1 O CÔMICO, O TRÁGICO E A TRAGICOMÉDIA: recursos utilizados por Cervantes e Alfonso Vallejo Ester Abreu Vieira de Oliveira UFES – ALES – AFESL- APEES Houve sempre a intenção de buscar o sentido da realidade dentro de uma dicotomia trágica ou cômica. Muitos escritores dramáticos vanguardistas, a partir do final do século XIX, como: Ibisen, Strindberg, Chéjov, Valle-Inclán, Ionesco, Alfred Jarry, Lorca, Beckett, Artaud, Sartre, Willians, Albee, Arrabal e os que neles se espelham, procuram exaltar o indivíduo e exaltar a sua vida interior. Para esse fim, se valem de recursos técnicos que oferecem a arte expressam, em conjunto a tragédia ou a comédia. Entre os dramaturgos contemporâneos espanhol que buscam fazer essa união está o dramaturgo Alfonso Vallejo, mas a técnica de misturar gêneros é milenar e se encontra, também, na narrativa cervantina: o Dom Quixote de la Mancha. No teatro, o papel do ator é muito importante para alcançar os efeitos trágicos ou cômicos, pois depende muito de sua arte e criação. Alfonso Vallejo observa nas páginas iniciais de PANIC1, em uma nota de rodapé sobre a exigência na escolha de atores para representar os personagens de sua obra: Los cuatro actores tienen que reunir amplios registros interpretativos cómicos y trágicos. Tienen que responder al estilo poliédrico, heterogéneo, ambiguo y multigenérico de la situación. (p. 15) Vallejo se mostra rigoroso, pois vê a verdadeira vertente final de uma representação, o sucesso de uma apresentação, no ator-personagem, o verdadeiro portador do texto que se representa e que se põe diante do espectador para despertar-lhe os sentidos, principalmente na peça onde aparece a dicotomia trágica e cômica ao mesmo tempo. Assim explica Sastre sobre a comédia: un gênero teatral basado en este tipo de situaciones, concebidas en un plano imaginario, o sea que são [sic]: un efecto dramático de la imaginación cómica, […] una parcela risueña de nuestra capacidad creadora […] un modo de tratar nuestra imaginación con la realidad existencial y social.2 1 2 VALLEJO, A. Panic. Madrid: La Avispa, 2001. SASTRE, A.. Ensayo general sobre lo cómico en el teatro y en la vida. Hurí: Hindarria, 2002, p. 11. 2 Sastre reflexiona sobre o cômico e as suas variedades quando fala sobre o riso espetacular e sobre a inserção deste na arte dramática. Diz que3 o ser vivo deve variar e não repetir tudo de um modo idêntico e que o riso é o transporte do ser vivo para o inanimado e que ele depende dos mais variados fatores. Mauron4 afirma que o poder de fazer rir está num duplo ponto de vista: um psicológico e outro estético. Como dizem os versos de Vallejo: “El universo y la vida/ no tienen explicación/ são enigmas absolutos, /misterios sin solución”.5 Na tentativa de explicar a angústia do homem diante da vida e da morte, os filósofos reflexionam e a arte oferece seus meios por meio da luz e da sombra, da cor escura e clara como fizeram Goya e Picazo, ou por meio dos recursos que nos oferecem a linguagem narrativa ou dramática, esta com a sua carga de elementos paralingüísticos e cênicos. A TRAGÉDIA E A COMÉDIA A tragédia surge na Grécia da mística dionisíaca e se irradia em imagens, que se transformam em caracteres e, depois em pensamento. Ela tem necessidade do crime e do sacrifício. Segundo María Zambrano,6 no ritual da tragédia a parte principal é o sacrifício, que é propriamente a tragédia e que corresponde à morte do deus e que, uma das formas de o homem conhecê-lo, é sentir-se abandonado, porque “El crimen contra Dios es el crimen contra el amor […] pues se llega a ver en él, concreción de la vida divina, la resistencia última a la divinización del hombre.”. Contudo, a carga de angústia que sofoca o homem ameniza-se com um distanciamento que lhe proporciona o prazer que encontrará nos recursos oferecidos pela arte por meio da distorsão da realidade. É notório que os conflitos que produzem o terror e a compaixão pertencem ao “gênero trágico” que tem, na tragédia grega, como componentes: o prólogo (antecipação da história); os parados (canto de entrada do Coro); os episódios (atos ou quadros semelhante aos do teatro moderno) estes costumavam ser separados por cantos do Coro e, no último episódio, sai o Coro, é o êxodo. 3 SASTRE, A.,idem, 2002, p. 95-131. MAURON, Charles. Psicocrítica del gênero cómico. Arsitófanes, Plauto, Terencio, Molière. Taducción de la 3ª. Ed. Francesa por María del Carmen Bobes Naves. Madrid; Arco/Libros, 1997, p. 14. 