As novas Constituições latino-americanas do século XXI: os casos

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As novas Constituições latino-americanas do século XXI:
os casos da Bolívia, Equador e Venezuela
Aragon Érico Dasso Júnior
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS)
Brasil
E-mail: dassojr@hotmail.com
Resumo
A hegemonia ultraliberal vem sendo desafiada na América Latina. Novos textos
constitucionais são as marcas principais de países contra-hegemônicos no contexto latinoamericano, tais como Bolívia, Equador e Venezuela. Esses países têm provocado um
imenso debate a respeito da radicalização democrática. O roteiro é praticamente o mesmo:
os presidentes Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Hugo Chávez (Venezuela)
iniciaram seus mandatos impulsionando uma Assembléia Constituinte. Chávez conseguiu
aprovar a nova Carta por meio de um referendo no mesmo ano em que assumiu a
Presidência, em 1999. Já Morales, no poder desde janeiro de 2006, enfrenta uma grave crise
política porque a oposição não reconhece a sua proposta de Carta. Aprovada no final de
2007 apenas por governistas, depende, para entrar em vigência, de consulta popular ainda
sem data definida. No caso de Correa, a reforma constitucional do Equador aprovada no
Parlamento e ratificada em referendo popular em 2008, tem semelhanças com relação aos
processos realizados nos últimos anos na Venezuela e na Bolívia, mas não segue os
mesmos passos. Além da aprovação por referendo popular, outros pontos coincidentes
incluem a reeleição presidencial, o aumento das atribuições do Executivo, uma maior
presença do Estado na economia e a criação de uma espécie de Poder Popular. O objetivo
principal deste artigo é estudar as três Constituições mencionadas, buscando verificar
especialmente se possuem uma matriz comum alicerçada nos seguintes objetivos
específicos: construir um regime político totalmente distinto, com uma nova classe
dirigente; analisar se há uma nova burocracia no poder, com posturas radicais de esquerda
no discurso; e investigar as múltiplas formas de participação popular.
As novas Constituições latino-americanas do século XXI:
os casos da Bolívia, Equador e Venezuela
Aragon Érico Dasso Júnior
Introdução
Hoje, quando alguém fala em democracia, afinal, do que está falando? A resposta a
essa pergunta é decisiva, pois, além de atribuir significado à democracia, também explicita
o grau de expectativa que cada pessoa tem com relação ao fenômeno democrático.
Levando em consideração a história dos países ocidentais, especialmente a dos
latino-americanos, o termo democracia converteu-se em uma expressão valorizada em si
mesma, quase que independente do seu conteúdo. Tal constatação é resultado de um
processo lento, impulsionado principalmente por ideais do Iluminismo, quando do
surgimento dos regimes constitucionais. Estes, após diversas lutas, foram aperfeiçoados e
receberam novas configurações, denominadas de regimes democráticos constitucionais.
Hoje, o Ocidente tem na democracia constitucional o seu marco ideológico e institucional
dominante, ainda que frágil.
Não há como negar que ainda vivem milhões de pessoas sob regimes não
democráticos. Porém, também não há como negar que a democracia avançou com rapidez e
adquiriu quase que um perfil normativo. Configurou um habitus, na expressa acepção de
Pierre Bourdieu, inimaginável no século XIX, por exemplo. Na atualidade são poucos os
“países não democráticos” onde não exista um forte movimento em favor da democracia.
Essa situação de fato exige que este trabalho explicite qual o sentido que se dá ao
termo democracia. Para fazê-lo é necessário, primeiro, romper com o conformismo teórico,
redefinindo o conceito de democracia e desafiando a todos os acadêmicos que se satisfazem
com uma visão burguesa e, portanto elitista e processual-formal da democracia. É preciso,
portanto, nadar contra a corrente da mesmice, que se nega a questionar a realidade, optando
por adequar-se a ela.
Redefinir a democracia é estabelecer uma nova categoria de análise, distinta das
referências provenientes do mercado, como competitividade, produtividade e eficiência.
Redefinir a democracia é lutar contra o embrutecimento diário que faz com que cada
cidadão brasileiro veja a pobreza, a fome e a miséria como algo natural. Redefinir a
democracia, sem receio de ser excluído e marginalizado, é a responsabilidade de qualquer
acadêmico que pretenda contribuir para uma sociedade menos desigual.
O primeiro passo nesse sentido é afirmar que não existe democracia sem
participação cidadã1, pois a efetiva participação cidadã e a ampliação dos mecanismos que
1
Participação cidadã e participação popular são expressões que serão utilizadas neste estudo com o mesmo
significado.
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a transformam em realidade não são os elementos definidores das “democracias burguesas”
existentes.
