1 FAMÍLIA COMO SISTEMA, SISTEMA MAIS AMPLO QUE A FAMÍLIA, SISTEMA DETERMINADO PELO PROBLEMA1 Juliana Gontijo Aun Maria José Esteves de Vasconcellos Sônia Vieira Coelho “A família não existe: vemos a família porque somos especialistas em vê-la”. Pode parecer muito estranho iniciar com essa afirmação um capítulo cujo título anuncia uma proposta em que se começaria apresentando ou definindo a família como um sistema. Como definir como um sistema algo que não existe? Trata-se de uma afirmação que faz sentido, tendo-se assumido a visão sistêmica novoparadigmática2, ou uma visão sistêmica de 2ª ordem. Essa é a proposta deste capítulo: refletir sobre nossa concepção de família – e de outros sistemas – a partir dessa nova postura epistemológica. Coerentes com essa visão, assumimos posturas que parecem muito radicais para quem ainda não fez a ultrapassagem do paradigma tradicional. Não se trata apenas de admitir que a família pode ser vista ou concebida de diferentes modos, com diferentes lentes ou teorias, o que seria apenas repetir uma postura relativista. Trata-se de ir além do relativismo e admitir que a família não préexiste ao olhar de um observador e que é este que a faz emergir. Consistente com essa postura de 2ª ordem e chamando-a de “tese construtivista”, Sluzki afirma que vemos e tratamos a família nuclear, e em certas ocasiões, a família extensa, porque somos especialistas em vê-la e não porque exista assim, como uma forma claramente delineada. Estudamos a família porque a vemos, e a vemos porque a evocamos com nossos modelos e nosso interrogatório. (...) Vivemos imersos em redes múltiplas, complexas e em evolução, dentre as quais ‘extraímos’ a família quando perguntamos, por exemplo, “Quem faz parte de sua família?” (Sluzki, 1997 a/1997, p. 28). Podemos ainda ir além dessa afirmação de Sluzki e dizer que essas redes, em que ele diz que vivemos imersos, também não existem: Constituímos a rede, quando perguntamos: ‘quem são as pessoas significativas para você, na família nuclear, na família extensa, no trabalho, na escola, na vizinhança, na comunidade?’ Se focalizamos a rede, nós o fazemos às custas de focalizar menos o indivíduo ou a família. (...) A escolha da unidade em foco será sempre do ‘observador’ e dependerá de seu ‘paradigma’ (Esteves de Vasconcellos, 1998). Vemos as redes porque nossa visão sistêmica nos permite vê-las ou porque nos tornamos especialistas em vê-las. Se continuarmos especialistas em ver indivíduos, continuaremos vendo e tratando de indivíduos. Concebemos a família como um sistema porque desenvolvemos um olhar sistêmico e então, para nós, a família emerge como um sistema, para o qual orientamos nossas práticas e nossas intervenções, ao propor e realizar o “atendimento sistêmico de famílias e redes sociais”. 1 Este texto é um dos capítulos da obra em 3 volumes, de Aun, Esteves de Vasconcellos e Coelho, Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais: Vol. I Fundamentos teóricos e epistemológicos, 2005, 3ª edição 2012; Vol. II O processo de atendimento, 2007; Vol. III Desenvolvendo práticas com a Metodologia de Atendimento Sistêmico, 2010; Belo Horizonte, Ophicina de Arte & Prosa. Encontra-se no Volume II, p. 13-37. 2 Ver o texto “Pensamento sistêmico novo-paradigmático: novo-paradigmático, por quê?”, no Vol. I desta obra. 2 Acreditamos que, sem esse olhar sistêmico, o profissional, mesmo pretendendo trabalhar com a família – como acontece, por exemplo, com os profissionais do Programa de Saúde da Família e, de resto, com muitos outros profissionais e outros programas sociais – acaba “tratando do indivíduo na família”, sem conseguir deslocar seu olhar do indivíduo para a teia de relações entre os elementos do grupo familiar, as quais constituem o sistema familiar. Só com esse foco nas relações, o grupo familiar emergiria como um sistema para esses profissionais, possibilitando então planejar e dirigir sua atuação às relações familiares, desenvolvendo práticas sistêmicas, mesmo que ainda sistêmicas de 1ª ordem. Seria já um primeiro passo, para então avançarem para a visão sistêmica de 2ª ordem, que temos procurado assumir e que embasa as práticas sistêmicas que temos procurado desenvolver. Antes mesmo de se desenvolver a concepção da “família como sistema” – o que aconteceu por volta dos anos 50 do século passado – muitas disciplinas, tais como sociologia, antropologia, demografia, direito, psicanálise, história, psicologia, já tinham se interessado pelo estudo da família, propondo diferentes definições para o grupo familiar, embasadas em diferentes critérios (Coelho, 2005).3 Apesar de evidenciarem aspectos importantes do funcionamento de uma família, esses estudos não oferecem, entretanto, fundamento teórico para se trabalhar com a família como uma unidade, uma vez que ainda não a concebem como um sistema. Com o surgimento da terapia familiar sistêmica, os terapeutas de família conceberam “a família como um sistema” e, colocando o foco nas interações, puderam trabalhar com ela como uma unidade. Surgem então as definições sistêmicas da família, ou definições da família como um sistema, quando se estendem para o sistema familiar os conceitos teóricos desenvolvidos para os sistemas em geral – seja pela Teoria Geral dos Sistemas, seja pela Teoria Cibernética.4 Essas teorias – com uma pretensão transdisciplinar – se propuseram desenvolver princípios teóricos aplicáveis a todo e qualquer sistema, independentemente da natureza de seus componentes. Surgem então definições de família focalizando as relações entre os elementos constituintes do sistema familiar. Acontece que a maior parte do que já se tem escrito sobre a “família como um sistema” está conforme uma visão sistêmica de 1ª ordem, de acordo com diversos modelos teóricos desenvolvidos, não só para se compreender o funcionamento do sistema familiar, como também para fundamentar as intervenções em terapia familiar sistêmica. O que as caracteriza como concepções de 1ª ordem é exatamente o fato de não partirem do pressuposto – ou pelo menos de não o explicitarem – de que o sistema familiar emerge das distinções de observadores e de consensos construídos na linguagem sobre o que o constitui como tal. Nesse caso, essas definições sistêmicas de 1ª ordem, adotadas por profissionais que, sendo sistêmicos, já assumiram apenas o pressuposto da complexidade, tendem a ser definições reificadas 5 do sistema familiar. 3 Ver o texto “Introdução aos estudos da família”, no Vol. I desta obra. 4 Ver o capítulo 6 – “Rastreando as origens das abordagens teóricas dos sistemas” do livro Pensamento sistêmico. O novo paradigma da ciência (Esteves de Vasconcellos, 2002). 5 Reificado, usado como equivalente de coisificado, vem do latim res/rei, que quer dizer coisa. Esse termo costuma ser usado para se referir à consideração, como coisa, de algo que poderia ser pensado como um processo, ou também à consideração, como realidade objetiva, de algo que se reconhece como uma distinção do observador. 