5 VALLEJO, A. Misterios sin solución. In:Eternamente a cada instante. Madrid; Huerga y Fierro, 2000, p.72) 6 ZAMBRANO, M..Dios ha muerto. In: El hombre y lo divino. México/Madrid/, Fondo de Cultura Económica, 1993, 149-150. 4 3 As origens da tragédia provêm dos ritos ou cantos líricos que se ofereciam ao deus Dioniso na Grécia Antiga. O desenlace é trágico para despertar a compaixão e o choro. Eurípedes, Sófoles e Esquilo são os mais significativos representantes da tragédia grega. Considera-se Esquilo como o criador do drama trágico. Para Aristóteles a tragédia é a imitação de uma ação elevada e completa, realizada por meio de uma linguagem enriquecida com recursos ornamentais, usados, separadamente, em diferentes partes da obra. A imitação se efetua com personagens que atuam com o recurso de piedade e terror para expurgar as paixões. Em uma tragédia há intriga, ações e fábulas, que favorecem a surpresa o suspense do espectador. À ação principal juntam-se histórias paralelas mais ou menos complexas. Porém numa comédia não há uma participação efetiva e reflexiva do público, porque a ação se direciona para a realidade exterior e não ao sonhado. Por isso o conflito violento, isto é, a angústia se disolve para surgir o riso. No drama moderno, enfrentam-se valores discrepantes. O dramaturgo se limita à exposição da opinião dos personagens. Cada um, com a sua verdade, procura explicar as injustiças, mas em situações absurdas (“teatro do absurdo”). Todo espetáculo que pertence ao gênero trágico procura despertar angústia, terror e compaixão, sob o efeito do sonho, que lhe provoca imobilidade e silêncio, semelhante ao que excita no público o momento da morte em uma tourada. No teatro, a angústia produzida por um grande momento afetivo produz reflexão e, às vezes, este se enfraquece e se faz mítico. Isso acontece quando o autor dramático procura evitar, no espectador, o horror demasiado realista e distanciá-lo. A maneira de eliminar esse terror ou espécie de pesadelo é substituir a angústia, provocada pelos conflitos violentos, por elementos grotescos que excitam o riso. No decorrer do tempo, a tragédia evoluciona e surgem variantes que predominam em determinadas épocas tais como: a tragédia heróica, a burguesa, a política. As explicações sobre ela são variadas. Para Plutarco, a tragédia é aquela obra peculiar que quem engana é mais honesto do que quem não engana, enquanto que a pessoa enganda é mais sábia do que a que não foi enganada. 4 Maria Zambrano7 destaca, na tragédia, dois elementos: o espaço e o tempo como as últimas categorias do universo, que estão atraídas pelo tempo ou pelo espaço. César Oliva y Torres Moral8 (2002, p. 25) afirmam que a tragédia e o drama satírico surgiram de certos comos, que acolhiam os heróis e que a origem do teatro grego está nos rituais agrários. Quanto à comédia, esclarece que é uma criação posterior a partir dos comos e rituais não utilizados pela tragédia. No século XVIII, a palavra comédia servia para indicar as tragédias que tivessem um final feliz. Para Aristóteles, a comédia servia para indicar a intenção de manifestar uma ação do homem elevada e completa e a tragédia a de apresentar qualidades de moral inferior e tinha como objetivo levar o público a divertir-se diante de um proceder ridículo dos personagens. Quanto à origem, a comédia provém das festividades rituais e orgiásticas, cujos ecos se encontram no carnaval. Sastre9conceitua a comédia como un “modo de tratar” no qual há um efeito dramático da imaginação, “[…] un gênero teatral basado en estereotipo de situaciones concebidas en un plano imaginario”, una […] ”parcela risueña de nuestra capacidad imaginativa”. São sempre negativas as definições sobre a comédia sobre o cômico (sinonímia: humor, ironía, riso, o risível o engraçado), contudo o riso rejuvenesce a fisionomia e é um lenitivo para a alma. Contudo fazer rir é uma arte A ironia distancia o Outro, enquanto o humor o aproxima e torna as pessoas mais felizes. A ironía não diz literalmente, só deixa parecer ser outra cosa. Há nela um duplo sentido. Seu fundamento está na antonímia. A variedade agressiva da ironia é o sarcasmo. Enquanto a ironia dá à representação una suavidade de um sonho, com uma dose de intelectualidade e crítica, o humor a materializa, porque proporciona movimentos em quem o recebe ou o provoca, devido aos efeitos paralingüísticos. O riso é fácil quando, com brutalidade brincalhona, violenta, suja e põe em ridículo uma figura. Como as máscaras do baile de carnaval que, por semelhança, torna uma coisa parecida com a outra, a imagen dupla não diz a mesma coisa, mas o diferente. Como diz 7 ZAMBRANO, M.., op cit, 1993, pp. 149, p. 169 y. 82-83. OLIVA, César; TOMAS MORREAL, Francisco. Historia básica Del arte escénico. 