Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo IDENTIDADE E ORALIDADE: O PROCESSO DE TRANSMISSÃO CULTURAL PELAS JUDIAS DE BELMONTE, PORTUGAL ALINE PRAÇA BERNAR (FFP-UERJ) RESUMO: A possibilidade de crença numa “Torah Oral” aponta para um dos fatores mais polemicamente relevantes no fenômeno do criptojudaísmo: a tradição oral. De acordo com esta crença, as palavras que teriam sido ditas por Deus a Moisés e que este não teria escrito nos pergaminhos suscitam a idéia de que algo devera ser transmitido apenas através da oralidade, de geração em geração. A última comunidade criptojudaica “descoberta” em Belmone, Portugal, após a revolução de 1974, manteve-se secreta e resistente aos movimentos de resgate e conversão. Suas tradições e rituais dependiam apenas da transmissão oral para que pudessem sobreviver. Ao esconderem-se por trás do culto do cristianismo e de não contarem com livros e guias religiosos, estes judeus tornaram-se criptojudeus e passaram a sustentar que suas crenças, rituais e tradições pudessem ser transmitidos oralmente e exclusivamente pela voz feminina. O presente trabalho apontará para a marca ou questão identitária das judias de Belmonte que, valendo-se da oralidade, adiaram não só a morte física, mas principalmente, a morte de sua cultura e tradição. A possibilidade e crença numa Torah Oral aponta para um dos fatores mais polemicamente relevantes no fenômeno do criptojudaísmo: a tradição oral. De acordo com esta crença, as palavras que teriam sido ditas por Deus a Moisés e que este não teria escrito nos Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo pergaminhos suscitam a idéia de que algo deveria ser transmitido apenas através da oralidade, de geração em geração. No reino de Judá e, mais tarde, na província romana da Judéia, ser judeu não significava apenas pertencer a religião mosaica. Ser judeu significava também etnia (pertença ao povo hebreu) e nacionalidade (Jerusalém como capital) simultaneamente. Depois da destruição da nação1, o que se tem é um povo disperso reconhecido e ligado apenas pelo caráter religioso2. Sabe-se que a diáspora já havia começado antes da queda de Jerusalém e o antijudaísmo pagão foi substituído, por assim dizer, pelo antijudaísmo cristão. Mais tarde, ao afirmar-se como religião oficial, o cristianismo provoca um antijudaísmo teológico e, progressivamente, desencadeia um antijudaísmo de caráter popular. No século XI iniciam-se rejeições e perseguições contra os judeus. Espanha e Portugal aparecem neste cenário como exceções, criando uma lógica dupla e reforçando o “fechamento cristão” e o “fechamento judaico” em pé de igualdade3. 1 Conforme explica Edgar Morin, “o país tornou-se província da SírioPalestina e colônia romana proibida para os judeus depois do esmagamento da revolta de Bar Kocheba (MORIN, 2007, p. 132-5). 2 Idibidem. 3 Ainda segundo Edgar Morin (Ibidem, p. 18-9), o chamado “fechamento cristão” impedia toda a comunicação, todo casamento misto e, salvo exceção, toda troca intelectual entre os judeus e gentios. Da mesma forma, o “fechamento judaico” conferia aos judeus o privilégio da eleição divina, considerando os gentios como impuros. 2 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo Contudo, tais fechamentos inicialmente recursivos criam o fechamento pela reclusão e diferenciação, amplificando a tensão entre as partes, as perseguições e os massacres. Neste contexto, Espanha e Portugal continuam a manter-se como “oásis de tolerância”, pelo menos até a chegada dos banimentos e do período da Inquisição. Mesmo o fim da Inquisição, como os documentos pósinquisitoriais podem comprovar, não significou liberdade religiosa para os judeus portugueses ou residentes em Portugal. Dentre os documentos oficiais, a Carta Constitucional de 1826, por exemplo, reconhecia apenas o catolicismo como religião oficialmente permitida em Portugal, remetendo os outros cultos