0 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO PROF. MARIO DRUMOND 2009 1 PRIMEIRA PARTE INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO PERSONALIDADE JURÍDICA INTERNACIONAL SUJEITOS DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO TEORIAS DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ________________________________________________________________________________ 1. SUJEITOS DE DIRETO INTERNACIONAL PÚBLICO. Nota explicativa: o Direito Internacional Público, em pouquíssimas palavras, compreende o estudo do Estado na esfera internacional. Há, nesse sentido, dois marcos referenciais fundamentais para a compreensão da disciplina: o próprio Estado e a chamada comunidade internacional (ou sociedade internacional). 1.1. Características do Estado e características da comunidade internacional. Características do Estado: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. centralização de poder; organização vertical; existência de hierarquia das normas; obediência obrigatória às leis; jurisdição obrigatória; existência de representação parlamentar; e subordinação dos súditos ao próprio Estado. Características da comunidade internacional: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. descentralização de poder; organização horizontal; inexistência de hierarquia das normas; obediência às leis decorre do consentimento; jurisdição facultativa; inexistência de representação parlamentar; e coordenação/cooperação entre os Estados. 1.2. Caráter jurídico do Direito Internacional Público. O Direito Internacional Público compreende um sistema jurídico autônomo, destinado a disciplinar as relações entre os Estados, entre as organizações internacionais e, ainda, entre aqueles e estas. Há, nesse sentido, três combinações possíveis de relações jurídicas entre os sujeitos de Direito Internacional Público: Estado ↔ Estado Organização Internacional ↔ Organização Internacional Estado ↔ Organização Internacional 2 Ademais, o Direito Internacional Público deve ser interpretado como fruto do consentimento; ou seja, trata-se de ramo do Direito Público que se materializa única e exclusivamente por meio da vontade dos sujeitos possuidores de personalidade jurídica internacional. ► PACTA SUNT SERVANDA: A noção de consentimento está fundamentalmente vinculada ao princípio pacta sunt servanda, de inspiração romana, segundo o qual aquilo que foi acordado deve ser cumprido. Trata-se de princípio orientado muito mais por valores éticos abstratos que por normas jurídicas concretas. 1.3. Desenvolvimento histórico do Direito Internacional Público. 1o tratado internacional registrado na História: Tratado de Paz celebrado entre Hatusil III, rei dos hititas, e Ramsés II, faraó egípcio da XIXa dinastia (assinado em algum momento entre 1280 e 1272 a.C). O referido tratado pôs fim às guerras entre os dois povos, estabelecendo aliança contra inimigos comuns e disciplinando as respectivas relações de comércio, migração e extradição. Os tratados, na origem, fundamentavam-se no costume. As grandes navegações iniciadas no séc. XV, resultantes da expansão dos impérios europeus (principalmente Espanha e Portugal), tornaram mais complexas as relações entre os Estados. Por mais ou menos duzentos anos, os tratados celebrados são quase sempre bilaterais. Somente no séc. XVII começam a surgir os primeiros tratados multilaterais e, no mesmo período, verifica-se a constitucionalização dos Estados europeus, fenômeno que dá origem à inserção dos parlamentos no contexto do Direito Internacional Público. Consolida-se, assim, o vínculo formal entre o Direito Internacional Público e o Direito Constitucional. 1.4. Cronograma histórico simplificado do Direito Internacional. 12801 0 14942 2006 Notas: (1) Tratado de Paz celebrado entre os hititas e os egípcios. (2) Tratado de Tordesilhas, celebrado entre Espanha e Portugal. 1.5. Teorias do Direito Internacional Público. ▪ DUALISMO. Conceito: “Coexistência de dois princípios ou posições contrárias, opostas.”1 TEORIAS DUALISTAS (Carl Heinrich Triepel, ALEMANHA; Dionisio Anzilotti, ITÁLIA): a ordem internacional e a ordem interna compreendem sistemas autônomos e distintos, o que significa dizer que a validade e a eficácia de uma lei vigente em determinado Estado não estão condicionadas às regras ou aos costumes adotados pela comunidade internacional. ▪ MONISMO. Conceito: “Doutrina filosófica segundo a qual o conjunto das coisas pode ser reduzido à unidade.”2 1 2 Fonte: Dicionário Aurélio. Fonte: Dicionário Aurélio. 3 TEORIAS MONISTAS (duas correntes): 1a corrente monista (Hans Kelsen): unidade da ordem jurídica com a supremacia do Direito Internacional Público, ficando o ordenamento jurídico de cada Estado numa posição hierárquica inferior às leis internacionais; 2a corrente monista (durante o período da Guerra Fria: União Soviética e aliados; atualmente: Bolívia, Coréia do Norte, Cuba e Venezuela): unidade da ordem jurídica com a supremacia do ordenamento jurídico de cada Estado, sendo facultativa a adoção das leis internacionais. “o monismo sustenta que o Direito Internacional e o Direito Interno são dois ramos de um único sistema, defendendo uns o primado do primeiro, e outros, a primazia do segundo. Se uma norma de Direito Interno for de encontro ao Direito Internacional, será aquela nula (Kelsen), ou constitui o Estado em infração (Verdross). Há aqueles que entendem, dentro do monismo, que o Direito Interno deve prevalecer, porque o Direito das Gentes é parte do Direito do Estado, uma conseqüência de suas leis. Os monistas partem do princípio de que todos os Direitos emanam de uma só fonte, daí ser a consciência jurídica uma só. São seus defensores Kelsen, Verdross e, dando prioridade ao Estado, Wenzel. Partilhamos da idéia de que o Direito é um somente, sendo-nos mais simpática a teoria monista com prevalência do Direito Internacional.” 2. ESTADOS. Nota explicativa: para efeito didático, são dois os sujeitos de Direito Internacional Público: (1) os Estados; e (2) as organizações internacionais. Estes sujeitos (entes, entidades, pessoas jurídicas) possuem personalidade jurídica internacional, uma característica que produz três capacidades, a saber: 1a: capacidade para celebrar tratados; 2a: capacidade para usufruir de privilégios e imunidades; e 3a: capacidade para patrocinar reclamações internacionais. 2.1. Estado (perspectiva interna). Conceito: realidade política construída por força da combinação dos elementos (a) população, (b) território e (c) governo soberano. Conceito de Thomas HOBBES3: “Uma grande multidão institui a uma pessoa, mediante pactos recíprocos uns com os outros, para em nome de cada um como autora, poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum”4 (grifei). 3 Conceito instrumental de Estado; em outras palavras, o Estado como meio. HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. São Paulo: Martin Claret, 2001, p. 131. 4 4 Conceito de Georg HEGEL5: “O Estado, como realidade em ato da vontade substancial, realidade que esta adquire na consciência particular de si universalizada, é o racional em si e para si: esta unidade substancial é um fim próprio absoluto, imóvel, nele a liberdade obtém o seu valor supremo, e assim este último fim possui um direito soberano perante os indivíduos que em serem membros do Estado têm o seu mais elevado dever”6 (grifei). 2.2. Estado (perspectiva externa). Conceito: sujeito central do Direito Internacional Público, entidade possuidora de personalidade jurídica internacional. Conceito de Francisco REZEK: “O Estado, sujeito originário de direito internacional público, ostenta três elementos conjugados: uma base territorial, uma comunidade humana estabelecida sobre essa área, e uma forma de governo não-subordinado a qualquer autoridade exterior”7 (grifei). 2.3. Território. Conceito: área sobre a qual o Estado exerce sua jurisdição, incluídos o limite terrestre, o mar territorial (no caso dos Estados banhados pelo mar) e o espaço aéreo. 2.4. População. Conceito: total de indivíduos domiciliados no território do Estado. Conceito de Francisco REZEK: “População do Estado soberano é o conjunto das pessoas instaladas em caráter permanente sobre seu território: uma vasta maioria de súditos locais, e um contingente minoritário – em número proporcional variável, conforme o país – de estrangeiros residentes.”8 3. GOVERNO. Nota explicativa: a idéia de “governo soberano” traduz uma dimensão binária, integrada pela noção de governo e pelo conceito de soberania. Inicialmente, devemos analisar o significado da noção de governo, fundamental para o estudo do Direito Internacional Público, especialmente no que diz respeito à análise do tema relacionado ao reconhecimento de Estado e de governo. 3.1. Governo. Conceito: a organização política e administrativa do Estado. (aula 10/8/09) Elementos centrais: político (representação, questão ideológica, processo decisório) e administrativo (a pergunta embutida é “como fazer”, a idéia de Poder Executivo encontra-se aí) Governo é um elemento do Estado, 5 Conceito finalístico de Estado; em outras palavras, o Estado como fim. HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princípios da filosofia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 217. 7 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 163. 8 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 179. 6 5 Conceito de Manoel Gonçalves FERREIRA FILHO: “O complexo de estruturas e funções centrais e superiores, em que se exerce no Estado o máximo poder político, atribuído conforme as normas da Constituição.”9 Conceito de Herman FINER: “O exercício da autoridade dos homens sobre os homens.”10 Ainda de acordo com Herman FINER (Universidade de Chicago, maio de 1949), governo é a combinação de dois elementos: (1) elemento político e (2) elemento administrativo; no mesmo sentido e vinte anos depois, outro FINER (Samuel, Universidade de Manchester, dezembro de 1969), haveria de confirmar tal entendimento, ao afirmar que “o governo, no sentido de processo de governar, se compõe de dois elementos – escolher uma linha de ação e executá-la.”11 Assim, a “linha de ação” é o elemento político (conteúdo da ação: “o que fazer”) e a correspondente “execução” representa o elemento administrativo (forma da ação: “como fazer”). 3.2. Reconhecimento de Estado e de governo. (1) reconhecimento de Estado: manifestação unilateral do Estado (declaração), expressa ou tácita, no sentido de admitir a existência de outro Estado. O que acontece no âmbito da Comunidade Int qdo surge um novo Estado Soberano? Os outros Estados o reconhecem, unilateralmente, de forma tácita, como a abertura de embaixadas Reconhecimento expresso: MANIFESTAÇÃO POR NOTA OU DOC FORMAL Ex. Timor-Leste era dependente da Indonésia quando ficou independente (2) reconhecimento de governo: manifestação unilateral do Estado (declaração), expressa ou tácita, no sentido de admitir a legitimidade da ordem política vigente em determinado Estado. De que maneira a Comunidade Int reage qdo aparece um novo Governo, qdo ocorre uma guerra? O governo do Irã foi reeleito sob fortes denúncias de corrupção e não deixou de ser um Estado na Com. Int. na 1ª. semana de agosto de 2009 (os EUA) reconheceu o “novo governo” do Irã. O Br também reconheceu o novo governo do Irã, de forma tácita de reconhecimento de governo pode ser como o Governo Lula fez em declaração televisiva dizendo que houve vencedor como em um jogo de futebol. - Existem 2 mecanismos de reconhecimento de um Estado e de um Governo: expresso ou tácito. Qdo o reconhecimento é expresso, para não gerar dúvida, é gerada uma “nota internacional”. - Reconhecimento tácito de um Estado: O Estado silencia, embaixadas, manutenção das relações comerciais, dos tratados - Reconhecimento expresso: nota internacional, voto em reuniões das Org Int ADERIR= A ENTRADA DE UM ESTADO EM UMA ORG INT DENUNCIAR = SAIR UNILATERALMENTE DE UMA ORGANIZAÇÃO INT AB-ROGAÇÃO= SAÍDA DE VÁRIOS OU TODOS PAÍSES DE UMA ORG. INT HONDURAS sofreu um golpe de Estado em julho de 2009, (houve uma ruptura institucional) mas não deixou de fazer parte da Comunidade Int. Três Exemplos Clássicos: golpe de Estado, revolução e guerra De que maneira a Comunidade Int reage a um golpe de Estado? A maioria dos países não reconhece o novo governo de Honduras, por exemplo, mas não interferem pelo princípio de soberania. Artigo 18,CF = forma do federalismo do Estado Br 9 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 75. FINER, Herman. Theory and practice of modern government. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1960, p. 04. 11 FINER, Samuel Edward. Governo comparado. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981, p. 22. 10 6 - repartição vertical de poder: União é = Estados + DF +Municípios União não é sinônimo de Estado *A União é quem representa o Br na comunidade Int.* Hoje existe a possibilidade de Agente internacional celebrar contratos com um não-agente Int? A tendência é que as relações Int. se regionalizem, então é possível, contudo o Estado dá aval para o seu membro federado celebra algum contrato. Os EUA não assinaram o protocolo de Kyoto, contudo a Califórnia assumiu o que propõe o protocolo de Kyoto, assinando o tratado. 4. ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS. Nota explicativa: as organizações internacionais são, para todos os efeitos, sujeitos de Direito Internacional Público. Entretanto, ao contrário dos Estados, as organizações internacionais representam um fenômeno recente do Direito Internacional Público, na medida em que surgiram no final do séc. 19 (considerada a primeira organização internacional, a Universal Postal Union – UPU, ou “União Postal Universal”, estabelecida em 1874, é atualmente integrada por 191 Estados-membros). Entretanto, a doutrina indica 1919 como marco inicial da participação das organizações internacionais na comunidade internacional, ano de fundação da Sociedade das Nações – SDN (também conhecida como “Liga das Nações”), a qual seria extinta de fato em 1939 e extinta de direito em 1946. 4.1. Organizações internacionais. Conceito: organizações possuidoras de personalidade jurídica de Direito Internacional Público, formadas pela associação de Estados. Conceito de Ian BROWNLIE: “Associação permanente de Estados, que prossegue fins lícitos, dotada de órgãos próprios.”12 OBS: - O que é uma organização internacional? É uma associação formal de Estados “é permanente, formal (a natureza jurídica é CONSTITUTIVA (doc que dá origem à Org Int.), um ex. no Mercosul temos o Tratado, Carta da ONU deu origem à ONU, Constituição é o nome do documento que deu origem à OIT); - Existem tribunais internacionais que também se constituem em Org. Int. autônoma; - Alguns órgãos não são Org. Int., mas sim órgãos próprios. 4.2. Elementos constitutivos: (1) elemento material (agrupamento de Estados); e (2) elemento formal (personalidade jurídica internacional). 4.3. Características, estrutura organizacional e processo decisório no âmbito das organizações internacionais. Características: (1) competência para celebrar tratados; (2) personalidade jurídica autônoma e derivada; (3) multiplicidade de membros; 12 BROWNLIE, Ian. Princípios de direito internacional público. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, p. 709. 7 (4) duração permanente; (5) estatuto próprio; (6) sede própria (acordo-sede, tratado bilateral: “país de acolhimento”). Estrutura organizacional: (1) assembléia geral (sempre); (2) secretaria (sempre); (3) conselho permanente (em alguns casos; ex.: Conselho de Segurança da ONU). Processo decisório: (1) (2) (3) (4) método deliberativo; voto unitário em assembléia geral; aplicabilidade eventual do princípio majoritário; atos revestidos de formalidade (ex.: Resoluções da ONU). 4.4. Outros sujeitos. Indivíduo. O indivíduo não possui personalidade jurídica de Direito Internacional Público. Por outro lado, pode-se afirmar que o individuo é destinatário de normas de Direito Internacional Público. Todavia, conforme assinala Fernando Gamboa SERAZZI, “já se reconhece ao indivíduo a titularidade de certos direitos e obrigações internacionais e, excepcionalmente e com bastante limitação, capacidade para fazer valer tais direitos”13 perante algumas organizações internacionais. Nas palavras de Carolina Ghinato DAOUD, “a classificação da doutrina quanto ao tema, no século XX não é uniforme; entretanto, é possível dividi-la em dois grandes grupos: os que negam e os que afirma ser o homem sujeito de Direito Internacional.”14 Organizações não-governamentais (ONG’s). “A sigla ONG corresponde a organização não-governamental — uma expressão que admite muitas interpretações. A definição textual (ou seja, aquilo que não é do governo) é tão ampla que abrange qualquer organização de natureza não-estatal. Em âmbito mundial, a expressão surgiu pela primeira vez na Organização das Nações Unidas (ONU) após a Segunda Guerra Mundial, com o uso da denominação em inglês “Non-Governmental Organizations (NGOs)” para designar organizações supranacionais e internacionais que não foram estabelecidas por acordos governamentais. Do ponto de vista formal, uma ONG é constituída pela vontade autônoma de mulheres e homens, que se reúnem com a finalidade de promover objetivos comuns de forma não lucrativa. Nossa legislação prevê quatro formatos institucionais para a constituição de uma organização sem fins lucrativos, com essas características – associação, fundação, organização religiosa e partido político. Por não ter objetivos confessionais ou eleitorais, juridicamente toda ONG é uma associação civil ou uma fundação privada. No entanto, nem toda associação civil ou fundação é uma ONG. Entre clubes recreativos, hospitais e universidades privadas, asilos, associações de bairro, creches, fundações e institutos empresariais, associações de produtores rurais, associações comerciais, clubes de futebol, associações civis de benefício mútuo, etc. e ONG’s, temos objetivos e atuações bastante distintos, às vezes, até opostos.”15 13 SERAZZI, Fernando Gamboa. Tratado de derecho internacional público. Santiago de Chile: Lexis Nexis, 2003,p. 303. 14 DAOUD, Carolina Ghinato. In O indivíduo como pessoa de Direito Internacional Público e a Corte Internacional Penal (http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1637). 15 Fonte: Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais – ABONG (www.abong.org.br). 8 As organizações não-governamentais (ONG’s) não possuem personalidade jurídica de Direito Internacional Público, razão pela qual não celebram tratados. Contudo, é inegável a importância de determinadas ONG’s no cenário internacional, tais como o Greenpeace e a WWF. Empresas transnacionais. As empresas transnacionais (ou empresas multinacionais) são empresas comerciais (possuem finalidade lucrativa) que exercem suas atividades não apenas nos Estados de origem, mas igualmente em territórios estrangeiros. Empresas como a Kodak, Pfizer, Shell, Toshiba, e Adidas, são empresas transnacionais. Assim como as ONG’s, as empresas transnacionais não possuem personalidade jurídica de Direito Internacional Público. Casos especiais. (a) Santa Sé: sediada em Roma, a Santa Sé (nome oficial: Estado da Cidade do Vaticano) é a cúpula de governo da Igreja Católica; a Santa Sé possui personalidade jurídica de Direito Internacional Público (por força de razões históricas). A Santa Sé integra mais de 30 organizações internacionais e mantém relações diplomáticas com mais de 150 Estados. O embaixador da Santa Sé nos Estados estrangeiros recebe o título de “núncio” (do latim nuntiu), palavra que significa “Embaixador do Papa.” A Nunciatura Apostólica (nuntiatus apostolicu) é a residência do núncio; ou seja, a residência do Embaixador do Papa. (b) Micro-Estados: os micro-Estados possuem personalidade jurídica de Direito Internacional Público. Entretanto, parcela das competências dos micro-Estados é transferida a outros Estados soberanos (via de regra um Estado vizinho), tais como a emissão de moeda e a segurança de fronteiras. Alguns exemplos: (1) Mônaco, (2) Liechtenstein, (3) São Marinho e (4) Andorra. 5. PERSONALIDADE JURÍDICA INTERNACIONAL. Nota explicativa: a maioria dos autores fala em “personalidade jurídica internacional” (ao invés de apenas “personalidade internacional”) para descrever o status jurídico inerente aos sujeitos de Direito Internacional Público (Estados e organizações internacionais). 5.1. Personalidade jurídica internacional. Conceito: característica jurídica fundamental dos sujeitos de Direito Internacional Público, qualidade que confere aos Estados e às organizações internacionais (1) capacidade para celebrar tratados; (2) capacidade para usufruir de privilégios e imunidades; e (3) capacidade para patrocinar reclamações internacionais. A personalidade jurídica internacional é original (ou originária), no caso dos Estados; e derivada (ou não-originária), quando falamos das organizações internacionais. Na primeira hipótese, a personalidade jurídica internacional decorre do próprio surgimento do Estado; na segunda hipótese, a personalidade jurídica internacional emana das organizações internacionais, as quais não se confundem com os Estados-membros (Estados que se associam para instituir as organizações internacionais). 9 De acordo com Jorge Bacelar GOUVEIA, a personalidade jurídica internacional deve ser interpretada como um dos três elementos da subjetividade internacional16: (1) personalidade jurídica internacional: “A personalidade jurídica internacional é a susceptibilidade para ser destinatário de normas e princípios de Direito Internacional, dos quais diretamente decorre a oportunidade para a titularidade de direitos (situações jurídicas ativas) ou para se ficar adstrito a deveres (situações jurídicas passivas).” (2) capacidade jurídica internacional: “A capacidade jurídica internacional afere-se pelo conjunto dos direitos e dos deveres que podem estar inscritos na esfera jurídicointernacional da entidade em causa, também se diferenciando entre uma dimensão de titularidade e uma dimensão de exercício dos mesmos.” (3) pessoa jurídica internacional: “A pessoa jurídica internacional significa que, numa entidade singular (ESTADO) ou coletiva (Org. Int.), se junta a susceptibilidade para ser titular de direitos e destinatário de deveres (...).” QUESTÕES: 1-A teoria dualista defende a tese segundo a qual a ordem internacional e a ordem interna compreendem sistemas dependentes e distintos, o que significa dizer que a validade e a eficácia de uma lei vigente em determinado Estado não estão condicionadas às regras ou aos costumes adotados pela comunidade internacional. FALSO JUSTIFICAR: A ordem Internacional e a ordem interna compreendem sistemas autônomos e distintos 2- Para os teóricos da primeira corrente Monista, o DIP deve ser interpretado na perspectiva da fragmentação da ordem jurídica FALSO JUSTIFICAR: Teoria Monista Para Hans Kelsem o DIP deve possuir uma ordem jurídica hierarquizada, na qual os Estados apresentam posições hierárquica diferenciada 3- Para os teóricos da 2ª. corrente Monista, o DIP compreende uma realidade unitária caracterizada pela Supremacia do ordenamento jurídico de cada Estado, sendo facultativa a adoção das leis internacionais. VERDADEIRO JUSTIFICATIVA: Segundo o pensamento da segunda corrente Monista TEORIAS MONISTAS (duas correntes): 1a corrente monista (Hans Kelsen): unidade da ordem jurídica com a supremacia do Direito Internacional Público, ficando o ordenamento jurídico de cada Estado numa posição hierárquica inferior às leis internacionais; 16 GOUVEIA, Jorge Bacelar. Manual de direito internacional público. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 353. 10 2a corrente monista (durante o período da Guerra Fria: União Soviética e aliados; atualmente: Bolívia, Coréia do Norte, Cuba e Venezuela): unidade da ordem jurídica com a supremacia do ordenamento jurídico de cada Estado, sendo facultativa a adoção das leis internacionais. 4- Carl Heinrich Triepel e Dionísio Anzilotti são autores vinculados às teorias monistas. FALSO JUSTIFICATIVA: são autores vinculados às TEORIAS DUALISTAS (Carl Heinrich Triepel, ALEMANHA; Dionisio Anzilotti, ITÁLIA) OBS: Unasul: em maio de 2008 nasce bloco político dos países sul-americanos →Tratado assinado por 12 países da América do Sul confere personalidade jurídica internacional para o subcontinente. Trocando em miúdos, a América do Sul ganha status de organização internacional, reconhecida na ONU (Organização das Nações Unidas) e capaz de negociar com outros países, blocos de países e instâncias multilaterais. - Poder Constituinte Supranacional é o poder que cria uma Constituição, na qual cada Estado cede uma parcela de sua soberania para que uma Constituição comunitária seja criada. O titular deste Poder não é o povo, mas o cidadão universal. NACIONALIDADE: É um vínculo (elo) entre determinado Estado (país) entre um indivíduo A natureza do vínculo: jurídico-político →1947 Declaração universal do direito dos homens Todos tem direito a uma nacionalidade Natureza jurídica da nacionalidade: direito subjetivo público →Art. 12 CF NATOS ORIGINÁRIA a)Jus soli = nascidos em território brasileiro b)Jus sanguinis=nascidos no estrangeiro de pai ou mãe brasileiros desde que um esteja a serviço do Br NATURALIZADOS DERIVADA/ADQUIRIDA a) destinatários (critério linguístico): estrangeiros de língua portuguesa - critério temporal: 1 ano ininterrupto (é objetivo) -requisito moral: idoneidade moral (é subjetivo) *Competência da União (Art. 21CF) reconhece ou não a idoneidade por meio do Ministério da Justiça – ato administrativo *Princípio da Discricionariedade = conveniência e oportunidade b)destinatários: todos os outros estrangeiros - critério temporal objetivo: 15 anos - critério processual: sem condenação penal (é objetiva é prova documental) - critério volitivo: requerer a nacionalidade c)Jus sanguinis=nascidos no estrangeiro, desde que registrado em repartição competente OU optem “não confundir os destinatários da norma Constitucional (estrangeiros) com os pré-requisitos necessárias à concessão da nacionalidade” -1-Pressupostos definidores da nacionalidade 11 - indica domicílio de nacionalidade *Onde se nasceu? Territorialidade Jus soli 2-Quais são as ancestralidades? Jus sanguinis (critério por sangue) - APÁTRIDA = sem pátria - APATRIA = condição jurídica de ser apátrida NACIONALIDADE “Art. 12. São brasileiros: I – natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; (hipótese de jus soli) b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; (Jus sanguinis=nascidos no estrangeiro) c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente (o registro de nascimento é um serviço CONSULAR – atua como se cartório fosse, quem efetua é o consulado) OU venham a residir na República Federativa do Brasil E optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; (chamado direito de opção, o titular do direito é quem nasceu) (hipótese= Jus sanguinis – em questão de dupla nacionalidade pelo menos terá o jus sanguinis, mas o jus soli somente pode ocorrer uma vez (ninguém nasce em dois lugares ao mesmo tempo) II – naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto E idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos E sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, SALVO os casos previstos nesta Constituição. § 2º – A LEI NÃO poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, SALVO nos casos previstos nesta Constituição. § 3º – São privativos de brasileiro nato os cargos: I – de Presidente e Vice-Presidente da República; II – de Presidente da Câmara dos Deputados; III – de Presidente do Senado Federal; IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V – da carreira diplomática; VI – de oficial das Forças Armadas. VII – de Ministro de Estado da Defesa § 4º – Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I – tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; (BR naturalizado) II – adquirir outra nacionalidade, SALVO no casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. CURIOSIDADES: - Lei 6815/1980 = sobre o estrangeiro, visto, permanência - Um dos princípios do Dir Int. é o da “Reciprocidade” 12 SEGUNDA PARTE FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO O ARTIGO 38 DO ESTATUTO DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA TRATADOS, COSTUMES E PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL, DOUTRINA E EQÜIDADE OUTRAS FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ________________________________________________________________________________ 1. FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. Nota explicativa: para efeito de compreensão didática das fontes do Direito Internacional Público, deve-se ter em mente o disposto no artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça – CIJ (principal tribunal internacional do mundo). Há que se ressaltar, no entanto, que as fontes do Direito Internacional Público não se limitam àquelas citadas no artigo 38. - Função: julgar conflitos - a CIJ julga quem? Jurisdição sobre Estados - Geralmente julga conflitos territoriais – julga conflitos entre Países - CIJ ou TRIBUNAL INTERNACIONAL DE JUSTIÇA ou Haia a) ato ilícito por ação ou omissão b) imputabilidade c) ocorrência de dano a partir do ato ilícito - AS 3 FONTES + IMPORTANTES DO DIR. INTERNACIONAL, não são só essas fontes “Artigo 38. 1. A Corte, cuja função é decidir em conformidade com o direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: a. As convenções (TRATADOS) internacionais, quer gerais (PROTOCOLO DE KIOTO), quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;(TRATADOS) b. O costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como direito;(COSTUMES, CONSUETUDINÁRIO) c. Os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas (QUEM É CIVILIZADA); d. Com ressalva das disposições do artigo 59, as decisões judiciais e a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito (significa instrumentos de interpretações: decisões judiciais ou jurisprudências do próprio tribunal ou dos países + doutrina) . - regras de direito: tratados, costumes e princípio geral do direito 2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et Bono (o que é equilibrado é bom = equidade), se as partes assim convierem.” (a CIJ pode utilizar o princípio de Equidade desde que as partes assim convencionem). Ver o conceito de equidade de Aristótesles: p.18 13 Da leitura do artigo 38, poderíamos imaginar a existência de uma “hierarquia das normas” internacionais. Em verdade, não há, no domínio do Direito Internacional Público, hierarquia normativa de qualquer tipo. Entretanto, a moderna doutrina aponta a supremacia do Princípio jus cogens em relação ao conjunto de normas, convencionais ou consuetudinárias, que integram a ordem jurídica internacional. O artigo 38 não é taxativo, mas apenas uma referência indicativa de fontes do Direito Internacional Público. O termo “decisões judiciais” se refere à jurisprudência internacional; a infeliz expressão “nações civilizadas” deve ser compreendida como sinônimo de Estados. Por fim, “decidir uma questão ex aequo et bono” significa que a CIJ poderá valer-se da eqüidade em seus julgamentos, desde que haja concordância das partes em conflito em relação à adoção de tal método. *FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 1- Tratados = fonte formal 2- Costumes = fonte informal 3- Princípios Gerais de Direito = são os princípios mais gerais como cumprir pagamento - Onde está o Direito? = a fonte é a origem As fontes estão listadas no Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça (CIJ) -TPI = TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL = foi criado pelo Instituto de Roma, só julga pessoa física, mas o ambiente de cometimento de crimes podem levar à “responsabilidade internacional”. - Autor: Antônio Casesse QUESTÃO: O Tribunal Penal Internacional tem competência para julgar pessoas a) acusadas de crimes de guerra, contra a humanidade e genocídio, ocorridos a partir da entrada em vigor do Estatuto de Roma, em 2002. b) acusadas de crimes de guerra, contra a humanidade e genocídio, ocorridos a partir da entrada em vigor do Estatuto de Roma, em 1998. c) acusadas de crimes de guerra, contra a humanidade, genocídio e terrorismo. d) e Estados acusados de crimes de guerra, contra a humanidade, genocídio e terrorismo. e) e Estados acusados de crimes de guerra, contra a humanidade e genocídio 2-O denominado "Sistema ONU" de proteção dos direitos humanos inclui a) o Conselho de Direitos Humanos e o Tribunal Penal Internacional. b) o Conselho de Direitos Humanos, os altos comissários, os relatores especiais, os comitês criados pelos tratados internacionais e o Tribunal Penal Internacional. c) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, a Corte Européia de Direitos Humanos e a Corte Africana de Direitos Humanos. d) o Conselho de Direitos Humanos, os altos comissários, os relatores especiais, os comitês criados pelos tratados internacionais e a Corte Internacional de Justiça. e) o Conselho de Direitos Humanos, Corte Internacional de Justiça e o Tribunal Penal Internacional. 2. TRATADOS. - É pacto, aplica-se o princípio Pacta Sunt Servanda (o que foi pactuado deve ser cumprido); é elemento constitutivo de uma norma jurídica, muitas vezes a norma incorpora o princípio geral do direito. - Tratado é dever-ser = existe para ser cumprido, mas não significa que irá ser cumprido; - É norma jurídica = direitos e obrigações para as partes signatárias; as partes serão sempre sujeitos internacionais 14 - É ato jurídico = alguém tem de assinar o texto → Nesse sentido, o tratado possui, também, natureza binária: é ao mesmo tempo ato jurídico (ato de vontade de assinar o tratado, é a celebração do doc.), e norma jurídica. (as duas dimensões que se completam) → esses dois itens são de natureza binária = é ao mesmo tempo norma e ato ( a assinatura do Executivo gera a norma que se efetivará após a chancela (referendo) do Congresso Nacional no caso do Brasil) - É acordo formal, pacto, ajuste formal, sempre por escrito (não existe tratado verbal) Nota explicativa: o tratado é a fonte mais importante do Direito Internacional Público. Independentemente da expressão utilizada (“tratado”, “tratado internacional”, “convenção”, “protocolo”, “acordo”, “constituição”, “carta”, “estatuto”, “concordata”), o termo “tratado” (e todas as demais expressões congêneres) se refere àquele pacto celebrado por escrito entre sujeitos possuidores de personalidade jurídica internacional (Estados e organizações internacionais). RECEPÇÃO DE TRATADOS →DE que maneira o Direito Brasileiro recepciona/internaliza o Tratado? De que maneira o ordenamento jurídico integra o Tratado Internacional? - Regras constitucionais expressas ou tácitas exprimem, definem o modelo de recepção de tratados Doutrina da transformação Doutrina da incorporação A Cf Br. adota a doutrina da transformação - Ex. Alemanha, EUA, Portugal - outros países: Angola, Chile, Guatemala, Polônia, Suíça, Uruguai - Corrente teórica do Dualismo: - Corrente teórica Monista: - RECEPÇÃO NÃO AUTOMÁTICA: o Tratado O tratado entra em vigor para entrar em vigor precisa da manifestação AUTOMATICAMENTE definitiva do Congresso Nacional - inexigibilidade de atos de Dir. Interno -exigência de atos de Direito Interno - DECRETO = ato de direito interno, ato do poder Executivo que dá publicidade aos Tratados . - Teória Monista – no universo existe uma única ordem jurídica a) Autor: Hans Kelsen 2.1. Tratado. É norma jurídica e também é fonte formal. Conceito. “O tratado designa qualquer acordo concluído entre dois ou mais sujeitos de direito internacional, destinado a produzir efeitos de direito e regulado pelo direito internacional.”17 17 DAILLIER, Patrick (Nguyen Quoc Dinh e Alain Pellet). Direito Internacional Público. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p. 120. 15 Conceito de Francisco REZEK: “Tratado é todo acordo formal concluído entre sujeitos de direito internacional público, e destinado a produzir efeitos jurídicos.”18 Conceito fixado pela CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE O DIREITO DOS TRATADOS de 1969 (artigo 2o): “Um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica.” 2.2 Características fundamentais dos tratados. (1) Multiplicidade de partes (duas ou mais partes signatárias): ● tratados bilaterais (exatamente duas partes signatárias); ● tratados multilaterais (três ou mais partes signatárias). (2) Personalidade jurídica de Direito Internacional Público dos pactuantes: ● Estados soberanos; ● Organizações internacionais. (3) Formalidade: o tratado é um acordo rigorosamente formal. Em outras palavras, todo e qualquer tratado será necessariamente celebrado por escrito. O tratado, portanto, possui natureza formal e documental. O tratado tem natureza documental. (4) Produção de efeitos jurídicos: todo e qualquer tratado produzirá necessariamente efeitos jurídicos para os pactuantes (partes signatárias). Nesse sentido, o tratado possui, também, natureza binária: é ao mesmo tempo ato jurídico e norma jurídica. Norma jurídica = preceito legal de conduta que gera impacto sobre todos (5) Modelo estruturado: ● Preâmbulo (sempre): introdução; ● Dispositivo (sempre): conteúdo; figuram as normas jurídicas; parte operativa ● Anexos (eventualmente): detalhamento. (6) Aplicabilidade do princípio pacta sunt servanda: o tratado é, acima de tudo, um pacto. Por isso mesmo, a todo e qualquer tratado aplica-se o princípio pacta sunt servanda (“o que foi pactuado deverá ser cumprido”). O tratado compreende, dessa forma, a combinação de normas jurídicas concretas (direitos e obrigações das partes signatárias) com valores éticos abstratos (boa-fé e expectativa de realização do acordo). (7) Aplicabilidade do princípio do consentimento: a noção de consentimento (anuência, aprovação, permissão) é essencial a todo e qualquer tratado. É absolutamente nulo, por exemplo, o tratado no qual um dos Estados pactuantes tenha sofrido coação por ameaça ou por emprego da força. (8) Regência do Direito Internacional Público: sendo ao mesmo tempo ato jurídico e norma jurídica, o tratado deverá estar amparado por alguma ordem jurídica. Sabendo-se que a jurisdição da sociedade internacional é facultativa, e tendo em vista a inaplicabilidade do princípio 18 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 14. 16 da subordinação na esfera desta mesma sociedade internacional, o tratado será sempre regido, por conseqüência, pelo Direito Internacional Público. (NÃO ao princípio da subordinação) Ex. O Tratado de Assunção é o criador do Mercosul em 1991 com 4 partes signatários: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai → Qualquer proposta tem de ser por consenso. → O ato de criação (que cria) de um tratado é denominado CELEBRAÇÃO *Fenômenos de alteração, de modificação um (bloco), de um Tratado → DENÚNCIA é a saída unilateral de um Estado, por ex. O Brasil soberanamente quer sair do Tratado →ADESÃO = entrada de um Estado (adere ao tratado ou ao estatuto); →AB-ROGAÇÃO = significa a saída de todos os membros ao mesmo tempo, ou seja, extinção de um tratado por vontade comum de todos os signatários 2.3. Gênese, validade e extinção dos tratados. A compreensão da gênese (formação) dos tratados pressupõe, como ponto de partida, a idéia de que a representatividade exterior destinada à negociação e à celebração de tratados é característica comum de todo e qualquer sujeito possuidor de personalidade jurídica internacional, razão pela qual é importante identificar a titularidade e o limite da representatividade exterior. 2.4. Representatividade exterior. ▪ chefe de Estado (mandatário): representatividade exterior originária e ampla (negociação e celebração); ▪ chefe de governo (mandatário): representatividade exterior originária e ampla (negociação e celebração); ▪ ministro de Estado responsável pelas relações exteriores (plenipotenciário): representatividade exterior derivada e ampla (negociação e celebração). ▪ chefe de missão diplomática (plenipotenciário): representatividade exterior derivada e limitada (negociação apenas). 2.5. Gênese: negociação bilateral ou multilateral (coletiva). A fase de negociação representa fundamentalmente o início da gênese dos tratados. É nesta fase que os futuros signatários negociam os termos dos tratados, os quais serão celebrados após negociações bilaterais ou multilaterais (coletivas). ● negociação bilateral: ocorre normalmente no território de uma das signatárias. A inexistência de relacionamento diplomático permanente entre os pactuantes não impede a celebração do tratado bilateral. Neste caso, uma das partes enviará para o território da outra parte uma delegação ad hoc. ● negociação multilateral (coletiva): ocorre normalmente na esfera de uma conferência diplomática internacional. A convocação deste tipo de conferência ocorre por iniciativa dos Estados soberanos e das organizações internacionais e, eventualmente, por iniciativa de algum Estado soberano que, mesmo não sendo um dos signatários, possui interesse na matéria a ser pactuada. 2.6. Validade. 17 A idéia de que o tratado é um acordo significa que este tipo de pacto produz efeitos jurídicos para as partes signatárias, sendo ao mesmo tempo ato jurídico válido e norma jurídica igualmente válida para os pactuantes. São três as condições fundamentais de validade do tratado: (1a) competência dos signatários; (2a) objeto lícito e possível; e (3a) consentimento obrigatório. ;2.7. Extinção. No que diz respeito à extinção do tratado, é importante observar, inicialmente, as espécies de vigência deste tipo de acordo: (1) tratado estático (vigência perpétua); e (2) tratado dinâmico (vigência por tempo indeterminado e por tempo determinado). ● Extinção pela vontade comum: dá-se o nome de ab-rogação à revogação resultante da vontade comum dos pactuantes. A ab-rogação é (1) predeterminada (quando o texto do tratado prevê o fim da vigência); ou (2) superveniente (quando a revogação decorre da vontade das partes, mesmo inexistindo previsão nesse sentido no texto do tratado vigente). ● Extinção pela vontade unilateral: dá-se o nome de denúncia (ato unilateral) à revogação resultante da vontade de um dos pactuantes em retirar-se do tratado. A comunicação da denúncia é um ato formal materializado por meio de notificação (carta ou instrumento), independentemente da existência ou inexistência de previsão expressa no texto do tratado para este tipo de revogação. 2.8. Causas motivadoras da extinção. A extinção do tratado ocorrerá por ab-rogação ou por denúncia. É importante observar que a extinção poderá ocorrer em função de três hipóteses: (1a) fim da vontade de permanecer pactuando; (2a) impossibilidade de execução do pactuado; (3a) alteração fundamental das circunstâncias. 3. COSTUMES. Nota explicativa: o costume é a fonte mais antiga do Direito Internacional Público, fenômeno jurídico anterior a qualquer noção de acordo internacional celebrado por escrito: trata-se de verdadeira fonte do Direito Internacional Público. O costume, a depender do grau de sua aceitação pelos membros da comunidade internacional, é muitas vezes consolidado nos textos dos tratados bilaterais e multilaterais. 3.1. Costume internacional. Conceito: “Prática geral aceita como direito” (Estatuto da CIJ: art. 38, 1, “b” O costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como direito). Conceito de Francisco REZEK: “A repetição, ao longo do tempo, de um certo modo de proceder ante determinado quadro de fato.”19 3.2. Elementos constitutivos do costume internacional. (a) elemento material ( o corpus ): a repetição da conduta (“cumpriment o repetido de atos denominados precedentes”20); 19 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 122. DAILLIER, Patrick (Nguyen Quoc Dinh e Alain Pellet). Direito Internacional Público. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p. 329. 20 18 (b) elemento psicológico ( o animus ): a idéia de justiça (“convicção dos sujeitos de direito de que o cumprimento de tais atos é obrigatório porque o direito o exige”21). 3.3. Abrangência do costume internacional. (a) universal: costume internacional reconhecido por toda a comunidade internacional; (b) regional: costume internacional reconhecido na esfera específica de determinadas regiões; (c) local: costume internacional reconhecido apenas no âmbito de determinadas localidades. 4. PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO. Nota explicativa: os princípios gerais de direito representam a fonte mais “universal” do Direito Internacional Público. Para efeito de classificação, podemos posicionar os princípios gerais de direito em três grandes categorias: (1) princípios gerais de direito específicos do Direito Internacional Público; (2) princípios gerais de direito comuns ao Direito Internacional Público e aos ordenamentos jurídicos internos; e (3) princípios gerais de direito consagrados pela jurisprudência internacional. Conceito: princípios que traduzem regras jurídicas universalmente aceitas pelos sujeitos de Direito Internacional Público. 4.1. Princípios gerais de direito específicos do Direito Internacional Público. ▪ princípio da não-agressão; ▪ princípio da autodeterminação dos povos; (constante na CF, art 4º., III) ▪ princípio do desarmamento; ▪ princípio da solução pacífica dos litígios entre Estados; (constante na CF, art 4º., VII) ▪ princípio da coexistência pacífica. 4.2. Princípios gerais de direito comuns ao Direito Internacional Público e aos ordenamentos jurídicos internos. ▪ princípio pacta sunt servanda; ▪ princípio lex posterior derogat priori; (O princípio cronológico lex posterior derogat legi priori, se refere ao início da vigência das leis. Para normas gerais, de mesmo nível hierárquico estabelecidas em diferentes ocasiões, tem validade a norma editada em último lugar. O critério lex posterior derogat legi priori significa que se duas normas são antinômicas e do mesmo nível, a mais recente deverá prevalecer sobre a mais antiga.) ▪ princípio nemo plus juris. 21 DAILLIER, Patrick (Nguyen Quoc Dinh e Alain Pellet). Direito Internacional Público. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p. 329. 19 5. