y de la escritura, imágenes que lo muestran cómodamente sentado frente a una computadora, en lugar del tradicional cilindro de papel. A pesar de ello, o tal vez en su virtud misma, es imprescindible retrotraerse a las épocas en las que el presente panorama no se encontraba ni siquiera en la imaginación más febril. Para hacerlo, la mayor parte de los lectores debe resignarse a contar con traducciones, generalmente al inglés, ante la imposibilidad práctica de dominar la larga lista de idiomas que puntean el sur y lo determinan, lingüística y socialmente. Del canara al malayo, del tamil al tulu, son lenguas que han permanecido, hasta hace relativamente poco, al abrigo de las influencias que determinaron la formación de idiomas como el urdu y el hindi. Esos aspectos son necesarios al reflexionar sobre la obra de un preeminente escritor de la región, Vaikom Basheer. La importancia de su trabajo, múltiple en géneros y generoso en significados, se comprende mejor al considerar el ámbito en el que fue creado, y las raíces de su autor. Cumpleaños, publicado en 1944, es un cuento de rara perfección estilística. Trata de un día en la vida de un joven. El título puede ser traicionero en sus implicaciones festivas. Tal vez ello fue precisamente lo que impulsó a Basheer a escogerlo. Gradualmente, sin prisas pero con la precisión de quien manipula un escalpelo cerca de la raíz de la memoria, Basheer va delineando la personalidad del muchacho y sus circunstancias. La primera línea establece firmemente el escenario, temporal y emocional. “Es el octavo día de Makaram - hoy es mi cumpleaños.” Makaram es sexto mes del tradicional calendario usado en el estado de Kerala. El joven que cumple años efectúa sus diarias abluciones matutinas, se viste y toma asiento en una veranda. Todo es normal, aparentemente, hasta que el narrador se describe como poseyendo un “corazón agobiado”. La razón se vuelve obvia a medida que los párrafos pasan: no posee en el mundo ni siquiera las ropas que lleva puestas. Las horas se acumulan, y sus pensamientos se aceleran, desde el ansia por una taza de té que no puede comprar, hasta la amenaza de la policía, que lo busca por su fama de agitador político. Posee también otro renombre, el de un autor de talento. El mismo de nada le sirve a la hora de ganarse el sustento. La miseria lo está consumiendo, igual que la incertidumbre. Se consuela con la noción de que el almuerzo de ese día, al menos, le está asegurado. Hamid, un amigo - descrito como un poeta menor y un hombre muy rico - lo ha invitado a comer. Ello le ayuda a sobrellevar el hambre que lo acosa desde que despertó. Ello también aviva y torna más acre su desesperación, cuando al ir a casa de Hamid, se entera de que éste ha partido de improviso, solicitado por algún negocio urgente. “Estaba suficientemente famélico como para comerme el mundo”, exclama, y su ansia claramente no cesa en los bordes de una mera necesidad de alimentos. En su búsqueda, visita un editor, conocido suyo. El hombre lo recibe y conversan de nimiedades. El editor pide un té, y al pagar saca de su bolsillo un grueso rollo de billetes. Luego de recibir la bebida, pregunta al joven, en una digresión despreocupada, si quiere beber un té. El muchacho, quien ha estado suplicando interiormente por una taza del líquido, enfrentado ante la fría arrogancia responde que no. El único ser que le demuestra compasión en un niño, sirviente de un conocido suyo. Percibiendo que el joven se encuentra en un estado de miseria aún más dramático que el suyo, el chiquillo le ofrece un préstamo, dinero suficiente para pagarse dos tés. Es entonces cuando un amigo del joven acierta a aproximarse. Viéndolo reposar en una silla, lo recrimina por haberse aburguesado. El joven no se molesta en corregir la imagen que proyecta, y pide los dos tés, compartiendo lo que no tiene con quien lo acaba de juzgar. Poco después un policía aparece, lo lleva a la delegación, amenazando con arrestarlo. Lo dejará libre, eventualmente. La noche llega. El joven ha pedido un préstamo a un estudiante, vecino suyo. El mismo se ha negado, argumentando que no tiene moneda suelta. El desprecio de la respuesta es aplastante. Sin poder conciliar el sueño, cavilando sobre su hambre, el joven decide finalmente introducirse en la cocina de otro vecino y robar arroz recién cocido, cuando el sirviente ha salido brevemente. Luego de comerlo, está a punto de dormir cuando el vecino a quien ha robado llega a su puerta y lo despierta. El terror de haber sido descubierto lo domina. El vecino, sin embargo, solo quiere hablarle de una película que acaba de ver y el recuerdo de una abundante cena, con la implícita invitación a compartir la que lo espera en su habitación. El joven dice que ha comido ya. Las últimas palabras del cuento son “buenas noches”. Cumpleaños está más cerca de la realidad que de la ficción. Durante muchos años Basheer recorrería la delgada línea que divide la miseria ligeramente tolerable de aquella que es fatal. Nacido en enero de 1908, en una familia musulmana, en el área rural de Kerala, se comprometió desde muy joven con la idea de la independencia de la India. Entre uno de sus amados recuerdos de la época se encuentra una escena de un simbolismo agudo. Durante la famosa Marcha de la Sal de Ghandi, Basheer, apenas un adolescente tendría la oportunidad de tocar los ropajes de Mahatma Ghandi. Su pasión por la causa le costaría caro. A medida en que el movimiento crecía, más pronunciada era la reacción de las autoridades británicas. Basheer se vería obligado a abandonar su tierra, dejando atrás estudios formales y familia, para recorrer interminablemente la geografía de la India e incluso del extranjero. Su naciente fama como autor, igual que al protagonista de Cumpleaños, no lo auxiliaría en su odisea. Al contrario, lo tornaría más visible, codiciado blanco de quienes habían prohibido la difusión de la totalidad de sus obras por el contenido contestatario de algunas de ellas. Basheer emergería de esos infortunios sin perder su integridad ética o su efusión por justo. Esas mismas características serían evidentes en su obra: convertido en novelista de superaba sensibilidad y cuidada técnica, sus libros reflejarían la realidad inmediata de su lugar de origen, en una visión que rescata las fugaces realidades que lo rodeaban. Así, generaciones y costumbres serían rescatadas para la posteridad. Sus historias están impregnadas de humor y son, al mismo tiempo, a veces cáusticas por la fuerza de una sátira imprescindible. A diferencia de Tagore, su legado no es abundante. Perfeccionista a ultranza, sus textos son tan limitados en número y extensión como bien labrados. Basheer puede muy bien calificarse como un humanista, en el más amplio sentido de la palabra. Ello, no solo por los valores que su prosa destila - tolerancia, patriotismo sin nacionalismos, absurdos religiosidad sin fanatismos - sino por su habilidad de tornar arquetipos locales en personajes de un brío universal, respetando y realzando sus idiosincrasias. Leer su precisa, franca narrativa, es encontrarse de repente en el centro de un mundo, en el que imperan tradiciones tal vez lejanas, pero jamás extrañas. El mundo que en que surgió su talento, señero y singular como el sur de la India y su destino. Maria Helena Barrera-Agarwal, (Equador, 1971) Advogada, especialista em propriedade intelectual pelas Universidades de Grenoble Montpellier, em França, e Pierce Law nos Estados Unidos. Um livro que irá recolher uma seleção de dez anos de seu jornalismo cultural vai ser publicado este ano. Ensayo originalmente publicado en lastra (México, marzo de 2009). Contacto: mhbarrerab@gmail.com. Página ilustrada con obras del artista Carlos Colombino (Paraguay). revista de cultura # 69 fortaleza, são paulo - maio/junho/julho de 2009 artista convidado Doble circularidad: la obra de Carlos Colombino [ensayo y entrevista] Ticio Escobar | Susy Delgado . I – Secuencias sobre la obra de Carlos Colombino: ocho estadios y un colofón Ticio Escobar 1. Preliminares: la escisión original La obra de Carlos Colombino anima el proceso entero del arte moderno en el Paraguay, del cual puede ser considerado uno de sus más significativos representantes. El artista irrumpe en la escena de las artes plásticas en un momento decisivo de su desarrollo. Poco tiempo atrás, en 1954, se había constituido en Asunción el Grupo Arte Nuevo, movimiento de ruptura con el naturalismo de ascendencia académica que dominaba hasta entonces aquella escena. El programa de la modernidad artística comenzaba tardíamente en el Paraguay, pero lo hacía identificando con claridad la cuestión central que impulsaría todo su proceso: el conflicto entre la autonomía propia de la forma, por un lado, y las urgencias desordenadas de los contenidos expresivos, por otro. Los principales representantes del Grupo Arte Nuevo, artistas destacados ya en el medio, comenzaron privilegiando los aspectos formales de la obra y proponiendo una figuración bien estructurada a través de recursos geometrizantes. En el otro extremo, Colombino trae una pintura desordenadamente dramática en la que el interés por la forma es relegado por la obsesión por los conflictos personales o la preocupación por una historia cada vez más intrincada. Su trabajo se define, así, en la misma matriz de la modernidad paraguaya, crispado desde sus orígenes por el espíritu polémico y la voluntad de síntesis que exige un tiempo apremiante. Esta ubicación le permite un lugar destacado en la problemática del arte latinoamericano, obsesionado por conciliar los lenguajes internacionales con los contenidos locales. Desvelado por las contingencias de la condición humana, Colombino comienza, así, desarrollando un expresionismo doloroso y tenso, pero, paralelamente a esta tendencia, revela enseguida una tenaz vocación de forma: por un lado, asume su propio talante, dramático y vehemente y se enfrenta a la circunstancia adversa de su tiempo (la dictadura militar, cuyo transcurso -1954/1989- coincidió casi exactamente con el ciclo de la modernidad en el Paraguay); por otro, su formación de arquitecto y su personal búsqueda de rigor le proveen de los instrumentos para desarrollar una sistemática reflexión sobre los lenguajes del arte. Después de vacilar brevemente entre una figuración descontroladamente agresiva y una imagen centrada en la organización formal, el artista define en la década de los años sesenta sus postulados centrales, capaces de sintetizar la severidad de los planteamientos y la limpieza constructiva, por un lado, con la urgencia de los contenidos existenciales e históricos, por otro. Esta posición inicial marcará toda su obra posterior y replanteará una y otra vez el sentido de los significados indóciles que desbordan los dictados de la forma y rompen sus calculadas previsiones impidiendo que se cierre ella sobre sí. 2. La insurrección de las formas Durante los primeros años sesenta, Colombino crea una técnica que será en adelante su medio expresivo básico: la xilopintura; es decir, la madera tallada y pintada o, mejor, teñida con óleos en colores que subrayan los tonos propios del material. A partir de esa técnica comienza a representar descarnados esquemas de sugerencias vegetales y orgánicas. Pero pronto se introduce en ellos un soplo de historia y de violencia que sacude las quietas estructuras y las abre liberando las energías que circulaban en circuito cerrado. Estremecidos, los andamiajes estallan, revientan en ondulaciones bruscas, formas encrespadas, ritmos enfrentados y convulsos. Esas figuras exacerbadas habían terminado hiriendo el soporte; cuando se aplaca la tormenta, las grietas y llagas de la madera invaden su superficie entera, subrayando sus estrías, deshaciendo los restos de antiguas figuras y dejándola en una indeterminación sombría y confusa (obra El estero, 1964). Es uno de los pocos momentos abstractos de la pintura de Colombino: un informalismo estremecido que pronto revelará las figuras que su interior cobija. Enseguida, los sombríos acontecimientos históricos que rondaban esta obra y le proveían de argumentos clandestinos, son admitidos abiertamente sin que esta apertura implique concesiones panfletarias: el ser humano trunco y vencido es significado a través de un lenguaje en sí mismo deshecho, amputado; las formas, los colores, la composición, la materia, no el motivo, son los protagonistas de la tragedia. Esos seres desmembrados, sombras de sí mismos, expresan, a su vez, la brutalidad de una circunstancia política que trasciende el mero hecho anecdótico, y se convierten en un alegato firme contra todas las formas de opresión y violencia que universalmente denigran al ser humano. El lenguaje utilizado para denunciar la violación de los derechos humanos en clave estrictamente visual se basa en dos recursos: una neofiguración atormentada hecha tanto de dolor como de ironía y un expresionismo mordaz y dramático, fantástico a veces, que llegó a constituir una de las opciones figurativas más válidas de la década. Ambos parten del desgarramiento de la madera, de sus cortes e incisiones para proponer un pronunciamiento grave acerca de las violaciones de los derechos humanos en el Paraguay. Volcada abiertamente a la denuncia política y la crítica social, la obra desarrollada entre los años 1965 y 1970 parece volver a privilegiar el momento expresivo. La propia técnica de la xilopintura permite una figuración agresiva y punzante: los quebrantos de la madera y la degradación de la figura humana son usados para cuestionar los crímenes de la dictadura, pero, también, para formular una crítica del establishment en su conjunto. Esta actitud testimonial y contestataria de la obra de Colombino se convierte en una coordenada indispensable para comprender un aspecto de la historia del Paraguay, marcado por miedos oscuros y desventuras y casi carente de inscripción en la historia de la plástica. Durante esta etapa, el artista expresa casi literalmente esta actitud: en obras como Juana, 1965, El hombre, 1967, o General a cuerda,1968, acusa directamente a la dictadura, aunque lo haga a través de medios estrictamente plásticos: parte de la vulnerabilidad del material, la espectralidad del color y las exigencias compositivas para proponer un pronunciamiento severo acerca de las condiciones concretas que en el Paraguay aplastaban al ciudadano y comprometían su dignidad: la tortura, el asesinato político, la delación, el miedo: manchas ignoradas por las versiones complacientes de la historia y la indolencia de las bellas formas. Estironeados entre el humor irónico y el drama, estos despiadados contra-retratos retrocederán pronto ante la emergencia de graves reflexiones. Para enfrentar la tragedia, el concepto tomará el lugar de la sátira en sus próximas obras sobre la imagen de Durero. 3. La reflexión A lo largo de los años setenta, aun preocupado por el lenguaje y sus relaciones con lo real, Colombino prosigue su actitud de denuncia, pero lo hace ahora a través de la malla de los signos y los conceptos que escinden la representación desdoblándola en imágenes y en cosas. La crítica cambia de estrategia: se vuelve más calculada, apela a alusiones, recurre al rodeo de figuras retóricas que mentan al sesgo lo prohibido. Su obra se convierte en un análisis del discurso, una gran meditación acerca del poder autoritario nombrado mediante cifras de sujeción y de abuso: las sogas, los climas sofocantes, las sillas de la espera o la condena, las heridas de la represión, las cicatrices del miedo. Pero también expresado mediante las sugerencias de un discurso roto, violentado en su devenir coherente, perturbado en la lógica de sus lenguajes. Las dos grandes preocupaciones de Colombino, el orden estricto de la forma y la dramática densidad de los contenidos expresivos, convergen así en las Reflexiones sobre Durero. Desarrollada a en la segunda mitad de la década de los años setenta, esta serie significa una gran síntesis, capaz de integrar los aspectos formales y expresivos en una imagen madura y vigorosa que tanto implica