existentes no país para o foro íntimo ou privado das casas dos estrangeiros4. Se, para a religião oficialmente permitida em Portugal, “estrangeiro” era aquele que não professava o catolicismo, uma certa noção de “gentio” também avançaria por esta via. Edgar Morin apresenta, em sua obra mais recente, uma noção etimológica da palavra gentio que, em latim tardio, significa “próprio de uma família; relativo a um povo ou nação”, termo que tomou forma entre os hebreus como significado de “estrangeiro” ou aquele que não professa a religião judaica5. Imigrantes por sobrevivência, errantes originários e clandestinos por religiosidade, os judeus em território português 4 Esther Mucznik. (1999) “Os Judeus em Portugal – Presença e Memória”. de Comunidade Israelita de Lisboa. Em 25 de Junho de 2006, de http://www.cilisboa.org/hpt_esther.htm Artigo também publicado na Revista História n.º 15, de Junho de 1999. 5 Cf. Morin (Op. cit., p. 11). 3 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo passariam então a sofrer as conseqüências de sua tão invejada “eleição”. Um bom exemplo do incômodo ou clandestinidade delegada aos judeus em Portugal foi a construção da Sinagoga de Lisboa, Shaaré Tikvá (Portas da Esperança), em 1904. O terreno foi comprado por pessoas particulares e sua construção obedeceria ao seguinte critério: obrigatoriamente, só poderia ser construída sem fachada para a rua, porque era ainda proibido, nessa época, a visibilidade de um templo que não fosse de religião católica6. Hoje ainda, a rua Alexandre Herculano (endereço da Sinagoga) esconde essa fachada com a presença de um outro edifício7. Com isso, as comunidades judaicas se fecharam e mantiveramse de forma secreta até serem reveladas. A última comunidade criptojudaica descoberta8 em território português foi no concelho9 de Belmonte, após a revolução de 1974. Esta parcela da população ju- 6 Idibidem, p. 2. 7 Pinto (2006, p. 32) 8 Para Durkheim, o objeto de qualquer ciência é “descobrir” e qualquer descobrimento desconcerta mais ou menos as opiniões correntes. In: Émile Durkheim. As Regras do Método Sociológico. Lisboa: Presença, 1984. (p. 7). Cada menção, neste texto, sobre a “descoberta” dos criptojudeus requer um inevitável dialogar com um dos textos mais elucidativos sobre a questão ou ato de “descobrir” ou “encobrir” socialmente: “Descobrimentos e Encobrimentos”, de Boaventura de Souza Santos in: Revista Crítica de Ciências Sociais, n.º 38, de 1993. 9 Concelho (a grafia é mesmo com “c”) refere-se a um recorte administrativo próprio ao território português, cujo correspondente no Brasil seria o conceito de município. 4 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo daico-portuguesa manteve-se secreta e resistente até mesmo aos movimentos de resgate e conversão. Ao esconderem-se por trás do culto do cristianismo10 e de não contarem com livros e guias religiosos, os judeus residentes em Belmonte tornaram-se criptojudeus e empenharam-se para que suas crenças, rituais e tradições pudessem ser transmitidos apenas através da oralidade, em foro íntimo ou familiar, sustentando a religiosidade mosaica como haviam aprendido.11 Os criptojudeus, algumas vezes também chamados de “marranos”12, mantiveram seus costumes e religiosidade em sigilo na co- 10 Trata-se do conhecido fenômeno da “dupla religiosidade” apontada por diversos autores além de Joaquim Chorão Lavajo, no texto: “A expulsão dos judeus portugueses Erro ou Equívoco?” In: Cármen Ballesteros & Mery Ruah. (Coord.). Os Judeus Sefarditas entre Portugal, Espanha e Marrocos. Évora: Edições Colibri. 