O segundo passo exige, como conseqüência, que se reconheça que os termos
“democracia” e “participação” são significados que estão em disputa nas sociedades latinoamericanas e podem ser encontrados nos discursos e nas práticas de forças políticas
absolutamente antagônicas. Portanto, faz-se necessário debater e explicitar não somente o
sentido que se atribui à “democracia”, mas também à “participação cidadã”, antes do exame
mais detalhado dos textos constitucionais boliviano, equatoriano e venezuelano.
A insuficiência da “democracia burguesa”
Hoje, parece haver tantas definições de democracia quanto há autores preocupados
em defini-la. Entretanto, tamanha diversidade conceitual também vem sendo responsável
por uma grande confusão teórica. A confusão começa no conceito em si. É o fenômeno que
Giovanni SARTORI (1994, p.22) denominou de “era de democracia confusa”.
Apesar da origem do termo democracia remontar à Grécia antiga, a gênese do
conceito moderno da democracia ocidental foi originada num período de tempo
relativamente curto e bastante mais recente, com a Revolução Inglesa (1688), a
independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução Francesa (1789). O conceito de
democracia que predomina desde o século XIX, influenciado por esses três grandes
fenômenos históricos, convencionou-se chamar de “democracia liberal” ou de “democracia
representativa”, denominadas doravante também de “democracia burguesa”.
Ellen Meiksins WOOD (2003, p.194) reflete a respeito dessa transformação,
influenciada pelo liberalismo:
até o último quarto do século XVIII, pelo menos até a redefinição
americana, o significado predominante de “democracia”, tanto no
vocabulário de seus defensores quanto nos detratores, era
essencialmente o significado adotado pelos gregos que inventaram a
palavra: governo pelo demos, o “povo”, com o significado duplo de
status cívico e categoria social. Isso explica a difamação
generalizada pelas classes dominantes. Desde então ela se submeteu
a uma transformação que tornou possível aos seus inimigos de
ontem abraçá-la, oferecer a ela as mais altas expressões de louvor
em seu vocabulário político. A redefinição americana foi decisiva;
mas não foi o fim do processo, e seria necessário mais de um século
para completá-lo. Na “democracia representativa”, o governo pelo
povo continuou a ser o principal critério de democracia, ainda que o
governo fosse filtrado pela representação controlada pela
oligarquia, e povo foi esvaziado de conteúdo social. No século
seguinte, o conceito de democracia iria se distanciar ainda mais de
seu significado antigo e literal.
Os liberais sempre entenderam a democracia como relacionada à organização
formal do Estado e não como um ideal, baseado no conceito de cidadania. A democracia,
3
tal como a conhecemos hoje, é, portanto, tributária do pensamento liberal. Essa
naturalização da democracia liberal significou a retirada de qualquer conteúdo social da
mesma.
Com isso o exercício da cidadania ficou reduzido à formalidade do voto. Ao longo
dos anos, quanto mais se generalizou a democracia liberal no “Ocidente”, mais se esvaziou
seu conteúdo.
A mesma Ellen Meiksins WOOD (2003, p.201) aponta um paradoxo como
resultado dessa concepção de democracia associada ao pensamento liberal.
O liberalismo é uma idéia moderna baseada em formas prémodernas e pré-capitalistas de poder. Ao mesmo tempo, se os
princípios básicos do liberalismo são anteriores ao capitalismo, o
que torna possível a identificação de democracia com liberalismo é
o próprio capitalismo. A idéia de democracia liberal só se tornou
pensável com o surgimento das relações sociais capitalistas de
propriedade. O capitalismo tornou possível a redefinição de
democracia e sua redução ao liberalismo. De um lado, passou a
existir uma esfera política separada na qual a condição extraeconômica – política, jurídica ou militar – não tinha implicações
diretas para o poder econômico, o poder de apropriação, de
exploração e distribuição. Do outro lado, passou a existir uma
esfera econômica com suas próprias relações de poder que não
dependiam de privilégio político nem jurídico.
Ou seja, a democracia entendida como um mero processo de escolha de governos
não põe em xeque os valores do capitalismo e, portanto não representa uma ameaça à
estrutura de classes.
Porém, para os defensores da “democracia burguesa”, tais questões parecem não ser
centrais. Tudo parece estar reduzido à existência do voto. Existindo eleições periódicas,
existe democracia.
Os defensores da “democracia burguesa” dedicaram-se então a estabelecer os
requisitos necessários para denominar um regime de democrático. Ninguém ficou mais
conhecido por realizar tal tarefa do que Robert DAHL, ao lançar sua obra “A poliarquia”,
em 1971, estabelecendo oito condições para a definição de um sistema democrático: 1)
liberdade de criar e associar-se a organizações; 2) liberdade de expressão; 3) direito de
voto; 4) elegibilidade para cargos públicos; 5) direito de líderes políticos de competirem
por apoio; 6) existência de fontes alternativas de informação; 7) eleições livres e limpas; 8)
instituições que tornem as políticas governamentais dependentes de votos e outras
manifestações de preferências (1997, p.15).
