DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS Prof. Luis Fernando Calheiros Casimiro Aula 1 Origem e evolução dos Direitos Transindividuais “Teoria das gerações” desenvolvida por karel vasak • AS GERAÇÕES/DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS • A proposta de triangulação dos direitos fundamentais em gerações é atribuída a Karel Vasak, que a apresentou em conferência ministrada no Instituto Internacional de Direitos Humanos (Estrasburgo) em 1979, inspirado no lema da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) e baseado num processo histórico de institucionalização. DIREITOS 1ª GERAÇÃO LIBERDADE 2ª GERAÇÃO CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS - Liberdades clássicas, formais ou públicas Direitos civis (liberdade, negativas: foco na individualidade em face do propriedade e segurança) e Estado. direitos políticos. - Igualdade formal - Liberdades reais, concretas, materiais ou públicas positivas: foco na correção das IGUALDADE desigualdades. - Igualdade Material Início do reconhecimento da existência de direitos de dimensão coletiva. 3ª GERAÇÃO Reconhecimento internacional de direitos da humanidade, do homem como cidadão do FRATERNIDA mundo. DE Aprofundamento do reconhecimento de Direitos sociais ( amparo ao idoso, às mulheres, às crianças), culturais (à educação básica) e trabalhistas. Direito à paz, ao desenvolvimento, ao equilíbrio ambiental DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS INTERESSE PÚBLICO (Estado) INTERESSE PRIVADO (Indivíduos) INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS OU METAINDIVIDUAIS Mauro Capelleti – década de 70 DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS • • • • • • GRUPOS, CLASSES, CATEGORIAS DE PESSOAS. Exemplos: Moradores de uma região. CONVENIÊNCIA SOCIAL Consumidores do mesmo produto Trabalhadores da mesma fabrica DEFESA COLETIVA Alunos do mesmo estabelecimento • Possuem características próprias e distintas, mas guardam algo em comum. TUTELA COLETIVA DOS INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS • Há determinados interesses (grupos, classes, categorias, etc.) que não podem ser defendidos pelos sistemas de interesses públicos ou privados clamando, pois, por uma tutela diferenciada. DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS E A CF/88. • A Constituição Federal faz referência aos direitos difusos e coletivos (inciso III do art. 129), mas não os define. Foi a Lei Federal 8.078/1990, que tratou de apresentar os parâmetros definidores de direitos difusos e direitos coletivos, o que fez no seu art. 81. • Art. 129 da CF/88. São funções institucionais do Ministério Público: • III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; ARTIGO 81 DO CDC • “Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. • Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: • I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; • II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; • III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.” CONSIDERAÇÕES INICIAIS • Os direitos coletivos em sentido lato são: – difusos, – direitos coletivos em sentido estrito – direitos individuais homogêneos. CONSIDERAÇÕES INICIAIS • DIFERENCIAÇÃO: – Transindividualidade – Ampla ou restrita – Sujeitos titulares – Determinados ou indeterminados – Vínculo a ensejar a demanda coletiva - jurídico ou de fato DIREITOS COLETIVOS EM SENTIDO AMPLO • 1 – DIREITOS DIFUSOS – Ampla transindividualidade real – Indeterminação dos sujeitos titulares (unidos por um vínculo meramente de fato) – Ressarcibilidade indireta • Exemplos: – proteção da comunidade indígena; – proteção da criança e do adolescente; – proteção de pessoas portadoras de deficiência. DIREITOS COLETIVOS EM SENTIDO AMPLO • DIREITOS DIFUSOS • Para Ada Pellegrini Grinover, a categoria dos direitos difusos: • “(…) compreende interesses que não encontram apoio em uma relação base bem definida, reduzindo-se o vínculo entre as pessoas a fatores conjunturais ou extremamente genéricos, a dados de fato frequentemente acidentais ou mutáveis: habitar a mesma região, consumir o mesmo produto, viver sob determinadas condições sócio-econômicas, sujeitar-se a determinados empreendimentos, etc.” DIREITOS COLETIVOS EM SENTIDO AMPLO • “a) o direito de todos não serem expostos à propaganda enganosa e abusiva veiculada pela televisão, rádio, jornais, revistas, painéis publicitários; b) a pretensão a um meio ambiente hígido, sadio e preservado para as presentes e futuras gerações; (…) e) o dano difuso gerado pela falsificação de produtos farmacêuticos por laboratórios químicos inescrupulosos; f) a destruição, pela famigerada indústria edilícia, do patrimônio artístico, estético, histórico turístico e paisagístico; g) a defesa do erário público; (…) j) o dano nefasto e incalculável de cláusulas abusivas inseridas em contratos padrões de massa; k) produtos com vícios de qualidade ou quantidade ou defeitos colocados no mercado de consumo;” (LENZA, Pedro. Teoria geral da ação civil pública. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 94-5) DIREITOS COLETIVOS EM SENTIDO AMPLO • 2 – OS DIREITOS COLETIVOS EM SENTIDO ESTRITO – – – – Transindividualidade real restrita Determinabilidade dos sujeitos titulares Titulares unidos por uma relação jurídica-base Reparabilidade direta • EXEMPLO: – Aumento ilegal das prestações de um consórcio: o aumento não será mais ou menos ilegal para um ou outro consorciado. (…) Uma vez quantificada a ilegalidade (comum a todos), cada qual poderá individualizar o seu prejuízo, passando a ter, então, disponibilidade do seu direito. DIREITOS COLETIVOS EM SENTIDO AMPLO • 3 – OS DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS – – – – – Decorrem de uma origem comum Possuem transindividualidade instrumental ou artificial Titulares são pessoas determinadas Objeto é divisível e admite reparabilidade direta Ressarcibilidade direta • EXEMPLO: – Um alimento de um restaurante que venha gerar a intoxicação de muitos consumidores. DIREITOS COLETIVOS EM SENTIDO AMPLO • O tratamento especial conferido aos direitos individuais homogêneos tem razões pragmáticas, objetivando-se unir várias demandas individuais em uma única coletiva, por razões de facilitação do acesso à justiça e priorização da eficiência e da economia processuais. DIREITOS COLETIVOS EM SENTIDO AMPLO • Hugo Nigro Mazzilli exemplificou e distinguiu as categorias de direitos transindividuais segundo as suas origens: • “a) se o que une interessados determináveis é a mesma situação de fato (p. ex., os consumidores que adquiriram produtos fabricados em série com defeito), temos interesses individuais homogêneos; b) se o que une interessados determináveis é a circunstância de compartilharem a mesma relação jurídica (como os consorciados que sofrem o mesmo aumento ilegal das prestações), temos interesses coletivos em sentido estrito; c) se o que une interessados indetermináveis é a mesma situação de fato ( p. ex., os que assistem pela televisão à mesma propaganda enganosa), temos interesses difusos.” DIREITOS COLETIVOS EM SENTIDO AMPLO TITULARES RELAÇÃO INTERESSE Interessados determináveis Mesma situação de fato/relação jurídica semalhante Interesses individuais homogêneos Ex. Consumidores de produto com vício Interessados determináveis Mesma relação jurídica Interesses coletivos em sentido estrito Ex. Aumento de prestação de consorciados. Interessados indetermináveis Mesma situação de fato Interesses difusos Ex: Propaganda enganosa DIREITO DO CONSUMIDOR RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO • Toda relação de consumo terá a incidência do Código de defesa do Consumidor • Para identificar uma relação de consumo é necessário conhecer seus elementos. • Os conceitos dos elementos são relacionais, interdependentes, ou seja, não existem isolados. RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO CONSUMIDOR Elementos subjetivos FORNECEDOR Elemento teleológico, destinatário final da relação de consumo. Nelson Nery Junior. PRODUTO SERVIÇO Elementos objetivos CONCEITO DE CONSUMIDOR • Estabelecer o conceito de consumidor é de relevante importância para definir quais normas regem determinada relação jurídica, se de direito civil ou de Direito do consumidor. • Normas de cunho civilista, pressupõem igualdade entre as partes que estabelecem um contrato enquanto as normas de direito do consumidor revelam-se protetivas, intervencionistas em prol da parte considerada mais vulnerável, o consumidor. (Ex. Inversão do ônus da prova) CONCEITO DE CONSUMIDOR • Existem vários conceitos de consumidor no CDC • Consumidor em sentido estrito ou Standard (padrão) • Art. 2º do CDC, in verbis: “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. • A) Pessoa física ou jurídica • B) Consumidor pode adquirir ou utilizar o produto/serviço. • C) Destinatário final (Três teorias) CONCEITO DE CONSUMIDOR • EXISTEM TRES CORRENTES DOUTRINÁRIAS: • 1ª - TEORIA FINALISTA / SUBJETIVA • 2ª - TEORIA MAXIMALISTA • 3ª - TEORIA FINALISTA APROFUNDADA OU MITIGADA CONCEITO DE CONSUMIDOR • 1ª - TEORIA FINALISTA / SUBJETIVA: • Consumidor é a pessoa que é a destinatária fática e econômica do bem, sem usa-lo para atividade profissional. • Consumidor é aquele que retira o bem do mercado de consumo com finalidade pessoal. • O intermediador na cadeia de consumo não é considerado consumidor. • Crítica: Exclui da incidência do CDC profissionais liberais, micro empresas, empresas de pequeno porte, etc. • Adotada pelo STF e STJ. CONCEITO DE CONSUMIDOR • 1ª - TEORIA FINALISTA / SUBJETIVA: • A corrente finalista defende a teoria que o consumidor – destinatário final seria apenas aquela pessoa física ou jurídica que adquire o produto ou contrata o serviço para utilizar para si ou para outrem de forma que satisfaça uma necessidade privada, e que não haja, de maneira alguma, a utilização deste bem ou deste serviço com a finalidade de produzir, desenvolver atividade comercial ou mesmo profissional. • Consumidor: Destinatário fático e econômico. CONCEITO DE CONSUMIDOR • “Destinatário final seria aquele destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa jurídica ou física. Logo, segundo esta interpretação teleológica, não basta ser destinatário fático do produto, retirá-lo da cadeia de produção, levá-lo para o escritório ou residência – é necessário ser destinatário final econômico do bem, não adquiri-lo para revenda, não adquiri-lo para uso profissional, pois o bem seria novamente um instrumento de produção cujo preço será incluído no preço final do profissional que o adquiriu. Neste caso, não haveria a exigida ‘destinação final’ do produto ou do serviço, ou, como afirma o STJ, haveria consumo intermediário, ainda dentro das cadeias de produção e de distribuição.” • (MARQUES, Claudia Lima in BENJAMIN, Antônio Herman V. Manual de direito do consumidor. 