Subido por Daniel Soares

CURSO DE PEDAGOGIA A DISTANCIA CEAD UDES

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Possui graduação em Letras - Português,
mestrado em Linguística pela Universidade
Federal de Santa Catarina (2005) e doutorado em
Linguística pela mesma universidade (2009).
Aline Cassol Daga
Licenciada em Língua Portuguesa e mestre em
Linguística pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC).
CEAD/UDESC/UAB
Lucilene Lisboa de Liz (Org.)
Arice Cardoso Tavares
Mestre em Linguística Aplicada, pela
Universidade Católica de Pelotas, e graduada em
Licenciatura Língua Portuguesa e Espanhola e
suas respectivas literaturas.
Luís Fernando Prado Telles
Bacharel e licenciado em Letras (1997), mestre
(2000) e doutor (2009) em Teoria e História
Literária pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), ambos na área de Literatura
Portuguesa.
Análise e Produção Textual II
Análise e
PRODUÇÃO
TEXTUAL II
CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA
CEAD/UDESC/UAB
Análise e
PRODUÇÃO
TEXTUAL II
Centro de Educação a Distância
Universidade do Estado de Santa Catarina
Universidade Aberta do Brasil
Análise e
PRODUÇÃO
TEXTUAL II
FLORIANÓPOLIS
CEAD/UDESC/UAB
1ª edição - Caderno Pedagógico
Análise e Produção Textual II
Governo Federal
Presidente da República | Dilma Rousseff
Ministro de Educação | Aloizio Mercadante Oliva
Secretário de Regulação e
Supervisão da Educação Superior | Jorge Rodrigo Araújo Messias
Diretor de Regulação e Supervisão em
Educação a Distância | Hélio Chaves Filho
Presidente da CAPES | Jorge Almeida Guimarães
Diretor de Educação a
Distância da CAPES/MEC | João Carlos Teatini de Souza Clímaco
Governo do Estado de Santa Catarina
Governador | João Raimundo Colombo
Secretário da Educação | Eduardo Deschamps
UDESC
Reitor | Antonio Heronaldo de Sousa
Vice-Reitor | Marcus Tomasi
Pró-Reitor de Ensino de Graduação | Luciano Hack
Pró-Reitor de Extensão,
Cultura e Comunidade | Mayco Morais Nunes
Pró-Reitor de Administração | Vinícius A. Perucci
Pró-Reitor de Planejamento | Gerson Volney Lagemann
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação | Leo Rufato
Centro de Educação a Distância
(CEAD/UAB)
Diretor Geral | Marcus Tomasi
Diretora de Ensino de Graduação | Fabíola Sucupira Ferreira Sell
Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação | Lucilene Lisboa de Liz
Diretora de Extensão | Vera Márcia Marques Santos
Diretor de Administração | Ivair de Lucca
Chefe de Departamento de
Pedagogia a Distância CEAD/UDESC | Isabel Cristina da Cunha
Subchefe de Departamento de
Pedagogia a Distância CEAD/UDESC | Vera Márcia Marques Santos
Secretária de Ensino de Graduação | Rosane Maria Mota
Coordenadora de Estágio | Vera Márcia Marques Santos
Coordenador UDESC Virtual | Luiz Fabiano da Silva
Coordenador Geral UAB | Estevão Roberto Ribeiro
Coordenadora Adjunta UAB | Gabriela Maria Dutra de Carvalho
Coordenadora de Curso UAB | Carmen Maria Cipriani Pandini
Coordenadora de Tutoria UAB | Ana Paula Carneiro
Secretaria de Curso UAB | Elizabeth Maes Savas Jacques
Copyright © UDESC/ CEAD/UAB <2012>
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio
sem a prévia autorização desta instituição.
Lucilene Lisboa de Liz (Org.)
Aline Cassol Daga
Arice Cardoso Tavares
Luís Fernando Prado Telles
Análise e
PRODUÇÃO
TEXTUAL II
Caderno Pedagógico
1ª edição
Florianópolis
Diretoria da Imprensa Oficial
e Editora de Santa Catarina
2012
Professores autores
Lucilene Lisboa de Liz (Org.)
Aline Cassol Daga
Arice Cardoso Tavares
Luís Fernando Prado Telles
Design instrucional
Daniela Viviani
Professora parecerista
Sabrina Casagrande
Projeto instrucional
Ana Cláudia Taú
Carla Peres Souza
Carmen Maria Pandini Cipriani
Daniela Viviani
Melina de la Barrera Ayres
Roberta de Fátima Martins
Projeto gráfico e capa
Elisa Conceição da Silva Rosa
Sabrina Bleicher
Diagramação
Elisa Conceição da Silva Rosa
Sabrina Bleicher
Revisão de texto
Aline Cassol Daga
Arice Cardoso Tavares
A532
Análise e produção textual II: caderno pedagógico. / Lucilene
Lisboa de Liz (organizadora); Aline Cassol Daga, Arice Cardoso Tavares,
Luís Fernando Prado Telles. [designer instrucional Daniela Viviani] –
Florianópolis: Diretoria de Imprensa Oficial e Editora de Santa Catarina,
2012.
93 p. : il. ; 28 cm
Inclui Bibliografia
ISBN: 978-85-64210-72-1
1. Lingüística. 2.Redação. I. Liz, Lucilene Lisboa de. II. Daga, Aline Cassol.
III.Tavares, Arice Cardoso. IV. Telles, Luís Fernando Prado. V. Título.
CDD 418
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da UDESC
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Programando os estudos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
CAPÍTULO 1
Leitura e Produção de textos argumentativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Seção 1 - Textos escritos, argumentação e linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Seção 2 - Tipos de argumentos e estratégias argumentativas . . . . . . . . . . . 24
CAPÍTULO 2
Resenha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Seção 1 - Resenha: definição e objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Seção 2 - Resenha descritiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Seção 3 - Resenha crítica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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CAPÍTULO 3
Artigo Acadêmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Seção 1 - Artigo: finalidade sociocomunicativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Seção 2 - A configuração formal do artigo segundo a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Conhecendo os professores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Comentários das atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Referências das figuras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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93
Apresentação
Prezado(a) estudante,
Você está recebendo o Caderno Pedagógico da disciplina de Análise
e Produção Textual II. Ele foi organizado, didaticamente, a partir da
ementa e objetivos que constam no Projeto Pedagógico do seu Curso de
Pedagogia a Distância da UDESC.
Esse material foi elaborado com base na característica da modalidade
de ensino que você optou para realizar o seu percurso formativo – o
ensino a distância. É um recurso didático fundamental na realização de
seus estudos; organiza os saberes e conteúdos de modo que você possa
estabelecer relações e construir conceitos e competências necessárias e
fundamentais a sua formação.
Esse Caderno, ao primar por uma linguagem dialogada, busca
problematizar a realidade aproximando a teoria e prática, a ciência e os
conteúdos escolares, por meio do que se chama de transposição didática
- que é o mecanismo de transformar o conhecimento científico em saber
escolar a ser ensinado e aprendido.
Receba-o como mais um recurso para a sua aprendizagem, realize seus
estudos de modo orientado e sistemático, dedicando um tempo diário
à leitura. Anote e problematize o conteúdo com sua prática e com as
demais disciplinas que irá cursar. Faça leituras complementares, conforme
sugestões e realize as atividades propostas.
Lembre-se que na educação a distância muitos são os recursos e
estratégias de ensino e aprendizagem, use sua autonomia para avançar
na construção de conhecimento, dedicando-se a cada disciplina com
todo o esforço necessário.
Bons estudos!
Equipe CEAD\UDESC\UAB
Introdução
Caro(a) aluno(a),
A escrita fará parte de toda sua caminhada acadêmica. Nesse sentido,
a Disciplina de Análise Produção Textual II foi planejada considerando
as suas necessidades em relação aos gêneros que terá de produzir e às
exigências que a escrita nos impõe.
Primeiramente, para a escrita dos diferentes gêneros acadêmicos,
você precisará desenvolver a habilidade de argumentar. Para tanto,
apresentamos para você uma discussão inicial sobre os recursos
linguísticos mobilizados na produção da escrita argumentativa.
Em seguida, você estudará o gênero resenha, um gênero bastante exigido
dentro da academia. Esse estudo compreenderá discussões relativas
à definição desse gênero, sua aplicabilidade, os objetivos de seu uso, a
apresentação de dois principais tipos de resenha e a prática de escrita do
gênero.
Finalmente, você será apresentado ao gênero discursivo do artigo
acadêmico. O estudo desse gênero consistirá inicialmente na
apresentação de como o gênero se estrutura, além de aspectos relativos
a sua formatação, com vistas à produção do gênero.
O nosso objetivo, ao produzir este Caderno Pedagógico, é o de que você
desenvolva as habilidades necessárias para a produção dos gêneros
discursivos de maior exigência dentro da esfera acadêmica.
Um abraço!
Os autores
Programando
os estudos
Estudar a distância requer organização e disciplina; assim como estudos
diários e programados para que você possa obter sucesso na sua
caminhada acadêmica. Portanto, procure estar atento aos cronogramas
do seu curso e disciplina para não perder nenhum prazo ou atividade, dos
quais depende seu desempenho. As características mais evidenciadas na
EaD são o estudo autônomo, a flexibilidade de horário e a organização
pessoal. Faça sua própria organização e agende as atividades de estudo
semanais.
Para o desenvolvimento desta Disciplina você possui a sua disposição
um conjunto de elementos metodológicos que constituem o sistema de
ensino, que são:
» Recursos didáticos, entre eles o Caderno Pedagógico.
» O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).
» O Sistema de Avaliação: avaliações a distância, presenciais e de
autoavaliação.
» O Sistema Tutorial: coordenadores, professores e tutores.
Ementa
Práticas de Texto Acadêmico. Leitura e análise de textos produzidos no
curso. Reescrita de textos produzidos. Artigo Científico.
Objetivos de aprendizagem
Geral
Reconhecer a leitura e a escrita como habilidades necessárias à produção
do conhecimento científico, bem como, compreender os recursos
linguísticos mobilizados na produção dos gêneros discursivos resenha e
artigo científico.
Específicos
» Desenvolver seu universo linguístico, incorporando recursos de
comunicação oral e escrita;
» Ampliar a capacidade de leitura e redação, a partir da análise e da
criação de textos acadêmicos;
» Estabelecer associações e correlações de conhecimentos e
experiências, desenvolvendo o pensamento analítico e crítico;
» Aumentar seus recursos pessoais para identificação, criação,
seleção e organização de ideias na expressão oral e escrita;
» Desenvolver a atitude de respeito ao desafio que constitui a
interpretação e construção de um texto acadêmico;
Carga horária
36 horas/aula
12
Anote as datas importantes das atividades na disciplina, conforme
sua agenda de estudos:
DATA
ATIVIDADE
Conteúdo da disciplina
Veja, a seguir, a organização didática da disciplina, distribuída em capítulos
os quais são subdivididos em seções, com seus respectivos objetivos de
aprendizagem. Leia-os com atenção, pois correspondem ao conteúdo
que deve ser apropriado por você e faz parte do seu processo formativo.
Capítulo 1 – Neste capítulo, você terá contato com discussões que
pretendem contribuir para a compreensão do fenômeno
da linguagem na sua dimensão argumentativa e para a
sistematização de recursos linguísticos que constroem um
texto explicitamente argumentativo.
Capítulo 2 – No segundo capítulo, você será apresentado a um gênero
textual bastante utilizado na esfera acadêmica, a resenha.
Inicialmente, será abordada uma definição do gênero, suas
aplicabilidades e objetivos de uso. Na sequência, você terá
contato com os dois principais tipos de resenhas, a descritiva
13
e a crítica. Ao longo do capítulo, serão desenvolvidas as
habilidades de análise textual do gênero, bem como as
técnicas de construção.
Capítulo 3 – O terceiro e último capítulo abordará o gênero artigo
acadêmico. Você terá contato com uma definição mais
geral sobre o gênero e sobre algumas possíveis formas de
apresentação e de formatação dele.
Passemos, agora, ao estudo dos capítulos!
14
1
Leitura e Produção de Textos Argumentativos
Arice Cardoso Tavares
Prezado(a) aluno(a), as discussões deste capítulo pretendem contribuir para a compreensão do
fenômeno da linguagem, na sua dimensão argumentativa, e para a sistematização de recursos
linguísticos que tecem um texto explicitamente argumentativo. Esperamos que após a leitura
e a apropriação dos conhecimentos aqui expostos, você, acadêmico do Curso de Pedagogia a
Distância, sinta-se instigado e seguro para produzir textos desta natureza.
Objetivo geral de aprendizagem
» Conhecer a teoria básica a respeito da argumentação,
fixando, principalmente, na organização de parágrafos
argumentativos e na identificação dos tipos de
argumentos e das estratégias de argumentação.
Seções de estudo
Seção 1 – Textos escritos, argumentação e linguagem
Seção 2 – Tipos de argumentos e estratégias argumentativas
CAPÍTULO 1
As seções de estudo deste capítulo estão estruturadas de modo que você
inicie seu estudo refletindo sobre textos escritos e sobre a linguagem dos
textos argumentativos para, em seguida, conhecer os tipos de argumentos e
as estratégias linguísticas para a construção de um texto argumentativo. Por
fim, você partirá para a aplicação dessas estratégias e tipos de argumentos
que irão lhe ajudar a praticar as destrezas e habilidades necessárias para
redigir corretamente segmentos argumentativos. Ao final do capítulo,
esperamos que você tenha adquirido informações suficientes para levá-lo(a)
à assimilação das bases necessárias para desenvolver parágrafos e textos
argumentativos, sabendo reconhecer e aplicar os tipos de argumentos e as
estratégias argumentativas dentro da estrutura do parágrafo.
Seção 1
Textos escritos, argumentação e linguagem
Objetivos de aprendizagem
» Definir texto e conhecer características dos textos escritos.
» Entender a relação entre linguagem e argumentação.
» Reconhecer a importância e a funcionalidade da
argumentação nas atividades de leitura e de escrita
enquanto processos comunicacionais.
Não raro, nos deparamos com alguém dizendo algumas destas frases:
16
Figura 1.1 – Dificuldade na escrita
CAPÍTULO 1
Muitas vezes, nós mesmos as dizemos, pois encontramos dificuldades em
escrever. A produção de textos, realmente, não é uma tarefa fácil, mas, fique
tranquilo, também não é nem um “bicho de sete cabeças” como muitos
afirmam por aí.
Produzir textos é uma tarefa que se aprende por meio de ações efetivas:
construindo, analisando, revisando, fazendo correções, desconstruindo e
construindo novamente. É uma tarefa que se aprende continuamente tanto
na posição de receptor, como na posição de produtor de textos.
Mas o que é um texto? Um texto consiste em uma
unidade de sentido. Uma simples sequência de sentenças,
que não seja significativa, não constitui texto.
Para Koch (2002), texto é o produto da codificação de um emissor a ser
decodificado pelo leitor/ouvinte. Já para Halliday & Hasan (1976/2001), é
uma unidade de sentido, concretizado por frases, ou codificado em frases.
Bakhtin (2000) coloca que o texto é a expressão de uma consciência que
reflete algo; através do reflexo do outro, chega-se ao objeto refletido. Por
fim, para Beaugrande (1997), texto é um evento comunicativo em que ações
linguísticas, cognitivas e sociais se convergem. Podemos assim dizer que há
um consenso quanto ao conceito de texto, uma vez que esses conceitos
convergem numa mesma direção: a produção textual é uma atividade
consciente e é uma atividade interacional.
Ao produzir um texto, algumas questões devem ser consideradas (GARCEZ,
2001, p. 15):
•
Quais os objetivos do texto;
•
Qual é o assunto em linhas gerais;
•
Qual o gênero mais adequado aos objetivos;
•
Quem provavelmente vai ler;
•
Que nível de linguagem deve ser utilizado;
•
Que grau de subjetividade ou de impessoalidade deve ser
atingido;
•
Quais as condições práticas de produção: tempo, apresentação,
formato.
Note que para criar um texto é preciso esquematizar o que se pretende
dizer e/ou escrever. Um texto não precisa ser algo extenso, desde que
17
CAPÍTULO 1
transmita uma mensagem, podendo ser efetuado de maneira escrita
ou oral numa situação de interação entre um emissor e um receptor, ou
seja, deve atingir de forma satisfatória seu interlocutor e acima de tudo
constituir uma unidade semântica. O conjunto de características que fazem
com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases,
é denominado textualidade. Para que
se possa atribuir sentido ao texto é
Sentido tem sido concebido como algo pertencente
necessário que ele seja compreendido
ao universo pessoal do indivíduo, mas compartilhado
como coerente. A coerência, por sua
dentro do contexto de interação. Significado tem sido
vez, está intimamente ligada à coesão e
compreendido como algo culturalmente compartilhado.
ao contexto sociocomunicativo, que de
Assim, sentido e significado têm sido tomados como
forma integrada tornam-se relevantes no
termos diferenciados, mas relacionados.
estabelecimento da coerência.
Tipos de fala, contexto
de situação, intenção
comunicativa,
características e crenças do
produtor e receptor.
De acordo com Beaugrande & Dressler (1981), coesão e coerência são
fatores de textualidade, ao lado da intencionalidade, da informatividade,
da aceitabilidade, da situacionalidade e da intertextualidade. Beaugrande
(1997) propõe tais fatores de textualidade que, segundo ele, são a base
da produção e utilização dos textos. Costa Val (2004) divide esses fatores
em dois grupos: fatores pragmáticos (intencionalidade, informatividade,
aceitabilidade, situacionalidade e intertextualidade) e fatores linguísticos
(coesão e coerência). Vejamos como Costa Val (2004) e Marcuschi (2008)
descrevem tais fatores:
Fatores pragmáticos da textualidade:
» Intencionalidade – considera a intenção do produtor do texto,
revelando o esforço feito para estabelecer um discurso coerente e
coeso a fim de cumprir o seu objetivo comunicativo.
» Informatividade – corresponde ao grau de expectativa e de
conhecimento do texto oferecido. O grau de informatividade será
determinado pela suficiência de dados no texto, como também
pelo grau de previsibilidade nas ocorrências no plano conceitual
e no formal.
» Aceitabilidade – é inerente ao receptor, que recebe o texto como
uma configuração aceitável e avalia o grau de coerência, coesão,
utilidade e relevância do texto capaz de levá-lo a alargar os seus
conhecimentos ou de aceitar a intenção do produtor.
18
» Situacionalidade – é responsável pela adequação do texto ao
contexto sociocomunicativo. “A situacionalidade não só serve para
interpretar e relacionar o texto ao seu contexto interpretativo, mas
também para orientar a própria produção.” (MARCUSCHI, 2008, p.
128).
CAPÍTULO 1
» Intertextualidade – mostra a interdependência dos textos entre si,
tendo em vista que um texto só faz sentido quando é entendido em
relação a outro texto. Este fator “trata o texto como uma comunhão
de discursos e não como algo isolado.” (MARCUSCHI, 2008, p. 132).
Fatores linguísticos da textualidade:
» Coesão – refere-se ao modo como as palavras estão ligadas entre
si dentro de uma sequência. A coesão é responsável pela ligação
dos sentidos isolados para evidenciar a estruturação da sequência
superficial do texto, não perdendo de vista o todo e a intenção
com que se produz esse todo, para constituir finalmente um texto.
