no âmbito privado ou no público na guerra e na paz Afeganistão. Albânia. Alemanha. Andorra. Angola. Antígua e Barbuda. Antilhas Holandesas. Arábia Saudita. Argélia. Argentina. Arménia. Aruba. Austrália. Áustria. Azerbeijão. Bahamas. Bahrein. Bangladesh. Barbados. Bélgica. Belize. Benin. Bermudas. Bielo-Rússia. Birmânia. Bolívia. Bósnia Herzegovina. Botsuana. Brasil. Brunei. Bulgária. Burkina-Faso. Burundi. Butão. Cabo Verde. Camarões. Cambodja. Canadá. Cazaquistão. Chade. Chile. China. Chipre. Colômbia. Congo (Brazaville). Coreia do Norte. Coreia do Sul. Costa do Marfim. Costa Rica. Croácia. Cuba. Dinamarca. no norte e no sul Djibouti. Egipto. El Salvador. Emirados Árabes Unidos. Equador. Eritreia. Eslováquia. Eslovénia. Espanha. Estados Independentes da Melanésia. Estados Independentes da Micronésia. Estados Independentes da Polinésia. Estados Unidos. Estónia. Etiópia. Filipinas. Finlândia. França. Gabão. Gambia. Gana. Geórgia. Granada. Grécia. Gronelândia. Guatemala. Guiana. Guiana Francesa. Guiné Equatorial. Guiné. Guiné-Bissau. Haiti. Holanda. Honduras. Hungria. Ilhas Comoros. Ilhas Fiji. Ilhas Maurícias. Ilhas Reunião. Índia. Indonésia. Irão. Iraque. Irlanda. Islândia. não mais violência contra as mulheres Israel. Itália. Jamaica. Japão. Jordânia. Kuwait. Laos. Lesoto. Letónia. Líbano. Libéria. Líbia. Liechtenstein. Lituânia. Luxemburgo. Macedónia. Madagáscar. Malásia (Federação). Malawi. Maldivas. Mali. Malta. Marrocos. Martinica. Mauritânia. México. Moçambique. Moldávia. Mónaco. Mongólia. Montenegro. Namíbia. Nauru. Nepal. Nicarágua. Níger. Nigéria. Noruega. Nova Zelândia. Oman. Palau. Palestina. Panamá. Paquistão. Paraguai. Peru. Polónia. Porto Rico. Portugal. Qatar. não a toda a forma de violência Quénia. Quirguistão. Reino Unido. República Checa. República da África do Sul. República Democrática do Congo. República Dominicana. Roménia. Ruanda. Rússia. Sahara Ocidental. Samoa. São Marino. São Tomé e Príncipe. Seicheles. Senegal. Serra Leoa. Sérvia. Singapura. Síria. Somália. Sri Lanka. Suazilândia. Sudão. Suécia. Suíça. Suriname. Tailândia. Taiwan. Tajiquistão. Tanzânia. Timor-Leste. Togo. Tonga. Tunes. Turquemenistão. Turquia. Ucrânia. Uganda. Uruguai. Uzbequistão. Vaticano. Venezuela. Vietname. violência contra as mulheres. não há razões. não há desculpas. não há direito. Vuanatu. Yémen. Zâmbia. Zimbabué Globalização e novas formas de violência contra as mulheres Documentos, testemunhos, materiais de difusão, estatísticas, slogans, cartazes constituem os discursos através dos quais os movimentos Globalização e novas formas de violência contra as mulheres é uma campanha no âmbito do feministas de todo o mundo manifestam a sua oposição e resistência à Globalização e novas formas de violência contra as mulheres violência contra as mulheres e a toda a forma de violência. projecto RAAC Rede de acção e aprendizagem comunitária sobre género, coordenado por Le Monde selon les femmes, Bélgica, em cooperação As imagens e textos aqui reunidos destacam algumas das suas mani- G Corpos sexuados das mulheres festações, algumas delas de extrema crueldade. Mostram a permanên- com ACSUR - Las Segovias, Espanha; CONAFED, República Democráticado Congo; CECYM Centro de Encuentros Cultura e Mulher, Argentina e GRAAL, cia da G Lugar comum, femicídios As imagens e textos dão conta das relações entre a violência directa Portugal. Ano 2005. TEXTOS G SILVIA CHEJTER l REVISÃO G BEATRIZ RUFFA E GRACIELA violência através das épocas. G Na guerra e na paz que sofrem as mulheres, a sua intensificação, e as novas modalidades DE TEXTOS que acarreta a globalização neoliberal das últimas décadas. VARELA l WWW.CECYM.ORG.AR ILUSTRAÇÃO DESIGN G MIRIAN LUCHETTO G PAULA LÓPEZ G Não à impunidade A exploração sexual e comercial de mulheres, a escravatura para prostituição, os femicídios, as violações na vida quotidiana ou em situação Realizado com o apoio da