2004. Onde podemos ler: “Os judeus convertidos ao cristianismo tomavam o nome de cristãos-novos. Muitos deles, batizados sem convicção, e até violentados a fazê-lo, continuaram a praticar secretamente os ritos da antiga religião. Essa duplicidade foi a principal causa da animosidade que caracterizava as suas relações com os cristãos-velhos e a discriminação a que estes se sujeitavam. Não podiam, por exemplo, exercer cargos públicos, nem casar com cristãos-velhos, nem sair do país sem licença régia, nem exercer comércio ultramarino, nem praticar o câmbio com os cristãos-velhos.” (p. 48). Edgar Morin (Op. cit.) vai referir ao conhecido fenômeno da “dupla religiosidade” como “dupla identidade” ou uma “dualidade interior”. 11 Segundo Cecil Roth, na obra História dos Marranos – os judeus secretos da Península Ibérica, “O criptojudaísmo, de uma forma ou de outra, é tão antigo como o povo judeu” (p. 19). David Augusto Canelo diz o mesmo na obra O Resgate dos Marranos Portugueses quando afirma: “Desde que existem judeus, existem criptojudeus e por isso podemos afirmar que o criptojudaísmo como fenômeno real é tão antigo como o próprio judaísmo” (p. 17). 12 Sobre a palavra “marrano”, vide: Roth (2001); Lipiner (1977, p. 99-100); Garcia (2002, p. 2) e Torrejoncillo (1730, p. 116-7). 5 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo munidade de Belmonte13 desde os séculos XII ou XIII14. Após a descoberta desses judeus, (que viviam de forma organizada mesmo antes de 1492 –ano da expulsão dos judeus de Espanha15) e dos movimentos de resgate, uma nova questão surgia: o dilema identitário entre continuar criptojudeu ou tornar-se judeu “aberto” ou “oficial”16. Os moradores de Belmonte tinham consciência da existência dos judeus que ocultavam suas práticas religiosas, mas o que não era esperado, nem mesmo dentre os que conviviam com os criptojudeus, era que o fenômeno que se despertava em Belmonte viesse a suscitar tamanho interesse além-fronteiras17. O posterior aprofundamento e desvendamento destas questões veio em livros como Os CristãosNovos em Portugal no Século XX, de Samuel Schwarz (1925), trazendo, por exemplo, orações que ainda eram recitadas secretamente pelos criptojudeus em Belmonte. Uma outra pesquisadora portugue- 13 Joaquim Chorão Lavajo (Op. cit., p. 48). Cf. Domingos (2002, p. 2); Garcia (2002); Mattoso; Daveau; Belo ([s.d.], p. 371). 14 15 Garcia (2000). 16 Garcia (2002), em sua tese de doutorado no campo das Ciências Sociais, acompanhou também esse movimento de resgate dos criptojudeus de Belmonte ao judaísmo oficial, bem como sua questão identitária. 17 Maria Antonieta Garcia (2002, p. 2), quando escreve: “Em Janeiro de 1926, Lucien Wolf vem a Portugal a pedido da Anglo Jewish Association, da Alliance Israélite Universelle e da Spanish Portuguese Jew’s Congregation. Visitou Lisboa, Guarda, Belmonte, Caria, Covilhã, Coimbra e Porto. ‘Constatou directamente que tais marranos não eram um mito, pois não só travou relações com eles, mas também assistiu as suas reuniões culturais’” (p. 5). 6 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo sa, Garcia também faz referência ao surgimento do criptojudaismo em Belmonte, dizendo que (...) em Belmonte, sede do concelho da Beira Interior, em convivência com católicos, manteve-se uma comunidade criptojudaica que, sem livros sagrados, nem chefes religiosos, criou uma prática sincrética, com marcas específicas que os tornava heréticos aos olhos do Judaísmo e do Catolicismo. Preservaram uma matriz cultural que foi pilar de resistência. Uma cadeia de transmissão oral veiculou o saber e o fazer da Lei Mosaica de geração em geração. A solidariedade histórica e social era favorecida pela endogamia e pelo anti-semitismo. Longe dos padrões da ortodoxia, secretamente re-criaram e reconstruíram ensinamentos. Habituaram-se a ocultar a tradição e a ser, como dizem, ‘católicos de fachada e judeus de coração’. Porém, a comunidade envolvente conhecia-os. Basta ser observador (a Inquisição não se cansou de o ensinar!) para detectar indícios de Judaísmo. Limpar meticulosamente a casa às sextas-feiras, guardar os Sábados não trabalhando e usando vestuário de festa – ‘a camisa lavada’ –, não podem esconder-se ao Outro, durante