ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL A COISA JULGADA MATERIAL NA EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL Aureo Gonçalves Neto Pós-Graduando em Direito Processual Civil pela Academia Brasileira de Direito Processual Civil Advogado. RESUMO O artigo propõe a discussão acerca da possibilidade de reconhecimento de coisa julgada material dentro do processo de execução de título extrajudicial, trazendo opiniões divergentes na doutrina e jurisprudência brasileiras, bem como buscando levar este contraditório para o plano fático da ação, confrontando casos práticos e apontando brechas que permitam endossar a tese defendida. Neste sentido, busca-se demonstrar que o título executivo extrajudicial, enquanto um facilitador das pretensões de crédito merece melhor interpretação em relação ao seu processo judicial, utilizando-se o bom senso nas aplicações de direito material, sem ater-se a teses doutrinárias puramente processuais e teóricas. Não se está com isso ignorando os estudos processuais que caminham em sentido oposto. Ao contrário, são exatamente estas teses que estabelecem os parâmetros que permitem desenvolver este artigo, ou seja, em que pese não se concorde com as conclusões de alguns doutrinadores e de parte da jurisprudência, são exatamente elas que garantem o desenvolvimento de um contraditório satisfatório e transparente. Importante referir que, embora estejam nos casos práticos os principais argumentos que norteiam o presente trabalho, nenhuma ideia é defendida sem que se utilize a lei processual civil, bem como decisões do judiciário nacional, mormente do Superior Tribunal de Justiça. Com isso, a aceitação da coisa julgada material dentro da execução de título extrajudicial é uma medida que se mostra ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL essencialmente eficaz a garantir um melhor acesso do credor ao poder judiciário, pois se estará eliminando possibilidades de que o legítimo devedor, já assim considerado por sentença, ainda que em execução, possa postergar o pagamento de sua dívida. Palavras-Chave: Coisa; Julgada; Material; Execução; Extrajudicial; Sentença. INTRODUÇÃO A execução tem por finalidade a realização de seus atos com o pagamento ao credor daquilo que é devido pelo devedor. Estando satisfeito o crédito do exequente, extingue-se a relação jurídica pela qual a execução foi promovida. A extinção da execução também pode ocorrer por outras formas, como nas hipóteses de extinção da obrigação previstas no direito material (remição, novação, remissão, confusão, transação, entre outros), ainda que ocorram fora do processo. Igualmente poderá haver a extinção em razão da desistência da execução pelo credor, ou ainda em caso de procedência de embargos propostos pelo devedor. Em qualquer das hipóteses, a extinção da execução será sempre auferida por meio de sentença, que é o instrumento apto para tanto. Assim, o que se busca com o presente trabalho é conferir a possibilidade de existência de coisa julgada material, ou seja, que tenha reflexos nas relações de direito material, no que tange as execuções de título extrajudicial. ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL O que se procura demonstrar é que a eficácia de mérito destas decisões está exatamente na existência dos elementos de constituição do título exequendo, formadores e garantidores da segurança jurídica deste tipo de ação, criada, em princípio, para facilitar as pretensões de credores legítimos. 1. O TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL A própria lei determina os elementos caracterizadores de um título executivo extrajudicial, assim possibilitando que o credor possa utilizar este tipo de ação para obter o ressarcimento do seu crédito. Segundo dispõe o art. 586 do Código de Processo Civil, um título executivo deve estar revestido de certeza, liquidez e exigibilidade. Neste sentido, importante explicitar o que fundamenta e caracteriza cada um destes conceitos, como forma de elucidar a complementação deste trabalho. Assim é que se diz que um título é certo quando ele se reveste de toda a formalidade exigida pela lei. Segundo GONÇALVES, (...) é preciso considerar que, a partir do momento que o legislador atribuiu a determinado documento força executiva, ele passou a considerar que o crédito contido naquele documento é dotado de certeza, desde que preenchidos todos os requisitos formais. Em suma, o título executivo estando formalmente perfeito, será certo o crédito nele contido.1 Um título será líquido quando se souber exatamente o valor que deverá ser cobrado na ação, ou seja, quando não depender de aferições para se alcançar o montante da dívida, além daquelas que dependam de simples cálculos aritméticos. 