3 Entretanto essas definições foram importantes, por colocarem o foco nos padrões de interação do sistema familiar e por terem introduzido a concepção sistêmica da família. Além disso, quando o profissional se tornar novo-paradigmático, poderá resgatar essas definições, considerandoas como distinções do observador. Por isso – antes de apresentarmos nossa concepção de família na perspectiva novo-paradigmática – destacamos duas das definições de 1ª. Ordem, a título de exemplos, para constituir a seção que se segue. Faremos o mesmo, mais adiante, quando apresentarmos as definições de “sistema mais amplo que a família”. Abordaremos primeiro as concepções de sistema amplo desenvolvidas ainda na perspectiva sistêmica de 1ª ordem e depois a concepção de “sistema determinado pelo problema”, que consideramos coerente com a visão sistêmica novo-paradigmática. 1. Família como sistema, na perspectiva sistêmica de 1ª Ordem Tomamos algumas definições de “família como um sistema”, elaboradas no primeiro momento do desenvolvimento da terapia familiar sistêmica – tendo como epistemologia a cibernética de 1ª ordem – por dois dentre os primeiros terapeutas de família sistêmicos, Jackson e Minuchin, representando respectivamente a abordagem comunicacional e a abordagem estrutural da família. Ambos enfatizam a visão da unidade do sistema familiar (pressuposto da complexidade). Para Jackson (1976/1968), a família é “um sistema governado por regras: (...) seus membros se conduzem entre si de maneira organizada e repetitiva e (...) esta estruturação das condutas pode ser considerada como um princípio que preside a vida familiar” (p. 139). Jackson focaliza o “caráter organizado da interação familiar”, a mudança na forma de pensar a família a partir das relações entre seus membros e não focalizando os indivíduos ou a “soma dos indivíduos” para entender a organização do sistema. O sentido dado à forma de ver a organização é o de dedução das normas familiares, entendidas então como regras abstratas, conceito esse desenvolvido na “teoria da comunicação humana”. Assim, a idéia de “regra” é a de padrões de relação que se repetem, inferidos da observação das relações e suas redundâncias, uma “metáfora” usada pelo observador para descrever e explicar as relações que observa, não se atendo exclusivamente às condutas individuais. Esse autor defende seu argumento sistêmico, mostrando a diferença entre essa concepção e uma outra concepção de família que predefine papéis diferenciados na estrutura familiar (pai, mãe, filho). Para ele, a teoria de papéis se refere à descrição de “condutas do indivíduo”, instituídas pela cultura, ficando as relações como secundárias e obscurecidos os processos de interação. O papel é predefinido socialmente, de acordo com a posição do indivíduo no modelo da estrutura social, estabelecendo o que é adequado ou não adequado no exercício das funções dos membros da família. Além de mudar o foco para as relações, fazendo abstração do modelo cultural, sua visão sistêmica da família, neste momento, é a de seu funcionamento como um sistema homeostático, um sistema dotado de mecanismos autoreguladores, os quais garantem a manutenção da estabilidade do sistema: “mecanismos homeostáticos são condutas que delimitam as flutuações de outras condutas ao longo da gama particular correspondente à norma”, ou seja, à regra (Jackson, 1976/1968, p.146). Jackson enfatiza os obstáculos de se pensar a família como um sistema de interação, principalmente pela dificuldade de passar do pensamento linear para o circular e pela dificuldade de mudar o foco do indivíduo para a relação. Preocupa-se com a mudança epistemológica do pressuposto da simplicidade para o pressuposto da complexidade, mas não com a visão cultural da família como parte do sistema social mais amplo. Exercitava sua mente sistêmica, ao deslocar o foco do indivíduo para a relação e, também, ao ultrapassar a concepção sociológica de papéis familiares, propondo uma definição abstrata de “regras de relação”. 4 Já Minuchin parte da definição sociocultural de família e a define como um “sistema aberto”, considerando-a como um todo em que as partes estão relacionadas, constituindo uma unidade organizada por padrões de relação recorrentes e previsíveis, indo além do indivíduo, estabelecendo conexões com o contexto social específico – vizinhança, instituições, comunidade: “A família é um grupo social natural, que governa as respostas de seus membros aos inputs de dentro e de fora. Sua organização e sua estrutura peneiram e qualificam as experiências dos membros da família” (Minuchin, 1982/1974, p.16). A família é um grupo natural que através dos tempos tem desenvolvido padrões de interação. Estes padrões constituem a estrutura familiar, que por sua vez governa o funcionamento dos membros da família, delineando sua gama de comportamento e facilitando sua interação (Minuchin; Fishman, 1990/1981, p. 21). Para ele, o conceito de estrutura se refere à dimensão funcional da instituição social, ao utilizar a idéia de “padrões repetitivos” de interação, entre os membros do sistema familiar. Essas duas definições de Minuchin ressaltam o aspecto sistêmico do funcionamento familiar, que é o relacional. A forma de ver a relação da família com o contexto social mais amplo é a de considerá-la um subsistema da sociedade, sendo ao mesmo tempo ela própria constituída de subsistemas: “As famílias são sistemas multi-individuais de extrema complexidade, porém, são por sua vez, subsistemas de unidades mais amplas – a família extensa, a vizinhança, a sociedade como um todo” (Minuchin; Fishman, 1990/1981, p.25). O autor elabora conceitos correlatos como os de subsistema, coerção e fronteiras, usados como um esquema conceitual para compreensão do funcionamento familiar. Tendo a visão da família e da sociedade como unidades compostas, como todos constituídos de partes interrelacionadas, o subsistema se refere às partes desse todo, ora visto como uma unidade, ora como uma subunidade (holon)6, cada parte cumprindo o seu papel: “o todo é maior que a soma da partes. (...) Parte e todo contêm um ao outro num processo contínuo, atual e corrente de comunicação e interrelação” (Minuchin; Fishman, 1990/1981, p. 22-23). Embora tendo uma visão sistêmica, com estes conceitos teóricos mantém uma concepção reificada e hierarquizada da sociedade e da família: por exemplo, os pais considerados como um subsistema de um nível superior; os filhos como um subsistema de nível inferior, na hierarquia familiar.7 2. Família como sistema, na perspectiva sistêmica novo-paradigmática Na perspectiva novo-paradigmática, o sistema familiar – como de resto todos os demais sistemas – não pré-existe a uma distinção de um observador. Quem seria então esse observador que distingue a família e a faz emergir como tendo “existência real”? Os próprios elementos que constituem o sistema familiar? Um estudioso/pesquisador da família? Alguém que se dispõe a ajudar a família em suas dificuldades – um especialista em atendimento sistêmico de família ou um terapeuta de família? Se pedirmos aos vários membros de um grupo distinguido como uma família para responder individualmente à pergunta “quem são os membros de sua família?”, muito provavelmente obteremos respostas diferentes. Alguns incluirão apenas as pessoas com as quais têm vínculos de consangüinidade; outros incluirão as pessoas que “entraram para a família”, tais como cunhados, 6 O conceito de holon é usado por Minuchin para explicar a unidade individual e social. Significa tanto um todo como uma parte, dependendo de como essa é vista em relação ao todo maior. Usa-o para se referir à possibilidade de se considerar o sistema familiar simultaneamente como todo (constituído de partes) e como parte (parte da sociedade). 