FUNDACIÓN HEINRICH BÖLL de conflito armado, são práticas que se inserem numa sociedade, na Documento realizado com apoio da UNIÃO EUROPEIA qual o corpo sexuado das mulheres pode ser um objecto de uso, de Os conteúdos são da responsabilidade da CECYM e não podem considerar-se em nenhum caso expressão da posição da União Europeia. LE MONDE SELON LES FEMMES BÉLGICA ACSUR LAS SEGOVIAS ESPANHA CONAFED REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO CENTRO DE ENCUENTROS CULTURA E MULHER ARGENTINA GRAAL PORTUGAL exploração, de humilhação e de difamação. frequente. tolerada. impune. Globalização e novas formas de violência contra as mulheres NO SÉCULO VINTE E UM, que se inicia com manifestações de violência e terror espalhadas a nível planetário, com povoações submetidas à fome, às bombas e a sofrimentos obscenos pelo seu horror reiterado, pareceria difícil atrair a atenção sobre a violência que se exerce sobre as mulheres. A violência exercida pelos homens sobre as mulheres, tanto na paz como na guerra, A globalização não é a causa da violência sexista, mas o incremento da iniquidade entre homens e mulheres, o incremento das brechas entre o Norte e o Sul e entre ricos e pobres, são parte dos contextos que geram mais constrangimentos na vida quotidiana das mulheres, e portanto as tornam mais vulneráveis à violência. no âmbito público como no privado, ao longo da história ou na actualidade, é um facto frequente, tolerado e impune. Trata-se de uma violência estrutural e sistemática, cuja especificidade radica no facto de ser dirigida intencionalmente contra as mulheres, pelo facto de serem mulheres. Se bem que a aceitação ou a tolerância das diferentes manifestações de violência mudem consoante os tempos e as culturas, hoje já não é possível desconhecer o carácter social e sexista da violência contra as mulheres . G O número de mulheres que ingressa na força de trabalho mundial nunca foi tão elevado, mas elas têm que fazer frente às taxas de desemprego mais elevadas e aos salários mais baixos. Representam 60 por cento dos 550 milhões de trabalhadores pobres; isto é dizer, 330 milhões de trabalhadoras pobres. Se a esta cifra se somar os 77.8 milhões de desempregadas, significa que se têm que criar 400 milhões de empregos decentes para que as mulheres pobres e desempregadas possam superar a pobreza. FONTE G OIT, RELATÓRIO GÉNERO, FORMAÇÃO E TRABALHO, 2004 G A população de mulheres migrantes superou amplamente a população de homens migrantes desde o decénio 1980. 72% das trabalhadoras migrantes internacionais encontram-se na Ásia, 11% na Europa, 8% nos Estados Unidos e 9% repartem-se por outros lugares. Calcula-se que há em todo o mundo cerca de 20 milhões de refugiados e 20 milhões de deslocados internos. As mulheres e as crianças representam cerca de 80% da maioria das populações de refugiados. Além dos problemas comuns a todos os refugiados, as mulheres e as meninas estão expostas à discriminação, à violência e à exploração sexual. Entre os homens que agridem e exploram as mulheres refugiadas encontramos militares, funcionários de imigração, outros refugiados, grupos étnicos rivais. FONTE G RELATÓRIO RADIKA COOMARASWAMY, COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS, NAÇÕES UNIDAS, 1994 Globalização neoliberal é concentração e centralização da economia no âmbito mundial. Implica: Globalização neoliberal é além disso dívida externa: continuidade das políticas coloniais e imperialistas. Globalização neoliberal é sustentar essa política a qualquer custo e com qualquer meio, incluindo a guerra. Globalização neoliberal é também uma nova ordem de género Reorganização das economias em blocos comerciais internacionais Fronteiras abertas para os capitais e as mercadorias Enfraquecimento das economias regionais e de subsistência Protagonismo de grandes empresas transnacionais Proeminência do mercado sobre o Estado Retrocesso dos