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Souza 2013 A preposicao ni escola

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II Jornadas Internacionales Beatriz Lavandera | 2013
Sociolingüística y análisis del discurso
A preposição ni na escrita de estudantes de
uma escola particular do interior da Bahia
(Brasil): uma análise quantitativa
Emerson Santos de Souza, Universidade Estadual de Feira de Santana /
souza.emersonsantos@hotmail.com
› Resumo
A gramática da língua portuguesa é bem categórica quanto às suas
preposições – classe gramatical que serve para conectar palavras, atribuindo
mudanças de significado às palavras que as acompanham (Perini, 2006, p. 164,).
Entretanto, por considerar a língua um sistema passível de variação, percebe-se
que novas preposições e/ou locuções prepositivas surgem no vernáculo,
exercendo as mesmas funções sintáticas que as preposições canônicas. Um
fenômeno linguístico evidente no vernáculo brasileiro é a substituição da
preposição canônica em por ni, que, normalmente, apareceria na fala. Contudo,
nota-se que o uso dessa variante inovadora tem acontecido também na escrita de
pessoas escolarizadas, embora com frequências variáveis, conforme os anos de
estudo do falante. A explicação mais coerente para a inserção dessa preposição ao
português brasileiro (doravante PB) seria a transmissão linguística irregular, que
teria acontecido entre portugueses e africanos no período da colonização, pois,
durante esse processo, pode haver incorporação de material morfológico da língua
substrato (africana) à língua funcional, denominada pidgin, e que, possivelmente,
teria se cristalizado na sociedade, formando uma língua com características
crioulas (Lucchesi, Baxter e Ribeiro, 2009, p. 114,). Dessa forma, o ni pode ser
considerado como um elemento linguístico que sustentaria a ideia de que a origem
do PB tem como princípio explicativo o contato linguístico. Inicialmente, propõese, nesta pesquisa, a estudar o fenômeno ni ~ em, discutindo, especificamente que a
variante inovadora não está apenas na fala, mas também na escrita de estudantes
de uma escola particular, assumindo algumas funções sintáticas da preposição
canônica em. Pensou-se analisar textos escritos de estudantes desse tipo de
instituição pelo fato de já se perceber que até os falantes “letrados”, da classe
prestigiada (as pessoas que estudam em escolas particulares, normalmente, têm
certo poder aquisitivo), já utilizam o ni em contextos que são considerados
formais. Além desse objetivo, desejou-se ainda investigar os fatores
(in)dependentes que motivariam o uso do ni, apresentando os percentuais
relevantes para cada variável escolhida. O corpus desta pesquisa é constituído de
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20 produções, sendo distribuídos em 10 textos do 6º ano, produzidos por 5
indivíduos do sexo masculino (masc.) e 5 do sexo feminino (fem.), e 10 textos do 9º
ano (5 masc. e 5 fem.), ambas as séries foram escolhidas por serem a primeira e a
última do ensino fundamental, respectivamente. Esse estudo tomou por base a
metodologia quantitativa laboviana (Labov, 1972) que leva em consideração não
apenas os fatores linguísticos, mas também os sociais que motivam o uso de
determinadas variantes. Assim, a fim de saber o que motivaria o uso do ni no
interior dos sintagmas, foi escolhido o grupo da variável linguística: a função
sintática do sintagma que as preposições o introduziriam. Entre os diversos
contextos linguísticos que motivariam o ni foram escolhidos pelo Goldvarb X
apenas os complementos de verbos leves, o objeto indireto de verbos apenas
transitivos indiretos, o objeto indireto de verbos com dupla transitividade, os
complementos adverbiais, e o adjunto adverbial de modo. Contudo, como o foco
maior desta pesquisa foi verificar se a escola contribuiria para o controle da
preposição ni, coube observar a frequência de uso dessas preposições em dois
grupos extralinguísticos: o nível de escolaridade (do 6º e 9º anos) e sexo
(masculino e feminino), mas o programa desconsiderou o último e escolheu como
variável essencial para esta análise o nível de escolaridade, seguido da variável
linguística funções sintáticas, demonstrando que, talvez, as ocorrências do ni
teriam um peso mais social do que estrutural. Em linhas gerais, o uso do ni chegou
a 20% no 6º ano, mas, à medida que os estudantes se aproximaram dos últimos
anos da Educação Básica, a tendência foi o seu desaparecimento, pois o número de
ocorrências chegou a quase 0, implicando o prestígio da preposição em, que foi de
80%, no 6º ano, para quase 100%, no 9º ano. A substituição de uma variante por
outra, neste caso, uma estigmatizada pela prestigiada, pode acontecer porque
quando os falantes entram na escola apenas com a variante que se considera não
padrão, paulatinamente, será substituída pela padrão (Silva e Scherre, 1996, p.
346, 348-49 apud Mollica, 2007, p. 28). Assim, pode-se constatar que “a escola atua
como preservadora de formas de prestígio, face às tendências de mudança em
curso nessas comunidades” (Mollica, 2007, p. 51).
»
Palavras-chave: Preposição ni-contato linguístico-português brasileiro.
› Abstract
The grammar of the Portuguese language is quite categorical about their
prepositions - part of speech that serves to connect words, attributing changes in
meaning to the words that accompany them (Perini, 2006, p 164.). However, by
considering the language a system, subject to change, it is noticed that new
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prepositions and / or prepositional phrases appear in the vernacular, performing
the same functions that the canonical syntactic prepositions. A linguistic
phenomenon in the Brazilian vernacular language is replacing the canonical
preposition by ni, which usually appear in speech. Although, we note that the use
of this innovative variant has also happened in the writing of educated people,
although with varying frequency, depending on the year of study of the speaker.