7 Ver o texto “Aspectos estruturais do sistema familiar”, no Vol. II, Tomo II desta obra. 5 genros, noras; alguns se limitarão à família nuclear, enquanto outros incluirão a família extensa e outros ainda incluirão a família do cônjuge como sendo sua. E haverá ainda os que incluem alguém que “não é da família, mas considero como se fosse, pois é como se fosse meu irmão”. E, provavelmente, aparecerão também justificativas para as exclusões: “não o considero porque nunca convivi com ele” ou “depois do que aconteceu, não o considero mais: já morreu para mim”. Numa conversação sobre a questão proposta, esse grupo familiar poderá chegar, por consenso, a uma definição sobre a constituição da sua própria família e sobre o critério a adotar para defini-la: vínculos de consangüinidade, vínculos legais, vínculos de convivência, vínculos de afinidade ou emocionais. Ficará evidente que as distinções dos observadores – neste caso, dos próprios membros “da família” – poderão fazer emergir um sistema familiar ou sistemas familiares diversos. É isso o que podemos observar quando propomos a alguém a elaboração de seu próprio “mapa de rede” – uma representação gráfica dos vínculos afetivo-sociais, que constituem sua rede social.8 Num dos quadrantes do mapa de rede – delimitado por um círculo – a pessoa que o constrói é solicitada a localizar sua família e, noutro quadrante, seus parentes, havendo ainda os quadrantes para as relações profissionais (trabalho, escola) e para as relações na comunidade (vizinhos, amigos, profissionais de ajuda). Nesse caso, pedimos que a pessoa coloque cada um dos membros de sua rede mais próximo ou mais afastado de si próprio – que ocupa o centro do círculo – dependendo da maior ou menor intensidade do vínculo que ela distingue entre ambos: localizará mais próximo de si as relações mais significativas, cujo vínculo ela considera mais forte. No mapa de rede, tal como proposto por Klefbeck (1995/s.d.), a pessoa deveria colocar no quadrante da família as pessoas que moram juntas – o que pode corresponder, ou não, ao que geralmente se chama de família nuclear – e no quadrante dos parentes, as relações significativas correspondentes à sua família extensa ou família de origem e ainda os membros de sua família nuclear que não moram mais na mesma casa em que ela mora. Nesse caso, não é apenas a própria pessoa que está definindo sua família, mas também o profissional que, ao adotar as instruções de Klefbeck, oferece ao sujeito uma definição sua, propondo uma distinção entre família e parentes. Porém continuam sendo do sujeito as decisões sobre quem incluir e onde incluir no gráfico (em que subgrupo e a que distância de si próprio). Provavelmente, em conformidade com o contexto cultural em que vivemos, o sujeito embasará suas decisões, como vimos, nos critérios referentes aos vínculos geralmente considerados definidores da existência de uma família. Lembrando o que disse Sluzki (1997 a/1997, p. 29), “vivemos imersos em redes múltiplas (...) dentre as quais ‘extraímos’ a família quando perguntamos, por exemplo, ‘Quem faz parte de sua família?’” Enfim, nesse caso, são os próprios membros da família que, com suas distinções, fazem emergir o(s) seu(s) sistema(s) familiar(es). Tendo assumido uma postura sistêmica de 2ª ordem, ou escolhido o “caminho da objetividade entre parênteses”, alguns terapeutas de família também têm proposto uma compreensão teórica do sistema familiar que possa embasar práticas coerentes com essa postura. Num artigo em co-autoria com Maturana, dois terapeutas de família chilenos (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/1988), ao abordarem o emergir da patologia mental no sistema familiar, propõem uma interessante concepção de família, coerente com nossa visão sistêmica novoparadigmática. 8 Um texto, “Rede social: conceitos teóricos fundamentais para a prática”, encontra-se no Vol. III desta obra. 6 Esses autores constroem um conceito de família como “um domínio de interação de apoio mútuo na paixão por viver juntos em proximidade física ou emocional, gerado por duas ou mais pessoas, seja através de um acordo explícito ou porque crescem imersos nele, no acontecer de seu viver. (...) Como sistema, uma família existe no âmbito biológico,9 através da realização do viver de seus componentes. Além disso, (...) (a família) se realiza no linguajar e emocionar de seus membros como um caso particular da configuração de conversações recorrentes (organização) que a definem como membro de tal classe” (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/1988, p. 161-162). Para concebermos a família dessa forma, precisamos retomar os conceitos de conversar, linguajar, emocionar e as distinções que Maturana propõe entre sistema social, sistema de trabalho e sistema de poder (Maturana, 1997/1988), assim como os conceitos de organização e estrutura do sistema, da teoria da autopoiese de Maturana e Varela (1987/1983). O humano surge com o linguajar (definido como coordenação de coordenação de ações) que, fluindo entrelaçado com o emocionar, constitui o conversar. A maneira de coexistir dos seres humanos é a de viver juntos, em coordenações recursivas de ações, constituindo redes de conversações, que coordenam constantemente o que fazemos nesse conviver. O humano se vive sempre num conversar: linguajar com emocionar. As diferentes emoções do ser humano o predispõem a diferentes formas de responder aos eventos do meio, ou seja, a emoção especifica um espaço de ações possíveis. O emocionar-se humano – derivado da estrutura biológica que constitui o ser vivo humano – centra-se no prazer da convivência, na aceitação mútua sem questionamentos, o que gera uma convivência harmoniosa. Porém diferentes emoções propiciam diferentes formas de relação ou diferentes domínios de conversações, e nossa cultura ocidental tem cada vez mais propiciado o desenvolvimento de redes de conversações contraditórias com a nossa biologia, contraditórias com a biologia do amor (Maturana, 1997/1985). 