Teoria do delito. Algumas considerações sobre o

Anuncio
®
BuscaLegis.ccj.ufsc.br
Teoria do delito.
Algumas considerações sobre o causalismo e finalismo
Felix Araújo Neto *
Resumo
Cuida o presente trabalho de um breve enfoque em torno de questões
sobre a Teoria Jurídica do Delito, com especial acento no que respeita ao
conceito e elementos do delito.
O estudo decorre de recomendação do eminente Catedrático da
Universidad de Granada, Prof. Lorenzo Morrillas Cueva. E nele, além das
considerações já tão conhecidas sobre o tema, o desafio se resume no
seguinte: "para onde caminhará a teoria jurídica do delito?".
Palavras-Chave: Teoria Juridica do Delito – Teoria Finalista – Teoria
Causalista – Ação – Tipicidade – Antijuridicidade – Imputabilidade –
Punibilidade - Dolo e Culpa.
Sumário. I. Introdução. II. Brevísimas considerações sobre a evolucão da
teoría do delito. a) O Modelo Causalista. Conceito Clássico de Delito; b) O
Modelo Neokantiano. Conceito Neoclásico; c) O Modelo Finalista. III.
Conclusão. IV. Notas. V. Referências.
I. Introdução
Um dos problemas mais complexos da dogmática penal é, decerto,
revelar quais os elementos gerais para que determinado fato seja
expressamente afirmado como delito. No capítulo da Teoria Geral do Delito,
os mais cultos e renomados juristas cuidam de estudar, tentar compreender,
constatar e explicar os aspectos comuns das mais diversas figuras delitivas.
Pode-se dizer que a Teoria Jurídica do Delito, apresentando uma natureza
abstrata e generalizadora (1), é sem dúvida "la parte nuclear de todas las
exposiciones de la Parte general (2)" do Direito Penal.
Resumidamente, é importante demarcar que, na Teoria Jurídica do
Delito, o que se pretende não é verificar quais são os elementos que,
isoladamente, compõem cada um dos tipos regulados na Parte Especial.
Não! Conforme assinala o sempre referenciado Jescheck, "la teoría del
delito no estudia los elementos de cada uno de los tipos de delito, sino
aquellos componentes del concepto de delito que son comunes a todos los
hechos punibles (3)". Pode, então, aduzir-se que todo o esforço teórico
realizado pela doutrina, nesta matéria, tem sido realizado no sentido de
investigar quais são exatamente as características gerais que qualificam um
fato como delito.
Evidentemente que ao tratar desses aludidos pressupostos evoluíram
reflexões em várias vertentes, sob influxo dos mais diversos lastros
filosóficos, algumas, inclusive, colidentes em acendrado antagonismo.
Entrementes, inobstante as discrepâncias, o certo é que a profusão
sistematizada de concepções contribuiu com significativa carga para a
consolidação do Direito Penal como Ciência, embora — convenhamos —
nesta temática o progresso das idéias esteja a reclamar esforços por novas
formulações.
Em meio a essa ordem de empenho científico, vislumbrando as
diversas correntes de pensamento, o professor Navarrete(4), em sua
respeitável doutrina, assevera que se reconhece, predominantemente, como
elementos indispensáveis ao conceito de delito a ação, a tipicidade, a
antijuridicidade e a culpabilidade. Ressalta, porém, que pensadores em
minoritária parcela aduzem, ainda, a punibilidade como componente
essencial à integração do conceito de crime.
O mencionado doutrinador esclarece que se costuma atribuir ao
cientista alemão Franz Von Liszt a distinção entre os elementos: ação,
antijuridicidade e culpabilidade. De outra parte, a idéia de tipicidade se deve
às considerações científicas do também penalista alemão Ernst Beling (5).
Entretanto, para chegar ao atual ponto de indiscutível avanço científico da
Teoria Geral do Delito, deve-se ressaltar — ainda que possamos pecar por
eventual omissão de influências igualmente destacáveis —, que foram de
fundamental importância, sobretudo, as significativas contribuições teóricas
de Franz Von Liszt, Ernst Beling, Max Ernst Mayer, Edmund Mezger y
Welzel (6).
Destarte, foi com apoio nos referidos elementos básicos integrantes da
conduta punível – ação, tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade e, para
outros, também a punibilidade (7) – que a mais moderna doutrina pôde
elaborar definições formais acerca do delito, possibilitando, a margem de
qualquer polêmica, extrair conceitos eminentemente jurídico-científicos.
Neste sentido, lecionam os juristas espanhóis Cobo e Vives: "así, pues, toda
definición del delito que pretenda ser científica habrá de ser,
necesariamente, una definición básicamente formal (8)". Importante este
registro porque, sob diferentes fundamentos teóricos, a definição de delito
foi por várias décadas abordada "fuera del ámbito de lo jurídico, para
hacerse filosofía, religión o moral (9)"… De maneira que com a fixação dos
elementos supracitados, a formulação conceitual de delito passou a ingressar
no campo das valorações abstratas de caráter exclusivamente jurídico. Tanto
é que, atualmente, a doutrina agrupa as definições doutrinais em duas
importantes espécies: as definições doutrinais materiais e as formais (10).
A distinção entre as definições materiais e formais consiste em que,
para as últimas, a elaboração conceitual de delito é construída precisamente
sobre o terreno do direito penal positivo. Entre os autores que adotam o
conceito formal de delito, é de destacar-se, entre outros, Mezger e Antolisei.