The most plausible explanation for the inclusion of this preposition to Brazilian
Portuguese (henceforth BP) would be irregular linguistic transmission, what
would have happened between Portuguese and Africans during the colonization
period, during this process, there may be morphological incorporation of material
from the substrate language (African) functional language called pidgin, and
possibly would have crystallized in society, forming a creole language with
features (Lucchesi, Baxter and Ribeiro, 2009, p. 114). Therefore, ni can be
considered as a linguistic element that would support the idea that the origin of BP
has an explanatory principle linguistic contact. Initially, this research aims to study
the phenomenon in ~ ni, arguing specifically that the variant is innovative not only
in speech but also in the writing of students from a particular school, assuming
some syntactic functions of the canonical preposition. Thought to analyze written
texts for students of such institution because already realize that even the
"educated" speakers, of the prestigious class (people who study in private schools
usually have a certain purchasing power), already use the ni in contexts that are
considered formal. In addition to this objective, it wished to investigate the factors
(in) dependent that motivate the use of ni, presenting the relevant percentages for
each variable selected. The corpus of this study consists of 20 productions and is
distributed in 10 texts in the 6th grade, produced by 5 males (men) and 5 females
(women), and 10 texts in the 9th grade (5 men and 5 women), both series were
chosen because they are the first and last elementary school, respectively. This
study was based on Labovian quantitative methodology (Labov, 1972) which takes
into account not only the linguistic factors, but also social that motivate the use of
certain variants. Thus, in order to know what would motivate the use of ni within
the phrases, two groups of linguistic variables were chosen: the syntactic function
of the syntagm that were introduced by prepositions and the morphological
classification of the word that would came after prepositions. Among the various
linguistic factors that motivate the ni have been chosen by Goldvarb X only
complements of light verbs, indirect object only indirect transitive verbs, the indirect
object of verbs with double transitivity, the adverbial complements and mode
adverbial adjunct. However, as focus of this research was to determine if the school
would contribute to the control of ni preposition, fit to observe the frequency of
use of these prepositions in two extralinguistic groups: However, as focus of this
research was to determine if the school would contribute to the control of ni
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preposition, fit to observe the frequency of use of these prepositions in two
extralinguistic groups: the level of education (6th and 9th years) and gender (male
and female), but the program ignored the latter and chose as a key variable for this
analysis the level of schooling, followed by grammatical class linguistic variable of
the latter word variants and variable syntactic functions, demonstrating that
perhaps the occurrences ni would have a more social weight than structural. In
general, the use of ni has reached 20% in the 6th grade, but as the students
approached the last few years of basic education, the trend was the disappearance,
since the number of occurrences reached almost 0, implying the prestige of the
preposition in, which was 80%, the 6th year to almost 100% in 9th year. The
substitution of a variant by another, in this case, a stigmatized by the prestigious,
can happen because when speakers enter the school with the variant that is
considered nonstandard, gradually will be replaced by standard (Silva; Scherre,
1996. 346, 348-49 cited Mollica, 2007, p. 28). So, it can be seen that "the school
acts as the preserver of prestigious forms, given the changing trends underway in
these communities" (Mollica, 2007, p. 51).
»
Key-words: Preposition ni-brazilian portuguese-linguistic contact
› Introdução
É perceptível, a partir de análises empíricas, que alguns falantes tendem a
substituir a preposição canônica em por ni. Essa substituição, bem como outras que
ocorrem no sistema linguístico, são resultados de um processo inerente à língua, a
variação linguística. Entretanto, para que se possa considerar variação, o elemento
linguístico inovador (neste caso, o ni) deve apresentar as mesmas funções do item
gramatical passível a esse processo (a preposição em), ou seja, ambas as formas
devem desempenhar os mesmos papéis na estrutura linguística até que uma delas
desapareça ou continuem sendo usadas pelos falantes simultaneamente.
A fim de aferir a frequência de uso das variações linguísticas, o norteamericano William Labov (2008) desenvolveu um método através do qual se
percebesse quais fatores interfeririam no processo de variação da língua. Para
tanto, necessitou-se apontar os principais grupo de fatores que o implicariam e
ponderou, por meio de uma metodologia específica (denominada variacionista ou
laboviana), os fatores linguísticos e extralinguísticos, considerando,
essencialmente, as influências sociais relevantes para o estudo da língua, ao
contrário do que propunham os estruturalistas e, posteriormente, os gerativistas.
Dentre os fatores extralinguísticos que podem ser analisados, destaca-se o
contato linguístico entre falantes de diferentes línguas que, por razões especificas,
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principalmente, a aquisição de uma segunda língua para fins comerciais, faz surgir
uma nova língua, caracterizada pela mistura de elementos linguísticos (fonéticos,
sintáticos, morfológicos e lexicais) de ambas as línguas.
Esse contato aconteceu entre os portugueses e os africanos durante o
período colonial, pois, quando os africanos foram trazidos para o Brasil a fim de
trabalhar como escravos, tiveram de aprender abruptamente e de maneira
irregular o português da colônia.
Entretanto, os substratos herdados dos africanos (o ni, por exemplo),
atualmente, são encontrados no desempenho linguístico de falantes de diversas
classes sociais, como mostraram Lucchesi e Baxter (2009), através de inquéritos
do português rural, e Souza (2012) que tomou como base textos escritos por
alunos de uma escola particular em que o ni também tinha sido encontrado.
Assim, uma vez que esses substratos foram inseridos ao sistema linguístico
brasileiro, passaram a assumir algumas funções sintáticas de variantes canônicas
do português. Dessa forma, a fim de descrever as funções sintáticas que a
preposição ni desempenha no PB, como propõe o escopo desta pesquisa,
necessitou-se fazer uma abordagem sobre o contato linguístico como
condicionante à variação linguística, discutido na seção 01; analisar a sóciohistória do português brasileiro, disposta na seção 02; descrever a metodologia
utilizada para a coleta e o tratamento dos dados, seção 03; analisar os dados,
evidenciados na seção 04 e, por fim, as considerações finais.
› Algumas reflexões sobre o contato linguístico
A pesquisa sobre o contato linguístico entre diferentes dialetos como um
fator condicionante à variação/mudança linguísticas tem provocado várias
discussões entre os sociolinguistas, tendo em vista que “tanto o contato entre
línguas diferentes quanto da mesma língua pode ser um importante fator
condicionante de mudança” (Faraco, 2010, p. 69).