un examen del discurso como un pronunciamiento sobre la condición humana. Al basarse en el análisis de los propios medios expresivos, las Reflexiones sobre Durero suponen una discusión del sistema de la representación. Empleando imágenes del maestro alemán puede Colombino abordar la realidad a través de la mediación de los signos: su obra no representa objetos sino en cuanto ya representados por otros hombres, no designa cosas, sino nombres, símbolos, hechos culturales. Pero este movimiento analítico no queda atrapado en la circularidad del lenguaje: el discurso logra desprenderse de sí mismo, se desgarra y vuelve a enfrentarse con lo real imposible y a intentar dar noticias de las cosas desde la perspectiva despejada y penetrante de un lenguaje sometido a crítica y revisión. Trabajar la imagen de Durero permite a Colombino ingeniosos juegos retóricos a través de los cuales los distintos sentidos de la imagen rebotan y se reflejan unos a otros en el escenario ambiguo del lenguaje. Pero también le permite la instauración de una poética de la ruptura y la negación, cifra del conflicto que marca profundamente toda su pintura. Estos contenidos son reforzados tanto a través de soluciones estrictamente plásticas (las formas agredidas, los espacios rasgados, la misma madera abierta y rota) como mediante diferentes símbolos que configuran una iconografía característica suya (ataduras, máscaras, mutilaciones y tachaduras). 4. El retorno A partir de los años 80 desaparecen las figuras de Durero y quedan sólo los meros armazones descarnados, escenarios callados y desiertos. Pero esas desnudas estructuras no significan una nueva purga de contenidos demasiados espesos que pudieran enturbiar la claridad de la forma, sino un paso más en el ajuste de un lenguaje que busca profundizar sus significados propios: en esos escenarios se desarrolla un drama aunque luzcan ellos vacíos y silenciosos, aunque el actor principal esté ausente. Sobre esos andamiajes despoblados aparece pronto la confusión de cuerpos inciertos, bultos que, más adelante, se definen como seres humanos desfigurados o sombras de seres humanos semiocultos por máscaras y ropajes ambiguos. Cuando caen estos tapujos, los rostros que aparecen están incrustados en grandes moles o peñascos que configuran un paisaje petrificado, abierto sobre abismos y cielos minerales. Iniciada a mediados de los años ochenta, esta etapa (serie Paraguay) sintetiza la denuncia declarada de los sesenta con los cuestionamientos hechos desde el lugar del lenguaje o a través de hendiduras suyas (Reflexiones sobre Durero): con un nuevo sentido expresionista directo, pero cargado de reverberaciones y lances metafóricos, Colombino nombra al sesgo los fantasmas nocturnos que acechan más allá de la forma. Al final, sólo quedan la figura humana, la estructura pelada que le aprisiona y la esperanza terca que le sostiene. Colombino trabaja estos elementos sucintos mediante dos operaciones básicas. La primera de ellas diagrama el guión de radicales encuentros/desencuentros ocurridos en el ambiguo teatro donde ocurre el drama humano: la posesión irrealizable que promueve el deseo, la amenaza del último reducto de la soledad, la violencia apostada en los bajos fondos del sujeto quebrantado y el potente lugar vacío de la redención: la escenografía remota de toda representación humana (El abrazo,1988, Los caníbales,1990, La violación,1989). 5. El sistema de los objetos La segunda operación, desarrollada a lo largo de la década de los noventa y comienzos de la siguiente, convoca el objeto, el puro utensilio separado de escalas corrientes, destinos propios y sentidos claros: la cosa monstruosa que reclama ser nombrada más allá de los bordes del lenguaje (La silla,1993, El zapato rojo,2000, Asiento ritual,2003). Para hacerlo, Colombino apela con libertad a todas las posibilidades que presenta la madera, abre la expresión y permite el concepto. Acorralada por la manifestación contundente de las cosas más cotidianas, la forma se despoja hasta el límite y lacera sus carnes vegetales en un movimiento feroz que posterga las funciones utilitarias y arruina todos los cálculos. Ahora, la figura humana se ha alejado una vez más, pero su propia ausencia sigue remitiendo al conflicto que la atosiga y fundamenta: la tensión entre libertad y necesidad, entre estructura e historia. Desnudas de todo cometido, más allá de cualquier explicación, las cosas arriesgan sus nombres banales y devienen formas aparentemente ajenas a cualquier proyecto del hombre, pero comprometidas esencialmente con sus oscuros designios esenciales. Más allá del alcance del símbolo, la mole petrificada del objeto se abre y expulsa las potencias revueltas de sus furias y sus sombras que se vuelven sobre sí, se enredan turbulentas, y unas a las otras se atraviesan o se tragan. Hasta recuperar la calma de sus presencias irrefutables. 6. Lo bucólico bajo sospecha Ambas series descritas bajo los dos últimos títulos (la serie Paraguay y la referente a los objetos) se encuentran animadas por la crispación formal y empujadas por la violencia de lo que espera ser dicho desde la otra orilla de los signos. Estas series bien pueden ser consideradas como agresivo recurso de un lenguaje que, sofocado por la densidad de sus propias tramas, debe volverse sobre sí y rasgar con saña el vendaje de mil signos sedimentados para decir el nombre imposible, para señalar la verdad en retirada. Ésta es una salida: echar una sonda que perfore los estratos del símbolo y apunte a tocar, a rozar por un instante quizá, lo que está más allá de su alcance. Es esta una operación incisiva, sangrante, que convulsiona la figura y sacude los tapujos de la forma. Desde 2002, la serie que, abusivamente, llamo yo Areguá asume otra estrategia. Si las primeras podían resolverse en grito, ésta bordea el silencio, requiere la pausa, el ritmo que instaura el revés de lo nombrado. Después de tres años de vida en el campo, el artista se abre a otras percepciones y acoge las atmósferas sutiles y los tonos leves que, tanto como las figuras excesivas del paisaje, condicionan su mirada diaria. La poesía instala una tensión entre ausencia y desmesura. Y lo hace mediante el rodeo de lo que calla: de lo que impone su presencia y no alcanza a ser nombrado. Inmóviles, las compactas moles de minerales, de cuerpos petrificados o de historia aglomerada, revelan por un instante el aura lánguida de una amenaza. Son ruinas melancólicas de ciudades, residuos de montañas devastadas, estructuras ideales: grandes paradigmas oxidados. Son bloques enfrentados a la contingencia de una lluvia mansa o el presagio de una penumbra súbita: los lindes de aquello que, por leve o efímero (o por excesivo) no puede ser expresado y deviene cifra errática, advertencia inquietante. Esta serie trabaja el trance de un entorno natural cotidiano nublado en algún momento por la presencia de signos a su vez inocentes y aciagos: los indicios casi imperceptibles de lo precario. El viento primero o las luces nocturnas que perturban la vigilia del cerro; su agonía quizá: o su desquite (La luna secuestrada por el Cerro Koï, 2002, casi demolido éste por la rapiña desarrollista). Un árbol de duros cristales, incierto en sus bordes crispados. El tajo que hiende la madera (la roca) para marcar el linde, la meta o el tope que, al final (en cuanto final) son hitos igualmente irrefutables. O la lluvia en suspenso, fosilizada: en vilo para siempre. O bien, el pliegue que frunce o dilata la piedra y sugiere la oquedad o la turgencia de los sexos. O la memoria extraviada que adultera el diseño de los montes para convertirlos en utensilios descomunales, en figuras desmedidas, vagamente humanas. Posado sobre la mole, el instante la estremece con la certeza del tiempo: con la sospecha del término. Rozado, manchado, por su misma sombra, cada objeto traiciona su propia función y cobija sentidos forasteros. Lo siniestro, dice Freud, es lo familiar levemente desplazado, desarraigado por la acción de lo extraño: lo que profana el horizonte sereno de la casa con cifras ajenas a la vocación del paisaje. 