Manifesta-se microtextualmente.
» Coerência – é resultado da não contradição entre as partes do
texto e do texto com relação ao mundo. Caracteriza-se como nível
de conexão conceitual e estruturação dos sentidos. Manifesta-se
macrotextualmente.
Microtextualmente: é o conjunto formado pelas frases
que integram a superfície textual linear.
Macrotextualmente: é uma representação abstrata da
estrutura global de significado de um texto. É justamente
ao nível macroestrutural que se coloca o problema da
coerência global de um texto.
Embora sejam fenômenos distintos, há uma imbricação natural entre coesão e coerência,
permitindo, assim, que sejam estudadas como instâncias relacionadas, que se constituem
mutuamente.
Considerando os fatores de textualidade apontados anteriormente e
considerando ainda discurso e gênero, Marcuschi (2008) explicita as relações
envolvidas na esquematização textual da seguinte forma:
19
CAPÍTULO 1
TEXTUALIZAÇÃO
autor
leitor
texto
Processo e produto
situação comunicativa
configuração lingüística
CONTEXTUALIDADE
(CONHECIMENTOS DE MUNDO)
CO-TEXTUALIDADE
(CONHECIMENTOS LINGÜÍSTICOS)
critérios
critérios
coesão
coerência
aceitabilidade
informatividade
situacionalidade
intertextualidade
intencionalidade
Esquema 1.1 – Esquematização textual
Fonte: Marcuschi (2008, p. 96).
Observando esse esquema, é possível encontrar os três pilares da
textualidade: um autor (emissor), um leitor (receptor) e um texto. Nosso
interesse centra-se no texto enquanto processo e não como um produto.
Não é pertinente estudar o texto como um produto acabado, é necessário
vê-lo em seu processo de planejamento e construção. Segundo Koch (1997),
é preciso reconhecer a existência de um sujeito planejador (organizador)
que, em sua inter-relação com os outros sujeitos, constrói o texto. O texto é,
portanto, resultado de um processo de interação entre o escritor/falante e
o leitor/ouvinte.
Outro aspecto que precisa ser considerado na produção de textos é a
questão da leitura. Ler e escrever são atos indissociáveis. A leitura eficiente
de textos informativos e argumentativos, por exemplo, permite-nos refletir
sobre as ideias e formular nossa opinião para que possamos expressá-la em
nosso texto.
A atividade de produção textual requer a habilidade de reflexão sobre os
processos de leitura e escrita, o que pode se transformar em produção de
conhecimento. Em um esquema didático, a leitura precede a produção
escrita. Um bom produtor textual precisa ler para se enriquecer culturalmente
20
CAPÍTULO 1
e para saber organizar suas ideias. Além disso, o produtor do texto precisa
ler e refletir sobre esta leitura para ter o que dizer (cf. GERALDI, 1997).
A organização das ideias é necessária à
produção de todos os tipos de textos, sejam
eles orais ou escritos. Neste capítulo, iremos
nos deter aos textos argumentativos. Para
definir texto argumentativo, é necessário
perceber que os discursos argumentativos
são orientados para o receptor, o que exige
do argumentador meios (argumentos) para
que haja a adesão à tese desejada. Saberemos
reconhecer facilmente certos procedimentos
argumentativos quanto mais tivermos sido
levados a utilizá-los anteriormente. Ou seja,
não devemos dissociar a leitura da escrita e
devemos ter claro que toda produção textual é
um “ato comunicativo”, em outras palavras, um
ato social em que há comunicação por meio de
uma mensagem.
Figura 1.2 – Organização das ideias
Um ato comunicativo concretiza várias manifestações, tanto do ponto
de vista cultural como no nosso cotidiano. No ato de comunicação, não
podemos conceber os “parceiros da comunicação” (emissor e receptor)
como polos neutros que devem produzir/transmitir e receber/compreender
a mensagem. Há uma grande diferença entre a comunicação recebida e a
comunicação assumida, já que a aceitação depende de uma série de fatores:
sentimentos, conhecimento de mundo, ideologias, convicções políticas,
emoções etc.
Além dos fatores pessoais, o meio social e cultural que o emissor e o
receptor compartilham é determinante no processo comunicativo. O papel
social de cada um, o estatuto e o prestígio respectivos, as crenças e os
valores culturais por eles interiorizados, os comportamentos aceitáveis ou
não aceitáveis na sua cultura, tudo determina o tipo de comportamento
comunicativo adotado. O sistema social e cultural dirige, em parte, a escolha
dos objetivos que se tem ao comunicar, a escolha das palavras, os canais
que se usam para expressar as palavras. O emissor percebe a posição social
do receptor e molda o seu comportamento de acordo com ela.
O sentido de um texto é construído (ou reconstruído) na interação textosujeito e não como algo prévio a essa interação. A coerência deixa de ser
uma mera propriedade ou qualidade do texto e passa a ser vista como o
modo com que o leitor/ouvinte interage com o texto e o reconstrói, a partir
21
CAPÍTULO 1
dos elementos presentes na superfície textual e de seu conhecimento do
mundo.
Cada pessoa organiza historicamente seus códigos de comunicação seja,
por exemplo, na formação de seu vocabulário, seja na adequação dos textos
às situações sóciocomunicativas. Pela linguagem, agimos sobre o mundo,
organizamos o saber e a vida. Por isso, toda pessoa é origem e produto da
linguagem e, ao mesmo tempo, origem e produto da história que nos leva
a construir formas de comunicação específica.
Nessa perspectiva, todo uso da linguagem é argumentativo, visto que
estabelece uma interação com o outro, uma relação de fazer social, que,
de certo modo, tem como finalidade, em grau menor ou maior, convencer
alguém de algo. É importante dizer que mesmo que a linguagem sempre
cumpra determinados propósitos argumentativos, nem sempre temos
consciência disso.
Todo ato de comunicação objetiva produzir efeitos de
sentido, que podem ser concretizados em mudanças ou
reforços de opiniões.
Quando o aspecto argumentativo da linguagem é explicitamente colocado
em um texto, dizemos que se trata de um texto argumentativo. Ou seja,
embora toda manifestação linguística procure, de certa forma, agir sobre
os interlocutores, somente quando a intenção explícita de um texto é
convencer o leitor/ouvinte, o denominamos argumentativo. Portanto,
a argumentação é a apresentação de justificativas que contribuem
para a defesa de um ponto de vista. Por isso, a linguagem de um texto
argumentativo visa a informar e também a convencer o leitor do ponto de
vista do autor.
Para isso, é necessário que a argumentação seja convincente e bem
fundamentada, com base em dados e informações, para que o texto ganhe
consistência e credibilidade. Porém, muitas vezes, somos convidados
a escrever sobre temáticas que não dominamos, ou sobre as quais,
simplesmente, não temos uma opinião bem fundamentada e isso pode nos
trazer insegurança.
Em um texto argumentativo, a apresentação de um ponto de vista mais
claro requer o uso da linguagem formal, de um vocabulário objetivo e de
uma expressão impessoal, com construções sintáticas organizadas a partir
de um raciocínio lógico. O emprego dos elementos coesivos é essencial
22
CAPÍTULO 1
nesse tipo de texto, pois estabelece a relação de sentido entre as partes do
texto, dando-lhe unidade argumentativa.
A capacidade de influir e de modificar o ponto de vista do interlocutor
depende da ordem, da clareza e da força da argumentação. Se os argumentos
são vazios ou fracos, ou estão mal encadeados, dificilmente o ponto de vista
defendido terá respaldo ou aceitação. No entanto, é importante destacar
que a argumentação não precisa ter como base algo realmente verdadeiro,
argumenta-se não só com aquilo que é necessariamente certo, mas também
com o que é plausível.
O fato é que para que o texto seja convincente, a argumentação precisa de
um elevado grau de credibilidade e isso só se obtém com argumentações
bem feitas, o que dá consistência ao texto, produzindo, pelo menos, a
sensação de realidade.
Como bem destaca Garcia (2007, p. 369), “na argumentação, além de
dissertar, procuramos formar a opinião do leitor ou a do ouvinte, tentando
convencê-lo de que a razão está conosco”, isto é, a verdade. Argumentar
é, portanto, “convencer ou tentar convencer mediante a apresentação de
razões (...) à luz de um raciocínio coerente e consistente.” (GARCIA, 2007, p.
370).
Volte ao parágrafo anterior e reflita sobre o sentido
da expressão “na argumentação, além de dissertar...”. Você já
tinha parado para pensar que há uma diferença entre dissertar
e argumentar? Observe...
Muitos livros (especialmente aos que somos apresentados em nossa
trajetória escolar) não costumam distinguir a dissertação da argumentação,
porém, há sim uma diferença. A primeira visa expor e/ou interpretar ideias,
já a segunda tem como objetivo principal influenciar ou persuadir o leitor.
No texto dissertativo, buscamos expressar o que sabemos ou acreditamos
a respeito de determinado assunto, enquanto que na argumentação, além
disso, procuramos convencer nosso leitor de que estamos com a verdade.
Uma argumentação deve ser: coerente (ou seja, não pode violar os princípios
lógicos da razão), construtiva e crítica. Quem pretende escrever de forma
coerente deve partir de um pressuposto bem definido. Isso vai depender
do conhecimento de mundo que o autor possui e das leituras que este
23
CAPÍTULO 1
autor vem fazendo. Antes mesmo de escrever, já é necessário saber o que
queremos passar para nosso leitor, ou seja, devemos planejar nossa escrita.
A forma de argumentação será responsável pela estrutura que daremos
ao texto e demonstrará o caminho que escolhemos para defender nossa
ideia/opinião. A argumentação exige ordem, um argumento deve estar
encadeado a outro de forma natural para que haja uma unidade de sentido.
A capacidade de convencer e persuadir o leitor irá depender não só da força
de nossos argumentos, como também da ordenação de nossas ideias. Além
disso, a escolha dos argumentos e as estratégias para a exposição destes
também garantirão (ou não) que o autor atinja seu objetivo com seu texto.
Dessa forma, os textos argumentativos sustentam-se basicamente em:
argumentos de valor universal; dados colhidos na realidade; citações
de autoridades no assunto; exemplos e ilustrações; dados estatísticos e
pesquisas, entre outros. Tais argumentos é o que você estudará na seção
seguinte.
Seção 2
Tipos de argumentos e estratégias argumentativas
Objetivos de aprendizagem
» Entender a conceituação de alguns tipos de argumentos e
de algumas estratégias argumentativas.
» Reconhecer os tipos de argumentos e estratégias de
argumentação por meio de análise de textos.
» Aplicar os tipos de argumentos e estratégias de
argumentação no processo de produção escrita.
Conforme estudado anteriormente, chamamos procedimentos
argumentativos aos recursos acionados pelo produtor do texto com o
objetivo de levar o leitor a crer naquilo que é dito e a fazer aquilo que o
autor propõe.
24
CAPÍTULO 1
Como dissemos na primeira seção deste capítulo, quando se lê um texto, é
importante considerar que quem o produz está interessado em convencer
o leitor de alguma coisa. Segundo Platão e Fiorin (2007, p. 284), “Todo texto
tem, por trás de si, um produtor que procura persuadir o seu leitor (ou
leitores), usando para tanto vários recursos de natureza lógica e lingüística”.
Esses recursos apontados pelos autores dão consistência ao texto, visto que
garantem uma articulação lógica entre seus argumentos, e essa organização
auxilia na persuasão. Vejamos alguns tipos de argumentos que irão auxiliálos em suas produções:
a) Argumento baseado em consenso:
É quando empregamos proposições universalmente aceitas
como verdadeiras, numa certa época, e que, portanto,
prescindem de demonstração. Como tais, dispensam
comprovação, ou seja, faz-se uma afirmação consensual.
Não se deve, no entanto, confundir argumento
baseado no consenso com lugares-comuns carentes de base
científica, de validade discutível. É preciso muito cuidado para
distinguir o que é uma idéia que não mais necessita de demonstração
e a enunciação de preconceitos. (PLATÃO; FIORIN, 2007, p. 286).
Fique atento(a) para não confundir uma ideia que não precisa de
demonstração, como por exemplo: “É preciso investir cada dia mais em
saúde, pois o Brasil ainda tem muito a melhorar nesta área”, com chavões/
clichês do tipo “só o amor constrói”, “o dinheiro não traz felicidade”. O uso
de chavões, clichês e frases feitas acabam tornando o texto vazio de sentido,
prejudicando a argumentação.
b) Argumento baseado em provas concretas:
Quando empregamos argumentos baseados em provas
concretas, buscamos evidenciar nossa tese por meio de
informações extraídas da realidade. Podem ser usados
dados históricos, estatísticas ou fatos comprobatórios (de
domínio público). Esse tipo de argumento transmite ao leitor
a “sensação de que o texto trata de coisas verdadeiras e não
apresenta opiniões gratuitas” (PLATÃO; FIORIN, 2007, p. 288).
É preciso tomar cuidado com argumentos que fazem menção
25
CAPÍTULO 1
a uma totalidade indeterminada, pois basta um único caso contrário para
derrubá-los.
Também devemos ficar atentos e evitar as generalizações, pois é muito fácil
fazer generalizações indevidas, como, por exemplo, quando tomamos o
que é exceção como se fosse regra. A maioria dos julgamentos de senso
comum são generalizações indevidas (todo político é corrupto, pobres não
gostam de trabalhar etc). A generalização indevida, também denominada
abusiva, excessiva ou apressada é um procedimento indutivo que, com base
em determinado número de casos, estabelece um padrão. É fato que, em
alguns casos, podemos usar situações particulares para comprovar verdades
gerais, mas fazer isso na generalização apressada significa que passamos
de um caso específico para um padrão geral e que essa passagem não é
suficientemente segura, nem verdadeira.
Tipo de argumento
composto de três
proposições: duas
premissas e uma conclusão.
Sua origem está ligada
ao berço da civilização
ocidental, a Grécia antiga,
com o pensamento do
filósofo Aristóteles.
c) Argumento com base no raciocínio lógico:
Este tipo de argumento é construído pela articulação coerente entre os
vários enunciados constantes do texto. Essa articulação pode se dar, por
exemplo, por meio de uma relação de causa/consequência ou, ainda, da
exposição de uma conclusão que se articula logicamente às proposições.
A base desse tipo de argumento são os silogismos. No entanto, é preciso
tomar cuidado na construção de textos com esse tipo de argumento para
evitar a contradição. Um descuido, por menor que seja, pode levar a uma
conclusão equivocada.
d) Argumento da competência linguística:
Existem normas específicas
para redigir cada tipo
de citação, regidas pela
Associação Brasileira de
Normas Técnicas - ABNT.
Fique sempre atento!
26
Este tipo de argumento ocorre quando determinadas situações de
interlocução requerem o uso da norma culta da língua, contribuindo para
dar credibilidade ao discurso.
e) Argumento de autoridade:
Esse é um dos argumentos mais recorrentes no contexto acadêmico. Os
argumentos do autor sustentam-se pela citação de uma fonte confiável,
que pode ser um especialista e/ou autoridade
no assunto abordado. A citação pode auxiliar e
deixar consistente a tese, pois demonstra que
o autor (no caso você) conhece o assunto que
está discutindo, pois já leu o que pensam outros
autores sobre a temática.
CAPÍTULO 1
Agora que você já conhece alguns tipos de argumentos, perceba que a
produção de um texto argumentativo pode ser analisada a partir de duas
dimensões: a intenção e a estratégia argumentativa. Entre elas, existe uma
relação de determinação: a segunda é determinada pela primeira.
No contexto da intenção, consideramos a intenção do texto e a do autor.
O processo de produção textual é desencadeado por alguém que possui
uma intenção específica e é ela que irá orientar o processo de elaboração
e comandar a estratégia argumentativa do texto, desde a seleção do tema
e sua estruturação até o uso de recursos linguísticos e estilísticos que
serão selecionados pelo autor do texto e
que contribuirão para atingir o objetivo
É a intencionalidade que orienta o processo de
desejado.
produção do texto e que comanda toda a estratégia
Ainda que algumas vezes a intenção não
seja bem delineada, isso não significa
que ela não exista. No entanto, quando
bem definida, evita digressões e esforços
desnecessários.
argumentativa, desde a seleção do tema, dos
argumentos a serem desenvolvidos, da sua
estruturação, dos recursos linguísticos e estilísticos
e da linguagem, que contribuirão para a consecução
do fim desejado.
Veja que a linguagem pode ser encarada como forma de ação, ação
sobre o mundo, dotada de intencionalidade. Essa intencionalidade se
justifica porque, ao se utilizar a língua como instrumento de interação
social, é necessário que se compreendam, analisem e interpretem os
seus mecanismos interacionais, já que ela se efetiva tanto na relação do
ser humano com a natureza, quanto na relação do ser humano com seus
semelhantes e consigo mesmo. Como vimos, essa comunicação social por
meio da língua não objetiva apenas informar, mas persuadir o ouvinte. Por
isso, o uso da linguagem, caracterizada pela argumentatividade, visa levar o
ouvinte a aceitar determinadas opiniões.
A segunda dimensão do texto argumentativo é a estratégia argumentativa,
utilizada para envolver o leitor e para persuadi-lo mais facilmente.
Basicamente, são duas as atividades do enunciado ligadas à estratégia
argumentativa: a escolha do tema (O quê?) e o modo de apresentá-lo ao
receptor (Como?). Observe o quadro a seguir!
27
CAPÍTULO 1
AS ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS PODEM SER
Baseadas no EMISSOR
Comum em discursos eleitorais e didáticos; no geral usa-se o argumento de autoridade.
Baseadas no RECEPTOR
Comum em discursos publicitários e de autoajuda; no geral, usa-se o argumento baseado
em raciocínio lógico.
Baseadas no REFERENTE
Exige um conhecimento de mundo prévio; no geral, vem com argumento baseado em
consenso.
Baseadas na MENSAGEM
Convence pelo texto em si.
Baseadas no CÓDIGO
Explora o jogo linguístico; argumento baseado na competência linguística.
Baseadas no CANAL
Usa o veículo de circulação da mensagem para convencer; argumento de autoridade.
Como você pode perceber, a escolha das estratégias argumentativas está
intimamente ligada aos tipos de argumentos. Para que você se sinta seguro
na hora de escolher o que mais possa se adequar à sua argumentação e ser
eficiente em seu discurso, veja como isso funciona na prática!
Aplicando...
Você já estudou sobre a produção e a estrutura dos parágrafos e sabe que
um bom parágrafo deve ter: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Essa introdução, que também pode ser denominada tópico frasal, deve
ser constituída de uma ou duas frases curtas (teses), que irão expressar,
de uma maneira bastante sintética, a ideia principal do parágrafo, mais
especificamente o seu objetivo. Já o desenvolvimento irá corresponder
à ampliação do tópico frasal, será o momento de o autor apresentar
ideias secundárias que irão fundamentar ou esclarecer o apresentado na
introdução. Por fim, podemos ter a conclusão, que deverá retomar a ideia
central, levando em consideração os diversos aspectos selecionados no
desenvolvimento; é importante destacar que nem sempre a conclusão do
parágrafo está presente, especialmente nos parágrafos mais curtos.
