CICLO VITAL CRISES EVOLUTIVAS Dra Judith Estremero Dra Ximena García Bianchi Ciclo vital • Para poder atender ao paciente de uma maneira integral, vê-lo como uma pessoa, faz-se necessário conhecer profundamente o ciclo vital humano e suas etapas. Ciclo vital • O médico de família utiliza este conhecimento como um recurso fundamental para entender os pacientes, para poder contextualizar seus cuidados e desta maneira atendê-los como sujeitos singulares e únicos Crises evolutivas • Quando falamos de ciclo vital nos referimos às etapas que as pessoas em geral atravessam ao longo da vida, desde o nacimento até a morte. • A passagem de uma etapa à outra implica uma mudança, e toda mudança em si mesma pode-se considerar uma crise. Crises evolutivas • Esta crise não só é transposta pela pessoa que a está atravessando, senão que tambem é vivida por todo o grupo familiar. • As etapas as quais nos referimos são em geral conhecidas e bem definidas. • Conhecer as etapas do ciclo de vida humano e da família nos permite predizer alguns dos problemas frequentes que se sucedem frente a ditas mudanças e que é habitual que se apresentem (de maneira manifesta ou não) na consulta médica. ETAPAS do CICLO de VIDA • Dentro do ciclo de vida podemos reconhecer as seguintes etapas: )Constituição do casal )Nascimento e infância )Filhos em idade escolar )Adolescência )Saída dos filhos de casa e Casamento )Etapa madura )Velhice OBJETIVOS • Pensar na família como um grupo que enfrenta crises evolutivas normais. • Reconhecer os diferentes tipos de crises, vitais ou inesperadas. • Reconhecer as diferentes etapas do ciclo vital humano e poder antecipá-las. • Redefinir o problema a partir de uma escuta ampliada. Distintos tipos de crises • Crises evolutivas • Crises inesperadas Crises evolutivas ou vitais • Chamamos crises evolutivas àquelas modificações esperáveis pelas quais atravessam a maioria das pessoas. Ditas modificações requerem um tempo de adaptação para enfrentar novos desafios, que formam parte do desenvolvimento normal da vida. Crises inesperadas • Chamamos crises inesperadas àquelas que sobrevêm bruscamente, que não estão na linha evolutiva habitual (morte precoce de um pai, perda do emprego, exílio forçado, etc). • Tanto as crises evolutivas como as crises inesperadas podem ser atravessadas pelas pessoas/famílias de diversas maneiras dependendo dos recursos psíquicos que tenham e das experiências prévias (adaptação a crises anteriores). • Tendo isto em conta, haverá famílias que possam passar por estes períodos de mudanças com maior facilidade e capacidade de adaptação e outras onde a rigidez das estruturas dificultará tal passagem. • O ciclo vital familiar está imerso na cultura a que pertence a família, pelo que não podemos dizer que haja formas corretas ou incorretas de passar pelas diferentes etapas. • As diferenças também vão se apresentar pelo nível social, cultural, mitos e crenças de cada família/sujeito, isto deverá ser levado em conta no momento de atender a família. Constituição do Casal • Com a formação de um casal fica constituido um novo sistema, que será o início de uma nova família. Este novo sistema/casal terá características novas e próprias. • Por sua vez, cada um dos cônjuges trará crenças, modalidades e expectativas que terão herdado de suas próprias famílias de orígem. Problemas frequentes • Aliança privilegiada com a família de origem de um ou ambos membros , isto gera uma dificuldade para assumir o papel de esposo/a , pai/mãe e é habitual ver que o filho é entregue aos progenitores (avós) como oferenda ou como passaporte a exogamia (saída do lar). • Transferência do papel de progenitor no outro membro do casal: a chegada do filho é vivida como uma competição pelo carinho do outro. Problemas frequentes • Aliança fraternal entre os cônjuges como forma de poder sair do lar de origem. Impede a inclusão do filho como tal. • Busca compulsiva de um terceiro para consolidar a união do casal que todavia não tem sido conseguida. Nascimento e Infância • Desde a gestação o sistema de dois passa a estruturar-se de três, inclusive desde a gravidez os pais vão criando um espaço para este bebê que primeiro é intrapsíquico (expectativas com respeito ao sexo, busca do nome, eleger um lugar na casa) que depois se trasforma para fora e se concretiza (comprar roupa, decoração do espaço eleito, etc.). Nascimento e Infância • Este novo triângulo (mãe-pai-bebê) reativa nos pais experiências próprias anteriores vividas com suas famílias de orígem. • Aparecem novos papéis e funções: mãe, pai (função materna e função