7. Digresión Los aguafuertes presentados en esta muestra, desarrollados entre 1995 y 2002, corresponden a un camino paralelo abierto en la obra de Carlos Colombino o un atajo que, a la larga, habrá de desembocar en el trayecto central de una figuración que no por trashumante olvida la fidelidad a un rumbo solo. O quizá supongan un alto: el mirar desde un rellano o una hendidura abierta en la madera o el pensar desde el detrás de una escena. Por un lado, estos grabados recogen los puntos centrales de una iconografía obsesiva que no deja tregua y de trazos demasiado profundos para ser borrados: de signos vueltos cicatrices, de imagen convertida en marca. Entonces, aparecen desde el fondo los dibujos vehementes, apurados; las líneas agresivas y enredadas, las formas contundentes. Y reflota, desde el detrás del principio, el tema apremiante de la condición del hombre condenado y redimido por el límite. Por otro lado, los aguafuertes incorporan recursos técnicos y expresivos nuevos y acogen, desde, ellos, otros significados. O, mejor dicho, otros aspectos de los mismos sentidos que indican aquel trayecto primero. Es que estas imágenes se basan en procedimientos recientemente incorporados por el artista en el taller de Oscar Manesi en Madrid. Colombino parte ahora de un boceto; un dibujo provisional trazado libremente como rudimento de una obra posterior. Proyectado más allá de sus propias medidas a través de una ampliación mecánica, ese esbozo se vuelve una figura autónoma aunque arrastre en su apariencia los indicios de su origen precario y de su sino incompleto. Los procedimientos diversos del grabado en metal permiten explorar el potencial expresivo de texturas y manchas corroídas: de colores ampollados y de líneas mojadas que, al avanzar sobre el espacio entero del papel, cubren sus silencios y velan sus blancuras y sus pausas con la maraña de una superficie enredada y un espacio sombrío poblado de claroscuros y dimensiones vacilantes. Pero la relación imagen-papel también permite al artista una nueva proyección sobre el espacio: recortados en sus siluetas, los aguafuertes pierden su calidad bidimensional y actúan como figuras de un montaje complejo (El secadero, 2002) que se vincula con la serie que será tratada bajo el próximo título. Estas experiencias permiten asumir otra posición desde la cual se visualizan significados nuevos. O, como queda dicho, momentos distintos de sus significados de siempre que giran en torno a obsesiones antiguas conectadas con el sentido de la existencia y la paradoja de la muerte. El rasgo apurado de aquel boceto se ha convertido ahora en protagonista del acontecimiento. Faro, falo o mole; torre, tótem incierto. Tentáculo, seudópodo, apéndice poderoso de algún viejo dinosaurio, el icono recortado del dibujo es ahora signo de agresión o erguida metáfora del sexo; es indicio arcaico de vigor, ambiguo instrumento de violencia. Las figuras tomadas de otras figuras también aluden al doble juego del amor y la muerte, al dintel del erotismo y al asombro de la ausencia. Es que la reflexión vehemente de Colombino enfoca otros aspectos del drama humano: sobre el fondo de un mismo argumento aparece iluminado ahora el escarceo entre la pulsión del principio vital y la suerte oscura que le asedia siempre. 8. Sitio de bastidores Hay otro recurso que, entre 1993 y 1995, emplea Colombino, paralelamente a otros expedientes, para explorar el después del límite. Recorta las maderas presentándolas no como espacios que, vueltos sobre sí, representen volúmenes y profundidades, sino como placas recortadas cuyas siluetas delatan la bidimensionalidad del soporte y sugieren planos. Planos ambiguos: cuerpos aplastados, tal vez que se instalan en lugares específicos levantando señales y proyectando sombras. Colombino no llama “instalaciones” a estas propuestas: “ellas arman más bien escenografías”, dice. Pero es indudable que esas imágenes vigorosas discuten con el sitio que las cobija y generan con él un vínculo tenso que transforma espacio y figura y reenvía ambos a otros ámbitos: a otras instalaciones o escenografías. El montaje se encuentra organizado a partir de la presentación de grandes figuras recortadas en chapas de madera y apoyadas sobre la pared de modo tal que se encuentren suficientemente separadas de ella como para proyectar sombras, crear distancias y marcar sus contornos estrictos. Así, las diversas estructuras, frágiles, potentes, se yerguen acorralando el sitio del tablado y amojonando el lugar del rito. Son figuras que movilizan significados intensos, duros. Así, el extraño armazón de Petit morte, 1993, sugiere el término de una exhalación de amor o de muerte: la vibrante sacudida final coagulada en su sazón. La compleja -la incómodaconstrucción titulada Simulacro I, 1993, menta poliedros melancólicos o arquitecturas remotas cuyas tentáculos, seudópodos o raíces, reptan sobre el suelo perturbando la lógica del espacio. Simulacro II, 1993, representa un gran arco que derrama la mancha oscura de su presencia-ausencia: un reflejo imposible que trastoca los lugares del objeto y su imagen. La Cruz de San Andrés, 1994, se constituye tanto en una firme señal de tachadura como en un signo de suplicio y redención y se vincula con el terrible estandarte creado poco antes por el artista: la cruz levantada por una marcha ciudadana como símbolo de protesta contra la represión a los campesinos sin tierra. Cuando Colombino interconecta estos dos elementos, provoca diversos cortocircuitos: la fuerte carga de cada uno de ellos interfiere, refuerza o repele la del otro, libera energías y puebla la escena de corrientes y estallidos, de silencios. Y el espacio entero queda perturbado por las fuerzas redobladas de esas formas inexplicables que intercambian sus enigmas y sus poderes desde cada posición distinta que el espectador asuma al recorrerlo. 9. Breve colofón (abierto) Aun entrecortada y tantas veces desdoblada, la obra de Colombino se afirma siguiendo rigurosamente un derrotero, tanteando con ansiedad el rumbo esquivo del sentido: la cifrada figura del todo. Por eso, su extenso trabajo puede ser leído desde la clave de esa búsqueda; una búsqueda paradójica, que tanto quiere revelar la belleza del orden como nombrar el flujo turbio de la historia. Es indudable que esta obra de Colombino debe inventariarse entre esas formas excepcionales que acompañan -apremiantes, raras- el devenir de nuestra cultura y pueden, de pronto, iluminar su marcha discontinua, revelar el mapa de un trayecto confuso y señalar un rumbo posible. Oscilante, su propio itinerario es fundamental para sugerir la dirección oscura de la historia del Paraguay. Su poética desgarrada y su discurso severo se vuelven cifras indispensables para otear un paisaje quebrado e imaginarlo entero: para marcar uno de los itinerarios más firmes que ha cruzado nuestra cultura. II – Carlos Colombino, Pintando una tierra devastada [entrevista] Susy Delgado Figura capital del arte paraguayo, Carlos Colombino inició su trayectoria en los años 60, trazando desde entonces una brillante estela de singular sello estético. Mostrando a lo largo de años y obras un tono crítico que pintó con crudeza las profundas lacras de un país devastado por la codicia y el miedo, este artista sin concesiones fue recogiendo a lo largo de años y obras el reconocimiento de la crítica más exigente –muestra de la cual ofrecemos ejemplos en este dossier-, así como las más altas distinciones que se otorgan en el campo del arte. Entre estas últimas se inscribe el recientemente otorgado en Casa de las Américas, en el marco de la Bienal de La Habana. Respondiendo al requerimiento de Agulha, sumamos esta breve conversación al prisma de acercamiento al gran creador paraguayo, preparado para estas páginas virtuales. [SD] SD Tu obra es única y original desde la elección del soporte que aloja los signos expresivos y la técnica desarrollada a partir de este encuentro. Hablanos un poco