28
CAPÍTULO 1
Na primeira seção deste capítulo, você percebeu que nenhum texto é
produzido sem uma finalidade sociocomunicativa e que todo texto tem por
trás um autor que procura convencer seu leitor acerca de alguma ideia. Essa
ideia constitui a tese de um texto e, em uma unidade menor, dos parágrafos
argumentativos. Pois bem, retomado um pouco da estrutura do parágrafo e
dos diferentes recursos de que um autor se vale para comprovar essa tese ao
organizar sua argumentação, passamos a observar como estes parágrafos
se estruturam, dependendo do(s) tipo(s) de argumentos.
I. Parágrafo com argumento baseado em consenso
Todo pai já sabe que cuidar de filhos pequenos é
uma aventura contínua. Num determinado instante,
reinam a paz e a harmonia; em outro, um problema
de saúde das crianças põe a casa em polvorosa; mais
adiante, um filho contrariado é capaz de gerar reflexos
negativos em todo o lar. Os pais precisam de muito jogo
de cintura e estar sempre preparados para assumir o
papel adequado à ocasião, que pode ser de professor, de
supervisor, de fiscalizador, de enfermeiro ou de colega
de brincadeiras. Esse conceito elástico da paternidade é
reforçado por um estudo conduzido por duas psicólogas
do desenvolvimento, a canadense Joan Grusec, da
Universidade de Toronto, e a israelense Maayan Davidov,
da Universidade Hebraica de Jerusalém. Elas revisaram
pesquisas envolvendo a relação de pais e filhos e
identificaram cinco formas de interação que influenciam
o amadurecimento dos pequenos. Na revista Child
Development, as pesquisadoras ressaltam que não há
um “modelo” de criação, mas sim papéis diferentes
que se alternam à medida que a situação se desenrola.
Entender essa dinâmica ajuda os pais a conquistar o
equilíbrio.
(Revista Planeta, Ano 39, Edição 467 – AGO/2011) Grifos nossos.
Tópico frasal por
generalização.
Argumento baseado
no consenso.
Para dar força ao
elemento baseado
no consenso, são
apresentados os
resultados de uma
pesquisa.
Conclusão da
argumentação e do
parágrafo.
Neste trecho, há a caracterização do que seria a aventura indicada no período de abertura.
Os
argumentos de
consenso, apesar de serem verdades aceitas
culturalmente e muitas vezes sem a necessidade de comprovação,
dependem muito da aceitação e do reconhecimento dos interlocutores, por
29
CAPÍTULO 1
isso geralmente são usados em conjunto com outros tipos de argumentos
que podem reforçá-los e torná-los menos questionáveis. Uma dessas
maneiras de comprovar ideias é recorrer a dados, estatísticas e pesquisas,
como no exemplo anterior.
II. Parágrafo com argumento baseado em provas concretas
Argumentação baseada
em dados empíricos e
quantitativos. Verdade
proveniente de uma
constatação.
Uma laranja e meio copo de suco da fruta contêm a mesma
quantidade de calorias: 40. O suco, porém, é menos saudável que
a fruta. Por quê? Ambos são ricos em açúcares e ambos têm carga
glicêmica considerável. Mas, sem as fibras que a fruta contém,
o suco puro obriga o pâncreas a produzir insulina - hormônio
responsável por transportar a energia para dentro das células
- muito rapidamente, para contrabalançar o açúcar circulante.
As fibras contidas na fruta atrasam esse processo metabólico, o
pâncreas trabalha menos abruptamente, sem choques para o
organismo. Em um efeito benéfico adicional, para serem digeridas
as fibras vão obrigar o organismo a gastar energia que, de outra
maneira, seria estocada no corpo na forma de gordura.
(Adaptado de Revista Veja, edição 2250, ano 45, nº 1 – JAN/2012) Grifos nossos.
O dado que introduz o parágrafo funciona de modo a identificar o que há de comum entre a fruta e o suco
proveniente dela. O desenvolvimento, contudo, procura argumentar qual a forma de ingestão das calorias é
mais saudável. Para tanto, apresenta-se uma distinção entre a fruta e o suco.
Qualquer opinião que possa ser contestada ou pelo menos posta em dúvida
necessita apoiar-se em fatos. Para que um argumento possa ter a aprovação
ou a reprovação do leitor/ouvinte, os dados apresentados devem ser
verdadeiros, pertinentes e adequados. Se você for construir parágrafos com
argumentos baseados em provas concretas, é melhor evitar generalizações
e utilizar casos singulares para ilustrar, de forma a comprovar verdades
gerais. É preciso basear-se em dados consistentes como os evidenciados no
exemplo anterior.
30
CAPÍTULO 1
III. Parágrafo com argumento com base no raciocínio lógico
A ideia de que a garotada de 6 anos tem só de brincar na escola para quando mais
velha ser alfabetizada não coincide com o mundo real, pois já foi comprovado que
muitas crianças dessa faixa etária se alfabetizam quando têm muito contato com as
práticas de leitura e escrita, inclusive em situações não escolares. Por isso, é importante
aproximar os pequenos, desde a Educação Infantil, de livros e de outros tipos de
material escrito, além de fazê-los entrar em contato com o próprio nome e o dos amigos
a fim de que aprendam a reconhecê-los e escrevê-los. A contação de histórias é outra
prática válida para a alfabetização inicial porque influencia positivamente no processo
de aquisição da escrita. No entanto, nenhuma dessas práticas impede as crianças de
brincar e todas contribuem para que já ao fim da Educação Infantil elas estejam imersas
na cultura escrita.
(Adaptado de Nova Escola, Edição 215 – SET/2008) Grifos nossos.
Os conectivos grifados chamam a atenção para as relações lógicas existentes entre as ideias e marcam relações de causa e efeito e de
adversidade.
Como diz o nome, os argumentos por raciocínio lógico resultam de
relações lógicas. É interessante destacar que esse tipo de argumento não
necessita da comprovação em relação à realidade extratextual, neste caso,
o importante é o exercício mental que esses argumentos provocam e não a
correspondência do que se diz com os fatos.
IV. Parágrafo com argumento de competência linguística
A equiparação de reações determinísticas de aparatos tecnológicos com o
comportamento humano e com processos sociais (vale lembrar que nem toda
interação é social) é bastante freqüente em textos sobre “interatividade”. Esse
enfoque antropomórfico incorpora em sua argumentação o que chamamos de “ideal
conversacional”, que considera qualquer reação do computador após um clique, por
exemplo, como um diálogo. Além disso, questões como inteligência e aprendizagem
são trivializadas e aplicadas a processos maquínicos determinísticos.
(PRIMO, Alex. Interação mediada por computador. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2008) Grifos nossos.
O uso de certos termos e conceitos (termos grifados) marca o lugar da argumentação do emissor como sendo o de um especialista no
assunto. Isso dá credibilidade ao discurso e fortalece a argumentação.
31
CAPÍTULO 1
Os argumentos de competência linguística demonstram que o emissor
conhece seu interlocutor e desta forma adequa seu modo de expor ideias,
de passar informações. Desse modo, o emissor pode ser mais específico,
utilizando-se de conceitos e expressões mais técnicas e menos usuais, ou
utilizar-se de uma linguagem mais próxima ao senso comum, de fácil acesso
a um público mais vasto. O uso do padrão formal da língua portuguesa
tende a dar credibilidade ao que se diz e pode até mesmo impressionar seu
interlocutor/leitor.
V. Parágrafo com argumento de autoridade
Argumentação baseada
em argumento de
autoridade:
cita-se um autor com
notório conhecimento
na área em questão.
De fato! “A ‘crise na educação’, espectro que assombra quase
todos os países, não pode ser resolvida dentro das salas de aulas.
Nem mesmo se houver um computador e uma conexão com a
Internet em cada uma delas.” (TOFFLER, 1998, p. 58). Estou ciente
disso e da ironia que pode conter a menção ao computador
conectado à Internet. De início, não creio que haja soluções para
tal “crise” em um lugar privilegiado. Ademais, esta crise configurase como emaranhado muito intrincado de fontes e de processos
que define o cenário de ruínas institucionais que caracterizam
nosso tempo.
(SILVA, Marco. Sala de aula Interativa. 4. ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2006.) Grifos
nossos.
Como vimos anteriormente, este tipo de argumento recorre a fontes
de informação renomadas, como autores e livros especializados, para
demonstrar a veracidade da tese que o autor está defendendo. Esse é
um dos tipos de argumentos mais encontrados em livros didáticos ou em
textos científicos e deverá ser o tipo de argumento mais usado por você,
acadêmico(a).
É importante destacar que comumente alguns autores organizam a
argumentação de seus textos apresentando argumentos de variados
tipos, para isso, é necessário conhecer e dominar cada um desses tipos de
argumentos, pois só assim será possível lançar mão de mais de um deles e
buscar atingir seus objetivos.
32
CAPÍTULO 1
Uma argumentação poderá ser considerada
inadequada quando não for possível atingir os objetivos aos
quais o autor se propôs. Há várias razões para isso acontecer:
razões relacionadas à não aceitação do interlocutor, ao
desenvolvimento do texto ou ainda à não correspondência
entre os argumentos usados no texto e a realidade.
Portanto, é condição para uma boa argumentação e, consequentemente,
um bom parágrafo argumentativo que o autor consiga explicitar em
sua produção a clareza dos objetivos (da tese a comprovar) e utilize os
argumentos necessários para convencer o leitor da validade da tese.
Agora que você já se apropriou dessas discussões, desejamos a você ÓTIMAS
PRODUÇÕES!
Síntese do capítulo
» A atividade de produção textual pressupõe habilidade de reflexão
sobre os processos de leitura e escrita, já que aquilo que lemos
pode nos auxiliar na organização das ideias por ocasião de nossas
produções textuais.
» O texto é o resultado do processo de comunicação entre escritor/
falante e leitor/ouvinte.
» Todo ato de comunicação tem como objetivo a produção de efeitos
de sentido, que pode ser concretizado em mudanças ou reforços
de opiniões.
» É por meio da argumentação que são apresentadas justificativas
que vão informar, defender e, ao mesmo tempo, convencer o leitor
sobre um ponto de vista.
» Argumentar é mais que dissertar. Na dissertação expomos e/ou
interpretamos ideias. Já na argumentação temos como objetivo
influenciar ou persuadir nosso leitor.
33
CAPÍTULO 1
» Na produção de textos argumentativos, é importante levarmos
em conta certos procedimentos argumentativos que auxiliem
nessa tarefa, tais como os tipos de argumentos e as estratégias
argumentativas.
» A argumentação precisa ser bem fundamentada, com base em
dados e informações que assegurem consistência e credibilidade
ao que é veiculado no texto. Nesse caso, a linguagem precisa ser
clara e objetiva, constituindo-se de raciocínio lógico, portanto,
coerente e coeso.
Você pode anotar a síntese do seu processo de estudo nas linhas a seguir:
34
CAPÍTULO 1
Atividades de aprendizagem
1. Leia o texto a seguir e responda:
Somente a verdade
A cena é comum entre os casais que vão a lojas de roupas: a mulher,
apertando a cintura, sai do provador e pergunta se está gorda. É uma
questão simples ao cérebro masculino: caso queira manter a relação, a única
resposta possível é um elogio que pareça natural. Mas em um shopping
de Munique, ano passado, o jornalista alemão Jürgen Schmieder, 31 anos,
contrariou as convenções. “Sua bunda parece muito grande”, respondeu
para a esposa. Grosseria? Pode ser, mas com fundo científico.
Schmieder participava do desafio de ficar 40 dias sem contar
mentiras para escrever uma grande reportagem sobre sua experiência
para o jornal Süddeutsche Zeitung. “Eu estava desligando os filtros do
meu cérebro e dizendo tudo o que passava pela minha cabeça”, diz. O
resultado foi catastrófico. Além de dormir 7 noites no sofá, apanhou porque
denunciou a “escapada” de um amigo, perdeu colegas por revelar quem
achava incompetente e, isolado, quase entrou em depressão.
O jornalista comprovou um estudo de 1997 da Universidade da
Califórnia do Sul, que afirmava que o ser humano mente, em média, 200
vezes ao dia. “A questão não é deixar ou não de mentir, mas sim de quantas
mentiras precisamos”, diz Schmieder, que reuniu as experiências no livro
Sincero (Record), lançamento no Brasil. Para ele, precisamos de 50 mentiras
diárias, aquelas diplomáticas, feitas para incentivar as pessoas ou não ferir
alguém, como quando se diz a um péssimo aluno de matemática que ele irá
bem no teste de cálculo. Já as mentiras que contamos a nós mesmos para
nos livrar de responsabilidades ou nos sentirmos superiores a outros devem
ser descartadas. A longo prazo, diz Schmieder, elas fazem você tão solitário
quanto quem só fala a verdade.
(Revista Galileu, nº 240 – JUL/2011)
35
CAPÍTULO 1
a) Que elementos permitem afirmar que o texto acima é argumentativo?
b) Qual é a tese defendida pelo argumentador?
c) Para desenvolver sua tese, o autor utiliza: I) comparação; II) crítica; III)
citação; IV) oposição. Encontre, no texto, um exemplo de cada um desses
recursos.
36
CAPÍTULO 1
d) O texto “Somente a verdade” é predominantemente objetivo ou
subjetivo? Justifique sua resposta.
e) Qual o tipo de argumento empregado pelo autor no 1º parágrafo do
texto?
f) Você acredita que o autor foi persuasivo em seu texto? Justifique sua
resposta.
37
CAPÍTULO 1
Aprenda mais...
Livros:
ABREU, A. Curso de redação. São Paulo: Ática, 2004.
FIORIN, José Luiz; PLATÃO, Francisco. Lições de texto: leitura e redação. 17
ed. São Paulo: Ática, 2007.
VIANA, Antonio C. Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo:
Scipione, 1997.
Filmes:
» Tempo De Matar
Este filme conta a história de um jovem advogado e sua assistente
que defendem um homem negro acusado de assassinar dois
homens que estupraram sua filha de 10 anos, incitando o
renascimento da Ku Klux Klan. O filme apresenta de maneira
bastante elucidatória a construção de argumentos lógicos,
sustentados pelo gerenciamento das informações.
Título original: (A Time to Kill)
Lançamento: 1996 (EUA)
Direção: Joel Schumacher
» Obrigado Por Fumar
O filme conta a história do assessor de uma fábrica de cigarros que
viaja por seu país realizando palestras tentando proteger o direito
de fumar da nação. No filme, fica clara a ideia de que um narrador
deve saber administrar a persuasão e o convencimento para que
haja uma boa argumentação e que esses elementos devem ser
moldados por esse narrador de acordo com o público ao qual ele
se dirige. “Essa é a beleza da argumentação. Se argumentar bem,
nunca estará errado.” Com essa frase, Nick Naylor resume o mote
de Obrigado Por Fumar.
Título original: (Thank You for Smoking)
Lançamento: 2006 (EUA)
Direção: Jason Reitman
38
2
Resenha
Luís Fernando Prado Telles
Neste capítulo, você será apresentado a um gênero textual bastante utilizado na esfera acadêmica:
a resenha. Inicialmente, será abordada uma definição do gênero, suas aplicabilidades e objetivos
de uso. Na sequência, você terá contato com os dois principais tipos de resenhas: a descritiva e a
crítica. Ao longo do capítulo, serão desenvolvidas as habilidades de análise textual do gênero, bem
como as técnicas de construção.
Objetivo geral de aprendizagem
» Compreender a definição do gênero resenha na
esfera acadêmica, seus usos e objetivos, bem como,
realizar análise de resenhas, com vistas a depreender
os recursos linguísticos e textuais que sustentam a
produção do gênero.
Seções de estudo
Seção 1 – Resenha: definição e objetivos
Seção 2 – Resenha descritiva
Seção 3 – Resenha crítica
CAPÍTULO 2
Neste capítulo, você terá a oportunidade de estudar um importante gênero
textual, muito utilizado na esfera acadêmica, tanto como ferramenta de
pesquisa e autoestudo, quanto como instrumento de divulgação científica e de
avaliação de trabalhos acadêmicos. Para tanto, na primeira seção do capítulo,
você terá contato com os elementos constitutivos da resenha como gênero
textual e poderá reconhecer sua especificidade quando utilizada na esfera
acadêmica. Na segunda seção do capítulo, você será introduzido ao estudo
da resenha descritiva, bastante utilizada como instrumento de divulgação
científica. Na terceira seção, você será apresentado aos aspectos constitutivos
da resenha crítica, em que predomina a característica argumentativa do
texto, visto que neste tipo de resenha objetiva-se a uma avaliação do objeto
estudado.
Seção 1
Resenha: definição e objetivos
Objetivos de aprendizagem
» Reconhecer os elementos constitutivos da resenha
enquanto gênero textual, seus usos e objetivos;
» Reconhecer a especificidade do gênero resenha utilizado na
esfera acadêmica.
Em termos mais amplos, a resenha consiste num texto que tem por objetivo
apresentar as características de um objeto, seja científico, artístico ou
cultural. O objeto de uma resenha pode ser, portanto, um filme, uma peça
de teatro, uma apresentação de dança, uma música, livros dos mais diversos
gêneros e das mais diferentes esferas do conhecimento. Em geral, na esfera
acadêmica, os livros resultantes de pesquisas e estudos são os objetos mais
frequentemente resenhados. Nesse sentido, conforme nos ensinam Fiorin e
Savioli (1990), uma resenha bem equilibrada deve apresentar as propriedades
de um objeto e suas relações, enumerar os aspectos que o constituem e as
circunstâncias em que foi produzido. Ainda segundo esses autores, apesar
de objetivar uma descrição, a resenha não deve ter a pretensão de esgotar
todos os aspectos do elemento tomado como objeto. Resenhar pressupõe,
então, um olhar seletivo sobre o objeto alvo de interesse, tendo em vista
sempre a intencionalidade que está em jogo e a finalidade a que se destina.
40
CAPÍTULO 2
Além disso, é preciso ter em mente, sempre, a que tipo de leitor a resenha se
dirige, se a leitores especialistas ou ao público em geral. Considerando tais
variáveis, um mesmo objeto pode gerar resenhas totalmente distintas, já
que um autor da resenha pode considerar aspectos do objeto que podem
ser negligenciados por outro.
Você pode estar se perguntando: quais são as diferenças
entre o resumo e a resenha?
A resenha difere do resumo tanto quanto à estruturação textual quanto à
finalidade a que se presta. No resumo, o objetivo é exclusivamente o da
síntese do conteúdo do texto de base, ou do objeto em questão. Nesse
sentido, o resumo privilegia a fidelidade ao conteúdo e, por isso, deve
respeitar a ordem original de apresentação das informações e levar em
conta o grau de relevância destas no contexto geral do objeto de base. Na
resenha, o objetivo não é apenas o de resumir o conteúdo, apesar de fazer
isso também, mas se deve considerar o objeto de um modo mais amplo,
em que se destacam outros elementos, como comentários à autoria, às
condições de produção, ao veículo de publicação, dentre vários outros.
Ainda segundo Fiorin e Savioli (1990), o tipo de texto descritivo é o que
prevalece numa resenha, contudo, em paralelo à descrição, podem-se
combinar numa resenha o texto narrativo e o dissertativo; este último,
inclusive, é bastante frequente quando a resenha objetiva a construção de
uma posição crítica sobre o objeto. Uma resenha pode ser, então, puramente
descritiva, quando nela não há qualquer julgamento ou apreciação do
resenhista, ou pode ser crítica, quando é marcada por “apreciações, notas
e correlações estabelecidas pelo juízo crítico de quem a elaborou.” (FIORIN;
SAVIOLI, 1990, p. 426).
