1- Paulo, judeu da tribo de Benjamin e cidadão romano, nasceu em Tarso da Cilícia, em uma família de fiéis observantes da lei. Segundo a narração dos Atos, Paulo nasceu em Tarso da Cilícia, de uma família da comunidade judaica da diáspora. Tarso era uma grande e próspera cidade, rota comercial do mundo antigo, e que tinha um respeito helênico pela educação. Paulo, como ele próprio afirma, é da raça de Israel. Paulo vinha de uma família que, apesar de sua situação na diáspora, mantinha a língua e os costumes dos antigos judeus. Foi circuncidado ao oitavo dia do nascimento, como todos os filhos machos dos hebreus, e recebeu o duplo nome Saulo Paulo, de modo análogo a Silas Silvano e a João Marcos. O primeiro nome remete ao rei Saul, o descendente mais ilustre da tribo de Benjamin, da qual provém também Paulo. O segundo nome é de origem latina. Portanto, é oportuno precisar que o dúplice nome não se deve à passagem do Saulo judeu ao Paulo cristão, mas é conferido desde o seu nascimento. Além de pertencer à tribo de Benjamin, Saulo Paulo pertence a uma família de cidadania romana. O livro dos Atos dos Apóstolos fala em termos técnicos de uma instrução primária e de uma instrução superior de Paulo em Jerusalém, aos pés do célebre rabino Gamaliel. Paulo mostra um profundo conhecimento da língua e dos costumes gregos, inclusive certa familiaridade com as convenções retóricas. Na época, os estudantes judeus da diáspora tinham que, além de conhecer sua cultura, aprender a atuar no mundo helenístico do qual faziam parte. No período formativo de Paulo (dos 15 aos 20 anos) ele também teria frequentado a sinagoga de Tarso. Ali ele aprendeu a tradição do judaísmo helenizado. Em sua juventude, Paulo aderiu aos fariseus e destacava-se pela observância especial da tradição paterna e por um grande zelo na perseguição das comunidades cristãs primitivas. Segundo Gl 1,16, Paulo teria se convertido a caminho de Damasco por volta do ano 33 d.C, quando se dirigia àquela cidade para entregar os cristãos às autoridades romanas. Em Atos, narra-se o encontro decisivo da vida de Paulo: aquele que viria a se chamar “Apóstolo dos Gentios” ouviu a voz de Cristo e foi atingido por uma imensa luz. Protopaulinas: Romanos, 1-2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses, e Filêmon. Deuteropaulinas, dirigidas a comunidades nas quais Paulo nunca esteve: Colossenses, 2 Tessalonicenses e Efésios. Tritopaulinas (cartas pastorais, as quais apresentam comunidades mais organizadas): Tito, 1-2 Timóteo. Provavelmente não são de Paulo. 2- A palavra epistolȇ (“epístola”, “carta”) originalmente referia-se a uma comunicação oral enviada por mensageiro. Paulo adaptou com propósitos cristãos os modelos epistolares greco-romanos: suas cartas eram em geral elaboradas com linhas similares às das cartas helenísticas. Pelo que podemos perceber, Paulo utilizou-se de certa liberdade em questões literárias. Não se prendeu a modelos fixos e com frequência combinou formas helenísticas com formas judaicas. Em sua maioria, as cartas paulinas eram endereçadas a comunidades de fiéis cristãos e destinadas ao uso público dentro das comunidades. Eram escritos esporádicos que lidavam com situações específicas e substituíam a presença de Paulo em pessoa. Ao mesmo tempo, suas cartas mostram um ensinamento teológico significativo e expressam um entendimento cristão da vida que ultrapassa a situação histórica específica. As principais partes das Cartas paulinas são: I. Introdução A. Prescrição (saudação). 1. remetente; 2. Destinatário; II. 3. saudação: salutatio (chairein, saudações, lit. “alegrem-se”) B. Introdução (Ação de Graças), que pode consistir em um ou mais dos elementos a seguir: 1. Oração/desejo (Peço...) 2. Ação de Graças (Dou graças...) 