de ese signo y soporte de signos: la xilopintura. CC “Trabajé desde 1962 en la técnica que había creado y a la que denominé xilopintura. Al ver los tacos xilográficos que después de limpios quedaban en el taller de Olga Blinder [1] arrimados a las paredes, sentí la necesidad de usarlos no como un medio para obtener copias sino como un fin en sí mismo. Descascarar las láminas de una terciada, encontrar su interior, herir la materia. Buscábamos en ese tiempo nuevos materiales, y mi incapacidad de pintar me indujo a buscar recursos paliativos”. SD En los años 60, podríamos hablar del artista frente al “dolor paraguayo”. La dictadura y sus avatares: “Juana”, “Los embolsados”, “El torturado”. La ironía como bálsamo: “El general a cuerda”, “El demagogo”. CC “En 1965 pinto “Juana”, una enorme obra basada en el asesinato de la mujer de ese nombre, perpetrado por la dictadura de Stroessner. Me ocupé de esa tragedia durante toda esa época, incluso le insuflé al final esa ironía como bálsamo, como lo llamas, en “El general a cuerda”, “El mariscal del aire”, “La mujer de la hoja” o “El cosmonauta”. Obras que se encuentran hoy en el Museo del Barro de Asunción, en el Berardo Museum de Lisboa y en el Blanton Museum de la Universidad de Texas”. SD Vayamos a los años 70. La serie “Durero”. La refiguración, las formas geométricas. El artista revela al arquitecto en la serie de los “Poliedros”. CC “A comienzos de la década del 70 hice un cuadro cuyo nombre se relacionó un poco después con la muerte de Soledad Barret en Pernambuco. Más, harto de esta suerte de violencia y estupor en que me había empantanado con esa refiguración expresionista, me guió Durero, pasando por un lavado profundo: las reflexiones que trabajé todos esos años. Y que me siguieron guiando en toda esa transición que representó “las escenografías”, “los poliedros de la melancolía”, los personajes descabezados o atados.” SD Y en los años 80: Las ataduras y las grietas. Las máscaras. El lenguaje simbólico: “La máscara”, “La silla”, la serie “Paraguay”. La piedra ya como personaje y símbolo de la impotencia y de la muerte. CC “En el 80 surgió ese lenguaje simbólico con obras como “La máscara”, “La silla”. En 1986 apareció la serie “Paraguay”. Fue cuando realicé la xilopintura “La piedra ritual”. Allí sobrepuse la serie del 60, las plataformas de Durero y como en ese momento estaba realizando el acopio de las máscaras del Kambá’ra angá, también ellas entraron en esa síntesis que llamé de ese modo: “Paraguay”, como bien dices, es un personaje atrapado en formas pétreas, símbolo de la impotencia y de la muerte. SD Seguimos tu trayectoria: Años 90. Areguá [2]. La naturaleza: los árboles, la lluvia, los detritos. Los signos premonitorios: “Los caníbales”, “La próxima cena”. CC “La serie “Paraguay” concluye con la caída de la dictadura y entonces creo “La próxima cena”, un alegato que predice la era de la transición, desatada como escena de feroz canibalismo político. Después, al mudarme a Areguá, ingresan en mi prontuario las voces de la naturaleza, así llegan “El árbol”, “El pañuelo”, “Las lluvias” y los paisajes. Aunque no dejo de ver la tragedia de nuestros países. SD Desde el 2000 el artista centra su mirada en las sociedades capitalistas. Ahora es el dolor de nuestra América y de países como Irak, víctimas del capitalismo salvaje y la guerra sucia, el disparador de su poética visual: “We are América”, “La gran hamburguesa”, “La condoleza”. CC “La tragedia de nuestros países y los ataques del capitalismo salvaje sobre los países de la periferia, como es el caso de Irak. La serie “We are América” (actualmente en el Museo Oscar Niemeyer), que se traduce en obras como “La condoleza”, “La gran hamburguesa”, “Los torturados”, “El arbolito de Bush”. SD Y llegamos a los últimos trabajos. Danos una breve mirada retrospectiva. CC “Por fin, la tierra desvastada nos deja “Los detritus”, “Las piedras”, una de las cuales está en el Molaa de Los Angeles. Una piedra olvidada del Cerro Koí [3] de Areguá, como recuerdo de un planeta vacío”. NOTAS 1. Olga Blinder: artista plástica y educadora por el arte 2. Areguá: pequeña ciudad, de comunidad rural, a pocos kms.de Asunción. 3. Cerro Koi: Patrimonio geológico de la Humanidad. Ticio Escobar (Paraguai, 1947). Adrogado, filósofo e crítico de arte. Pesquisa e teoriza sobre a diversidade cultural latino-americana. Texto escrito como apresentação da exposição Colombino: resumen de una antología, recentemente realizada no México. Susy Delgado (Paraguay, 1949). Prêmio Rádio França Internacional e Prêmio Municipal de Literatura. Jornalista, narradora e poeta bilíngüe (espanhol e guarani). Fundou e dirige a revista Takuapu. Organizou uma destacada antologia de literatura paraguaia e tem publicado livros também na área de literatura infantil. Entrevista realizada especialmente para esta edição da Agulha. Contato: susydelus@yahoo.com. Página ilustrada con obras del artista Carlos Colombino (Paraguay). banda hispânica Endereço postal, expediente e equipe argentina bolívia chile colômbia costa rica honduras méxico nicarágua panamá paraguai peru cuba porto el rico salvador r. dominicana equador uruguai espanha guatemala venezuela dossiês antología de la literatura paraguaya (teresa méndez-faith) césar dávila andrade (equador) jorge luis borges (argentina) juan antonio vasco (argentina) . Editorial "Hay cosas mágicas!" Escutei isto da boca de um poeta, o argentino Horacio Salas, na abertura do I Encontro de Poesia Latino-americano, em Manaus (novembro de 2000), mas o encontro é história de que falo em outra oportunidade. Dou-me conta, sim, das coisas mágicas de que trata o poeta Salas. Inicialmente, num dia não muito distante, do fundo da revolta da orfandade à língua portuguesa, o surgimento do Jornal de Poesia. Em pouco tempo, mais de 2.000 poetas da lusofonia no ar. Depois, a constatação de que o mundo lusófono seria muito pouco. Ibéricos, pois! Navigate, Hiberia! Navigamus. Um dia, Hiberia, era mar, um mar de poente, e me arribei de ti. Assim foi que escrevi em Salomão. Agora, a nova mágica: a ampla navegação ibérica, não apenas lusa, mas ibérica, este mundaréu de mar e chão de 1 bilhão de habitantes irmanados pela fala quase a mesma. E, quem sabe, um dia cheguemos à outra península, Latium, onde tudo, de nossa banda, principiou. O Jornal de Poesia não poderia ter feito escolha melhor para cuidar da Banda Hispânica: o poeta, crítico e tradutor brasileiro Floriano Martins, ele quem iniciou, ainda no papel e tinta, este trabalho que aqui faremos no virtual. Quando toda a intelectualidade brasileira virava as costas a este mundo novo, Floriano era um dos poucos que se correspondia com os poetas da América Latina. O projeto é fazermos a integração inicialmente com os hispânicos do Novo Mundo, tão próximos e inexplicavelmente tão distantes. Dentro de 1 ano queremos ter aqui pelo menos uns 30… 300… 3.000 poetas! Não há limites! Navigare necesse. Estamos apenas iniciando. Se vai crescer? E você tem dúvidas? A proposta inicial do JP era uma meia centena de poetas… Fechamos o 2000 com 2.007! E a Banda Hispânica é muito maior… aguardem. O projeto de Floriano Martins engloba tanto a reflexão crítica sobre os inúmeros poetas hispano-americanos quanto a mostra de sua poesia. A laboriosa equipe da Banda Hispânica é composta exclusivamente pelo tradutor, ensaísta, crítico de literatura, biógrafo e poeta, do Ceará para o mundo, o Floriano Martins. Nem o Jornal de Poesia, nem o seu editor, Soares Feitosa, interferem em nada na Banda Hispânica. Escreva para o Floriano. Soares Feitosa Revistas de cultura são o grande bálsamo propiciador de um diálogo imediato entre leitor e produção cultural. Em alguns momentos funcionam como verdadeiros manifestos de uma geração. Em outros, atuam como uma deusa de mil braços e mil olhos. Em sociedades definhadas por uma cultura monetária, firmam o único elo possível entre dois pólos indispensáveis. Na América Latina assumiram conotações diversas no decorrer do século XX, definindo posições tanto