10 Tanto o bem-estar quanto o sofrimento humano dependem do conversar, ou seja, dos diferentes modos de fluir o entrelaçamento de linguajar e emocionar, dos diferentes tipos de conversação, os quais constituem diferentes sistemas de convivência. Assim, Maturana (1997/1988, p. 177) propõe uma distinção entre sistemas sociais e outros sistemas, como sistemas de trabalho ou sistemas de poder, com base na emoção que especifica o espaço básico de ações nessas diferentes formas de conviver, ou seja, com base na emoção que especifica o espaço em que se dão as relações com o outro e consigo mesmo. Assim: Sistemas sociais – são sistemas de convivência constituídos sob a emoção do amor, que é a emoção que constitui o espaço de ações de aceitação do outro na convivência. A partir daí, sistemas de convivência fundados numa emoção que não seja o amor não são sistemas sociais. Sistemas de trabalho – são sistemas de convivência constituídos sob a emoção do compromisso, que é a emoção que constitui o espaço de ações de aceitação condicionada à realização de uma tarefa. Assim sendo, os sistemas de relações de trabalho não são sistemas sociais. Sistemas hierárquicos ou de poder - são sistemas de convivência constituídos sob a emoção que configura as ações de autonegação e negação do outro na aceitação da submissão própria ou da do outro, numa dinâmica de ordem e obediência. Assim sendo, os sistemas hierárquicos não são sistemas sociais. 9 Essa afirmação de que a família existe no âmbito biológico refere-se à existência dos membros da família como seres vivos individuais, o que não deve ser confundido com relações de consangüinidade. 10 Ver os textos “O profissional novo-paradigmático, sua prática, sua ética” e “Valores: questões para a reflexão do profissional novo-paradigmático”, neste Tomo I do Vol. II desta obra. 7 É importante ressaltar que, mesmo que possamos distinguir outros sistemas de convivência, fundados em outras emoções, “cada um deles constitui uma rede particular de conversações que configura um modo particular de emocionar, a partir de uma emoção definidora básica” (p. 177). Um observador pode distinguir diferentes tipos de conversações, com distintas configurações de coordenações de condutas ocorrendo sob diferentes estados emocionais. Conversações que geram harmonia social, bem-estar, prazer de conviver, configuram-se no âmbito da “aceitação mútua, sem questionamentos, que é a condição biológica constitutiva da coexistência, na qual as contradições emocionais são eventos transitórios, não um modo de vida” (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/1988, p. 156). Esse modo de conviver, na aceitação incondicional do outro, requer abandonar a visão objetivista do mundo e se constitui como uma implicação da “objetividade entre parênteses”: todas as formas de se comportar são igualmente legítimas, embora nem todas sejam igualmente desejáveis. Aceitar genuinamente o outro nas diferenças pode fazer com que os membros da família preservem a paixão por viver juntos, rejeitando críticas a qualquer dos seus, vindas de quem não faz parte dessa rede de conversações. Entretanto há também outros tipos de conversações, tais como, aquelas que antecipam comportamentos futuros, trazendo à tona outros domínios emocionais. Dentre essas, destacam-se as conversações de caracterização e as conversações de acusação e recriminação injustificadas (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/1988). As conversações de caracterização decorrem de expectativas sobre as condutas dos participantes do sistema, correspondendo às definições consensuais (implícitas ou explícitas) sobre “como o outro é” e, portanto, sobre “o que se pode esperar dele”. Já as “conversações de acusação e recriminação injustificadas representam protestos por não se cumprirem condutas esperadas em circunstâncias em que não existiu acordo prévio sobre elas” (p.160), correspondendo a cobranças sobre “o que o outro deveria ter feito” ou sobre “o que o outro não deveria ter feito”. Tanto as conversações de caracterização quanto as conversações de acusação e recriminação mútuas contêm afirmações de qualidades ou defeitos permanentes do outro, embasadas no pressuposto de uma realidade independente do observador (objetividade sem parênteses). Esses padrões de conversação, contendo uma contradição emocional – de acusar em vez de aceitar o outro – podem se tornar recorrentes, causar infelicidade e sofrimento, sendo a desarmonia social atribuída ao comportamento inadequado de um de seus membros. Então, voltando à concepção de família como um domínio em que as interações se dão na paixão de viver juntos, uma família existe e se realiza no linguajar e emocionar de seus membros, como um caso particular dessa configuração de conversações recorrentes, que a definem como membro dessa classe de sistemas, ou seja, como um sistema social, cujos participantes vivem a aceitação incondicional do outro, legitimando-o na convivência. As condutas de seus membros, ou seja, as interações entre eles – que constituem suas conversações recorrentes – realizam essa organização de sistema familiar, distinguida pelo observador. No domínio humano, a configuração de relações e interações entre os componentes de um grupo, que o realizam como sistema de uma dada classe, constitui a organização11 desse sistema. A 11 Em Maturana, as noções de organização e estrutura têm definições bem específicas e bem diferentes de outros sentidos em que esses termos costumam ser usados. A organização é a configuração de relações entre os componentes do sistema, a qual, ao ser distinguida pelo observador, define a identidade do sistema, ou seja, define-o como sistema de determinada classe. A estrutura é a configuração de relações concretas que caracteriza aquele sistema como um caso particular daquela classe, com aquela identidade ou organização. A estrutura do sistema pode alterar-se sem que se perca a organização distinguida pelo observador. 