O gênero resenha povoa as mais diversas esferas discursivas e pode ser
encontrado em diversos meios de comunicação e nos mais variados
suportes. No âmbito da esfera acadêmica, mais especificamente, a prática
de produção textual prevê a utilização da resenha tanto por parte de alunos
quanto de professores, seja como instrumento de fixação de estudos e
de avaliação ou como exercício prévio de preparação de trabalhos mais
complexos e extensos.
Ainda no âmbito acadêmico, o gênero da resenha também pode funcionar
tanto como veículo de divulgação científica, quanto como instrumento de
avaliação pública de algum objeto científico-cultural resultante de uma
pesquisa acadêmica. No primeiro caso, a resenha é veiculada, geralmente,
em revistas de divulgação, estando, portanto, circunscrita ao universo
41
CAPÍTULO 2
discursivo do âmbito da comunicação, mais especificamente do jornalismo
científico. No segundo caso, a resenha costuma ser veiculada em revistas
científicas pertinentes à área de conhecimento à qual pertence o objeto
científico-cultural objeto da resenha. No caso das resenhas de divulgação,
o caráter avaliativo tende a ser mais atenuado, prevalecendo, pois, o
veio informativo, o que faz com que predomine na resenha o tipo de
texto descritivo. No caso das resenhas publicadas em revistas científicas
especializadas, a descrição aparece entremeada à avaliação que o autor da
resenha, um especialista da área de conhecimento em questão, faz sobre o
objeto analisado. Além da descrição, outra característica importante deste
tipo de resenha são os recursos argumentativos utilizados pelo autor para a
construção de sua avaliação.
Nas duas seções seguintes, você conhecerá as características desses dois
tipos de resenhas, a de caráter mais descritivo e aquela que tem por
finalidade construir uma avaliação do objeto, portanto, fazer uma crítica.
Seção 2
Resenha descritiva
Objetivos de aprendizagem
» Identificar os elementos constitutivos da resenha descritiva;
» Reconhecer, por meio de análise textual, os elementos
característicos da resenha descritiva e apreender estratégias
e procedimentos de sua produção escrita.
Conforme você já viu anteriormente, a resenha descritiva é aquela que não
apresenta julgamentos do resenhista em relação ao que é tomado como
objeto. Fiorin e Savioli (1990) delimitam os principais aspectos que devem
constar numa resenha descritiva quando o objeto considerado é um texto.
Desse modo, os elementos que devem formar a estrutura básica desse
tipo de resenha são: nome do autor (ou autores); título e subtítulo da obra
(livro, artigo de periódico); nome do tradutor (se houver tradução); nome da
editora; lugar e data da publicação da obra; número de páginas e volumes;
descrição sumária das partes, capítulos, índices; resumo da obra; descrição
42
CAPÍTULO 2
do tom do texto; apresentação dos métodos utilizados e ponto de vista
defendido.
Para entendermos como esses elementos podem aparecer numa resenha,
nada melhor do que um exemplo. Vejamos, então, o caso de uma resenha
publicada em uma revista de divulgação científica e que está, portanto,
inserida no universo discursivo do jornalismo científico, conforme já
mencionado anteriormente.
O texto a seguir transcrito foi redigido por Marcos Pivetta e publicado na
seção “resenhas” da revista de divulgação científica da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo, intitulada Pesquisa Fapesp. A resenha de
Pivetta tem por objetivo apresentar ao público, em especial aos acadêmicos
e pesquisadores, o curioso livro de Emico Okuno e Marcos Duarte, que
relaciona o futebol ao estudo da física. Observe!
DUARTE, Marcos; OKUNO, Emico. Física do Futebol: mecânica. São Paulo: Oficina de Textos, 2012. 144 p.
Num país em que alguns atletas se vangloriam de ter matado aula na infância para jogar bola,
Física do Futebol: Mecânica mostra que a paixão pelo esporte não precisa ser necessariamente
incompatível com o gosto pelos estudos. Os autores do livro, Marcos Duarte, físico e pesquisador
dos movimentos do corpo humano da Universidade Federal do ABC (UFABC), e Emico Okuno,
também física e professora aposentada da Universidade de São Paulo (USP), usam os elementos do
futebol — o campo, a bola, os jogadores, as regras, os diferentes tipos de passe e movimentação
— para ilustrar os conceitos de física ensinados no primeiro ano do ensino médio.
De caráter paradidático, a obra está dividida em quatro capítulos: força, movimento, energia
e fluidos. Não se trata de um livro ligeiro, de entretenimento, embora o texto seja leve e agradável
e não faltem gráficos, figuras e imagens que ajudam o leitor a enxergar as relações entre os dois
mundos, o da física e o do futebol. Seu intuito é ensinar mesmo, e os autores passam em revista as
principais ideias e fórmulas matemáticas da mecânica — do eixo de coordenadas cartesianas e do
teorema de Pitágoras até a força de arrasto e o princípio de Bernoulli (a pressão de um fluido sobre
uma superfície é inversamente proporcional à sua velocidade).
Além de fornecer exemplos do futebol para explicar física, o livro adota outro recurso para
atrair o leitor. Em cada capítulo, há pinceladas históricas sobre personagens da ciência e dos
gramados. Microbiografias de Galileu, Newton e Einstein dividem as páginas com as trajetórias de
Pelé, Garrincha, Didi e Zico, entre outros. No final da obra, há um quadro com imagens e explicações
sobre como eram as bolas de futebol em cada Copa do Mundo e por que os jogadores atuais têm
a impressão de que as pelotas de hoje são mais leves do que as do passado. Mesmo para quem
não gosta de física ou de futebol, a obra de Duarte e Emico reserva lances interessantes. Ciência e
esporte é uma tabelinha que, quando bem feita, pode resultar em gol.
Resenha por: PIVETTA, Marcos. Pesquisa Fapesp. Edição 193. São Paulo, Março de 2012. Disponível em: http://
revistapesquisa.fapesp.br/2012/03/30/de-galileu-a-pelé/ Acesso em: 05 maio de 2012.
43
CAPÍTULO 2
Antes mesmo do texto da resenha, são apresentados os cinco primeiros
elementos estruturais delimitados por Fiorin e Savioli (1990): os nomes dos
autores da obra, o título e subtítulo da obra, o nome da editora, o lugar e a
data da publicação e o número de páginas.
No primeiro parágrafo, o autor da resenha inicia o texto chamando a
atenção para a peculiaridade da obra tomada como objeto: o fato de o livro
de Duarte e Okuno comprovar que a paixão pelo futebol não pode estar
em oposição ao gosto pelos estudos. Isto é feito no primeiro período do
parágrafo e tem a finalidade de prender a atenção do leitor da resenha,
para que continue a leitura e se interesse pelo livro. Logo em seguida, ainda
no mesmo parágrafo, apresenta os autores da obra em questão indicando,
principalmente, a quais instituições de ensino pertencem. Isso tem o efeito
de dar maior credibilidade à obra em questão, já que o leitor fica sabendo
que os autores são especialistas no assunto. Ainda no primeiro parágrafo,
Pivetta apresenta o método utilizado pelos autores e a finalidade da obra:
utilizar elementos do futebol para ilustrar os conceitos da física ensinados
no primeiro ano do ensino médio.
No segundo parágrafo da resenha, Pivetta já apresenta a que tipo de livros
filia a obra em questão: aos paradidáticos; ou seja, os livros que não são
propriamente didáticos, pois não são direcionados aos alunos, mas sim,
aos professores, já que deve servir para auxiliá-los a preparar suas aulas e
enriquecer o trabalho didático desenvolvido por estes. Trata-se, pois, de
um tipo de livro suplementar, que deve ser usado ao lado, em paralelo aos
livros didáticos, no caso os de ensino de física. Na sequência do parágrafo,
Pivetta continua fazendo o que recomendam Fiorin e Savioli (1990) e
apresenta, de modo bastante genérico, a estrutura da obra, suas partes e
respectivos conteúdos; logo em seguida, tece comentários a respeito da
extensão e complexidade do texto, bem como sobre o tom da obra. Diz
ser este um livro que possui um texto “leve e agradável”, apesar de não ser
ligeiro, de entretenimento, apenas. O autor da resenha comprova esses
seus comentários fazendo referência à relação entre figuras e gráficos, que
servem para unir o universo da física ao do futebol. Que o livro não é de
entretenimento, isso fica explícito na afirmação que faz o autor a respeito
da finalidade do livro: “ensinar mesmo”. Para demonstrar isso, o resenhista
afirma que o livro apresenta uma revisão das principais ideias e fórmulas
matemáticas da mecânica.
Depois de ter deixado claro que o livro tem como finalidade ensinar e
não entreter apenas, no último parágrafo de sua resenha, Pivetta esforçase por demonstrar o diálogo entre física e futebol que é estabelecido no
livro de Duarte e Okuno. O resenhista chama a atenção para as “pinceladas
históricas” a respeito das biografias, tanto de personalidades da física quanto
44
CAPÍTULO 2
do mundo do futebol; além disso, cita, a título de curiosidade, o quadro que
consta ao final do livro com “imagens e explicações sobre como eram as
bolas de futebol”, bem como a explicação sobre o porquê de, hoje em dia,
se ter a impressão de que as bolas de futebol são mais leves do que as de
antigamente.
Vale notar, ainda, que além de reservar este último parágrafo de sua resenha
para demarcar bem a relação entre física e futebol a partir da apresentação
de uma série de informações de ambos os universos, Pivetta também dialoga
com o futebol, em seu texto, ao adotar expressões e termos próprios a esse
universo, por exemplo, chama a bola de “pelota” e diz que o livro pode
chamar a atenção até daqueles que não gostam de futebol e nem de física,
já que reserva “lances interessantes”. Por fim, diz que a “tabelinha” entre
ciência e esporte, se bem feita, pode “resultar em gol”. Aqui, portanto, de
uma maneira bem humorada e adotando o tom leve do livro em questão,
Pivetta sugere que os autores da obra souberam fazer bem essa tabelinha e
acabaram por marcar um gol com o livro recém-lançado.
Perceba que apesar de esta resenha apresentar uma certa
avaliação positiva do livro em questão ela não se caracteriza
como uma resenha crítica, visto que aqui o que prevalece é o
caráter informativo, de apresentação da obra, com o intuito de
divulgá-la, daí o fato de serem ressaltados os seus aspectos
relevantes.
De certo modo, o autor da resenha procura responder a uma pergunta
implícita que se coloca ao seu leitor e ao leitor da revista em que a resenha foi
publicada: por que vale a pena ler o livro de Duarte e Okuno? Basicamente,
é essa a questão que uma boa resenha de divulgação deve responder
minimamente.
Veja, a seguir, outro exemplo de resenha descritiva.
45
CAPÍTULO 2
NETO, Octavio Amorim. De Dutra a Lula: a condução e os determinantes da política externa brasileira. Rio de Janeiro:
Editora Campus/Elsevier, 2012. 216 p.
Se havia uma exceção gritante na crescente quantificação dos saberes, essa era a política
externa, sempre analisada de forma qualitativa e, na maior parte dos casos, em um diapasão
subjetivo. O estudo de Octavio Amorim Neto, De Dutra a Lula: a condução e os determinantes
da política externa brasileira, traz essa nova variável, objetiva, revertendo certezas e confirmando
hipóteses. A partir da base de dados das votações na Assembleia Geral das Nações Unidas é possível
analisar o grau de convergência do Brasil com os EUA nas votações em mais de seis décadas de
política externa e 18 mandatos presidenciais. Os resultados são notáveis. Somos informados de
que a maior interação entre as nações se deu nos 15 anos posteriores ao fim da Segunda Guerra
Mundial, auge da Guerra Fria. Daí em diante há uma queda sistemática nessa convergência nos 63
anos, com pequenas variações entre presidentes.
Confirma-se a visão de que, à medida que cresce o potencial nacional, mais o país tende a se
afastar das posições americanas e garantir a sua autonomia. Nisso entrariam três vetores: a crença
do Itamaraty na grandeza brasileira; o nacionalismo dos militares na construção de seu poder; a
sensibilidade das esquerdas à argumentação de poder nas relações internacionais. Seja como for,
em todos os momentos é notável a centralidade crescente do papel do presidente na condução
da política externa, embora o tema tenha adquirido notoriedade apenas nos últimos anos.
Efetivamente os números mostram uma perda gradativa de poder do Itamaraty e o
crescimento da diplomacia presidencial, com o risco da politização da política internacional. Nisso
Amorim Neto revela uma dualidade local: uma política de Estado que tende à continuidade da
política externa, independentemente do governante; uma política de governo que mostra o peso
das orientações políticas e escolhas presidenciais. O estudo, unindo quantitativo e qualitativo,
revela como são complexas as nossas relações com o mundo.
Resenha por: HAAG, Carlos. Pesquisa Fapesp. Edição 195. São Paulo, Maio de 2012. Disponível em: http://revistapesquisa.
fapesp.br/2012/05/11/politica-externa-em-numeros/. Acesso em: 05 maio de 2012.
Observe que, tal como na resenha anterior, antes mesmo do texto, são
apresentados os primeiros elementos estruturais: o nome do autor da obra,
o título e subtítulo da obra, o nome da editora, o lugar e a data da publicação
e o número de páginas.
Contudo, você deve ter percebido que esta resenha, diferentemente da
anterior, adota um tom mais sério, menos leve, muito em razão do próprio
objeto resenhado, que acaba ditando um pouco o tom do discurso do
resenhista. No entanto, do mesmo modo que no texto anterior, aqui, o autor
da resenha também já destaca, de início, no primeiro período do primeiro
parágrafo, o diferencial da obra em questão.
46
CAPÍTULO 2
Primeiramente, chama a atenção para o fato de que na área de conhecimento
envolvendo a política externa, os estudos são marcados por avaliações
qualitativas e subjetivas, o que constitui uma exceção frente às demais áreas,
fortemente marcadas pela “quantificação dos saberes”. O diferencial da obra
de Amorim Neto, portanto, é oferecer análises quantitativas e conclusões
baseadas em dados objetivos. Depois de apresentar esse diferencial, Haag
já apresenta qual é a fonte e a base de dados utilizada por Amorim Neto a
fim de construir suas conclusões sobre “os determinantes da política externa
brasileira”, trata-se da base de dados das votações na Assembleia Geral das
Nações Unidas. A partir dessa base, Haag diz que é possível analisar o “grau
de convergência” do Brasil com os EUA.
Perceba que o autor da resenha entra diretamente no conteúdo do livro,
fazendo uma breve explanação a respeito da conclusão geral da análise
de tais dados: uma maior convergência entre Brasil e EUA nos quinze anos
seguintes à Guerra Fria e uma diminuição gradativa desta ao longo dos
sessenta e três anos seguintes.
A partir dos dados quantitativos expostos no primeiro parágrafo, Haag
comenta, no segundo parágrafo, as conclusões e interpretações mais
relevantes que constam do livro de Amorim Neto: a de que à media que
cresce o potencial do Brasil mais este tende a afastar-se das posições do
EUA, bem como tende a fortalecer-se a centralidade do papel do presidente
na condução da política externa.
No terceiro parágrafo, Haag retoma a questão do fortalecimento da figura
do presidente e aponta para o consequente enfraquecimento do papel
do Itamaraty na política externa brasileira. Ao final, Haag chama a atenção
para a dualidade no modo de condução da política externa brasileira: tratase de uma política de Estado que propõe a continuidade, mesmo com a
alternância presidencial.
Tal como na resenha anterior, o autor procura responder à pergunta implícita
que se coloca ao leitor: por que vale a pena ler o livro de Octavio Amorim
Neto. Diferentemente, contudo, da resenha anterior, em vez de se privilegiar
a apresentação da estrutura e do tom do livro, nesta privilegiou-se uma
abordagem mais objetiva do próprio conteúdo da obra alvo da resenha:
principalmente quanto ao método e às principais conclusões das análises
e relações que dela podem resultar. Perceba, também, que nesta resenha o
autor demonstra ter uma visão positiva sobre a obra resenhada, mas evita
fazer julgamentos explícitos, o que a caracteriza bem como uma resenha
descritiva com a finalidade de divulgação e com o objetivo de despertar o
interesse do leitor.
47
CAPÍTULO 2
Lembre-se de que o gênero resenha não apresenta
um padrão muito fixo, visto que seus elementos podem variar
de acordo com a natureza da obra em questão, do públicoalvo e da finalidade a que se destina.
Perceba que, no primeiro caso, a resenha procura demonstrar como a
obra chama a atenção pelo inusitado da relação entre física e futebol; no
segundo, evidencia-se como a obra objeto da análise chama a atenção
devido ao método utilizado e às conclusões que podem ser depreendidas
a partir dele. É possível considerar que as duas resenhas podem interessar
ao público em geral, mas ambas possuem leitores ideais, profissionais das
áreas pertinentes às obras.
ANÁLISE
TEMÁTICA
1 - De que trata o texto?
2 - Sob que perspectiva o autor
tratou do assunto (tema)?
Quais os limites do texto?
3 - Qual problema foi localizado?
Como foi o assunto problematizado?
4 - Como o autor soluciona
o problema? Que posição assume?
5 - Como o autor
demonstra seu raciocínio?
Quais são seus argumentos?
6 - Há outros assuntos
paralelos à ideia central?
48
Em ambas as resenhas analisadas, é possível considerar que
houve, por parte de seus autores, leituras seletivas das obras
resenhadas, a partir das quais tanto Pivetta quanto Haag
puderam separar elementos que julgaram pertinentes à
apresentação das obras num veículo de divulgação científica.
De qualquer modo, apesar de não haver um padrão único
de construção da resenha, você pode observar, a partir das
análises anteriormente apresentadas, que há alguns elementos
que são constantes.
Medeiros (2011), a partir da obra de Antonio Joaquim Severino
(2000), apresenta alguns passos necessários para que possamos
fazer uma boa resenha descritiva de uma obra textual. Destaca
o autor que uma boa resenha descritiva deve ser preparada por
dois passos de leitura: aquele em que se faz a análise textual e,
na sequência, a análise temática. Segundo Medeiros, a análise
textual compreende “o estudo do vocabulário”, a “verificação
das doutrinas expostas”, “a sondagem de fatos apresentados”,
a “autoridade dos autores citados”, “o esquema das ideias
expostas no texto”. Já para que a análise temática seja efetiva,
segundo salienta Medeiros (2011, p. 147-148), devem ser
respondidas as seguintes perguntas, conforme o esquema ao
lado.
De certa maneira, se analisarmos os exemplos anteriormente
apresentados, é possível considerar que tais perguntas são
respondidas em ambas as resenhas, o que pressupõe que os
CAPÍTULO 2
seus autores, cada um a seu modo, procedeu, antes da redação de seus
textos, às análises temáticas e textuais dos livros resenhados, mesmo que
não de modo esquemático. Nas duas resenhas, você pode perceber que
há um predomínio do caráter informativo, no sentido de indicar qual a
novidade apresentada nas obras analisadas. Não há, pois, o predomínio
da apresentação de julgamentos e de opiniões dos resenhistas, apesar de
em ambas podermos entender que recomendam a leitura das obras. A
preponderância de avaliações e julgamentos marca o outro tipo de resenha,
a chamada resenha crítica, a qual será apresentada na próxima seção.