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL, DOUTRINA E EQÜIDADE. Nota explicativa: a jurisprudência internacional (“decisões judiciais”) e a doutrina representam um “meio auxiliar para a determinação das regras de direito” internacional, nos termos do disposto no artigo 38 do Estatuto da CIJ (1, “d”). Em outras palavras, são instrumentos de interpretação do Direito Internacional Público vigente. No que se refere à eqüidade, trata-se de “um modo de aplicar o sentimento ideal de justiça aos casos concretos”22 (grifo original). 5.1. Jurisprudência internacional (“decisões judiciais”). Conceito: conjunto de decisões arbitrais proferidas no âmbito da sociedade internacional, desde os tempos mais antigos, e decisões proferidas pelos tribunais internacionais, tais como as sentenças da CIJ. 5.2. Doutrina. Conceito: opinião (livros, teses, pareceres) dos especialistas em Direito Internacional Público. O provimento da prova da substância do Direito Internacional Público é uma das principais funções da doutrina, além da influência que esta exerce sobre o desenvolvimento qualitativo do ordenamento jurídico internacional. 5.3. Eqüidade. Conceito: do latim aequitate, a eqüidade é um método de raciocínio jurídico, mecanismo de análise amparado pela combinação da noção de igualdade com a idéia de moderação (a eqüidade não é norma jurídica). Equidade não é norma, não é fonte! Equidade = igualdade + proporcionalidade Os estudos sobre a eqüidade são antigos e encontraram em Aristóteles profundas reflexões sobre o tema. Para o filósofo grego, a eqüidade deve ser compreendida na perspectiva da proporcionalidade. Trata-se da igualdade proporcional aristotélica: “Se as pessoas não forem iguais, elas não terão uma participação igual nas coisas, mas isto é a origem de querelas e queixas (quando pessoas iguais têm e recebem quinhões desiguais, ou pessoas desiguais recebem quinhões iguais).”23 6. OUTRAS FONTES. Nota explicativa: as fontes do Direito Internacional Público não se limitam aos tratados, aos costumes e aos princípios gerais de direito. As “normas imperativas de Direito Internacional” ( jus cogens ) e os atos unilaterais (atos unilaterais dos Estados e atos unilaterais das organizações internacionais) são do mesmo modo fontes do Direito Internacional Público (independentemente do silêncio do artigo 38 do Estatuto da CIJ). 22 André Gonçalves Pereira e Fausto de Quadros, citados por Jorge Miranda (MIRANDA, Jorge. Curso de direito internacional público. Estoril: Princípia, 2006. p. 44. 23 ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. 3a ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1992, p. 96. 20 6.1. “Normas imperativas de Direito Internacional” ( jus cogens ). Conceito de jus cogens: o direito imperativo; o direito que obriga. Na esfera específica do Direito Internacional Público, deve-se interpretar o princípio jus cogens como o conjunto de normas que objetivamente impõem direitos e obrigações aos Estados e às organizações internacionais. O princípio jus cogens foi disciplinado formalmente em 1969, ano de celebração da CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE O DIREITO DOS TRATADOS. O art. 53 do referido tratado determina que: “ARTIGO 53. TRATADO EM CONFLITO COM UMA NORMA IMPERATIVA DE DIREITO INTERNACIONAL GERAL (JUS COGENS) É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral. Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza” (grifei). O mesmo princípio foi consolidado no texto da CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE DIREITOS DOS TRATADOS ENTRE ESTADOS E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS OU ENTRE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS (1986). As “normas imperativas de Direito Internacional” são fundamentalmente normas proibitivas. Alguns exemplos: (1) proibição do genocídio; (2) proibição da escravidão; (3) proibição da segregação racial; (4) proibição da tortura. 6.2. Atos unilaterais. Conceito: “ato imputável a um único sujeito de direito internacional.”24 (1) Atos unilaterais dos Estados: (a) notificação; (b) reconhecimento; (c) protesto; (d) renúncia; (e) promessa. (2) Atos unilaterais das organizações internacionais. (a) decisões; 24 DAILLIER, Patrick (Nguyen Quoc Dinh e Alain Pellet). Direito Internacional Público. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p. 368. 21 (b) recomendações. TERCEIRA PARTE SOBERANIA E JURISDIÇÃO PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS E CONSULARES NACIONALIDADE: ARTIGO 12 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO ASILO POLÍTICO ________________________________________________________________________________ 1. SOBERANIA E JURISDIÇÃO. Nota explicativa: qualquer conceito razoável de Estado pressupõe a idéia de que o fenômeno estatal é uma realidade integrada por três elementos: (1) território; (2) população; e (3) governo. Surge, porém, no domínio doutrinário, dúvida quanto à existência (ou inexistência) de um quarto elemento: a soberania. A maioria dos autores interpreta a soberania não como um quarto elemento autônomo, e sim como uma qualificadora do elemento governo (daí a expressão “governo soberano”). A jurisdição, por outro lado, pode ser interpretada como o limite do exercício da soberania; ou, em termos mais amplos, o poder estatal de proclamar o direito nos limites da sua soberania. 1.1. Soberania. Conceito: o conjunto de poderes que sustentam o Estado. Conceito do Dicionário de política: “(...) o poder de mando de última instância numa sociedade política”; (...) “a racionalização jurídica do poder (...).”25 1.2. Perspectivas interna e externa da soberania. (1) perspectiva interna: o supremo poder ( suprema potestas ) do Estado sobre o território e a população. (2) perspectiva externa: a materialização política da igualdade, fenômeno que coloca o Estado no mesmo plano (horizontal) dos demais Estados soberanos. 1.3. Soberania internacional. A idéia de soberania internacional (decorrente da perspectiva externa do conceito de soberania) é fundamental para a compreensão do Estado como sujeito possuidor de personalidade jurídica internacional e, por isso mesmo, sujeito de direitos e deveres na esfera da comunidade internacional. Comum, nesse sentido, é a expressão “Estado soberano”, fórmula que enfatiza a soberania do Estado, traço que consagra o princípio basilar da igualdade entre Estados. Nas palavras de Jorge Bacelar GOUVEIA, a soberania internacional produz duas categorias de situações jurídicas para o Estado: 25 BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; Gianfranco PASQUINO. Dicionário de política. Vol. 2, 12a ed. Brasília: Universidade de Brasília, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2003, p. 1179. 22 “─ direitos: a não sujeição orgânica dos Estados a outros sujeitos; a presunção de regularidade dos respectivos atos; a sua autonomia constitucional na respectiva organização política; ─ deveres: o respeito pelo Direito Internacional; a proibição de ingerência em assuntos internos; a proibição do uso da força, salvo em legítima defesa; o dever de cooperação internacional.”26 1.4. Jurisdição estatal. Conceito: o poder do Estado relacionado ao cumprimento de suas competências. Conceito de Fernando Gamboa SERAZZI: “A jurisdição é um termo que se refere aos poderes que um Estado exerce sobre pessoas, bens ou atos.”27 Conceito de Santiago BENADAVA: “A administração da justiça civil e criminal pelos tribunais do Estado.”28 1.5. Características da jurisdição estatal. ▪ generalidade: o poder do Estado em relação ao cumprimento de suas competências compreende todas as áreas de atuação do poder público; ▪ exclusividade: o Estado não possui concorrência de outros Estados soberanos, o que significa dizer que o exercício das competências estatais é privativo do próprio Estado. 1.6. Imunidade à jurisdição estatal. A imunidade à jurisdição estatal compreende a idéia de que os representantes de determinado Estado soberano junto ao governo de outro Estado soberano não serão submetidos, via de regra, à jurisdição deste Estado. A imunidade à jurisdição estatal é ampla em relação às missões diplomáticas e limitada no caso das missões consulares. A imunidade à jurisdição estatal é essencialmente processual; ou seja, é irrelevante, por exemplo, se o embaixador norueguês no Brasil tenha cometido um homicídio ou uma lesão corporal, ou se estes crimes deram-se na modalidade culposa ou dolosa. Em ambos os casos, o referido diplomata não será processado criminalmente junto ao Poder Judiciário brasileiro. 1.7. Renúncia à imunidade jurisdicional. A renúncia à imunidade jurisdicional é uma prerrogativa do “Estado acreditante” (Estado de origem dos representantes diplomáticos e consulares). Por outro lado, os membros da missão diplomática e os membros da missão consular não poderão, por iniciativa própria, renunciar à imunidade jurisdicional. Trata-se, portanto, de prerrogativa estatal. Entretanto, os representantes estrangeiros devem respeitar as leis vigentes no âmbito territorial do “Estado acreditado” (Estado de destino dos representantes diplomáticos e consulares), nos termos do art. 41, 1, da Convenção de Viena sobre 26 GOUVEIA, Jorge Bacelar. Manual de direito internacional público. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 371. SERAZZI, Fernando Gamboa. Tratado de derecho internacional público. Santiago de Chile: Lexis Nexis, 2003, p. 220. 28 BENADAVA, Santiago. Derecho internacional público. Santiago de Chile: Lexis Nexis, 2004, p. 239. 27 23 Relações Diplomáticas (Decreto no 56.435, de 08.06.65), e do art. 55, 1, da Convenção de Viena sobre Relações Consulares (Decreto no 61.078, de 26.07.67). Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas “Art. 41. 1. Sem prejuízo de seus privilégios e imunidades todas as pessoas que gozem desses privilégios e imunidades deverão respeitar as leis e os regulamentos do Estado acreditado. Têm também o dever de não se imiscuir nos assuntos internos do referido Estado.” Convenção de Viena sobre Relações Consulares “Art. 55. 1. Sem prejuízo de seus privilégios e imunidades todas as pessoas que se beneficiem desses privilégios e imunidades deverão respeitar as leis e regulamentos do Estado receptor. Terão igualmente o dever de não se imiscuir nos assuntos internos do referido Estado.” 1.8. Serviços diplomáticos e serviços consulares (órgãos do Estado nas relações internacionais). Na esfera das relações internacionais, caracterizadas essencialmente pela relação estabelecida entre Estados no âmbito da comunidade internacional, estes se fazem representar nos territórios estrangeiros por meio de serviços diplomáticos e de serviços consulares. De acordo com Francisco REZEK, “o diplomata representa o Estado de origem junto à soberania local, e para o trato bilateral dos assuntos de Estado.”29 Por outro lado, “o cônsul representa o Estado de origem para o fim de cuidar, no território onde atue, de interesses privados (...).”30 1.9. Convenções de Viena sobre privilégios e imunidades. A questão relacionada aos privilégios e às imunidades foi disciplinada por duas convenções celebradas em Viena (Áustria) na década de 60. A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas foi celebrada em 1961 e promulgada no Brasil em 1965 (Decreto n o 56.435, de 08 de junho de 1965); a Convenção de Viena sobre Relações Consulares foi celebrada em 1963 e promulgada no Brasil em 1967 (Decreto no 61.078, de 26 de julho de 1967). Deve-se observar, ainda, que os serviços diplomáticos e os serviços consulares possuem natureza distinta, embora alguns países tenham unificado as duas carreiras, tal como ocorre no Brasil. 1.10. Privilégios e imunidades diplomáticas. Na esfera da missão diplomática, os membros do quadro diplomático propriamente dito (ex.: embaixadores) e os membros do quadro administrativo e técnico (ex.: tradutores e contadores) possuem ampla imunidade penal, civil e tributária. Além disso, tais indivíduos são fisicamente invioláveis e em hipótese alguma serão obrigados a depor como testemunhas. A referida imunidade estende-se aos respectivos familiares, desde que estes sejam dependentes. Já os 29 30 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 170. REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 170. 24 locais da missão diplomática são igualmente invioláveis, bem como as residências dos membros do quadro diplomático e dos membros do quadro administrativo e técnico. A regra é a mesma para os respectivos arquivos e documentos. 1.11. Privilégios e imunidades consulares. Os privilégios e imunidades consulares são muito semelhantes àqueles inerentes à missão diplomática. Entretanto, tais privilégios e imunidades limitam-se aos atos de ofício praticados pelos cônsules e pelos funcionários consulares, razão pela qual os respectivos familiares não haverão de possuir quaisquer prerrogativas, inclusive no que se refere à inviolabilidade das residências. Por outro lado, os locais destinados ao serviço consular são invioláveis, mas na exata medida da utilização funcional desses espaços (ex.: escritórios de trabalho). Os arquivos e documentos são do mesmo modo invioláveis. 2. NACIONALIDADE: ARTIGO 12 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Nota explicativa: o conceito de nacionalidade possui grande relevância para o Direito Internacional Público, principalmente no contexto da imensa circulação de indivíduos entre países, um dos fenômenos evidentes do processo de globalização. No Brasil, a nacionalidade é matéria constitucional, ao passo que o chamado “regime jurídico do estrangeiro” foi disciplinado pela “Lei dos Estrangeiros” (Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980). 2.1. Nacionalidade. Conceito: o elo de ligação entre determinado indivíduo e determinado Estado, normalmente definido em função do país de nascimento. Conceito de Santiago BENADAVA: “vínculo jurídico e político que liga uma pessoa a determinado Estado em virtude do qual a pessoa assume perante o Estado obrigações de lealdade e fidelidade, comprometendo-se o Estado a protegê-la.”31 2.2. Estrangeiros. Conceito: aqueles indivíduos que não são nacionais de determinado Estado. Conceito do Dicionário Aurélio: “Indivíduo que não é natural do país onde mora ou se encontra.”32 2.3. Condição jurídica do estrangeiro. Os critérios que determinam a entrada, a permanência e a saída de estrangeiros do território do Estado dependem rigorosamente do poder discricionário de cada Estado soberano. Desde os tempos das mais antigas civilizações, a circulação de estrangeiros entre os países sempre marcou a história dos povos. 31 BENADAVA, Santiago. Derecho internacional público. Santiago de Chile: Lexis Nexis, 2004, p. 183. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI. Versão 3.0. Lexikon Informática Ltda., 1999. 32 25 No Brasil, o assunto é disciplinado pela Lei dos Estrangeiros (Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980). Dispõe o art. 1o do mencionado diploma legal: “Art. 1o Em tempo de paz, qualquer estrangeiro poderá, satisfeitas as condições desta Lei, entrar e permanecer no Brasil e dele sair, resguardados os interesses nacionais.” 2.4. Deportação, expulsão e extradição. A deportação, a expulsão e a extradição são as três espécies do gênero exclusão do estrangeiro do território nacional. As três hipóteses estão disciplinadas no texto da Lei no 6.815/80. 2.5. Conceitos. (1) Deportação33: “A deportação é a forma de exclusão motivada pela entrada irregular ou pela permanência também irregular de estrangeiro em território nacional.” Exemplo1: chinês que entra clandestinamente no Brasil com a finalidade de procurar emprego. Exemplo2: chinês que entra no Brasil com visto de turista e, tempos depois, é flagrado trabalhando como vendedor ambulante. (2) Expulsão34: “A expulsão é a forma de exclusão motivada, via de regra, pela prática de crime doloso em território nacional, cujo autor é estrangeiro.” Exemplo: nigeriano condenado pela prática do crime de tráfico de drogas. (c) Extradição35: “Extradição é a entrega, por um Estado a outro, e a pedido deste, de indivíduo que em seu território deva responder a processo penal ou cumprir pena.”36 Exemplo: mediante pedido formal do governo da Bélgica, cidadão belga que figura como réu em processo penal perante algum tribunal de Bruxelas é extraditado do Brasil para aquele país. 2.6. Asilo político (“direito de asilo”). Conceito de asilo político: o amparo estatal a estrangeiro perseguido, via de regra, em seu país de origem. A “concessão de asilo político” constitui um dos princípios pelos quais o Brasil reger-se-á nas suas relações internacionais (CF: artigo 4o, inciso X). O crime político, a convicção religiosa e o 33 34 35 36 A deportação ocorre por iniciativa das autoridades locais. A expulsão ocorre por iniciativa das autoridades locais. A extradição não ocorre por iniciativa das autoridades locais. REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 200. 26 racismo, notadamente o primeiro, são exemplos de causas motivadoras da concessão de asilo político. A “concessão de asilo político”, entretanto, exclui aqueles fatos ilícitos (crimes) previstos na legislação penal comum. 2.7. Artigo 14 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Artigo 14. 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por atividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.”37 2.8. Convenções Interamericanas de 1954. O artigo I da CONVENÇÃO INTERAMERICANA SOBRE ASILO TERRITORIAL (1954) estabelece que “todo Estado tem direito, no exercício de sua soberania, de admitir dentro de seu território as pessoas que julgar conveniente, sem que, pelo exercício desse direito, nenhum outro Estado possa fazer qualquer reclamação.”38 Em sentido análogo, o artigo II da CONVENÇÃO INTERAMERICANA SOBRE ASILO DIPLOMÁTICO (1954) afirma que “todo Estado tem o direito de conceder asilo, mas não se acha obrigado a concedê-lo, nem a declarar por que o nega.”39 As citadas convenções foram celebradas no âmbito da Organização dos Estados Americanos – OEA. São duas as espécies, portanto, de asilo político: (1) asilo territorial: “concede-o o Estado àquele estrangeiro que, havendo cruzado a fronteira, colocou-se no âmbito espacial de sua soberania, e aí requereu o benefício.”40 (2) asilo diplomático: “essa modalidade significa apenas um estágio provisório, uma ponte para o asilo territorial, a consumar-se no solo daquele mesmo país cuja embaixada acolheu o fugitivo, ou eventualmente no solo de um terceiro país que o aceite.”41 2.9. Pressupostos para a concessão do asilo político. (1) criminalidade política (os crimes imputados ao estrangeiro fugitivo devem possuir natureza política); (2) estado de urgência (a perseguição política ao estrangeiro fugitivo deve ser atual); e 37 Fonte: < http://www.unhchr.ch/udhr/lang/por.htm >. Fonte: < http://www.oas.org/juridico/portuguese/treaties/A-47.htm >. 39 Fonte: < http://www.oas.org/juridico/portuguese/treaties/A-46.htm >. 40 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 218. 41 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 219. 38 27 (3) missão diplomática como local de destino da fuga (excluídos, portanto, os consulados). QUARTA PARTE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL E CONFLITOS INTERNACIONAIS MEIOS PACÍFICOS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS INTERNACIONAIS DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS ________________________________________________________________________________ 1. RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL E CONFLITOS INTERNACIONAIS. Nota explicativa: os Estados e as organizações internacionais são sujeitos de Direito Internacional Público, razão pela qual são possuidores de personalidade jurídica internacional. Eventualmente, atentarão contra a ordem jurídica internacional. A prática de atos ilícitos no ambiente internacional é fenômeno antigo e representa tema fundamental do Direito Internacional Público. Importante ressaltar, entretanto, que a idéia de “ato ilícito” tem sentido amplo, abrangendo toda e qualquer ramificação do Direito Internacional Público. Assim, quando um Estado (ou até mesmo uma organização internacional) pratica um ato ilícito, tal ato deve ser entendido como uma violação da ordem jurídica internacional, integrada fundamentalmente por normas jurídicas escritas (tratados) e consuetudinárias (costumes internacionais). Nesse sentido, podemos afirmar que os atos ilícitos internacionais possuem imenso potencial para produzir os chamados “conflitos internacionais”, embates travados entre os sujeitos de Direito Internacional Público. 1.1. Responsabilidade internacional. Conceito: “O Estado responsável pela prática de um ato ilícito segundo o direito internacional deve ao Estado a que tal ato tenha causado dano uma reparação adequada.”42 1.2. Elementos essenciais da responsabilidade internacional. (1o) o ato ilícito: conduta contrária às normas de Direito Internacional Público; (2o) a imputabilidade: a responsabilidade pelo ato ilícito só poderá ser atribuída aos sujeitos de Direito Internacional Público; e (3o) o dano: prejuízo material (econômico) ou imaterial (moral) decorrente da prática de ato ilícito. 1.3. Conflitos internacionais (litígios internacionais). Conceito: “Uma disputa é um desacordo sobre uma questão de direito ou de fato, um conflito de pontos de vista legais ou de interesses entre dois sujeitos.”43 42 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 261. 28 De acordo com Fernando Gamboa SERAZZI, é possível extrair do conceito supracitado duas espécies44 de conflitos internacionais: ▪ conflitos de ordem jurídica: conflitos apoiados num desacordo sobre uma questão de direito (aplicação ou interpretação); ▪ conflitos de ordem política: conflitos fundamentados na modificação do direito existente (a pretensão das partes, conseqüentemente, não se encontra amparada em argumentos legais). 1.4. Meios pacíficos de solução dos conflitos internacionais. ► PRIMEIRA HIPÓTESE. Meios diplomáticos: ▪ entendimento direto: negociação direta entre os litigantes, sem qualquer tipo de intervenção de terceiros; ▪ bons ofícios: negociação direta entre as partes em conflito facilitada pela ação amistosa de um terceiro (sujeito de Direito Internacional Público), o qual limita-se a aproximar os litigantes, oferecendo aos mesmos um campo neutro de negociação; ▪ sistema de consultas: entendimento direto entre as partes previamente programado, sem qualquer tipo de intervenção de terceiros (trata-se de previsão, via de regra prevista nos tratados, de encontros periódicos entre os sujeitos de Direito Internacional Público); ▪ mediação: ação de um terceiro no processo de negociação entre as partes em conflito (ao contrário do que ocorre nos bons ofícios, aqui o terceiro propõe uma solução para o conflito); ▪ conciliação: espécie de mediação caracterizada pela pluralidade de conciliadores (comissão de conciliação), os quais apresentam aos litigantes uma solução para o conflito; ► SEGUNDA HIPÓTESE. Meios políticos: ▪ A solução dos litígios internacionais, por meios políticos, ocorre na esfera das organizações internacionais, tais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Liga dos Estados Árabes. A via política para a solução dos conflitos 43 Corte Permanente de Justiça Internacional, Caso Mavrommatis (The Mavrommatis Palestine Concessions), 1924, Série A, no 2, p. 11. 