Estados nacionais Menor regulação económica por parte do Estado Políticas de ajuste estrutural Feminização da força de trabalho: aumento da actividade feminina em trabalhos pouco qualificados e mal pagos Privatizações Feminização da sobrevivência: comunidades inteiras que dependem das mulheres para a sua sobrevivência Redução do gasto social Feminização das migrações Desemprego; deterioração nas condições de trabalho; crescimento do sector informal da economia Mercantilização dos seres humanos e dos corpos sexuados das mulheres Crises e recessão Industrialização da exploração sexual, incremento a escalas inusitadas da prostituição e de escravatura sexual de mulheres Pobreza crescente, fome Corpos sexuados das mulheres Intersecção entre a exploração sexual e a exploração económica A globalização capitalista implica um mercado de seres humanos nunca visto na história. Desde há uns trinta anos, a mudança mais dramática no comércio sexual foi a sua industrialização, trivialização e difusão massiva à no norte escala mundial. Esta industrialização, ora legal ora ilegal, e que produz ganhos de milhões de dólares, criou um mercado em que milhões de mulheres e crianças foram transformadas em mercadorias. e no sul Este mercado foi gerado pelo crescimento massivo da prostituição, pelo desenvolvimento sem precedentes da indústria turística, pelo impulso e a normalização da pornografia, assim como também pelas necessidades de mais violência acumulação de capital. A industrialização do comércontra as mulheres cio sexual e a sua transnacionalização são os factores fundamentais que tornam a prostituição contemporânea qualitativamente diferente da prostituição de ontem. G RICHARD POULIN, O TEMPO DA VENALIDADE TRIUNFANTE. OTAVA, CANADÁ 2004 FONTE O “sexo”, isto é, o corpo sexuado das mulheres é um “produto de consumo” do mercado globalizado: pornografia, procura de mulheres para casamentos, turismo sexual, bordéis, centros eróticos, etc. Se a globalização é estar submetido às leis de mercado, a prostituição do século XIX esteve tão submetida às leis de mercado como a actual. Mudaram as tecnologias e a dimensão económica A prostituição de mulheres é rentável e gera benefícios a organizações que operam ilegalmente na exploração sexual, no tráfico e escravatura sexual de mulheres. Também gera benefícios a outros sectores económicos que operam legalmente (meios de comunicação, publicidade, empresas de recreação) e é fonte de divisas para os países. A exploração sexual de mulheres cresceu com as guerras e as ocupações militares e mais recentemente com a indústria turística. G São muito mais as mulheres dos países do Sul que são objecto de escravatura para a prostituição nos países do Norte, do que o inverso. Nos últimos 30 anos, e somente na Ásia, a escravatura de mulheres e crianças para exploração sexual alcança os 30.000 milhões de pessoas. G WWW.UNICEF.ORG FONTE G A escravatura de mulheres e crianças com a finalidade de exploração sexual no Sul e no sudeste asiático estima-se em 400.000 pessoas por ano. Os estados independentes da ex-União Soviética, da Europa de Leste e Central, constituem o segundo grupo em ordem de importância (175.000 pessoas por ano). Segue-se a América Latina e Caribe (cerca de 100.000 pessoas por ano) e África (50.000 pessoas). FONTEG O MODERNO MERCADO DE ESCRAVAS, CAMBRIDGE M.A., UUSC, 2001 do problema, mas não as leis que regulam o mercado Prostituir não é uma prática individual. Não é tão-pouco uma perversão sexual ou uma prática que permaneça limitada à privacidade das pessoas. É uma prática colectiva, organizada, que esconde práticas institucionalizadas, muitas vezes ilegais, e impulsionada por milhões de clientes, na sua imensa maioria, homens. Porque é que um homem sente a necessidade de pagar um corpo de mulher? (…) Nunca ninguém soube explicar o porquê dessa escolha. Há alguns que argumentam que o sexo tem pouco que