Entretanto, reconhecendo que nenhum país as satisfazia completa e
simultaneamente, adotou a distinção entre “democracia” (como ideal) e “poliarquia” (forma
que a democracia pode assumir empiricamente no mundo moderno caracterizada acima de
tudo pela diversidade das condições sociais, culturais e econômicas dos indivíduos e pela
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multiplicidade de interesses em jogo e as condições necessárias e suficientes para o seu
estabelecimento).
Posteriormente, Robert DAHL (1999, p.46-47) aprimorou os seus requisitos quanto
à democracia, reduzindo-os a cinco: participação efetiva, igualdade de voto, compreensão
ilustrada, controle da agenda e inclusão dos adultos. Entretanto, algo parece não haver se
modificado no pensamento de Robert DAHL (1999, p.49), quando trata de justificar cada
um de seus novos critérios: “cada um deles é necessário se os membros da comunidade são
iguais politicamente”. Com isso, parece esquecer-se completamente do conteúdo que deve
possuir a democracia.
Gabriel VITULLO (2005, p.68) aponta essa limitação da democracia entendida
como mero procedimento:
considerar a democracia como um simples método implica por si só
abjurar da dimensão social e de todo conteúdo mais substantivo,
precisamente daqueles elementos que deveriam constituir os marcos
de uma definição contra-hegemônica que nos levasse a entender a
democracia (...) como sinônimo de emancipação humana, como
aspiração de liberdade, como anelo de autogoverno e de autoorganização popular.
Entretanto, apesar das críticas realizadas por Ellen Meiksins Wood e por Gabriel
Vitullo, o pensamento dominante na Ciência Política e no Direito possui uma visão
exclusivamente garantista da democracia, demonstrando grande apreço pela representação e
desconfiando de qualquer tentativa de atribuir conteúdo à democracia.
Por exemplo, Adam PRZEWORSKI (1998, p.09), membro do Conselho Científico
do Centro Latino-Americano de Administração para o Desenvolvimento (CLAD), em que
Luiz Carlos Bresser Pereira cumpre as funções de presidente, não deixa dúvidas quanto ao
valor que atribui à representação política:
a democracia é uma forma de norma. Ainda que na democracia
direta, as decisões de uma maioria são obrigatórias para todos,
incluindo à minoria, que vê que estas decisões são contrárias a suas
opiniões ou interesses. Numa democracia representativa - nossa
forma de governo - estas decisões são tomadas por representantes
eleitos e implementadas por funcionários designados, para os quais
os representantes delegam algumas das tarefas de governo.
Guillermo O’DONNELL (1988, p.43), renomado cientista político argentino,
conhecido por seus escritos a respeito da transição das ditaduras militares para regimes
“democráticos” na América Latina, segue os passos de Robert Dahl ao afirmar que:
a democracia à qual me refiro é a democracia política (ou
poliarquia, segundo a útil e difundida definição de Robert Dahl), ela
pode coexistir com diversos graus de democratização (e com sua
falta) nos planos econômico, social e cultural. Por duas razões é
5
importante deixar bem clara esta distinção: uma, porque considero a
conquista da democracia política sumamente valiosa em si mesma;
outra, porque a distinção entre, por um lado, a democracia política
e, pelo outro, a democratização sócio-econômica e cultural, é
precisamente o que nos permite explorar as relações e variações
entre ambas.
Porém, ninguém mais do que Norberto Bobbio, talvez o teórico contemporâneo que
mais defendeu a democracia como forma, explicitou a verdadeira aversão à participação
efetivamente cidadã, característica essencial de uma democracia efetiva.
Norberto BOBBIO definiu democracia como “um conjunto de regras (primárias ou
fundamentais) que estabelecem quem está autorizado a tomar decisões coletivas e com
quais procedimentos (legitimidade e legalidade)” (1992, p.18), ao mesmo tempo em que
afirmou que “nada ameaça mais matar a democracia que o excesso de democracia” (1992,
p.26).
Marcos Roitman ROSENMANN (2003, p.55) ao criticar os que defendem a
democracia apenas como método afirmou que:
fazer compatível a democracia com a pobreza e a desigualdade
requer ter, por parte dos teóricos institucionais, um elevado nível de
cinismo e covardia intelectual. Seus argumentos tendentes a
demonstrar que a democracia é uma teoria geral cujo princípio deve
abstrair-se de qualquer realidade contingente faz possível que seu
enunciado se transforme num conjunto de procedimentos, normas e
regras. É um jogo com uma finalidade específica: selecionar e
reproduzir a elite política.
Entende-se, portanto, que a democracia não pode ser reduzida a um método de
escolha, necessitando possuir conteúdo econômico e social. Tem-se, portanto, uma visão
evidentemente crítica da democracia exclusivamente representativa. Com essa afirmação,
assume-se evidentemente o risco de todo o pensamento que pretende ser crítico, ou seja: ser
abominado por não se dobrar aos consensos de época.