44 SERAZZI, Fernando Gamboa. Tratado de derecho internacional público. Santiago de Chile: Lexis Nexis, 2003, p. 575. 29 internacionais ocorre na hipótese de conflitos mais graves, normalmente associados a questões compreendendo ameaça à paz. ► TERCEIRA HIPÓTESE. Meios jurisdicionais: ▪ arbitragem (jurisdição provisória): via jurisdicional de solução pacífica de conflitos internacionais, cabendo às partes a escolha do árbitro, a descrição da matéria conflituosa e a delimitação do direito aplicável. Os litigantes que optarem pela arbitragem deverão, preliminarmente, celebrar um compromisso arbitral, tratado no qual as partes comprometem-se a cumprir fielmente a sentença arbitral, sendo esta obrigatória e irrecorrível; ▪ solução judiciária (jurisdição permanente): via jurisdicional de solução pacífica de conflitos internacionais, cabendo às partes a decisão de submeterem-se à autoridade dos tribunais internacionais. Os acórdãos (decisões) das cortes internacionais, tais como a Corte Internacional de Justiça e a Corte de Justiça das Comunidades Européias, são igualmente obrigatórios e irrecorríveis. 2. DIRETO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO – DIH. Nota explicativa: o Direito Internacional Humanitário (DIH) compreende o “conjunto de normas internacionais que tem por objetivo proteger as pessoas que não participam ou deixaram de participar das hostilidades e restringir os meios e métodos de guerra.”45 As normas de DIH encontram-se fixadas em diversos tratados. Mediante o processo de adesão, os Estados se comprometem a respeitar e fazer cumprir tais normas. Ademais, o DIH tem origem também no costume internacional, fenômeno resultante da repetição de certas condutas, as quais devem ser respeitadas em razão da convicção, por parte dos Estados, de que representam comportamentos e procedimentos justos e necessários à manutenção da juridicidade que deve nortear as relações inerentes ao funcionamento equilibrado da comunidade internacional. 2.1. Direito Internacional Humanitário – DIH. Conceito: o conjunto de normas jurídicas internacionais consuetudinárias) destinadas a disciplinar os conflitos armados. (convencionais e 2.2 Normas essenciais do DIH. “(1) Distinguir entre os objetivos militares e os civis. Somente podem ser atacados os objetivos militares; (2) Recolher e dar assistência aos feridos aos doentes e aos náufragos, sem discriminação alguma; (3) Tratar com humanidade os adversários que se rendem ou são capturados, assim como os prisioneiros e os detidos, os quais não devem ser atacados ou maltratados; 45 Fonte: www.icrc.org. 30 (4) Respeitar os civis e seus bens; (5) Não causar sofrimentos ou danos excessivos; (6) Não atacar o pessoal médico ou sanitário nem suas instalações e permitir que eles façam seu trabalho; (7) Não colocar obstáculos ao pessoal da Cruz Vermelha no desempenho de suas funções.”46 2.3. Origem e evolução do DIH. O DIH é um ramo especifico do Direito Internacional Público. A evolução das normas de DIH tem relação direta com a progressiva complexidade das formas de combate, especialmente no que diz respeito aos efeitos danosos impostos às populações civis. Até 1864, ano de celebração do primeiro tratado sobre conflitos armados internacionais (Convenção de Genebra para aliviar a sorte dos militares feridos dos exércitos em campanha), os Estados envolvidos em um determinado conflito limitavam-se a estabelecer acordos destinados a proteger as vítimas de guerra no contexto específico dos conflitos em curso. Nesse sentido, os acordos pactuados possuíam alcance limitado e, por isso mesmo, não ostentavam o traço de universalidade que atualmente caracterizar o DIH. 2.4. Convenções de Genebra. 2.4.1. Convenção de Genebra de 1864 (marco inicial do direito humanitário). ▪ proteção aos médicos e às pessoas envolvidas nos trabalhos de socorro; tratamento, pelos beligerantes, dos feridos e enfermos; imunidade dos hospitais e dos veículos utilizados no transporte hospitalar contra quaisquer ataques. 2.4.2. Convenções de Genebra de 1949 (quatro convenções sobre o conflito armado internacional): ▪ I Convenção de Genebra (proteção aos feridos e doentes das Forças Armadas em campanha); ▪ II Convenção de Genebra (proteção aos feridos, doentes e náufragos das Forças Armadas no mar); ▪ III Convenção de Genebra (proteção aos prisioneiros de guerra); ▪ IV Convenção de Genebra (proteção à população civil). 2.4.3. Protocolos adicionais às Convenções de Genebra de 1977: (a) Protocolo I (reforço à proteção das vítimas de conflitos armados internacionais e ampliação da definição dos mesmos às guerras de libertação nacional); 46 Fonte: www.icrc.org. 31 (b) Protocolo II (reforço à proteção das pessoas afetadas por conflitos armados internos: complemento ao art. 3o comum às quatro Convenções de Genebra). 2.5. Artigo 3o (comum às quatro Convenções de Genebra). “Artigo 3o. Em caso de conflito armado de caráter não-internacional que ocorra em territórios de uma das Altas Partes Contratantes, cada uma das Partes em conflito deverá aplicar, pelo menos, as seguintes disposições: 1. As pessoas que não tomarem parte diretamente nas hostilidades, incluindo os membros das forças armadas que tiverem deposto as armas e as pessoas que ficarem fora de combate por enfermidade, ferimento, detenção ou qualquer outra razão, devem em todas circunstâncias ser tratadas com humanidade, sem qualquer discriminação desfavorável baseada em raça, cor, religião ou crença, sexo, nascimento ou fortuna, ou qualquer outro critério análogo. Para esse efeito, são e continuam a ser proibidos, sempre e em toda parte, com relação às pessoas acima mencionadas: a. atentados à vida e a integridade física, particularmente homicídio sob todas as formas, mutilações , tratamentos cruéis, torturas e suplícios; b. tomadas de reféns; c. ofensas à dignidade das pessoas, especialmente os tratamentos humilhantes e degradantes; d. condenações proferidas e execuções efetuadas sem julgamento prévio realizado por um tribunal regularmente constituído, que ofereça todas as garantias judiciais reconhecidas como indispensáveis pelos povos civilizados. 2. Os feridos e enfermos serão recolhidos e tratados. Um organismo humanitário imparcial, tal como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, poderá oferecer seus serviços às Partes em conflito. As Partes em conflito deverão empenhar-se, por outro lado, em colocar em vigor por meio de acordos especiais todas ou parte das demais disposições da presente Convenção. A aplicação das disposições anteriores não afeta o estatuto jurídico das Partes em conflito.”47 2.6. Universalidade do DIH. A validade do DIH é reconhecida por virtualmente todos os membros da comunidade internacional. Atualmente, 189 Estados figuram como partes signatárias das Convenções de Genebra. Há, nesse sentido, a marca da universalidade como traço essencial do DIH 47 Fonte: www.icrc.org. 32 contemporâneo, fenômeno que certamente contribui para a própria legitimação do DIH como elemento fundamental para a consolidação do DIH no universo normativo construído pelo Direito Internacional Público ao longo da história. 3. DIRETOS HUMANOS. Até a fundação da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945, não havia, na esfera do Direito Internacional Público, “preocupação consciente e organizada sobre o tema dos direitos humanos.”48 O tema recebeu tratamento especial em 1948, com a aprovação da Declaração Universal dos Direitos do Homem no âmbito da Assembléia Geral da ONU. Deve-se observar, entretanto, que a referida Declaração não é um tratado: trata-se de uma Resolução da mencionada Assembléia Geral. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS Preâmbulo Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos do homem resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum, Considerando ser essencial que os direitos do homem sejam protegidos pelo império da lei, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão, Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações, Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor de pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades fundamentais do homem e a observância desses direitos e liberdades, Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso, agora portanto A ASSEMBLÉIA GERAL proclama A PRESENTE DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas 48 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 210. 33 progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Artigo I. Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Artigo II. 1 - Todo homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 2 - Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem Governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania. Artigo III. Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo IV. Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V. Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo VI. Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. Artigo VII. Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo VIII. Todo homem tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. Artigo IX. Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo X. Todo homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. Artigo XI. 1. Todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 34 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. Artigo XII. Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo homem tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques. Artigo XIII. 1. Todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Todo homem tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. Artigo XIV. 1. Todo homem, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas. Artigo XV. 1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo XVI. 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. 3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado. Artigo XVII. 1. Todo homem tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. Artigo XVIII. Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular. 35 Artigo XIX. Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Artigo XX. 1. Todo homem tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo XXI. 1. Todo homem tem o direito de tomar parte no Governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Todo homem tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do Governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto. Artigo XXII. Todo homem, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. Artigo XXIII. 1.Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todo homem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Todo homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 4. Todo homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses. Artigo XXIV. Todo homem tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas. Artigo XXV. 1. Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais 36 indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social. Artigo XXVI. 1. Todo homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. Artigo XXVII. 1. Todo homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios. 2. Todo homem tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor. Artigo XXVIII. Todo homem tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados. Artigo XXIX. 1. Todo homem tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. 2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo homem estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas. Artigo XXX. Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos. 37 QUINTA PARTE DIREITO INTERNACIONAL DA ECONOMIA SISTEMA MULTILATERAL DE COMÉRCIO ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO DIREITO DE INTEGRAÇÃO DIREITO DO MERCOSUL ________________________________________________________________________________ 1. DIREITO INTERNACIONAL DA ECONOMIA. Nota explicativa: o “Direito Internacional da Economia” (ou “Direito Econômico Internacional”) é o ramo do Direito Internacional Público que disciplina “as atividades de produção e de troca de bens e serviços, abrangendo simultaneamente bens e de serviços intelectuais.”49 O Direito Econômico Internacional é um fenômeno antigo, mas passou a encontrar maior rigor acadêmico depois da Segunda Guerra Mundial. Superado o conflito armado, vencedores e vencidos se depararam com três grandes problemas: (1) os desequilíbrios impostos pela interrupção dos pagamentos das dívidas externas; (2) a devastação econômica das nações destruídas pela guerra; e (3) a racionalização das relações comerciais mediante a celebração de tratados multilaterais. Nesse contexto, surge em 1947 o GATT (General Agreement on Tariffs and Trade: “Acordo Geral de Tarifas e Comércio”), tratado multilateral que deu início ao processo de liberalização do comércio entre países. O GATT foi o embrião da Organização Mundial de Comércio – OMC (fundada em 01.01.95), organização internacional sediada em Genebra e atualmente integrada por 153 países.50 Os acordos (tratados) celebrados no âmbito da OMC englobam bens, serviços e propriedade intelectual, estabelecendo os princípios da liberalização do comércio, bem como as exceções permitidas. Estes acordos materializam os compromissos assumidos pelos membros da organização, notadamente no que diz respeito à redução de tarifas e outros obstáculos ao comércio e, ainda, à abertura dos mercados de serviços. 1.1. Funções da OMC. 1. administrar os acordos comerciais; 2. promover negociações comerciais; 3. resolver disputas comerciais; 4. supervisionar as políticas comerciais nacionais; 49 DAILLIER, Patrick (Nguyen Quoc Dinh e Alain Pellet). Direito Internacional Público. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p. 1058. 50 Informação atualizada em 31.10.2008. 38 5. fornecer assistência técnica em matéria de comércio e cursos de formação para os países em desenvolvimento; 6. estabelecer relações formais de cooperação com outras organizações internacionais. 1.2 Sistema multilateral de comércio: princípios. 1. Comércio sem discriminações: (a) cláusula da nação mais favorecida: em virtude dos acordos da OMC, os países não podem estabelecer discriminações na esfera do sistema multilateral de comércio. Nesse sentido, se um país concede a outro país uma vantagem especial (por exemplo, a redução de uma tarifa aplicável a um determinado produto), este mesmo país deverá garantir tal vantagem para todos os demais membros da OMC. Este princípio é conhecido como o “trato da nação mais favorecida”; (b) trato nacional: tratamento igual para mercadorias nacionais e estrangeiras. As mercadorias importadas e as mercadorias produzidas no mercado interno (mercadorias nacionais) devem receber o mesmo tratamento. O mesmo vale para os serviços estrangeiros e os serviços nacionais, para os direitos autorais e para as patentes, e para as marcas de fábrica e de comércio. O princípio do “trato nacional”, em síntese, significa que um país deve dar às mercadorias estrangeiras o mesmo tratamento dado às mercadorias nacionais. 2. Liberalização do comércio: a redução de obstáculos ao comércio é um dos meios mais evidentes para promover a atividade comercial. A liberalização do comércio é um processo que deve ocorrer de maneira gradual e por intermédio de negociações. São exemplos de obstáculos as tarifas alfandegárias: as proibições de importações (por tipos de produtos e por quantidades de produtos); a burocracia administrativa; as políticas cambiais. 3. Previsibilidade comercial: muitas vezes, a promessa de não aumentar um obstáculo ao comércio pode ser tão ou mais importante que a eliminação de um obstáculo preexistente, já que a promessa permite às empresas uma visão mais clara de suas oportunidades futuras. Por meio da previsibilidade, da estabilidade e da transparência, os investimentos são estimulados, postos de trabalho são criados e os consumidores se beneficiam da competição entre as empresas. 4. Estímulo à competição leal: a OMC é descrita algumas vezes como uma instituição de “livre comércio”, expressão inadequada para explicar a real dinâmica da organização, tendo em vista a possibilidade de aplicação eventual de determinadas restrições e proteções no âmbito do sistema multilateral de comércio da OMC, mas tão-somente em situações específicas (por exemplo, proteção ao meio ambiente). O sistema da OMC, na verdade, pode ser caracterizado como um modelo que fomenta uma competição livre, leal e sem distorções, um padrão facilitador de condições eqüitativas de comércio. 39 5. Promoção do desenvolvimento e da reforma econômica: o sistema da OMC tem por meta contribuir para o desenvolvimento econômico de seus membros. Todavia, para os países em desenvolvimento, exatamente por motivos de ordem econômica, faz-se imperativa uma flexibilidade quanto ao tempo necessário para que estes possam efetivamente cumprir os acordos (tratados) do sistema. 2. DIREITO DE INTEGRAÇÃO. Nota explicativa: o chamado “Direito de Integração” é o ramo do Direito Internacional Público que disciplina o processo de integração, o qual deve ser compreendido na perspectiva da noção de integração regional. Nesse sentido, pode-se definir o processo de integração como aquele movimento promovido pelos Estados soberanos, mediante a celebração de tratados, destinado a extinguir os obstáculos impeditivos da livre circulação de bens, pessoas, mercadorias e capitais. 2.1. Características do processo de integração. (1) integração motivada primariamente por razões econômicas; (2) pluralidade de Estados soberanos e ampliação como meta; (3) tratados como base jurídica; (4) livre circulação de bens, pessoas, mercadorias e capitais (“quatro liberdades”); (5) diminuição do grau de soberania dos Estados soberanos (“soberania compartilhada”); (6) progressividade do processo (construção gradual de etapas). 2.2. Etapas da integração econômica. (1a) zona de preferências tarifárias: trata-se de um acordo entre Estados, mediante o qual estes se comprometem a conferir vantagens tarifárias mútuas (tratamento preferencial em comparação ao tratamento dado a terceiros países) por meio da concessão de descontos tarifários no âmbito do comércio recíproco. A zona preferências tarifárias representa um grau ainda superficial de integração, um “primeiro passo” da integração, razão pela qual alguns autores não a consideram uma etapa propriamente dita; (2a) zona de livre comércio: os Estados integrantes do bloco concordam em suprimir as tarifas alfandegárias e outras barreiras ou restrições quantitativas ao comércio recíproco de bens e mercadorias, preservando, porém, a autonomia e a independência no que diz respeito ao comércio com terceiros. Para se chegar à etapa da zona de livre comércio, os países fixam prazos, condições e mecanismos de desoneração tarifária. Ainda durante esta etapa, os países devem criar meios (por exemplo, 40 “certificados de origem”) para evitar o ingresso de bens e mercadorias de outras origens, evitando-se, assim, a triangulação comercial; (3a) união aduaneira: processo pelo qual os Estados integrantes do bloco, além da liberalização comercial por intermédio da desoneração tarifária, decidem garantir a terceiros países uma “tarifa externa comum” por meio de uma política tarifária homogênea (“política tarifária comum”). Uma união aduaneira perfeita deve eliminar por completo as tarifas alfandegárias entre os Estados-membros, estabelecer tarifas uniformes sobre as importações oriundas do exterior do bloco e, ainda, distribuir os ganhos decorrentes dos ingressos alfandegários de acordo com fórmulas previamente acordadas; (4a) mercado comum: nesta etapa, os membros que integram a já formada união aduaneira podem decidir pela livre circulação de pessoas, serviços e capitais sem discriminações ou restrições, estabelecendo-se, por conseguinte, a livre circulação dos fatores produtivos. No mercado comum, não há alfândegas internas e inexistem barreiras tarifarias entre os Estados-membros. Os países do bloco instituem uma política comercial comum, a qual exigirá a unificação e a harmonização das legislações nacionais. As normas unificadas e harmonizadas deverão garantir a supressão das barreiras que impedem o livre exercício das “quatro liberdades”, bem como facilitar a coordenação das políticas macroeconômicas e o estabelecimento de regras comuns aplicáveis aos Estados-membros e às pessoas físicas e jurídicas instaladas nos territórios dos países integrantes do bloco; (5a) união econômica: a união econômica se materializa quando os Estados que formaram um mercado comum decidem incorporar a harmonização das políticas econômicas nacionais, dentre as quais as políticas monetárias, financeiras, fiscais e industriais, com a finalidade de eliminar as discriminações que possam resultar das disparidades entre as políticas econômicas nacionais dos Estados integrantes do bloco. O ajuste de uma política monetária comum, resultado da integração de todas as atividades econômicas na esfera da união econômica, impõe a criação de um banco central comum e, finalmente, a adoção de uma moeda comum; (6a) integração econômica completa: esta etapa representa o nível mais elevado do processo de integração. A integração econômica completa se consolida quando os países que formam o bloco estabelecem uma autoridade supranacional cujas decisões vinculam todos os Estados integrantes do bloco. Alguns autores afirmam que esta etapa supera a própria noção de integração: surge, assim, uma verdadeira unificação de Estados, fenômeno que sugere o desaparecimento das unidades nacionais. 3. DIREITO DO MERCOSUL. Nota explicativa: o Tratado de Assunção foi celebrado entre a República da Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República 41 Oriental do Uruguai em 26 de março de 1991, os quatro países que deram origem ao MERCOSUL. O citado tratado multilateral foi promulgado no Brasil no mesmo ano (Decreto no 350, de 21 de novembro de 1991). O chamado “Direito do MERCOSUL” é o conjunto normativo (tratados e outras normas) que define a estrutura e que disciplina o funcionamento do bloco latino-americano. Merecem destaque, além do próprio Tratado de Assunção (1991), o Protocolo de Ouro Preto (1994), o Protocolo de Ushuaia (1998) e o Protocolo de Olivos (2002). 