ver, que para o homem significa mais a aquisição momentânea de uma ilusão: a aventura. Outros dizem que, em troca, o homem compra, por poucas moedas, o domínio total e imediato sobre um corpo feminino e a isto ele chama prazer. Outros falam de uma busca de companhia, alguém com quem conversar. De facto, muitas prostitutas falam de homens casados que não buscam ter sexo, mas que se contentam com o falar de si mesmos, de suas mulheres, dos seus problemas mais prementes. Outros ainda sustentam que o acasalamento com uma prostituta reproduz cegamente, fatalmente, o acasalamento com o Fado, a Moira grega, que põe em comunicação o homem com o mais além. O facto é que ao longo dos séculos se foi construindo uma mitologia da prostituição, o que muito frequentemente contribuiu para ocultar o sofrimento individual da prostituta. Escreveram-se rios de palavras, infinidade de novelas. Pintaram-se centenas de quadros, compuseram-se dezenas de textos musicais sobre a mulher à venda. Todas estas obras dão como assente que as mulheres estiveram à venda desde sempre, que se trata, tal como diz o lugar comum, do ofício mais antigo do mundo, um ofício imutável e inextinguível tanto nas antigas como nas modernas cidades. Admite-se que talvez possam mudar as formas e os tempos, mas a relação baseada no dinheiro, na prontidão, no poder e no sonho conti- nuam sendo a mesma. E é que, com efeito, se trata de um conjunto de elementos que actuam poderosamente sobre a imaginação masculina. Mas o cliente que vai com uma prostituta, considera-a alguma vez como uma mulher? Ou a presença do mito impede-o e torna-o surdo, cego e mudo? Reflecte alguma vez o cliente sobre a vida que a prostituta possui, para além de seu ofício? Faz uma ideia de como pode ter chegado a esse lugar e a essa circunstância de comerciar o seu corpo, correndo o risco de ser assassinada, assaltada, golpeada, insultada e humilhada? Seguramente algo deve bulir no seu cérebro no momento em que compra mercadoria humana. (…) O mito do corpo sem defesa e sem vontade, sem história e sem sentimentos, actua como um narcótico sobre os seus mais nobres pensamentos e seus olhos fazem qualquer coisa para não ver nem um centímetro mais além do que querem ver. As suas mãos tocarão unicamente o que desejam tocar e a sua mente calar-se-á e buscará deixar-se embalar sobre as ondas de um cerimonial antigo e misterioso, que o torna por um momento tenebroso e anónimo como uma noite sem lua. Não existe uma grande distância entre uma secreta fantasia de violação e a possessão cega de um corpo feminino à venda. Trata-se em ambos casos de uma depredação. Só que a violação é uma depredação não contratada, portanto mais selvagem e feroz, enquanto que a prostituição é uma depredação contratada e consentida, portanto entra no marco dos rituais de uma cidade e não provoca sentimentos de culpa profundos. G FRAGMENTOS DA CARTA ABERTA DA ASSOCIAÇÃO CONTROPAROLA AOS CLIEN- FONTE TES DA PROSTITUIÇÃO, ANO V, Nº 52, ITÁLIA, 4 DE MARÇO DE 1999 Lugar comum, femicídios Todos os dias e em todas as partes, as mulheres são assassinadas. Pelos seus maridos, pelos seus companheiros, pelos seus ex-companheiros. no espaço público Há assassinatos relacionados também com o crime organizado —a prostituição, a pornografia chamada ‘snuff’. Em outros casos, trata-se de crimes em situações de con- e no privado flito armado ou guerras. Ou na rua. Todos são crimes ligados à sexualidade. Todos, crimes pelo facto de serem mulheres. Femicídio é o assassinato de mulheres por razões associadas ao seu género. O conceito de não mais violência generalizado da violência baseada na ini- contra as mulheres femicídio indica o carácter social e quidade de género, questiona os argumentos que tendem a culpar e a representar os agressores como “loucos” ou como possuídos por forças exteriores, incontroláveis por si mesmos, o amor ou a paixão. G Em Ciudad