De outra parte, os partidários da definição material utilizam critérios que
rompem o limite do direito positivo, lançando-se muitas vezes em uma
perspectiva psicológica, filosófica, sociológica etc. Entre inúmeros
pensadores que propugnam por este campo conceitual, pontificam, entre
outros, Carrara, Garófalo e Ferri.
Portanto, concernentemente à distinção entre estes dois grupos
conceituais, explicam Maurach e Zipf que se distinguem as concepções
material e formal a partir da função que cumpre cada uma. Para estes
autores, "el concepto formal de delito describe la extensión concreta de la
zona penal y es por ello determinante para la función de garantía de la ley
penal (ver § 10). Por el contrario, el concepto material de delito representa
la concepción de la comunidad sobre aquello que puede ser prohibido
mediante una amenaza de pena, de suerte que es un importante instrumento
político criminal. (...) Además, este concepto representa, para la
criminología, el criterio mediante el cual dicha disciplina extrae su objeto
de investigación a partir de las ciencias primarias (sociología, psicología,
etcétera) (11)".
Desta forma, observando que o conceito de crime pode apresentar
várias definições, a depender dos critérios enfocado pela doutrina, apenas a
título de curiosidade e para bem confrontar as distintas concepções, o
conceito de crime, na vertente material de índole filosófica, pode ser
estabelecido como "(...) es el caso de la famosa definición de Carrara, para
quien el delito era ‘la infracción de la Ley del Estado, promulgada para
proteger la seguridad de los ciudadanos, resultante de un acto externo del
hombre, positivo o negativo, moralmente imputable y políticamente dañoso
(12)’". Na perspectiva material sociológica, "relevante es la definición de
Garófalo para quien ‘el delito social o natural’ ‘es una lesión de aquella
parte del sentido moral que consiste en los sentimientos altruistas
fundamentales (piedad y probidad) según la medida en que se encuentran en
las razas humanas superiores, cuya medida es necesaria para la adaptación
del individuo a la sociedad (13)’".
De outro lado, inteiramente diversa é a definição formal de delito. Sob
este prisma, para alguns juristas, crime é todo fato humano tipicamente
antijurídico, culpável e punível (14). Para outros – ressalte-se, manejando
sempre os mesmos elementos inicialmente referidos – delito é conceituado
como uma ação típica, antijurídica e atribuível (15). Entre outras variações
quanto ao conteúdo e ao continente dos elementos constitutivos do delito, há
quem proclame que crime é, simplesmente, um fato típico e antijurídico
(16).
Expostos, a grosso modo, esses conceitos, chega-se, desde logo, à
obvia conclusão de que a matéria que se pretende aqui examinar – como já
advertimos – é profundamente complexa. Assim, como é evidente, este
estudo não tem qualquer pretensão de esgotar a matéria em análise. Ao
contrário, são brevíssimas, dir-se-ia sumárias considerações sobre a Teoria
Jurídica do Delito, sem qualquer ânimo exaustivo, aqui sucintamente
enfocados conceitos e considerações em torno do delito e dos seus
elementos, buscando como a seguir uma epidérmica incursão nas teorias
causalistas e finalistas.
II. Brevísimas considerações sobre a evolucão da teoría do delito.
Examinar o curso da evolução histórica dos sistemas da Teoria do
Delito, oferecendo uma investigação bem detalhada, seria tarefa das mais
gratificantes, porém, igualmente, das mais extenuantes a demandar esforços
que escapam à delimitação dos objetivos a que nos prepusemos. Entretanto,
o de que cuidaremos cinge-se tão-só a uma simplificada exposição sobre os
traços essenciais do sistema desenvolvido segundo as teorias causalistas
(conceitos clássico e neoclássico) e finalistas, como se verá em seqüência.
a) O Modelo Causalista. Conceito Clássico de Delito.
O sistema causalista foi inaugurado pelos sempre citados juristas
Franz Von Liszt e Ernst Beling, que elaboraram o conceito clássico de delito
(também chamado de conceito natural de ação ou de causalismo valorativo).
Tal modelo surge no final do século XIX e início do século XX, quando a
ciência jurídica via-se impregnada pelos princípios e balizas do pensamento
positivista e buscava – a toda evidencia –, muito mais que compreender o
direito em sua substancia fenomênica, senão tentar explicá-lo. Nesta época,
para alçar a evolução de um ramo do conhecimento humano ao status de
ciência, era de fundamental importância a formulação de leis gerais,
universais, que se adequassem a suas modalidades, no presente caso, a todas
as formas de delito concebíveis (17).
Inspirado, pois, pelos princípios e métodos das ciências naturais
experimentais, o sistema Liszt-Beling, utilizando o método analítico do
positivismo, elaborou o conceito clássico do delito, sobre as bases
mensuráveis e comprováveis empiricamente dos elementos do crime,
passando a isolar distinguir e tais elementos, enfim, "buscando en cada caso
su base empírico-descriptiva y diferenciando estrictamente los caracteres
objetivos de los subjetivos (18)". É importante frisar que, em linhas gerais,
no entender dos criadores do sistema enfocado, por parte objetiva entende-se
a manifestação do fenômeno criminógeno no mundo externo – lesões ou
ameaça a bens jurídicos; e por subjetiva compreendem-se os fatores
psíquico-internos do agente do delito.