muito tempo. (GARCIA, 2002, p. 2) Uma investigação mais aprofundada sobre o trabalho que Samuel Schwarz realizou em Belmonte – com a publicação da obra Os Cristãos-Novos em Portugal no Século XX (Cf. SCHWARZ, 1925), entre os anos de 1917 e 1925 – leva o até então estudante da Universidade de Coimbra David Augusto Canelo a pensar que, apesar dele ter sido judeu, só este fato não facilitou seu trabalho de recolha dos costumes e indícios litúrgicos dos membros da comunidade. Canelo veio a descobrir que a maior parte dos relatos e orações publicadas por Schwarz foram elementos fornecidos por Francisco Henriques 7 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo Gabinete, um criptojudeu belmontense que nutria por ele grande simpatia. Então, em 1981, Canelo percebe que é preciso fazer uma atualização do estado da comunidade criptojudaica de Belmonte, pois havia passado mais de meio século após o trabalho realizado por aquele autor. Canelo foi à procura de elementos litúrgicos que ainda continuava a observar, outros que tinham se perdido e ainda aqueles que tinham realmente existido, mas que aquele que o precedeu não tinha conseguido pesquisar. Canelo tornou-se o segundo pesquisador a publicar em Portugal cerca de 60 orações inéditas – transmitidas por gerações, sob o segredo e cumplicidade permitida pela oralidade. Para os trabalhos desenvolvidos por Canelo foram facultadas pelos criptojudeus informações sobre orações, costumes e correligionários — quase todos fornecidos por escrito. Mas, mesmo diante de tamanha cumplicidade, Canelo pôde observar que uma das orações publicada por ele (como inédita) – a “Oração de Santificação pelo vinho e pelo pão”, realizada no fim da refeição de sexta-feira à noite – nada mais era que uma tradução do Kiddouch feita por Inácio Steinhardt em 1983. Fato que representa a dificuldade do trabalho de pesquisa e levantamento de dados junto à comunidade local. Paralelamente ao desenvolvimento do judaísmo lisboeta, que converge com o das comunidades de Faro e dos Açores, ocorre o fenômeno de tentativa de resgate do judaísmo por parte de alguns 8 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo criptojudeus do Norte e Nordeste do país18. O impulso do Capitão Barros Bastos, marrano, convertido ao judaísmo oficial e que hoje empresta seu nome a uma escola em Belmonte, foi de suma importância para a criação de comunidades e sinagogas em alguns dos principais centros de criptojudaísmo português, como os do Porto, de Bragança, da Covilhã e de Belmonte19. Observa-se, contudo, que tanto tempo de clandestinidade fez com que os criptojudeus esquecessem, alterassem ou inventassem rituais e orações, dado que não contavam com sinagogas nem tradições escritas que pudessem guiá-los ou orientá-los (GARCIA, 2000, p. 2). Desta forma, o conflito identitário com que os criptojudeus de Belmonte então se debatiam refletia-se basicamente em continuar com a religião criptojudaica que herdaram (mantida exclusivamente pela tradição oral) ou em seguir o caminho do judaísmo oficial, chamado por eles de “judaísmo da sinagoga”, um judaísmo que contaria com o apoio de livros e de guias religiosos. Entretanto, a chamada “Obra do Resgate”, como explica Canelo, não abalou minimamente a estrutura criptojudaica existente e não 18 Garcia, Maria Antonieta. Comunidades Marranos nas Beiras de Universidade da Beira Interior. Em 09 de Outubro de 2006, de www.bocc.ubi.pt “no Porto crescia o movimento liderado por Barros Basto. Era o renascer do Judaísmo nas Beiras e Trás-os-Montes. O jornal Ha-Lapid vai noticiando a renovação de um saber e de um fazer cultivado durante gerações. O conhecimento da perseverança dos marranos portugueses através de A Obra do Resgate de Barros Basto, do livro de Samuel Schwarz, despertou o interesse do mundo judaico” (p. 5). 19 Esther Mucznik. 1999, p. 2. 