6. ed. Madrid: Cátedra, 2002, p. 25 (Crítica y Estudios Literários). 9 SASTRE, A. op cit, 2002, p. 11. 8 5 Hutcheon, "patos não são coelhos".10 O riso surge quando a imagem nos incomoda como a figura de uma pessoa gorda ou a de uma que possua um nariz grande. Para a maior parte das pessoas, o escritor humorístico é aquele que faz as pessoas rirem. A obra mais conhecida de Cervantes, D. Quijote, possui recursos de ironia e comicidade, porque nega a realidade do mundo. Porém, na loucura do herói há elementos trágicos em sua comicidade. Na aventura do Moinho de Vento, por exemplo, há ironia, por conter uma espécie de paródia da Batalha de Lepanto, é algo "espantable y jamás imaginado". Assim comenta D. Quijote: "[…] que esta es buena guerra, y es gran servicio de Dios quitar tan mala simiente sobre la tierra. […]11”. Esse personagem é considerado louco, porque aspira à justiça e deseja proteger os fracos e humilhar os poderosos. A sátira está no ridículo da maneira de atuar do herói, mas o trágico, no heróico de seu ridículo. A união do trágico e do cômico faz com que o riso não saia livremente, porque deixa uma sensação de pena. A negação do positivo é a essência do trágico e do cômico e a tênue linha que os separa. A comicidade ingenua surge quando ela se apresenta como algo justo, bom e sensato. Por exemplo, a sátira à igreja e à sociedade que faz de Gil Vicente em A barca do inferno, quando nos apresenta o tema do juízo final de uma maneira cômica. Bakhtin12, ao examinar a carnavalização em duas obras do segundo período de produção de Dostoiévsk, nas quais prevalecia o elemento cômico, disse que “o riso é uma posição estética”. Por essa razão, cada época e cada povo possuem o seu próprio sentido do humor e de comicidade. A tradução do cômico de uma língua para a outra perde o vigor, porque muda a sociedade receptora, e um deixa de rir onde o outro ri. A causa dessa divergência resulta da condição de ordem histórica, social, nacional e pessoal. Toda comicidade se prende a um realismo. A paródia, um dos instrumentos poderosos da sátira social, está enganchada no exagero cômico e no desvendamento de um defeito. Bergson13 afirma que a arte caricaturesca está em captar um pormenor, às vezes, imperceptível, e torná-lo claro, por meio da ampliação de suas dimensões. O grau mais extremo do exagero é o grotesco, que traz en si uma grande quantidade do trágico, porque o 10 HUTCHEON, Linda. Teoria e política da ironia. Tradução de Julio Jeha, Belo Horizonte: UFMG, 2000, p. 296. 11 CERVANTES, M. Don Quijote de la Mancha. In: Biblioteca de Autores Españoles, desde la formación del lenguaje hasta nuestros días. Ordenada e ilustrada por D. Buenaventura Carlos Aribau. Madrid: Atlas, 1944, 1ª. Parte, Cap. 8, p. 269. 12 BAKTIN, M., op. cit 1981. 13 BERGSON, H. O riso. .Ensaio sobre a significação do cômico. 8. ed. Rio de Janeiro; Guanabara, 19778. 6 cômico é, ao mesmo tempo trágico. Essa é a razão da frustração da má sucedida aventura ocorrida com D. Quixote, ao investir contra um gigante, ser cômica. A graça está no grau disparatado de sua ação, mas nem toda frustração é cômica. Ortega y Gasset14 observa que o cômico em D. Quixote não é “un ornamento inesencial”, mas que forma a textura do gênero, talvez de todo realismo. Por isso as iniciativas grandes ou heroicas quando perdidas não são cômicas, mas trágicas. Nem toda comicidade é triste ou simpática. Se os reveses de um homem ocasionam piedade, a maneira de apresentá-los pode fazer rir. Em Panic, obra de Alfonso Vallejo, o personagem Rex, sofreu um grave traumatismo devido a uma explosão em um edifício e está hospitalizado em uma sala de UTI, onde obtém cuidados médicos. Em seu estado de semi-inconsciência, afirma-se, como um ser vivo, os seus desejos e contradições. Todos os ruídos dos aparelhos que o ligam à vida, os passos e cuidados das enfermeiras ele os transforma em uma realidade onírica. Seus desenganos, que surgem nos diversos quadros, provocam riso, porque existe neles uma grandeza humana e sinceridadeem suas ações. Mas há personagens que representam a comicidade pelos seus impulsos egoístas e mesquinhos, como Fani e Greta, dessa obra. Eles não provocam simpatia e não transmitem pena porque exteriorizam a mediocridade da alma humana. Se recordarmos o riso, que nos provoca a frustrada aventura de Dom Quixote quando foi lutar com os moinhos de vento, pensando que fossem