Faculdade de Ciências e Letras de Assis L 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS DE ASSIS III COLÓQUIO “VERTENTES DO FANTÁSTICO NA LITERATURA” 13 a 16 de maio de 2013 CADERNO DE RESUMOS APOIO: Departamento de Letras Modernas Programa de Pós- Graduação em Letras ASSIS 2013 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS DE ASSIS Reitor Prof. Dr. Julio Cezar Durigan Vice-reitora Profa. Dra. Marilza Vieira Cunha Rudge Diretor Dr. Ivan Esperança Rocha Vice-diretora Dra. Ana Maria Rodrigues de Carvalho DEPARTAMENTO DE LETRAS MODERNAS Chefe Dr. José Luís Félix Vice-chefe Dra. Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS Coordenadora Dra. Cleide Antonia Rapucci Vice-coordenador Dr. Álvaro Santos Simões Junior CADERNO DE RESUMOS Organização Dr. Antonio R. Esteves Dra. Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade Dra. Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari Dra. Norma Domingos Diagramação, impressão e acabamento STAEPE SETOR DE GRÁFICA 3 Grupo de Pesquisa Vertentes do fantástico na literatura (CNPq) Líder: Karin Volobuef (UNESP – FCL – Araraquara) Vice-líder: Roxana Guadalupe Herrera Alvarez (UNESP– IBILCE – São José do Rio Preto) Comissão científica do evento Comissão organizadora do evento Dra.Adriana Lins Precioso Dr. Alexander Meireles da Silva Dra. Ana Maria Carlos Dr. Antônio Roberto Esteves Dra. Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade Dra. Carla Cavalcanti e Silva Dra. Cleide Antônia Rapucci Dr. Flavio Garcia de Almeida Dra. Glória Carneiro do Amaral Dra. Heloisa Helena Siqueira Correia Dr. Julio França Dra. Karin Volobuef Dra. Maria Alice Sabaini de Sousa Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves Dra. Maira Angélica Pandolfi Dra. Maria de Fátima A. de Oliveira Marcari Dra. Maria Celeste Tommasello Ramos Dra. Maria Cristina Batalha Dra. Marisa Martins Gama-Khalil Dra. Norma Domingos Dra.Renata Philippov Dra. Roxana Guadalupe Herrera Álvarez Dra.Sylvia Maria Trusen Dr. Wellington Ricardo Fioruci Dra. Ana Maria Carlos Dr. Antonio Roberto Esteves Dra. Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade Dra. Carla Cavalcanti e Silva Dra. Cleide Antonia Rapucci Dra. Karin Volobuef Dra. Kátia Rodrigues Mello Miranda Dra. Maira Angélica Pandolfi Dra. Maria de Fátima A. de Oliveira Marcari Dra. Norma Domingos Dra. Roxana Guadalupe Herrera Álvarez Secretária Maria Catarina Ferreira de Jesus Machado Colóquio “Vertentes do fantástico na literatura” (3: 2013: Assis, SP). Caderno de resumos [do] III Colóquio “Vertentes do fantástico na literatura “/ UNESP – FCL; [organizadores do Caderno: Antonio R. Esteves ,Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade, Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari, Norma Domingos]. – Assis: UNESP - Câmpus de Assis, 2013. 115p. ; 23 cm. ISSN 2175-7933 1. Literatura fantástica. 2. Mito na literatura . 3. Contos de fadas. I. Andrade, Cátia Inês Negrão Berlini de, II. Domingos, Norma. III. Esteves, Antonio R. IV. Marcari, Maria de Fátima Alves de Oliveira. V. Título. 4 SUMÁRIO Páginas 6 Apresentação Programa Geral 7 Programa das Sessões de Comunicações 9 Resumos das Conferências 26 Resumos das Mesas-Redondas 28 Resumos das Comunicações 39 5 APRESENTAÇÃO O III Colóquio “Vertentes do Fantástico na Literatura” realizado de 13 a 16 de maio do corrente ano, na Faculdade de Ciências e Letras, Câmpus de Assis, dá seqüência às propostas apresentadas e debatidas durante os primeiros colóquios, realizados, o primeiro na FCL – UNESP, Câmpus de Araraquara, de 28 a 30 de abril de 2009, e o segundo no IBILCE – UNESP, Câmpus de São José do Rio Preto, de 03 a 05 de maio de 2011. O Colóquio é promovido pelo Grupo de Pesquisa “Vertentes do Fantástico na Literatura”. O Grupo, cadastrado