3. Intercessão/menção (fazer menção) 4. Expressão de alegria (Eu me alegro...) II. Corpo da Carta A. Abertura do corpo da carta, às vezes com uma fórmula tal como “Quero que saibas” B. Desenvolvimento do corpo: informação, instrução, petição, recomendação, exortação C. Conclusão do corpo: sumário, exortações, planos de viagem III. Conclusão A. Epílogo: exortações finais, planos futuros B. Pós-escrito: 1. Saudações daqueles que estão com o escritor para aqueles que estão com o leitor 2. Despedida 3. Palavras finais de próprio punho do autor 4. Data 3- Como nos retrata G. Barbaglio, os missionários haviam deixado a Igreja de Tessalônica num clima difícil e tenso: os fiéis eram vítimas de vexações da parte dos seus concidadãos. Era lógico o temor de que se perdesse o trabalho tão bem começado, tanto mais que a partida apressada tinha impedido uma ação mais profunda e o completo amadurecimento dos neoconvertidos. Esse era o angustiante temor de Paulo e de seus colaboradores, como testemunha a carta. Por outro lado, tornava-se impossível uma visita a Tessalônica. Numa linguagem convencional, Paulo fala aqui da ação impeditiva de Satanás (2,18). Na verdade, algum motivo não explicitado tinha frustrado seu ardente desejo de rever os tessalonicenses. Pode-se supor que a movimentação de Paulo era atentamente acompanhada por seus adversários, de modo que sua presença em Tessalônica não poderia passar despercebida. Podemos resumir o cenário da 1ª Tessalonicenses em base a Atos 16–17: 1. Paulo, Silvano e Timóteo chegaram a Tessalônica, aproximadamente em 50 d.C., depois de serem presos e terem recebido maus tratos em Filipos (1Ts 2,2; cf. At 16,11-40). 2. Eles são os primeiros missionários cristãos na cidade. Eles permanecem por algum tempo, e fundam uma igreja, que se tornou um centro de missão para fundar outras igrejas (1Ts 1,8). Atos 17,1-10 relata que eles foram forçados a partir após três semanas, mas as próprias cartas de Paulo indicam um tempo maior, talvez em torno de três meses. A comunidade de Filipos repetidamente enviou ajuda financeira para Paulo enquanto ele estava em Tessalônica, uma viagem que geralmente durava dez dias (Fl 4,15-16). Paulo também indica que enquanto estava em Tessalônica, ele se sustentou através de trabalho braçal (1Ts 2,9). 3. Problemas em Tessalônica forçaram a equipe missionária a partir. A pregação de Paulo, tipicamente gerava conflitos na sinagoga, conforme indicado por Atos e confirmado pelas próprias cartas de Paulo (2Cor 11,24). As hostilidades que fizeram com que Paulo partisse continuaram a atormentar os “novos convertidos”, que sofreram adversidades em face da sua nova fé. Tempo tempestuoso, podemos assim o definir (At 17,6, “estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui”). 4. Depois de Filipos e Tessalônica, o próximo principal centro de missão de Paulo é Corinto, aonde ele chega após muitos esforços infrutíferos em Bereia e Atenas (At 17,10–18,1; 1Ts 3,1). De Atenas, Paulo enviou Timóteo de volta à Tessalônica a fim de checar a igreja, e foi para Corinto sozinho. Lá, em colaboração com Priscila e Áquila, que deixaram Roma em face da pressão do decreto de Cláudio, ele fundou uma nova igreja e centro missionário. 5. Quando Paulo se juntou novamente a Timóteo e Silvano, ele (e eles) escreve em resposta às questões e perguntas que recebe no relatório de Timóteo. 1ª Tessalonicenses não especifica seu lugar de origem, mas ela se encaixa melhor no período que acabamos de relatar, de um ano e meio em que Paulo ficou em Corinto (cf. 2Cor 11,8-9; At 18,5).63 4- Dentro da proposta colocada a análise podemos afirmar que a seção dos capítulos 4 e 5 relatam a temática escatológica: Os mortos e os vivos na vinda do Senhor: A participação na ressureição de Cristo (4,13-18); Segunda vinda de Cristo (5,1-11); A linguagem da consolação - verbo parakaló – atravessa toda a carta. Deve ser entendido como encorajamento e conforto. Um conforto a prosseguir na esperança, radicados na parusia ou segunda vinda de Cristo. (1 Ts 4,13-18) O conforto por aqueles que “dormem”: A questão central desse bloco não é sobre a fé na ressureição, mas a modalidade com que se participará, com aqueles que “dormem”, na parusia de Cristo. Nos vv.16-17 fala-se no título Kyrios, por três vezes. (1Ts 5,1-11) O dia do Senhor: Nesse bloco encontramos a terceira exortação, sobre o advento do “Dia do Senhor”, que evoca o “dia escatológico de Jave”. A partir de Paulo, o dia final se identifica com o de Cristo, assume conotação positiva, pois não é mais o dia da vingança, mas encontro final com Cristo. 