8 organização do sistema familiar, ou seja, a configuração de interações que o realizam, seria uma rede de conversações em que as coordenações de ações aconteceriam sem contradições emocionais, vivendo seus membros na objetividade entre parênteses, sem conversações de caracterização, acusação e recriminação. Com essa concepção de sistema familiar, um observador pode distinguir uma família quando distingue uma rede de conversações que se desenvolvem sob uma paixão de viver juntos, em harmonia, de forma prazerosa. Quando mudanças nos membros dessa família e em suas interações – mudanças na estrutura do sistema – são tais que já não permitem participar na geração dessas conversações, elas se interrompem ou deixam de ser recorrentes e, perdendo-se a paixão de viver juntos, desaparecendo essa configuração de conversações, a família se desintegra como família dessa classe, ou seja, deixa de realizar a organização distinguida pelo observador. Por outro lado, o observador pode distinguir, num grupo que se apresenta a si próprio como uma família, uma rede de conversações de caracterizações, acusações e recriminações, sendo essa a organização dessa família. Como “essa organização tanto realiza como gera uma contradição existencial”, essa é uma condição de sofrimento e infelicidade que pode levar o sistema a solicitar a ajuda de um profissional (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/1988, p 163). Sendo solicitada a ajuda de um profissional novo-paradigmático, ele distinguirá a possibilidade de resgatar uma convivência harmoniosa, já que ainda existe a paixão de viver juntos, que é exatamente o que está implícito no pedido de ajuda. Esse profissional acredita genuinamente que o viver humano se dá em conversações: conversando fazermos emergir problemas; conversando, podemos dissolver problemas. Portanto, participando nessa rede de conversações, o profissional, utilizando habilmente a linguagem, poderá ajudar a gerar outras conversações que provoquem mudanças estruturais tais que desintegrem esse sistema caracterizado pela condição de sofrimento, de infelicidade. O fato de os membros da família passarem de uma postura objetivista para uma postura de “objetividade entre parênteses” criará as condições para se restabelecer uma convivência harmoniosa, antes que eles percam a paixão por viver juntos. 3. Sistema mais amplo do que a família, na perspectiva sistêmica de 1ª ordem Assim como a família, o sistema amplo ou mais amplo que a família, foi definido, segundo a visão sistêmica prevalente em cada momento. Desde o início do movimento da Terapia de Família, terapeutas de família, como Bowen (1989/1978), Boszormenyi Nagy; Sparks (1983/1973) se interessaram em pensar a sociedade como um sistema e em descrever os fenômenos sociais – referentes a âmbitos além das famílias – segundo uma visão sistêmica. No entanto, poucos se aventuraram a abordar na prática esses sistemas sociais, que depois vieram a ser chamados de “sistemas amplos” ou de “sistemas mais amplos que a família” (SMAF). Um dos primeiros grupos que desenvolveu esse tipo de trabalho foi umas das equipes coordenadas por Selvini-Palazzoli, composta por seus alunos formados num curso sobre “teoria geral dos sistemas e práticas da comunicação humana”, ministrado no ano acadêmico de 1971-1972, na Escola de Especialização em Psicologia da Universidade Católica de Milão (Selvini-Palazzoli et al, 1985/1976). Tinham o objetivo de verificar se “os instrumentos oferecidos pelos modelos conceituais (…) para induzir mudanças no microssistema da família" também podiam ser de utilidade para a intervenção em sistemas mais amplos. Escolheram a escola para realizar “um primeiro experimento” (p.13). Esses autores não utilizaram ainda o termo sistemas amplos, mas propuseram definir “a comunidade escolar como um sistema”. Para isso, basearam-se na definição clássica de sistema, de 9 Hall e Fagen (apud Watzlawick et al (1993/1967, p. 109): “um sistema é um conjunto de objetos e de relações entre os objetos e entre seus atributos, (...) no qual os objetos são os componentes ou partes do sistema; os atributos são as propriedades dos objetos; e as relações mantêm unido o sistema”. Selvini-Palazzoli et al (1985/1976) acrescentaram a essa concepção a noção de que só se constituem como sistemas “grupos com história”, isto é, grupos cujos membros evoluíram juntos e compartilharam certos objetivos comuns, durante um período de tempo suficientemente prolongado para se constituírem “como unidades funcionais regidas por normas próprias" – regras especiais, válidas só para seus membros. Com base nessa concepção de sistema, esses autores propõem a seguinte definição da escola como um sistema: “em sua acepção de complexo escolar submetido a uma administração unitária, (a escola) constitui um amplo sistema dentro do qual podem-se identificar muitos subsistemas que se entrecruzam e comunicam entre si e, em relação com os quais a escola constitui o ambiente” (1985/1976, p. 63). Essa é uma definição reificada de sistema amplo, pois o define como uma entidade concreta, objetiva – “uma escola”. A família também foi, inicialmente, definida como um sistema reificado, o que não impediu que fosse atendida em conjunto, mantendo sua unidade. Porém o mesmo não aconteceu, quando se pretendeu desenvolver uma intervenção nos sistemas amplos. Devido à sua amplitude, torna-se impossível atender o sistema amplo em conjunto, mantendo sua unidade – todos seus elementos juntos, ao mesmo tempo, como se pôde fazer com a família. Isso traz para o profissional o problema de dividir o sistema amplo em subunidades, sem perder sua complexidade. A estratégia utilizada pela equipe coordenada por Selvini-Palazzoli para realizar uma intervenção sistêmica na escola foi dividi-la em subsistemas para que cada um deles pudesse ser atendido como uma unidade. Os autores se propuseram a identificar os subsistemas que melhor representassem a escola como um todo12 e identificaram como mais representativo o subsistema “classe", seguido imediatamente pelo "corpo docente (reitor + educadores)” (p. 63). Se cada um desses subsistemas foi atendido separadamente, entendemos que os profissionais viram a escola como um sistema amplo, mas no momento da ação prática perderam a complexidade do sistema, um problema que permaneceu sem solução por muito tempo. Como se verá a seguir, mesmo autores que questionam a reificação do sistema amplo e tentam uma abordagem a partir de uma perspectiva construtivista, compreendem o sistema amplo em sua complexidade, mas, ao atuar, fracionam o sistema. Evitar esse problema requer a definição do sistema amplo como um "sistema determinado pelo problema", conceito que será desenvolvido mais adiante. Em um levantamento bibliográfico sobre intervenções em “sistemas mais amplos que a família” (SMAF), realizadas nos anos seguintes à pesquisa descrita acima, Imber-Black (1995/1991) classifica em duas categorias os artigos encontrados. Com base nessa classificação, identificamos duas concepções de SMAF: (1) sistema específico, predefinido como tal – qualquer “organização social” ou instituição, que não a família. Por exemplo, a escola, tal como foi considerada por Selvini-Palazzoli, na pesquisa/intervenção acima citada; (2) sistema constituído de uma família e um ou mais serviços profissionais com os quais ela se relaciona. Por exemplo: uma família multiproblemática e os serviços profissionais; uma família e o sistema de atenção médica; uma família e o médico que a encaminha; uma família e o hospital psiquiátrico; uma família e a escola. 12 Segundo suas palavras, os subsistemas que apresentassem “características de maior estabilidade temporal e de redundância” em relação à escola como um todo (p.63). 