Juárez, México, 370 mulheres assassinadas, 72 corpos não identificados, 85 jovens desaparecidas. Um total de 527 mulheres assassinadas e desaparecidas nos últimos 12 anos. Os assassinatos permanecem impunes. Nos inícios de 2003, houve 21 homens acusados de 40 assassinatos. Acusados, mas não condenados. Há uma grande diferença. Só um deles foi condenado em 2003 pelo assassinato e violação de uma mulher. Nenhuma outra pessoa foi condenada. FONTEG RELATÓRIO MORTES INTOLERÁVEIS, AMNISTIA INTERNACIONAL, 2003 G A taxa mais alta de femicídios na Europa corresponde à Roménia, com 12.9 mulheres assassinadas anualmente por milhão de habitantes. Na Bélgica é de 10.61, em Portugal de 5.07 e em Espanha de 3.27. A taxa mais alta do mundo é a da Colômbia. G FONTE DIÁRIO EL PAÍS, ESPANHA, 2004 Femicídios, violações, assédio sexual, maus tratos, escravatura G Na Costa Rica no período 1990-1999, 184 mulheres foram assassinadas; 33 desses homicídios ocorreram quando as mulheres se separaram dos agressores ou pretenderam fazê-lo. gravidez resultante de FEMICÍDIO NA COSTA RICA, 2002 situações abusivas, partos G Na Argentina, entre 1997 e 2003, mutilações genitais, repressão da sexualidade feminina, matrimónios forçados, abortos e A LA MUJER MALTRATADA, ARGENTINA, 2003 G de mulheres, prostituição, FONTE A. CARCEDO CABAÑAS E MONSERRAT forçados, abusos sexuais, prostituídas, jamais foi esclarecido, apesar das numerosas denúncias, reclamações e pedidos de relatórios às autoridades. FONTEG RELATÓRIO, CENTRO DE APOYO SAGOT RODRÍGUEZ, BALANÇO MORTAL, foram assassinadas 1284 mulheres na província de Buenos Aires. Nem sempre se descobre quem foi o homicida. Nos casos em que se conhece o autor do homicídio, 70% corresponde a quem foi seu companheiro, ex-companheiro, concubino, noivo ou amante. FONTEG FEMICÍDIO ÍNTIMO, CENTRO DE ENCUENTROS CULTURA Y MUJER, ARGENTINA, 2005 G Na Guatemala, em 2003 foram assassinadas 383 mulheres; 523 em 2004 e 198 na primeira metade de 2005. Um total de 1104 mulheres em menos de três anos. FONTEG CIMAC NOTICIAS, MÉXICO, 2005 G No Canadá, de 1961 a 1990, foram assassinadas 2129 mulheres pelos seus companheiros. FONTEG ANDRÉE CÔTÉ, A RAIVA NO CORAÇÃO, BAIE-COMEAU, CANADÁ, 1991 G 500 mulheres dos países originários foram assassinadas ou desaparecidas. FONTE infanticídios selectivos. G No Mar del Plata, Argentina, o assassinato e desaparecimento de 30 mulheres, muitas delas mulheres G ROUBARAM A VIDA DE NOSSAS IRMÃS. DISCRIMINAÇÃO E VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES AUTÓCTONES. AMNISTIA INTERNACIONAL, CANADÁ, 2004 Na guerra e na paz Não é a guerra que cria as condições que fazem com que as mulheres sejam invisíveis, com que a violência sexista não seja reconhecida como tal, que as vítimas de violação sejam estigma- ontem e hoje tizadas e que aquelas que se atrevem a denunciar sejam desterradas. Essas condições existem antes que os conflitos armados se iniciem. não a toda a forma Estão também presentes em sociedades de violência que não entraram necessariamente em guerra. Os testemunhos mostram que as mulheres estão particularmente expostas à violência em tempos de guerra e de conflito armado, mas que esta violência é indissociável do seu estatuto de mulheres e do não mais violência colectividade e na sociedade em conjunto. contra as mulheres lugar que ocupam na família, na G FONTE AGNÈS CALLAMARD, ROMPENDO O SILÊNCIO. VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NA GUERRA E NAS SITUAÇÕES DE CONFLITO ARMADO. SOB A DIRECÇÃO DE INDAI LOURDES SAJOR (ASIAN CENTER FOR WOMEN´S HUMAN RIGHTS, 1998) G Nas primeiras semanas da Guerra de 1914, a violação das mulheres do grupo inimigo parece ter sido um fenómeno rotineiro. A agressão contra as mulheres situa-se no cruzamento entre o desaparecimento ou revogação das regras comuns da vida social e o sentimento de impunidade desenvolvido por massas de homens bem apetrechados