Para Liszt, o delito significava um ato culpável – seja doloso ou
culposo – contrário ao direito, ofensivo à ordem jurídica. Assim, registra a
firme doutrina de Muñoz Conde e García Arán, que em Liszt o delito era um
"acto, contrario a derecho, culpable y sancionado con una pena" (19). Ou
seja, impunha-se um juízo sobre a ação e um outro sobre o sujeito. Porém, o
núcleo da definição do delito se fixava na ação (20) (sentido amplo) que,
conforme o posicionamento dogmático do classicismo, traduzia-se em uma
manifestação física, em um movimento corpóreo (ação em sentido estrito)
(21), do qual resultava modificação do mundo exterior (resultado), este
decorrente do desencadeamento de todo um processo causal unitário, cujo
início consistia na realização de um ato – a mencionada manifestação física
– e que se exauria com a eclosão de um resultado, registrando-se, pois, entre
um e outro um nexo de causa e efeito.
Desta forma, os demais elementos do crime se convertiam "en meros
predicados del concepto de acción" (22). Assim, para Franz Von Liszt, os
indispensáveis elementos integrantes do conceito de delito eram, portanto, a
ação (compreendida na perspectiva de um processo causal), a
antijuridicidade (tal ação teria que ser necessariamente contrária ao direito) e
a culpabilidade (núcleo de balizamento da imputabilidade do agente, bem
com dolo ou da culpa stricto senso) (23).
O célebre pensador clássico Ernst Beling propôs inserir a tal conceito
um outro elemento. Introduziu, pois, a noção de tipicidade que, em sua
visão, nada mais era que a adequação da conduta (positiva ou negativa) do
agente ao preceito legal. Assim, classicamente, o delito era concebido como
uma ação típica, antijurídica e culpável. Como asegura Muñoz Conde: "En
esta consideración del delito como acción típica, antijurídica y culpable,
amenazada con una pena, se agotaban todas las posibilidades de análisis
del hecho punible (24)". A verdade é que, independentemente da higidez
científica do conceito posto, não há negar, daí surgiram as bases para o
inesgotável debate sobre a definição formal de crime, controvérsia que se
arrasta aos dias atuais.
Em face de tais elementos, é imprescindível expor que a tipicidade e a
antijuridicidade, para o modelo causalista clássico, são requisitos
eminentemente objetivos, sendo na culpabilidade onde se verificam, como
exclusividade, as circunstâncias subjetivas do delito. Portanto, a tipicidade
aqui tem caráter meramente descritivo – concepção objetivo-descritiva –,
não implicando uma valoração da conduta, senão em uma descrição objetiva
de um determinado processo causal (25). De acordo com essa idéia, M. E.
Mayer, no curso da evolução conceitual do delito, acrescentou que era
possível reconhecer a tipicidade (26) como "un indicio, pero nada más que
un indicio de la antijuridicidad (...). Por tanto, la tipicidad de la conducta es
un indicio que nos pone en la pista para conocer o advertir que puede ser
antijurídica, pero tal indicio puede ser confirmado o por el contrario
contradicho o desvirtuado en el ámbito de la antijuridicidad (27)".
A antijuridicidade, observada dentro de uma concepção objetivovalorativa, delimita o objeto normativo, revelando que o fato praticado é
contrário ao Direito. Segundo esta concepção clássica, a antijuridicidade
implica conseqüente juízo de desvalor. Há – neste caso– uma valoração
negativa da ação, distinta, portanto, do caráter neutro e meramente descritivo
da tipicidade. Luzón Peña, com muita precisão, explica que "la
antijuridicidad es, en fin, un juicio valorativo, pero puramente formal; pues
basta con comprobar que la conducta es típica y que no concurre ninguna
causa de justificación que excepcionalmente la permita, para poder
enjuiciarla negativamente como antijurídica, sin tener que entrar en razones
o contenidos materiales para esa valoración (28)".
Por último, convém consignar que, na plataforma clássico-formal, a
culpabilidade é o aspecto subjetivo do delito. E neste contexto, consiste a
culpabilidade no nexo subjetivo que liga o sujeito à conduta típica e
antijurídica por ele praticada. Ou seja, trata-se do estado e da relação
psicológica existente entre o agente e o fato (29). Aqui, para além das
questões atinentes à imputabilidade do sujeito, as formas anímicas
subsistentes de culpabilidade, o dolo e a culpa, esgotam o seu conteúdo. Eis
que explica Jescheck: "el concepto de culpabilidad de la estructura clásica
del delito aunaba todos los procesos espirituales y psíquicos que en relación
con el hecho se desarrollaban en el interior del autor. La capacidad de
culpabilidad fue concebida como presupuesto de la culpabilidad, el dolo y la
imprudencia fueron entendidos como ‘formas o clases de culpabilidad’, y el
estado de necesidad fue clasificado como ‘causa de exclusión de la
culpabilidad (30)’".
b) O Modelo Neokantiano. Conceito Neoclásico.
A segunda etapa do causalismo foi marcada profundamente por uma
revisão crítica e sistemática do conceito causal-naturalista de delito,
embasada nos pressupostos da filosofia neokantiana. Nessa época, a teoria
causalista atingiu proporções antes imagináveis, transpassandoas fronteiras
germânicas, influindo em diversos outros ordenamentos jurídicos (31).
Nessa fase, pretendendo aperfeiçoar o sistema causalista, seus pensadores –
cujo mais notável representante foi Mezger – abandonaram o método
empírico – científiconaturalismo – de observação e descrição (32), passando
a tentar compreender, apreender, valorar significados e, em fim, a própria
obra humana (33), utilizando o método que batizaram como compreensivo e
valorativo. Esclarece Jeschek que "(...) en lugar de la coherencia formal de
un pensamiento jurídico encerrado en sí mismo se situó ahora la aspiración
de estructurar el concepto de delito según los fines perseguidos por el
Derecho penal y las valoraciones en que descansa (teoría teleológica del
delito) (34)".