gigantes, poderemos verificar que não é o resultado do dano que sofre o cavavaleiro, que nos faz rir, mas a disposição interrompida de acabar com gigantes. O cômico aponta o vício e o exagero dos cânones. Por isso são cômicas as situações que nos apresentam bêbados, porque não só a inversão de valores é cômica, mas também as atitudes irrespeituosas nas quais se ridicularizam as instituições. Toda insubmissão ao que se coloca num nível elevado celestial-demoníaco-terrestre provoca o riso devido à insubordinação. Um grande instrumento de comicidade e de zombaria nos proporcioona a língua, com variados recursos: jogos fonéticos; apropriação de citações de outras línguas ou de camadas sociais com impropriedade; emprego de cacofonia; derivação; onomatopéias; ultracorreção; metáteses; síncopes; etimologia; neologismo; arcaísmo; duplo sentido; trocadilh; paradoxo e outros recursos que se unem a um discurso para distanciá-lo da 14 ORTEGA Y GSSET, José. Meditaciones del Quijote. Edición José Marías. Madrid: Cátedra, 1990, p. 225. 7 realidade, ou realçá-la em sua essência com o objetivo de provocar o riso. Porque a transposição de códigos traz comicidade, por exemplo, um discurso solene em um ambiente familiar ou viceversa. Essa é a razão de serem cômicos os conselhos de Sancho Pança e seus refrãos, proferidos em horas e situações impróprias, por conterem inversões de valores, ou, quando fala com o seu burrinho como se fosse um humano e faz discursos em que não há reciprocidade na comunicação. Igualmente nos faz rir a fala de Rex pela combinação de discursos e suas desconexões. Bergson15, teorizando o riso, nos mostra que o risível está em certa rigidez mecânica, onde devería haver flexibilidad e na repetição. Assim rimos de um gaguejar como também de um personagem, como Rex, que acentua o idealismo, pois tudo o que aumenta como uma bola de neve faz rir. Por exemplo, na taberna, em D. Quixote, Sancho Pança foi agredido por um hombre que cuidava das mulas, ele bate em Maritorne e no taberneiro também em PANIC a cena em que vão cortar o cabelo de Rex, e ele passa a ser um joguete nas mãos de Fati, Greta e da irmã gêmea de Nina. Sobre a força de expansão do cômico, Bergson diz que só no humano há comicidade, que a emoção é a maior inimiga do riso que siempre se desfruta do cômico em companhia de alguém. O teatro cômico usa recursos de repetição, representação de cenas complexas ou que se reproduzem de modo natural, as inversões de papéis. Em PANIC são ações engraçadas as que Rex , repetidas vezes, (Cuadro III) pede a Nina para cruzar e descruzar as pernas e para abrir a blusa e mostrar-lhe os seios. Também há inversões de papéis nessa obra de Vallejo, quando Fati, o empregado da prisão, no confessionário está vestido como um combatente. O que provoca o riso é a confusão que vai gerar na mente de Rex e a rigidez de Fati. Portanto o humor resulta sempre de uma situação absurda. A literatura carnavalizada, na teoria de Bakhtin (1981), dá um novo tratamento à realidade. Isto possibilita que o corriqueiro se una ao trágico, num mesmo nível, e que os heróis míticos e personalidades históricas do passado se atualizem deformados, refletidos num espelho côncavo. Quando Valle-Inclán em Luces de Bohemia16 explica pela boca de Max o que é esperpento: a estética que transforma “con matemática de espejo cóncavo las 15 16 BERGSON, op cit 1978. Valle-Inclán, Ramón. Luces de bohemia: esperpentos. 15.ed. Madrid: Espasa-Calpe, 1983. 8 normas clásicas”, coloca sua estética na literatura carnavalizada. Depois a põe em prática em Las galas del difunto17, quando deforma o mito do famoso conquistador Don Juan e o transforma em Juanito Ventolera, um soldado raso que veio de uma falida batalha em Cuba e se dá ares de conquistador; seduz a Daifa e vai ao cemitério trocar as suas vestes pela do pai da seduzida, de quem havia roubado e ocasionado uma morte fulminante poucas horas antes. Lembramos que um dos veículos transformadores da cosmovisão carnavalesca na literatura é a “sátira menipéica” que se caracteriza pela liberdade temática e filosófica. Nela surge a modalidade específica do “fantástico experimental”, semelhante ao que ocorreu na literatura do Século de Ouro da Literatura espanhola, na representação do inferno, que produziu o gênero dos “diálogos de los muertos”, o qual podemos exemplificar, no mito do sedutor, don Juan Tenorio, com as cenas em que dialogam vivos e mortos. O gênero da menipéia é o que melhor se adapta a períodos de decadência de mitos sociais. Quanto à carnavalização da literatura, deve-se