estéticas quanto políticas, segundo as circunstâncias de seu cultivo. A criação de um projeto como Banda Hispânica se aproxima desse universo, podendo ser visto como uma revista eletrônica, não no sentido periódico em que se costuma observar essa aventura editorial, mas no de difusão sistemática de focos de cultura que não habitualmente dialogam entre si. Importa-nos criar uma condição de conhecimento mútuo, saltando fora da corriqueira falácia em defesa de uma identidade cultural. Interessa, isto sim, acentuar a multiplicidade, dando voz às manifestações poéticas relevantes em todos os 19 países que constituem a América Hispânica, não sem incluir a própria Espanha, de radical importância para o desdobramento dessas culturas. Banda Hispânica compartilha a idéia de José Martí de que "conhecer diversas literaturas é a melhor maneira de livrar-se da tirania de algumas delas". O projeto define-se como a criação de um banco de dados permanente enfocando inúmeros aspectos ligados à poesia na América Hispânica e na Espanha. Seu desdobramento não está atrelado a um caráter periódico, mas sim à participação de todos aqueles que tenham contribuições relevantes a apresentar. É nossa idéia criar condições diversas de diálogo, para tanto recuperando textos críticos publicados na imprensa, ao longo de décadas, ao mesmo tempo em que abrigando depoimentos de poetas e críticos, entrevistas, tudo quanto se relacione com a abrangência proposta. Desde já conclamamos a todos os editores de revistas de cultura que nos enviem, por meio eletrônico, textos vinculados ao tema, matérias circuladas em suas publicações, dignas de um acesso permanente, para que somemos esforços no sentido de burilarmos uma grande mesa de diálogo em torno da poesia hispano-americana. Banda Hispânica será sua permanente revista eletrônica, lugar de encontro com a diversidade cultural de todo um continente. Sendo projeto original do Jornal de Poesia, encontra-se também vinculada à revista Agulha, em um enlace que reforça a idéia de que temos que concentrar forças em torno de projetos que possam contribuir para o enriquecimento e difusão de nossas culturas. Floriano Martins projeto editorial do jornal de poesia editor geral e jornalista responsável soares feitosa coordenação editorial da banda hispânica floriano martins a banda hispânica conta com a ajuda valiosa dos correspondentes alfonso peña (costa rica), alfredo fressia (uruguai), américo ferrari (peru), bernardo reyes (chile), carlos m. luis (uruguai), carlos véjar (méxico), eduardo mosches (méxico), edwin madrid (equador), francisco morales santos (guatemala), harold alvarado tenorio (colômbia), jorge ariel madrazo (argentina), jorge enrique gonzález pacheco (cuba), josé ángel leyva (méxico), josé luis vega (porto rico), david cortés cabán (porto rico) e maría antonieta flores (venezuela) os dados curriculares de todos os poetas constantes da banda hispânica são de responsabilidade dos autores, cabendo unicamente aos mesmos quaisquer solicitações de alterações e atualizações. os poetas hispano-americanos que desejem participar da banda hispânica devem enviar, por meio eletrônico, seus dados curriculares atualizados, seleção de 5 poemas e resposta ao questionário abaixo: 1. ¿Cuáles son tus afinidades estéticas con otros poetas hispanoamericanos? 2. ¿Cuáles son las contribuciones esenciales que existen en la poesía que se hace en tu país que deberían tener repercusión o reconocimiento internacional? 3. ¿Qué impide una existencia de relaciones más estrechas entre los diversos países que conforman Hispanoamérica? 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La revista es editada por los poetas dominicanos: Frank Báez y Giselle Rodríguez Cid. Función y Principios. La función de la revista Ping Pong es suplir una necesidad que tienen los editores de conocer poesía, de debatir las últimas escuelas y tendencias poéticas, y de poder difundirla en un medio que día a día se va tornando más necesario e importante. Para nosotros la función de una revista de literatura es ser una ventana, una especie de muestrario de textos que se desarrollan plenamente en libros. Es un medio de divulgación, de encuentro, es como las Llegadas y Salidas de los aeropuertos, donde la gente entra y sale continuamente con algo entre las manos. Estructura de la revista. La revista Ping Pong está dividida en un editorial, en una sección de poesía en español, una sección de artículos relacionados con la poesía, una parte de versiones o traducciones de otra lengua al español y un archivo desde el cual se puede acceder a los números anteriores de la revista. En cada número se trabaja con una antología dedicada a un país o un autor determinado. Sin embargo, cada número tiene poesía y artículos independientes, de manera que siempre mantengan su carácter heterogéneo. Conquistas y Objetivos de la revista. Con el tiempo la revista se ha convertido en un referente de la poesía que se está realizando internacionalmente. Gracias a su independencia, sirve también como puerta para poetas y escritores jóvenes que dan sus primeros pasos en el mundo literario. Muchos de estos escritores cuando sacan sus primeros libros ponen entre sus referencias de previas publicaciones a la revista Ping Pong. A pesar de todo esto, el objetivo primordial de Ping Pong sigue siendo el de conocer la poesía que se realiza actualmente y ayudar a divulgarla con un cierto rigor. Envío de materiales. Estamos abiertos a todas las colaboraciones. Tan sólo tenemos dos requerimientos: - Que los textos guarden estrecha relación con la poesía. - Que sean escritos en español (aunque esto no excluye los textos traducidos a nuestro idioma.) Nos interesan poemas, textos poéticos, aforismos, prosa poética, poesía visual, ensayos, artículos, reseñas, crónicas, traducciones, entre otras cosas. También nos interesa recibir audio o multimedia de carácter poético, así como fotografías, dibujos, pinturas y collage para acompañar los textos. Respecto a las colaboraciones de poesía, por favor envíen una muestra de al menos diez poemas, acompañada de una breve biografía donde se detalle fecha y lugar de nacimiento, publicaciones y residencia actual. En las colaboraciones de traducciones, enviar una breve nota sobre el autor o autora traducido, acompañado de una breve biografía del traductor donde se detalle fecha y lugar de nacimiento, publicaciones y residencia actual. En las colaboraciones de ensayos, reseñas o artículos, acompañar el texto de una breve biografía del autor donde se detalle fecha y lugar de nacimiento, publicaciones y residencia actual. También señalar notas biográficas y enlaces que aparezcan en el texto, así como cualquier otra referencia que sea importante agregar. Hay que tener en cuenta que la publicación de los textos va a depender del juicio y el criterio de los editores. Lo que implica que estos han de mantener una comunicación fluida y constante con los colaboradores. El envío de materiales y libros se puede realizar a través de la dirección de la revista: revistapingpong@gmail.com y a través de nuestra dirección física: Edificio 4 Manzana 6, Apartamento 204, Residencial José Contreras, Santo Domingo, República Dominicana. PING PONG Dirección: Frank Báez y Giselle Rodríguez Cid revistapingpong@gmail.com Edificio 4 Manzana 6, Apartamento 204, Residencial José Contreras Santo Domingo, República Dominicana . .. revistas em destaque plebella - revista de poesía actual (argentina) Historia - Número a Número Plebella, revista de poesía actual, es una idea de Romina Freschi. Nace en el año 2003, como parte del proyecto Cabaret Voltaire. A fines de ese mismo año el proyecto se termina. Los miembros de Plebella (Romina Freschi, directora, Adrián Pedreira, gestión y proyectos, Eduardo Zabala, diseño e ilustraciones) deciden continuar con el proyecto de la revista y en Abril de 2004 sale el primer número de la revista. La idea de Plebella es constituir un espacio de crítica de la producción actual exclusivamente. Tiene dos coordenadas que focalizan