10 Em ambas as concepções, o SMAF é considerado como uma realidade objetiva, sugerindo uma visão reificada do sistema. Apesar disso, Imber-Black destaca a importância de se considerar e abordar o contexto social mais amplo do que a família, ressaltando que, desconsiderar os SMAFs – a relação família e serviços que a atendem – "faz com que, às vezes, esses sistemas mais amplos perpetuem os próprios problemas que deveriam resolver” (p. 36). Assim como Imber-Black, Fruggeri e Matteini (1991/1988) também identificaram dois tipos de sistemas tradicionalmente definidos como sistemas amplos: (1) “aqueles sistemas interativos que podem ser denominados de organizações sociais diferentes da família (por exemplo: o serviço de saúde, uma instituição acadêmica etc.)”; (2) e, mais freqüentemente, “sistemas interativos que crescem em torno de uma família entrelaçada por relações com diversas instituições externas com o propósito de ‘receber ajuda’ na solução de seus problemas” (p. 33). Note-se que esses dois tipos de sistemas amplos correspondem aos descritos por Imber-Black. Porém Fruggeri e Matteini se interessam em definir também as bases epistemológicas em que se baseiam as definições e a forma de abordagem dos sistemas amplos. Ressaltam que os sistemas amplos podem ser definidos ou segundo uma “perspectiva reificante” ou segundo uma “matriz construtivista” e que há uma diferença significativa entre as definições, segundo uma ou outra perspectiva. Então, consideram explicitamente a primeira modalidade de descrição dos sistemas amplos – "sistemas interativos que podem ser denominados de organizações sociais diferentes da família" – , como típica de uma “perspectiva reificante”, uma vez que o sistema é considerado um objeto, isto é, é visto como “uma coleção de elementos interativos dentro de fronteiras que o separam do ambiente e que são concretas, tal como o próprio sistema” (p. 34). Entretanto, segundo nossa concepção, qualquer das duas formas – identificadas por esses autores – de descrever os sistemas amplos, independentemente de seu tamanho e de sua composição, pode se dar dentro de uma “perspectiva reificante”, correspondente à Cibernética de 1a Ordem. Considerando que o mundo não se apresenta dividido em sistemas amplos, sistemas, subsistemas, ambiente etc, mas que um sistema específico existe apenas a partir da operação de distinção pelo observador, Fruggeri e Matteini propõem a “perspectiva construtivista” para fundamentar a descrição dos sistemas amplos: “o sistema não é um dado, mas sim uma forma de organizar os dados que o observador decide tomar como elementos do sistema”, o que implica que a relação do observador com o sistema observado é parte constitutiva do sistema amplo. Consideramos que essa definição corresponde a uma perspectiva da Cibernética de 2a Ordem. Além disto, questionam o uso do termo “sistema amplo”, por corresponder a “qualquer coisa além da família” e, então, manter a mesma característica de reificação que acompanha o uso do termo subsistema para se referir a “qualquer coisa menor que o sistema familiar” – indivíduo, casal etc. Com base nessa argumentação, os autores propõem que, assumindo-se uma perspectiva epistemológica construtivista, se substitua o termo “sistema amplo” pelo termo “sistema complexo”. Concordamos com a preocupação dos autores quanto à tentativa de encontrar uma definição não reificante para os sistemas amplos, mas não consideramos que a mudança de rótulo seja suficiente para evitar a reificação. Quanto à abordagem prática dos "sistemas complexos" segundo uma “perspectiva construtivista”, os autores descrevem uma consultoria dada a uma psicóloga e a uma assistente social, membros de um "sistema complexo", constituído conforme a definição dos próprios autores, como “sistemas interativos que crescem em torno de uma família entrelaçada por relações com diversas instituições externas com o propósito de ‘receber ajuda’ na solução de seus problemas”. Apesar da interessante forma de conduzir a consultoria com o emprego de perguntas reflexivas, evitando-se interações instrutivas, de se considerar as relações entre a família e as instituições 11 externas, e dos resultados alcançados, a atuação descrita ainda continua sendo fracionada. Cada parte do sistema é atendida por sua vez: o consultor atende às técnicas demandantes; estas atendem ora ao casal, ora à família toda, ora introduzindo uma freira do orfanato onde a mãe viveu até os 18 anos; as técnicas atendem também o juizado em sua relação com a família. Embora cada um desses atendimentos seja feito segundo uma posição construtivista, que inclui uma atitude auto-reflexiva e considera o significado e os efeitos recursivos do atendimento, segue-se propondo pensar o “sistema complexo”, mas sua atuação em partes fracionadas do sistema mantém a concepção de que ele existe objetivamente. Assim, apesar da substituição dos termos, a prática se dá a partir de uma visão fracionada do sistema. Concluímos, portanto, que a definição do sistema amplo segundo essa "perspectiva construtivista" não é suficiente para resolver o problema proposto anteriormente, o de atender o sistema – amplo ou "complexo" – mantendo sua complexidade. A nosso ver, a solução para esse problema requer um salto qualitativo na concepção de sistema: requer concebê-lo como um "sistema determinado por um problema". Porém, antes de abordar essa nova concepção, vamos tratar das redes sociais como sistemas. Paralelamente ao desenvolvimento da noção de sistemas amplos ou de sistemas mais amplos que a família, mas talvez com menos visibilidade, foi desenvolvida a noção de rede social, outra tentativa de superar a reificação. Consideramos a rede social como um sistema amplo. Como a metáfora de rede não inclui limites definidos, a definição da rede social como um sistema poderia torná-la menos propícia à reificação. Uma brilhante exceção à concepção reificante de sistema amplo foi desenvolvida nas décadas de 60 e 70, no Leste dos Estados Unidos, por Auerswald (1976/1968). Nessa época, o autor propôs que se abordasse o serviço (a política) de assistência médica como um ecossistema, segundo uma abordagem "ecológica". Ilustra, por meio da descrição de um caso, a diferença que ele faz entre a atuação tradicional de uma equipe “interdisciplinar”, em que cada profissional é especialista em sua área, e a atuação de uma equipe interdisciplinar segundo a “abordagem ecológica", em que todos os profissionais têm uma visão sistêmica. Trata-se de um caso em que o profissional responsável, um psiquiatra com visão sistêmica, colheu informações sobre uma paciente em diferentes ambientes sociais, ampliando sua visão para além do indivíduo e de sua família.13 Naquele momento, não foi realizado o atendimento da rede social da paciente em conjunto, mas o autor ressalta a importância, para o atendimento no serviço de saúde mental, de se considerarem todos os ambientes sociais em que a paciente está envolvida – igreja, família nuclear, família extensa, polícia, até mesmo o próprio serviço de saúde. Entendemos que Auerswald concebia, desde aquela época, a política