3.1. Tratado de Assunção (1991). TRATADO PARA A CONSTITUIÇÃO DE UM MERCADO COMUM ENTRE A REPÚBLICA ARGENTINA, A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, A REPÚBLICA DO PARAGUAI E A REPÚBLICA ORIENTAL DO URUGUAI A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai, doravante denominados “Estados Partes”. Considerando que a ampliação das atuais dimensões de seus mercados nacionais, através da integração constitui condição fundamental para acelerar seus processos de desenvolvimento econômico com justiça social; Entendendo que esse objetivo deve ser alcançado mediante o aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis a preservação do meio ambiente, melhoramento das interconexões físicas a coordenação de políticas macroeconômica da complementação dos diferentes setores da economia, com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio. Tendo em conta a evolução dos acontecimentos internacionais, em especial a consolidação de grandes espaços econômicos e a importância de lograr uma adequada inserção internacional para seus países; Expressando que este processo de integração constitui uma resposta adequada a tais acontecimentos; Conscientes de que o presente Tratado deve ser considerado como um novo avanço no esforço tendente ao desenvolvimento progressivo da integração da América Latina, conforme o objetivo do Tratado de Montevidéu de 1980; Convencidos da necessidade de promover o desenvolvimento científico e tecnológico dos Estados Partes e de modernizar suas economias para ampliar a oferta e a qualidade dos bens de serviços disponíveis, a fim de melhorar as condições de vida de seus habitantes; Reafirmando sua vontade política de deixar estabelecidas as bases para uma união cada vez mais estreita entre seus povos, com a finalidade de alcançar os objetivos supramencionados; Acordam: CAPÍTULO I Propósito, Princípios e Instrumentos ARTIGO 1 Os Estados Partes decidem constituir um Mercado Comum, que deverá estar estabelecido a 31 de dezembro de 1994, e que se denominará Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Este Mercado Comum implica: 42 A livre circulação de bens serviços e fatores produtivos entre os países, através, entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários e restrições não-tarifárias á circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito equivalente; O estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política comercial comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a coordenação de posições em foros econômico-comerciais regionais e internacionais; A coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados Partes - de comércio exterior, agrícola, industrial, fiscal, monetária, cambial e de capitais, de serviços, alfandegária, de transportes e comunicações e outras que se acordem, a fim de assegurar condições adequadas de concorrência entre os Estados Partes; e O compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas legislações, nas áreas pertinentes, para lograr o fortalecimento do processo de integração. ARTIGO 2 O Mercado Comum estará fundado na reciprocidade de direitos e obrigações entre os Estados Partes. ARTIGO 3 Durante o período de transição, que se estenderá desde a entrada em vigor do presente Tratado até 31 de dezembro de 1994, e a fim de facilitar a constituição do Mercado Comum, os Estados Partes adotam um Regime Geral de Origem, um Sistema de Solução de Controvérsias e Cláusulas de Salvaguarda, que constam como Anexos II, III e IV ao presente Tratado. ARTIGO 4 Nas relações com terceiros países, os Estados Partes assegurarão condições eqüitativas de comércio. Para tal fim, aplicarão suas legislações nacionais, para inibir importações cujos preços estejam influenciados por subsídios, dumping qualquer outra prática desleal. Paralelamente, os Estados Partes coordenarão suas respectivas políticas nacionais com o objetivo de elaborar normas comuns sobre concorrência comercial. ARTIGO 5 Durante o período de transição, os principais instrumentos para a constituição do Mercado Comum são: a) Um Programa de Liberação Comercial, que consistirá em redução tarifárias progressivas, lineares e automáticas, acompanhadas das eliminações de restrições não tarifárias ou medidas de efeito equivalente, assim como de outras restrições ao comércio entre os Estados Partes, para chegar a 31 de dezembro de 1994 com tarifa zero, sem barreiras não tarifárias sobre a totalidade do universo tarifário (Anexo I); b) A coordenação de políticas macroeconômicas que se realizará gradualmente e de forma convergente com os programas de desgravação tarifária e eliminação de restrições não tarifárias, indicados na letra anterior; c) Uma tarifa externa comum, que incentiva a competitividade externa dos Estados Partes; d) A adoção de acordos setoriais, com o fim de otimizar a utilização e mobilidade dos fatores de produção e alcançar escalas operativas eficientes. ARTIGO 6 Os Estados Partes reconhecem diferenças pontuais de ritmo para a República do Paraguai e para a República Oriental do Uruguai, que constam no Programa de Liberação Comercial (Anexo I). ARTIGO 7 43 Em matéria de impostos, taxas e outros gravames internos, os produtos originários do território de um Estado Parte gozarão, nos outros Estados Partes, do mesmo tratamento que se aplique ao produto nacional. ARTIGO 8 Os Estados Partes se comprometem a preservar os compromissos assumidos até a data de celebração do presente Tratado, inclusive os Acordos firmados no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração, e a coordenar suas posições nas negociações comerciais externas que empreendam durante o período de transição. Para tanto: a) Evitarão afetar os interesses dos Estados Partes nas negociações comerciais que realizem entre si até 31 de dezembro de 1994; b) Evitarão afetar os interesses dos demais Estados Partes ou os objetivos do Mercado Comum nos Acordos que celebrarem com outros países membros da Associação Latino-Americana de Integração durante o período de transição; c) Realizarão consultas entre si sempre que negociem esquemas amplos de desgravação tarifárias, tendentes á formação de zonas de livre comércio com os demais países membros da Associação Latino-Americana de Integração; d) Estenderão automaticamente aos demais Estados Partes qualquer vantagem, favor, franquia, imunidade ou privilégio que concedam a um produto originário de ou destinado a terceiros países não membros da Associação Latino-Americana de Integração. CAPÍTULO II Estrutura Orgânica ARTIGO 9 A administração e execução do presente Tratado e dos Acordos específicos e decisões que se adotem no quadro jurídico que o mesmo estabelece durante o período de transição estarão a cargo dos seguintes órgãos: a) Conselho do Mercado Comum; b) Grupo do Mercado Comum. ARTIGO 10 O Conselho é o órgão superior do Mercado Comum, correspondendo-lhe a condução política do mesmo e a tomada de decisões para assegurar o cumprimento dos objetivos e prazos estabelecidos para a constituição definitiva do Mercado Comum. ARTIGO 11 O Conselho estará integrado pelos Ministros de Relações Exteriores e os Ministros de Economia dos Estados Partes.Reunir-se-á quantas vezes estime oportuno, e, pelo menos uma vez ao ano, o fará com a participação dos Presidentes dos Estados Partes. ARTIGO 12 A Presidência do Conselho se exercerá por rotação dos Estados Partes e em ordem alfabética, por períodos de seis meses. As reuniões do Conselho serão coordenadas pelos Ministérios de Relações Exteriores e poderão ser convidados a delas participar outros Ministros ou autoridades de nível Ministerial. ARTIGO 13 44 O Grupo Mercado Comum é o órgão executivo do Mercado Comum e será coordenado pelos Ministérios das Relações Exteriores. O Grupo Mercado Comum terá faculdade de iniciativa. Suas funções serão as seguintes: - velar pelo cumprimento do Tratado; - tomar as providências necessárias ao cumprimento das decisões adotadas pelo Conselho; - propor medidas concretas tendentes á aplicação do Programa de Liberação Comercial, á coordenação de política macroeconômica e á negociação de Acordos frente a terceiros; - fixar programas de trabalho que assegurem avanços para o estabelecimento do Mercado Comum. O Grupo Mercado Comum poderá constituir os Subgrupos de Trabalho que forem necessários para o cumprimento de seus objetivos. Contará inicialmente com os Subgrupos mencionados no Anexo V. O Grupo Mercado Comum estabelecerá; seu regime interno no prazo de 60 dias de sua instalação. ARTIGO 14 O Grupo Mercado Comum estará integrado por quatro membros titulares e quatro membros alternos por país, que representem os seguintes órgãos públicos: - Ministério das Relações Exteriores; - Ministério da Economia seus equivalentes (áreas de indústria, comércio exterior e ou coordenação econômica); - Banco Central. Ao elaborar e propor medidas concretas no desenvolvimento de seus trabalhos, até 31 de dezembro de 1994, o Grupo Mercado Comum poderá convocar, quando julgar conveniente, representantes de outros órgãos da Administração Pública e do setor privado. ARTIGO 15 O Grupo Mercado Comum contará com uma Secretaria Administrativa cujas principais funções consistirão na guarda de documentos e comunicações de atividades do mesmo. Terá sua sede na cidade de Montevidéu. ARTIGO 16 Durante o período de transição, as decisões do Conselho do Mercado Comum e do Grupo Mercado Comum serão tomadas por consenso e com a presença de todos os Estados Partes. ARTIGO 17 Os idiomas oficiais do Mercado Comum serão o português e o espanhol e a versão oficial dos documentos de trabalho será a do idioma do país sede de cada reunião. ARTIGO 18 Antes do estabelecimento do Mercado Comum, a 31 de dezembro de 1994, os Estados Partes convocarão uma reunião extraordinária com o objetivo de determinar a estrutura institucional definitiva dos órgãos de administração do Mercado Comum, assim como as atribuições específica de cada um deles e seu sistema de tomada de decisões. CAPÍTULO III Vigência 45 ARTIGO 19 O presente Tratado terá duração indefinida e entrará em vigor 30 dias após a data do depósito do terceiro instrumento de ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados ante o Governo da República do Paraguai, que comunicará a data do depósito aos Governos dos demais Estados Partes. O Governo da República do Paraguai notificará; ao Governo de cada um dos demais Estados Partes a data de entrada em vigor do presente Tratado. CAPÍTULO IV Adesão ARTIGO 20 O presente Tratado estará aberto à adesão (PROCEDIMENTO DE ENTRADA AO MERCOSUL), mediante negociação, dos demais países membros da Associação Latino-Americana de Integração, cujas solicitações poderão ser examinadas pelos Estados Partes depois de cinco anos de vigência deste Tratado. Não obstante, poderão ser consideradas antes do referido prazo as solicitações apresentadas por países membros da Associação Latino-Americana de Integração que não façam parte de esquemas de integração subregional ou de uma associação extra-regional. A aprovação das solicitações será objeto de decisão unânime dos Estados Partes. CAPÍTULO V Denúncia ARTIGO 21 O Estado Parte que desejar desvincular-se do presente Tratado deverá; comunicar essa intenção aos demais Estados Partes de maneira expressa e formal, efetuando no prazo de sessenta (60) dias a entrega do documento de denúncia ao Ministério das Relações Exteriores da República do Paraguai, que o distribuirá; aos demais Estados Partes. ARTIGO 22 Formalizada a denúncia (PROCEDIMENTO DE SAÍDA DA ORG DO MERCOSUL), cessarão para o Estado denunciante os direitos e obrigações que correspondam a sua condição de Estado Parte, mantendo-se os referentes ao programa de liberação do presente Tratado e outros aspectos que os Estados Partes, juntos com o Estado denunciante, acordem no prazo de sessenta (60) dias após a formalização da denúncia. Esses direitos e obrigações do Estado denunciante continuarão em vigor por um período de dois (2) anos a partir da data da mencionada formalização. CAPÍTULO VI Disposições Gerais ARTIGO 23 O presente Tratado se chamará “Tratado de Assunção”. ARTIGO 24 Com o objetivo de facilitar a implementação do Mercado Comum, estabelecer-se-á Comissão Parlamentar Conjunta do MERCOSUL. Os Poderes Executivos dos Estados Partes manterão seus respectivos Poderes Legislativos informados sobre a evolução do Mercado Comum objeto do presente Tratado. 46 Feito na cidade de Assunção, aos 26 dias do mês março de mil novecentos e noventa e um, em um original, nos idiomas português e espanhol, sendo ambos os textos igualmente autênticos. O Governo da República do Paraguai será o depositário do presente Tratado e enviará cópia devidamente autenticada do mesmo aos Governos dos demais Estados Partes signatários e aderentes. ********************************** 3.2. Protocolo de Ouro Preto (1994). PROTOCOLO DE OURO PRETO PROTOCOLO ADICIONAL AO TRATADO DE ASSUNÇÃO SOBRE A ESTRUTURA INSTITUCIONAL DO MERCOSUL A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai, doravante denominados "Estados Partes", Em cumprimento ao disposto no artigo 18 do Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991; Conscientes da importância dos avanços alcançados e da implementação da união aduaneira como etapa para a construção do mercado comum; Reafirmando os princípios e objetivos do Tratado de Assunção e atentos para a necessidade de uma consideração especial para países e regiões menos desenvolvidos do Mercosul; Atentos para a dinâmica implícita em todo processo de integração e para a conseqüente necessidade de adaptar a estrutura institucional do Mercosul às mudanças ocorridas; Reconhecendo o destacado trabalho desenvolvido pelos órgãos existentes durante o período de transição, Acordam: Capítulo I Estrutura do Mercosul Artigo 1 A estrutura institucional do Mercosul contará com os seguintes órgãos: I. O Conselho do Mercado Comum (CMC); II. O Grupo Mercado Comum (GMC); III. A Comissão de Comércio do Mercosul (CCM); IV. A Comissão Parlamentar Conjunta (CPC); V. O Foro Consultivo Econômico-Social (FCES); VI. A Secretaria Administrativa do Mercosul (SAM). Parágrafo único. Poderão ser criados, nos termos do presente Protocolo, os órgãos auxiliares que se fizerem necessários à consecução dos objetivos do processo de integração. Artigo 2 São órgãos com capacidade decisória, de natureza intergovernamental, o Conselho do Mercado Comum, o Grupo Mercado Comum e a Comissão de Comércio do Mercosul. Seção I 47 Do Conselho do Mercado Comum Artigo 3 O Conselho do Mercado Comum é o órgão superior do Mercosul ao qual incumbe a condução política do processo de integração e a tomada de decisões para assegurar o cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Tratado de Assunção e para lograr a constituição final do mercado comum. Artigo 4 O Conselho do Mercado Comum será integrado pelos Ministros das Relações Exteriores; e pelos Ministros da Economia, ou seus equivalentes, dos Estados Partes. Artigo 5 A Presidência do Conselho do Mercado Comum será exercida por rotação dos Estados Partes, em ordem alfabética, pelo período de seis meses. Artigo 6 O Conselho do Mercado Comum reunir-se-á quantas vezes estime oportuno, devendo fazê-lo pelo menos uma vez por semestre com a participação dos Presidentes dos Estados Partes. Artigo 7 As reuniões do Conselho do Mercado Comum serão coordenadas pelos Ministérios das Relações Exteriores e poderão ser convidados a delas participar outros Ministros ou autoridades de nível ministerial. Artigo 8 São funções e atribuições do Conselho do Mercado Comum: I. Velar pelo cumprimento do Tratado de Assunção, de seus Protocolos e dos acordos firmados em seu âmbito; II. Formular políticas e promover as ações necessárias à conformação do mercado comum; III. Exercer a titularidade da personalidade jurídica do Mercosul. IV. Negociar e assinar acordos em nome do Mercosul com terceiros países, grupos de países e organizações internacionais. Estas funções podem ser delegadas ao Grupo Mercado Comum por mandato expresso, nas condições estipuladas no inciso VII do artigo 14; V. Manifestar-se sobre as propostas que lhe sejam elevadas pelo Grupo Mercado Comum; VI. Criar reuniões de ministros e pronunciar-se sobre os acordos que lhe sejam remetidos pelas mesmas; VII. Criar os órgãos que estime pertinentes, assim como modificá-los ou extingui-los; VIII. Esclarecer, quando estime necessário, o conteúdo e o alcance de suas Decisões; IX. Designar o Diretor da Secretaria Administrativa do Mercosul. X. Adotar Decisões em matéria financeira e orçamentária; XI. Homologar o Regimento Interno do Grupo Mercado Comum. Artigo 9 O Conselho do Mercado Comum manifestar-se-á mediante Decisões, as quais serão obrigatórias para os Estados Partes. Seção II Do Grupo Mercado Comum Artigo 10 48 O Grupo Mercado Comum é o órgão executivo do Mercosul. Artigo 11 O Grupo Mercado Comum será integrado por quatro membros titulares e quatro membros alternos por país, designados pelos respectivos Governos, dentre os quais devem constar necessariamente representantes dos Ministérios das Relações Exteriores, dos Ministérios da Economia (ou equivalentes) e dos Bancos Centrais. O Grupo Mercado Comum será coordenado pelos Ministérios das Relações Exteriores. Artigo 12 Ao elaborar e propor medidas concretas no desenvolvimento de seus trabalhos, o Grupo Mercado Comum poderá convocar, quando julgar conveniente, representantes de outros órgãos da Administração Pública ou da estrutura institucional do Mercosul. Artigo 13 O Grupo Mercado Comum reunir-se-á de forma ordinária ou extraordinária, quantas vezes se fizerem necessárias, nas condições estipuladas por seu Regimento Interno. Artigo 14 São funções e atribuições do Grupo Mercado Comum: I. Velar, nos limites de suas competências, pelo cumprimento do Tratado de Assunção, de seus Protocolos e dos acordos firmados em seu âmbito; II. Propor projetos de Decisão ao Conselho do Mercado Comum; III. Tomar as medidas necessárias ao cumprimento das Decisões adotadas pelo Conselho do Mercado Comum; IV. Fixar programas de trabalho que assegurem avanços para o estabelecimento do mercado comum; V. Criar, modificar ou extinguir órgãos tais como subgrupos de trabalho e reuniões especializadas, para o cumprimento de seus objetivos; VI. Manifestar-se sobre as propostas ou recomendações que lhe forem submetidas pelos demais órgãos do Mercosul no âmbito de suas competências; VII. Negociar, com a participação de representantes de todos os Estados Partes, por delegação expressa do Conselho do Mercado Comum e dentro dos limites estabelecidos em mandatos específicos concedidos para esse fim, acordos em nome do Mercosul com terceiros países, grupos de países e organismos internacionais. O Grupo Mercado Comum, quando dispuser de mandato para tal fim, procederá à assinatura dos mencionados acordos. O Grupo Mercado Comum, quando autorizado pelo Conselho do Mercado Comum, poderá delegar os referidos poderes à Comissão de Comércio do Mercosul; VIII. Aprovar o orçamento e a prestação de contas anual apresentada pela Secretaria Administrativa do Mercosul; IX. Adotar Resoluções em matéria financeira e orçamentária, com base nas orientações emanadas do Conselho do Mercado Comum; X. Submeter ao Conselho do Mercado Comum seu Regimento Interno; XI. Organizar as reuniões do Conselho do Mercado Comum e preparar os relatórios e estudos que este lhe solicitar; XII. Eleger o Diretor da Secretaria Administrativa do Mercosul; XIII. Supervisionar as atividades da Secretaria Administrativa do Mercosul; XIV. Homologar os Regimentos Internos da Comissão de Comércio e do Foro Consultivo EconômicoSocial. Artigo 15 O Grupo Mercado Comum manifestar-se-á mediante Resoluções, as quais serão obrigatórias para os Estados Partes. 49 Seção III Da Comissão de Comércio do Mercosul Artigo 16 À Comissão de Comércio do Mercosul, órgão encarregado de assistir o Grupo Mercado Comum, compete velar pela aplicação dos instrumentos de política comercial comum acordados pelos Estados Partes para o funcionamento da união aduaneira, bem como acompanhar e revisar os temas e matérias relacionados com as políticas comerciais comuns, com o comércio intra-Mercosul e com terceiros países. Artigo 17 A Comissão de Comércio do Mercosul será integrada por quatro membros titulares e quatro membros alternos por Estado Parte e será coordenada pelos Ministérios das Relações Exteriores. Artigo 18 A Comissão de Comércio do Mercosul reunir-se-á pelo menos uma vez por mês ou sempre que solicitado pelo Grupo Mercado Comum ou por qualquer dos Estados Partes. Artigo 19 São funções e atribuições da Comissão de Comércio do Mercosul: I. Velar pela aplicação dos instrumentos comuns de política comercial intra-Mercosul e com terceiros países, organismos internacionais e acordos de comércio; II. Considerar e pronunciar-se sobre as solicitações apresentadas pelos Estados Partes com respeito à aplicação e ao cumprimento da tarifa externa comum e dos demais instrumentos de política comercial comum; III. Acompanhar a aplicação dos instrumentos de política comercial comum nos Estados Partes; IV. Analisar a evolução dos instrumentos de política comercial comum para o funcionamento da união aduaneira e formular Propostas a respeito ao Grupo Mercado Comum; V. Tomar as decisões vinculadas à administração e à aplicação da tarifa externa comum e dos instrumentos de política comercial comum acordados pelos Estados Partes; VI. Informar ao Grupo Mercado Comum sobre a evolução e a aplicação dos instrumentos de política comercial comum, sobre o trâmite das solicitações recebidas e sobre as decisões adotadas a respeito delas; VII. Propor ao Grupo Mercado Comum novas normas ou modificações às normas existentes referentes à matéria comercial e aduaneira do Mercosul; VIII. Propor a revisão das alíquotas tarifárias de itens específicos da tarifa externa comum, inclusive para contemplar casos referentes a novas atividades produtivas no âmbito do Mercosul; IX. Estabelecer os comitês técnicos necessários ao adequado cumprimento de suas funções, bem como dirigir e supervisionar as atividades dos mesmos; X. Desempenhar as tarefas vinculadas à política comercial comum que lhe solicite o Grupo Mercado Comum; XI. Adotar o Regimento Interno, que submeterá ao Grupo Mercado Comum para sua homologação. Artigo 20 A Comissão de Comércio do Mercosul manifestar-se-á mediante Diretrizes ou Propostas. As Diretrizes serão obrigatórias para os Estados Partes. Artigo 21 Além das funções e atribuições estabelecidas nos artigos 16 e 19 do presente Protocolo, caberá à Comissão de Comércio do Mercosul considerar reclamações apresentadas pelas Seções Nacionais da Comissão de Comércio do Mercosul, originadas pelos Estados Partes ou em demandas de particulares - pessoas físicas ou 50 jurídicas -, relacionadas com as situações previstas nos artigos 1 ou 25 do Protocolo de Brasília, quando estiverem em sua área de competência. Parágrafo primeiro. O exame das referidas reclamações no âmbito da Comissão de Comércio do Mercosul não obstará a ação do Estado Parte que efetuou a reclamação ao amparo do Protocolo de Brasília para Solução de Controvérsias. Parágrafo segundo. As reclamações originadas nos casos estabelecidos no presente artigo obedecerão o procedimento previsto no Anexo deste Protocolo. Seção IV Da Comissão Parlamentar Conjunta Artigo 22 A Comissão Parlamentar Conjunta é o órgão representativo dos Parlamentos dos Estados Partes no âmbito do Mercosul. Artigo 23 A Comissão Parlamentar Conjunta será integrada por igual número de parlamentares representantes dos Estados Partes. Artigo 24 Os integrantes da Comissão Parlamentar Conjunta serão designados pelos respectivos Parlamentos nacionais, de acordo com seus procedimentos internos. Artigo 25 A Comissão Parlamentar Conjunta procurará acelerar os procedimentos internos correspondentes nos Estados Partes para a pronta entrada em vigor das normas emanadas dos órgãos do Mercosul previstos no Artigo 2 deste Protocolo. Da mesma forma, coadjuvará na harmonização de legislações, tal como requerido pelo avanço do processo de integração. Quando necessário, o Conselho do Mercado Comum solicitará à Comissão Parlamentar Conjunta o exame de temas prioritários. Artigo 26 A Comissão Parlamentar Conjunta encaminhará, por intermédio do Grupo Mercado Comum, Recomendações ao Conselho do Mercado Comum. Artigo 27 A Comissão Parlamentar Conjunta adotará o seu Regimento Interno. Seção V Do Foro Consultivo Econômico-Social Artigo 28 O Foro Consultivo Econômico-Social é o órgão de representação dos setores econômicos e sociais e será integrado por igual número de representantes de cada Estado Parte. Artigo 29 O Foro Consultivo Econômico-Social terá função consultiva e manifestar-se-á mediante Recomendações ao Grupo Mercado Comum. 