no CNPq, cujo líder e vice-líder são, respectivamente, Profa. Dra. Karin Volobuef (UNESP – FCL – Araraquara) e Profa. Dra Roxana Guadalupe Herrera Alvarez (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto), reúne docentes e alunos de cursos de graduação e de programas de pós-graduação de várias instituições de ensino superior brasileiras, tendo sua sede na UNESP. Desde sua criação o Grupo tem promovido e realizado eventos e publicado o resultado de suas pesquisas e das discussões geradas nos colóquios. Assim, foram publicados, entre outros, os Anais dos dois primeiros colóquios e os livros Dimensões do fantástico: mítico e maravilhoso (2011) e Vertentes do Fantástico na Literatura (2012). Essa terceira edição do Colóquio tem como proposta, do mesmo modo que as primeiras edições, estimular a discussão da expressão do Fantástico, em sentido amplo, notadamente na Literatura, incluindo, entre outros, o insólito e o macabro, os contos maravilhosos, o romance de fantasia, as representações literárias do mito, a ficção científica, o realismo mágico, as fábulas, etc. A Comissão Organizadora 6 PROGRAMA GERAL III COLÓQUIO “VERTENTES DO FANTÁSTICO NA LITERATURA” UNESP/FCL/Câmpus de Assis – São Paulo – Brasil Avenida Dom Antonio, 2100 – Fone: (18) 3302-5800 SEGUNDA-FEIRA (13/05/2013) SAGUÃO DO PRÉDIO I 19h00 – Entrega de material e últimas inscrições SALÃO DE ATOS 19h30 – Abertura oficial 20h00 – Conferência de Abertura: “O mundo mágico de Jorge Amado” Dra. Jacqueline Penjon (Universidade de Paris III – Sorbonne-Nouvelle) TERÇA-FEIRA (14/05/2013) SALÃO DE ATOS 8h30 – Mesa Redonda 1 - “Manifestações do fantástico na literatura brasileira” Dra. Adelaide Caramuru Cézar (UEL) e Dra. Marisa Martins Gama-Khalil (UFU – CNPq) 10h00 – Mesa Redonda 2 - “Românticos, góticos e frenéticos” Dr. Alexander Meireles da Silva (UFG – Câmpus Catalão), Dra. Ana Luiza Silva Camarani (UNESP–FCL–Araraquara) e Dr. Aparecido Donizete Rossi (UNESP–FCL–Araraquara) 14h00 – Sessão de Comunicações (Ver Programa das Comunicações) 16h00 – Sessão de Comunicações (Ver Programa das Comunicações) SALÃO DE ATOS 20h00 – Conferência: “A construção insólita de categorias da narrativa como estratégia necessária e essencial à literatura fantástica” Dr. Flavio García (UERJ) 21h00 – Performance 7 QUARTA-FEIRA (15/05/2013) SALÃO DE ATOS 8h30 – Mesa Redonda 3 - “Monstros e criaturas fantásticas: leituras” Dr. João Batista de Toledo Prado (UNESP–FCL–Araraquara) e Dra. Maira Angélica Pandolfi (UNESP – FCL – Assis) 10h00 – Mesa Redonda 4 - “Vertentes do fantástico no universo hispânico” Dra. Maria Cristina Martins (UFU), Dra. Roxana Guadalupe Herrera Álvarez (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto), Dra. Heloisa Helena Siqueira Correia (UNIRUniversidade Federal de Rondônia) e Dra. Ana Lúcia Trevisan (Universidade Presbiteriana Mackenzie) 14h00 – Sessão de Comunicações (Ver Programa das Comunicações) 16h00 – Sessão de Comunicações (Ver Programa das Comunicações) SALÃO DE ATOS 20:00 – Mesa Redonda 5- “Leituras excêntricas do insólito” Dra. Cleide Antonia Rapucci (UNESP – FCL – Assis), Dr. Antonio Roberto Esteves (UNESP – FCL – Assis) e Dra. Karin Volobuef (UNESP–FCL–Araraquara ) QUINTA-FEIRA (16/05/2013) SALÃO DE ATOS 8h30 – Mesa Redonda 6 - “O fantástico no universo francês do século XIX” Dra. Norma Domingos (UNESP – FCL – Assis) e Dra. Maria Cristina Batalha (UERJCNPq) 10h00 – Mesa Redonda 7 - “ O mágico, o insólito, o fantástico: leituras em contraponto” Dra. Sylvia Maria Trusen (Universidade Federal do Pará/Pesq. RELER – Cátedra Unesco de Leitura- PUC-Rio), Dra. Norma Wimmer (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto ) 14h00 – Sessão de Comunicações (Ver Programa das Comunicações) 16h00 – Sessão de