em armas, subitamente libertados dos marcos sociais e morais nos quais estavam inseridos até então. FONTEG STÉPHANE AUDOINROUZEAU, O FILHO DO INIMIGO (1914-1918): VIOLAÇÃO, ABORTO E INFANTICÍDIO DURANTE A PRIMEIRA GUERRA, AUBIER, FRANÇA, 1995 G Nas guerras, prisões, campos de concentração, as mulheres são violadas, torturadas, mutiladas. Se se observar de perto, constata-se que essas formas de crueldade física afectam os órgãos associados à reprodução biológica e à feminilidade. (….). Esses alvos específicos apontam para o mais humano no Homem, o rosto e os órgãos de reprodução. As mulheres são também duplamente vítimas, enquanto seres humanos e enquanto futuras portadoras de crianças, e são elas quem se deseja E BECKER ANNETTE, REENCONTRAR A GUERRA, -se, e em alguns casos, são vendidas a homens muito mais velhos (…) A incapacidade das mulheres submetidas a violência doméstica para conseguir o divórcio de um marido que as maltrata, leva-as com frequência a suicidarem-se. GALLIMARD, FRANÇA, 2000 FONTE humilhar primeiro nesse momento de conquista que é a invasão. Deste modo, os corpos torturados e violados são a prova da potência do vencedor. G FONTE STHÉPHANE AUDOIN-ROUSEAU G A SITUAÇÃO DAS MULHERES E DAS MENINAS NO AFEGANISTÃO, YAKIN ERTÜRK, G As mulheres do Leste e do Norte da RELATORA DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS Bósnia levam consigo durante toda a vida a sua própria história e a de outras mulheres e raparigas. Mulheres e raparigas foram seleccionadas entre a multidão, conduzidas a um suposto interrogatório, examinadas, foram objecto de burlas, golpeadas e obrigadas a ter relações sexuais de todo tipo e maneira: com objectos, sozinhas, em grupo, com um soldado, com vários soldados... cada dia, cada noite, durante semanas, durante meses. As mulheres deviam ficar grávidas. Nesse estado, continuavam a ser violadas e mantidas isoladas até já não poderem abortar. SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, NAÇÕES G FONTE MÓNICA HAUSER, A PERSPECTIVA DA VÍCTIMA, ALEMANHA, 1997 UNIDAS, 2003 G Nestes lugares era frequente que dessem a escolher a uma prisioneira entre a violação e o aguilhão. BOGOTÁ, 2001 G Depois da invasão do Kuwait pelo Iraque em 1990, estima-se que pelo menos 5000 mulheres do Kuwait foram violadas por soldados iraquianos. Na Argélia, mulheres de aldeias inteiras foram violadas e assassinadas. Nos últimos cinco anos, 1600 meninas e mulheres foram sequestradas e reduzidas à condição de escravas sexuais por grupos itinerantes de islamitas armados. G VALERIE OOSTERVELD, AS MULHERES FONTE PRESA DE GUERRA, WWW.GUIAGENERO.COM G NUNCA MAIS, RELATÓRIO COMISSÃO FONTE NACIONAL SOBRE O DESAPARECIMENTO G O número de mulheres e meninas DE PESSOAS, EUDEBA, ARGENTINA, 1984 mutiladas em África e algumas partes da Ásia aumentou para 100 milhões em 1994. Segundo a OMS, calcula-se que outros dois milhões de meninas correm o mesmo risco cada ano. G Uma manhã chegaram os paramilitares a Mapiripán (…). À força metiam-se nas casas para que os atendessem, para que lhes dessem comida e lhes lavassem a roupa. Às mulheres manuseavam-nas, gritavam-lhes coisas obscenas e a muitas violaram-nas. FONTEG TESTEMUNHO DE UMA MULHER DESLOCADA, COLÔMBIA, MULHER G Está generalizada a prática de obrigar as jovens menores de idade a casarem- E MENINAS NA COLÔMBIA, ED. ANTROPOS, E CONFLITO ARMADO. RELATÓRIO SOBRE VIOLÊNCIA SOCIO-POLÍTICA CONTRA MULHERES G RELATÓRIO FONTE RADIKA COOMARASWAMY, COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS, NAÇÕES UNIDAS, 1994 G Ainda que a maioria das extorsões cometidas contra as mulheres —das que se conhecem— tenham ocorrido no leste do país (em regiões que anteriormente estavam sob o controle dos movimentos rebeldes), as zonas sob a autoridade do antigo governo (leais ao Presidente Kabila) não estiveram isentas delas. Hoje, porém, nos postos de controle, os soldados forçam