Extraído o caráter naturalista, de logo, o elemento da ação deixou de
ser a exclusiva coluna (o sustentáculo) onde se apoiava todo a estrutura da
teoria do delito, passando, então, o binômio injusto-tipicidade (35) a ser
considerado, como o fundamento predominante desse sistema. Assim, nessa
nova vertente, a ação é examinada de forma bem mais ampla (36),
definindo-se, em um primeiro momento, como manifestação exteriorizada
da vontade (37). Tal evolução conceitual rechaça a antiga idéia de que a
ação era exclusivamente puro movimento corpóreo, como defendia a teoria
causal-naturalista, pois esta superada definição esquecia situações em que a
conduta omissiva, bem assim como não se adequava aos casos em que vem a
ocorrer um resultado de tipo ideal ou espiritual como sucede, por exemplo,
com a injúria. Sobre este tema, Muñoz Conde y García Arán, com peculiar
perspicacia, comenta que "ya en 1904, el filósofo del Derecho y penalista
Gustav Radbruch, discípulo de Von Liszt, demostró la imposibilidad de
reducir conceptos de acción y omisión a un denominador común al no haber
en la omisión movimiento corporal alguno y ser, por esencia, la negación de
una acción. (...). E, igualmente, el sistema fallaba en los delitos de mera
actividad, porque también en ellos faltaba el movimiento corporal. Así, por
ejemplo, la esencia de las injurias verbales no radica, como decía Von Liszt,
intentando salvar un poco ridículamente el concepto causal de acción, en la
«inervación de las cuerdas bucales», sino en el significado social que se les
atribuye (38)".
Outro importante momento do causalismo neokantiano foi marcado
pelos fundamentos da teoria social da ação, que defendia a ação como um
comportamento humano socialmente relevante (recorre-se a um sentido
social). Aqui, a concepção de ação serve de base para desenvolver a
compreensão de tipicidade (39). Tais fundamentos foram defendidos
ardorosamente por Eberhard Schmidt, discípulo de Liszt e considerado
fundador deste pensamento (40).
Também, nesta outra fase do causalismo, os pensadores neoclássicos
passaram a ver e analisar de outra maneira o conceito de tipicidade. Para
eles, este elemento não persiste em sua forma meramente objetivadescritiva, como afirmavam os teóricos clássicos, introduz-se em sua
definição os "elementos normativo, así como elementos de componente
subjetiva (elementos subjetivos del injusto o del tipo), diferenciados del dolo
(41)". Neste passo, ainda que prossiga tratada como uma categoria objetiva,
adotando agora um caráter híbrido, ou seja, descritivo e valorativo, resulta
inviável assegurar que a tipicidade é exclusivamente objetiva, como também
se torna insubsistente a assertiva de que só a culpabilidade abrange toda a
matriz subjetiva do fenômeno delitivo, no escopo teórico até então
defendido pelos causalistas-naturalistas.
Importante destacar que, ao lado da corrente que defendia o caráter
misto da tipicidade (elementos normativo e valorativo), conforme referido
no parágrafo anterior, outras posições foram expostas como a que defendia
que o tipo (42) era essencialmente valorativo, pois, muito mais que mero
indício, resultava na própria antijuridicidade(43).
A antijuridicidade, para a concepção neokantiana, começou a ser
verificada de forma mais próxima da tipicidade. Por isso, inclusive,
introduziu-se a expressão «tipo de injusto». A antijuridicidade também,
assim como ocorreu com a tipicidade, deixou de ser tratada como
característica
exclusivamente
objetiva
para
ser
considerada
preponderantemente objetiva. Os pensadores neokantianos passaram a
conceber a antijuridicidade como elemento verdadeiramente material do
delito (44), como nocividade social da conduta, porque importava em lesão
ou perigo a bem juridicamente protegido. Tal concepção possibilitou a
realização de várias reflexões, com enfoque axiológico e teleológico, sobre
quais condutas efetivamente devem ou não ser todas como antijurídicas.
Jescheck, de forma magistral, ensina que "la consideración material abrió la
posibilidad de graduar el injusto según la gravedad de la lesión de los
intereses. Suponiendo no haya en realidad ninguna lesión de intereses, el
hecho no puede ser antijurídico. Se llegó así, con la ayuda de la doctrina
material, a desarrollar nuevas causas de justificación, más allá del círculo de
casos reconocidos legalmente, v. g. El estado de necesidad supra legal, que
descansa en la consideración de que hay utilidad social si en una situación
irremediable un bien jurídico de superior valor es conservado a costa de otro
menos valioso (RG 61, 242 [254]) (45)".
Por último, no que se refere à culpabilidade, é importante dizer que
esta também sofreu algumas modificações. Os neokantianos estabeleceram
no conceito normativo de culpabilidade a idéia de "juicio de reproche"
(Frank), abandonando a concepção psicológica, defendida pelos causalistasnaturalistas. Esta corrente neoclássica considerava que a concepção
psicológica não reunia todas as questões atinentes à culpabilidade como, por
exemplo, o caso da culpa inconsciente (46). Também falhava ao deparar-se
com situações em que o autor se apresentava diante de uma situação anormal
como em circunstâncias de inexigibilidade de outra conduta. Explica Muñoz
Conde que, pelos fundamentos da teoria normativa da culpabilidade, "sólo
así podía explicarse satisfactoriamente por qué quedaba impune el autor de
un hecho antijurídico que había actuado dolosa o culposamente, cuando se
encontraba en una situación extrema de motivación anormal o de necesidad
(47)".
c) O Modelo Finalista.
