Ser Ou Não Ser (Vegetariano), Eis A Questão! O título deste artigo é uma adaptação da celebérrima frase de William Shakespeare, na peça “Hamlet”, com um “reajuste”. E, para os amantes dos clássicos, podem perfeitamente recordar-se que esta frase fantástica é proferida pelo príncipe, mais ou menos a 2/3 da peça, em posição de reflexão brincando com um crânio humano (muito nórdico, muito dinamarquês, muito gótico). Pessoalmente, sempre que vejo a cena parece-me um horror, mas devo ser apenas eu que sinto isso ou que tenho coragem de o afirmar. Por outro lado, e do ponto de vista meramente sociológico, apercebo-me da necessidade de associação, de nos relacionarmos com aqueles com quem nos identificamos, pelos mais diversos aspectos. Como diziam os antigos, no seu melhor latim, “primus inter pares”, ou seja “primeiro entre os seus”. Mais uma vez, se adaptar ao termo ao sentido moderno diríamos algo do género, “membros da mesma tribo”, entendendo-se como “tribo” as pessoas com as quais temos identidade ou relacionamento. Seth Godin, no seu livro “Tribes, we needyou to lead us” (2008) explora bem este conceito e traz para a ribalta o sentido de identidade, associado à necessidade de referência e de liderança. Godin vai mais longe quando afirma que “quando se encontra desconforto encontramos a necessidade de liderança” e é exactamente esse aspecto que eu sinto sempre que falo de vegetarianismo. Um facto curioso sobre nós, os vegetarianos, é que o tema, em particular, causa grande desconforto quando abordado junto de alguns meios / classes “profissionais” como sejam médicos, nutricionistas, etc. Estou em crer que essa situação se deve, na maioria dos casos, a uma ausência total de conhecimentos sobre a matéria e, como tal, surge a relutância em aceitar outras sugestões de melhoria da sua qualidade de trabalho e resultados práticos. No trabalho associativo onde lido com pessoas com necessidades de cuidados paliativos, uns mais delicados que outros, trago sempre esse aspecto à superfície para usar o vegetarianismo como forma de ultrapassar crises / picos de variação de estado físico devido ao elevado colesterol, diabetes, tensão arterial, etc.. Não tem sido uma tarefa fácil e apercebo-me que a dúvida de instala mas, para grande satisfação, consegue-se alguns resultados muito positivos. Depois, surge o outro lado da moeda, que são as questões que colocam e que se prendem mais com aspectos sociais (i.d., como estar em sociedade e como enfrentar a família e os amigos) do que verdadeiramente de saúde. As questões habituais associadas são: Ser ou não ser, vegetariano? O que comer? Como me vêem os outros? Aceito ou não a mudança? A resposta deve ser pessoal e per si, descoberta individual, esse é o desafio. Está provado que a solução vegetariana contribui para a redução de aspectos graves que promovem a actual situação de crise mundial. Basta considerar o aspecto da fome nos países de terceiro mundo, o nível da redução dos índices de poluição ambiental, as grandes doenças e pestes e, do ponto de vistas social, o melhor ambiente social tendo em conta que as pessoas tornam-se menos agressivas para uma sociedade melhor, mais respeitável e mais tolerante. Então se assim é e se a solução foi encontrada porque não adaptar? E o que nos impede de agir correctamente? Do ponto de vista cultural, sinto cada vez menos relutância quando solicito / sugiro menu vegetariano em locais que não têm essa especialidade. O verdadeiro desconforto surge quando se abordam as razões ambientais, políticas (direitos humanos e dos animais), sociais (cultura) e económicas do vegetarianismo. São os lobbies implementados que não pretendem o desenvolvimento deste sector, em grande escala, porque coloca em risco a rentabilidade de algumas empresas e de alguns segmentos, chocando com paradigmas. Julgo que a solução para o problema passa por ser individual, de responsabilidade social. De facto se nos purgarmos de aspectos que se prendem com medos internos e se nos associarmos a pessoas com quem possamos ter identidade, acreditando nas nossas convicções, “passaremos a ser nós a diferença” e, em simultâneo, contribuímos para um mundo melhor. O Dia do Vegetarianismo e as associações que defendem a causa do vegetarianismo, como é o caso do Centro Vegetariano, são veículos fundamentais para a passagem de testemunho, partilha de experiências e uma possibilidade de desmistificar o mito social a respeito do preceito do vegetarianismo. A participação de todos é fundamental nestes eventos e nas organizações. Sermos Vegetarianos é a solução para um mundo melhor. www.centrovegetariano.org