As Constituições da Bolívia, do Equador e da Venezuela
Considerando o cenário político é importante estudar outra característica da
transição democrática nos três países mencionados, qual seja, o processo de reforma
constitucional. Por motivos simbólicos de dimensões diferentes, é verdade, as novas
Constituições boliviana, equatoriana e venezuelana significaram o desmantelamento formal
dos instrumentos de poder dos regimes autoritários, mas também introduziram mudanças
importantes com relação aos textos constitucionais tradicionais de primeira geração nas
democracias latino-americanas. A seguir, esta investigação priorizará um estudo comparado
das Constituições, enquanto fontes primárias, devido à relevância que as mesmas tiveram
nas transições democráticas da Bolívia, Equador e Venezuela.
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Justifica-se a utilização das constituições como corpus de referência, pois as
mesmas possuem características comuns, tais como: são escritas, ou seja, as regras
principais estão contidas num único documento; são rígidas, ou seja, somente podem ser
modificadas por procedimentos especiais previstos nelas mesmas; possuem uma origem
comum, pois as legislações dos três países derivam do Direito Romano e; são
contemporâneas, pois foram promulgadas ou reformadas recentemente.
Segundo o Direito Constitucional, nos países onde as Constituições são escritas, as
mesmas devem ser sucintas, pois se concentram principalmente em determinar os
princípios legais fundamentais, reservando à legislação ordinária a tarefa de regulamentálos. Uma constituição, em sentido jurídico, é o conjunto de regras concernentes à forma do
Estado, à forma do governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, ao estabelecimento
de seus órgãos, aos limites de sua ação.
É importante mencionar, entretanto, que as constituições escritas não contêm todas
as normas constitucionais. Quando estas aparecem regulamentadas nas próprias
constituições as mesmas são chamadas de constituições formais. Já as normas
constitucionais que são previstas através de legislação ordinária são denominadas de
constituições materiais. Ademais, as constituições que serão analisadas possuem,
basicamente, dois tipos de normas: as operativas, que são auto-aplicativas, e as
programáticas, que necessitam de outras normas que as regulamente.
Bolívia, Equador e Venezuela possuem textos constitucionais distintos do restante
da América Latina e do mundo ocidental. Distintos por diversos motivos, mas
fundamentalmente, pois são constituições por demais preocupadas em regular os direitos
sociais, culturais e econômicos de seus povos.
Têm como característica comum o fato de serem textos longos: a atual Constituição
possui 411 artigos; a do Equador é composta por 444 artigos; e a da Venezuela tem 350
artigos.
Ademais, são textos recentes e que representam uma segunda geração constitucional
latino-americana, pós-ditaduras militares na região. A Constituição venezuelana data de
1999 e as constituições boliviana e equatoriana são, respectivamente, de 2007 e 2008.
Constituição da Bolívia
O Preâmbulo inicia com uma manifestação expressa que faz críticas ao
neoliberalismo. Tal dispositivo, com juízo de valor, é impensável em qualquer outro texto
constitucional latino-americano que esteja inserido no contexto de democracias
exclusivamente representativas, toleradas pelo sistema capitalista:
Dejamos en el pasado el Estado colonial, republicano y neoliberal.
Asumimos el reto histórico de construir colectivamente el Estado
Unitario Social de Derecho Plurinacional Comunitario, que integra
y articula los propósitos de avanzar hacia una Bolivia democrática,
productiva, portadora e inspiradora de la paz, comprometida con el
desarrollo integral y con la libre determinación de los pueblos.
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O artigo 1 já define de pronto que a Bolívia constitui um “Estado Unitario Social de
Derecho Plurinacional Comunitario, libre, independiente, soberano, democrático,
intercultural, descentralizado y con autonomías”.
Ou seja, fica definido expressamente que a Bolívia é um Estado democrático. Mas é
fundamentalmente com o surgimento do artigo 11, I, que a novidade aparece: “La
República de Bolivia adopta para su gobierno la forma democrática participativa,
representativa y comunitaria, con equivalencia de condiciones entre hombres y mujeres”.
Resta expresso a novidade, pois a forma participativa da democracia é que assume a
forma protagonista, relegando a forma representativa para um segundo plano, justamente o
contrário do que acontece na maioria das constituições ocidentais.
O inciso II, 1, do mesmo artigo 11, trata de elucidar um pouco mais a questão,
quando trata de definir expressamente quais são os instrumentos do exercício da
democracia participativa: “referendo, la iniciativa legislativa ciudadana, la revocatoria de
mandato, la asamblea, el cabildo y la consulta previa”.
Já o inciso II, 2, do referido artigo 11, também trata de aclarar os limites da
democracia representativa: “por medio de la elección de representantes por voto universal,
directo y secreto”.
Oura novidade é a referência à democracia comunitária, conforme artigo 11, 3: “por
medio de la elección, designación o nominación de autoridades y representantes por
normas y procedimientos propios de las naciones y pueblos indígena originario
campesinos, entre otros”.