Frente aos modelos anteriores, a teoria finalista lança a concepção da
ação, outra vez, ao centro do debate teórico, fazendo que repercuta sobre
todo o conteúdo da estrutura da teoria do delito. Os partidários do finalismo
(48), adotando posturas lógico-objetivas e inspirados pelas correntes
filosóficas ontologistas, fenomenológicas e jusnaturalista, compreendiam
que o ato relevante para o direito penal deveria estar dirigido a um fim (49).
A elaboração desta forma de pensamento se deve fundamentalmente ao
consagrado penalista e filósofo do Direito Hans Welzel, considerado
"creador y padre de la teoría finalista (50)".
A ação, portanto, agora é entendida como direção a um acontecer real.
Ou seja, é o exercício de uma atividade humana final (ou finalista).
Necessariamente, ao desenvolver uma ação, o homem – segundo o que
afirma esta teoria – dirige-a conscientemente a um fim. Assim, o sujeito
estaria, ao praticar uma ação, executando um plano – uma meta que
transmigra dos desvãos de sua subjetividade para o mundo fenomênico
mensurável no tempo e no espaço – com finalidade própria e dirigida. Essa
posição rompe e rechaça por completo as concepções causalistas, que só
valoram o objeto sensível enquanto efeito de um fator etiológico posto em
movimento pelo agente (51). Os Profesores Maurach y Zipf concordam que
"la finalidad y la causalidad se diferencian esencialmente por el intercambio
de los momentos lógico-temporales de relación; la segunda es el producto de
la cadena causal determinada en forma objetiva, cuyas conexiones requieren
una explicación posterior objetiva; la finalidad, que conoce o cree conocer
las leyes de la causalidad en base a la experiencia, valora estos
conocimientos anticipadamente, ‘supradeterminando el nexo causal’ y toma
aquellos medios que permitirán dirigir el acontecer causal hacia el fin
perseguido: ‘la causalidad es ciega, la finalidad vidente, un actuar dirigido
desde la meta’ (Welzel, Lb. 30, y Engisch, op. Cit., 153) (52)".
O ponto nuclear da teoria finalista orbita em torno da consciência do
fim; da vontade reitora de um acontecer causal (53); da possibilidade de
prever as conseqüências de uma conduta.
A distancia entre o finalismo e causalismo se alarga de forma ainda
mais drástica ao verificar os fundamentos sobre o tema da tipicidade. Neste
aspecto, a teoria final incorpora ao tipo um elemento subjetivo de conexão
mental com o resultado (54); ou seja, o dolo – compreendido como a
"finalidad dirigida a realizar los elementos objetivos del hecho típico – deja
de ser una forma de culpabilidad para convertirse en un elemento (subjetivo)
del injusto típico (55)". Assim, o dolo (56) é desaraigado da culpabilidade
para ser "un elemento esencial del injusto típico (57)". Como explicita
Quintero, passa "a integrarse en el juicio de injusto sobre el acto (58)".
Em conseqüência, pode aduzir-se que há uma subjetivação da
tipicidade e também da antijuridicidade, que passam a ser qualificadas na
própria ação, onde se baliza, a um só tempo, a manifestação externa e
também a finalidade da conduta. Portanto, nessa esfera de teorização, a
tipicidade e a antijuridicidade não podem mais ser consideradas como
categorias
infundidas
por
elementos
«exclusivamente»
ou
«predominantemente» objetivos, tal como anteriormente o defendiam as
correntes clássicas e neoclássicas. De modo diverso, sob as lentes do
finalismo, tipicidade e antijuridicidade engastam em sua essência elementos
tanto objetivos como subjetivos (caráter híbrido).
A partir desse contorno, observa-se que o conceito de culpabilidade é
amplamente desnaturalizado, melhor dizendo, é contundentemente
esvaziado, passando a ser concebida como mero juízo de reprovabilidade. E
com isto literalmente afastado o caráter psicológico que a distinguia,
assumindo índole puramente normativa. Assim, os elementos que
constituem a culpabilidade, segundo a teoria finalista, cingem-se à
exigibilidade de conduta conforme a lei, à imputabilidade do agente e à
possibilidade (real ou potencial) de conhecer a ilicitude (ou o semblante de
ilicitude) do fato praticado. Neste sentido, o jurista brasileiro Cláudio
Brandão explicita que para a teoria finalista a "culpabilidade é um juízo
puramente normativo que reprova o autor de um fato típico e antijurídico,
quando se verificam concomitantemente a potencial consciência de
antijuridicidade, a imputabilidade e a exigibilidade de outra conduta (59)".
Jair Leonardo Lopes, "a culpabilidade é o juízo de reprovação que incide
sobre a pessoa do agente que, tendo ou podendo ter a consciência da
ilicitude de sua conduta, ainda assim, a pratica, e, por isso, age de modo
contrário ao direito, quando lhe era exigível, nas circunstâncias em que se
encontrava, outra conduta (60)".
III. Conclusão
Expostos alguns traços sobre as duas principais correntes sobre a
teoria do delito (causalismo e finalismo), esperar-se-ia, decerto, a tomada de
posição em prol de uma dessas teorias que, como se sabe, conflagram o
ambiente acadêmico. Entretanto, conforme as linhas mais modernas do
pensamento científico, deixaremos (pelo menos por agora) de eleger uma ou
outra corrente, seja no todo ou em parte, porquanto temos que em matéria de
conceito de delito não é mais conveniente insistir no debate – diga-se já
superado – entre dogmas exclusivamente causais e finais.