51 Artigo 30 O Foro Consultivo Econômico-Social submeterá seu Regimento Interno ao Grupo Mercado Comum, para homologação. Seção VI Da Secretaria Administrativa do Mercosul Artigo 31 O Mercosul contará com uma Secretaria Administrativa como órgão de apoio operacional. A Secretaria Administrativa do Mercosul será responsável pela prestação de serviços aos demais órgãos do Mercosul e terá sede permanente na cidade de Montevidéu. Artigo 32 A Secretaria Administrativa do Mercosul desempenhará as seguintes atividades: I. Servir como arquivo oficial da documentação do Mercosul; II. Realizar a publicação e a difusão das decisões adotadas no âmbito do Mercosul. Nesse contexto, lhe corresponderá: i) Realizar, em coordenação com os Estados Partes, as traduções autênticas para os idiomas espanhol e português de todas as decisões adotadas pelos órgãos da estrutura institucional do Mercosul, conforme previsto no artigo 39; ii) Editar o Boletim Oficial do Mercosul; III. Organizar os aspectos logísticos das reuniões do Conselho do Mercado Comum, do Grupo Mercado Comum e da Comissão de Comércio do Mercosul e, dentro de suas possibilidades, dos demais órgãos do Mercosul, quando as mesmas forem realizadas em sua sede permanente. No que se refere às reuniões realizadas fora de sua sede permanente, a Secretaria Administrativa do Mercosul fornecerá apoio ao Estado que sediar o evento; IV. Informar regularmente os Estados Partes sobre as medidas implementadas por cada país para incorporar em seu ordenamento jurídico as normas emanadas dos órgãos do Mercosul previstos no Artigo 2 deste Protocolo; V. Registrar as listas nacionais dos árbitros e especialistas, bem como desempenhar outras tarefas determinadas pelo Protocolo de Brasília, de 17 de dezembro de 1991; VI. Desempenhar as tarefas que lhe sejam solicitadas pelo Conselho do Mercado Comum, pelo Grupo Mercado Comum e pela Comissão do Comércio do Mercosul; VII. Elaborar seu projeto de orçamento e, uma vez aprovado pelo Grupo Mercado Comum, praticar todos os atos necessários à sua correta execução; VIII. Apresentar anualmente ao Grupo Mercado Comum a sua prestação de contas, bem como relatório sobre suas atividades. Artigo 33 A Secretaria Administrativa do Mercosul estará a cargo de um Diretor, o qual será nacional de um dos Estados Partes. Será eleito pelo Grupo Mercado Comum, em bases rotativas, prévia consulta aos Estados Partes, e designado pelo Conselho do Mercado Comum. Terá mandato de dois anos, vedada a reeleição. Capítulo II Personalidade Jurídica Artigo 34 O Mercosul terá personalidade jurídica de Direito Internacional. 52 Artigo 35 O Mercosul poderá, no uso de suas atribuições, praticar todos os atos necessários à realização de seus objetivos, em especial contratar, adquirir ou alienar bens móveis e imóveis, comparecer em juízo, conservar fundos e fazer transferências. Artigo 36 O Mercosul celebrará acordos de sede. Capítulo III Sistema de Tomada de Decisões Artigo 37 As decisões dos órgãos do Mercosul serão tomadas por consenso e com a presença de todos os Estados Partes. Capítulo IV Aplicação Interna das Normas Emanadas dos Órgãos do Mercosul Artigo 38 Os Estados Partes comprometem-se a adotar todas as medidas necessárias para assegurar, em seus respectivos territórios, o cumprimento das normas emanadas dos órgãos do Mercosul previstos no artigo 2 deste Protocolo. Parágrafo único. Os Estados Partes informarão à Secretaria Administrativa do Mercosul as medidas adotadas para esse fim. Artigo 39 Serão publicados no Boletim Oficial do Mercosul, em sua íntegra, nos idiomas espanhol e português, o teor das Decisões do Conselho do Mercado Comum, das Resoluções do Grupo Mercado Comum, das Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul e dos Laudos Arbitrais de solução de controvérsias, bem como de quaisquer atos aos quais o Conselho do Mercado Comum ou o Grupo Mercado Comum entendam necessário atribuir publicidade oficial. Artigo 40 A fim de garantir a vigência simultânea nos Estados Partes das normas emanadas dos órgãos do Mercosul previstos no Artigo 2 deste Protocolo, deverá ser observado o seguinte procedimento: i) Uma vez aprovada a norma, os Estados Partes adotarão as medidas necessárias para a sua incorporação ao ordenamento jurídico nacional e comunicarão as mesmas à Secretaria Administrativa do Mercosul; ii) Quando todos os Estados Partes tiverem informado sua incorporação aos respectivos ordenamentos jurídicos internos, a Secretaria Administrativa do Mercosul comunicará o fato a cada Estado Parte; iii) As normas entrarão em vigor simultaneamente nos Estados Partes 30 dias após a data da comunicação efetuada pela Secretaria Administrativa do Mercosul, nos termos do item anterior. Com esse objetivo, os Estados Partes, dentro do prazo acima, darão publicidade do início da vigência das referidas normas por intermédio de seus respectivos diários oficiais. Capítulo V Fontes Jurídicas do Mercosul Artigo 41 53 As fontes jurídicas do Mercosul são: I. O Tratado de Assunção, seus protocolos e os instrumentos adicionais ou complementares; II. Os acordos celebrados no âmbito do Tratado de Assunção e seus protocolos; III. As Decisões do Conselho do Mercado Comum, as Resoluções do Grupo Mercado Comum e as Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul, adotadas desde a entrada em vigor do Tratado de Assunção. Artigo 42 As normas emanadas dos órgãos do Mercosul previstos no Artigo 2 deste Protocolo terão caráter obrigatório e deverão, quando necessário, ser incorporadas aos ordenamentos jurídicos nacionais mediante os procedimentos previstos pela legislação de cada país. Capítulo VI Sistema de Solução de Controvérsias (Protocolo de Olivos do Mercosul) Artigo 43 As controvérsias que surgirem entre os Estados Partes sobre a interpretação, a aplicação ou o não cumprimento das disposições contidas no Tratado de Assunção, dos acordos celebrados no âmbito do mesmo, bem como das Decisões do Conselho do Mercado Comum, das Resoluções do Grupo Mercado Comum e das Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul, serão submetidas aos procedimentos de solução estabelecidos no Protocolo de Brasília, de 17 de dezembro de 1991. Parágrafo único. Ficam também incorporadas aos Artigos 19 e 25 do Protocolo de Brasília as Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul. Artigo 44 Antes de culminar o processo de convergência da tarifa externa comum, os Estados Partes efetuarão uma revisão do atual sistema de solução de controvérsias do Mercosul, com vistas à adoção do sistema permanente a que se referem o item 3 do Anexo III do Tratado de Assunção e o artigo 34 do Protocolo de Brasília. Capítulo VII Orçamento Artigo 45 A Secretaria Administrativa do Mercosul contará com orçamento para cobrir seus gastos de funcionamento e aqueles que determine o Grupo Mercado Comum. Tal orçamento será financiado, em partes iguais, por contribuições dos Estados Partes. Capítulo VIII Idiomas Artigo 46 Os idiomas oficiais do Mercosul são o espanhol e o português. A versão oficial dos documentos de trabalho será a do idioma do país sede de cada reunião. Capítulo IX Revisão Artigo 47 54 Os Estados Partes convocarão, quando julgarem oportuno, conferência diplomática com o objetivo de revisar a estrutura institucional do Mercosul estabelecida pelo presente Protocolo, assim como as atribuições específicas de cada um de seus órgãos. Capítulo X Vigência Artigo 48 O presente Protocolo, parte integrante do Tratado de Assunção, terá duração indefinida e entrará em vigor 30 dias após a data do depósito do terceiro instrumento de ratificação. O presente Protocolo e seus instrumentos de ratificação serão depositados ante o Governo da República do Paraguai. Artigo 49 O Governo da República do Paraguai notificará aos Governos dos demais Estados Partes a data do depósito dos instrumentos de ratificação e da entrada em vigor do presente Protocolo. Artigo 50 Em matéria de adesão ou denúncia, regerão como um todo, para o presente Protocolo, as normas estabelecidas pelo Tratado de Assunção. A adesão ou denúncia ao Tratado de Assunção ou ao presente Protocolo significam, ipso iure, a adesão ou denúncia ao presente Protocolo e ao Tratado de Assunção. Capítulo XI Disposição Transitória Artigo 51 A estrutura institucional prevista no Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991, assim como seus órgãos, será mantida até a data de entrada em vigor do presente Protocolo. Capítulo XII Disposições Gerais Artigo 52 O presente Protocolo chamar-se-á "Protocolo de Ouro Preto". Artigo 53 Ficam revogadas todas as disposições do Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991, que conflitem com os termos do presente Protocolo e com o teor das Decisões aprovadas pelo Conselho do Mercado Comum durante o período de transição. Feito na cidade de Ouro Preto, República Federativa do Brasil, aos dezessete dias do mês de dezembro de mil novecentos e noventa e quatro, em um original, nos idiomas português e espanhol, sendo ambos os textos igualmente autênticos. O Governo da República do Paraguai enviará cópia devidamente autenticada do presente Protocolo aos Governos dos demais Estados Partes. ********************************** 55 3.3. Protocolo de Olivos (2002). PROTOCOLO DE OLIVOS PARA A SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NO MERCOSUL A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai, doravante denominados "Estados Partes”; TENDO EM CONTA o Tratado de Assunção, o Protocolo de Brasília e o Protocolo de Ouro Preto; RECONHECENDO que a evolução do processo de integração no âmbito do Mercosul requer o aperfeiçoamento do sistema de solução de controvérsias; CONSIDERANDO a necessidade de garantir a correta interpretação, aplicação e cumprimento dos instrumentos fundamentais do processo de integração e do conjunto normativo do Mercosul, de forma consistente e sistemática; CONVENCIDOS da conveniência de efetuar modificações específicas no sistema de solução de controvérsias de maneira a consolidar a segurança jurídica no âmbito do Mercosul; ACORDARAM o seguinte: CAPÍTULO I CONTROVÉRSIAS ENTRE ESTADOS PARTES Artigo 1 Âmbito de aplicação 1. As controvérsias que surjam entre os Estados Partes sobre a interpretação, a aplicação ou o não cumprimento do Tratado de Assunção, do Protocolo de Ouro Preto, dos protocolos e acordos celebrados no marco do Tratado de Assunção, das Decisões do Conselho do Mercado Comum, das Resoluções do Grupo Mercado Comum e das Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul serão submetidas aos procedimentos estabelecidos no presente Protocolo. 2. As controvérsias compreendidas no âmbito de aplicação do presente Protocolo que possam também ser submetidas ao sistema de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio ou de outros esquemas preferenciais de comércio de que sejam parte individualmente os Estados Partes do Mercosul poderão submeter-se a um ou outro foro, à escolha da parte demandante. Sem prejuízo disso, as partes na controvérsia poderão, de comum acordo, definir o foro. Uma vez iniciado um procedimento de solução de controvérsias de acordo com o parágrafo anterior, nenhuma das partes poderá recorrer a mecanismos de solução de controvérsias estabelecidos nos outros foros com relação a um mesmo objeto, definido nos termos do artigo 14 deste Protocolo. Não obstante, no marco do estabelecido neste numeral, o Conselho do Mercado Comum regulamentará os aspectos relativos à opção de foro. CAPÍTULO II MECANISMOS RELATIVOS A ASPECTOS TÉCNICOS Artigo 2 Estabelecimento dos mecanismos 1.Quando se considere necessário, poderão ser estabelecidos mecanismos expeditos para resolver divergências entre Estados Partes sobre aspectos técnicos regulados em instrumentos de políticas comerciais comuns. 56 2. As regras de funcionamento, o alcance desses mecanismos e a natureza dos pronunciamentos a serem emitidos nos mesmos serão definidos e aprovados por Decisão do Conselho do Mercado Comum. CAPÍTULO III OPINIÕES CONSULTIVAS Artigo 3 Regime de solicitação O Conselho do Mercado Comum poderá estabelecer mecanismos relativos à solicitação de opiniões consultivas ao Tribunal Permanente de Revisão definindo seu alcance e seus procedimentos. CAPÍTULO IV NEGOCIAÇÕES DIRETAS Artigo 4 Negociações Os Estados Partes numa controvérsia procurarão resolvê-la, antes de tudo, mediante negociações diretas. Artigo 5 Procedimento e prazo 1. As negociações diretas não poderão, salvo acordo entre as partes na controvérsia, exceder um prazo de quinze (15) dias a partir da data em que uma delas comunicou à outra a decisão de iniciar a controvérsia. 2. Os Estados partes em uma controvérsia informarão ao Grupo Mercado Comum, por intermédio da Secretaria Administrativa do Mercosul, sobre as gestões que se realizarem durante as negociações e os resultados das mesmas. CAPÍTULO V INTERVENÇÃO DO GRUPO MERCADO COMUM Artigo 6 Procedimento opcional ante o GMC 1. Se mediante as negociações diretas não se alcançar um acordo ou se a controvérsia for solucionada apenas parcialmente, qualquer dos Estados partes na controvérsia poderá iniciar diretamente o procedimento arbitral previsto no Capítulo VI. 2. Sem prejuízo do estabelecido no numeral anterior, os Estados partes na controvérsia poderão, de comum acordo, submetê-la à consideração do Grupo Mercado Comum. i) Nesse caso, o Grupo Mercado Comum avaliará a situação, dando oportunidade às partes na controvérsia para que exponham suas respectivas posições, requerendo, quando considere necessário, o assessoramento de especialistas selecionados da lista referida no artigo 43 do presente Protocolo. ii) Os gastos relativos a esse assessoramento serão custeados em montantes iguais pelos Estados partes na controvérsia ou na proporção que determine o Grupo Mercado Comum. 3. A controvérsia também poderá ser levada à consideração do Grupo Mercado Comum se outro Estado, que não seja parte na controvérsia, solicitar, justificadamente, tal procedimento ao término das negociações diretas. Nesse caso, o procedimento arbitral iniciado pelo Estado Parte demandante não será interrompido, salvo acordo entre os Estados partes na controvérsia. 57 Artigo 7 Atribuições do GMC 1. Se a controvérsia for submetida ao Grupo Mercado Comum pelos Estados partes na controvérsia, este formulará recomendações que, se possível, deverão ser expressas e detalhadas, visando à solução da divergência. 2. Se a controvérsia for levada à consideração do Grupo Mercado Comum a pedido de um Estado que dela não é parte, o Grupo Mercado Comum poderá formular comentários ou recomendações a respeito. Artigo 8 Prazo para intervenção e pronunciamento do GMC O procedimento descrito no presente Capítulo não poderá estender-se por um prazo superior a trinta (30), dias a partir da data da reunião em que a controvérsia foi submetida à consideração do Grupo Mercado Comum. CAPÍTULO VI PROCEDIMENTO ARBITRAL AD HOC Artigo 9 Início da etapa arbitral 1. Quando não tiver sido possível solucionar a controvérsia mediante a aplicação dos procedimentos referidos nos Capítulos IV e V, qualquer dos Estados partes na controvérsia poderá comunicar à Secretaria Administrativa do Mercosul sua decisão de recorrer ao procedimento arbitral estabelecido no presente Capítulo. 2. A Secretaria Administrativa do Mercosul notificará, de imediato, a comunicação ao outro ou aos outros Estados envolvidos na controvérsia e ao Grupo Mercado Comum. 3. A Secretaria Administrativa do Mercosul se encarregará das gestões administrativas que lhe sejam requeridas para a tramitação dos procedimentos. Artigo 10 Composição do Tribunal Arbitral Ad Hoc 1. O procedimento arbitral tramitará ante um Tribunal Ad Hoc composto de três (3) árbitros. 2. Os árbitros serão designados da seguinte maneira: i) Cada Estado parte na controvérsia designará um (1) árbitro titular da lista prevista no artigo 11.1, no prazo de quinze (15) dias, contado a partir da data em que a Secretaria Administrativa do Mercosul tenha comunicado aos Estados partes na controvérsia a decisão de um deles de recorrer à arbitragem. Simultaneamente, designará da mesma lista, um (1) árbitro suplente para substituir o árbitro titular em caso de incapacidade ou excusa deste em qualquer etapa do procedimento arbitral. ii) Se um dos Estados partes na controvérsia não tiver nomeado seus árbitros no prazo indicado no numeral 2 (i), eles serão designados por sorteio pela Secretaria Administrativa do Mercosul em um prazo de dois (2) dias, contado a partir do vencimento daquele prazo, dentre os árbitros desse Estado da lista prevista no artigo 11.1. 3. O árbitro Presidente será designado da seguinte forma: i) Os Estados partes na controvérsia designarão, de comum acordo, o terceiro árbitro, que presidirá o Tribunal Arbitral Ad Hoc, da lista prevista no artigo 11.2 (iii), em um prazo de quinze (15) dias, contado a 58 partir da data em que a Secretaria Administrativa do Mercosul tenha comunicado aos Estados partes na controvérsia a decisão de um deles de recorrer à arbitragem. Simultaneamente, designarão da mesma lista, um árbitro suplente para substituir o árbitro titular em caso de incapacidade ou excusa deste em qualquer etapa do procedimento arbitral. O Presidente e seu suplente não poderão ser nacionais dos Estados partes na controvérsia. ii) Se não houver acordo entre os Estados partes na controvérsia para escolher o terceiro árbitro dentro do prazo indicado, a Secretaria Administrativa do Mercosul, a pedido de qualquer um deles, procederá a sua designação por sorteio da lista do artigo 11.2 (iii), excluindo do mesmo os nacionais dos Estados partes na controvérsia. iii) Os designados para atuar como terceiros árbitros deverão responder, em um prazo máximo de três (3) dias, contado a partir da notificação de sua designação, sobre sua aceitação para atuar em uma controvérsia. 4. A Secretaria Administrativa do Mercosul notificará os árbitros de sua designação. Artigo 11 Listas de árbitros 1. Cada Estado Parte designará doze (12) árbitros, que integrarão uma lista que ficará registrada na Secretaria Administrativa do Mercosul. A designação dos árbitros, juntamente com o curriculum vitae detalhado de cada um deles, será notificada simultaneamente aos demais Estados Partes e à Secretaria Administrativa do Mercosul. i) Cada Estado Parte poderá solicitar esclarecimentos sobre as pessoas designadas pelos outros Estados Partes para integrar a lista referida no parágrafo anterior, dentro do prazo de trinta (30) dias, contado a partir de tal notificação. ii) A Secretaria Administrativa do Mercosul notificará aos Estados Partes a lista consolidada de árbitros do Mercosul, bem como suas sucessivas modificações. 2. Cada Estado Parte proporá, ademais, quatro (4) candidatos para integrar a lista de terceiros árbitros. Pelo menos um dos árbitros indicados por cada Estado Parte para esta lista não será nacional de nenhum dos Estados Partes do Mercosul. i) A lista deverá ser notificada aos demais Estados Partes, por intermédio da Presidência Pro Tempore, acompanhada pelo curriculum vitae de cada um dos candidatos propostos. ii) Cada Estado Parte poderá solicitar esclarecimentos sobre as pessoas propostas pelos demais Estados Partes ou apresentar objeções justificadas aos candidatos indicados, conforme os critérios estabelecidos no artigo 35, dentro do prazo de trinta (30) dias, contado a partir da notificação dessas propostas. As objeções deverão ser comunicadas por intermédio da Presidência Pro Tempore ao Estado Parte proponente. Se, em um prazo que não poderá exceder a trinta (30) dias contado da notificação, não se chegar a uma solução, prevalecerá a objeção. iii) A lista consolidada de terceiros árbitros, bem como suas sucessivas modificações, acompanhadas do curriculum vitae dos árbitros, será comunicada pela Presidência Pro Tempore à Secretaria Administrativa do Mercosul, que a registrará e notificará aos Estados Partes. Artigo 12 Representantes e assessores Os Estados partes na controvérsia designarão seus representantes ante o Tribunal Arbitral Ad Hoc e poderão ainda designar assessores para a defesa de seus direitos. 59 Artigo 13 Unificação de representação Se dois ou mais Estados Partes sustentarem a mesma posição na controvérsia, poderão unificar sua representação ante o Tribunal Arbitral e designarão um árbitro de comum acordo, no prazo estabelecido no artigo 10.2(i). Artigo 14 Objeto da controvérsia 1. O objeto das controvérsias ficará determinado pelos textos de apresentação e de resposta apresentados ante o Tribunal Arbitral Ad Hoc, não podendo ser ampliado posteriormente. 2. As alegações que as partes apresentem nos textos mencionados no numeral anterior se basearão nas questões que foram consideradas nas etapas prévias, contempladas no presente Protocolo e no Anexo ao Protocolo de Ouro Preto. 3. Os Estados partes na controvérsia informarão ao Tribunal Arbitral Ad Hoc, nos textos mencionados no numeral 1 do presente artigo, sobre as instâncias cumpridas com anterioridade ao procedimento arbitral e farão uma exposição dos fundamentos de fato e de direito de suas respectivas posições. Artigo 15 Medidas provisórias 1. O Tribunal Arbitral Ad Hoc poderá, por solicitação da parte interessada, e na medida em que existam presunções fundamentadas de que a manutenção da situação poderá ocasionar danos graves e irreparáveis a uma das partes na controvérsia, ditar as medidas provisórias que considere apropriadas para prevenir tais danos. 2. O Tribunal poderá, a qualquer momento, tornar sem efeito tais medidas. 3. Caso o laudo seja objeto de recurso de revisão, as medidas provisórias que não tenham sido deixadas sem efeito antes da emissão do mesmo se manterão até o tratamento do tema na primeira reunião do Tribunal Permanente de Revisão, que deverá resolver sobre sua manutenção ou extinção. Artigo 16 Laudo arbitral O Tribunal Arbitral Ad Hoc emitirá o laudo num prazo de sessenta (60) dias, prorrogáveis por decisão do Tribunal por um prazo máximo de trinta (30) dias, contado a partir da comunicação efetuada pela Secretaria Administrativa do Mercosul às partes e aos demais árbitros, informando a aceitação pelo árbitro Presidente de sua designação. CAPÍTULO VII PROCEDIMENTO DE REVISÃO Artigo 17 Recurso de revisão 1. Qualquer das partes na controvérsia poderá apresenta um recurso de revisão do laudo do Tribunal Arbitral Ad Hoc aoTribunal Permanente de Revisão, em prazo não superior a quinze (15) dias a partir da notificação do mesmo. 