Ainda a respeito da democracia, o artigo 26, I, diz que
Todas las ciudadanas y los ciudadanos tienen derecho a participar
libremente en la formación, ejercicio y control del poder político,
directamente o por medio de sus representantes, y de manera
individual o colectiva. La participación será equitativa y en
igualdad de condiciones entre hombres y mujeres.
Entretanto, é no inciso II do artigo 26 que a Constituição define o que deve ser
compreendido como direito à participação:
1. La organización con fines de participación política, conforme a
la Constitución y a la ley.
2. El sufragio, mediante voto igual, universal, directo, individual,
secreto, libre y obligatorio, escrutado públicamente. El sufragio se
ejercerá a partir de los dieciocho años cumplidos.
3. Donde se practique la democracia comunitaria, los procesos
electorales se ejercerán según normas y procedimientos propios,
supervisados por el Órgano Electoral, siempre y cuando el acto
electoral no esté sujeto al voto igual, universal, directo, secreto,
libre y obligatorio.
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4. La elección, designación y nominación directa de los
representantes de las naciones y pueblos indígena originario
campesinos, de acuerdo con sus normas y procedimientos propios.
5. La fiscalización de los actos de la función pública.
Resta evidente que o Estado boliviano está fundado na democracia participativa,
inovando com relação ao conceito tradicional de Estado democrático de direito,
fundamentado quase que exclusivamente na democracia representativa.
Constituição do Equador
O Preâmbulo da Constituição equatoriana diz textualmente que o Equador é um
“país democrático, comprometido con la integración latinoamericana –sueño de Bolívar y
Alfaro-, la paz y la solidaridad con todos los pueblos de la tierra”.
Após, já no seu artigo 1, a Constituição afirma que o Equador é um Estado
constitucional “de derechos y justicia, social, democrático, soberano, independiente,
unitario, intercultural, plurinacional y laico”.
Ademais, afirma que a soberania está radicada no povo, cuja vontade é o
fundamento da autoridade, e se exerce através dos órgãos do Poder Público e das formas de
participação diretas previstas na própria Constituição.
As inovações de fato surgem no artigo 61, quando afirma que os equatorianos
gozam dos seguintes direitos:
“1. Elegir y ser elegidos.
2. Participar en los asuntos de interés público.
3. Presentar proyectos de iniciativa popular normativa.
4. Ser consultados.
5. Fiscalizar los actos del poder público.
6. Revocar el mandato que hayan conferido a las autoridades de
elección popular.
7. Desempeñar empleos y funciones públicas con base en méritos y
capacidades, y en un sistema de selección y designación
transparente, incluyente, equitativo, pluralista y democrático, que
garantice su participación, con criterios de equidad y paridad de
género, igualdad de oportunidades para las personas con
discapacidad y participación intergeneracional.
8. Conformar partidos y movimientos políticos, afiliarse o
desafiliarse libremente de ellos y participar en todas las decisiones
que éstos adopten”.
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Os itens 2, 3, 4, 5, 6 e 7 representam claros avanços com relação às tradicionais
constituições latino-americanas, pois protagonizam a participação direta do cidadão.
Além disso, o artigo 62 regula a tradicional democracia representativa, ao afirmar
que as pessoas em gozo dos direitos políticos têm direito ao voto universal, igual, direto,
secreto e escrutinado publicamente, conforme as seguintes disposições:
“1. El voto será obligatorio para las personas mayores de
dieciocho años. Ejercerán su derecho al voto las personas privadas
de libertad sin sentencia condenatoria ejecutoriada.
2. El voto será facultativo para las personas entre dieciséis y
dieciocho años de edad, las mayores de sesenta y cinco años, las
ecuatorianas y ecuatorianos que habitan en el exterior, los
integrantes de las Fuerzas Armadas y Policía Nacional, y las
personas con discapacidad”.
Outra inovação é a prevista no artigo 65, buscando uma clara igualdade material de
gênero, constitucionalizando as ações afirmativas, quando diz que:
“el Estado promoverá la representación paritaria de mujeres y
hombres en los cargos de nominación o designación de la función
pública, en sus instancias de dirección y decisión, y en los partidos
y movimientos políticos. En las candidaturas a las elecciones
pluripersonales se respetará su participación alternada y
secuencial. El Estado adoptará medidas de acción afirmativa para
garantizar la participación de los sectores discriminados”.
Entretanto, a maior inovação do texto constitucional equatoriano é a relevância dada à
democracia participativa, elevada à condição de Título IV (Participação e Organização do
Poder). Já no seu Capítulo Primeiro, Participación en democracia, são elencados os
princípios da participação, previstos no artigo 95:
“Las ciudadanas y ciudadanos, en forma individual y colectiva,
participarán de manera protagónica en la toma de decisiones,
planificación y gestión de los asuntos públicos, y en el control
popular de las instituciones del Estado y la sociedad, y de sus
representantes, en un proceso permanente de construcción del
poder ciudadano. La participación se orientará por los principios
de igualdad, autonomía, deliberación pública, respeto a la
diferencia, control popular, solidaridad e interculturalidad.