Seção 3
Resenha crítica
Objetivos de aprendizagem
» Identificar os elementos constitutivos da resenha crítica;
» Reconhecer, por meio da análise textual, os elementos
característicos da resenha crítica e apreender estratégias e
procedimentos de sua produção.
O gênero da resenha crítica pode ser veiculado nos mais variados meios
de comunicação e ser apresentado em diversos suportes, bem como servir
a finalidades várias. Por exemplo, é muito comum lermos em jornais e em
revistas textos críticos sobre os últimos lançamentos do cinema ou sobre
as últimas produções da indústria fonográfica. Esse tipo de texto, em geral,
pode ser enquadrado no gênero da resenha crítica, de avaliação pública de
um objeto artístico-cultural.
No âmbito acadêmico, a resenha crítica segue um padrão de apresentação
diferenciado e é divulgada em revistas científicas especializadas e, portanto,
deve ser produzida por um especialista na área da obra tomada como objeto,
bem como também é dirigida a especialistas, pesquisadores, professores
e alunos da área. Difere, por essas características contextuais, da resenha
que tem a finalidade da divulgação e que circula no universo discursivo do
jornalismo. Por essas razões, a resenha crítica é também reconhecida, na
esfera acadêmica, como resenha científica.
49
CAPÍTULO 2
Além de ser chamada de resenha científica, a resenha crítica também é
denominada, em alguns casos, de recensão crítica. Já a Associação Brasileira
de Normas Técnicas, por meio da NBR 6028:2003, conforme nos orienta
Medeiros (2011), entende esse gênero, dentro da esfera acadêmica, como
sinônimo de resumo crítico, cuja finalidade seria a de sintetizar as principais
ideias da obra, avaliar as informações e os argumentos nela presentes, bem
como a forma de exposição. Nesse sentido, o objetivo seria o de munir o
pesquisador de informações para que possa decidir quanto à consulta ou
não da obra em questão.
TEXTO TOMADO
COMO OBJETO
1 - Qual sua coerência interna?
2 - Qual a originalidade do texto?
3 - Qual o alcance do texto?
4 - Qual a validade das ideias?
5 - Qual a relevância das ideias?
6 - Que contribuições apresenta?
7 - O autor angiu os objevos propostos?
8 - O texto supera a pura retomada
de textos de outros autores?
9 - Há profundidade na exposição das ideias?
10 - A tese foi demonstrada com eficácia?
Apesar dessas diversas possibilidades de denominação,
optamos, aqui, pela denominação de resenha crítica,
simplesmente. A respeito desta, vale atentarmos para a
definição mais completa oferecida por Medeiros, em que
considera que a resenha é:
[...] um relato minucioso das propriedades de um objeto, ou
de suas partes constitutivas; é um tipo de redação técnica que
inclui variadas modalidades de textos: descrição, narração e
dissertação. Estruturalmente, descreve as propriedades da
obra (descrição física da obra), relata as credenciais de autor,
resume a obra, apresenta suas conclusões e metodologia
empregada, bem como expõe um quadro de referências em
que o autor se apoiou (narração) e, finalmente, apresenta uma
avaliação da obra e diz a quem a obra se destina (dissertação).
(MEDEIROS, 2011, p. 145-146).
Em se considerando essa definição mais completa do gênero,
podemos constatar que ela contempla a resenha crítica,
uma vez que se prevê uma avaliação, um julgamento. Desse
modo, para a produção da resenha crítica, além dos passos
da análise textual e da análise temática, caberiam ainda mais
três passos complementares, o da análise interpretativa,
o da problematização e o da síntese pessoal do autor da
resenha. Para orientar a interpretação e a problematização
que darão consistência à crítica desenvolvida na resenha,
Medeiros (2011, p. 148-149) também elenca uma série de
questões que devem ser feitas ao texto tomado como
objeto, observe o esquema ao lado.
Essas questões, quando respondidas a contento, ajudam
o autor da resenha a organizar os elementos mais
importantes que não podem faltar num texto com teor
11 - A conclusão está apoiada em fatos?
crítico. É importante você considerar, no momento da
redação de sua resenha, a quem ela se destina. Para tanto,
vale considerar que:
50
CAPÍTULO 2
Na resenha crítica, o leitor espera um posicionamento do resenhista;
ela não pode ser fria e distante, temerosa de comprometimento,
sob pena de tornar-se um texto indigesto, desinteressante. Todavia,
os juízos avaliativos precisam apoiar-se em fatos, em provas, em
argumentos consistentes. Afirmações genéricas pouco acrescentam,
ou revelam desinteresse em aprofundamento da análise. Os juízos
avaliativos também devem ser claros, para que o leitor possa concluir
sobre a validade da aquisição ou leitura da obra. Deve ficar claro
para o leitor se o resenhista adota como positivos ou negativos
os posicionamentos, os conceitos, as ideias da obra resenhada.
(MEDEIROS, 2011, p. 155).
Veja, a seguir, o exemplo de uma resenha crítica publicada numa revista
acadêmica da área da educação. Trata-se de um texto feito pela professora
Maria Dativa de Salles Gonçalves, membro integrante do Núcleo de
Políticas, Gestão e Financiamento da Educação, no Setor de Educação da
Universidade Federal do Paraná, a respeito do livro do também professor
Demerval Saviani, intitulado História das ideias pedagógicas no Brasil.
Essa resenha foi publicada na revista de educação intitulada Cadernos de
Pesquisa. As referências completas acompanham o texto citado a seguir.
SAVIANI, Demerval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2007, 473 p.
O livro, que recebeu o prêmio Jabuti em 2008, na categoria Educação, constitui mais uma
contribuição do professor Dermeval Saviani ao exame crítico do pensamento pedagógico brasileiro
e é um fruto do amadurecimento intelectual do autor. Não se trata de simples exposição ordenada
de resultados de pesquisa. É, na verdade, resultante de uma vida de intensa elaboração da teoria
da educação sob perspectiva crítica, de pesquisas e reflexões geradoras de novos conhecimentos
difundidos em aulas, grandes conferências, muitos livros e artigos, na trajetória desse educador.
Oferecendo uma visão de conjunto das ideias pedagógicas na história da educação brasileira
ao longo de cinco séculos, o texto discute suas implicações para a teoria e a prática educativas.
As ideias pedagógicas diferem substancialmente da tradicional história do pensamento
dos grandes pedagogos e, também, das educacionais, que se referem amplamente à educação.
As ideias pedagógicas decorrem da análise do fenômeno educativo, na busca de explicá-lo,
ou derivam de certa concepção de homem, mundo ou sociedade sob a qual é interpretado o
fenômeno educativo. Segundo o autor, elas são “as ideias educacionais, não em si mesmas,
mas na forma como se encarnam no movimento real da educação, orientando, mais do que
isso, constituindo a própria substância da prática educativa” (p.6). Como exemplo, podem ser
consideradas as ideias pedagógicas dos jesuítas no Brasil, especialmente no chamado Período
Heroico; estas não se definem por simples derivação da concepção religiosa (católica) do mundo,
sociedade e educação. Deram origem a práticas educativas que concretizaram o necessário ajuste
entre as ideias educacionais e a realidade específica da colônia brasileira. São, portanto, as ideias
pedagógicas ao longo da educação brasileira, o fulcro do estudo apresentado.
51
CAPÍTULO 2
O livro resultou de um acurado processo de pesquisa conduzido pelo autor, com
financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq –,
cujo propósito foi compreender a “evolução do pensamento pedagógico brasileiro a partir da
identificação, classificação e periodização das principais concepções educacionais” (p.1-2). A
investigação tomou como materiais básicos documentos escritos – livros, artigos e textos oficiais
–, trabalhando com fontes primárias, no caso, documentos nos quais se encontravam as ideias
pedagógicas dos principais protagonistas da educação brasileira, e fontes secundárias, como
documentação bibliográfica.
Foi obtido assim um conjunto de informações de grande vulto que, no livro propriamente
dito, se evidencia em cada um dos capítulos e é registrado em um total de 351 fontes diretamente
referidas e utilizadas na redação do texto. Além das obras mais conhecidas de história da educação
brasileira, estão presentes, no decorrer dos capítulos, numerosas referências aos estudos feitos
no Brasil nos últimos 20 anos por pesquisadores do campo histórico educativo e publicados até
2006. São livros, artigos e outros materiais, inclusive os divulgados como teses, dissertações e até
monografias de cursos de pós-graduação. Esses estudos de corte analítico, que incidiram sobre
temas ou momentos específicos da educação brasileira, foram trabalhados pelo autor, e, somados
a muitas outras leituras, possibilitaram reflexões e interpretações substantivas e sínteses amplas,
com densidade explicativa, relativas às ideias pedagógicas existentes em longos períodos da
história da educação brasileira ou em algumas de suas fases. Não foi relegado, contudo, o objetivo
de oferecer aos leitores parte significativa das ricas informações obtidas pela pesquisa, que se
referem a cada um dos momentos da educação brasileira; são apresentados assim, cuidadosos
detalhamentos, tais como biografias dos protagonistas e datas completas de eventos marcantes,
para melhor esclarecer o leitor.
Como outro resultado do trabalho de pesquisa, o autor construiu uma original periodização
da evolução das ideias pedagógicas no Brasil. Buscou superar tanto as divisões no tempo, cuja
base é a história político-administrativa, quanto as que se cingiram principalmente ao critério da
determinação econômica, no esforço de compreender com maior rigor a história da educação
brasileira. Assim, ao elaborar a periodização proposta, esclarece ter partido das principais
concepções de educação, guiando-se pelo movimento real das ideias pedagógicas presentes no
curso da história da educação.
A Pedagogia Tradicional, nas vertentes religiosa e leiga, a Pedagogia Nova, a Pedagogia
Tecnicista e a concepção pedagógica produtivista, estudadas em suas características nos trabalhos
anteriores do autor, são as categorias que delimitam quatro grandes períodos, dentro dos quais se
identificam as diferentes ideias pedagógicas. Cada período é subdividido em duas ou três fases,
de acordo com o movimento dessas ideias no seu interior. O início e o fim de cada período foram
determinados por eventos fundamentais. Assim, por exemplo, o 2º período, que vai de 1759 a 1932,
e em que ocorre a “coexistência entre as vertentes religiosa e leiga da Pedagogia Tradicional”, tem
início com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, e o término marcado pela divulgação
do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
Para demonstrar que o movimento das ideias pedagógicas foi o efetivo “divisor de águas”,
nada mais elucidativo que a afirmação de que “o princípio da periodização tem por base a
hegemonia” (p. 20). Termos como configuração, desenvolvimento, predominância, monopólio,
52
CAPÍTULO 2
equilíbrio, coexistência, crise e articulação, com referência às pedagogias, passam a ser utilizados
nos títulos dos períodos e capítulos. Essas denominações indicam o modo pelo qual as ideias
pedagógicas se apresentam em determinado momento histórico, sob a forma de uma pedagogia,
ou concepção, que nasce, firma-se, predominando ou coexistindo ao lado de outra, entrando em
crise e sendo substituída ou não, pois pode ser reconfigurada sob novas bases, num movimento
constante. São analisadas também as chamadas ideias e correntes não hegemônicas e as pedagogias
contra-hegemônicas, de “esquerda”, que, em alguns períodos e fases da educação brasileira,
buscaram influenciar e ainda influenciam, de algum modo, a ação educativa, especialmente em
anos recentes. Na estrutura geral do livro, a história das ideias pedagógicas no Brasil é apresentada
com uma divisão em quatro períodos, com suas respectivas fases, em um total de 14 capítulos.
Na introdução, o professor-pesquisador, que coordena há algum tempo o, nacionalmente
reconhecido, Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil” – Histedbr –,
procura dar esclarecimentos sobre a perspectiva teórico-metodológica adotada, cujo princípio é o
“caráter concreto do conhecimento histórico-educacional” (p.3), que, para sua efetivação, exige ser
complementado por outros. São ainda examinadas questões teóricas do campo da historiografia,
entre elas, a tentação relativista e a sedução pela micro-história.
Na análise de cada período há um capítulo introdutório que indica sinteticamente as linhas
básicas do momento histórico determinante das ideias pedagógicas correspondentes ao espaço de
tempo analisado; a ele seguem-se os capítulos que correspondem às diferentes fases examinadas.
Quanto ao conteúdo dos períodos e fases, dada a sua extensão e profundidade, somente uma
leitura atenta de toda a obra poderá permitir a apreciação de sua qualidade e riqueza, inclusive
da beleza e pertinência das ilustrações. Alguns aspectos serão destacados aqui, mais como um
estímulo, um convite ao leitor.
No 1º período (1549-1759), em que ocorre o monopólio da vertente religiosa da Pedagogia
Tradicional, são de se mencionar tanto as explicações históricas, no cap 1, relativas ao atraso do
desenvolvimento capitalista em Portugal, quanto, no cap. 3, a apresentação da Ratio Studiorum
jesuítica em sua complexidade.
No 2º período (1759-1932), ainda sob a Pedagogia Tradicional, mas incluindo a coexistência
de suas vertentes religiosa e leiga, a propalada “desertificação” educacional após a expulsão dos
jesuítas é confrontada no cap. 5, seja no que se refere à melhor compreensão dos novos propósitos
político-educacionais em vista da “máquina mercante”, seja no que diz respeito às reformas
educacionais do despotismo esclarecido e às iniciativas como o Seminário de Olinda, no Brasil.
No cap. 6, um alentado estudo das ideias pedagógicas e circunstâncias em que se disseminaram
no Império e início do período republicano é feito mediante análise das propostas contidas na
reforma, dos métodos de ensino utilizados para expandir a precária escolarização, bem como, da
nova organização das escolas. As ideias pedagógicas republicanas são vistas em seus fundamentos
positivistas e laicos.
O 3º período (1932-1969) é aquele em que a Pedagogia Tradicional convive com a Pedagogia
Nova e depois cede lugar a ela. Esta última predomina com ampla margem nesse intervalo de
tempo. Já no final dos anos 60, a Pedagogia Tecnicista começa a articular-se. Esse movimento é
descrito em quatro capítulos (7, 8, 10 e 14), com detalhamento de informações sobre as lutas
53
CAPÍTULO 2
político-educacionais então travadas e seus protagonistas e com o exame das questões
pedagógicas que surgem. Pode ser considerado o mais abrangente.
No 4º período (1969-2001), configura-se a denominada concepção produtivista, mas também
são examinadas as concepções pedagógicas, as contribuições e o papel histórico de Paulo Freire
“referência de uma pedagogia progressista e de esquerda” (cap. 10) e, no cap. 12, os estudos críticoreprodutivistas em seu papel de arma teórica nos anos 70 e no seu aporte para a compreensão dos
limites da ação escolar. Também são mencionados explicitamente os trabalhos mais recentes e as
lutas de seus principais representantes, Bourdieu, Baudelot e Establet, contra a invasão neoliberal,
na defesa da educação pública.
Para o autor, no entanto, a concepção pedagógica produtivista parece ser de fato a hegemonia
das ideias e práticas pedagógicas, desde os 69 até os nossos dias, sendo que, nos impactantes
anos 90, teria havido um surto eficientista em que a racionalidade econômica prevaleceu sobre a
pedagógica. Aqui se faz apenas um único comentário crítico. Enquanto as análises dos três primeiros
períodos, mais distantes do movimento atual, permitem uma compreensão aprofundada dos
movimentos “orgânicos e conjunturais”, o mesmo não parece ocorrer em relação ao 4º período,
especialmente nos cap. 13 e 14. Julga-se ainda necessário, no processo de análise da história
das ideias pedagógicas, aguardar um tanto mais a decantação pelo tempo das “impurezas” que
impedem uma percepção mais nítida do real movimento de explicitação e prevalência de ideias.
Quem sabe as ideias pedagógicas contidas nas pedagogias contra-hegemônicas possam ser mais
reconhecidas, no seu alcance teórico e nas realizações práticas durante os anos 80 e posteriores, e
nas esperanças depositadas no início do séc. XXI. Para isso, não só o tempo, mas também estudos,
reflexões e pesquisas são imprescindíveis. De modo semelhante torna-se uma exigência afinar a
compreensão crítica quanto aos fundamentos e influências na prática pedagógica do chamado
neoprodutivismo e suas variantes: neo-escolanovismo, neoconstrutivismo, neotecnicismo (cap.14).
Cabe destacar ainda, no livro, a reiterada afirmativa do autor de que sua imensa tarefa de
pesquisa e síntese das ideias pedagógicas no Brasil seria vã, caso os conhecimentos obtidos
resultassem apenas em um relatório técnico, para especialistas, e não chegassem até as salas de
aula pelos professores e diretores, e não conseguissem integrar programas escolares. Sendo assim,
a obra persegue o propósito de trazer mais coerência e consistência à ação educativa, como, no
dizer do autor, “um primeiro esforço no sentido de pôr ao alcance dos professores um recurso que
lhes permita abordar a educação brasileira em seu conjunto, desde as origens até nossos dias”
(p.18).
Pelas razões apontadas e considerando de plena justiça o prêmio recebido pelo autor, é
que se pode recomendar aos educadores a leitura de mais este livro do Dr. Demerval Saviani,
professor e orientador de grande número de professores e pesquisadores brasileiros que estão
hoje produzindo teórica e praticamente a educação no Brasil.
Resenha por: GONÇALVES, Maria Dativa de Salles. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, Fundação Carlos Chagas, v. 39,
n. 136, jan./abr, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-15742009000100016&script=sci_
arttext. Acesso em: 29 de maio 2012.
54
CAPÍTULO 2
Depois de ter lido esse texto, você deve estar se perguntando: como posso
considerar esse texto como uma resenha crítica da obra de Demerval
Saviani se não critica o livro, não aponta os seus aspectos negativos, os
seus defeitos? É bom que fique claro, então, que a crítica, nesse sentido,
como caracterizadora do gênero resenha, não é sinônimo necessariamente
de julgamento negativo. Crítica, portanto, não é sinônimo de falar mal de
algo, simplesmente, embora este seja o sentido que o termo carrega no
senso comum. Devemos entender crítica, aqui, como uma atividade de
julgamento criterioso, rigoroso e fundamentado. Esse tipo de julgamento
poderá revelar que o objeto analisado é bom, possui qualidades, ou que
não é bom, quando considerados os critérios técnicos e teóricos da área
de conhecimento em que está inserido. Portanto, numa resenha crítica, da
qual o texto acima é exemplar, o que deve prevalecer é a análise minuciosa
e técnica da obra e as conclusões do resenhista podem apontar para uma
reprovação da obra analisada, para aprovação com ressalvas ou para uma
aprovação completa.
No caso da resenha em questão, ela é crítica porque
apresenta julgamentos da resenhista, os quais aparecem de
modo fundamentado, por meio de um texto que revela uma
leitura cuidadosa da obra em questão e aponta para uma
avaliação bastante positiva do objeto analisado. Observe como
se estruturou a construção dessa resenha.