Tomando por base esse pressuposto, deseja-se, nesta pesquisa, averiguar a
interferência da língua africana no PB, considerando o ni como elemento que
também comprovaria o surgimento desse idioma a partir do contato linguístico
entre os europeus, africanos (e indígenas). Entretanto, antes de discutir sobre o
possível modo que os africanos aprenderam o português no período colonial, fazse necessário fazer uma abordagem sobre o contato linguístico. Dessa forma,
segundo Weinreich (1953 apud Calvet, 2002, p. 36),
A palavra interferência designa um remanejamento de estruturas resultantes da
introdução de elementos estrangeiros nos campos mais fortemente estruturados da
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língua, como o conjunto do sistema fonológico, uma grande parte da morfologia e da
sintaxe e algumas áreas do vocabulário [grifos nossos]1.
Cabe ressaltar que Calvet (2002, p. 39) distingue interferência de
empréstimo linguístico, caracterizando o primeiro como um fenômeno individual e
o segundo como um fenômeno coletivo. Dessa forma, uma vez que não se levou em
consideração, nesse estudo, outras regiões do país a fim de perceber o uso da
variante analisada, pretensiosamente, designar-se-á essa variante como uma
interferência e não como um empréstimo linguístico.
Dessa forma, o contato linguístico pode acontecer sob várias formas e com
diferentes propósitos. Essas finalidades, por sua vez, implicarão maneiras
diferenciadas de se aprender uma língua. A primeira delas diz respeito àquelas
pessoas que vão a outros países com o objetivo de passar férias, por exemplo, que,
dependendo do indivíduo, sentirá a necessidade de assimilar uma língua (que não
seja a do lugar a ser visitado), a fim de “garantir” a interação com outrem que
também conheça essa mesma língua, ou seja, o falante usará uma língua veicular:
um idioma comum do seu interlocutor que não seja a primeira língua de ambos.
Podem existir também situações em que pessoas são obrigadas a aprender
um idioma a fim de permanecer em um país com fins comerciais. É o caso, por
exemplo, de migrantes que chegam a seu país de acolhida sem conhecer, ou saber a
língua do lugar. Assim, uma vez que “não há uma terceira língua disponível, e se os
dois grupos têm necessidade de se comunicar, eles vão inventar para si outra
forma de língua aproximativa, geralmente uma língua mista” (Calvet, 2002, p. 41).
Essa língua criada com fins comerciais pode ser chamada de sabirs – quando
se trata de um de “sistema extremamente restrito: algumas estruturas sintáticas e
um vocabulário limitado às necessidades de comunicação imediata” (Calvet, p. 42)
– e/ou pidgins, quando tais formas tomam amplitudes no sistema linguístico,
principalmente, em nível sintático. Esse tipo de aquisição linguística aconteceu
com os escravos africanos quando tiveram de aprender abruptamente o português
como uma segunda língua (L2).
Quando um indivíduo se confronta com duas línguas que utiliza vez ou outra, pode ocorrer
que elas se misturem em seu discurso e que ele produza enunciados “bilíngues”. Aqui não
se trata mais de interferência, mas, podemos dizer, de colagem, de passagem em um
ponto do discurso de uma língua a outra, chamada de misturas de línguas (Calvet, p. 43).
A partir disso, percebe-se que quando um estrangeiro dominante de sua
língua (L1) é obrigado a aprender uma L2 de maneira obrigatória e forçada sem ter
a oportunidade de conhecer direito o sistema dessa língua numa escola, por
exemplo, ele tenderia a misturar alguns elementos linguísticos (mesmo que
1
Calvet (2002, p. 36) apresenta três tipos de interferências: fônicas, sintáticas e as lexicais.
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inconsciente), copiando elementos de sua língua e inserindo no idioma a ser
aprendido, a fim de garantir a interação com os seus interlocutores. Corroborando
essa ideia, Paul (apud W.L.H., 2006, p. 92) afirma que a mistura de língua se
efetivaria quando duas pessoas, cada uma falando o seu próprio idioleto, se
comunicam entre si de maneira que um falante influencie linguisticamente o seu
interlocutor.
Parece razoável dizer que a transferência (linguística) ocorre quando o falante A aprende a
forma ou a regra usada pelo falante B, e que a regra então coexiste na competência
linguística de A junto com sua forma ou regra anterior. A mudança então ocorre dentro de
um repertório linguístico de A: um tipo é o desfavorecimento gradual da forma original em
prol da nova, de modo que ela assume o status de “arcaica” ou “obsoleta”. (W.L.H. 2006,
p. 93)
Todavia, levando em consideração a forma como os falantes estrangeiros
aprenderam o idioma, nota-se que a língua resultante da soma de L1 com a L2
apresenta característica de ambas as línguas, porque o indivíduo não tivera a
oportunidade de aprimorar o desempenho linguístico em L2 a partir de um ensino
formal e, consequentemente, é considerada uma língua “imperfeita” comparada a
língua base, ou seja, a L2.
Quando um falante A aprende pela primeira vez uma regra, q, de B, não é de esperar que
ele a aprenda perfeitamente. Influenciado por seu próprio sistema, P, e sem a gama total
de experiência de B que suporta o sistema Q de B, A adquire uma regra, q’, de um tipo algo
diferente – uma regra fonológica com traços alterados, uma regra gramatical com
algumas condições especiais perdidas. Assim, nessa transferência inicial, um segundo tipo
de mudança já aconteceu. Mas a mudança mais profunda e sistemática deve ser esperada
depois que A adquiriu a regra de B. Dentro do repertório único disponível a A (contendo p
em P e q’), podemos prever uma acomodação de p e q’ – normalmente, uma assimilação
de q’ aos traços característicos de p de modo que se torna possível a inserção final de uma
q’’ modificada dentro do sistema P. (W.L.H. 2006, p. 94)
À medida que o resultado da soma das línguas em contato fosse usado por
nativos, ela deixaria de ser uma língua aproximativa (sabir ou pidgin) e passaria a
ser língua crioulo, cujo princípio formativo seria o empréstimo de uma base
línguística, normalmente a dominante, L2, e a inserção de substratos nos diversos
níveis linguísticos de L1.