1 Marcus Vinícius Rios Gonçalves. Processo de execução e cautelar. 2002, p. 22. ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Por fim, a exigibilidade de um título tem a ver com o vencimento do débito, verificada a condição ou termo do título, conforme determinação do art. 614, III, do CPC. O art. 585 do Código de Processo Civil elenca quais são os títulos executivos extrajudiciais, pressupondo-se que assim o faça por estabelecer que, cumpridas as formalidades, os mesmos já estejam revestidos de certeza, liquidez e exigibilidade. Portanto, um cheque, por exemplo, que preencha todos os requisitos formais de apresentação, tenha um valor corretamente definido em seu bojo e que esteja dentro do período para cobrança pela forma executiva (seis meses), não necessitaria de quaisquer discussões quanto à constituição do crédito. Exatamente para isso que foram criados os títulos de crédito, ou seja, servem como garantidores de qualquer relação jurídica de direito material subjacente, não necessitando de comprovação quanto à origem daquela relação. Por isso, embora se saiba que grande parte da doutrina e da jurisprudência nega a possibilidade de existência de coisa julgada material dentro da execução, buscar contradizer estas teorias com opiniões e julgados diversos é uma tentativa de mostrar outra realidade nesta sistemática processual. 2. O CONTRASSENSO PROCESSUAL E DOUTRINÁRIO ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Muitos são os choques que norteiam a fundamentação da presente explanação, calcados principalmente na doutrina e jurisprudência discordantes neste aspecto, mas também na aplicação prática e processual da questão, quando se enxerga bem ao lado do problema uma dissonância que deveria ser a solução. Note-se que na ação monitória, por exemplo, existirá sempre uma discussão de mérito acerca do contrato objeto da lide, o que em tese não caberia na execução. Pois se pergunta exatamente qual a vantagem de se ter em mãos um título executivo, se não se terá garantia de coisa julgada dentro do processo, em não havendo um debate processual de mérito. Quando a lei cria parâmetros que determinam prazos e deveres dentro do processo, o faz para garantir a segurança jurídica do detentor do direito material. Neste sentido, supondo que um devedor é citado para responder à execução dentro do prazo de 15 (quinze) dias, segundo prevê a lei processual civil, e não o faz, certamente está assumindo o risco das consequências do processo executivo, o que igualmente aparece bastante claro nos mandados judiciais deste tipo de ação (art. 652, CPC). Todavia se faz interessante saber qual seria a diferença de uma revelia na execução e em uma ação monitória. Dizer que um réu revel em demanda executiva tem mais direitos do que um revel em monitória é agraciá-lo com um benefício processual totalmente contrário aos interesses de direito material. Ao ser ajuizado uma ação monitória e o réu devidamente citado deixam de embargar a ação, sofrerá os efeitos da revelia, nos termos do art. 319 do CPC. ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL No mesmo sentido, e de acordo com a regra do art. 1.102-C do CPC, o juiz proferirá sentença que constituirá um título executivo judicial, ou seja, formará coisa julgada material que será objeto de cumprimento de sentença, nos termos do art. 475-J do CPC. Por outro lado, se de posse de um título executivo extrajudicial, que em tese deveria conferir mais benefícios e vantagens ao credor, propõe-se uma ação de execução, e o mesmo devedor deixa de embargar a ação no prazo do art. 738 do CPC, não se terá a mesma sentença de constituição de título judicial. Não se vislumbra o porquê desta diferença. Em sentido contrário, conforme dispõe o renomado THEODORO JÚNIOR, (...) os embargos do devedor, quando opostos, é que são submetidos a um julgamento do mérito, tendo por objeto a pretensão de desconstituir a eficácia do título do credor. Eles é que serão julgados