1 Ts 5,2 a menção a parábola sobre a vinda do Filho do Homem como um ladrão noturno pode ser encontrada na fonte Q e na tradição oral que chegou até Paulo. 1 Ts 5,3 a metáfora da “mulher grávida” que descreve o advento escatológico, conjura com passagens nos sinóticos. 1 Ts 5,10 o que conta na ocasião não é encontrar-se vivo ou “dormindo”, mas que se viva definitivamente em Cristo. O viver com Cristo traz segurança à comunidade. Ressuscitar para Paulo não significa entrar num lugar, mas “estar” para sempre com o Senhor. Portanto, é um conforto paulino à comunidade que se transforma em exortação de vigilância na espera do “dia sem ocaso”. 5- a Primeira Carta aos Coríntios deve ter sido escrita entre 54 e 55 d.C. Envia esta Carta por meio do seu amigo confidente Timóteo. Ocasião da carta e destinatários Além dos problemas já mencionados Paulo também teve informações orais por parte dos familiares de Cloé (1,11) e de Estéfanas, Fortunato e Acaio, que vieram encontra-lo (16,1718). Em particular, foi-lhe referido que no interior da Igreja por ele fundada tinham surgido grupos antagônicos (1,11-12). Centrados no culto a personalidades de relevo (cf. 3,5–4,21) e atraídos irresistivelmente por ideais religiosos da sabedoria humana (cf. 1,18–3,4), os grupos ameaçavam a unidade do corpo de Cristo (1,10-17). O escândalo causado por um cristão que convivia incestuosamente com a própria madrasta (5,1). Os coríntios também lhe mandaram uma carta: “Quanto ao que vocês me escreveram…” (7,1). Esta enumera uma série de perguntas a respeito de problemas concretos da vida cristã, sentidos intensamente em Corinto: a) o problema do matrimônio e do celibato. b) a questão das carnes oferecidas aos deuses pagãos. c) avaliação a respeito das experiências carismáticas. d) o procedimento a ser tomado quanto à coleta para os cristãos de Jerusalém. e) o pedido para que Apolo retornasse a Corinto f) a questão do relacionamento com os pagãos g) o tema da liberdade sexual. h) o ponto nevrálgico da ressurreição. Portanto seus destinatários são os membros da comunidade de Corinto. Temas da carta Primeira parte do corpo da carta (1Cor 1,10–4,21). Quase quatro capítulos são dedicados ao problema de divisões ou facções que existiam em Corinto, sobre o qual Paulo foi informado pelos membros da casa de Cloé (1,11). Segunda parte do corpo da carta (1Cor 5,1–6,20). A seguir, Paulo volta-se para vários problemas do comportamento dos cristãos. Antonio PITTA estrutura em três partes estes dois capítulos: a) o caso do incestuoso (5,1-12) b) apelo aos tribunais civis (6,1-11) c) ‘liberdade’ sexual (6,12-20) Terceira parte da Carta: (1Cor 12,1–14,40). Tanto para Paulo como para os coríntios, a realidade de Deus no mundo é a realidade do Espírito. Quarta Parte da Carta: (1 Cor 15) a questão da ressurreição de Cristo e dos mortos. A tese principal da carta estaria em 1Cor 1,18-19. A 1Cor é uma carta eclesial. 