O que aconteceu uma

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O que aconteceu uma fracção
de segundo depois do Big Bang
deixou de ser só teoria
Primeiros sinais inequívocos de ondas gravitacionais confirmam
teoria da ultra-rápida expansão do universo numa fracção de segundo
Cientistas apanharam vestígios do que passou uma
fracção de segundo após o
Big Bang. Colegas vão agora
ter de confirmar dados
D.R.
mos a falar de uma centena de trilionésimos de trilionésimos
e trilionésimos
MARTA F. REIS
mana, reis@ionline.pt
Há 13,8 mil milhões de anos houve uma
grande explosão que criou matéria, espaço e tempo e depois um esticão que numa
fracção de segundo empurrou tudo o
que existia para além do inimaginável,
o universo que conhecemos.
Parece simples mas claro que não é e
até ontem, apesar da história rezar assim
nos manuais de ciência, não havia pro-
criando
vas observacionais
dessa primeira
do universo
expanapós aqui-
são ultra-rápida
lo que se pensa ser o princípio, essa explosão estranha que não só empurrou a
matéria mas a terá criado
e foi baptiza-
da de Big Bang. Resultados da experiência BICEP2, no Pólo Sul, prometem arru-
mar o assunto. Os investigadores, liderados pelo Centro de Astrofísica
Harvard-Smithsonian,
apresentaram os
resultados de três anos de observações
onde parece haver sinais incontornáveis
desse fenómeno
do espa-
em deformações
ço-tempo gravadas na radiação cósmica de fundo que é possível detectar,
microondas emitidas 380 mil anos após
o Big Bang. Ainda não é uma detecção
directa destes sussurros
do espaço-tem-
po, como lhe chamam os investigadores,
mas a equipa conseguiu descartar todas
as hipóteses para as manchas que encon-
trou, incluindo
contaminação com poeira cósmica, e acredita que são mesmo
as ondas gravitacionais
previstas pela
primeira vez por Einstein. A comunidade científica não demorou a reagir ao
anúncio feito oficialmente numa conferência de imprensa ontem pelas 16 horas.
Orfeu Bertolami, cosmólogo da Universidade do Porto, que nos anos 80
enfrentou muito cepticismo durante as
primeiras conversas em torno dos visionários modelos da "inflação" ultra-rápida agora demonstrada, ajudou o í a perceber a relevância da descoberta, que
ontem
os cientistas
não hesitaram
em
apontar como candidata directa ao Nobel.
"Tínhamos evidências da expansão do
universo desde os anos 30 mas esta descoberta diz respeito aos primeiríssimos
instantes da história do universo. Esta-
de segundo. Qualquer coisa como zero
vírgula 30 zeros." E este momento é o
que importa, já que foi aí, também numa
fracção de segundo, que o universo se
expandiu numa proporção semelhante
a passar de qualquer coisa do tamanho
de um fio de cabelo para milhares de
milhares de milhões de planetas, de 1
metro para 10 elevado a 30. "Finalmente temos a evidência
do de facto aconteceu",
ção cósmica de fundo
de que este períoresume. Na radiajá havia pistas des-
sa expansão mas agora percebeu-se que
uma polarização na imagem obtida numa
frequência e escala precisa tem como
única explicação as deformações iniciais.
"É um sinal muito robusto e muito limpo", diz o cosmólogo.
Para Orfeu Bertolami, será impossível
detectar directamente as ondas gravitacionais geradas por este fenómeno
mas lembra que há projectos em curso
com esse objectivo mas mais focados
em fenómenos violentos mais recentes
como um buraco negro a engolir outro.
"As ondas gravitacionais
cosmológicas
como as da expansão do Big Bang têm
uma amplitude ridiculamente baixa.
Penso que é impossível à luz do que
sabemos hoje." Fica explicada a origem
do universo e confirmado o papel do Big
Bang? "Temos de falar do que somos
capazes de inferir através das observações. O que podemos dizer é que depois
do Big Bang houve uma expansão ace-
lerada e isso leva-nos a descartar muitas teorias. Mas a física que antecede
essa expansão ainda é um mistério.
Tenho relutância em ir para além do
que somos capazes de inferir."
Mas não tem dúvidas que o dia de ontem
ficará para sempre associado a um "salto extraordinário".
Até ontem, sabia-se
que a radiação cósmica de fundo dava
informação sobre o que aconteceu 380
mil anos após o Big Bang. A detecção de
elementos primordiais do universo como
hélio 4, demonstrada nos anos 80, dava
uma fotografia de como o universo era
um minuto depois do Big Bang. "Agora
demos um salto de um minuto para uma
fracção de segundo.
Não estou a ver como
ir mais lon-
é que vamos ser capazes de
ge mas tudo está em aberto relativamente a este início que fez um universo tão
homogéneo. Para os teóricos, é um acidente absolutamente improvável." Resta então a hipótese da criação de Deus?
Bertolami sorri: "Penso que Deus não
seria capaz de tanta precisão mas mantêm-se paradoxos sobre o que aconteceu
antes ou depois, como perceber como é
que o universo reaqueceu, pois sabemos
que ficou completamente frio depois desta inflação. Mas aquilo que foi proposto
pelos teóricos no final dos anos 70 - de
que parte do paradoxo do universo ser
tão homogéneo no espaço-tempo ficava
resolvido com uma expansão ultra-rápi-
-
está demonstrado. Quando começámos a falar disto diziam-nos que era
metafísica, que nunca seria demonstra-
da
do experimentalmente."
"Quando começámos
a falar disto diziam-nos
que era metafísica",
diz cosmólogo da
Universidade do Porto
"É como ter todos
Natais de uma
vez. Duvido que
haja muitos
os
cosmólogos
a
dormir esta noite"
Chris lintott
ASTROFÍSICO NA UNIVERSIDADE
OXFORD
"Nenhuma
descoberta deve
ser levada muito
a sério até haver
mais de uma
confirmação"
Alan Guth
INVESTIGADOR
DO Mn"
DE
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