La participación de la ciudadanía en todos los asuntos de interés
público es un derecho, que se ejercerá a través de los mecanismos
de la democracia representativa, directa y comunitaria”.
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A Constituição também regula as formas de organização coletiva, no seu artigo 96,
afirmando que:
“Se reconocen todas las formas de organización de la sociedad,
como expresión de la soberanía popular para desarrollar procesos
de autodeterminación e incidir en las decisiones y políticas
públicas y en el control social de todos los niveles de gobierno, así
como de las entidades públicas y de las privadas que presten
servicios públicos.
Las organizaciones podrán articularse en diferentes niveles para
fortalecer el poder ciudadano y sus formas de expresión; deberán
garantizar la democracia interna, la alternabilidad de sus
dirigentes y la rendición de cuentas”.
O artigo 97 reconhece ao voluntariado de ação social e desenvolvimento como una
forma de participação social.
O direito de resistência (artigo 98) também é reconhecido aos cidadãos e aos
coletivos frente a ações ou omissões do Poder Público e das pessoas humanas ou jurídicas
privadas que também violem ou possam vir a violar seus direitos constitucionais.
Existe também a previsão constitucional da participação nos diferentes níveis de
governo (artigo 100). A participação nessas instâncias se exerce para:
“1. Elaborar planes y políticas nacionales, locales y sectoriales
entre los gobiernos y la ciudadanía.
2. Mejorar la calidad de la inversión pública y definir agendas de
desarrollo.
3. Elaborar presupuestos participativos de los gobiernos.
4. Fortalecer la democracia con mecanismos permanentes de
transparencia, rendición de cuentas y control social.
5. Promover la formación ciudadana e impulsar procesos de
comunicación”.
Para o exercício dessa participação serão organizadas audiências públicas,
assembléias, conselhos consultivos, observações e as demais instâncias que promova a
cidadania.
Outra inovação diz respeito às sessões dos governos autônomos descentralizados
(artigo 101) que, além de serem públicas, também deverão prever uma cadeira (la silla
vacía) que será ocupada um representante cidadão em função dos temas que serão
discutidos, com a finalidade de garantir a participação cidadão no debate e na tomada de
decisões.
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Também os equatorianos, segundo o artigo 102, “en forma individual o colectiva,
podrán presentar sus propuestas y proyectos a todos los niveles de gobierno, a través de
los mecanismos previstos en la Constitución y la ley”.
A democracia direta tem várias previsões expressas na Constituição. A primeira
delas é a iniciativa popular normativa (artigo 103) que será exercida para:
“proponer la creación, reforma o derogatoria de normas jurídicas
ante la Función Legislativa o cualquier otro órgano con
competencia normativa. Deberá contar con el respaldo de un
número no inferior al cero punto veinte y cinco por ciento de las
personas inscritas en el registro electoral de la jurisdicción
correspondiente.
Quienes propongan la iniciativa popular participarán, mediante
representantes, en el debate del proyecto en el órgano
correspondiente, que tendrá un plazo de ciento ochenta días para
tratar la propuesta; si no lo hace, la propuesta entrará en vigencia.
Cuando se trate de un proyecto de ley, la Presidenta o Presidente
de la República podrá enmendar el proyecto pero no vetarlo
totalmente.
Para la presentación de propuestas de reforma constitucional se
requerirá el respaldo de un número no inferior al uno por ciento de
las personas inscritas en el registro electoral. En el caso de que la
Función Legislativa no trate la propuesta en el plazo de un año, los
proponentes podrán solicitar al Consejo Nacional Electoral que
convoque a consulta popular, sin necesidad de presentar el ocho
por ciento de respaldo de los inscritos en el registro electoral.
Mientras se tramite una propuesta ciudadana de reforma
constitucional no podrá presentarse otra”.
Outro dispositivo interessante é o previsto no artigo 104, que diz que a cidadania
poderá solicitar a convocatória para consulta popular sobre qualquer assunto.
Também há previsão quanto à revogação do mandato dos agentes políticos (artigo
105) “una vez cumplido el primero y antes del último año del periodo para el que fue
electa la autoridad cuestionada”.
Finalmente, conforme estipula o artigo 106, para a aprovação de um assunto proposto a
referendo, consulta popular ou revocatória do mandato, será requisitada a maioria absoluta
dos votos válidos.
Constituição da Venezuela
O Preâmbulo da Constituição venezuelana afirma que a mesma tem como objetivo:
“refundar la República para establecer una sociedad democrática,
participativa y protagónica, multiétnica y pluricultural en un
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Estado de justicia, federal y descentralizado, que consolide los
valores de la libertad, la independencia, la paz, la solidaridad, el
bien común, la integridad territorial, la convivencia y el imperio de
la ley para esta y las futuras generaciones”.