9 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo parece ter provocado grandes entusiasmos para o regresso ao judaísmo oficial20. Desta forma, a recente tentativa de retorno ao judaísmo dito “oficial” em Belmonte é um trabalho que continua em grande medida adiado porque, na opinião de Canelo, para uma grande maioria, prevalece ainda o que é feito às escondidas. Em muitas famílias o segredo permanece inflexível, perpetuando as tradições culturais herdadas dos antepassados em muitos costumes, ritos e orações. Certo é que, hoje, os judeus de Belmonte não mais se batizam nem se casam pela Igreja Católica – como faziam dentro da tradição da duplicidade religiosa – mas existem ritos e tradições que se mantêm essenciais na linha de transmissão familiar do marranismo português21. 20 Garcia, Maria Antonieta. “Comunidades Marranas nas Beiras”, de Universidade da Beira Interior. Em 09 de Outubro de 2006, de www.bocc.ubi.pt “O jornal Ha-Lapid divulgou a história, cultura e preceitos judaicos, noticia os acontecimentos relevantes da vida das comunidades (vida comunal) e de A Obra do Resgate. É perceptível o interesse em motivar os descendentes de judeus para assumirem a identidade religiosa e exorcizar o medo”, (p. 5). 21 Algumas questões poderiam ser elucidativas se colocadas neste momento para aferir a importância da linguagem no processo de resistência e secretismo dos judeus ou criptojudeus em Belmonte; p.ex. a prática e o prestígio das H’azzanot ou “rezadeiras” que, depois do Estado Novo, foram as iniciadoras e mestras do judaísmo; a tradição que seguiam, fundamentada na memória, conhecimentos e práticas; tal como a opção endogâmica, que favorecia a continuidade do culto e do segredo face ao Outro. Um outro fator que podemos apontar é o dos «abafadores» que faziam parte dos rituais funerários realizado pelas mulheres judias antes de chamarem os sacerdotes católicos para a última confissão, impedindo a revelação/denúncia dos segredos da comunidade, reiterando mais uma afirmação da identidade judaica, ao abafar os moribundos. Também aqui poderí- 10 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo As figuras do nós (criptojudeus) e do eles (judeus «oficiais») ocuparam, por um determinado tempo, o mesmo lugar no cenário judaico de Belmonte. Juntas, tais figuras rizomáticas remeteriam a um dilema identitário que surgia. Por “rizoma”, Deleuze & Guattari entendem a inexistência de um centro onde nada é pré-definido, em que ligações através de linhas podem, por sua vez, interligar um ponto qualquer a outro, sem respeitar hierarquias. Um processo que está sempre em construção e apontando para várias direções ao mesmo tempo22. Como a «máquina» rizomática, o dilema identitário presente em Belmonte também não apontava para um centro em comum, mas apresentava-se ou representava-se por interligações, por linhas que poderiam divergir, apontar em diversas direções ou, simplesmente, extinguir-se. Contudo, Garcia23 observa que, na década de 80, os preceitos criptojudaicos transmitidos oralmente ainda se mantinham, embora amos apontar a questão de ancoragem do sujeito para encontrar sua «identidade» (sempre incompleta) ou ainda para encontra-se num processo identitário (sempre em construção). As chamadas «ancoragens temporárias», a «fragmentação» e a «incompletude identitária» podemos encontrar também em Stuart Hall & Paul, Du Gay. ed. Questions of Cultural Identity. London: Sage, 2005. 