as mulheres que regressam do mercado, para submetê-las a agressões sexuais. Estes abusos cometem-se inclusivamente nas prisões do governo, onde as mulheres acusadas de cumplicidade com os rebeldes são obrigadas a prostituir-se. As histórias sórdidas de escravatura sexual são inumeráveis. Como se isto não fosse suficiente, as mulheres tiveram consequentemente que suportar o repúdio dos seus parentes próximos. Em algumas comunidades são frequentemente expulsas e são responsabilizadas pela sua desgraça. Isto soma-se ao desamparo moral das mulheres, que temem, além disso, ficar grávidas ou adoecer com VIH/Sida. Com efeito, as violências sexuais cometidas têm várias consequências indirectas graves. Como as mulheres congolesas representam 80% da força de trabalho agrícola, e dado que a ameaça de agressão as afasta das zonas agrárias, a segurança alimentar de comunidades inteiras fica afectada. As mulheres vítimas de violência não são apenas as que foram assassinadas, mas também as incontáveis que sobreviveram e ficaram marcadas pela violência impune de seus verdugos e torturadores. G Muitas mulheres foram violadas durante o genocídio do Ruanda e foram infectadas com VIH/Sida. Há que falar de sobreviventes (…) As mulheres vítimas de violação e de Sida não foram assassinadas durante os 100 dias que mudaram a história do Ruanda. Mas elas foram golpeadas por outra forma de morte atroz, inqualificável e insidiosa. Uma morte lenta. Um extermínio invisível. G FRANÇOISE NDUWIMANA, O DIREITO O sexismo revela-se ao comprovar que a maioria dos agressores são homens e, simultaneamente, pelas FONTE G PHILIPPE TREMBLAY, A TRANSIÇÃO FONTE A SOBREVIVER: MULHERES, VIOLÊNCIA POLÍTICA NA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA SEXUAL E VIH/SIDA. DIREITO E DEMOCRACIA, DO CONGO. UM DESAFIO HISTÓRICO, DIREITOS CANADÁ, 2004. E DEMOCRACIA, CANADÁ, 2005 circunstâncias e características dos homicidios Não à impunidade Hoje já não é possível ignorar o carácter social e sexista da violência contra as mulheres. Os movimentos de mulheres de todos os países do “São as mulheres mundo há décadas que não deixam de denundo mundo inteiro ciar, documentar e actuar para pôr fim à impunidade. Os movimentos de mulheres estão actuando, ensaiaram e continuam a inventar modos e caminhos muito diversos para acabar com ela. Deram-se importantes avanços a nível nacional a força motriz e internacional. É parte de uma luta por uma cidadania plena, é parte de uma luta por ampliar o conceito e a prática dos direitos humanos. É parte da luta pela liberdade, a dignidade. FONTE DA CITAÇÃO da acção das Nações Unidas” G BOUTROS-GALI, SECRETÁRIO GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, IV CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE AS MULHERES EM BEIJING,1995 G Os direitos humanos das mulheres e das meninas são parte inalienável, integral e indivisível dos Direitos Humanos universais (...). A violência sexista e todas as formas de assédio e exploração sexuais, incluindo as derivadas dos preconceitos culturais e do tráfico internacional de pessoas, são incompatíveis com a dignidade da pessoa humana e devem ser eliminadas. G FONTE SECÇÃO 1, ART. 18, DECLARAÇÃO DE VIENA, CONFERÊNCIA MUNDIAL DE DIREITOS HUMANOS: DECLARAÇÃO E PROGRAMA DE ACÇÃO DE VIENA, NAÇÕES UNIDAS, 1993 G Os Estados-Parte tomarão todas as medidas apropriadas para: a) modificar os padrões sócio-culturais de conduta de homens e mulheres, com vista a alcançar a eliminação dos preconceitos e práticas consuetudinárias, e de qualquer outra índole que estão baseadas na ideia da inferioridade ou supe- rioridade de qualquer dos sexos ou em funções estereotipadas de homens e mulheres (...). G ART.5 DO PROTOCOLO DA CONVENÇÃO FONTE CONTRA TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS MULHERES niu entre 8 e 12 de Dezembro de 2000 em Tóquio, ditou sentença sobre a responsabilidade do