2. O recurso estará limitado a questões de direito tratadas na controvérsia e às interpretações jurídicas desenvolvidas no laudo do Tribunal Arbitral Ad Hoc. 60 3. Os laudos dos Tribunais Ad Hoc emitidos com base nos princípios ex aequo et bono não serão suscetíveis de recurso de revisão. 4. A Secretaria Administrativa do Mercosul estará encarregada das gestões administrativas que lhe sejam encomendadas para o trâmite dos procedimentos e manterá informados os Estados partes na controvérsia e o Grupo Mercado Comum. Artigo 18 Composição do Tribunal Permanente de Revisão 1. O Tribunal Permanente de Revisão será integrado por cinco (5) árbitros. 2. Cada Estado Parte do Mercosul designará um (1) árbitro e seu suplente por um período de dois (2) anos, renovável por no máximo dois períodos consecutivos. 3. O quinto árbitro, que será designado por um período de três (3) anos não renovável, salvo acordo em contrário dos Estados Partes, será escolhido, por unanimidade dos Estados Partes, da lista referida neste numeral, pelo menos três (3) meses antes da expiração do mandato do quinto árbitro em exercício. Este árbitro terá a nacionalidade de algum dos Estados Partes do Mercosul, sem prejuízo do disposto no numeral 4 deste Artigo. Não havendo unanimidade, a designação se fará por sorteio que realizará a Secretaria Administrativa do Mercosul, dentre os integrantes dessa lista, dentro dos dois (2) dias seguintes ao vencimento do referido prazo. A lista para a designação do quinto árbitro conformar-se-á com oito (8) integrantes. Cada Estado Parte proporá dois (2) integrantes que deverão ser nacionais dos países do Mercosul. 4. Os Estados Partes, de comum acordo, poderão definir outros critérios para a designação do quinto árbitro. 5. Pelo menos três (3) meses antes do término do mandato dos árbitros, os Estados Partes deverão manifestar-se a respeito de sua renovação ou propor novos candidatos. 6. Caso expire o mandato de um árbitro que esteja atuando em uma controvérsia, este deverá permanecer em função até sua conclusão. 7. Aplica-se, no que couber, aos procedimentos descritos neste artigo o disposto no artigo 11.2. Artigo 19 Disponibilidade permanente Os integrantes do Tribunal Permanente de Revisão, uma vez que aceitem sua designação, deverão estar disponíveis permanentemente para atuar quando convocados. Artigo 20 Funcionamento do Tribunal 1. Quando a controvérsia envolver dois Estados Partes, o Tribunal estará integrado por três (3) árbitros. Dois (2) árbitros serão nacionais de cada Estado parte na controvérsia e o terceiro, que exercerá a Presidência, será designado mediante sorteio a ser realizado pelo Diretor da Secretaria Administrativa do Mercosul, entre os árbitros restantes que não sejam nacionais dos Estados partes na controvérsia. A designação do Presidente dar-se-á no dia seguinte à interposição do recurso de revisão, data a partir da qual estará constituído o Tribunal para todos os efeitos. 2. Quando a controvérsia envolver mais de dois Estados Partes, o Tribunal Permanente de Revisão estará integrado pelos cinco (5) árbitros. 3. Os Estados Partes, de comum acordo, poderão definir outros critérios para o funcionamento do Tribunal estabelecido neste artigo. 61 Artigo 21 Contestação do recurso de revisão e prazo para o laudo 1. A outra parte na controvérsia terá direito a contestar o recurso de revisão interposto, dentro do prazo de quinze (15) dias de notificada a apresentação de tal recurso. 2. O Tribunal Permanente de Revisão pronunciar-se-á sobre o recurso em um prazo máximo de trinta (30) dias, contado a partir da apresentação da contestação a que faz referência o numeral anterior ou do vencimento do prazo para a referida apresentação, conforme o caso. Por decisão do Tribunal, o prazo de trinta (30) dias poderá ser prorrogado por mais quinze (15) dias. Artigo 22 Alcance do pronunciamento 1. O Tribunal Permanente de Revisão poderá confirmar, modificar ou revogar a fundamentação jurídica e as decisões do Tribunal Arbitral Ad Hoc. 2. O laudo do Tribunal Permanente de Revisão será definitivo e prevalecerá sobre o laudo do Tribunal Arbitral Ad Hoc. Artigo 23 Acesso direto ao Tribunal Permanente de Revisão 1. As partes na controvérsia, culminado o procedimento estabelecido nos artigos 4 e 5 deste Protocolo, poderão acordar expressamente submeter-se diretamente e em única instância ao Tribunal Permanente de Revisão, caso em que este terá as mesmas competências que um Tribunal Arbitral Ad Hoc, aplicando-se, no que corresponda, os Artigos 9, 12, 13, 14, 15 e 16 do presente Protocolo. 2. Nessas condições, os laudos do Tribunal Permanente de Revisão serão obrigatórios para os Estados partes na controvérsia a partir do recebimento da respectiva notificação, não estarão sujeitos a recursos de revisão e terão, com relação às partes, força de coisa julgada. Artigo 24 Medidas excepcionais e de urgência O Conselho do Mercado Comum poderá estabelecer procedimentos especiais para atender casos excepcionais de urgência que possam ocasionar danos irreparáveis às Partes. CAPÍTULOS VIII LAUDOS ARBITRAIS Artigo 25 Adoção dos laudos Os laudos do Tribunal Arbitral Ad Hoc e os do Tribunal Permanente de Revisão serão adotados por maioria, serão fundamentados e assinados pelo Presidente e pelos demais árbitros. Os árbitros não poderão fundamentar votos em dissidência e deverão manter a confidencialidade da votação. As deliberações também serão confidenciais e assim permanecerão em todo o momento. Artigo 26 Obrigatoriedade dos laudos 1. Os laudos dos Tribunais Arbitrais Ad Hoc são obrigatórios para os Estados partes na controvérsia a partir de sua notificação e terão, em relação a eles, força de coisa julgada se, transcorrido o prazo previsto no artigo 17.1 para interpor recurso de revisão, este não tenha sido interposto. 62 2. Os laudos do Tribunal Permanente de Revisão são inapeláveis, obrigatórios para os Estados partes na controvérsia a partir de sua notificação e terão, com relação a eles, força de coisa julgada. Artigo 27 Obrigatoriedade do cumprimento dos laudos Os laudos deverão ser cumpridos na forma e com o alcance com que foram emitidos. A adoção de medidas compensatórias nos termos deste Protocolo não exime o Estado parte de sua obrigação de cumprir o laudo. Artigo 28 Recurso de esclarecimento 1. Qualquer dos Estados partes na controvérsia poderá solicitar um esclarecimento do laudo do Tribunal Arbitral Ad Hoc ou do Tribunal Permanente de Revisão e sobre a forma com que deverá cumprir-se o laudo, dentro de quinze (15) dias subseqüentes à sua notificação. 2. O Tribunal respectivo se expedirá sobre o recurso nos quinze (15) dias subseqüentes à apresentação da referida solicitação e poderá outorgar um prazo adicional para o cumprimento do laudo. Artigo 29 Prazo e modalidade de cumprimento 1. Os laudos do Tribunal Ad Hoc ou os do Tribunal Permanente de Revisão, conforme o caso, deverão ser cumpridos no prazo que os respectivos Tribunais estabelecerem. Se não for estabelecido um prazo, os laudos deverão ser cumpridos no prazo de trinta (30) dias seguintes à data de sua notificação. 2. Caso um Estado parte interponha recurso de revisão, o cumprimento do laudo do Tribunal Arbitral Ad Hoc será suspenso durante o trâmite do mesmo. 3. O Estado parte obrigado a cumprir o laudo informará à outra parte na controvérsia, assim como ao Grupo Mercado Comum, por intermédio da Secretaria Administrativa do Mercosul, sobre as medidas que adotará para cumprir o laudo, dentro dos quinze (15) dia contados desde sua notificação. Artigo 30 Divergências sobre o cumprimento do laudo 1. Caso o Estado beneficiado pelo laudo entenda que as medidas adotadas não dão cumprimendo ao mesmo, terá um prazo de trinta (30) dias, a partir da adoção das mesmas, para levar a situação à consideração do Tribunal Arbitral Ad Hoc ou do Tribunal Permanente de Revisão, conforme o caso. 2. O Tribunal respectivo terá um prazo de trinta (30) dias a partir da data que tomou conhecimento da situação para dirimir as questões referidas no numeral anterior. 3. Caso não seja possível a convocação do Tribunal Arbitral Ad Hoc que conheceu do caso, outro será conformado com o ou os suplentes necessários mencionados nos artigos 10.2 e 10.3. CAPÍTULO IX MEDIDAS COMPENSATÓRIAS Artigo 31 Faculdade de aplicar medidas compensatórias 1. Se um Estado parte na controvérsia não cumprir total ou parcialmente o laudo do Tribunal Arbitral, a outra parte na controvérsia terá a faculdade, dentro do prazo de um (1) ano, contado a partir do dia seguinte ao término do prazo referido no artigo 29.1, e independentemente de recorrer aos procedimentos do artigo 30, de iniciar a aplicação de medidas compensatórias temporárias, tais como a suspensão de concessões ou outras obrigações equivalentes, com vistas a obter o cumprimento do laudo. 63 2. O Estado Parte beneficiado pelo laudo procurará, em primeiro lugar, suspender as concessões ou obrigações equivalentes no mesmo setor ou setores afetados. Caso considere impraticável ou ineficaz a suspensão no mesmo setor, poderá suspender concessões ou obrigações em outro setor, devendo indicar as razões que fundamentam essa decisão. 3. As medidas compensatórias a serem tomadas deverão ser informadas formalmente pelo Estado Parte que as aplicará, com uma antecedência mínima de quinze (15) dias, ao Estado Parte que deve cumprir o laudo. Artigo 32 Faculdade de questionar medidas compensatórias 1. Caso o Estado Parte beneficiado pelo laudo aplique medidas compensatórias por considerar insuficiente o cumprimento do mesmo, mas o Estado Parte obrigado a cumprir o laudo considerar que as medidas adotadas são satisfatórias, este último terá um prazo de quinze (15) dias, contado a partir da notificação prevista no artigo 31.3, para levar esta situação à consideração do Tribunal Arbitral Ad Hoc ou do Tribunal Permanente de Revisão, conforme o caso, o qual terá um prazo de trinta (30) dias desde a sua constituição para se pronunciar sobre o assunto. 2. Caso o Estado Parte obrigado a cumprir o laudo considere excessivas as medidas compensatórias aplicadas, poderá solicitar, até quinze (15) dias depois da aplicação dessas medidas, que o Tribunal Ad Hoc ou o Tribunal Permanente de Revisão, conforme corresponda, se pronuncie a respeito, em um prazo não superior a (trinta) 30 dias, contado a partir da sua constituição. i) O Tribunal pronunciar-se-á sobre as medidas compensatórias adotadas. Avaliará, conforme o caso, a fundamentação apresentada para aplicá-las em um setor distinto daquele afetado, assim como sua proporcionalidade com relação às conseqüências derivadas do não cumprimento do laudo. ii) Ao analisar a proporcionalidade, o Tribunal deverá levar em consideração, entre outros elementos, o volume e/ou o valor de comércio no setor afetado, bem como qualquer outro prejuízo ou fator que tenha incidido na determinação do nível ou montante das medidas compensatórias. 3. O Estado Parte que aplicou as medidas deverá adequá-las à decisão do Tribunal em um prazo máximo de dez (10) dias, salvo se o Tribunal estabelecer outro prazo. CAPÍTULO X DISPOSIÇÕES COMUNS AOS CAPÍTULOS VI E VII Artigo 33 Jurisdição dos tribunais Os Estados Partes declaram reconhecer como obrigatória, ipso facto e sem necessidade de acordo especial, a jurisdição dos Tribunais Arbitrais Ad Hoc que em cada caso se constituam para conhecer e resolver as controvérsias a que se refere o presente Protocolo, bem como a jurisdição do Tribunal Permanente de Revisão para conhecer e resolver as controvérsias conforme as competências que lhe confere o presente Protocolo. Artigo 34 Direito aplicável 1. Os Tribunais Arbitrais Ad Hoc e o Tribunal Permanente de Revisão decidirão a controvérsia com base no Tratado de Assunção, no Protocolo de Ouro Preto, nos protocolos e acordos celebrados no marco do Tratado de Assunção, nas Decisões do Conselho do Mercado Comum, nas Resoluções do Grupo Mercado Comum e nas Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul, bem como nos princípios e disposições de Direito Internacional aplicáveis à matéria. 64 2. A presente disposição não restringe a faculdade dos Tribunais Arbitrais Ad Hoc ou a do Tribunal Permanente de Revisão, quando atue como instância direta e única conforme o disposto no artigo 23, de decidir a controvérsia ex aequo et bono, se as partes assim acordarem. Artigo 35 Qualificação dos árbitros 1. Os árbitros dos Tribunais Arbitrais Ad Hoc e os do Tribunal Permanente de Revisão deverão ser juristas de reconhecida competência nas matérias que possam ser objeto das controvérsias e ter conhecimento do conjunto normativo do Mercosul. 2. Os árbitros deverão observar a necessária imparcialidade e independência funcional da Administração Pública Central ou direta dos Estados Partes e não ter interesses de índole alguma na controvérsia. Serão designados em função de sua objetividade, confiabilidade e bom senso. Artigo 36 Custos 1. Os gastos e honorários ocasionados pela atividade dos árbitros serão custeados pelo país que os designe e os gastos e honorários do Presidente do Tribunal Arbitral Ad Hoc serão custeados em partes iguais pelos Estados partes na controvérsia, a menos que o Tribunal decida distribuí-los em proporção distinta. 2. Os gastos e honorários ocasionados pela atividade dos árbitros do Tribunal Permanente de Revisão serão custeados em partes iguais pelos Estados partes na controvérsia, a menos que o Tribunal decida distribuí-los em proporção distinta. 3. Os gastos a que se referem os incisos anteriores poderão ser pagos por intermédio da Secretaria Administrativa do Mercosul. Os pagamentos poderão ser realizados por intermédio de um Fundo Especial que poderá ser criado pelos Estados Partes ao depositar as contribuições relativas ao orçamento da Secretaria Administrativa do Mercosul, conforme o artigo 45 do Protocolo de Ouro Preto, ou no momento de iniciar os procedimentos previstos nos Capítulos VI ou VII do presente Protocolo. O Fundo será administrado pela Secretaria Administrativa do Mercosul, a qual deverá anualmente prestar contas aos Estados Partes sobre sua utilização. Artigo 37 Honorários e demais gastos Os honorários, gastos de transporte, hospedagem, diárias e outros gastos dos árbitros serão determinados pelo Grupo Mercado Comum. Artigo 38 Sede A sede do Tribunal Arbitral Permanente de Revisão será a cidade de Assunção. Não obstante, por razões fundamentadas, o Tribunal poderá reunir-se, excepcionalmente, em outras cidades do Mercosul. Os Tribunais Arbitrais Ad Hoc poderão reunir-se em qualquer cidade dos Estados Partes do Mercosul. CAPÍTULO XI RECLAMAÇÕES DE PARTICULARES Artigo 39 Âmbito de aplicação O procedimento estabelecido no presente Capítulo aplicar-se-á às reclamações efetuadas por particulares (pessoas físicas ou jurídicas) em razão da sanção ou aplicação, por qualquer dos Estados Partes, de medidas legais ou administrativas de efeito restritivo, discriminatórias ou de concorrência desleal, em violação do Tratado de Assunção, do Protocolo de Ouro Preto, dos protocolos e acordos celebrados no marco do Tratado 65 de Assunção, das Decisões do Conselho do Mercado Comum, das Resoluções do Grupo Mercado Comum e das Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul. Artigo 40 Início do trâmite 1. Os particulares afetados formalizarão as reclamações ante a Seção Nacional do Grupo Mercado Comum do Estado Parte onde tenham sua residência habitual ou a sede de seus negócios. 2. Os particulares deverão fornecer elementos que permitam determinar a veracidade da violação e a existência ou ameaça de um prejuízo, para que a reclamação seja admitida pela Seção Nacional e para que seja avaliada pelo Grupo Mercado Comum e pelo grupo de especialistas, se for convocado. Artigo 41 Procedimento 1. A menos que a reclamação se refira a uma questão que tenha motivado o início de um procedimento de Solução de Controvérsias de acordo com os Capítulos IV a VII deste Protocolo, a Seção Nacional do Grupo Mercado Comum que tenha admitido a reclamação conforme o artigo 40 do presente Capítulo deverá entabular consultas com a Seção Nacional do Grupo Mercado Comum do Estado Parte a que se atribui a violação, a fim de buscar, mediante as consultas, uma solução imediata à questão levantada. Tais consultas se darão por concluídas automaticamente e sem mais trâmites se a questão não tiver sido resolvida em um prazo de quinze (15) dias contado a partir da comunicação da reclamação ao Estado Parte a que se atribui a violação, salvo se as partes decidirem outro prazo. 2. Finalizadas as consultas, sem que se tenha alcançado uma solução, a Seção Nacional do Grupo Mercado Comum elevará a reclamação sem mais trâmite ao Grupo Mercado Comum. Artigo 42 Intervenção do Grupo Mercado Comum 1. Recebida a reclamação, o Grupo Mercado Comum avaliará os requisitos estabelecidos no artigo 40.2, sobre os quais se baseou sua admissão pela Seção Nacional, na primeira reunião subseqüente ao seu recebimento. Se concluir que não estão reunidos os requisitos necessários para dar-lhe curso, rejeitará a reclamação sem mais trâmite, devendo pronunciar-se por consenso. 2. Se o Grupo Mercado Comum não rejeitar a reclamação, esta considerar-se-á admitida. Neste caso, o Grupo Mercado Comum procederá de imediato à convocação de um grupo de especialistas que deverá emitir um parecer sobre sua procedência, no prazo improrrogável de trinta (30) dias contado a partir da sua designação. 3. Nesse prazo, o grupo de especialistas dará oportunidade ao particular reclamante e aos Estados envolvidos na reclamação de serem ouvidos e de apresentarem seus argumentos, em audiência conjunta. Artigo 43 Grupo de especialistas 1. O grupo de especialistas a que faz referência o artigo 42.2 será composto de três (3) membros designados pelo Grupo Mercado Comum ou, na falta de acordo sobre um ou mais especialistas, estes serão escolhidos por votação que os Estados Partes realizarão dentre os integrantes de uma lista de vinte e quatro (24) especialistas. A Secretaria Administrativa do Mercosul comunicará ao Grupo Mercado Comum o nome do especialista ou dos especialistas que tiverem recebido o maior número de votos. Neste último caso, e salvo se o Grupo Mercado Comum decidir de outra maneira, um (1) dos especialistas designados não poderá ser nacional do Estado contra o qual foi formulada a reclamação, nem do Estado no qual o particular formalizou sua reclamação, nos termos do artigo 40. 66 2. Com o fim de constituir a lista dos especialistas, cada um dos Estados Partes designará seis (6) pessoas de reconhecida competência nas questões que possam ser objeto de reclamação. Esta lista ficará registrada na Secretaria Administrativa do Mercosul. 3. Os gastos derivados da atuação do grupo de especialistas serão custeados na proporção que determinar o Grupo Mercado Comum ou, na falta de acordo, em montantes iguais pelas partes diretamente envolvidas na reclamação. Artigo 44 Parecer do grupo de especialistas 1. O grupo de especialistas elevará seu parecer ao Grupo Mercado Comum. i) Se, em parecer unânime, se verificar a procedência da reclamação formulada contra um Estado Parte, qualquer outro Estado Parte poderá requerer-lhe a adoção de medidas corretivas ou a anulação das medidas questionadas. Se o requerimento não prosperar num prazo de quinze (15) dias, o Estado Parte que o efetuou poderá recorrer diretamente ao procedimento arbitral, nas condições estabelecidas no Capítulo VI do presente Protocolo. ii) Recebido um parecer que considere improcedente a reclamação por unanimidade, o Grupo Mercado Comum imediatamente dará por concluída a mesma no âmbito do presente Capítulo. iii) Caso o grupo de especialistas não alcance unanimidade para emitir um parecer, elevará suas distintas conclusões ao Grupo Mercado Comum que, imediatamente, dará por concluída a reclamação no âmbito do presente Capítulo. 2. A conclusão da reclamação por parte do Grupo Mercado Comum, nos termos das alíneas (ii) e (iii) do numeral anterior, não impedirá que o Estado Parte reclamante dê início aos procedimentos previstos nos Capítulos IV a VI do presente Protocolo. CAPÍTULO XII DISPOSIÇÕES GERAIS Artigo 45 Acordo ou desistência Em qualquer fase dos procedimentos, a parte que apresentou a controvérsia ou a reclamação poderá desistir das mesmas, ou as partes envolvidas no caso poderão chegar a um acordo dando-se por concluída a controvérsia ou a reclamação, em ambos os casos. As desistências e acordos deverão ser comunicados por intermédio da Secretaria Administrativa do Mercosul ao Grupo Mercado Comum, ou ao Tribunal que corresponda, conforme o caso. Artigo 46 Confidencialidade 1. Todos os documentos apresentados no âmbito dos procedimentos previstos neste Protocolo são de caráter reservado às partes na controvérsia, à exceção dos laudos arbitrais. 2. A critério da Seção Nacional do Grupo Mercado Comum de cada Estado Parte e quando isso seja necessário para a elaboração das posições a serem apresentadas ante o Tribunal, esses documentos poderão ser dados a conhecer, exclusivamente, aos setores com interesse na questão. 3. Não obstante o estabelecido no numeral 1, o Conselho do Mercado Comum regulamentará a modalidade de divulgação dos textos e apresentações relativos a controvérsias já concluídas. 67 Artigo 47 Regulamentação O Conselho do Mercado Comum aprovará a regulamentação do presente Protocolo no prazo de sessenta (60) dias a partir de sua entrada em vigência. Artigo 48 Prazos 1. Todos os prazos estabelecidos no presente Protocolo são peremptórios e serão contados por dias corridos a partir do dia seguinte ao ato ou fato a que se referem. Não obstante, se o vencimento do prazo para apresentar um texto ou cumprir uma diligência não ocorrer em dia útil na sede da Secretaria Administrativa do Mercosul, a apresentação do texto ou cumprimento da diligência poderão ser feitos no primeiro dia útil imediatamente posterior a essa data. 2. Não obstante o estabelecido no numeral anterior, todos os prazos previstos no presente Protocolo poderão ser modificados de comum acordo pelas partes na controvérsia. Os prazos previstos para os procedimentos tramitados ante os Tribunais Arbitrais Ad Hoc e ante o Tribunal Permanente de Revisão poderão ser modificados quando as partes na controvérsia o solicitem ao respectivo Tribunal e este o conceda. CAPÍTULO XIII DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS Artigo 49 Notificações iniciais Os Estados Partes realizarão as primeiras designações e notificações previstas nos artigos 11, 18 e 43.2 em um prazo de trinta (30) dias, contado a partir da entrada em vigor do presente Protocolo. Artigo 50 Controvérsias em trâmite As controvérsias em trâmite iniciadas de acordo com o regime do Protocolo de Brasília continuarão a ser regidas exclusivamente pelo mesmo até sua total conclusão. Artigo 51 Regras de procedimento 1. O Tribunal Permanente de Revisão adotará suas próprias regras de procedimento no prazo de trinta (30) dias, contado a partir de sua constituição, as quais deverão ser aprovadas pelo Conselho do Mercado Comum. 