› Sócio-história do Português Brasileiro: as (in)fluências de
dialetos africanos no PB
Diante do processo de miscigenação no Brasil, o falar lusitano foi
privilegiado, considerando-se erro tudo aquilo que não estivesse de acordo às
normas linguísticas da língua dos colonizadores. Contudo, a noção de erro
linguístico se intensificou na Colônia a partir da inserção dos falares de negros
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africanos, que foram trazidos para o Brasil com objetivo de trabalhar como
escravos naquela protocélula colonial.
Dessa maneira, uma vez que os africanos não tiveram a oportunidade de,
assim como os índios, aprender o português, o falar trôpego dos negros era
considerado fruto da ignorância e da incapacidade de bem pensar. Essa noção
preconceituosa para com os negros pode ser justificada pela necessidade que os
colonizadores tiveram de conhecer a língua tupi-guarani, a fim de se
“relacionarem” mais facilmente com os indígenas.
Contudo, antes de descrever o idioma supracitado, cabe fazer uma
apreciação sobre o percurso que os negros fizeram até chegar ao Brasil, pois boa
parte deles não saiu apenas de uma localidade, mas de várias nações africanas.
Os negros que foram trazidos para o Brasil habitavam na costa ocidental da
África. Segundo Nina Rodrigues (1939, 1945) e Arthur Ramos (1940, 1942, 1946)
(apud Ribeiro, 2006, p. 102), a leva de africanos trazidos para a colônia brasileira pode
ser dividida em três grupos, quanto aos tipos culturais. O primeiro grupo pertencente
da cultura sudanesa era representado pelo grupo Yorubá (chamados de nagô),
Dahomey (gegê) e pelos Fanti-Ashanti (conhecidos como minas), além de pequenos
grupos da Gâmbia, Serra Leoa, Costa da Malagueta e Costa do Marfim. O segundo
grupo, caracterizado por sua doutrina islâmica, era constituído pelos Peuhl, os
Mandingas e os Haussa, do Norte da Nigéria, conhecidos na Bahia como negros malé e
no Rio de Janeiro como negros alufá. O terceiro grupo africano era formado por tribos
Bantu, do grupo congo-angolês (atual Angola e Contra Costa (Moçambique)).
A diversidade linguística e cultural dos contingentes negros introduzidos no Brasil, somada
a essas hostilidades recíprocas que eles traziam da África e à política de evitar a
concentração de escravos oriundos de uma etnia, nas mesmas propriedades, e até nos
mesmos navios negreiros, impediu a formação de núcleos solidários que retivessem o
patrimônio cultural africano. (Ribeiro, 2006, p. 103)
Dessa forma, embora fossem iguais na cor e na mesma condição
subserviente, mas diferentes na língua e na cultura, os negros africanos foram
obrigados a se incorporar passivamente à nova sociedade, não tendo a mesma
oportunidade, por exemplo, que os índios, falantes de um mesmo tronco
linguístico, tiveram de unir as tribos na Confederação dos Tamoios, entre 1556 e
1567, a fim de se rebelar contra a escravidão imposta pelos colonizadores – salvo a
Revolta dos Malês, em 1835, na Bahia, que não obteve sucesso.
› Nuances do Português Brasileiro
O renomado antropólogo Darcy Ribeiro (2006, p. 27), sobre a formação do
povo brasileiro, afirma que:
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No plano étnico-cultural, essa transformação (econômica e social) se dá pela gestação de
uma etnia nova, que foi unificando, na língua e nos costumes, os índios desengajados de
seu viver gentílico, os negros trazidos da África, e os europeus aqui querenciados. Era o
brasileiro que surgia [grifos nossos] (...).
Legitimando o conhecimento sobre a miscigenação no Brasil, Ribeiro (2006)
reafirma a ideia de que o povo brasileiro fora constituído por três etnias: o
indígena, o africano e o europeu. Entretanto, essa miscelânea não se deu apenas
nos traços fisiológicos, mas se estendeu às questões linguísticas, étnicas, culturais
etc.. Logo, pode-se dizer que o povo brasileiro apresenta sua língua mista, formada
pela amálgama das línguas desses povos. Assim, ao passo que as línguas indígenas,
africanas e, mais tarde, as imigrantes, timidamente, interferiram na estrutura e/ou
léxico do português europeu, esta iria perdendo sua “pureza”, resultando numa
língua com peculiaridades brasileiras: o português brasileiro.
A partir desse pressuposto, nota-se que o Brasil viveu/vive um processo
especial de descolonização, pois “a língua faz sentido em relação a sujeitos não
mais submetidos a um poder que impõe uma língua sobre sujeitos [...] de uma
outra nação” (Orlandi, 2009. p. 213), ou seja, o vernáculo não está mais submetido
às normas linguísticas lusitanas, mas se percebe que há nele uma eminente
constituição da gramática brasileira, isto é, existe uma gramática constituída com
traços brasileiros para brasileiros.
Existem, entretanto, duas posições contrárias que explicam a formação do
PB. A primeira o aponta como uma modalidade que conserva características
fonéticas e gramaticais do falar quinhentista, isto é, propõe que o português
brasileiro é uma “variedade que, esgalhada de seu tronco europeu, principiou um
processo de estagnação, que consistiu meramente preservar as características
recebidas” (Castilho, 2001, p. 245). Entre alguns aspectos fonéticos e gramaticais,
podem-se destacar: a supressão de -r final de sílaba: falá, comê; e/ou construção
dos verbos de movimento com preposição: vou na feira2.
Fenômenos baseados no contato linguístico, todavia, apontam
características inovadoras no PB. Em alguns casos, por exemplo, há uma
simplificação da morfologia e/ou alterações fonético-fonológicas, por exemplo,
ditongação da vogal tônica final seguida de -s, -z: atrás dito atráis, luz dito luiz;
negação dupla do tipo: não sei não3, a substituição da preposição em por ni, entre
outros.
O que se percebe, na verdade, é que o português falado e “escrito”(em
determinados contextos) no Brasil apresentam aspectos diferentes do português
europeu. Essa diferença pode ser notada a partir de análises fonéticas, sintáticas,
2
Exemplos de Castilho (2001, p. 245).