Já no artigo 2°, há a previsão expressa quanto ao modelo de Estado:
“democrático y social de Derecho y de Justicia, que propugna
como valores superiores de su ordenamiento jurídico y de su
actuación, la vida, la libertad, la justicia, la igualdad, la
solidaridad, la democracia, la responsabilidad social y, en general,
la preeminencia de los derechos humanos, la ética y el pluralismo
político”.
Ademais, o artigo 6° afirma que o governo da República Bolivariana de Venezuela
será sempre democrático, participativo, eleito, descentralizado, alternativo, responsável,
pluralista e de mandatos revogáveis.
Da mesma forma que nas outras constituições examinadas, a Carta venezuelana
possui um capítulo próprio para a matéria dos direitos políticos e o referendo popular
(Capítulo IV).
O artigo 62° diz que “todos los ciudadanos y ciudadanas tienen el derecho de
participar libremente en los asuntos públicos, directamente o por medio de sus
representantes elegidos o elegidas”.
Tal participação do povo na formulação, execução e controle da gestão pública é o
meio necessário para “lograr el protagonismo que garantice su completo desarrollo, tanto
individual como colectivo”.
Da mesma forma, a democracia representativa também está presente, embora de
forma não protagonista, pela via do direito ao sufrágio (artigo 63°), que será exercido
mediante “votaciones libres, universales, directas y secretas. La ley garantizará el
principio de la personalización del sufragio y la representación proporcional”.
A novidade reside no artigo 66°, que prevê o direito do eleitor a que “sus
representantes rindan cuentas públicas, transparentes y periódicas sobre su gestión, de
acuerdo con el programa presentado”. Embora tal dispositivo não seja um exercício de
participação cidadã, evidentemente que a Constituição da Venezuela qualifica o conceito de
controle social ou controle cidadão.
Quanto à democracia direta, o artigo 70° define quais são os meios constitucionais
de participação e protagonismo do povo no exercício de sua soberania:
“en lo político: la elección de cargos públicos, el referendo, la
consulta popular, la revocación del mandato, las iniciativas
legislativa, constitucional y constituyente, el cabildo abierto y la
asamblea de ciudadanos y ciudadanas cuyas decisiones serán de
carácter vinculante, entre otros; y en lo social y económico: las
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instancias de atención ciudadana, la autogestión, la cogestión, las
cooperativas en todas sus formas incluyendo las de carácter
financiero, las cajas de ahorro, la empresa comunitaria y demás
formas asociativas guiadas por los valores de la mutua
cooperación y la solidaridad”.
Sobre o referendo popular, o artigo 71° diz que:
“Las materias de especial trascendencia nacional podrán ser
sometidas a referendo consultivo por iniciativa del Presidente o
Presidenta de la República en Consejo de Ministros; por acuerdo
de la Asamblea Nacional, aprobado por el voto de la mayoría de
sus integrantes; o a solicitud de un número no menor del diez por
ciento de los electores y electoras inscritos en el Registro Civil y
Electoral.
También podrán ser sometidas a referendo consultivo las materias
de especial trascendencia parroquial, municipal y estadal. La
iniciativa le corresponde a la Junta Parroquial, al Concejo
Municipal, o al Consejo Legislativo, por acuerdo de las dos
terceras partes de sus integrantes; al Alcalde o Alcaldesa, o al
Gobernador o Gobernadora de Estado, o a un número no menor
del diez por ciento del total de inscritos e inscritas en la
circunscripción correspondiente, que lo soliciten”.
O artigo 72° inova também ao afirmar que “todos los cargos y magistraturas de
elección popular son revocables”, desde que transcorrida a metade do período para o qual
foi eleito.
Também há previsão (artigo 73°) de que serão submetidas a referendo “aquellos
proyectos de ley en discusión por la Asamblea Nacional, cuando así lo decidan por lo
menos las dos terceras partes de los o las integrantes de la Asamblea”.
Conclusão: o ultraliberalismo contra a democracia
Pode haver democracia numa sociedade movida por princípios ultraliberais2,
portanto numa sociedade capitalista, em que predomina a lógica do “mercado”
(competitividade, produtividade, eficiência, entre outros)?
2
Não obstante a disseminação que o termo neoliberal atingiu, o mesmo não é o mais apropriado, pois
historicamente, o liberalismo como projeto de dominação nunca cessou. Portanto, não há nenhuma (ou quase
nenhuma) novidade substancial nos liberais contemporâneos que justifique o prefixo neo. Ademais, em razão
da radicalidade tanto dos pressupostos dessa doutrina como da forma de agir de seus adeptos, este trabalho
utilizará o termo ultraliberal. O mesmo possui uma variada gama de significados: corrente de pensamento
(uma ideologia, uma forma de ver e de entender o mundo); movimento intelectual organizado; conjunto de
políticas adotadas por governos conservadores a partir da metade da década de 1970 e disseminadas pelo
mundo através de organizações internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco
14
Assim como Arthur MAC EWAN (2001), Atilio BORON (2001; 2003), Ellen
Meiksins WOOD (2003), Emir SADER (2003), Gabriel VITULLO (2005), Marcos
Roitman ROSENMANN (2003), entre alguns outros poucos, e, contrariamente ao
pensamento dominante, entende-se que a resposta é negativa.