22 Gilles Deleuze & Félix Guattari. A Thousand Plateau. London: Continuum., 2004. (p. 7) 23 Barros Basto e Samuel Schwarz verificaram que as mulheres memorizavam, transmitiram rituais e textos ou os escreviam. A referência a manuscritos de orações que Barros Bastos transcreve em Ha-Lapid, pertence a Perpétua da Costa. Cf: Garcia, Maria Antonieta. «Comunidades Marranas nas Beiras» de Universidade da Beira Interior. Recuperado em 09 de Outubro de 2006, de www.bocc.ubi.pt (p. 7) 11 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo contassem com o livro de Schwarz (Op. cit.) apenas como um recurso para possíveis falhas de memória. Desta forma, desde 1925, os judeus de Belmonte passaram a ter e contar, caso desejassem, com um quase manual do perfeito criptojudeu24. É de especial relevância a figura da mulher no contexto da transmissão oral nas comunidades criptojudaicas. Em seio familiar, transmitem oralmente o patrimônio cultural e religioso ; em seio comunitário, atuam como guardiãs e protetoras da ordem social ; e, em seio extra-comunitário, junto à comunidade envolvente, aceitaram a clausura e o encobrimento social. Ao contrário do papel que desempenhariam no judaísmo «oficial», as criptojudias de Belmonte detinham um papel fundamental – o papel sacerdotal (Cf. GARCIA, 2000, p. 287). Antes da vinda de um Rabino de Israel para a vila, as criptojudias de Belmonte detinham certo prestigio dentro e fora do lar. Sua presença era requerida em qualquer cerimônia e imprescindível em algumas; eram respeitadas pelo saber que detinham e que tinham capacidade de transmitir oralmente; e, alem disso, tinham satisfação em ver que contribuíam de forma ímpar para a propagação de sua tradição cultural e religiosa. Apoiadas na fidelidade à Lei de Moisés, na cadeia de transmissão com laços de pertença e na prática da endogamia, elas garantiram a continuidade da memória judaica, gozando do privilégio de 24 GARCIA. “Comunidades Marranas nas Beiras” de Universidade da Beira Interior. Em 09 de outubro de 2006, de www.bocc.ubi.pt (p. 8). 12 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo saberem-se sacerdotisas, trabalhadoras (assim como os homens) e ainda representantes do saber. Mesmo assim tiveram que sofrer não só com a febre anti-semita que contaminava os gentios, mas também com o antifeminismo em época de presença rabínica. Se pensarmos na presença rabínica em Belmonte veremos que esta provocou e promoveu um discurso de esquecimento do passado e desvalorização da tradição. O “saber antigo” ensinado pelas criptojudias representava, naquele momento, um período de ignorância, quase maldito e que deveria ser deixado para trás. O papel que poderiam desempenhar sob os preceitos rabínicos exigia subalternidade e amnésia, o que veio a provocar alguma forma de rebeldia e desobediência. A oralidade, que propiciou a continuidade da memória judaica, adquiria então um valor duplo, como assinala Garcia, mas ainda assim contraditório. A mesma oralidade que foi motivo de orgulho e fez sobreviver o povo judeu e sua fé, aparece também como rejeição, aliado ao sincretismo e, principalmente, à heresia. É importante considerar que fenômeno do criptojudaísmo em Belmonte propõe um repensar até mesmo do que Walter Benjamin escreveu no texto “O Narrador”, de 1936, quando esboça observações sobre a obra de Nikolai Leskow25. Ao escrever sobre um supos- 25 Nikolai Leskow nasceu em 1831 na Província de Orjol e morreu em Petersburgo no ano de 1895. A importância de Leskow reside nas narrativas que pertencem a uma fase posterior de sua produção. Desde o fim da guerra foram empreendidas várias tentativas para tornar essas histórias conhecida no âmbito da língua alemã. Cf: nota de rodapé do texto “O 13 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo to fim arte de narrar, Benjamin, entre outras afirmações, diz que “(...) a arte de narrar está em extinção”; e ainda que (...) Para nós ele (o narrador) já é algo distante e que continua a se distanciar”(BENJAMIN, 1992a, p. 28). Salientamos, entretanto que, no tocante aos criptojudeus de Belmonte, a arte de narrar manteve-se presente desde o século XII, com o único e fundamental pressuposto de transmissão e troca de experiências. Nomeadamente através da voz26 feminina, as narrativas de caráter oral, as músicas27 e as orações significaram um importante instrumento de resistência, salvaguardando valores milenares. Esta continuidade da chamada arte de narrar pelas criptojudias de Belmonte pode ser também revista através de uma outra passagem de Benjamin, quando ele indaga se “não se notou, no fim da guerra, que as pessoas chegavam mudas do campo de batalha – não mais ricas, mas mais pobres em experiência comunicável?”