3
Exemplos de Castilho (2001, p. 246).
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lexicais, semânticas etc. do vernáculo brasileiro. Dessa forma, mesmo recorrendo a
uma dessas hipóteses que interpretam o PB, pode-se concluir que já não mais
falamos (e/ou escrevemos) conforme os moldes europeus, embora a escola, a
partir do ensino conservador de gramática, tente recuperar as formas canônicas
apresentadas nas gramáticas normativas.
› Transmissão linguística irregular: uma das hipóteses da
formação do Português Brasileiro
Existem algumas hipóteses que tentam explicar a formação do PB, contudo,
esta pesquisa se baseará em apenas uma, pois o principal objetivo aqui é externar
as contribuições das línguas africanas na formação do PB, tomando como exemplo
simbólico a adoção da variante ni.
Dessa forma, baseado na influência da língua africana no PB, tem-se a
hipótese da crioulização e/ou semicrioulização, postulada por Coelho (1880) e
atualmente pesquisada por Guy (1981, 1989), Holm (1987), Baxter e Lucchesi
(2006),4 entre outros que se interessaram pelos estudos linguísticos afrobrasileiros.
Em oposição à ideia da crioulização, tem-se a hipótese da deriva, que
considera a formação do PB como um fenômeno inerente às línguas, isto é, as
línguas, de maneira geral, possuem uma tendência à simplificação flexional (Sapir,
1949/1921 apud Naro e Scherre, 2007. p. 50). A ideia que tem sobre a hipótese da
deriva é que o pidgin português se formaria na Europa e os portugueses o teriam
ensinado aos africanos (Naro apud Bonvini, 2009, p. 20) e não pidgin africano que
influenciaria o português europeu, como propõe a hipótese da crioulização.
A hipótese da crioulização propõe que os negros, quando trazidos para o
Brasil com o objetivo de trabalhar como escravos nas lavouras, tiveram de
aprender abruptamente a língua do colonizador, ou seja, os africanos tiveram de
aprender uma outra língua sem a sistematização escolar, mas apenas ouvindo seu
senhor, o feitor e até o capelão que sempre visitava as fazendas da colônia. Não
obstante, o senhor não cobrava que os escravos aprendessem todos os aspectos do
português, mas bastava saber aquilo que lhes seria necessário para o cumprimento
das ordens nas tarefas diárias (Mattos e Silva, 2004. p. 98).
Esse contato linguístico entre adultos, segundo Baxter e Lucchesi (2006), é
chamado de transmissão linguística irregular, pois a aquisição de uma segunda
língua, naquele contexto, era apenas para fins específicos: o trabalho nas lavouras,
ou comércio, por exemplo. Esse sistema linguístico particular recebe o nome de
4
Informações de Bonvini (2009).
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pidgin, que, por sua vez, serviu de base para a formação do crioulo. A saber, o
oposto desse processo linguístico recebe o nome de transmissão linguística regular,
que, segundo Naro e Scherre (2007, p. 137), acontece entre crianças na fase de
socialização.
Nessa perspectiva, à medida que mais negros-escravos nasciam na colônia,
eles assimilavam o pidgin e o incluíam em seu comportamento linguístico, fazendo
com que esse sistema se perpetuasse, cristalizando-o. Dessa forma, a língua falada
já não era mais o “português puro”, aquele com características lusitanas, mas uma
língua amalgamada com traços africanos. Conforme Baxter e Lucchesi,
Em muitos casos, a primeira geração de escravos de uma colônia enfrentou uma situação
que levou ao uso de uma segunda língua muito rudimentar, fragmentada e variável. Essa
segunda língua, não obstante ter como alvo a língua dos dominadores, era fortemente
influenciada pelas línguas maternas de seus utentes. (1997, p. 69)
Como se pode observar, embora se tivesse hipoteticamente (e por
imposição) como alvo o português europeu, os africanos não conseguiram
apreender todas as suas nuances, porque ainda era muito forte a influência de sua
primeira língua. Logo, com base nessas afirmações, o que se poderia conjeturar é
que esse pidgin fora cristalizado ao logo dos tempos, formando um crioulo, hoje
fortemente presente no português rural.
Pesquisas realizadas em comunidades remanescentes de quilombos5, no
Brasil, apontaram semelhanças morfossintáticas entre o português rural e as
línguas africanas. Essas comunidades (consideradas isoladas devido ao seu difícil
acesso – estratégia dos escravos fujões daquela época) carregam traços linguísticos
que explicariam a constituição do PB, uma vez que os negros não tiveram a
oportunidade de escrever as suas histórias, isto é, não deixaram registros escritos
que comprovem tal influência nesse idioma.
› O caso do in e do ni
Uma vez que o uso da preposição em ocupa posições, relativamente
superiores (Diório júnior, 2002), nota-se que ela tem mais chances de sofrer
variações em relação às preposições de menor uso frequencial. Com base nesse
pressuposto, observa-se que, no português brasileiro, existe a variação in ~ em e
ni ~ em, para este último caso de variação, por exemplo, tem-se o seguinte
depoimento.
Note-se, a propósito, que na fala descuidada, cada vez mais se ouve ni no lugar de em.
Ouvi essa forma pela primeira vez em Barra do Piraí (RJ), há cerca de 40 anos, na boca de
5
Desenvolvidas por Dante Lucchesi, Alan Baxter e Ilza Ribeiro (2009).
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pessoas de grau mínimo de instrução. Hoje, em Belo Horizonte, ouve-se gente até de nível
universitário usando o ni (como se tem consciência de que a forma é estigmatizada, faz-se
brincadeira com o uso, mas eu tenho ouvido aluno da Universidade – e até professor –
usando-a inadvertidamente). É interessante notar que esta forma pode ter um significado
semelhante ao chez francês: “Vou ni vó” (vou na casa de minha avó) (Pontes, 1992, p. 22).
(1) Estou em Feira de Santana.
(2) Estou in Feira de Santana.
(3) Estou ni Feira de Santana.