Imperador e do exército japonês nos crimes de escravatura sexual e outros crimes de violência sexual contra milhares de mulheres na Guerra do Pacífico (1930-1945). G Em Setembro de 1998, o Tribunal Criminal Internacional sob a jurisdição das Nações Unidas em Arusha, Tanzânia, deu a conhecer uma decisão histórica, a primeira sentença que incluiu a violação como um genocídio. O Tribunal incluiu a violação como “um acto de genocídio quando as mulheres são atacadas especificamente por serem membros de um grupo étnico específico”. G O Tribunal Internacional de Mulheres para os Crimes de Escravatura Sexual —crimes de guerra— do Exército do Japão, que se reu- G O Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (25 de Maio de 1993) e o Tribunal Penal Internacional para o Ruanda (8 de Novembro de 1994) definiram a violação como um Crime contra a Humanidade. As lutas de mais de duas décadas culminaram com o reconhecimento da violência contra as mulheres como um tema de políticas públicas e de políticas internacionais. No entanto, continua muito por fazer para que os êxitos a nível de acordos e tratados internacionais e de legislações nacionais se convertam em ferramentas, recursos e garantia real de não violência contra as mulheres em público ou em privado na guerra ou na paz G O Estatuto do Tribunal Penal Internacional define os crimes de lesa-humanidade e os de guerra; entre eles menciona expressamente a violação, a escravatura sexual, a prostituição forçada, a gravidez forçada, a esterilização forçada e toda outra forma de violência sexual. A definição de crimes de lesa-humanidade compreende também a perseguição contra um grupo ou colectividade identificável, fundada sobre diversos motivos, entre os quais o sexismo. Por outro lado, a redução à escravatura integra a lista de crimes contra a humanidade e compreende a escravatura de mulheres. Trata-se de um passo adiante para a compreensão, no plano internacional, do modo pelo qual o tráfico de mulheres se inscreve em práticas mais amplas de escravatura. G FONTE G Estou aqui há nove anos procurando uma vida melhor para os meus filhos. A minha filha tinha terminado a secundária e queria continuar estudando. Havia duas semanas que tinha começado a trabalhar. A minha filha saiu para trabalhar. Desde então, não sei se a minha filha tomou a estrada, mas ninguém soube explicar. G MÃE DE MARIA DE LOS ÁNGELES ACOSTA, FONTE CUJO CORPO TINHA SIDO ENCONTRADO EM NOVEMBRO DE 2001 NUM CAMPO ALGODOEIRO DE CIUDAD JUÁREZ, MÉXICO. MORTES INTOLERÁVEIS, AMNISTIA INTERNACIONAL 2003 Para que outro mundo seja possível, os movimentos sociais devem comprometer-se a rever as relações desiguais entre homens e mulheres; comprometer-se também a integrar nas suas análises as relações entre capitalismo, sexismo e racismo; comprometer-se a exigir o respeito pelos direitos das mulheres; comprometer-se a discutir a questão da ‘cultura da violência’, tanto nas suas práticas pessoais como colectivas. Só assim será possível demolir os fundamentos do sistema patriarcal e da globalização liberal. no norte e no sul G MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES, 2002 FONTE VALERIE OOSTERVELD, A INTEGRAÇÃO DA IGUALDADE ENTRE OS SEXOS NA CORTE PENAL INTERNACIONAL. não mais violência contra as mulheres. não a toda a forma de violência. As imagens revelam distintas perspectivas e abordagens da violência. Dão conta das suas diferentes manifestações, dos diversos cenários em que ocorre. Imagens que diferem relativamente à presença ou ausência dos corpos das mulheres e dos seus vitimadores. Mas todas elas incitam a romper o silêncio, incitam à acção, como também denunciam mitos e falsas crenças. Em oposição à mulher debilitada e vencida, aparece também a sua contrapartida: a imagem de uma mulher activa e resoluta. Faz-se presente a resistência das mulheres. A sociedade é interpelada, chamada a assumir a sua responsabilidade.