Importantíssimas foram as contribuições das teorias causalistas
clássicas e neoclássicas, como também os fundamentos da teoria finalista.
Ainda que não espanquem as imensas perplexidades... Mas, pode-se
claramente observar que ambas estão inseridas em um contexto de
seqüencial evolução histórica e científica. Cada uma delas, em seu momento
específico, concorrendo com expressiva carga contributiva para a
substancial afirmação do direito penal como ciência que é.
Entretanto, a teoria jurídica do delito segue necessitando de inovações
conceituais que expliquem verdadeiramente o fenômeno do delito, reunindo
suas mais distintas manifestações, com especial atenção, entre outras, às
formas de delitos omissivos e culposos.
Para além do causalismo e do finalismo, a doutrina já registra vários
outros posicionamentos, ampliativos ou contestatórios, como por exemplo, o
modelo funcionalista – em sua concepção tanto teleológica como sistemática
– que seria tema para outras abordagens, mas que já serve para demonstrar
que o empenho científico na busca por um modelo explicativo da infração
penal não se reduz – e não estanca – aos admiráveis e enriquecedores, porém
hoje ultrapassados, debates pela primazia de uma corrente ou outra
concepção doutrinária.
A verdade é que creio que a abordagem conceitual do delito deve
persistir ainda mantendo a tradicional tripartição, consistente em tipicidade,
antijuridicidade e culpabilidade – o que não é incompatível com a doutrina
causal, tampouco com a finalista. De outra parte, no tocante à punibilidade,
entendo que esta categoria deve ser ventilada no âmbito da teoria do crime
não como componente integrante do universo ontológico do delito, mas a
este enlaçada por sua natural condição de fator consequencial. Isto porque,
sendo a punibilidade a decorrência legal e socialmente esperada em face da
infração, tal elemento, como consectário que é, não pode, a meu
modestíssimo juízo, ser, a um só tempo, causa e conseqüência. Uma coisa é
o delito em si (causa determinante); outra, e dele bem diversa, é a
punibilidade - a conseqüência determinada.
Partindo desses elementos aludidos nos parágrafos anteriores,
problema ainda maior complexidade passa a ser onde, afinal,
verdadeiramente, há que se "hospedar" o elemento subjetivo do delito, de
modo a conciliar as mais diversas inquietações que o avanço dogmático
ainda não houve por superar.
Evidentemente que este estudo não pretende chegar a ditames sobre
está temática, como previamente alertado. A tanto, seriam, sem qualquer
dúvida, necessárias incursões mais extensivas e exaustivas sobre ângulo de
específica e ponderosa investigação, que não é o caso deste estudo. Contudo,
só para anunciar o tema, instigando, seria de indagar-se: por quê dolo e
culpa hão de ser, a todo transe, alojados, de par ou isoladamente, porém
sempre estáticos, em uma só das esferas constitutivas do delito, a tipicidade
ou a culpabilidade, que, para esse fim, são hospedeiras mutuamente
excludentes?
Com efeito, acredito na possibilidade, na perspectiva de num caminho
que divise os elementos subjetivos do delito como categorias transeuntes, ou
seja, que possam estes elementos migrar de um campo a outro, sem que, a
peso disso, se venha desfigurar as formas que as contribuições doutrinárias
prefiniram para a tipicidade e a culpabilidade. O elemento subjetivo da
infração pode (ou deveria poder) permear por toda a unidade do delito, pois,
como fluxo anímico que é, transita ao longo da extensão do fenômeno crime,
em sua híbrida natureza constitutiva, diga-se, física, psicológica e normativa.
O delito tem seu componente "a priori", que nada mais é senão, nos
casos dolosos, a representação do agente ou, nos casos de culpa, a
possibilidade de previsão. Tanto é verdade que, na verificação de delitos
dolosos, à conduta (ação ou omissão ofensivas), deve anteceder o elemento
subjetivo, "a vontade". Entrementes, neste "a priori", só aí, não se esgota.
Eis que, para exemplificar, considerem-se os casos de excesso doloso.
Nessas hipóteses, penso que a vontade pode ser reafirmada ou contida pelas
forças da censurabilidade, durante o correr do impulso delitivo.
Na culpa, por seu turno, esse componente "a priori" enraíza-se numa
categoria excepcional, que é exatamente a previsibilidade. Uma conduta
deflagrada sem as cautelas necessárias, desguarnecida dos cuidados
objetivos indispensáveis, pode chegar a resultado lesivo não pretendido (um
não fim). A previsibilidade é o "a priori", que já agora não está mais na
vontade, senão no dever de cautela que o homem deve ter ao atuar. Tal
modelo pode ser ampliado para situações de culpa consciente, onde a
previsibilidade cede à representação de um fim reprovável, embora não o
conceba o agente possível de sobrevir, ciente, a todo tempo, de que os freios
morais estão a exigir dele conduta conforme o direito. Isto porque – deve-se
frisar – no agir mediante culpa não se realiza uma finalidade pretendida (um
fim), mas se executa uma conduta previsível, não desejável (um não fim),
absolutamente alcançável pela auto-censurabilidade, que é parâmetro
efetivamente estranho à estrutura ortodoxa da tipicidade.
Assim, em que pese o confronto causalismo x finalismo, o dolo e a
culpa não são, necessariamente, como vislumbram estas concepções, cada
uma a seu modo, segmentos estáticos e exclusivos, seja da tipicidade, seja da
culpabilidade. Ao inverso, são, por assim dizer, migratórios dentro do
espaço conceitual do delito.