No primeiro parágrafo, a autora da resenha, antes mesmo de apresentar a
obra em questão, já a menciona como sendo a ganhadora do conhecido
prêmio Jabuti, na área de Educação. Além disso, ao referir-se ao autor
do livro resenhado, a autora dispensa apresentações, já que se trata de
personalidade de notório reconhecimento na área em questão. Os modos
de referência ao autor denotam que a obra objeto da resenha é resultante
de um longo percurso de trabalho e dedicação à vida acadêmica, que se
pressupõe ser de conhecimento dos profissionais e pesquisadores da
área de educação. É nesse sentido que Gonçalves diz ser esta “mais uma
contribuição”, “fruto do amadurecimento intelectual do autor”, “resultante
de uma vida de intensa elaboração da teoria da educação”. Por meio dessa
estratégia, a resenhista se desobriga da apresentação, deixando a cargo
do leitor a responsabilidade de conhecer o autor em questão. Um dado
importante que fornece ao leitor refere-se ao posicionamento teórico do
autor, já que faz questão de salientar que a sua elaboração teórica sobre
educação se dá “sob a perspectiva crítica”.
55
CAPÍTULO 2
No segundo e terceiro parágrafos, a resenhista discorre sobre o alcance
da obra analisada, suas implicações e comenta sobre a especificidade
do título da obra, ressaltando a diferença entre se fazer história das
“ideias pedagógicas”, a “tradicional história do pensamento dos grandes
pedagogos” e simplesmente da história da educação. No terceiro parágrafo
da resenha, portanto, define-se o objeto do livro resenhado: a “história
das ideias pedagógicas ao longo da educação brasileira” depreendidas do
fenômeno educativo entendido de um modo mais amplo.
No quarto parágrafo, a autora procura situar o leitor no contexto de produção
da obra, dizendo que esta consiste na materialização de um “acurado
processo de pesquisa” conduzido por Demerval Saviani. A seriedade da
pesquisa realizada é endossada não apenas pelo adjetivo “acurado” que
indica já um julgamento positivo da autora da resenha, mas pela menção,
também, ao fato de tal processo ter contado com recursos de um renomado
órgão de fomento à pesquisa, o CNPq. Além disso, ainda neste parágrafo,
Gonçalves preocupa-se em justificar a seriedade da pesquisa fazendo
menção às fontes de pesquisa, tanto primárias como secundárias, que dão
credibilidade às conclusões apresentadas no livro.
Se no quarto parágrafo, basicamente, são elencados argumentos de
qualidade para justificar a importância da obra em questão e endossar a
seriedade da pesquisa que nela se encerra, no quinto parágrafo a autora dá
destaque aos aspectos quantitativos, tanto em termos de fontes quanto no
que se refere ao período de tempo coberto pela pesquisa.
No sexto parágrafo, a resenhista apresenta mais um dado positivo da obra,
que diz respeito ao fato de nela ser apresentada uma forma original de
organização da periodização das ideias pedagógicas no Brasil, organização
esta que não é pautada pela tradicional história político-administrativa
do país ou por critérios de “determinação econômica”, mas sim pelo que
chama de “movimento real das ideias pedagógicas” existente no país. No
sétimo parágrafo, portanto, a resenhista apresenta os quatro períodos
delimitados pelo autor, bem como suas subdivisões. No oitavo parágrafo,
esclarece-se que esses grandes períodos delimitados pelo autor tem por
base o caráter hegemônico das ideias que neles predominam; contudo,
salienta-se, também, que o livro não negligencia a análise de correntes “não
hegemônicas”. Ao final desse parágrafo, a autora faz referência à organização
estrutural da obra, indicando a quantidade de capítulos e como estes estão
dispostos de acordo com quatro divisões já referidas. Com isso, a autora
pretende mostrar que a própria organização física do livro está subordinada
à organização histórica proposta pelo autor. O final do parágrafo introduz
a parte da resenha que procura dar conta do conteúdo do livro, a parte em
que se faz um resumo.
56
CAPÍTULO 2
Do parágrafo nono ao décimo quinto, a resenhista procede à recuperação
bastante minuciosa dos conteúdos principais do livro de Demerval Saviani,
respeitando as grandes divisões das partes e comentando cada capítulo
pertinente a estas. Antes de proceder à apresentação das partes, Gonçalves
comenta sobre a introdução do livro, em que o autor justifica a perspectiva
teórico-metodológica da pesquisa que resultou na obra analisada e o
diálogo desta pesquisa com as teorias da história.
O décimo parágrafo é estratégico dentro do corpo da resenha, visto que,
depois de comentar sobre a introdução do livro, a resenhista se desobriga de
uma apresentação que dê conta de abarcar todos os conteúdos das partes
da obra de uma maneira completa, visto que dada a riqueza e profundidade
do conteúdo, a resenhista reserva ao leitor a tarefa de comprovar a qualidade
e a riqueza do livro de Saviani. Diante disso, vale destacar que a resenhista
explicita o caráter seletivo de seu olhar sobre a obra abordada, afirmando
que apenas “alguns aspectos serão destacados” em seu texto, como forma
de estímulo e a título de “convite ao leitor”.
Faz-se, então, na sequência, uma espécie de resumo do cerne do livro. No
décimo primeiro parágrafo, aborda-se o primeiro período demarcado por
Saviani, correspondente aos capítulos 1 e 3; no décimo segundo parágrafo
aborda-se o segundo período, trabalhado nos capítulos 5 e 6; no décimo
terceiro parágrafo, aborda-se o terceiro período, abarcado pelos capítulos
7, 8, 10 e 14 do livro; já o quarto período histórico é apresentado no décimo
quarto parágrafo, em que são demonstrados os conteúdos dos capítulos 10
e 12 do livro.
Perceba que a apresentação da estrutura da obra é
seletiva; há capítulos que são mencionados, inclusive mais de
uma vez, e outros que não são nem citados.
O décimo quinto parágrafo é particularmente interessante, pois procura
revelar uma espécie de autocrítica do próprio autor do livro, ao argumentar
que a análise mais distanciada em termos temporais permite uma
compreensão mais apurada e aprofundada dos três primeiros períodos
históricos das ideias pedagógicas no Brasil; o que já não parece se confirmar
em relação ao quarto período, já que se trata de uma época que se confunde,
em certo sentido, com o tempo em que está inserido o próprio estudioso.
Por isso, adverte a resenhista, coadunando com a opinião do próprio autor,
que convém, quanto a esse período mais recente, “aguardar um tanto mais
a decantação pelo tempo das ´impurezas` que impedem uma percepção
57
CAPÍTULO 2
mais nítida do real movimento de explicitação e prevalência de ideias”
(GONÇALVES, 2012, p. 323).
O penúltimo parágrafo da resenha a autora reserva a justificar a quem se
destina a obra de Saviani e quais são os seus propósitos. Para tanto, reitera
o que o próprio autor afirma, dizendo que sua obra não se destina apenas
aos técnicos, especialistas e pesquisadores, mas aos educadores em geral,
para que possam desempenhar com mais coerência e consistência a ação
de educar. Por fim, com base nas várias razões enumeradas ao longo
de seu texto, a resenhista termina, no último parágrafo, com uma forte
recomendação da obra analisada.
Pela leitura que realizamos desta resenha de Maria Dativa de Salles Gonçalves,
foi possível perceber que ela responde a grande parte das questões
orientadoras tanto da análise temática quanto da análise interpretativa
responsável por organizar a crítica do resenhista à obra resenhada. Se
voltarmos, portanto, à definição das características da resenha enumeradas
por Medeiros (2011) e que foram citadas anteriormente, podemos
considerar que o exemplo aqui trabalhado apresenta todos os elementos
caracterizadores desse gênero textual: apresenta “um relato minucioso
das propriedades de um objeto”, o livro de Saviani, e de “suas partes
constitutivas”; é “um tipo de redação técnica” feita por uma especialista e que
“inclui variadas modalidades de textos”, tais como a descrição, a narração e
a dissertação. Descreve a estrutura da obra e de suas partes constitutivas,
bem como apresenta as “credenciais do autor”, “resume a obra”, “apresenta
suas conclusões e metodologia empregada”, bem como “expõe um quadro
de referências em que o autor se apoiou”, apresenta uma “avaliação da obra”
e “diz a quem a obra se destina” (MEDEIROS, 2011, p. 145-146).
A título de exemplificação
do que se diz aqui, vale
a leitura, por exemplo,
de outra resenha sobre o
mesmo livro de Demerval
Saviani, publicada por
Gilberto Luiz Alves,
professor titular da
Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul, na
Revista Brasileira de
Educação, Rio de Janeiro,
v. 13, n. 37, jan/abr, 2008.
58
É interessante ressaltar, contudo, que um mesmo objeto artístico, científico
ou cultural pode ser tomado como alvo de interesse de mais de um
especialista e, portanto, originar mais de uma resenha. Cada resenhista,
portanto, irá proceder de modo particular em relação à obra de origem,
dando mais enfoque a determinados elementos da obra e menos relevância
a outros.
Com base nas caracterizações gerais do gênero resenha apresentadas
neste capítulo, nas diferenciações estabelecidas entre os tipos, a descritiva
e a crítica, e nas análises dos exemplos apresentados, esperamos que você
possa ter alguns referenciais teóricos e algum instrumental que possam lhe
auxiliar quanto à produção de resenhas ao longo de sua vida acadêmica.
CAPÍTULO 2
Síntese do capítulo
Neste capítulo, você viu que:
» O gênero resenha pode ser veiculado por diversos meios de
divulgação e aparecer em diversos suportes. Neste capítulo,
especificamente, esse gênero está sendo estudado a partir do
contexto de circulação do âmbito acadêmico.
» O texto da resenha pode tomar como assunto diversos objetos
culturais, artísticos e científicos.
» A resenha serve para apresentar um determinado objeto, que pode
ser textual ou não, a um determinado público. Essa apresentação
pode vir acompanhada de julgamentos do autor da resenha,
quando isso ocorre, a resenha é considerada como sendo crítica;
quando tem a finalidade apenas de apresentação, a resenha é
descritiva.
» No âmbito acadêmico, a resenha descritiva tem por finalidade
apresentar um objeto científico, artístico ou cultural tanto ao público
mais genérico, quanto ao público composto por especialistas.
» A resenha descritiva não apresenta predomínio de julgamentos do
resenhista e resulta, basicamente, da análise temática e textual do
objeto de base.
» A resenha descritiva deve conter, em sua estrutura básica:
referências bibliográficas completas; descrição das partes, incluindo
capítulos e seções; um resumo do conteúdo da obra; apresentação
do tom do texto (estilo); explanação sobre os métodos utilizados e
tese defendida.
» A resenha crítica, além de conter os elementos da resenha
descritiva, deve apresentar uma leitura criteriosa do resenhista,
por meio da qual se constroem julgamentos e avaliações sobre o
que é tomado como objeto. Para tanto, além da análise temática
e textual, é preciso que o resenhista realize uma análise crítica e
formule uma problematização quanto às questões propostas no
texto resenhado.
» No universo acadêmico, a resenha crítica também pode ser
chamada de resenha científica e é publicada em revistas acadêmicas
especializadas.
59
CAPÍTULO 2
Você pode anotar a síntese do seu processo de estudo nas linhas a seguir:
60
CAPÍTULO 2
Atividades de aprendizagem
1. Leia atentamente a resenha que segue e realize as atividades descritas na
sequência:
PAIVA, Jane. Os sentidos do direito à educação para jovens e adultos. Rio de Janeiro: DP et Alii, 2009, 232 p.
O livro da professora Jane Paiva que, em boa hora, vem a público põe o termo sentido no
plural. Assim, tanto pode ser lido na acepção de algo que se sente como dor, por exemplo, ou como
impregnado de mágoa, como naquele de razão lógica e compreensiva que preside determinado
assunto. É bem verdade que, na primeira acepção, perpassa pela obra como um pano de fundo
um conceito que a autora aponta como um estigma dos que não tiveram ou não puderam ter
acesso à educação como direito da cidadania. Algumas citações relembram o contraste situacional
de quem sentiu o quanto o acesso ao domínio da escrita e da leitura lhe abriu um outro mundo.
Mas é bem verdade também que, de longa data, se busca para essa educação a formalização
positivada no direito daquilo que a muitos foi indevidamente subtraído. Por meio de sucessivas
aproximações, a autora vai fazendo entrar os diversos sujeitos no cenário nacional e internacional,
no ontem e no hoje, revelando a complexidade desse campo em que se entrecruzam posições
conforme uma sociedade que busca o desenvolvimento, o bem-estar e a justiça e um mercado
que, entregue a si, não foge à consideração do outro como meio.
O livro apresenta-se dividido em duas grandes partes tituladas e em cada qual há uma
cartesiana subdivisão com adequada subtitulação. Inteligente modo de auxiliar o leitor na entrada
dos sentidos já que a panorâmica apresentada é farta, rigorosa e bem escrita. Na primeira parte,
partindo de conferências, acordos e eventos internacionais que, com a liderança da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), tiveram lugar desde 1949,
o texto os vai percorrendo e deles extraindo concepções e propostas que balizam, no âmbito
internacional, o direito à educação de jovens e adultos (EJA). Tem-se uma rica coleta de documentos,
fontes de reflexão de como a formalização de um direito vai-se construindo entre idas e vindas em
suas tensões e negociações.
Outro passo, ainda no espaço internacional, entra na América Latina e aí já inserindo a
presença do Brasil nesse cenário com suas posições e propostas. Nessas idas e vindas, um aspecto
a ressaltar é o das relações entre os poderes públicos nacionais e a sociedade civil como fóruns e
movimentos organizados. Aliás, dessa dialética a autora não se desprega, por ter aí encontrado o
veio da formalização da educação de jovens e adultos como direito. A relatividade das situações
fez oscilar essa epopeia hercúlea em busca de reconhecimento, de proclamação como direito e
assunção como tarefa de Estado.
Na segunda parte, a referência maior é nacional, a partir de vários ângulos: históricos, políticos
e estatísticos. Nesse campo, a autora deixa claro que vem dos movimentos sociais organizados a
força que vai enfrentando as oscilações dos poderes públicos. Dessa força resulta um princípio
de enraizamento da EJA no sistema público de ensino, contribuindo para consolidar o direito à
educação de jovens e adultos (p. 129).
Nesse sentido, vários sujeitos desses movimentos da sociedade civil passaram a ocupar
postos de governo, a partir de 2002, e, assim, não poderiam retroagir no discurso dos direitos
sociais. Afinal, o programa da composição política vitoriosa não escondia a EJA como um campo
de avanços à luz de um direito democrático consagrado na Constituição da República de 1988.
61
CAPÍTULO 2
Entrementes, para chegar a esse momento esperançoso, a autora retrata retroativamente
dispositivos relevantes da EJA desde 1934 até 1988 cuja Constituição Federal não deixa dúvida, em
sua formulação, quanto a ser ela um direito sob a figura de direito de todos. Ora, essa formulação
abrange o âmbito dos direitos civis e, nessa medida, torna cada um, cada indivíduo, titular desse
direito. Ao mesmo tempo, a Constituição reconhece a educação como o primeiro dos direitos
sociais. Tal proclamação torna a educação um direito comum, ou seja, de caráter formador do
socius pela participação nos bens sociais, inclusive por meio da participação em movimentos e
organizações.
A autora lembra, ainda, a polêmica trazida pela emenda constitucional n. 14/96, que criou o
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
(FUNDEF), cuja alteração sobre o texto original implicou a retirada da EJA sob o princípio do
atendimento e a pôs sob o da oferta. Desloca-se o ponto forte do direito de todos e do direito
comum para o da capacidade administrativa do poder público na oferta e para que o indivíduo,
titular de uma exigibilidade, trate de resgatar, ele, o seu direito. De modo preciso, o texto aponta os
limites da oferta de EJA em tais condições: reiteração da (in) capacidade administrativa do poder
público em ofertar a EJA a todos e o tradicional estigma que sofre o indivíduo em ter de assumir-se
como analfabeto ou iletrado.
Daí o pouco a se comemorar nos 500 anos de Brasil, no ano 2000. O analfabetismo, produzido
pela história do país e pelo modelo excludente que o pautou, continuaria a demonstrar dados
cabais de omissão dos poderes públicos e a revelar os lugares severos ocupados pelo país na
matéria. A política e os arranjos sociais não abasteciam a todos no então ensino primário (chamado
posteriormente de ensino de primeiro grau e depois de ensino fundamental) e o número de
pessoas sem escolaridade era enorme.
Apesar dos evidentes avanços no ensino fundamental obrigatório, a tese de Anísio Teixeira
sobre os valores proclamados e os valores reais continua presente com novos agravantes. Jovens,
ainda dentro da idade escolar oficial, seja por conta da distorção idade/série, seja por não verem
significado no modus operandi da escola, ficaram atópicos no seu processo de escolaridade. Para
a escola da adequação oficial idade/série, eles já não cabem mais junto aos outros alunos, e para
os gestores dos limitados espaços dos estabelecimentos de EJA, eles deveriam retornar à escola de
origem para concluir seus estudos na “escola regular”. Ficam sem lugar, ou seja, atópicos.
Mas a autora não deixa de fazer justiça à educação popular, campo que trouxe figuras
emblemáticas na defesa de uma pedagogia do oprimido e por cujos conteúdos e métodos,
dialeticamente conectados, foram contestadas formas autoritárias de transmissão de
conhecimentos, substituídas por propostas de inclusão emancipadora.
Importante parte do livro vai-se remeter ao campo da educação popular, em cujo seio há
a significativa presença do sujeito interessado. E lança, de novo, o antigo repto dos laços entre
uma educação alicerçada no poder público com itinerário escolar e uma educação partícipe
da organização e sistematização do saber nascido dos múltiplos fazeres e das práticas da vida
sociocultural. Por isso mesmo, a ligação com a educação profissional, tal como a lei a subentende,
pode ser uma opção de prosseguimento de estudos específicos para muitos trabalhadores. Daí a
entrada, de leve, no âmbito do Ministério do Trabalho e no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Buscando sempre a verdade e não se pautando por critérios preconcebidos, a autora faz uma
análise criteriosa tanto do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) quanto da Fundação
Educar. Evidencia o quanto se pôs de recursos no MOBRAL, à luz de fundo da teoria do capital
humano. E como tal ação do poder público não contou com a participação dos interessados no
processo, em um país tão desigual e injusto, o MOBRAL revelaria os limites de um planejamento
62
CAPÍTULO 2
tecnocrático e a antinomia entre uma visão socialmente compensatória e a teoria manifesta que
o fundamentara.
É nesse momento do texto que a autora convoca outros futuros autores a desvendar, nas
ainda fontes inexploradas do MOBRAL, mais elementos para sua análise crítica. Merecedora dessa
convocação está, também, a obra da Fundação Educar em cujo período de existência os jovens
entram em cena e aí temos a EJA. Outro ponto de destaque são as diretrizes que essa fundação
propôs, para efeito de uma política nacional: um espelho ainda válido para um acerto de contas
com a realidade.
O livro focaliza, então, a formalização da EJA na Carta Constitucional de 1988, como direito e,
no caso da sua etapa fundamental, ser considerada um direito público subjetivo. Mas esse direito
vai além do acesso; direito não pode ser pela metade nem algo do tipo “antes isso do que nada”.
Ele postula tanto o respeito à identidade da EJA quanto à qualidade social da educação.
Os anos de 1990 enfrentaram a contradição entre as dimensões do direito, a cujo recorte de
caráter universal se opõem as políticas omissivas do Estado. Apoiados numa equívoca utilização
do conceito de equidade, desvinculado do de igualdade e de justiça, não é de se estranhar os vetos
presidenciais ao financiamento da EJA no cálculo das matrículas sob o FUNDEF. Esse equívoco,
cujas sequelas são sentidas até hoje, só se corrigiu, ex nunc, com o advento do Fundo da Educação
Básica (FUNDEB), nos seus limites e possibilidades.