A preposição em (6) dispõe de uma base de ditongo nasal [ẽy], entretanto, é
muito comum ouvir (e até ler) o in [ῖ] (7). Ao comparar foneticamente essas duas
variantes, observa-se que o em sofreu uma redução no fonema [ẽ], fazendo com
que a preposição canônica se assemelhasse a sua forma inicial do latim (in), o que
não acontece com o ni.
Foneticamente, o ni poderia ser resultado de uma analogia, fundamentada
no paradigma de [ʤi] ~ [di] e suas contrações com os artigos definidos (HOLM,
1988, p. 209). Além disso, a possibilidade de que o ni tenha sido originado a partir
de alguma variação fonética sofrida pelo in não é desconsiderada, mas a hipótese
mais coerente para explicar o seu surgimento no português brasileiro é a de que
ele teria sido copiado da língua Yorubá durante o período de contato linguístico
entre portugueses e africanos.
Segundo Almeida; Baraúna (2001), a preposição Yorubá ni (em) pode ser
empregada com diversos valores semânticos:
a) Repouso:
Ni ilú wa.
Em nosso país.
b) Tempo:
On olo s’ilé mi ni ojó kéjì ose.
Ele está indo para minha casa na segunda-feira.
c) Em volta de:
On no egba ni apa.
Ela tinha a pulseira no braço.
Além deses valores semânticos, Lopes e Baxter (2011), a partir de análises
feitas com a fala dos Tongas de São Tomé, na África, apontaram que o ni substitui a
preposição em e suas flexões, indicando lugar-onde e/ou lugar para-onde. Esse
mesmo valor de significado também é encontrado por Lucchesi e Baxter (2009) em
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comunidades remanescentes de quilombo na Bahia.
› Metodologia
O americano William Labov, precursor da Teoria Variacionista, propôs um
modelo teórico-metodológico, baseado em um dos modelos da Estatística, que
analisa a língua em uso dentro da comunidade de fala, isto é, um estudo sobre
variação linguística que leva em consideração, além dos aspectos inerentes à
língua, o contexto social em que ela é produzida.
Assim, tomando por base o objetivo desta pesquisa: descrever as funções
sintáticas da preposição ni no português brasileiro, fez-se necessário coletar o
vernáculo a fim de que o fenômeno linguístico pudesse ser evidenciado e
analisado.
O corpus usado nesta pesquisa é constituído de 20 inquéritos, sendo
distribuídos em 10 textos do 6º ano, produzidos por 5 indivíduos do sexo
masculino (masc.) e 5 do sexo feminino (fem.), e 10 textos do 9º ano (5 masc. e 5
fem.).
A partir dos inquéritos, precisou-se analisar o nível de frequência do uso
das preposições em e ni. Dessa forma, para que essa análise pudesse ser feita,
considerou-se a utilização da preposição em sem nenhuma contração, uma vez que
o ni não apresentou variação com nenhuma preposição contraída e, por fim, as
ocorrências do ni.
Depois dos dados coletados, utilizou-se o programa GoldVarb X com o
objetivo de obter os percentuais de cada variante, bem como os seus pesos
relativos. A partir dos resultados numéricos obtidos, criaram-se tabelas e gráficos
a fim de facilitar o entendimento da variável estudada.
› Análise de dados
Pretende-se, nesta seção, apresentar os resultados obtidos do programa
Goldvarb X que evidenciam a frequência de uso das preposições ni e em nos textos
escolares de estudantes do 6º e 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola
particular do município de Serrinha – BA, mostrando que o ni assume algumas
funções da preposição canônica em, principalmente, como introdutor de sintagmas
preposicionais e/ou adverbiais.
Pelo fato de o corpus utilizado nesta pesquisa ser constituído por textos
escritos em contextos “formais”, já se esperava que as ocorrências do ni fossem
mínimas, comparadas a quantidade da variante em, tendo em vista que haveria
“certo grau de monitoramento” por parte dos alunos ao escrever, mas, mesmo
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assim, essas poucas ocorrências não deixaram de demonstrar a existência de uma
variação entre as duas preposições também na escrita, por essa razão, mesmo que
se ampliasse o corpus, o número de ocorrência do em seria, em princípio,
expressivamente maior em detrimento ao ni.
Outrossim, embora com poucas ocorrências, utilizou-se a metodologia
quantitativa, pois, de acordo com Guy e Zilles (2007, p. 73),
O uso de métodos estatísticos [...] tem permitido demonstrar o quão central a variação
pode ser para o entendimento de questões como identidade, solidariedade ao grupo local,
comunidade de fala, prestígio e estigma [grifo meu], entre tantas outras.
Dessa forma, mesmo que as ocorrências do ni tenham sido poucas,
comparado o número de em (tabela 01), coube analisar o percentual de uso das
preposições em cada fator linguístico. Cabe ressaltar também que, além de utilizar
a metodologia quantitativa, esta pesquisa não se isentou de descrever o fenômeno
estudado, pois conforme Guy e Zilles (2007, p. 73), “a variação linguística não pode
ser adequadamente descrita e analisada em termos categóricos ou estritamente
qualitativos” sem que se faça também uma análise quantitativa, isto é, foi
necessário o uso de ambos os métodos. Além do mais, neste trabalho não foi
considerado apenas o número bruto de ocorrências e percentagens de cada
variável para análise, mas a probabilidade de influência de cada uma delas através
dos pesos relativos – que serão descritos nas tabelas e posteriormente retomados
nas análises.
Variantes
Nº
%
Ni
6
7%
Em
73
93%
Total
79
100%
Tabela 01: Número total de ocorrências de ambas as variantes.
Como se pode observar na tabela acima, a preposição em apresenta o maior
percentual de ocorrências (93%) em detrimento ao ni (7%). Todavia, deve-se,
nesse caso, levar em consideração as características do corpus para justificar a
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diferença quantitativa entre essas duas variantes. Essa diferença pode também ser
observada com mais expressividade no gráfico 01, que apresenta a distribuição das
ocorrências em todos os inquéritos analisados.