Encerrando estes apontamentos feitos como foram, a vagos traços,
sobre as teorias causalista e finalista e suas inestimáveis contribuições à
conceituação e compreensão do fenômeno crime, importa ressaltar, por fim,
que o pensamento moderno, não há render-se ao debate emocional de
preferência por concepções. Não! A ciência do direito penal deve buscar, e
nisto se tem empenhado, o caminho da síntese, sujeita sempre às mais
diversas críticas, mas prenunciadoras da sua própria evolução, sobremaneira
no que se volta ao superior interesse da sociedade.
IV. Notas
(1) COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN, Tomás S.
Derecho penal. Parte General, 5ª ed., Valencia, 1999, p. 245.
(2) ROXIN, Claus. Derecho penal parte general. Fundamentos. La
estructura de la teoría del delito, 2ª Ed, Madrid, 2003, p. 192.
(3) JESCHECK, Hans-Heinrch. Tratado de derecho penal, parte
general, 4ª ed., Granada, 1993, p.
(4) NAVARRETE, Miguel Polaino. Derecho penal, parte general –
teoría jurídica del delito, Tomo II, V. I. Bosch, S.A. Barcelona, 2000, p. 21.
(5) NAVARRETE, Miguel Polaino. Ob. Cit,, p. 21
(6) ROXIN, Claus. Ob. Cit, p. 197.
(7) Aduce Roxin: "En la moderna dogmática del Derecho penal existe
en lo sustancial acuerdo en cuanto a que toda conducta punible supone una
acción típica, antijurídica, culpable y que cumple otros eventuales
presupuestos de punibilidad". (ROXIN, Claus. Ob. Cit, p. 193.)
(8) COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN, Tomás S. Ob.
Cit., p. 252.
(9) MUÑOZ CONDE, Francisco/ GARCÍA ARÁN, Mercedes,
Derecho penal, parte general. 4ª ed., Valencia, 2000, p. 222.
(10) "Desde el punto de vista doctrinal, los diversos modos de definir
el delito o bien han tendido a la captación de sus características materiales,
con independencia de la concreta formulación legislativa, o bien se han
dirigido a precisar las notas que configuran determinadas acciones como
delitos en las diferentes legislaciones positivas. En el primer caso,
pudiéramos hablar de definiciones substanciales del delito y, en el segundo,
de definiciones formales". (COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN,
Tomás S. Ob. Cit., p. 249).
(11) MAURACH, Reinhart/ ZIPF, Heinz. Derecho penal, parte
general I, teoría general Del derecho penal y estructura del hecho punible, 7ª
ed. Buenos Aires, 1994, p. 213.
(12) COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN, Tomás S. Ob.
Cit., p. 250
(13) COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN, Tomás S. Ob.
Cit., p. 251
(14) COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN, Tomás S. Ob.
Cit., p. 254
(15) MAURACH, Reinhart/ ZIPF, Heinz. Ob. Cit., p. 212
(16) Em esta línea se mueve el jurista brasileño Damásio de Jesus:
"Sob o aspecto formal, crime é um fato típico e antijurídico. A culpabilidade
(...) constitui pressuposto da pena". (DE JESUS, Damásio E. Direito penal –
parte geral, 22ª ed., São Paulo, 1999, p. 151).
(17) BRANDÃO, Cláudio. Teoria jurídica do crime. Rio de Janeiro:
Forense, 2001, p. 21.
(18) LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Curso de derecho penal parte
general I. Madrid, 1996, p. 228.
(19) MUÑOZ CONDE, Francisco/ GARCÍA ARÁN, Mercedes, Ob.
cit, p. 226.
(20) Sobre el concepto de acción expuesto por Von Liszt, el ínclito
profesor Luzón Peña, en su conceptuada obra, añade que: "Von Liszt define
la acción como inervación muscular producida por la energía de un impulso
cerebral, que a través del medio natural y conforme a las leyes causales de la
naturaleza provoca una mutación en el mundo externo perceptible por los
sentidos. Y se trata de un concepto de acción fundamentalmente objetivo,
pues, aunque se menciona su origen en la voluntad, no se le presta mayor
atención, sino que se destaca el aspecto objetivo de la causación de
resultados externos". (LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Ob. Cit., p. 228).
(21) Advierte MIRA RODRÍGUES: "Para Beling lo esencial de la
acción es la presencia de una conducta humana guiada por la voluntad, pero
dejando de un lado la cuestión del contenido de dicha voluntad. Éstes
presupuestos serán aceptados posteriormente por los seguidores de dicha
concepción causal como Mezger". (MIRA RODRÍGUEZ, Carlos Suárez y
otros. Manual de derecho penal, I. Parte general, Tomo I, Madrid, 2002, p.
100).
(22) QUINTERO OLIVARES, Gonzalo y otros. Manual de derecho
penal, parte general, 2ª Ed., Rev. Amp, 2000, p. 249.
(23) "Estas tres características, acción, antijuridicidad y culpabilidad,
formaban la esencia del concepto de delito, aunque a veces era necesario,
además, añadir algunas características que condicionaban todavía el castigo,
pero que no tenia nada que ver con el acto mismo ni con sus elementos, y
que debían considerarse separadamente, las llamadas condiciones objetivas
de penalidad, excusas absolutorias, etc.". (MUÑOZ CONDE, Francisco/
GARCÍA ARÁN, Mercedes, Ob. cit, p. 226).
(24) MUÑOZ CONDE, Francisco/ GARCÍA ARÁN, Mercedes, Ob.
cit, p. 227.