su contenido y estas son tiempo y lugar: últimos 10 años, Argentina. No hay otra revista de poesía que se dedique a este tipo de contenido. El nombre Plebella, sintetiza una voluntad de la revista, de democratizar el objeto poesía y hacerlo accesible a nuevos sujetos sociales y modos de vida para crecer intelectual y sensitivamente. Discursivamente, se opone a los discursos periodísticos y académicos que suelen pronunciarse con falsa altura sobre la poesía y privilegia la mirada de los artistas que construyen ensayos con lenguajes personales y originales. Desde el punto de vista del diseño, la revista cumple con ser bella y a la vez, accesible, a través de las ilustraciones de Eduardo Zabala y de la impresión en papel obra. El diseño realza texto e ilustraciones por separado, permitiendo profundidad en la lectura de cada trabajo. Todas las notas e ilustraciones publicadas en Plebella son materiales originales. El primer número sale con artículos de César Aira, Tamara Kamenszain, Daniel Link y Karina Macció, más el registro de las actividades de Cabaret Voltaire: las Entre-Vistas, el proyecto Living de la Poesía, la convocatoria El vivo retrato. El vivo retrato se convirtió en una sección fija de la revista hasta el número 10, como la sección de reseñas (amplia sección donde se comentan críticamente libros y eventos de reciente edición y realización) y la de datos concretos (direcciones, sitios webs, concursos, fechas de inscripción, etc). Plebella nro. 1 se presentó en varios espacios, entre ellos, Estación Alógena y Centro Cultural Rojas con performances de vanguardia. El número 2 de Plebella (Agosto 2004) incluye un célebre reportaje al poeta Leónidas Lamborghini, una investigación en torno al taller de la unidad 31 en Ezeiza y además dos ensayos que marcan la diferencia en la crítica de la poesía contemporánea: De la pobreza una estética, de Anahí Mallol, y Adiós a todo eso, de Ná kar Elliff ce, ambos poetas y críticos de nuevas generaciones (nacidos en los 60) y que logran trascender los supuestos de la crítica de poesía más allá de los noventa y del realismo. Plebella nro. 2 se presentó también en el Centro Cultural Ricardo Rojas donde realizó un debate: El poeta argentino de hoy, con la presencia de Osvaldo Aguirre, Mercedes Roffé, Carlos Battilana y María Medrano. El número 3 de Plebella (Diciembre 2004)realiza una investigación sobre Washington Cucurto con un reportaje exclusivo, reseñas y ensayos. Además plantea la cuestión poética desde el lado editorial con una conversación con el poeta editor de Tsé Tsé, Reynaldo Jiménez. En este número 3 se edita además la primera parte del debate El poeta argentino de hoy. Este número se presenta en la Estación Alógena y también en la ciudad de Rosario, con la presencia de Washington Cucurto, Mercedes Gomez de la Cruz y Francisco Garamona. El número 4 de Plebella (Abril 2005) realiza una amplia cobertura del Festival de la revista Tsé tsé. Incluye una reseña del festival y reportajes a dos de sus invitados: Roberto Echavarren (Uruguay) y Cecilia Vicuña (Chile). El ensayo "Escrito de memoria" de Gabriel Yeannoteguy abre la cuestión de la experiencia política para quienes vivieron su infancia en los años '70 y '80, proponiendo reflexiones y preocupaciones generacionalmente novedosas. En este número aparece el primer ensayo de la directora de la revista, Romina Freschi, "Neobarroco, verdad y ficción" quien hasta el momento había realizado solamente reseñas breves, entrevistas o trabajos de gestión. Se publica además en este número la segunda parte de El poeta argentino de hoy. El número 4 se presenta en el Centro Cultural de España en Buenos Aires, con una performance con la presencia de Francisco Garamona, Gabriela Bejeraman y Roberto Echavarren. En junio de 2005 Plebella participa del Festival Macadamia, de artes combinadas y realiza presentaciones en el Centro Rojas y en el Museo de Arte Contemporáneo de Rosario. El número 5 de Plebella (Agosto 2005) realiza dos movimientos importantes para la revista: el aumento de páginas y el salto a la venta en kioscos. En este número se publica un ensayo muy polémico del poeta Daniel Freidemberg (es su primer ensayo en torno al tema luego de su desvinculación con el Diario de Poesía) que realiza un recorrido personal sobre la poesía y la narrativa de los '80 y '90. A su vez se publica un ensayo del artista plástico Fernando Fazzolari que responde a y continúa las inquietudes y cuestiones planteadas en el debate El poeta argentino de hoy. En este número además la revista se pronuncia en contra de las acusaciones que los medios realizaron en torno al arte en el caso Cromañón. Se publican por primera vez poemas de la sobreviviente de Cromañón la poeta Juana Roggero (quien más tarde formará parte del staff). La presentación del número 5 se realizó en el Centro Cultural Borges con la presencia de Arturo Carrera, Fernando Fazzolari y Daniel Freidemberg. Ramona Plebella En noviembre de 2005 Plebella edita junto a Ramona el número 56 de Ramona dedicado a la poesía y sus límites. Escriben ensayos interdisciplinarios: Nákar elliff ce, Daniel Muxica, Fernando Fazzolari y Diana Aisenberg. A su vez se edita el poema Performance de Roberto Echavarren, una selección de poesía actual: Adriana Kogan, Andrés Kurfirst, Almita y Pol Asenjo, un ensayo sobre poesía actual de Romina Freschi y un debate entre los editores Romina Freschi, Adrián Pedreira y Rafael Cipolini. Plebella, revista de poesía actual, a su vez interviene a Ramona, revista de artes visuales sin imágenes, con ilustraciones de Eduardo Zabala que conectan el diseño de Plebella con el de Ramona. Ramona 56 se presentó en la estación alógena, con lecturas de Roberto Echavarren, Adriana Kogan y Na kar elliff ce. El número 6 de Plebella (Diciembre 2005) incluye un reportaje al poeta estadounidense del movimiento L=A=N=G=U=A=G=E Charles Bernstein y un ensayo sobre el cubano Lorenzo García Vega por Rafael Cippolini, ambos visitantes de la ciudad ese año. Ensayos de Romina Freschi y Gabriela Bejerman sobre escritoras argentinas actuales. Una nota de Luciano Lamberti sobre el panorama poético de Córdoba. Además la transcripción de un debate organizado por Plebella a puertas cerradas en Belleza y Felicidad con editores de proyectos independientes de los 2000: Gog y Magog, Zorra, Color Pastel, Golosina y Crudo. La revista se presenta en Estación Alógena y en La pampa. En Diciembre de 2006 Plebella participa del Encuentro de Revistas Literarias en Santa Rosa, La Pampa. El número 7 de Plebella (Abril 2006) realiza una exhaustiva cobertura del Encuentro de Revistas Literarias realizado en Santa Rosa, La Pampa. Además una respuesta crítica de Roberto Cignoni al tratamiento de la poesía argentina actual en el suplemento de cultura Ñ, más una antología de poesía argentina actual preparada por Plebella. Entre las reseñas sale el artículo Libros de Verano, por Romina Freschi, donde se comenta la Antología de poesía peruana del siglo XX, El libro de unos sonidos, con poemas escogidos de la antología. Además una antología de poesía mexicana actual preparada por la poeta y editora mexicana Rocío Cerón. La antología se ve ampliada en Internet. El número 7 de Plebella se presenta en el Centro Cultural Recoleta, con el inicio de la nueva etapa del proyecto Living de la Poesía (www.livingdelapoesia. com.ar), que Plebella auspiciará todo el año y con el que realizará lecturas en distintos espacios de la Ciudad, entre ellos el Centro Recoleta, la Casa de la Poesía, la librería Prometeo y la Casa Joven de Palermo. El número 8 de Plebella (Agosto 2006) realiza una crítica del libro editado por Jorge Fondebrider para el Centro Cultural Ricardo Rojas Tres décadas de poesía argentina y de su presentación (el libro contiene dos artículos publicados en Plebella, pero aun así, su visión es cerrada y abunda en intereses lejanos a la poesía). Además un ensayo sobre Haiku por Mariano Ducrós, una entrevista al sociólogo y artistas Roberto Jacoby acerca de las letras de canciones realizado