procedentes ou improcedentes, nunca a execução que estará sempre aparelhada, seja com base em sentença, seja com fundamento em título extrajudicial. Tanto é assim que, não opostos os embargos em tempo hábil, o juiz simplesmente determina a avaliação dos bens penhorados e promove a alienação forçada para pagar o credor (art. 680), sem qualquer julgamento sobre a procedência da ação ou a subsistência da penhora.2 Atente-se que a teoria processual realmente remete a conclusão acima exposta, pois de fato não existe uma discussão de mérito dentro do processo de execução. Contudo, com a máxima vênia ao jurista referido, esta situação não se aplica no plano fático, senão vejamos. Note-se que o doutrinador busca justificar a regra processual com base na consequência prática do não oferecimento de 2 Humberto Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2001, p. 262. ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL embargos à execução, o que ocasionaria diretamente uma medida de expropriação de bens do devedor. Significaria dizer, segundo a lição de THEODORO JÚNIOR, 3 que o devedor não teria mais qualquer possibilidade de discutir a relação processual originária da execução ou o mérito do contrato exequendo. Essa afirmativa, contudo, não se sustenta. Na verdade, o devedor poderia a qualquer momento propor uma ação ordinária visando discutir e revisar as cláusulas do contrato, ou porque simplesmente não foram analisadas quanto ao mérito, ou porque não se verificou a existência de sentença material no processo executório. Portanto, dizer que a não oposição de embargos encerraria e resolveria o problema da materialidade da execução, nos termos daquilo que permite a legislação processual vigente, definitivamente não se constitui na melhor interpretação da questão. Referindo-se aqui novamente à ação monitória, percebese que essa regra aí sim seria aplicável, em caso de uma impugnação ao cumprimento de sentença, ou seja, réu revel de ação monitória não poderia discutir em sede de impugnação ao cumprimento de sentença (execução da monitória), o mérito da relação de direito material. Um verdadeiro contrassenso. Segundo o art. 475-L do CPC, são bastante limitadas as matérias passíveis de serem discutidas em sede de impugnação ao cumprimento de sentença. 3 Idem. Ibidem. p. 262. ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL De acordo com MARINONI e MITIDIERO, (...) qualquer defesa que poderia ter sido oferecida, contudo, na fase de conhecimento, e não o foi, não poderá mais ser apresentada, tendo em conta a eficácia preclusiva da coisa julgada (art. 474, CPC, STJ, 1ª Turma, REsp 492.881/RS, rel. Min. Luiz Fux, j. em 16.12.2003, DJ 16.02.2004, p.209). 4 É exatamente nesses pragmatismos processuais que reside a irresignação deste trabalho, ou seja, segundo parte da doutrina, uma ação monitória gera indubitavelmente um processo de conhecimento exatamente porque o título que a instruiu não é executivo, pois se o fosse não geraria, sob o argumento de que a execução é uma ação puramente processual e, por isso, não comportaria coisa julgada material. O que se busca aventar é o fato de que a forma como foi constituída a execução dentro do ordenamento jurídico brasileiro, ao invés de facilitar as pretensões do credor, cria subterfúgios ao devedor. Todavia, a opinião da doutrina democraticamente se expressa em sentido contrário. LIEBMAN refere que, (...) concluída a execução com a entrega ao credor daquilo que lhe pertence, exclui-se definitivamente toda possibilidade de oposição. Tal não exclui, porém, que o devedor possa ainda alegar contra o credor a inexistência do crédito e, consequentemente, a ilegitimidade da execução realizada, sob condição, é claro, de que não se lhe hajam anteriormente rejeitado as alegações em seguida à oposição por ele formulada antes.5 Luiz Guilherme Marinoni; Daniel Mitidiero. Código de processo civil comentado artigo por artigo. 2008, p. 469. 5 Enrico Tullio Liebman. Embargos do executado. In: Araken de Assis. Manual da Execução. 2006/2007, p. 412. 