6. Em base à problemática das “divisões na comunidade de Corinto” (cf. 1Cor 1–4), Paulo acentua seu discurso na “cruz como princípio de unidade”. Disserte sobre esta questão. Antes de mais temos que a Primeira Carta aos Coríntios é uma carta fundamental para o catolicismo, porque está repleta de temas eclesiológicos. Situamo-la após a passagem de Paulo por Corinto no ano 51d.C., conforme a inscrição de Delfos, que cita Galião como sendo procônsul da Acaia. A carta, entretanto, fora provavelmente escrita entre os anos de 54-55d.C, dentro da terceira viagem que dura até 57d.C, da cidade de Éfeso, local onde recebeu informações da comunidade cristã de Corinto. Ela segue o mesmo modelo das demais cartas paulinas, seguindo a estrutura judaico-helenística. Ela é aberta com o tema da sabedoria da Cruz e concluída com o tema da ressureição, o binômio do mistério pascal. Temos por certo que a tese central da carta se encontra em 1,18-19: a linguagem da cruz, utilizada por Paulo como ponto de união entre a comunidade dividida, símbolo do amor de Cristo doado. A compreensão da teologia da cruz é capaz de criar a comunhão da comunidade, na compreensão de Paulo, lembrando que esse é um texto altamente eclesiológico. Podemos ver que a Carta aos Corintios não é tão linear quanto a carta aos Romanos, que apresenta um tratado sobre a justificação pela fé. Em Corintios Paulo resolve problemas bastante específicos. Paulo se utiliza de quase quatro capítulos para o problema de divisões ou facções que existiam em Corinto, sobre o qual Paulo foi informado pelos membros da casa de Cloé (1,11). Desde de que Paulo fundou a igreja de Corinto, três ou quatro grupos competiam entre si, cada um, talvez relacionado a uma igreja doméstica. Paulo, de acordo com Schnelle, pensa aqui já no conceito da comunidade como “corpo de Cristo”, já que o batismo é a inserção na união da comunidade, fundada em Cristo. O apóstolo introduz então a cruz de Cristo como critério teológico decisivo. Como nos retrata Antonio PITTA: o longo trecho do discurso da “loucura” de 1,10 – 4,21, o acento de Paulo é de que a “cruz é princípio de unidade” e a “sabedoria humana como divisão”. Paulo busca criar nos coríntios a consciência de que a sua unidade provém de um ponto gravitacional: o evangelho que tem como conteúdo imprescindível a cruz de Cristo. Portanto, continua PITTA, Paulo demonstra que diante da busca humana se impõe a lógica paradoxal de Deus, que decidiu salvar mediante a cruz de Cristo: Deus não escolheu os sábios, os fortes e notáveis, mas os ignorantes, os fracos e esquecidos, para que possam gloriar-se unicamente da cruz de Cristo. Desta forma, Paulo demonstra que a evangelização em Corinto (2,1-5), não foi mediante discursos persuasivos, nem mesmo à arte da retórica, mas fundada sobre a cruz de Cristo e à ação do Espírito. É este mesmo Espírito, de acordo com Paulo, que conhecendo a profundeza de Deus, instaura numa nova Sabedoria (2,6-16). 8. Ao seu critério, escolha uma questão relevante na leitura e estudo da 2Cor e disserte sobre a mesma. O processo redacional da Segunda Carta aos Coríntios é o mais controvertido entre os escritos paulinos. Para uma grande parte dos estudiosos de Paulo é a carta mais difícil, mas também a mais pessoal dos seus escritos. Partindo da beleza à profundidade deste escrito paulino é importante indagar sobre o seu processo de redação. Este surge a partir das várias mudanças de temas, de formas de expressão e linguagem ao longo da Carta. Muitos estudiosos perguntam se há uma única redação ou então duas ou mais redações em momentos diferentes de relação com a comunidade. Os exegetas se dividem quanto ao processo redacional da Segunda Carta aos Coríntios. Uma parte considerável percebe duas Cartas redigidas em momentos diversos. Uma primeira carta enviada que corresponde aos capítulos 1–9 e uma segunda carta enviada posteriormente que corresponde aos capítulos 10–13. Outros, diante da diversidade temática, preferem sustentar uma divisão tripartida que corresponde aos três grandes blocos da Carta: 1–7; 8–9; 10–13. Outra parte sustenta que a Segunda Coríntios é composta por mais cartas redigidas em circunstâncias diversas. Alguns a divide em cinco missivas: a primeira de caráter apologético; a segunda (10–13) chamada “Carta das lágrimas”; a terceira “carta de reconciliação”; e a quarta e a quinta, as cartas de recomendação. Certamente a hipótese fragmentária mais ousada é a que a divide em sete cartas independentes.