aos rituais do carnaval. Relaciona-se com a cosmovisão carnavalesca, na apresentação do mundo invertido. Assim o idílio amoroso de Rex e a linguagem que utiliza na carta que dita à sua secretária, é um exemplo da visão que se reflete em um espelho convexo ou como uma cara coberta por uma máscara num dia de Carnaval, isto é uma visão diferente da cotidiana. As ações dos personagens conduzem o espectador ao riso com a apropriação de recursos grotescos e absurdos. Exemplificamos com situações trágicas em PANIC e com os efeitos utilizados para desfazê-las. Lembramos que há um momento de sonho, de ilusão teatral trágica com a visão de um homem em uma cama de hospital, ferido mortalmente, em agonia. Isso é comovedor e angustiante para o receptor (espectador ou leitor), porque pode ver-se em uma situação semelhante e sentir uma espécie de solidariedade, mas, repentinamente, o discurso de Rex muda de posição, adquirindo, por exemplo, o lugar de um alumno como professor e deste como aluno, mas o espectador percebe essa troca. Neste instante, ele sente o jogo da situação. A mesma coisa é a idéia que produz a linguagem amorosa ou idílica, de Rex, emaranhada com uma lógica. Logo esse momento de reflexão do receptor leva-o a rir. Essa situação Bergson denomina automatismo. 17 Idem. Las galas del difunto. In: Martes de carnaval. 8. ed. Madrid: Espasa-Calpe, 1982, p. 9-67. 9 Para Sigmund Freud18 o feio em qualquer de suas manifestações é objeto de comicidade e esta reside em nossos atos como tais e, conscientemente, provocamos o seu surgimento. Somos o sujeito com vontade e ela o objeto sem vontade. O psicanalista relaciona a satisfação que produz uma piada à satisfação do “instinto libidinoso e hostil” que se opõe a um obstáculo. Quanto à agressão que nosso “chiste” produz ao Outro, quando o coloca em ridículo, Freud explica que se por un lado produzem limitações, por outro lado abrem fontes de prazer inacessíveis e inclinam o ouvinte a colocar-se de nosso lado, sem necessidade de refletir sobre a nossa causa. A TRAGICOMEDIA Na tragicomédia misturam-se elementos da tragédia e da comédia. Foi Plauto na literatura latina quem primeiro empregou esse termo no Anfitrião. Na tragicomédia de estrutura clássica há vários acontecimentos nos quais aparecem personagens reais combinados com os de ficção. Na literatura espanhola conhecemos esse termo, no final do século XV, quando Fernando Roja dá título à sua obra Tragicomedia de Calisto y Melibea, mais conhecida, atualmente, como La Celestina, objetivando indicar a mescla de ações elevadas e baixas com seus respectivos diálogos e a participação de personagens nobres e plebeus. A tragicomédia protege o espectador da depressão pela trágica angústia do acabar de existir (da idéia da morte, fim de todos nós) e pela idéia de libertar-se da autoridade divina, da lembrança dos acontecimentos narrados na Biblia da gênesis do mundo, quando o homem, posto no Edém, livre, mas com livre arbítrio que lhe impunha condições exteriores e interiores, geraram situações conflituosas pessoais. O poder e o desejo do objeto tiram-lhe a liberdade. Según Spang19 “el conflicto entre transcendencia e inmanencia es la fuente más honda de la tragicidad y se halla implicada casi en todas las demás situaciones límites; también en la que quisiera esbozar ahora; la paradoja: libertad – determinismo”. Explica20 que: la cosmovisión trágica difiere en el cristianismo en cuya esencia el sufrimiento, el dolor, los sacrificios, las puniciones y la muerte no tienen el sentido clásico de 18 FREUD, S.. El chiste y su relación con lo inconsciente. In: Obras completas. Madrid: Biblioteca Nueva, 1983, pp. 1029-1168, vol. 3. 19 SPANG, Kant. Teoría del drama. Lectura y análisis de la obra teatral. Pamplona: Ediciones universidad de Navarra, 1991, p. 61. 20 Idem, p. 59. 10 tragedia sino são signos de salvación. El Dios cristiano es misericordioso y justo y no se semeja a los caprichosos dioses de la tragedia clásica . Spang21 predica que a comicidade é “fruto de la paradoja, originada (…) por el choque entre la realidad y la forma con la que el hombre se enfrenta a ella […]”. Conclui que “las desproporciones entre valores y normas, convenciones, formulaciones, etc. y la realidad a que se refieren são potencial fuente de comicidad”. Logo, concluímos que, apresentar una situação geral por situações impressionantes é trágico e apresentá-la com um discurso retórico lingüístico que a afaste da realidade é tragicômica. CONCLUSÃO: TÉCNICAS DE MEZCLAR GÊNEROS Nas Lições de