4 ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL E o Superior Tribunal de Justiça igualmente possui entendimento a endossar a não verificação de coisa julgada na execução, conforme se observa do aresto a seguir colacionado, extraído do AgRg no REsp 500057/SP, 4ª T, 18.02.2010, Rel. Min. Honildo Amaral de Mello Castro, DJU 08.03.2010: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. NOTA PROMISSÓRIA. AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO. AUSÊNCIA DE INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS. POSSIBILIDADE DE PROPOSITURA DE AÇÃO DESCONSTITUTIVA POSTERIOR. COISA JULGADA MATERIAL. NÃO OCORRÊNCIA. PRECEDENTES. 1. É viável a propositura de Ação Anulatória de Negócio Jurídico, não obstante subsistir execução calcada em nota promissória emitida em razão do citado negócio, especialmente quando não tenha havido a interposição de embargos. Desse modo, deve ser reformado o acórdão originário, que decretou a impossibilidade jurídica do pedido. 2. A jurisprudência reiterada desta Corte é assente no sentido de não ocorrer a preclusão na execução, tendo em vista que esta se opera dentro do processo, não podendo atingir processos vindouros, já que tal instituto não se confunde com a coisa julgada material. Desse modo, é aceitável que seja proposta ação objetivando desconstituir o título em que aquela se funda. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.6 Entretanto, segundo ALVIM, (...) todavia, tratando-se de sentença que extingue a execução, porque o devedor satisfez a obrigação, por o devedor obter, mediante transação ou qualquer outro meio, a remissão total da dívida ou por o credor ter renunciado ao crédito, inegavelmente, ficará ela abrangida pela imutabilidade própria da coisa julgada.7 6 Brasil. Superior Tribunal de Justiça. Site Oficial. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&processo=500057&b= ACOR. Acesso em 26/jun/2011. 7 Thereza Alvim. Notas sobre alguns aspectos controvertidos da ação rescisória. In: Araken de Assis. Op. cit. p. 413. ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL E também o mesmo Superior Tribunal de Justiça, em sentido contrário à decisão anteriormente referida, reconheceu a existência da coisa julgada na execução, o que se observa no julgado a seguir transcrito (6ª T. do STJ, REsp. 238.059-RN, 21.03.2000, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU 10.04.2000): PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DE SENTENÇA QUE EXTINGUIU EXECUÇÃO PELO PAGAMENTO. POSSIBILIDADE. CONTEÚDO MATERIAL DO JULGADO. VIOLAÇÃO AO ART. 485 DO CPC NÃO CONFIGURADA. RECURSO NÃO CONHECIDO. 1. Para verificar o cabimento da ação rescisória em uma sentença extintiva de execução, deve se aferir se o provimento jurisdicional produziu efeitos na órbita do direito material, gerando, portanto, coisa julgada material, ou se seus reflexos restringem-se, unicamente, ao âmbito processual, caso em que haveria coisa julgada formal. 2. No caso, julgador monocrático declarou extinta a execução por entender que o INSS já havia feito o pagamento integral do débito, tendo fundamentado sua decisão no artigo 794, I, do Código de Processo Civil, que dispõe extinguir-se a execução quando "o devedor satisfaz a obrigação". 3. A decisão que extingue execução pelo pagamento, reveste-se de conteúdo material, sendo, portanto atacável pela ação rescisória. 4. Recurso especial não conhecido.8 Neste ponto, afere-se que a divergência existente na doutrina ganha importância quando a jurisprudência igualmente possui opiniões contraditórias, mormente em se tratando do Superior Tribunal de Justiça. Neste aspecto, segundo o último julgado referido, abre-se a possibilidade de reconhecimento de coisa julgada material dentro do processo executivo, principalmente nos de título extrajudicial, referindo-se, e é importante que se faça esta constatação, à hipótese de pagamento pelo credor. 8 Brasil. Superior Tribunal de Justiça. Site Oficial. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&processo=238059&b= ACOR. Acesso em 26/jun/2011 ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Diz-se, desta forma, porque muito da argumentação utilizada neste trabalho expôs uma situação bastante particular da execução, especificamente nos casos em que o devedor não vem para dentro do processo, ou seja, não expõe e não forma qualquer contraditório no feito. Então, pode-se questionar se esta forma de reconhecimento de julgamento material da execução só poderia ser aplicada nos casos em que o devedor comparecesse em algum momento no processo. Quer-se acreditar que não. Quando o STJ reconheceu que uma decisão que