(25) QUINTERO OLIVARES, Gonzalo y otros. Ob. Cit., p. 249
(26) Sobre este tema, explicando el modelo clásico, JESCHECK dice
que ahí: "la relación entre tipicidad y juridicidad consistía tan sólo en que la
primera sería un ‘indício’ para la presencia de la antijuridicidad".
(JESCHECK, Hans-Heinrch. Tratado de derecho penal, parte general, 4ª ed.,
Granada, 1993, p. 182).
(27) LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Ob. Cit., p. 229.
(28) LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Ob. Cit., p. 229.
(29) QUINTERO OLIVARES, Gonzalo y otros. Ob. Cit., p. 249
(30) JESCHECK, Hans-Heinrch. Ob. Cit., p. 182.
(31) "Con la teoría neoclásica del delito alcanzó la Ciencia alemana
del derecho penal un punto álgido de su capacidad de trabajo y prestigio
internacional. Entonces empezó a influir en Italia, España, Polonia, Portugal,
Grecia, Argentina y Brasil". (JESCHECK, Hans-Heinrch. Ob. Cit., p. 185).
(32) JESCHECK, Hans-Heinrch. Ob. Cit., p. 185.
(33) LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Ob. Cit., p. 230
(34) JESCHECK, Hans-Heinrch. Ob. Cit., p. 184.
(35) QUINTERO OLIVARES, Gonzalo y otros. Ob. Cit., p. 249
(36) En este sentido: "La doctrina mayoritaria sigue sosteniendo el
concepto causal de acción, pero definido ahora como conducta (o
comportamiento) humana externa y dependiente de la voluntad, o como
manifestación de voluntad al exterior". (LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel,
Ob. Cit., p. 231)
(37) "las nuevas definiciones como conducta o manifestación externa
de voluntad son más sobrias, pues se despojan de los matices físiconaturalista de la definición como impulso cerebral productor de intervención
muscular causante de modificaciones externas perceptibles sensorialmente,
que se consideran exageradamente materialistas y por ello inadecuados para
abarcar otros resultados de tipo ideal o espiritual que se presentan en muchos
delitos (nuevamente aquí aflora la perspectiva normativa), como p.ej. las
injurias o las falsedades, o en otras acciones humanas no delictiva)".
(LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Ob. Cit., p. 231)
(38) MUÑOZ CONDE, Francisco/ GARCÍA ARÁN, Mercedes, Ob.
cit, p. 227/228.
(39) RAMÍREZ, Juan Bustos. Manual de derecho penal, parte general,
4ª Ed, amp. Y cor. Barcelona, 1994, p. 233.
(40) In RAMÍREZ, puede se verificar el planteamiento de Eberhard
Schmidt sobre el carácter social de la acción: "«Para la comunidad social las
acciones se presentan como unidades de sentido social funcional, que han de
ser ‘entendidas’ primeramente como son concebidas según las concepciones,
experiencias, costumbres de la vida social»". (RAMÍREZ, Juan Bustos.
Manual de derecho penal, parte general, 4ª Ed, amp. Y cor. Barcelona, 1994,
p. 233).
(41) QUINTERO OLIVARES, Gonzalo y otros. Ob. Cit., p. 250.
(42) En Jescheck: "el tipo no se encuentra situado ya al mismo nivel
de la antijuridicidad, como en el sistema clásico, sino que queda reducido a
su misión formal de fijar los elementos de la antijuridicidad en la ley penal,
mientras que los elementos materiales del delito siguen siendo ahora,
exclusivamente, la antijuridicidad y la culpabilidad". JESCHECK, HansHeinrch. Ob. Cit., p. 186.
(43) Esta posición se mantiene a su vez desde dos perspectivas muy
distintas, la concepción del tipo estricto como tipo desvalorado y la teoría de
los elementos negativos del tipo. Para la primera, uno de cuyo más notables
representantes fue Mezeger (...), el tipo no describe una conducta con fines
neutros, sino para prohibirla, y la conducta típica esta desvalorada y es ya
antijurídica, prohibirla, porque lesiona bien jurídico; por tanto, el tipo
estricto fundamenta la antijuridicidad, aunque luego esa antijuridicidad ya
existente pueda excepcionalmente ser suprimida por una causa de
justificación. Pero, en suma, el tipo es tipo de injusto, y no debe hablarse de
acción típica y antijurídica, sino de acción típicamente antijurídica. Para la
teoría de los elementos negativos del tipo (Frank y otros), el tipo también es
tipo de injusto y e implica antijuridicidad, pero porque sólo estamos ante un
tipo completo si se incluye su parte negativa, implícita en la mayoría de las
descripciones legales, a saber, la ausencia de causas de justificación; por ello
el indicio del tipo en sentido estricto – o tipo positivo – se ve confirmado por
la ausencia de causa de justificación; por ello el indicio del tipo en sentido
estricto – o tipo positivo – se ve confirmado por la ausencia de causas de
justificación y así la conducta que encaja en el autentico tipo, en el tipo
amplio o completo (al que se denomina «tipo total de injusto»), es siempre
antijurídica y desvalorada. En definitiva, y pese a su distinta
fundamentación, ambas perspectivas coinciden en entender la tipicidad con
carácter valorativo, exactamente igual que la antijuridicidad, dado que
ambas categorías no están separadas, sino estrechamente unidas, ya que si la
conducta es típica, también es antijurídica". (LUZÓN PEÑA, DiegoManuel, Ob. Cit., p. 232/233).
* Advogado em Campina Grande (PB), doutorando em Direito Penal e Política
criminal pela Universidade de Granada (Espanha)
Disponível em : < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6245 >.
Acesso em : 15 de setembro de 2006.
Descargar