2. ed. rev. atual. e ampl., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 71.) CONCEITO DE CONSUMIDOR • 2ª - TEORIA MAXIMALISTA OU OBJETIVA: • Pessoa que retira o bem do mercado de consumo sem levar em conta o destino final da coisa. • Ex. Compra de produtos que fazem parte da produção de refeições em um restaurante; compra de mobília para o restaurante; computador para escritório etc. • Crítica: Amplia muito o conceito de consumidor e pode gerar desigualdades. CONCEITO DE CONSUMIDOR • 2ª - TEORIA MAXIMALISTA OU OBJETIVA: • A corrente maximalista defende a teoria de que o consumidor – destinatário final seria toda e qualquer pessoa física ou jurídica que retira o produto ou o serviço do mercado e o utiliza como destinatário final. Nesta corrente não importa se a pessoa adquire ou utiliza o produto ou serviço para o uso privado ou para o uso profissional, com a finalidade de obter o lucro. CONCEITO DE CONSUMIDOR • Os maximalistas defendem que será considerado como consumidor aquele que retire o produto ou serviço do mercado e que o utilize como destinatário final, sem importar se este produto ou serviço adquirido seja utilizado para satisfazer uma necessidade pessoal, ou para ser incorporado a um novo processo de produção. CONCEITO DE CONSUMIDOR • 3ª - TEORIA FINALISTA APROFUNDADA OU MITIGADA • Em alguns casos o intermediador da cadeia de consumo poderá ser considerado consumidor, desde que, no caso concreto, seja provada sua vulnerabilidade. • Vulnerabilidade informacional, técnica, econômica, etc. • STJ já usou esta teoria em alguns julgados. CONCEITO DE CONSUMIDOR • 3ª - TEORIA FINALISTA APROFUNDADA OU MITIGADA • A teoria finalista aprofundada ou mitigada amplia o conceito de consumidor para alcançar a pessoa física ou jurídica que, embora não seja a destinatária final do produto ou serviço, esteja em situação de vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica em relação ao fornecedor. • Microempresas, empresas de pequeno porte, profissionais liberais, profissionais autônomos, dentre outros. • Posicionamento do STJ: Resp 1.195.642 CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO CONCEITO DE CONSUMIDOR • • • • CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO Três definições no CDC. A) CONSUMIDOR COLETIVO Art. 2º, Parágrafo único, in verbis: “Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”. • Tutela coletiva do consumidor (ação coletiva) CONCEITO DE CONSUMIDOR • Art. 2º, Parágrafo único “Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”. • Instrumentalização da tutela dos interesses dos consumidores. • Exemplo: Consumidores de medicamento prejudicial à saúde; moradores de uma localidade abastecida por água contaminada. • Regra importante para fins processuais (ação coletiva), não há necessidade de representação individual. CONCEITO DE CONSUMIDOR • CONSUMIDOR “BYSTANDER” • B) Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. • Todos aqueles que não participaram da relação de consumo, não adquiriram qualquer produto ou contrataram serviços, mas sofreram alguma espécie de lesão e merecem a proteção do Código de Defesa do Consumidor. • São vítimas de determinado evento e não participaram da relação de consumo que deflagrou o evento. CONCEITO DE CONSUMIDOR • Um grande exemplo foi o do reconhecimento da relação de consumo às vítimas atingidas em solo, em decorrência da queda de um avião que fazia o serviço de táxi aéreo, quando em decisão unânime a 3ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) admitiu, inclusive, a inversão do ônus da prova (artigo 6º, VIII do CDC) ao consumidor equiparado. CONCEITO DE CONSUMIDOR • Ex 2: Pessoas que entraram na boate Kiss, para socorrer vítimas e acabaram sofrendo danos respiratórios. • Não são consumidores em sentido estrito, são consumidores por equiparação (sentido amplo), consumidores bystander (doutrina norte americana). CONCEITO DE CONSUMIDOR • CONSUMIDOR POTENCIAL OU VIRTUAL • Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. • Os citados capítulos referem-se respectivamente às práticas comerciais e contratuais, equiparando-se a consumidor, portanto, todas as pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas comerciais e contratuais, em especial as abusivas. • Ex. Propaganda enganosa. • - CONCEITO DE FORNECEDOR – Fornecedor necessariamente visa a lucro? • - CONCEITO DE PRODUTO • - CONCEITO DE SERVIÇO – Distinção entre produto e serviço no que diz respeito à remuneração