extinguiu a execução pelo pagamento gerou um julgamento de direito material, certamente não o fez apenas porque se estabeleceu o contraditório, mas porque reconheceu que possa ter gerado reflexos na órbita do direito material. Neste sentido, segundo o art. 708 do CPC, estão delimitadas as possibilidades de pagamento ao credor, podendo ocorrer pela entrega do dinheiro, pela adjudicação dos bens penhorados ou pelo usufruto de bem imóvel ou de empresa. Certamente quaisquer umas das hipóteses referidas independem do comparecimento do devedor ao processo, ou seja, poderão ser efetivadas apenas por requisições do credor e determinações do juízo da causa. Neste contexto, ao receber o mandado de levantamento, o credor dará ao devedor, por termo nos autos, quitação da quantia paga. Por certo que, neste momento, mesmo que sem a participação do devedor nos atos expropriatórios, os reflexos no âmbito do direito material serão evidentes, pois o juízo deverá julgar extinta a execução com fulcro no art. 794, I, do CPC. ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Segundo MARINONI e MITIDIERO, “(...) expropriado o patrimônio do executado, a entrega do dinheiro leva à extinção da execução”, 9 ou seja, não há necessidade de que o devedor faça o pagamento, bastando a satisfação do crédito pelo exequente. Por outro lado, refere ASSIS que “(...) em nenhuma das hipóteses do art. 794 o órgão judiciário julga, realizando a subsunção da regra jurídica ao fato, e, assim, seu pronunciamento não se revestirá da eficácia do art. 467, nem, a fortiori, comportará ação rescisória.” 10 O doutrinador refere que não existe na execução um julgamento acerca da existência do crédito, sendo este exatamente o cerne da questão deste trabalho, porém, é claro, em sentido contrário. Não se vislumbra a necessidade de discussão acerca do crédito dentro da execução, o que já estaria abrangido pela formação do título que constituiu a ação. Note-se que quando se vai a juízo executar um título extrajudicial, não se está querendo do estado-juiz uma tutela a esta pretensão, pois isso já se possui exatamente para se poder ajuizar este tipo de demanda. Isso significa que a execução é diretamente uma pretensão ao direito material, aquele que já foi assegurado pelo título executivo. No momento em que o julgador extingue a obrigação, indubitavelmente está decidindo sobre o mérito da causa. Neste ponto, uma vez ocorrida a preclusão sobre o decisum, há de se considerar constituída a formação de coisa julgada material. 9 Luiz Guilherme Marinoni; Daniel Mitidiero. Op. cit. p. 738 Araken de Assis. Op. cit. p. 413. 10 ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL CONCLUSÃO As interpretações da lei, aplicadas na doutrina e na jurisprudência, assim como nos permitem estudar, geram uma necessidade de busca por coisas novas e desafiadoras. O Brasil é um celeiro de grandes juristas e, principalmente, de notáveis processualistas, que estão constantemente desenvolvendo e aprimorando a ciência do direito, o que se traduz em riqueza de conhecimento e aprimoramento científico. Assim, ter o desafio de escrever um artigo que questione e conteste alguns destes ímpares juristas, não é certamente uma tarefa das mais cômodas. Por outro lado, sabe-se que somente através deste contraditório é que se permite desenvolver ainda mais os estudos, pois o debate traz conhecimento e faz crescer a ciência, o que no direito raramente se transforma em exatidão. Concluindo, se espera poder ter colaborado um pouco na elucidação deste tema, sempre ressaltando a necessidade da busca de novos paradigmas, principalmente no que se refere ao plano prático do processo e às decisões que dele advém, pois aí estarão as reais aplicações do direito material. BIBLIOGRAFIA ASSIS, Araken de. Manual da execução. 11. ed., rev., ampl. e atual. Com a Reforma Processual. 2006/2007. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Processo de execução e cautelar. Volume 12, 3. ed, São Paulo: Saraiva, 2002. ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL MARINONI, Luiz Guilherme. Código de processo civil comentado artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2001. FONTES ON LINE BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Site Oficial. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&proce sso=238059&b=ACOR. Acesso em 26/jun/2011