Contudo, antes de chegar ao FUNDEB, o texto passa pela posição vexatória do Brasil perante
a Declaração de Hamburgo, insistindo em secundarizar a EJA em favor do ensino obrigatório “na
idade própria”. Com efeito, a lógica formal faz a opção por colocar em pólos contrários termos que
não se excluem. A análise, de modo sutil, indica o retorno da superada distinção entre (futuros)
cidadãos ativos e os (já perdidos) cidadãos passivos.
É verdade que a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação buscou
ser fiel ao texto constitucional e à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ao redigir, por
meio da participação de milhares de mãos, entre as quais as da autora, as Diretrizes Curriculares
Nacionais da EJA e sua respectiva resolução.
Mas a distância entre o real ansiado e o real existente continuava. O Plano Nacional de
Educação foi mais uma tentativa de diminuir as distâncias. Com objetivos, metas e ações realistas e
factíveis, conduzidos em boa parte pelo governo, mais uma vez os vetos presidenciais o tornaram
uma Carta de Intenções e com ele o capítulo próprio da EJA.
Será uma sina? Quando o Estado investe, a concepção e o método são malsãos, quando esses
últimos se abrem, o Estado corta recursos?!
Daí o zelo em apontar os movimentos da sociedade civil ligados à EJA, como os fóruns, em
cujo seio se desenvolve uma aproximação com a realidade existente e com o real formalizado. É
deles que se pode esperar, mais uma vez, o acionamento da luta para a emancipação da EJA no
âmbito das políticas públicas.
O livro surpreende pela riqueza das fontes e pelo conjunto das informações: uma autêntica
fenomenologia da EJA. E por isso mesmo, assinala possibilidades de análises posteriores em que
cada momento, cada política, cada ação poderá sofrer o devido aprofundamento.
Resenha por: CURY, Carlos Roberto Jamil. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 14, n. 41, maio/ago, 2009.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141324782009000200015&lng=pt&nrm=iso.
Acesso em: 28 de maio de 2012.
63
CAPÍTULO 2
Considerando a resenha de Carlos Roberto Jamil Cury, procure localizar, no
texto, os elementos constitutivos do gênero. Você pode utilizar o espaço
reservado à frente de cada elemento abaixo indicado para transcrever
o trecho do texto correspondente, ou simplesmente escrever em que
parágrafo, ou parágrafos, aparecem:
1. Referências bibliográficas:
2. Quadro de referências do autor da obra resenhada (suas credenciais):
3. Estrutura da obra:
4. Resumo da obra:
5. Metodologia utilizada (quando apresentada):
6. Conclusões do autor da obra:
64
CAPÍTULO 2
7. Apreciação do resenhista (críticas positivas ou negativas):
8. Recomendações do resenhista:
2. Considerando o universo acadêmico em que você está inserido, escolha
uma obra de seu interesse na área de conhecimento de seu curso e
produza uma resenha crítica que contenha os elementos identificados na
questão anterior.
65
CAPÍTULO 2
Aprenda mais...
MACHADO, Anna Rachel, ABREU-TARDELLI, Lilia Santos, LOUSADA, Eliane G.
Resenha. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
MACHADO, Anna Rachel, LOUSADA, Eliane G., ABREU-TARDELLI, Lilia Santos.
Planejar gêneros acadêmicos. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
66
3
Artigo Acadêmico
Aline Cassol Daga
Neste capítulo, você será apresentado a outro gênero textual/discursivo central no meio
acadêmico: o artigo. Você perceberá que o artigo é um gênero usado como meio de produção e de
divulgação de conhecimento gerado na atividade de pesquisa e que publicar artigos é, atualmente,
uma forma de assegurar espaço profissional no meio acadêmico.
Objetivo geral de aprendizagem
» Compreender a finalidade e a configuração do gênero
textual/discursivo artigo, bem como o processo de
produção desse gênero que constitui uma importante
forma de produção científica.
Seções de estudo
Seção 1 – Artigo: finalidade sociocomunicativa
Seção 2 – A configuração formal do artigo segundo a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
CAPÍTULO 3
Este capítulo está estruturado para que você, tendo-o estudado, seja capaz
de reconhecer a configuração acadêmica e a finalidade do gênero artigo.
Na primeira seção, você refletirá sobre a finalidade e sobre a importância desse
gênero no meio acadêmico. Na universidade, o artigo tem como característica
principal a documentação e a divulgação de uma pesquisa realizada, por meio
da qual revelamos a nossa própria interpretação do fenômeno estudado.
Na segunda seção, você conhecerá a configuração formal do gênero artigo de
acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), detalhando o
seu processo de produção. Os elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais
do artigo serão apresentados para que você, conhecendo as partes que o
estruturam, se sinta apto a produzir esse gênero textual/discursivo da esfera
acadêmica. No entanto, como se trata de um estudo introdutório sobre esse
gênero, não especificaremos cada elemento constitutivo do artigo de forma
detalhada. A prática de escrita do artigo será realizada na próxima disciplina
de Análise e Produção Textual.
Seção 1
Artigo: finalidade sociocomunicativa
Objetivos de aprendizagem
» Compreender a finalidade sociocomunicativa do gênero
textual/discursivo artigo na esfera acadêmica. Entender a
relação entre linguagem e argumentação.
» Reconhecer os elementos estruturais que compõem esse
gênero.
Na universidade, a produtividade na publicação é algo que tem levado
alunos e professores a elaborarem textos na forma de artigos para periódicos
ou livros. O esforço para a publicação é decorrente em boa medida da
atual política de financiamento de bolsas de projeto de pesquisa, de pósgraduação e de iniciação científica do sistema universitário brasileiro.
68
CAPÍTULO 3
A pressão para produzir textos e publicá-los faz parte da cultura acadêmica.
Diante disso, é importante que você conheça os gêneros textuais/discursivos
da esfera acadêmica, pois, publicando-os ou não, você terá de produzi-los
ao longo da sua estada na universidade.
No capítulo dois deste Caderno Pedagógico, você teve a oportunidade de
estudar sobre o gênero resenha. Neste capítulo, você será apresentado ao
gênero artigo, que tem função e objetivos diferentes da resenha. Enquanto
a resenha é produzida quando se tem o objetivo de resumir e avaliar um
texto, o artigo é utilizado para divulgação ou discussão de dados de uma
pesquisa. Conhecer esses gêneros é condição primordial para produzi-los
eficazmente.
Além de artigos acadêmicos, você certamente já leu
outros tipos de artigo, como os artigos de opinião, por exemplo,
que são veiculados em jornais e/ou revistas e têm configuração
e finalidade diferentes do artigo acadêmico. Neste caderno,
trataremos especificamente do artigo acadêmico, pois nosso
objetivo é que você conheça os gêneros textuais/discursivos
próprios da esfera acadêmica.
O artigo é o gênero textual/discursivo mais utilizado atualmente como
meio de produção e de divulgação do conhecimento gerado na atividade
de pesquisa. Os artigos são publicados com o objetivo de informar a
comunidade acadêmico-científica acerca de novas descobertas sobre um
determinado campo de pesquisa ou de apresentar releituras de teorizações
já existentes, no sentido de revisar bibliografias sobre um tema específico.
A publicação de artigos dá-se em revistas e periódicos especializados,
impressos ou on-line, os quais são mantidos por diferentes centros de
pesquisa do Brasil ou do exterior. Muitos programas de pós-graduação das
universidades mantêm revistas especializadas para receber publicações de
pesquisadores. A periodicidade desses periódicos varia entre semestral,
quinzenal, mensal e trimestral, e a maioria deles tem um conselho editorial,
formado por especialistas da área, que avaliam os artigos submetidos
para publicação. Além disso, cada revista tem normas de publicação e de
formatação dos textos específicas. Antes de submeter o seu artigo para
publicação em uma revista, lembre-se de consultar o Qualis CAPES, no
caso de periódicos brasileiros. Periódicos com Qualis A ou B e indexados
são avaliados mais positivamente que aqueles sem fluxo atualizado de
69
CAPÍTULO 3
publicação. Publicar um artigo em uma revista com Qualis A pontua mais
para o currículo do que publicar em uma cujo Qualis seja B, por exemplo.
Na área da Educação, há importantes periódicos
que visam ao aprofundamento teórico e crítico das temáticas
e avanços nas discussões sobre as problemáticas no campo
educacional. Um exemplo é a Revista Perspectiva, do Centro
de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), classificada na Qualis CAPES (2012) como
Periódico “A2”. Um dos mais importantes periódicos editados
hoje na área de Educação no país é a Revista Educação &
Sociedade, publicação quadrimestral do Centro de Estudos
Educação e Sociedade – Cedes, da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), cujo Qualis CAPES é “A1”, o mais elevado.
Importantes fontes de periódicos acadêmicos disponíveis online são o site do Scielo <www.scielo.br> e o site de periódicos
da Capes <www.periodicos.capes.gov.br>.
A publicação de artigos em periódicos especializados é de capital
importância para o avanço da ciência nas diferentes áreas. Pesquisadores
e estudiosos de vários campos da atividade humana realizam descobertas
e constroem teorias cuja socialização, por meio de artigos e de outros
instrumentos, é de suma importância para que novos caminhos sejam
traçados nos rumos do pensamento humano. Teoricamente, esse processo
objetiva contribuir para o desenvolvimento e o bem-estar da humanidade.
Para a produção de um artigo acadêmico, segundo Motta-Roth e Hendges
(2010), o autor precisa demonstrar habilidade em: (1) selecionar referências
bibliográficas relevantes ao tema em foco; (2) refletir sobre estudos anteriores
da área; (3) delimitar um problema de pesquisa; (4) elaborar uma abordagem
para o exame desse problema; (5) delimitar e analisar um conjunto de dados
representativo do universo sobre o qual deseja alcançar generalizações; (6)
apresentar e discutir os resultados da análise desses dados e finalmente (7)
concluir, elaborando generalizações a partir desses resultados, conectandoas aos estudos prévios dentro da área de conhecimento. Esses itens são
agrupados em três seções: introdução, metodologia, resultados e discussão.
Veja, no esquema a seguir, como se dá a progressão dessas informações na
construção do artigo:
70
CAPÍTULO 3
Produção de um artigo acadêmico
- Geral
Introdução
(1) Selecionar referências bibliográficas relevantes ao tema em foco.
(2) Refletir sobre estudos anteriores da área.
(3) Delimitar um problema de pesquisa.
- Específico
Metodologia
(4) Elaborar uma abordagem para o exame desse problema.
(5) Delimitar e analisar um conjunto de dados representativo do universo sobre o
qual deseja alcançar generalizações.
- Geral
Resultados e discussão
(6) Apresentar e discutir os resultados da análise desses dados.
(7) Concluir, elaborando generalizações a partir desses resultados, conectando-as
aos estudos prévios dentro da área de conhecimento.
Perceba que há um movimento de transição do geral para o específico, isto
é, de uma visão ampla da disciplina para a focalização do tópico de interesse.
Já na conclusão, há uma nova transição do específico para o geral, em que
as questões mencionadas na introdução são retomadas na discussão.
A focalização temática é uma questão imprescindível para a produção de um
artigo. Ela revela-se item especialmente importante, pois “[...] tem relação
direta com a questão do conhecimento de mundo e do conhecimento
partilhado” (KOCH; TRAVAGLIA, 2000, p. 82). Esse compartilhamento de
certo conhecimento viabiliza a interlocução e a construção de sentidos.
Para produzir um artigo sobre o tema mortalidade infantil, por exemplo,
o qual já é um recorte de uma temática mais ampla, é preciso que antes
tenhamos focalizado um aspecto determinado desse tema. Produzir um
artigo requer, portanto, como atitude preliminar, um recorte singular de
uma realidade específica. Veja alguns recortes possíveis para esse tema.
71
CAPÍTULO 3
Evolução da
mortalidade infantil
por causas evitáveis
Mortalidade infantil
Mortalidade infantil
por deficiências
nutricionais
Fatores de erro na
mensuração da
mortalidade infantil
Mortalidade
neonatal
Esquema 3.1 – Recortes para o tema: mortalidade infantil
Perceba que esse tema, a exemplo de qualquer outro, possibilita recortes
múltiplos. Poderíamos, também, dividir cada um desses quatro recortes em
outros tantos. Inúmeros podem ser os artigos a serem produzidos sobre
mortalidade infantil, porque inúmeras são as possibilidades de focalização
do tema e inúmeros são os sujeitos potencialmente capazes de produzir
um artigo com esse viés temático. Como você vê, cabe-lhe, antes de tudo,
refletir sobre quais aspectos, quais recortes, quais implicações do tema
interessam a você abordar.
Uma vez estabelecido o tema central do trabalho, é preciso se dedicar a
questões que compreendem a introdução do artigo, a metodologia e a
apresentação e discussão dos resultados. Na próxima seção, você verá em
que consiste cada uma dessas partes.
É importante destacarmos, ainda, que os artigos, para constituírem
documentação de descobertas científicas, requerem um nível de
especialização e de aprofundamento teórico que muitas vezes não se
verifica na graduação. O artigo, na graduação, vale como instrumento de
iniciação científica. Você precisa, porém, estar consciente do papel dos
artigos na comunidade acadêmico-científica mais ampla, conhecendo o
potencial desse gênero para o enriquecimento, a formação e a contestação
de opiniões, teorias e escolas de pensamento.
72
CAPÍTULO 3
Seção 2
A configuração formal do artigo segundo a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
Objetivos de aprendizagem
» Reconhecer a configuração formal do gênero artigo.
» Conhecer as regras da ABNT para elaboração e publicação
de artigo.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) normaliza o gênero
artigo em publicação periódica científica por meio da Norma Brasileira
de Referência – NBR 6022. Conforme essa norma, artigo científico é
“parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute
ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do
conhecimento” (ABNT, 2003a, p. 2). A norma prevê a existência de dois tipos
distintos de artigo:
» Artigo de revisão: parte de uma publicação que resume, analisa
e discute informações já publicadas.
» Artigo original: parte de uma publicação que apresenta temas
ou abordagens originais.
No caso de um artigo de revisão, o conteúdo do texto se limita à interpretação
descritiva ou explicativa de leituras realizadas sobre um tema específico. Por
outro lado, no artigo original, há um caráter de originalidade, de autoria,
sobre vários aspectos, pois o pesquisador usa o artigo para tornar públicos
os resultados de sua pesquisa. Nesse tipo de artigo, cabe tanto revisar
informações e teorias já publicadas quanto apresentar uma abordagem
original para a temática escolhida.
A NBR 6022 descreve as partes constitutivas do gênero artigo, especificando
sua estruturação em três divisões: elementos pré-textuais, textuais e póstextuais. São considerados elementos pré-textuais: título do artigo e
subtítulo (se houver); identificação da autoria; resumo na língua do texto;
palavras-chave também na mesma língua em que o texto foi redigido. Os
elementos textuais são: introdução; desenvolvimento; conclusão. Como
elementos pós-textuais, a norma considera: título, resumo e palavraschave em língua estrangeira; notas explicativas; referências; glossário;
apêndice e anexos (se houver).
73
CAPÍTULO 3
Observe, no esquema a seguir, os elementos considerados pela ABNT
(2003a) como pré-textuais, textuais e pós-textuais.
AIS
U
T
EX
-T
ÓS
P
IS
UA
T
X
Título e subtítulo em língua estrangeira
Resumo e palavras-chave em
língua estrangeira
Notas explicativas
Referências
Glossário
Apêndice
Anexos
TE
Introdução
Desenvolvimento
Conclusão
IS
UA
T
X
-TE
É
PR
Título do artigo e subtítulo se houver
Identificação da autoria: nome do autor
Resumo na língua do texto (no nosso caso, em português)
Palavras-chave (também em português)
O resumo, elemento pré-textual do artigo também conhecido como
abstract, serve para informar, em um parágrafo curto, o conteúdo e a
estrutura do texto integral que segue. Assim, no resumo, é possível indicar
ao leitor as finalidades, a metodologia, os resultados e as conclusões do
artigo. Outra função do resumo é convencer o leitor de que o artigo é
interessante e que os resultados são relevantes para que ele continue a ler
o artigo como um todo.
Um resumo dessa natureza pode ser construído com base nas respostas às
seguintes questões:
» Por que o estudo foi realizado? (Justificativa);
» Que conceito(s) é(são) central(is) ao trabalho? (Perspectiva teórica);
74
» Como o estudo foi realizado? (Metodologia);
CAPÍTULO 3
» Que resultados foram obtidos? (Resultados);
» Qual a significação desses resultados para a área? (Conclusão).
Veja, a seguir, um exemplo de resumo de um artigo acadêmico e perceba
como ele responde às perguntas destacadas anteriormente:
Objetivo
do artigo
Perspectiva
teórica
Conclusão
Este artigo objetiva analisar os pressupostos teóricometodológicos que norteiam o ensino-aprendizagem
de Língua Portuguesa nas séries do Ensino Fundamental
de três redes municipais do estado de Santa Catarina.
A pesquisa foi desenvolvida a partir da análise das
propostas curriculares de tais redes municipais de
ensino, tendo como base os referenciais educacionais
que norteiam atualmente a disciplina, os referenciais
teóricos do campo da Linguística Aplicada e os estudos
do Círculo de Bakhtin. Em todas as propostas, observase a preocupação em apontar o trabalho com o texto e
com os gêneros do discurso no âmbito das atividades
de leitura/escuta, produção textual e análise linguística
como de central importância para que a disciplina cumpra
suas finalidades e vá ao encontro das necessidades dos
sujeitos que se constituem alunos do ensino fundamental
das redes de ensino mencionadas. Todavia, todas as
propostas apresentam lacunas e imprecisões relativas à
ancoragem teórico-metodológica desse trabalho, o que
pode comprometer a maneira como o professor realiza
a elaboração didática dos conteúdos de ensino na sala
de aula.
Metodologia
Resultados
Em artigos, de acordo com as normas da ABNT, o resumo tem, em média,
de 100 a 250 palavras e deve aparecer depois do título e da identificação da
autoria, seguido das palavras-chave. Já a extensão do artigo é, em média,
segundo Motta-Roth e Hendges (2010), de 10 mil palavras. Cada periódico,
no entanto, pode definir a extensão dos artigos a serem submetidos para
publicação.
Em relação aos elementos textuais, segundo a NBR 6022, o artigo constituise de:
» introdução: “Parte inicial do artigo onde deve constar a
delimitação do assunto tratado, os objetivos da pesquisa e outros
elementos necessários para situar o tema do artigo” (ABNT, 2003a,
p. 4);
75
CAPÍTULO 3
» desenvolvimento: “Parte principal do artigo, que contem
a exposição ordenada e pormenorizada do assunto tratado.
Divide-se em seções e subseções [...] que variam em função da
abordagem do tema e do método.” (ABNT, 2003a, p. 4);
» conclusão: “Parte final do artigo na qual se apresentam as
conclusões correspondentes aos objetivos e as hipóteses.” (ABNT,
2003a, p. 4).