de assistência médica como um sistema amplo, organizado em rede, e que assim lançava as bases para o atendimento da rede em conjunto. Pouco tempo depois, trabalhando na Califórnia, Speck e Attneave (1974/1973), reconhecendo a influência de Auerswald, relatam suas primeiras experiências de atendimento da rede social de pacientes psiquiátricos e suas famílias. A partir do trabalho em hospitais psiquiátricos, deslocam o atendimento para a residência do cliente, aproximando-se de sua rede social e valorizando-a, o que torna possível atender em torno de 40 a 50 pessoas ao mesmo tempo e no mesmo local. Esses autores salientam que, nesse caso, a rede social é o cliente, o que deixa claro que a concebem como uma unidade. Para atendê-la, desenvolvem um interessante procedimento de intervenção, 13 Ver no texto “Implicações do pensamento sistêmico em diversos contextos de práticas profissionais”, no Vol. I desta obra, uma descrição desse caso. 12 constituído de seis etapas.14 Em seu trabalho, adotam a definição de rede social do antropólogo britânico Barnes, a qual pode ser vista como uma definição não reificada: Cada pessoa está, por assim dizer, em contato com certo número de pessoas, algumas das quais estão em contato direto entre si e outras não (...) Creio ser conveniente denominar de rede a um campo social deste tipo. A imagem que tenho é a de uma rede de pontos, dos quais alguns estão unidos por segmentos de retas. As pessoas, ou às vezes os grupos, seriam os pontos desta imagem e os segmentos de reta indicariam que interatuam entre si (BARNES, 1954, apud SPECK; ATTNEAVE, 1973, p.19). Ao adotarem essa definição, que não inclui fronteiras para a rede social, esses autores trouxeram a possibilidade de se trabalhar com sistemas amplos não reificados. E, de fato, eles o fizeram ao atender a rede de seus pacientes e suas famílias. Entretanto, ao tentarem utilizar o mesmo procedimento para atender associações profissionais e outras instituições, tendem novamente a reificar o sistema. Descrevem o atendimento de uma associação, utilizando o mesmo procedimento desenvolvido com as redes sociais das famílias, porém sem incluir no atendimento a rede social da associação (por exemplo, a sua matriz) nem a rede social dos associados. É curioso notar que, ao ampliar sua concepção teórica da rede social de um indivíduo ou de uma família para um “sistema amplo”, no caso uma associação, os autores deixaram de considerar o aspecto não reificado da rede. Ficaram presos a uma pré-definição da associação e perderam a possibilidade de trabalhar com um sistema não reificado. 4. Sistema determinado pelo problema – perspectiva sistêmica novo-paradigmática No final da década de 1980 e durante a de 1990, vários autores retomam o trabalho com as redes sociais, desenvolvendo-o em seus respectivos países, principalmente no atendimento a famílias multi-problemáticas: na Argentina, Dabas (1993; 1995), Dabas e Najmanovich (1995); na Bélgica e na França, Elkaim (ELKAIM et al 1987/1989); na Suécia, Klefbeck (s.d./1995/1996); nos Estados Unidos, Sluzki (1990) e Minuchin (Minuchin et al (1999/1998). Dentre eles, de grande importância para nosso trabalho foi tomar conhecimento de duas experiências realizadas na Suécia, relatadas por Klefbeck (1995; 1996). Em uma delas, Klefbeck, um psiquiatra, retoma o processo de atendimento da rede social de pacientes com sofrimento mental, tal como descrito por Speck e Attneave, para atender os pacientes que o procuram em uma unidade de crise de um hospital geral. Como primeiro passo, ainda na unidade de crise do hospital, com a ajuda da pessoa demandante da consulta, ele monta um mapa da rede social. Daí em diante, desenvolve o atendimento da rede identificada na casa da família do demandante ou em local próximo a essa. Numa outra experiência relatada, ele amplia ainda mais a rede a ser atendida: num programa de mobilização da rede social de famílias previamente definidas como incapacitadas para cuidar de seus filhos – desenvolvido por uma equipe de saúde, da qual Klefbeck é membro, na comunidade de Botkyrka, na periferia de Estocolmo – com o atendimento da rede busca-se evitar a retirada das crianças de suas famílias e o rompimento de seus vínculos afetivos. O contato com essas experiências de Klefbeck se deu em 1995, num workshop do qual nós três - autoras deste livro - participamos. Exatamente naquele ano, uma de nós estava finalizando uma pesquisa-ação e redigindo seu relato, parte de sua dissertação de mestrado sobre a política de assistência à pessoa com deficiência, em Belo Horizonte (Aun, 1996)15, e considerou que o conceito 14 Esse procedimento encontra-se descrito de forma detalhada no Vol. III desta obra, no texto “Coordenando os Encontros Conversacionais do ‘Sistema Determinado pelo Problema’, a partir da concepção teórica do ‘processo da rede’”. 15 A pesquisa-ação relatada na dissertação de Aun (1996) está resumidamente apresentada no texto “O processo de atendimento sistêmico: passos para sua realização”, no Vol. II, Tomo I desta obra. 13 de rede social seria útil para descrever os sistemas com os quais tinha trabalhado e que tinham sido constituídos a partir da noção de "sistema determinado pelo problema" de Goolishian e Winderman (1989/1988). Percebeu também que a forma de Klefbeck coordenar a assembléia de rede – no atendimento da rede de uma família simulada – poderia ser utilizada na coordenação de grandes assembléias em políticas sociais que pretendiam ser participativas. Desde então, associando esses dois conjuntos de noções – redes sociais e sistema determinado pelo problema – temos trabalhado com grandes sistemas, mantendo sua complexidade. A contribuição teórica de Goolishian e Winderman trouxe uma diferença significativa para nossas práticas sistêmicas. Goolishian e Winderman (1989/1988) propõem um conjunto de noções coerentes com os três pressupostos do pensamento sistêmico novo-paradigmático – complexidade, instabilidade e intersubjetividade – conforme o quadro de referência organizado por Esteves de Vasconcellos (1992; 1995; 2002). As noções propostas por esses autores propiciam uma alternativa de solução ao problema que vem sendo colocado: como dividir o sistema amplo para atendê-lo, sem perder sua complexidade. Referindo-se ao processo de terapia, Goolishian e Winderman (1988/1989) definem o sistema terapêutico – assim como qualquer sistema social – como um sistema lingüístico, o que lhes permite prescindir de definições diferentes para sistema familiar, sistema amplo, sistema mais amplo que a família. Segundo esses autores, é a estrutura da ecologia de significados que determina quem faz o que a quem, nos sistemas humanos. O sistema interacional relevante para qualquer problema em estudo está determinado na linguagem, não na estrutura social ou no papel. A dinâmica organizacional destes sistemas de significados, que existe na linguagem, determina os diversos comportamentos e