Ni
Em
Gráfico 01: Distribuição das variantes Ni e Em no corpus analisado.
Entre os grupos linguísticos escolhidos para saber o que motivaria o uso do
ni no interior dos sintagmas, foi escolhido o da função sintática do sintagma que as
preposições introduziriam. Sendo assim, para este grupo, foram escolhidos os
complementos de verbos leves; complementos adverbiais; os adjuntos adverbiais de
assunto, de tempo, de lugar, de modo e os objetos indiretos de verbos apenas
transitivos indiretos e de verbos com dupla transitividade.
No entanto, embora todos esses fatores tenham sido apontados como
possíveis motivadores e/ou como contextos de variação do ni, o Goldvarb X
selecionou alguns dentre eles para análise, os demais não foram escolhidos por
apresentar nocautes, isto é, a regra linguística foi categórica para o uso da
preposição em.
Assim, depois da segunda rodada do programa, ficaram apenas os
complementos de verbos leves, o objeto indireto de verbos apenas transitivos
indiretos, o objeto indireto de verbos com dupla transitividade, os complementos
adverbiais, e o adjunto adverbial de modo, de acordo com a tabela (02).
Peso relativo
Ni
Função sintática
Nº
%
Complemento de verbos leves
1/2
50 %
.99
Objeto indireto
1/1
50 %
.97
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Complemento adverbial
2/21
9%
.10
Obj. ind. de v. de dupla trans.
1/2
50 %
.55
Adjunto adverbial de modo
1/5
20 %
.99
Tabela 02: Funções sintáticas que favorecem o uso das preposições Ni
Como se pode notar, a utilização do ni como introdutor de complemento de
verbos leves (ver em 01) apresentou 01 ocorrência (50%) de 2. O em, por sua vez,
(ver 02), com a mesma função sintática, demonstrou também 01 ocorrência (50%)
de 2 casos, mostrando que ambas as preposições variaram nesse contexto de uso.
O peso relativo dessa variável foi de .99, isto é, os complementos de verbos leves
motivariam o uso da preposição ni.
(01) Minha avó veio e deu uma surra de cabo de espírito de alevante ne (V.) (R.M.S.O. / 6º
ano)
(02) Chegou lá, deu uma surra em meu primo. (R.M.S.O. / 6º ano)
O mesmo número de ocorrências e de percentual expressou-se também com
os objetos indiretos de verbos apenas transitivos indiretos (03) e (04), e de verbos
com dupla transitividade (05) e (06), diferenciando-se apenas nos pesos relativos.
Para os objetos indiretos de verbos apenas transitivos, o programa apontou o peso
de .97, mostrando que esta variável motivaria o uso do ni; já o segundo caso, o peso
relativo apresentado foi de apenas .55, demonstrando que esta variável favorece
levemente a ocorrência dessa variante. Além disso, confirmou-se também a
hipótese de que o ni desempenharia a função de introdutor de objeto indireto.
(03) Já bati ne uma colega e fui para a diretoria. (D.Q.M. / 6º ano)
(04) Tia (V.), mãe de (V.) ia passar em casa para levar a gente. (R.O.G. / 9º ano)
(05) Eu tava correndo tão rápido que eu se bati ne uma parede. (W.C.R.S. / 6º ano)
(06) Ele tava se formando em Medicina. (S.M.S. / 6º ano)
O ni como introdutor dos complementos adverbiais (07) teve um total de
02 ocorrências (9%) de 21, enquanto o em (08) demonstrou 19 ocorrências (91%)
de 21 e constou como peso relativo .10, implicando que o complemento adverbial
desfavorece a ocorrência do ni, embora possa variar com a preposição em,
confirmando mais uma vez a hipótese da variação entre essas preposições.
(07) Fui para o avarandado do prédio me distrair e inventei de subir ne uns tijolos e acabei
caindo do prédio. (A.A.A. / 6º ano)
(08) Chegando em Salvador, eu fiz uma surpresa pra minha tia. (D.A.M. 9º ano)
O fator adjunto adverbial de modo (09) apresentou 01 ocorrência do ni (20
%) de 05, e 04 ocorrências de em (80%) de 05 (10). Na análise dessa variável,
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constou o peso relativo de .99, significando que esse tipo de sintagma favorece o
uso do ni e que pode variar com a preposição em nesse contexto.
(09) Teve um que disse: é ne anônimo, vocês beberam até umas horas. (E.M.A. / 9º ano)
(10) Em seguida falei em espanhol. (B.O.C.L. / 9º ano)
Os dados desta subseção podem ser melhor observados através do gráfico 02.
Gráfico 02: Funções sintáticas que as preposições Ni ~ Em podem desempenhar nos
sintagmas.
De acordo com Viaro (2008, p. 211 e 239), o português brasileiro, bem como
os falares da África e da Ásia remontam um português quinhentista. Para justificar
essa afirmativa, o autor se vale de línguas crioulas de base portuguesa e as
descreve, apresentando algumas semelhanças entre o português brasileiro e as
variedades africanas e asiáticas, levando em consideração alguns aspectos
fonéticos, sintáticos, morfológicos, entre outros níveis que são notados nas línguas
supracitadas.
Uma das peculiaridades morfossintáticas utilizada por falantes das
comunidades rurais do Brasil (língua que se aproxima de um crioulo) nota-se, a
substituição da preposição em por ni (11) (pertence aos inquéritos da Comunidade
do Maracujá), cujo traço morfológico se assemelha a estrutura da preposição
yorubá ni de São Tomé (12), indicando tanto localização (lugar-onde) como
direção (lugar-para-onde). Além dessa possibilidade, foneticamente, o ne6 (/ni/)
6
Forma da variante ni encontrada na escrita de alunos do Ensino Fundamental. O ne talvez seja uma
assimilação da preposição canônica em, uma vez que ambas as variantes são escritas com a letra e.
Entretanto, foneticamente, o ne é pronunciado como /ni/, pois se o som fosse aberto, o indivíduo tenderia
a acentuá-lo, como na variação de né? ~ não é?.
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poderia ser resultado de uma analogia, fundamentada no paradigma de [ʤi] ~ [di] e
suas contrações com os artigos definidos.