2. Os Tribunais Arbitrais Ad Hoc adotarão suas próprias regras de procedimento, tomando como referência as Regras Modelos a serem aprovadas pelo Conselho do Mercado Comum. 3. As regras mencionadas nos numerais precedentes deste artigo garantirão que cada uma das partes na controvérsia tenha plena oportunidade de ser ouvida e de apresentar seus argumentos e assegurarão que os processos se realizem de forma expedita. CAPÍTULO XIV DISPOSIÇÕES FINAIS Artigo 52 Vigência e depósito 1. O presente Protocolo, parte integrante do Tratado de Assunção, entrará em vigor no trigésimo dia a partir da data em que tenha sido depositado o quarto instrumento de ratificação. 68 2. A República do Paraguai será depositária do presente Protocolo e dos instrumentos de ratificação e notificará aos demais Estados Partes a data de depósito desses instrumentos, enviando cópia devidamente autenticada deste Protocolo ao demais Estados Partes. Artigo 53 Revisão do sistema Antes de culminar o processo de convergência da tarifa externa comum, os Estados Partes efetuarão uma revisão do atual sistema de solução de controvérsias, com vistas à adoção do Sistema Permanente de Solução de Controvérsias para o Mercado Comum a que se refere o numeral 3 do Anexo III do Tratado de Assunção. Artigo 54 Adesão ou denúncia ipso jure A adesão ao Tratado de Assunção significará ipso jure a adesão ao presente Protocolo. A denúncia do presente Protocolo significará ipso jure a denúncia do Tratado de Assunção. Artigo 55 Derrogação 1. O presente Protocolo derroga, a partir de sua entrada em vigência, o Protocolo de Brasília para a Solução de Controvérsias, adotado em 17 de dezembro de 1991 e o Regulamento do Protocolo de Brasília, aprovado pela Decisão CMC 17/98. 2. Não obstante, enquanto as controvérsias iniciadas sob o regime do Protocolo de Brasília não estejam concluídas totalmente e até se completarem os procedimentos previstos no artigo 49, continuará sendo aplicado, no que corresponda, o Protocolo de Brasília e seu Regulamento. 3. As referências ao Protocolo de Brasília que figuram no Protocolo de Ouro Preto e seu Anexo, entendem-se remetidas, no que corresponda, ao presente Protocolo. Artigo 56 Idiomas Serão idiomas oficiais em todos os procedimentos previstos no presente Protocolo o português e o espanhol. Feito na cidade de Olivos, Província de Buenos Aires, República Argentina aos dezoito dias do mês de fevereiro de dois mil e dois, em um original, nos idiomas português e espanhol, sendo ambos os textos igualmente autênticos. ********************************** 69 3.4. Protocolo de Ushuaia (1998). PROTOCOLO DE USHUAIA SOBRE COMPROMISSO DEMOCRÁTICO NO MERCOSUL, BOLÍVIA E CHILE A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai, Estados Partes do MERCOSUL, assim como a República da Bolívia e a República de Chile, doravante denominados Estados Partes do presente Protocolo, REAFIRMANDO os princípios e objetivos do Tratado de Assunção e seus Protocolos, assim como os dos Acordos de Integração celebrados entre o MERCOSUL e a República da Bolívia e entre o MERCOSUL e a República do Chile; REITERANDO o que expressa a Declaração Presidencial de las Leñas, de 27 de junho de 1992, no sentido de que a plena vigência das instituições democráticas é condição indispensável para a existência e o desenvolvimento do MERCOSUL; RATIFICANDO a Declaração Presidencial sobre Compromisso Democrático no MERCOSUL e o Protocolo de Adesão àquela Declaração por parte da República da Bolívia e da República do Chile; ACORDAM O SEGUINTE: ARTIGO 1 A plena vigência das instituições democráticas é condição essencial para o desenvolvimento dos processos de integração entre os Estados Partes do presente Protocolo. ARTIGO 2 O presente Protocolo se aplicará às relações que decorram dos respectivos Acordos de Integração vigentes entre os Estados Partes do presente protocolo, no caso de ruptura da ordem democrática em algum deles. ARTIGO 3 Toda ruptura da ordem democrática em um dos Estados Partes do presente Protocolo implicará a aplicação dos procedimentos previstos nos artigos seguintes. ARTIGO 4 No caso de ruptura da ordem democrática em um Estado Parte do presente Protocolo, os demais Estados Partes promoverão as consultas pertinentes entre si e com o Estado afetado. ARTIGO 5 Quando as consultas mencionadas no artigo anterior resultarem infrutíferas, os demais Estados Partes do presente Protocolo, no âmbito específico dos Acordos de Integração vigentes entre eles, considerarão a natureza e o alcance das medidas a serem aplicadas, levando em conta a gravidade da situação existente. Tais medidas compreenderão desde a suspensão do direito de participar nos diferentes órgãos dos respectivos processos de integração até a suspensão dos direitos e obrigações resultantes destes processos. 70 ARTIGO 6 As medidas previstas no artigo 5 precedente serão adotadas por consenso pelos Estados Partes do presente Protocolo, conforme o caso e em conformidade com os Acordos de Integração vigentes entre eles, e comunicadas ao Estado afetado, que não participará do processo decisório pertinente. Tais medidas entrarão em vigor na data em que se faça a comunicação respectiva. ARTIGO 7 As medidas a que se refere o artigo 5 aplicadas ao Estado Parte afetado cessarão a partir da data da comunicação a tal Estado da concordância dos Estados que adotaram tais medidas de que se verificou o pleno restabelecimento da ordem democrática, que deverá ocorrer tão logo o restabelecimento seja efetivo. ARTIGO 8 O presente Protocolo é parte integrante do Tratado de Assunção e dos respectivos Acordos de Integração celebrados entre o MERCOSUL e a República da Bolívia e entre o MERCOSUL e a República do Chile. ARTIGO 9 O presente Protocolo se aplicará aos Acordos de Integração que venham a ser no futuro celebrados entre o MERCOSUL e a Bolívia, o MERCOSUL e o Chile e entre os seis Estados Partes deste Protocolo, do que se deverá fazer menção expressa em tais instrumentos. ARTIGO 10 O presente Protocolo entrará em vigor para os Estados Partes do MERCOSUL trinta dias depois da data do depósito do quarto instrumento de ratificação junto ajo Governo da República do Paraguai. O presente Protocolo entrará em vigor para os Estados Partes do MERCOSUL e a República da Bolívia ou a República do Chile, conforme, o caso, trinta dias depois que a Secretaria Geral da ALADI tenha informado às cinco Partes Signatárias correspondentes que nelas se cumpriram os procedimentos internos para sua incorporação aos respectivos ordenamentos jurídicos nacionais. Feito na Cidade de Ushuaia, República Argentina, no dia vinte e quatro do mês de julho do ano de mil novecentos e noventa e oito, em três originais nos idiomas Espanhol e Português, sendo ambos os textos igualmente autênticos. 71 SEXTA PARTE PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL INTERNACIONAL ________________________________________________________________________________ ► PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL INTERNACIONAL (de acordo com a formulação proposta por PHILIPPE SANDS): (1) soberania sobre os recursos naturais e a responsabilidade de não causar dano ao meio ambiente de outros Estados ou às áreas além da jurisdição nacional: ● princípio binário: soberania e responsabilidade; ● limitação da dimensão da soberania; ● “recursos naturais”: vivos e não-vivos (Shrimp-Turtle Case, 1998: tartarugas marinhas integram o conceito de “recursos naturais”). (2) princípio da ação preventiva: ● antecipação e prevenção de danos ambientais para efeito de proteção; ● padrões de produção heterogêneos: países desenvolvidos vs. países em desenvolvimento; ● art. 23 (VI) da CF/88: “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas”. (3) cooperação: ● lógica da boa vizinhança: boa-fé e transparência entre Estados; ● Acidente de Chernobyl: Chernobyl, Ucrânia, 26.04.86: alerta internacional efetuado depois de vários dias; elementos radiativos atingindo países da Europa Oriental e da Escandinávia e, ainda, parcela do território inglês; ● art. 4o (IX) da CF/88: “cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”. (4) desenvolvimento sustentável (sustentabilidade): ● núcleo vital do Direito Ambiental: objetivo final da proteção ambiental; ● princípio binário: necessidade e limitação (“needs and limitations”); ● lógica dos meios e dos fins; ● QUATRO ELEMENTOS: (1) eqüidade intergeracional; (2) uso sustentável; (3) eqüidade intrageracional; (4) integração. 72 (1) eqüidade intergeracional: ▬ a questão das “gerações futuras”: questão filosófica da posteridade; ▬ antagonismo entre o “hoje” e o “amanhã”; ▬ ausência de elo tangível entre presente e futuro: “responsabilidade moral”. (2) uso sustentável: ▬ Declaração de Estocolmo, 1972: fragmentação do princípio; ▬ ações baseadas na prudência, na racionalidade, na sabedoria e na apropriabilidade; ▬ aspecto instrumental: o uso sustentável como meio de materialização da sustentabilidade. (3) eqüidade intrageracional: ▬ paradigmas: “preocupações presentes” e “gerações contemporâneas”; ▬ o gerenciamento dos recursos naturais deve levar em consideração as necessidades de outros sujeitos; ▬ equilíbrio entre desenvolvimento socioeconômico e proteção ambiental. (4) integração: ▬ incorporação das preocupações ambientais à esfera do desenvolvimento; ▬ confirmação do aspecto transversal da questão ambiental; ▬ fenômeno da resistência (ou incompatibilidade): produção vs. meio ambiente. (5) princípio da precaução: ● antecipação combinada com a incerteza científica: “antecipação ambiental”; ● lógica da “evidência mínima” em oposição à idéia de certeza; ● validez da noção de probabilidade: as “possibilidades” representam a base do princípio, e não os fatos. (6) princípio do poluidor-pagador: ● o agente poluidor (pessoas físicas e pessoas jurídicas) deve “pagar o preço” de suas atividades danosas ao meio ambiente; ● custos de produção: prevenção, controle e reparação; ● internalização dos custos da poluição (internalização dos efeitos externos). (7) princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada: ● princípio inspirado na eqüidade: dicotomia Norte-Sul; ● princípio binário: patrimônio comum e tratamento diferenciado; ● Protocolo de Kyoto (art. 10): “prioridades, objetivos e circunstâncias” específicas de desenvolvimento. 73 SÉTIMA PARTE JURISPRUDÊNCIA DO STF EM MATÉRIA DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ________________________________________________________________________________ ● Tema: nacionalidade. RE 264848 / TO - TOCANTINS RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator: Min. CARLOS BRITTO Julgamento: 29/06/2005 Órgão Julgador: Primeira Turma Publicação DJ 14-10-2005 PP-00012 EMENT VOL-02209-3 PP-00489 RTJ VOL-00196-01 PP-000325 Parte(s) RECTE.(S) : ESTADO DO TOCANTINS ADV.(A/S) : PGE-TO - JOSUÉ PEREIRA DE AMORIM RECDO.(A/S) : MARIA EUGÊNIA ADAMOGLU JELINCIC DE MENDONÇA ADV.(A/S) : LUCIANO AYRES DA SILVA ADV.(A/S) : MARIA DE LOURDES M. DE OLIVEIRA Ementa EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONCURSO PÚBLICO. ESTRANGEIRO. NATURALIZAÇÃO. REQUERIMENTO FORMALIZADO ANTES DA POSSE NO CARGO EXITOSAMENTE DISPUTADO MEDIANTE CONCURSO PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À ALÍNEA "B" DO INCISO II DO ARTIGO 12 DA MAGNA CARTA. O requerimento de aquisição da nacionalidade brasileira, previsto na alínea "b" do inciso II do art. 12 da Carta de Outubro, é suficiente para viabilizar a posse no cargo triunfalmente disputado mediante concurso público. Isto quando a pessoa requerente contar com quinze anos ininterruptos de residência fixa no Brasil, sem condenação penal. A Portaria de formal reconhecimento da naturalização, expedida pelo Ministro de Estado da Justiça, é de caráter meramente declaratório. Pelo que seus efeitos hão de retroagir à data do requerimento do interessado. Recurso extraordinário a que se nega provimento. 74 ● Tema: imunidade de jurisdição. RE-AgR 222368 / PE - PERNAMBUCO AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 30/04/2002 Órgão Julgador: Segunda Turma Publicação DJ 14-02-2003 PP-00070 EMENT VOL-02098-02 PP-00344 Parte(s) AGTE. : CONSULADO GERAL DO JAPÃO ADVDOS. : JOSÉ SARAIVA E OUTROS AGDO. : ESPÓLIO DE IRACY RIBEIRO DE LIMA ADVDA. : ROSANA CAPITULINO DA SILVA CABRAL Ementa EMENTA: IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO - RECLAMAÇÃO TRABALHISTA LITÍGIO ENTRE ESTADO ESTRANGEIRO E EMPREGADO BRASILEIRO EVOLUÇÃO DO TEMA NA DOUTRINA, NA LEGISLAÇÃO COMPARADA E NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: DA IMUNIDADE JURISDICIONAL ABSOLUTA À IMUNIDADE JURISDICIONAL MERAMENTE RELATIVA - RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO CONHECIDO. OS ESTADOS ESTRANGEIROS NÃO DISPÕEM DE IMUNIDADE DE JURISDIÇ ÃO, PERANTE O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO, NAS CAUSAS DE NATUREZA TRABALHISTA, POIS ESSA PRERROGATIVA DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO TEM CARÁTER MERAMENTE RELATIVO. O Estado estrangeiro não dispõe de imunidade de jurisdição, perante órgãos do Poder Judiciário brasileiro, quando se tratar de causa de natureza trabalhista. Doutrina. Precedentes do STF (RTJ 133/159 e RTJ 161/643-644). - Privilégios diplomáticos não podem ser invocados, em processos trabalhistas, para coonestar o enriquecimento sem causa de Estados estrangeiros, em inaceitável detrimento de trabalhadores residentes em território brasileiro, sob pena de essa prática consagrar censurável desvio ético-jurídico, incompatível com o princípio da boa-fé e inconciliável com os grandes postulados do direito internacional. O PRIVILÉGIO RESULTANTE DA IMUNIDADE DE EXECUÇÃO NÃO INIBE A JUSTIÇA BRASILEIRA DE EXERCER JURISDIÇÃO NOS PROCESSOS DE CONHECIMENTO INSTAURADOS CONTRA ESTADOS ESTRANGEIROS. - A imunidade de jurisdição, de um lado, e a imunidade de execução, de outro, constituem categorias autônomas, juridicamente inconfundíveis, pois - ainda que guardem estreitas relações entre si - traduzem realidades independentes e distintas, assim reconhecidas quer no plano conceitual, quer, ainda, no âmbito de desenvolvimento das próprias relações internacionais. A eventual impossibilidade jurídica de ulterior realização prática do título judicial condenatório, em decorrência da prerrogativa da imunidade de execução, não se revela suficiente para obstar, só por si, a instauração, perante Tribunais brasileiros, de processos de conhecimento contra Estados estrangeiros, notadamente quando se tratar de litígio de natureza trabalhista. Doutrina. Precedentes. 75 ● Tema: extradição. ● Ext. 557 / RFA – REPUBLICA FEDERAL DA ALEMANHA EXTRADIÇÃO Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE Julgamento: 21/10/1992 Publicação: DJ 20-11-1992 PP-21611 Órgão Julgador: Tribunal Pleno EMENT VOL-01685-01, p. 129 Ementa: EXTRADIÇÃO: CONCORRÊNCIA DE TODOS OS SEUS PRESSUPOSTOS E AUSÊNCIA DE CAUSA IMPEDITIVA, DADO QUE NÃO OBSTAM A EXTRADIÇÃO DO ESTRANGEIRO NEM O CASAMENTO COM BRASILEIRO, NEM A PATERNIDADE DE FILHO BRASILEIRO MENOR. ● Ext. 1104 / UK- REINO UNIDO DA GRÃ-BRETANHA E DA IRLANDA DO NORTE EXTRADIÇÃO Relator: Min. CEZAR PELUSO Julgamento: 14/04/2008 Publicação: DJe-092 DIVULG 21-05-08 PUBLIC 23-05-08 Órgão Julgador: Tribunal Pleno EMENT VOL-02320-01, p. 32 Ementa: EMENTA: EXTRADIÇÃO. Passiva. Pena. Prisão perpétua. Inadmissibilidade. Necessidade de comutação para pena privativa de liberdade por prazo não superior a 30 (trinta) anos. Concessão com essa ressalva. Interpretação do art. 5°, XLVII, "b", da CF. Precedentes. Só se defere pedido de extradição para cumprimento de pena de prisão perpétua, se o Estado requerente se comprometa a comutar essa pena por privativa de liberdade, por prazo ou tempo não superior a 30 (trinta) anos. ● HC 87219 / DF - DISTRITO FEDERAL HABEAS CORPUS Relator: Min. CEZAR PELUSO Julgamento: 14/06/2006 Publicação: DJ 04-08-06 PP-00026 Órgão Julgador: Tribunal Pleno EMENT VOL-02240-03 PP-00484 (LEXSTF v. 28, n. 333, 2006, p. 444-450) Ementa: EMENTAS: 1. EXTRADIÇÃO. Passiva. Admissibilidade. Extraditando. Brasileiro naturalizado. Naturalização posterior aos fatos que, como crimes comuns, motivaram o pedido. Aplicação do art. 5º, LI, da CF, e art. 77, I, da Lei nº 6.815/80. Pode ser extraditado o brasileiro naturalizado que adquiriu a nacionalidade após a prática do crime comum que fundamenta o pedido de extradição. 2. EXTRADIÇÃO. Passiva. Pedido formulado pelo Governo Austríaco. Falta de tratado específico. Irrelevância. Promessa formalizada de reciprocidade. Processo válido. HC denegado. Aplicação do art. 76 da Lei nº 6.815/80. Precedentes. Sem tratado específico, poderá ser concedida extradição quando o governo requerente prometer ao Brasil a reciprocidade. ● Ext. 774 / IT – ITÁLIA EXTRADIÇÃO Relatora: Min. ELLEN GRACIE Julgamento: 31/10/2001 Publicação: :DJ 14-12-01 PP-24 Órgão Julgador: Tribunal Pleno EMENT VOL-02053-01 PP-00123 Ementa: EMENTA: Extradição. Governo da Itália. Presença dos requisitos do art. 80 da Lei nº 6.815/80 e do art. XI, 1 e 2 do Tratado de Extradição firmado entre a Itália e o Brasil em 17.10.89. Alegações da defesa repelidas. O fato de o extraditando estar respondendo a processos no Brasil não é causa impeditiva da extradição (...). 76 QUESTÕES DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO www.pciconcursos.com.br PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO X CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGOS DE TB SUBSTITUTO maio/2005 FCC 49. A imunidade de jurisdição consiste: I) na faculdade dos agentes diplomáticos de não comparecer em qualquer juízo do país onde esteja acreditado para prestar testemunho de fatos que sejam do seu conhecimento; II) em não facultar ao agente diplomático à jurisdição do Estado em que esteja acreditado, na qualidade de autor; III) em que o agente diplomático que exerce outra profissão, simultaneamente com a função diplomática, possa ser acionado, nos Tribunais do país onde esteja acreditado, quanto aos compromissos assumidos pelo exercício da outra função que tenha desempenhado; IV) impedir que o agente diplomático seja acionado para responder às ações reais sobre imóveis por ele adquiridos no território em que esteja acreditado. Assinale a resposta; a) todas as alternativas estão corretas; . b) apenas as alternativas II e IV estão incorretas; c) apenas a afirmativa II está incorreta; d) apenas a afirmativa I está incorreta; e) apenas a afirmativa III está incorreta. 50. No tocante aos tratados é possível afirmar: I) a licitude ou ilicitude do objeto não é elemento para sua validade. É necessário, apenas, que os agentes que representam os Estados convenentes tenham capacidade e estejam habilitados a celebrá-Ios; II) os representantes de um Estado, para adoção ou autenticação do texto de um tratado, ou para expressar o consentimento do Estado, deverão demonstrar a sua capacidade, através da apresentação dos plenos poderes, que somente poderá ser dispensada em se tratando do Chefe de Estado ou do Chanceler (Ministro das Relações Internacionais no Br); III) a ratificação é da essência do tratado, não podendo ser dispensada por vontade das partes; IV) a denúncia é causa de extinção quando admitida expressa ou tacitamente pelo próprio tratado. Escolha a opção correta: a) todas as afirmativas estão corretas; b) apenas a afirmativa III está incorreta; c) apenas as afirmativas I e III estão incorretas; d) apenas a afirmativa II está correta; e) apenas as afirmativas I e II estão corretas. Fonte 77 Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional - D-004.388-2002 DECRETO No. 4.388, DE 25 DE SETEMBRO DE 2002 Capítulo I Criação do Tribunal OBS: 1º. Tribunal Permanente no mundo, para julgar determinados crimes Artigo 1º O Tribunal É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ("o Tribunal"). O Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas (físicas) responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais. A competência e o funcionamento do Tribunal regerse-ão pelo presente Estatuto. OBS: complementar às jurisdições penais nacionais = Princípio da Complementaridade: só julga qdo não houve julgamento no país de origem, ou ainda, se o julgamento tiver sido uma farsa Artigo 4º Regime Jurídico e Poderes do Tribunal 1. O Tribunal terá personalidade jurídica internacional (característico de Org. Int.) Possuirá, igualmente, a capacidade jurídica necessária ao desempenho das suas funções e à prossecução dos seus objetivos. obs.dji.grau.4: Poder; Regime Jurídico; Tribunal 2. O Tribunal poderá exercer os seus poderes e funções nos termos do presente Estatuto, no território de qualquer Estado Parte e, por acordo especial, no território de qualquer outro Artigo 5º Crimes da Competência do Tribunal 1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal terá competência para julgar os seguintes crimes: (são imprescritíveis) a) O crime de genocídio; b) Crimes contra a humanidade; (qdo não haviam definido genocídio existencial: ex. Judeus) c) Crimes de guerra; (convenção de Genebra) d) O crime de agressão. (um país invade o outro) 2. O Tribunal poderá exercer a sua competência em relação ao crime de agressão desde que, nos termos dos artigos 121 e 123, seja aprovada uma disposição em que se defina (falta regulamentação) o crime e se enunciem as condições em que o Tribunal terá competência relativamente a este crime. Tal disposição deve ser compatível com as disposições pertinentes da Carta das Nações Unidas. obs.dji.grau.1: TPI Artigo 121, Alterações e Artigo 123, Revisão do Estatuto - Cláusulas Finais - 78 Artigo 89 Entrega de Pessoas ao Tribunal 1. O Tribunal poderá dirigir um pedido de detenção e entrega de uma pessoa, instruído com os documentos comprovativos referidos no artigo 91, a qualquer Estado em cujo território essa pessoa se possa encontrar, e solicitar a cooperação desse Estado na detenção e entrega da pessoa em causa. Os Estados Partes darão satisfação aos pedidos de detenção e de entrega em conformidade com o presente Capítulo e com os procedimentos previstos nos respectivos direitos internos. OBS: O BR. Não extradita brasileiro Art.5, LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; Artigo 102 Termos Usados para os Fins do Presente Estatuto: a) Por "entrega", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal nos termos do presente Estatuto. b) Por "extradição", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado conforme previsto em um tratado, em uma convenção ou no direito interno. Artigo 120 Reservas (nenhum país é obrigado a aderir o TPI) Não são admitidas reservas a este Estatuto. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. 79 Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Art. 21. Compete à União: (A REPRESENTANTE EXTERNA DO ESTADO BR É A UNIÃO) I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;