Estética, Hegel define os gêneros de uma maneira bem proporcionada e harmônica: poesia lírica, poesia épica e poesia dramática. Os estudos literários nos mostram que os gêneros literários não podem ser definidos de maneira isolada, seu caráter é convencional, porque não possuem uma significação estática e definitiva, mas se relacionam com outros gêneros que conformam o universo literário. A forma de conceber a literatura como una totalidade é uma prática literária tradicional. A teoria dos gêneros enfrenta uma dificuldade para sua definição, devido ao caráter dinâmico da literatura que obedece em seus fluxo e refluxo às transformações históricas o que proporciona uma elaboração de obras com valores e significados variáveis de acordo com a época, o leitor e a leitura. Porém, como a literatura está formada por um conjunto de gêneros, que contém suas respectivas convenções, pode-se interpretar os textos com a referida interpretação, para assimilar melhor as relações entre os gêneros chamados “literários” e os não literários. Assim, as prescrições da teoria clássica que tendem a estabelecer leis para cada gênero e costumam defini-los como “lírico”, “trágico”, “cômico”, etc., determinam para cada um deles temas apropriados. A teoria moderna, primordialmente descptiva, inclina-se em descrever as convenções próprias de cada gênero, indica-lhes o caráter dinâmico e modificável e considera que uma obra é suscetível de corresponder para vários gêneros e que qualquer tema pode ser tratado a partir de qualquer procedimento. 21 Idem, p. 63-64. 11 Ortega y Gasset22 filosofa que o tema dos gêneros estéticos são visões amplias sobre o humano e explica que “cada época trae consigo una interpretación radical del hombre”. Nos estudos da trilogia genérica hegeliana, Bakhtin articula seu pensamento básico no dialógico como forma de entender o romance moderno que parte dos diálogos socráticos. Mas o que Bakhtin chama carnavalesca, difere da origem proposta pela tradição que considera o romance a partir da poesia épica e da tradição retórica. Em Don Quijote de la Mancha e em outras obras, Cervantes se inclina em direção a uma postura crítica e desmistificadora, contra as teorias ou costumes dominantes e oficiais, para provocar o riso ou descarregar a sua amargura, pois o cômico altera as imagens propagadas pelos veículos da cultura oficial. Henri Bergson em sua teoria sobre o riso23, explica que há comicidade só no humano e em tudo o que a ele se relaciona e que o eixo do cômico está no mecânico, no rígido. Logo é cômico todo ato e acontecimento que nos dão a ilusão de vida e clara sensação de um movimento mecânico como os dos bonecos de mola. Assim, onde não exista o espiritual junto com o corporal, onde apareça o inanimado do homem, onde não exista a inversão de valores, há comicidade. Essa é a razão de no Banquete de Platão, depois que terminou de falar Alcebíades, todos rirem, pois vêem Sócrates, como a figura grotesca de um Sileno, um sátiro. Como o carnaval, e tudo o que se relaciona com ele tende para o riso, pode-se, por meio da teoria da carnavalização, justificar a causa do riso no teatro, quer seja um entremês de Cervantes, por exemplo El retablo de las maravillas, quer seja uma peça dramática como PANIC de Alfonso Vallejo. Podemos observar que a ação em PANIC é trágica e cômica. Porque de um lado vemos a crueldade de uma ação em que um homem cheio de ideal de reforma social frustra-se na realização de seus planos sociais e do outro lado, a comicidade dos meios que escolhe para a realização de seus propósitos humanitários. O que se assemelha à ação de Dom Quixote enfrentando-se com moinhos de vento. Com base nas reflexões que fizemos sobre a origem e as características do trágico e do cômico, apoiando-nos nos estudos literários e filosóficos classificamos a obra PANIC 22 23 ORTEGA Y GASSET, José. Meditaciones del Quijote. Edición José Marías. Madrid: Cátedra, 1990. BERGSON, Henri, op cit., 1978. p. 105. 