(11) Carirú oí é uma coisa que eu quase num sei contá eu num ... eu num bu... eu num vô
ni carirú, eu num como carirú tem gente que... (FRCM7, INF 04, p.16)
(12) nõ pode entra ni empresa não
eu vive aqui ni sede8
Assim, levando em consideração as demandas de africanos falantes do
dialeto yorubá que vieram para o Brasil, durante o período da colonização, pode-se
dizer que a preposição ni teria sido “copiada” pelos falantes nativos da colônia
portuguesa a partir do processo de transmissão linguística irregular e se teria
incorporado ao repertório linguístico dos falantes por, talvez, ser uma forma
simplificada comparada a preposição da língua portuguesa em.
Na fala do Tonga (12), pode-se perceber a presença da preposição ni
indicando, a partir do contexto, lugar-onde. Todavia, essa mesma preposição
também é notada no discurso do falante da comunidade do Maracujá (11),
indicando lugar-para-onde. Dessa forma, com base nessa semelhança
morfossintática, nota-se que ambas as comunidades partilham de uma mesma
preposição, isto é, a presença desse elemento morfológico caracterizaria um
processo semelhante ao da crioulização, tendo como língua base o português
europeu.
Entretanto, percebeu-se, a partir desta pesquisa, que o ni não está apenas
no repertório linguístico de falantes de comunidades isoladas (em sua maioria, não
escolarizados), mas também, embora em menor quantidade, na escrita de pessoas
escolarizadas.
O foco maior desta pesquisa foi verificar se a escola contribuiria para o
controle da preposição ni. Assim, a fim de averiguar essa hipótese, coube observar
a frequência de uso das preposições ni e em em dois grupos extralinguísticos: o
nível de escolaridade (do 6º e 9º anos do Ensino Fundamental) e gênero/sexo
(masculino e feminino). Contudo, durante as rodadas no Goldvarb X, o programa
desconsiderou o último grupo como significante e escolheu como variável
essencial para esta análise o nível de escolaridade, seguido da variável linguística
da variável funções sintáticas, demonstrando que, talvez, as ocorrências do ni
tenham um peso mais social do que estrutural. Dessa forma, coube somente
analisar, nesta seção, os fatores que constituem o primeiro grupo, conforme a
tabela 03.
7
Códigos utilizados nos inquéritos da comunidade do Maracujá.
8
Exemplos usados por Norma Lopes e Alan Baxter em A preposição NI no dialeto afrobrasileiro de
Helvécia (Bahia) e no português dos Tongas de São Tomé.
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Ni
Séries
6º ano
Nº
%
Peso Relativo
5/30
16 %
.99
9º ano
1/49
2%
.03
Tabela 03: Uso das preposições Ni no 6º e 9º ano do Ensino Fundamental
Com base no exposto acima, pode-se notar a diferença de uso da preposição
ni nos dois fatores escolhidos. No 6º ano, essa preposição teve 05 ocorrências
(16%) de 30, ao contrário do em, que teve 25 (84%) usos de 30. A rodada
apresentou o valor de .99 como peso relativo, corroborando a ideia de que o 6º ano
favorece o uso do ni. Entretanto, no 9º ano, o ni teve 01 ocorrência (2%) de 49,
enquanto o em 48 ocorrências (98%) de 49, o peso relativo desse fator foi de .03,
legitimando a hipótese de que o nível de escolaridade inibi o uso do ni na escrita,
de acordo com o gráfico 03.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
6º ano
9º ano
Ni
Em
Gráfico 03: Uso da preposição Ni ~ Em no 6º e 9º ano do Ensino Fundamental
O gráfico 03 mostra que o ni, ao longo das séries escolares, vai sendo
substituído, na escrita, pela preposição em. Essa ideia pode ser comprovada através
do continuum entre o 6º e o 9º ano. No primeiro ano do Ensino Fundamental, é
perceptível o uso dessa variante em quase 20%, mas, à medida que o estudante se
aproxima dos últimos anos da Educação Básica, a tendência é o seu
desaparecimento, pois o número de ocorrências chega a quase 0, implicando o
prestígio da preposição em, que vai de 80%, no 6º ano, para quase 100%, no 9º ano.
Segundo Mollica (2007, p. 27), “as variáveis linguísticas e não-linguísticas
não agem isoladamente, mas operam num conjunto complexo de correlações que
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inibem ou favorecem [grifos nossos] o emprego de formas variantes
semanticamente equivalentes”. Dessa forma, pode-se perceber, a partir dos pesos
relativos descritos na tabela 03, que a variável nível de escolaridade inibi o ni.
A substituição de uma variante por outra, neste caso uma estigmatizada
pela prestigiada, pode acontecer porque quando os falantes entram na escola
apenas com a variante que se considera não padrão, paulatinamente, será
substituída pela padrão (Silva e Scherre, 1996, p. 346, 348-49 apud Mollica, 2007,
p. 28). Assim, a partir dessa ideia e dos dados apresentados nesta seção, pode-se
constatar que “a escola atua como preservadora de formas de prestígio, face às
tendências de mudança em curso nessas comunidades” (Mollica, 2007, p. 51).
› Diálogos finais
Com base nos resultados obtidos nesta pesquisa, constatou-se a existência
da variação entre as preposições em e ni no repertório linguístico de falantes de
comunidades remanescentes de quilombo, conforme o exemplo (11), que pode ser
utilizada como indício para explicar as contribuições das línguas africanas na
constituição do português brasileiro, uma vez que percebe essa mesma preposição
na fala dos Tongas (12).
Entretanto, notou-se ainda que essa mesma variante também é usada na
escrita por estudantes de uma escola particular, apresentando algumas funções
sintáticas da preposição em, por exemplo, introdutor de complemento de verbos
leves, complemento adverbial, objeto indireto e adjunto adverbial de modo.
Dessa forma, percebe-se que o ni não está apenas na fala de indivíduos de
comunidades “isoladas”, mas já se faz presente no desempenho linguístico de
pessoas escolarizadas que vivem em centros urbanos.
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