paterna); e com eles os da família estendida: avós, tios, primos, etc. • As funções dos pais se diferenciam para poder dar a criança a atenção e os cuidados que necessita. Problemas frequentes • Persistência da simbiose mãe-bebê ao longo do tempo. • Intolerância por parte do pai de ocupar um lugar secundário nesta tríade durante os primeiros meses. • Excessiva participação da família extendida no cuidado do bebê, com a consequente dificultade dos pais para adaptarem-se ao novo cenário. Filhos em idade escolar • É o primeiro desprendimento da criança do seio familiar. Unir-se-á a uma nova instituição com professores e companheiros e realizará novas atividades fora do lar. • Em certa medida é posto a prova tudo o que a família ensinou nos primeiros anos à criança (limites, relação com a autoridade e pares, se é correto perguntar ou não, etc.). Problemas frequentes • Os pais terão pela primeira vez uma imagem externa de seu filho, a imagem que lhe transmitirão os professores. Isto em algumas famílias pode apresentar imagens que não gostam, tornando responsável o colégio ou os professores, o que dificulta mais a adaptação da criança. • Outras famílias depositam as crianças na escola demandando a esta funções que correspondem aos pais o dever de cumprir. Adolescência • A adolescência é uma etapa de grandes crises para a maioria dos indivíduos e as famílias. Produzem grandes mudanças em todos os integrantes do núcleo familiar e na relação destes com o exterior. • O adolescente sofre uma grande crise de identidade. Perde o corpo de criança para ter um corpo adulto. É uma etapa de grandes turbulências emocionais . Adolescência • O adolescente começa a ampliar seu contato com o mundo externo e o espaço geográfico em que se move, lugares onde os pais não são convidados a participar . • É importante para o adolescente sentir que pode se afastar de sua casa sem perder os pais, o que tenta confirmar com seus atos de rebeldia. Adolescência • Nesta etapa os pais por sua vez estão passando pela crise da meia idade. • Para o adolescente é importante a presença dos limites firmes (com possibilidade de renegociá-los de acordo com o crescimento), com espaço para que eles experimentem e se equivoquem, tendo a oportunidade de recorrer a seus pais se os necessitarem. Problemas frequentes • Dificuldade dos pais para pôr os limites adequados. Isto podemos ver nos pais que se transformam em “amigos” de seus filhos, sem uma clara diferença de papéis, deixando “órfão” o adolescente. • Dificuldade para permitir a saída (desprendimento) do adolescente do seio familiar. Saída dos filhos do lar • Esta nova etapa está marcada pela capacidade da família de origem para desprender-se de seus filhos e de incorporar a novos indivíduos como o cônjuge e a família política. • Os filhos entraram em uma nova etapa onde deverão formar sua própria família . • É um momento de reencontro dos pais, onde é possível realizar coisas que se postergaram durante a criação dos filhos (saídas, atividades sociais, etc.) Problemas frequentes • Os casais que deixam “tudo” pela criação dos filhos podem acusar a estes de deixá-los sós, quando na realidade o que existe é uma dificuldade de o casal paterno reencontrar-se, estar sós ou aceitar a passagem do tempo. • O fato de os filhos conseguirem a saída do lar e o modo com que se realiza esta saída, poderá ser facilitado ou não pelas famílias de orígem. Idade Madura • O casal enfrentará novos desafios. Por um lado o reencontro entre eles, dado pela saída dos filhos do lar paterno e pelo cessar laboral. Das características deste encontro dependerá se o casal continuará unido ou não. • Dentro das famílias aparecerão novos papéis: avô/ó. Problemas frequentes • O fim da vida laboral (aposentadoria) que por alguns é tomado como o início de uma nova etapa, onde terão a oportunidade de realizar coisas postergadas, para outros é o fim de sua vida ativa e a passagem para uma etapa “improdutiva”. Velhice • Cada um dos integrantes sofrerá modificações a nível corporal (maior fragilidade, doenças crônicas, etc.) e/ou emocional (pensamentos com respeito a morte, perda de entes queridos, etc.). • Nesta esta etapa do ciclo vital pode haver um revés quanto a quem proporciona os cuidados físicos, emocionais e inclusive econômicos dos pais. Velhice • São os avós os encarregados de transmitir a história, ritos e costumes às novas gerações, ajudando assim a estabelecer sua identidade individual e familiar. Isto os coloca em um lugar privilegiado, que hoje em dia é descuidado pelas famílias e a sociedade em geral. • Muito obrigado!!!