12 como tragicômica e também seus personagens pelas ações que representam. A troca da situação trágica e angustiosa de ver um homem sofrendo, acontecimento que pode ocorrer com qualquer pessoa, é triste, mas nos faz sair deste ambiente de pavor para outros variados, intermediados por situações ridículas, essa mudança é risível. O autor nos coloca e nos tira de um clima de tensão. Porque, se por um lado põe na boca de seus personagens sábias reflexões filosóficas, por outro lado, muda de tema, indo para una realidade física, adoçando-a com uma grosseria. Esses matizes fazem com que o receptor (leitor/ espectador) saia do estado onírico da filosofía para ir para uma “realidade” vital. Mas, quando se tira o receptor do caminho da meditação, da angústia, leva-o para o riso. Um exemplo dessa situação se encontra no Quadro VI de Panic, onde aparece o enfermo deitado em uma cama, coberto com lençóis, e o seu duplo, sentado, falando-lhe, às vezes, com um tratamento íntimo de um (te); com o dêitico “este” e, outras vezes, incluindo-se na situación com um (nos). Fala, lentamente, do estado do paciente, ao receptor ideal (público/leitor) a quem, familiarmente, chama “tío”.Para esse modo de acão os signos são a ordem do autor de “pausa”, na didascália, e as reticências apontando: aqui deve haver uma pausa rápida. Com esses recursos o autor rompe com as pessoas do discurso e com a coesão textual. Na tragédia desfazem-se os conflitos próprios do ser humano, há uma tensão que leva ao sonho e podemos observar que todos os personagens de PANIC são conflitantes. Um traz no seu seio o ódio, outro o amor, outro a ambição, elementos conflituosos. Se no teatro vanguardista de Valle-Inclán há superação do realismo, aspiração de uma inovação por uma trangressão numa mistura de tragédia e de comédia, com a união de seres reais e de simulacros, figuras de marionetas ou de farsas, também esse aspecto se encontra em PANIC. Nessa obra podemos retirar vários exemplos que nos mostram circunstâncias trágicas e cômicas. Outro exemplo dessa união encontra-se no Quadro XI, quando Rex se encontra sentado numa cadeira de barbeiro para cortarem o seu cabelo. A cadeira se transforma em cama de hospital. Rex e os que atuam nesse corte de cabelo agem como se fossem figuras de um teatro de “guiñol”. O diálogo que se organiza com símbolos e incoerências e os objetos da barbearia como se fossem aparelhos de uma operação cirúrgica proporcionan uma carnavalização do tema de uma operação craniana, a de Rex. Os objetos: facas, serra e tesouras utilizados para aparar o cabelo e a costeleta são agressivos. 13 Vallejo, em PANIC usa recursos semelhantes aos da função do Coro, das tragédias, em dez quadros: entre o primeiro e o duodécimo. Neles está a voz de REX com suas dúvidas, atos, amor, temor e ideais. O canto dos sátiros, representada por Nina, a irmã gêmea, Greta, a esposa de Rex, e Fati, o mentor do mal, prognosticam a morte de REX e a voz do autor desmistifica os mitos: da ciência, da literatura e da religião. A obra torna-se um canto pó-moderno a Pan, outro nome de Dionísio. Os mitos hebraicos, cristãos e gregos se carnavalizam. Os hebraicos ocorrem predominantemente no Quadro IX, no tema do castigo que Jeová dá ao povo egípicio enviando-lhe as sete pragas, na referência às invasões de insectos, pressagiando desgraça; no Quadro XI, o corte de cabelo de Sansão e a degolação de João Batista, na cena da barbearia. Também, podem-se observar, aqui e ali, citas ou ecos de obras como “Las Moscas” de Alfonso Sastre, no Quadro IX. Alfonso Vallejo recolhe do realismo a verdade do homem e dá a ela um aspecto natural, leve e solto, por meio do riso. Usa variados recursos para eliminar do espectador o ar de realidade ou para tirá-lo do estado onírico dirigi-lo para o da ficção. Com o tema do paciente ridiculariza a ciência médica, com o tema do amor, desacraliza o matrimonio e a solidez da familia; com o tema da honra evidencia o adultério, o divorcio, o traído, o assassinato e as conseqúências jurídicas, as solicitações judiciais, cartas, advogados. Em Panic, para mostrar a complexidade do ser humano, Vallejo utiliza elementos técnicos que proporcionam a arte, tais como: a intertextualidade; a paródia; os recursos retóricos que a língua oferece; os paralingüísticos e quinésicos e põe em destaque situações cômicas e trágicas, combinações já utilizadas na narrativa cervantina. Com esses recursos técnicos de combinar o cômico com o trágico, essência do tragicômico, se insere num teatro atual que se realiza com técnicas variadas desde as tradicionais às inovadoras, das nacionais às estrangeiras, das próprias do sagrado com as do profano, logo uma tragicomédia. 