por el músico Pablo Dacal, donde surgen importantes preocupaciones en torno a la poesía del rock. Finalmente una investigación sobre Festivales de Poesía que se realizan en la Ciudad de Buenos Aires. Plebella 8 se presentó también dentro del marco del Living de la Poesía. En Octubre de 2006 Plebella pasa a colaborar en el Festival Internacional Lecturas de Primavera dependiente del Gobierno de la Ciudad, realizando tareas de gestión y también de coordinación de mesas y traducciones literarias (+ info: http://www. lecturasdeprimavera.blogspot.com). En Noviembre de 2006 participa del I Encuentro de Revistas de Poesía en la Biblioteca Nacional (www.lasinsulas.blogspot.com) El número 9 de Plebella (Diciembre 2006) registra mucho del trabajo realizado en el Living de la Poesia e incluye reportajes a Claudia Masín y Hugo Mujica(+ poemas inéditos), ensayos sobre Luis Tedesco y Hugo Padeletti (con muestras de su obra plástica), y un dossier sobre la performer y poeta cordobesa Cuqui. Además, la performer Blanca Lema escribe el primer ensayo que relaciona la poesía con la danza butoh, con traducciones inéditas de maestros japoneses y textos poéticos de bailarinas de butoh, además de poetas consagrados. Plebella 9 se presentó también dentro del marco del Living de la Poesía. El número 10 de Plebella (Abril 2007) celebra el tercer año de la revista con textos especialmente escritos para la ocasión por varios de sus colaboradores. Además un dossier de cobertura del festival Lecturas de Primavera, con reportajes y poemas traducidos de los invitados Deborah Meadows (USA) y Mauro Faccioni Filho (Brasil). Además el texto de presentación de la antología del taller del hospital Borda y poemas de talleristas. La presentación del libro, llamado En el corazón de las orillas, se realizó en el marco del festival. Además un dossier especial de poesía uruguaya actual, preparado por el crítico uruguayo Luis Bravo, de amplia trayectoria. Plebella presentó el número 10 y festejó su aniversario con una muestra de plástica que recorrió diseño y contenido de sus diez números (más el número de ramona 56) además de una muestra de obra plástica de sus colaboradores (artistas visuales, escritores, músicos, etc.) La muestra se realizó del 8 de junio al 6 de julio en la sala Leopoldo Lugones de la Biblioteca Nacional y todos los viernes produjo lecturas de poesía en la sala. Se puede acceder a una memoria de este evento en www.terceraniversario.blogspot. com. El número 11 de Plebella, de Agosto 2007, se presentó en la Barraca Vorticista con una performance multimedia sobre textos de Néstor Perlongher, para presentar el dossier que la revista editó sobre el poeta. Participaron en la performance los poetas Roberto Echavarren, Romina Freschi, Agostina López, Mariano Massone y Adriana Kogan, más la modelo y actriz Jazmín Llovet. Además participó de la presentación el poeta Gabriel Reches, quien adelantó en el número 11 poemas de su libro 6 series y se presentaron las postales plebellas, ediciones limitadas de reproducciones de arte visual argentino actual, con obra de Emiliano Bustos y Walter Alvarez. Tanto la performance como todo el número recibieron gran atención mediática. El número 11 además editó una traducción exclusiva del artículo El Poema Díficil del norteamericano Charles Bernstein, una crónica sobre el I Encuentro de Poetas Mujeres del Cono Sur, realizado en Chile, 2006 y las tradicionales reseñas. El número 12 de Plebella, de Diciembre 2007, realizó incursiones interdisciplinarias con entrevistas a la cantante Performer Gaby Bex y al cineasta Raúl Perrone. Se lanzó la columna Sembradores de Fósforos, en la que poetas invitados narran la génesis de sus poemas más reconocidos, en esta primera edición el salteño Carlos Juárez Aldazábal. Además se presentó, a través de una crónica, el proyecto Estación Pringles del poeta Arturo Carrera y se produjo un debate entre poetas sobre blogs y redes para la poesía. A su vez, con la crónica del Congreso de las Américas realizado en Texas 2006 realizada por Roberto Echavarren, Romina Freschi realiza una comparación entre poéticas neobarrocas latinoamericanas y norteamericanas L=A=N=G=U=A=G=E. Se realizaron postales plebellas de Magalí Pallero y Martín Legón. Plebella 12 se presentó en distintos eventos en diciembre 2007 y marzo 2008 como los festivales Buen día y Rosa Fuerte, las presentaciones de pájarosló editora y de la cantante Gaby Bex. En este número 12 se lanzó la convocatoria al concurso Poeta Revelación, a ser desarrollada durante 2008. A finales de 2007 Plebella inauguró un Journal Electrónico en www.plebellabilingue.blogspot.com para el seguimiento de acontecimientos día a día. El número 13 de Plebella, de Abril 2008, presenta una intensa entrevista a la poeta, traductora e investigadora Delfina Muschietti, con un adelanto de poemas inéditos de El Enigma de las Flores. Además la cobertura de Emiliano Bustos de la Feria del Libro de Venezuela 2007 con una bella y sensitiva crónica, una entrevista al poeta Richard Montenegro de la agrupación Li Po y una breve antología de la poesía de ese país. A su vez, Rodolfo Edwards en la columna Sembradores de Fósforos comenta la génesis del poema que da título a su primer libro, Culo Criollo. Matías Ayala introduce el dossier Puro Chile, muestra de poesía chilena reciente. Además un comentario sobre el festival “Sin pedir permiso” del grupo Rosa Fuerte, en el que participamos el año pasado. El número 14 de Plebella, de Agosto 2008, presenta la primera parte de una amplia encuesta con perspectiva sociológica a poetas de todo el país con la particularidad de haber comenzado a publicar en los 2000. Artes Poéticas/Aires Contemporáneos es el nombre de la nota que abarca los núcleos temáticos de Poética, Contexto Social y Campo Intelectual. El número incluye además entrevistas a Irene Gruss y Juan Salvador Gaviria y la columna Sembradores de Fósforos cuenta con la participación de Enrique Solinas y Florencia Walfisch. El número 15 de Plebella, de Diciembre 2008, presenta la segunda parte de la nota Artes Poéticas/Aires Contemporáneos. La nota se ve complementada por una antología de poemas de todos los participantes editada en el sitio web www. plebellacontemporanea.blogspot.com. Además una entrevista a Eduardo Ainbinder, Sembradores de Fósforos con Lisandro González más un dossier de lujo sobre la obra del poeta Miguel Angel Bustos: Visión de los hijos para la que escriben Reynaldo Jiménez, Emiliano Bustos, Marimé Arancet y Martín Rodríguez. Y se dan a conocer los ganadores del concurso Poeta Revelación 2008, Rocío Pochettino y Marcelo Silveyra. Los números 13, 14 y 15 fueron presentados en distintos eventos de la Estación Alógena, Pájarosló editora y el Festival Buen Día. El próximo número 16, de Abril 2009, presenta entrevistas a las poetas Paulina Vinderman y María Teresa Andruetto. La nota AP/AC se transforma en una columna estable de la revista y presenta a Rocío Pochettino, ganadora de concurso Poeta Revelación 2008. Sembradores de Fósforos presenta a Vanina Colagiovanni. Se adelantan poemas inéditos de Carlos Battilana junto a un ensayo sobre su obra por Nurit Kasztelan. La edición incluye el primer poster de una serie que durará todo el año como parte de los festejos del 5to Aniversario de Plebella. En la página de Internet pueden leerse las obras de los ganadores del concurso Poeta Revelación y de algunos de los mencionados. A la fecha, Plebella ha realizado 3 antologías de poesía internacional de países hermanos: México, Uruguay y Chile, con material exclusivo que se ve ampliado en ediciones electrónicas, y una antología de poesía argentina reciente como complemento de la nota Artes Poéticas/Aires Contemporáneos, accesibles desde www. plebella.com.ar. PLEBELLA - REVISTA DE POESÍA ACTUAL Idea y Dirección: Romina Freschi Gestión y Proyectos: Adrián Pedreira Diseño e Ilustración: Eduardo Zabala Buenos Aires, Argentina Impresión cuatrimestral:Abril, Agosto, Diciembre sitio web: www.plebella.com.ar info@plebella.com.ar . ..