Há uma contradição insolúvel entre o ultraliberalismo (leia-se capitalismo) e a
democracia, na medida em que não pode haver igualdade para todos, conforme expõe
Atilio BORON (2001, p.180.181):
No mercado prevalece uma lógica completamente diferente. Não
existe nele uma dinâmica inclusionista nem, menos ainda, um
desejo de potencializar a participação de todos. Pelo contrário, a
competição, a segmentação e a seletividade são as características
que o definem. Em resumo, enquanto a democracia se orienta
tendencialmente para a integração de todos, conferindo aos
membros da sociedade o status de cidadão, o mercado opera sobre a
base da competição e da “sobrevivência dos mais aptos”, e não está
em seus planos promover o acesso universal da população a todos
os seus bens. Como reza o ultraliberalismo, o mercado é um espaço
particular e para ingressar nele é preciso comprar uma entrada, ou
seja, ter o dinheiro para comprar os bens que se quer desfrutar, e, no
caso daquele que está vendendo sua força de trabalho, deve esperar
ser convidado a ingressar – que alguém lhe ‘dê’ trabalho – (...) A
lógica da democracia é a de um jogo de somas positivas. A de
mercado é a de um jogo de somas que se anulam: o lucro do
capitalista é a insuficiência do salário. Logo, no mercado, para que
alguém ganhe, outro tem que perder.
Arthur MAC EWAN (2001, p.35-36) afirma que “as iniciativas democráticas devem
desafiar as relações de poder e autoridades existentes (...) devem representar uma ameaça às
estruturas sociais e econômicas existentes”. Ou seja, a manutenção do statu quo depende da
exclusão da população da participação nas decisões econômicas que afetam as suas vidas.
Marcos Roitman ROSENMANN (2003, p.59) também defende uma mudança no
conceito de democracia no momento em que assinala que “os grandes problemas da
pobreza, a marginalidade, a fome e a exploração não terão solução dentro de uma visão
procedimental da democracia”.
Ellen Meiksins WOOD (2003, 184) agrega que:
as relações de classe entre capital e trabalho podem sobreviver até
mesmo à igualdade jurídica e ao sufrágio universal. Neste sentido a
igualdade política na democracia capitalista não somente coexiste
Mundial (BIRD). O ponto comum em todos esses significados é que retomam e propagam valores do
pensamento liberal e conservador dos séculos XVIII e XIX. Três correntes principais podem ser identificadas
como as formadoras do pensamento ultraliberal: Escola Austríaca, Escola de Chicago e Escola de Virgínia ou
Public Choice. O ponto comum entre as três grandes escolas do pensamento ultraliberal é que todas se
colocaram contra a “intervenção do Estado” na economia, defendendo a primazia do mercado, regido por um
sistema de preços contra qualquer tipo de planejamento estatal.
15
com
a
desigualdade
fundamentalmente intacta.
socioeconômica,
mas
a
deixa
Emir SADER (2003, p.175), ao tratar do ultraliberalismo, afirma que o mesmo é
“um grave perigo para a democracia – e não apenas de um ponto de vista político. (...)
Revelar a incompatibilidade do ultraliberalismo com a democracia social e, finalmente,
com a democracia política, é um dos nossos grandes desafios”.
O ultraliberalismo só permite democracias absolutamente restritas, em que a
igualdade jurídica seja o seu único requisito central. No “capitalismo democrático”, como
prefere chamar Atilio BORON (2003, p.69), o substantivo é o capitalismo e a democracia é
o adjetivo. Por isso, não há dúvida em afirmar que o conceito que hoje melhor define a
situação da “democracia” na maior parte dos países latino-americanos é a “plutocracia”,
entendida como a “dominação da classe capitalista, detentora dos meios de produção,
circulação e distribuição de riquezas, sobre a massa proletária, mediante um sistema
político e jurídico, que assegura àquela classe, o controle social e econômico" (Aurélio
Buarque de Holanda FERREIRA, 1997, p.1349).
Entretanto, a hegemonia ultraliberal vem sendo desafiada na América Latina, pois
novos textos constitucionais são as marcas principais de países contra-hegemônicos, tais
como Bolívia, Equador e Venezuela. Esses países têm provocado um imenso debate a
respeito da radicalização democrática. Este texto não possui a pretensão de esgotar o tema,
mas sim provocar a necessidade de que o debate seja aprofundado a respeito do tema do
déficit democrático latino-americano.
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