Segundo Motta-Roth e Hendges (2010, p. 77), “Na introdução, o autor
geralmente indica a relevância do tema, revisa itens de pesquisa prévia e
faz generalizações sobre o assunto que será tratado no artigo”. De modo
geral, a introdução deve apresentar:
» o assunto objeto de estudo;
» o ponto de vista sob o qual o assunto foi abordado;
» trabalhos anteriores que abordam o mesmo tema;
» as justificativas que levaram a escolha do tema, o problema de
pesquisa, a hipótese de estudo, o objetivo pretendido, o método
proposto, a razão de escolha do método e principais resultados.
O desenvolvimento – uma das partes textuais, seguramente a mais
importante dentre todas as divisões do artigo – é constituído de três
grandes eixos:
» fundamentação teórica;
» metodologia;
» análise dos resultados da pesquisa.
Você não precisa necessariamente dividir o seu artigo nessas três partes.
É necessário que elas estejam presentes, mas não obrigatoriamente em
sequência linear e com títulos marcados. Você poderá escrever o texto
optando por entrecruzar as partes entre si. Este texto irá compor um
artigo em cujo percurso você registra os dados, deixando claro o processo
empreendido, ao mesmo tempo em que procede à análise desses dados à
luz das referências teóricas.
A conclusão de um artigo deve ser breve e deve responder às questões
de pesquisa, correspondentes aos objetivos e às hipóteses. Além disso, a
conclusão pode apresentar recomendações e sugestões para trabalhos
futuros sobre o tema do artigo.
76
CAPÍTULO 3
Em se tratando dos elementos pós-textuais, vamos nos ater às referências e
aos anexos. Lembre-se que não circunstanciamos aqui todos os elementos
constitutivos do gênero artigo porque eles transcendem o foco de um
estudo introdutório como o nosso. As referências devem ser feitas conforme
a NBR 6023. Já os anexos são elementos opcionais e se justificam quando,
por exemplo, você precisa informar ao leitor o conteúdo de instrumentos
usados na pesquisa, tais como questionários ou entrevistas. Nesses casos,
você deverá identificar os anexos usando letras maiúsculas seguidas de
travessão e do título correspondente ao conteúdo anexado. Veja o exemplo
a seguir:
Anexo A – Questionário aplicado aos informantes
de pesquisa
Embora as regras para elaboração de artigo sejam norteadas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (NBR-6022), muitas revistas científicas adotam
normas particulares para submissão de artigos, as quais nem sempre estão
de acordo com as normas da ABNT. Essas regras encontram-se disponíveis
nos próprios periódicos e o pesquisador, se desejar submeter seu artigo à
análise de alguma delas, deverá adequá-lo às exigências de cada revista.
De qualquer modo, alguns elementos, independentemente das regras
instituídas pelos diferentes periódicos, estão sempre presentes e, não raro,
seguem as regras da ABNT, como a NBR-6023/2002 que trata das normas de
apresentação das referências; a NBR 6028/2003 que trata da apresentação
de resumos e a NBR 10520/2002 que trata da apresentação de citações em
documentos.
Sugerimos que você amplie as leituras sobre a produção de artigos em obras
especializadas e que leia exemplos de artigos em periódicos científicos.
Uma vez que as habilidades como produtores de textos são potencializadas
pela habituação em leitura, quanto mais artigos você ler, melhor conhecerá
o processo de produção desse gênero e, consequentemente, mais seguro
se sentirá para produzi-lo.
77
CAPÍTULO 3
Síntese do capítulo
Com o estudo deste capítulo, você viu que:
» O artigo acadêmico é um gênero da esfera acadêmica cuja
finalidade é a apresentação de resultados de uma pesquisa
desenvolvida sobre um tema específico.
» A publicação de artigos em periódicos e revistas científicas é uma
exigência para quem está no meio acadêmico, principalmente
para mestrandos e doutorandos, e é uma forma de divulgação do
conhecimento científico produzido.
» O gênero artigo acadêmico é normalizado pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) por meio da Norma
Brasileira de Referência – NBR 6022.
» A ABNT define os elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais
constitutivos do gênero artigo.
Você pode anotar a síntese do seu processo de estudo nas linhas abaixo:
78
CAPÍTULO 3
Atividades de aprendizagem
1. Pesquise em periódicos e revistas científicas exemplos de artigos,
tentando definir a estrutura do gênero. Encontre as partes do resumo
desses artigos que podem servir de resposta para as seguintes questões:
Por que o estudo foi realizado?
Como o estudo foi realizado?
Quais foram os resultados obtidos?
Qual é o significado desses resultados para a área?
79
CAPÍTULO 3
2. O resumo serve para informar, em um parágrafo curto, o conteúdo e
a estrutura do texto integral que segue. Assim, no resumo, é possível
indicar ao leitor as finalidades, a metodologia, os resultados e as
conclusões do artigo. Neste contexto, analise as três partes constitutivas
do resumo de um artigo e relacione as colunas, numerando a segunda
de acordo com a primeira.
80
( 1 ) Justificativa
( ) Os dados selecionados, gerados em
( 2 ) Perspectiva teórica
( ) Na análise das interações,
( 3 ) Resultados
( ) O objetivo do artigo é discutir
como identidades profissionais
de professores são construídas na
interação em um curso de formação
continuada na área dos estudos da
linguagem destinado a professores
alfabetizadores, como também
refletir sobre as implicações desse
processo para esse tipo de formação.
A partir dos Estudos Culturais,
as identidades são entendidas
como múltiplas e discursivamente
construídas.
pesquisa qualitativo-interpretativista
de natureza etnográfica, são
transcrições de trechos de aulas
do curso em que o embate entre
professores e formador se torna
relevante na construção identitária
dos interlocutores. A base teórica
parte da concepção dialógica e
social da linguagem do Círculo de
Bakhtin e se sustenta nos estudos da
Linguística Aplicada e na perspectiva
dos Estudos de Letramento.
demonstra-se que, mesmo numa
relação institucional em relação
ao formador acadêmico em que
são posicionadas como alunas,
professoras constroem identidades
de profissionais fortalecidas na
argumentação constituída em
um momento de embate entre
os interlocutores. Nesse processo,
constroem um coletivo e trazem
vozes sociais relacionadas a outros
cursos e perspectivas de formação
do professor no embate com o
formador.
CAPÍTULO 3
Aprenda mais...
» MOTTA-ROTH, Désirée (Org.). Redação acadêmica: princípios
básicos. Universidade Federal de Santa Maria: Imprensa
Universitária, 2001.
Esta obra contempla uma interessante discussão sobre o gênero
artigo, trazendo exemplo e particularizando, em capítulos distintos,
os elementos constituintes do artigo. A linguagem é acessível a
iniciantes no trato do tema, e o conteúdo é relevante.
» OLIVEIRA, João Leite de. Texto acadêmico. Petrópolis, RJ: Vozes,
2005.
Obra de textualização clara e direta, trata de resumos, de
fichamentos, de resenhas e demais gêneros de produção recorrente
na universidade. Contém informações básicas sobre configuração
formal e finalidade sociocomunicativa desses gêneros.
81
Considerações
finais
Finalizamos aqui a disciplina de Análise Produção Textual II com a expectativa
de que você tenha se apropriado dos conteúdos de forma que este
aprendizado contribua para sua vida acadêmica no processo de produção
dos seus textos.
Os conteúdos apresentados neste caderno foram pensados para dar a você o
suporte necessário para o momento em que seja solicitado a argumentar ou
a produzir uma resenha. Além disso, apresentamos a você as especificidades
do gênero artigo acadêmico, com o intuito de fornecer-lhe subsídios iniciais
para a posterior produção desse gênero.
Ao estudar sobre a argumentação, esperamos que você, a partir de agora,
consiga realizar a organização de parágrafos argumentativos e que seja
capaz de selecionar de forma mais consistente os argumentos em favor da
construção de estratégias argumentativas.
No que se refere ao estudo do gênero resenha, esperamos que você tenha
se apropriado das particularidades desse gênero e que possa produzi-lo,
mobilizando os recursos linguísticos necessários para essa produção.
Finalmente, com a abordagem sobre o gênero artigo, temos a expectativa
de que você tenha se apropriado de toda as particularidades de estruturação
do gênero, seus elementos pré-textuais, textuais e pós textuais, a fim de
que na disciplina de Análise e Produção Textual III, você tenha condições de
produzi-lo.
Um abraço e até breve!
Os autores
Conhecendo
os professores
Autoras
Lucilene Lisboa de Liz (Org.)
Possui graduação em Letras - Português, mestrado em Linguística
pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005) e doutorado em
Linguística pela mesma universidade (2009). Atualmente é professora
da Universidade do Estado de Santa Catarina. Atua em Teoria e Análise
Linguística, especificamente dentro do quadro da Gramática Gerativa,
pesquisando temas como: construções triargumentais, distinção entre
complementos indiretos e propriedades preposicionais, questões
relativas à morfologia gerativa. Mais recentemente, também na interface
linguística/educação, pesquisando temas como aprendizagem da escrita
e interfaces com as TICs.
Aline Cassol Daga
Possui licenciatura em Língua Portuguesa e mestrado em Linguística pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Trabalhou na Universidade
do Sul de Santa Catarina (UNISUL) com revisão e design instrucional de
materiais didáticos para cursos de graduação a distância (2010-2011) e atuou
como tutora EaD no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Atualmente,
é doutoranda no Programa de Pós-graduação em Linguística da UFSC e
professora do Centro de Educação a Distância da Universidade Estadual de
Santa Catarina (UDESC).
Arice Cardoso Tavares
Mestre em Linguística Aplicada, pela Universidade Católica de Pelotas, e
graduada em Licenciatura Língua Portuguesa e Espanhola e suas respectivas
literaturas. Atualmente é professora da Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC), atuando no Departamento de Pedagogia a Distância, com
as disciplinas de Análise e Produção Textual e Metodologias para Iniciação
à Prática da Pesquisa e Extensão. É Coordenadora de tutoria do Curso de
Especialização em Mídias na Educação da Universidade Aberta do Brasil
(UAB)/Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), Campus Pelotas/ RS, curso
no qual já exerceu funções de tutora, professora formadora e orientadora.
Na UAB, também foi professora formadora do curso de Pós-graduação Lato
Sensu em Educação: Espaços e Possibilidades para Educação Continuada.
Trabalhou em escolas particulares, instituto federal e na rede municipal de ensino
de Pelotas, no Ensino Fundamental, Médio e Técnico. Tem experiência na área de
Letras, com ênfase em Língua Portuguesa e Espanhola e experiência na área de
tecnologias integradas à educação.
Luís Fernando Prado Telles
Possui bacharelado e licenciatura em Letras (1997), mestrado (2000) e doutorado
(2009) em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), ambos na área de Literatura Portuguesa. Participou, na qualidade
de parecerista, da equipe responsável pela elaboração do Catálogo do Programa
Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM/2005) proposto
pelo Ministério da Educação. Atuou como professor dos cursos de formação
continuada para professores do Ensino Fundamental e Médio oferecidos pela
Secretaria do Estado da Educação de São Paulo em conjunto com a Unicamp
(2005-2006). Foi professor da disciplina de Língua Portuguesa e Produção Textual
das Faculdades de Campinas (FACAMP) de 2002 a 2009. Entre 2009 e 2011, foi
Supervisor Acadêmico da Área de Educação e Humanas do Departamento de
Pós-Graduação e Extensão na central mantenedora da Anhanguera Educacional,
sendo responsável pela concepção, implantação e gestão de todos os cursos da
área nesta instituição. Atualmente, é professor do Centro de Educação a Distância
da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC) e professor do curso de PósGraduação Lato Sensu em Língua Portuguesa do Programa Rede São Paulo de
Formação Docente (REDEFOR), uma parceria entre IEL/UNICAMP e a Secretaria do
Estado da Educação de São Paulo (SEE-SP).
Pareceristas
Sabrina Casagrande
Possui graduação em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas de Língua
Portuguesa pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (2004),
mestrado em Linguística, na área de concentração em Aquisição da Linguagem,
também pela UFSC (2007) e doutorado em Linguística, também com foco
em aquisição da linguagem, pela UNICAMP (2010). Atualmente, é professora
efetiva de Língua Portuguesa e Linguística da Universidade Federal da
Fronteira Sul (UFFS), campus Realeza-PR, atuando no curso de Letras Português
e Espanhol – Licenciatura e também em outros cursos da UFFS, ministrando os
componentes curriculares de Leitura e Produção Textual I e II. É colaboradora
de projeto de extensão voltado à produção de textos jornalísticos entre alunos
de graduação da UFFS e do ensino médio. Também, desenvolve pesquisa que
agrega a questão da aquisição da linguagem, a mudança e variação linguística
em projeto voltado ao ensino de gramática na escola.
86
Comentários
das atividades
Capítulo 1
1. Leia o texto a seguir e responda:
a) Que elementos permitem afirmar que o texto acima é
argumentativo?
O texto “Somente a verdade” em que o autor faz uma breve discussão
a respeito da mentira pode ser considerado argumentativo. Conforme
estudamos, podemos considerá-lo argumentativo, pois é um texto
em que são apresentadas opiniões, pontos de vista. O autor apresenta
uma tese, procurando fazer com que seu leitor aceite-a, ou quem sabe,
até concorde com ela.
b) Qual é a tese defendida pelo argumentador?
Como vimos, a tese é a ideia que defendemos em nosso texto,
normalmente polêmica, pois a argumentação implica divergência
de opinião. Neste caso, o autor apresenta a tese de que em algumas
situações é necessário mentir, pois sem a mentira podemos passar por
“situações catastróficas”, resultado da sinceridade. A tese defendida
pelo autor é polêmica, visto que nem todos os leitores deverão
concordar com ela, já que poderão achar errado o fato de contar
mentiras para, simplesmente, evitar problemas.
c) Para desenvolver sua tese, o autor utiliza: I) comparação; II) crítica;
III) citação; IV) oposição. Encontre, no texto, um exemplo de cada um
desses recursos.
I) comparação: 3º parágrafo, quando retoma as palavras de Schmieder,
afirmando que dizer alguns tipos de mentiras podem tornar o falante
tão solitário quanto quem sempre diz a verdade.
II) crítica: 2º parágrafo, quando o autor afirma que ao falar a verdade
acabou sofrendo com isso. Ele afirma que não contar mentiras trouxe
resultados negativos para ele.
III) citação: 3º parágrafo, quando o autor reproduz um trecho do livro de
Schmieder: “A questão não é deixar ou não de mentir, mas sim de quantas
mentiras precisamos”.
IV) oposição: 1º parágrafo, quando o autor afirma que o adequado seria
elogiar a esposa, mas acaba sendo sincero, o que lhe traz consequências
bem negativas.
Obs.:
» grifamos as expressões TÃO e QUANTO, pois são expressões
carregadas de valor semântico de comparação, analogia, paralelo.
Outras conjunções que trazem o mesmo valor: como, assim como,
mais... (do) que, menos... (do) que, tão... como/quanto, tanto...
quanto..., tal qual/como, do que, que, feito, bem como, tal, qual, que
nem.
» grifamos o MAS, pois essa conjunção, ao lado de “porém, contudo,
todavia, no entanto, entretanto”, vem carregada de um valor
semântico de oposição, adversidade, contraste.
d) O texto “Somente a verdade” é predominantemente objetivo ou subjetivo?
Justifique sua resposta.
O texto é predominantemente objetivo, visto que não há a dupla
interpretação. O autor não utiliza figuras de linguagem e nem deixa
subentendidos. As ideias são apresentadas de forma clara e concisa.
e) Qual o tipo de argumento empregado pelo autor no 1º parágrafo do
texto?
É empregado o argumento por exemplificação, que nada mais é que o relato
de um pequeno fato (real ou fictício).
f) Você acredita que o autor foi persuasivo em seu texto? Justifique sua
resposta.
Aqui entrará a sua percepção. A questão da persuasão envolve algo mais
pessoal que coletivo, por isso, aqui, as respostas poderão ser variadas. O que
é inegável é que quando um texto utiliza uma linguagem adequada ao seu
leitor e as ideias são apresentadas de forma clara e objetiva, ele pode ser
considerado persuasivo. No caso do texto lido, isso ocorre, e por isso o autor
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tem grande chance de alcançar os objetivos da persuasão, que é convencer,
direcionar ideias e até mesmo fazer as pessoas agirem.
Capítulo 2
1. Leia atentamente a resenha que segue e realize as atividades descritas na
sequência: (RESENHA)
Considerando a resenha de Carlos Roberto Jamil Cury, procure localizar, no
texto, os elementos constitutivos do gênero. Você pode utilizar o espaço
reservado à frente de cada elemento abaixo indicado para transcrever
o trecho do texto correspondente, ou simplesmente escrever em que
parágrafo, ou parágrafos, aparecem:
1. Referências bibliográficas:
2. Quadro de referências do autor da obra resenhada (suas credenciais):
3. Estrutura da obra:
4. Resumo da obra:
5. Metodologia utilizada (quando apresentada):
6. Conclusões do autor da obra:
7. Apreciação do resenhista (críticas positivas ou negativas):
8. Recomendações do resenhista:
Nesta atividade, o aluno deverá reconhecer as informações, selecioná-las e
organizá-las de acordo com os itens enumerados na questão. Para tanto, o
aluno deverá utilizar como parâmetro a análise realizada na segunda seção
do capítulo.
2. Considerando o universo acadêmico em que você está inserido, escolha
uma obra de seu interesse na área de conhecimento de seu curso e produza
uma resenha crítica que contenha os elementos identificados na questão
anterior.
Nesta atividade, o aluno deverá selecionar uma obra para ser objeto de sua
resenha. O aluno poderá construir uma resenha crítica conforme os padrões
do gênero apresentados na segunda seção do capítulo.
89
Capítulo 3
1. Pesquise em periódicos e revistas científicas exemplos de artigos, tentando
definir a estrutura do gênero. Encontre as partes do resumo desses artigos
que podem servir de resposta para as seguintes questões:
Por que o estudo foi realizado?
Como o estudo foi realizado?
Quais foram os resultados obtidos?
Qual é o significado desses resultados para a área?
A resposta a esta questão requer a escolha de um artigo acadêmico e a análise
do resumo desse artigo, observando se o resumo contém informações em
relação aos objetivos, à perspectiva teórica adotada, à metodologia, aos
resultados etc, conforme exemplo apresentado no capítulo.
2. O resumo serve para informar, em um parágrafo curto, o conteúdo e a
estrutura do texto integral que segue. Assim, no resumo, é possível indicar
ao leitor as finalidades, a metodologia, os resultados e as conclusões do
artigo. Neste contexto, analise as três partes constitutivas do resumo de
um artigo e relacione as colunas, numerando a segunda de acordo com a
primeira.
A sequência correta é: 2, 3 e 1.
Referências
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92
Referências
das figuras
Figura 1.1 - Pág. 16
Dificuldade na escrita
Fonte: Equipe CEAD/UDESC
Esquema 1.2 - Pág. 21
Organização das ideias
Fonte: Equipe CEAD/UDESC
Pág. 25
Fonte: Disponível em:< http://www.sxc.hu/photo/1097209 >.
Acesso em: 02 ago 2012.
Pág. 25
Fonte: Equipe CEAD/UDESC
Pág. 26
Fonte: Disponível em:< http://www.bigstockphoto.com/
image-832342/stock-photo-casual-students >.
Acesso em: 02 ago 2012.
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