. O argumento inerente ao questionamento benjaminiano aponta para o silêncio e mudez das pessoas que retornavam dos campos de batalha, fator que remeteria para o “sincretismo” sempre tão associados aos judeus em geral. Assim como poderia também realçar a «resistência» implícita a este processo, que está, para esta parcela da população Narrador” (Edição Brasileira – coleção Os Pensadores – Textos Escolhidos. São Paulo: Abril, 1983. (pp. 57-74). 26 Para um maior conhecimento e debate existente a respeito da questão da voz, vide as obras de Paul Zumthor. 27 Judith Cohen, uma pesquisadora e cantora judia, residente no Canadá, trabalha com as músicas secretas das criptojudias de Portugal. 14 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo portuguesa, exclusivamente apoiada na experiência da transmissão oral. Contudo, até mesmo o silêncio, ícone maior do segredo para Jacques Derrida, implica sempre o seu contrário (Cf. DERRIDA; FERRARIS, 2006). Como diria John Cage, “o silêncio é um tempo perfurados de ruídos”28. Neste caso, não podemos apontar o não-dito – pontuado por Benjamin em “O Narrador” – como o contrário do ato de narrar ou como algo oposto à troca de experiências por via oral, pois o silêncio, como bem pontua Smedt (Ibidem), também fala e elucida. É evidente, até mesmo para Benjamin em 1936, que a amplitude e liberdade associadas às narrativas de caráter oral não impõem ao leitor ou ouvinte uma “coerência psicológica da acção”, o que efetivamente não acontece com os veículos de informação, em que as respostas e interpretações chegam de forma pronta e planejada ao receptor. Desta forma, evidente também se mostra a riqueza da oralidade, que incube-se de transmitir para as gerações vindouras os preceitos culturais e religiosos, permitindo, como pontua Michel Foucault, no texto “O que é um autor” (2002, p. 36), o adiamento da morte, das tradições, dos rituais e das próprias narrativas. Em minha pesquisa doutoral, inserida nos grandes campos da Linguagem e da Sociologia, venho promovendo um constante dialogar entre a tradição oral da língua e um repensar do seu papel em sociedade, num contexto judaico-feminino que usou e ousou reconhecer unicamente a oralidade como meio privilegiado e resistente, 28 Marc de Smedt (2006., p. 9). 15 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo dando continuidade às tradições e ao segredo inerente à sua identidade e religiosidade. De qualquer modo, uma recente publicação exemplifica o interesse sempre presente de autores consagrados, como Morin (2007), na questão judaica. Abordando o caso Belmonte apenas como estatística, Morin não só reconhece a importância da descoberta dos criptojudeus belmontenses, mas também e, principalmente, aponta para as muitas questões que essa temática pode trazer, seja re-pensando a oralidade, a identidade, o feminino, o descobrimento ou, até mesmo, o grave, mas sempre atual encobrimento - de nações, povos, culturas, tradições e religiosidades- disseminado pelo mundo globalizado e considerado por alguns como pós-moderno. 16 Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo Referências Bibliográficas ABECASSIS. José Maria. Genealogia Hebraica: Portugal e Gilbraltar séculos XVII a XX. Lisboa: Ferin, 1990. ______. Genealogia Hebraica Portugal, séc. XIX E XX: arrolamento e levantamento epigráfico das sepulturas existentes no cemitério Israelita de Faro (CIF). Faro: Sep. de Anais do Município de Faro, n.º 15, 1986. ADLER, Israel. Musical Life and Traditions of the Portuguese Jewish community of Amsterdam in the XVIIIth century. 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