problemas pelos quais a consulta terapêutica é demandada. E isto é assim, desde o momento em que trabalhamos com indivíduos que tem problemas consigo mesmos, ou também com vários indivíduos que consultam em função de um problema (p.22). É importante ressaltar que Goolishian e Winderman estão concebendo os sistemas sociais humanos como "sistemas lingüísticos". A nosso ver, isso corresponde à concepção da família e de outros sistemas sociais como sistemas cuja organização é distinguida como uma "rede de conversações", conforme proposto por Méndez, Coddou e Maturana (1998/1988). Com o objetivo de uma abordagem terapêutica, Goolishian e Winderman pretendem ultrapassar os “sistemas predeterminados a partir de definições sociais tradicionais consensuais” e, assim, abandonar os modelos de tratamento tradicionalmente "definidos por conceitos tais como individual, conjugal, familiar e outros sistemas sociais mais amplos” (p. 23). Propõem, então, a noção de Sistema Determinado pelo Problema – SDP, para o sistema a tratar, com o que, ultrapassando as relações de “consangüinidade e os limites organizacionais e legais”, evitam a perspectiva reificante e mantém a complexidade do sistema abordado. O SDP é definido “a partir daqueles que estão ativamente comprometidos em uma interação lingüística (…), enfrentando um problema, ou estando em posição antagônica” (p.23). Assim, podemos afirmar que o SDP se constitui de todos aqueles que estão envolvidos na definição da situação como um problema, inclusive o profissional ou a equipe de atendimento. Isso significa que o SDP constitui-se de uma variedade de pessoas em posições diferentes com relação à sitiuaçãoproblema, que, quando participam de uma conversação em conjunto, enriquecem-na e contribuem com diferentes pontos de vista. Como se vê, a definição do sistema a partir da situação-problema considera a complexidade do sistema. Como se trata de um sistema lingüístico composto pela interseção dos campos de experiências subjetivas de seus diversos participantes, ele está em constante evolução; podem ocorrer mudanças no número e tipo de atores que o compõem, segundo evolui também a definição da situação-problema em torno da qual se constitui o sistema, ao longo do processo de Atendimento 14 Sistêmico. Como se vê, essa definição permite que o profissional acompanhe a instabilidade do sistema. Por sua vez, a situação-problema é definida como uma “experiência em comum de desacordo sobre um fenômeno condutual percebido” pelos diversos participantes que compõem o SDP. Note-se a coerência com a dimensão da intersubjetividade: a situação-problema é coconstruída ao longo de todo o processo. Enquanto percebida como tal, a situação-problema mantém os atores unidos na conversação e quando considerada como não mais existindo como situação-problema, dissolve-se o SDP, acompanhando o ritmo de evolução do sistema.16 Goolishian e Winderman se preocupam em definir o SDP “independentemente de qualquer convenção social a priori, limite ou agrupamento de indivíduos (por exemplo: família nuclear, família extensa, comunidade, associação etc.)” (p. 23). Ao contrário, sua definição depende do observador, ou melhor, dos observadores – profissionais ou equipe de atendimento, clientes e todos os outros atores sociais que compartilham o problema. Como se pode ver, esse conceito evita a reificação do sistema e é coerente com a "perspectiva construtivista" proposta por Fruggeri e Matteini para se definirem os sistemas amplos, a qual corresponde à dimensão da intersubjetividade, que, junto com as dimensões da complexidade e da instabilidade, constitui o quadro de referência de Esteves de Vasconcellos. Enfim, devemos responder à pergunta proposta: como atender os sistemas amplos mantendo sua complexidade? Usaremos um exemplo fictício de uma "intervenção" em uma escola. A direção, os professores e vários pais de alunos de uma escola do segundo grau queixavam-se de indisciplina dos jovens. Os profissionais responsáveis pelo Atendimento Sistêmico, juntamente com a escola e alguns pais, definiram de forma positiva17 a situação-problema como "elaboração de regras de conduta para a escola e para a família". A partir desta situação-problema, definiram o SDP como constituído pelos pais, os alunos, a direção da escola, os professores, os funcionários administrativos, o que cria um sistema muito amplo. Em vez de atender a cada "subsistema", perdendo a complexidade do sistema amplo, os profissionais, juntamente com alguns membros da escola, dividiram o sistema em vários SDPs pequenos, a partir das classes de alunos. Assim, foram constituídos vários SDPs como o seguinte: os alunos de uma classe, seus pais, seus professores, um ou dois membros da diretoria da escola, os funcionários administrativos diretamente envolvidos com aquela classe. Cada um destes pequenos SDPs foi atendido em um certo número de Encontros Conversacionais. Em cada um dos pequenos SDPs, foi mantida a complexidade correspondente à do SDP completo. No texto "O processo de atendimento sistêmico: passos para sua realização", neste Vol.I, Tomo I, encontra-se uma descrição detalhada desse procedimento de divisão do sistema amplo em sistemas menores do que o original, mantendo sua complexidade. Na EquipSIS, temos integrado a noção de Sistema Determinado pelo Problema à noção de rede social, constituindo o sistema a abordar ou rede em torno de uma situação-problema. Trabalhando no contexto de Atendimento Sistêmico, temos adotado essa concepção de Sistema Determinado pelo Problema – SDP. Ao longo do tempo, sistematizamos nossas práticas, integrando 16 Ver o texto “Uma nova identidade para o profissional que lida com as relações humanas”, no Vol. I, Tomo I. 17 Os termos "definir de forma positiva o problema" ou "definir positivamente o problema" não devem ser confundidos com as noções de "redefinição do sintoma" ou "positivação do sintoma", apresentadas no texto "Paradoxo e intervenções para a mudança", no Vol. II, Tomo II. O texto "O processo de atendimento: passos para sua realização", neste Vol. II, Tomo I, explica o que significa "definir de forma positiva o problema". 15 a noção de SDP à de “atendimento sistêmico”, tal qual o temos definido.18 Assim, criamos A Metodologia de Atendimento Sistêmico, que distinguimos como coerente com os três pressupostos do novo paradigma da ciência – complexidade, instabilidade, intersubjetividade –, o que viabiliza práticas sistêmicas novo-paradigmáticas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUERSWALD, Edgar H. D. Un trabajo en red poco razonable. Sistemas Familiares, Buenos Aires, Año 11, no. 2, ago 1995, 17-29. Original inglês, 1993. AUERSWALD, Edgar H. El enfoque interdisciplinario y el ecologico. In: Ackerman, Nathan W. y otros. Grupoterapia de la familia. Buenos Aires: Ediciones Hormê S. A. E., 1976. Original inglês, 1968. AUN, Juliana Gontijo. 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