14 X CONGRESO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: A CRÍTICA LITERARIA PERCURSOS, METODOS E EXERCICIOS De 4 a 7 de novembro Endereço: Rua Profa. Gladys Bernardo Lucas 96 - Jucutuquara - Vitória - ES cep 29042 – 180 Telefone fixo: 021 32239602 Telefone celular 99632613 E-mail esteroli@terra.com.br Instituição de ensino: Ufes Título do trabalho: O CÔMICO, O TRÁGICO E A TRAGICOMÉDIA: recursos utilizados por Cervantes e Alfonso Vallejo Resumo: Muitos escritores dramáticos vanguardistas, a partir do final do século XIX, como: Ibisen, Strindberg, Chéjov, Valle-Inclán, Ionesco, Alfred Jarry, Lorca, Beckett, Artaud, Sartre, Willians, Albee, Arrabal e os que neles se espelham, procuram exaltar o indivíduo e a vida interior. Para esse fim, se valem de recursos técnicos que oferecem a arte para expressar, em conjunto, a tragédia e a comédia. Entre os dramaturgos contemporâneos espanhóis que buscam fazer essa união está o dramaturgo Alfonso Vallejo, mas a técnica de misturar gêneros é milenar e se encontra, também, na narrativa cervantina: Dom Quixote de la Mancha. Com apoio de textos teóricos, objetivamos passar em revista a técnica de misturar a dicotomia trágica e cômica, oferecendo exemplos de situações ocorridas no Dom Quixote e na obra dramática Panic de Alfonso Vallejo. Palavras chaves: Gênero - tragicomédia – Alfonso Vallejo – Cervantes aí está o blog do Congresso do MEL com todas as informações. Podemos fazer uma mesa sobre Mesa: Critica espanhola: sociedade e ficção Quantas pessoas nessa comunicação, Mirtis? Como fazer a inscrição ? diretamente no xcongresso@gmail.com) e indicar a mesa proposta Ou você vai organizar a mesa e enviar? Qual a sua proposta? Vocês acham que cabemos todo nesse cajón: Cervantes/Lope de Vega, Pardo Bazán, julio Camba e Goytisolo? Vamos animar. Beijos 15 M. O blog do congresso (www.xcongresso.wordpress.com). Inscrições:: Investimento :Participantes que irão apresentar trabalhos graduandos: R$ 15 pós-graduandos: R$ 25 professor do ensino médio / fundamental: R$ 30 professor universitário: R$ 35 O pagamento da inscrição pode ser efetuado na Secretaria do Congresso, que fica no prédio Bernardette Lyra, (Mestrado em Letras), na sala 33, segundo andar, ao lado da Secretaria do Mestrado em Estudos Literários. Para inscrever seu trabalho nas mesas de comunicações coordenadas, envie um e-mail para a secretaria do congresso (xcongresso@gmail.com) com os dados abaixo solicitados. Para se inscrever nos minicursos ou apenas como ouvinte, o procedimento é o mesmo (excluindo, naturalmente, título e resumo do trabalho). O período de inscrição é de 10/8 a 14/10, e o custo do investimento segue discriminado abaixo. 16 RESUMEN LO CÓMICO, LO TRÁGICO Y LA TRAGICOMEDIA: : recursos utilizados por Cervantes y Alfonso Vallejo Ester Abreu Vieira de Oliveira UFES – ALES – AFESL- APEES Siempre hubo um intento de buscar el sentido de la realidad dentro de la dicotomía trágica o cómica. Planteamos apuntar la técnica de mesclar esa dicotomía, presentando ejemplos, principalmente, sacados, principalmente, de la obra dramática Panic de Alfonso Vallejo. Muchos escritores dramáticos vanguardistas, a partir del final Del siglo XIX, como: Ibisen, Strindberg, Chéjov, Valle-Inclán, Ionesco, Alfred Jarry, Lorca, Beckett, Artaud, Sartre, Willians, Albee, Arrabal y los que em ellos se espejan, procuran exaltar el individuo y exaltar su vida interior. Para eso, se valen de recursos técnicos que ofrecen el arte expresan, en conjunto, la tragédia y la comedia. Entre los dramaturgos contempáneos español que buscan hacer esa unión está el dramaturgo español Alfonso Vallejo, pero la técnica de mesturar gêneros es milenar y se encuentra, también, en la narrativa cervantina: el Dom Quixote de la Mancha. Palabras claves: Gênero - tragicomedia – Alfonso Vallejo – Cervantes 17 O CÔMICO, O TRÁGICO E A TRAGICOMÉDIA: recursos utilizados por Cervantes e Alfonso Vallejo Ester Abreu Vieira de Oliveira UFES – ALES – AFESL - APEES Houve sempre a intenção de buscar o sentido da realidade dentro de uma dicotomia trágica ou cômica. Objetivamos passar em revista a técnica de misturar essa dicotomia, apresentando exemplos, principalmente, retirados da obra dramática Panic de Alfonso Vallejo e valendo-nos de estudos teóricos. Muitos escritores dramáticos vanguardistas, a partir do final do século XIX, como: Ibisen, Strindberg, Chéjov, Valle-Inclán, Ionesco, Alfred Jarry, Lorca, Beckett, Artaud, Sartre, Willians, Albee, Arrabal e os que neles se espelham, procuram exaltar o indivíduo e exaltar a sua vida interior. Para esse fim, se valem de recursos técnicos que oferecem a arte para expressar, em conjunto, a tragédia e a comédia. Entre os dramaturgos contemporâneos espanhol que buscam fazer essa união está o dramaturgo Alfonso Vallejo, mas a técnica de misturar gêneros é milenar e se encontra, também, na narrativa cervantina: o Dom Quixote de la Mancha. Palavras chaves Gênero - tragicomédia – Alfonso Vallejo – Cervantes