Comunicações (Ver Programa das Comunicações) SALÃO DE ATOS 20h00 – Conferência de Encerramento: “María Luisa Bombal e Silvina Ocampo: mestras do insólito” - Dra. Laura Janina Hosiasson (FFLCH – USP) 8 PROGRAMA SESSÕES DE COMUNICAÇÕES III COLÓQUIO “VERTENTES DO FANTÁSTICO NA LITERATURA” TERÇA-FEIRA (14/05/2013) SIMPÓSIO 1 - O ESPAÇO DO MEDO NO FANTÁSTICO BRASILEIRO: TEMÁTICAS E CONFIGURAÇÕES Coordenadores: Alexander Meireles da Silva (UFG–Câmpus Catalão); Julio França (UERJ) Sessão 1 – 14h00 – 15h45 SALA: Salão de Atos – Prédio I Coordenação: Alexander Meireles da Silva (UFG – Câmpus Catalão) Ana Carolina Bianco Amaral (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) - Dúvida e medo em O Passageiro da Nau Catarineta: (des)ordens. Catia Cristina Sanzovo Jota (UEL) - Quem tem medo de fantasma? Uma análise do medo em A noiva, de Humberto de Campos e Aparição, de Guy de Maupassant”. Luzia A. Oliva dos Santos (UNEMAT – Sinop) - Medo e terror na narrativa contemporânea: a história contada pela janela. Sessão 2 – 16h00 – 17h45 SALA: Salão de Atos – Prédio I Coordenação: Alexander Meireles da Silva (UFG - Câmpus Catalão) Fabianna Simão Bellizzi Carneiro (CAC/UFG) - O espaço do descarte no conto “Espelho”, de José J. Veiga. Isabella Unterrichter Rechtenthal (UNESP–FCL–Araraquara) - Aspectos e efeitos do sobrenatural em Água-mãe, de José Lins do Rego. Paula Cristina Piva (UNESP–FCL–Araraquara ) - A configuração do medo em O coronel e o lobisomem. Solange Peixe Pinheiro de Carvalho (USP) - Visagens no Sertão: o medo na obra de Ariano Suassuna. SIMPÓSIO 2 - O FANTÁSTICO CONTEMPORÂNEO: LITERATURA, CINEMA E OUTRAS ARTES 9 Coordenadores: Ana Maria Carlos (UNESP – FCL – Assis); Wellington Ricardo Fioruci (UTFPR – Pato Branco) Sessão 1 – 14h00 – 15h30 SALA: 10 – Prédio I Coordenação: Wellington Ricardo Fioruci (UTFPR – Pato Branco) Wellington R. Fioruci (UTFPR – Pato Branco) - Da literatura à televisão: considerações sobre A guerra dos tronos, de George R. R. Martin. Flavio Pereira (UNIOESTE - Foz do Iguaçu) - Uma aproximação ao fantástico na releitura da história em “Carnivàle”. Marcela Barchi Paglione (UNESP – FCL – Assis) - Aparições do sobrenatural em “Os cães de Baskerville”, da minissérie Sherlock (BBC). Ana Cláudia e Silva Xavier (PUC – Minas) - Nonsense e quadrinhos: influência do gênero nas tiras do quadrinista Liniers. Sessão 2 – 16h00 – 17h30 SALA: 10 – Prédio I Coordenação: Wellington R. Fioruci - (UTFPR – Pato Branco) Yvonne Ortiz Moran (UNICAMP) - Os espaços fantásticos em Pedro Páramo. Paulo Fernando Zaganin Rosa (UNESP – FCL – Assis) - Representações do espaço fantástico em 3012 L'anno del profeta, de Sebastiano Vassalli. André Felipe de Sousa Almeida (USP) - Mutabilidade do passado e reconfiguração da realidade: um diálogo intertextual entre 1984 de George Orwell e 1Q84 de Haruki Murakami. Anielle Miranda Yanaguiya (USP) - O imaginário sobrenatural japonês habitando os modernos mangás - o exemplo de xxxHOLIC. SIMPÓSIO 3 - REALISMO MÁGICO E REAL MARAVILHOSO: VERTENTES, DEBATES, LEITURAS Coordenadores: Antonio R. Esteves (UNESP – FCL – Assis); Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari (UNESP – FCL – Assis) Sessão 1 - 14h00 - 15h45 SALA: 10B – Prédio I Coordenação: Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari (UNESP – FCL – Assis) 10 Amanda Pérez Montañés (UEL) - Reflexões sobre Um senhor muito velho com umas asas enormes (1968), conto de Gabriel García Márquez. Cláudia Cristina Ferreira (UEL) - Metamorfose nas ruas da Bahia: entre o real e o ficcional. Damaris Pereira Santana Lima (UNESP – FCL – Assis) - O insólito no universo ficcional de Roa Bastos: Yo el Supremo. Regina Kohlrausch (PUCRS) - O realismo mágico, o real maravilhoso e o fantástico em Fragmentos de Apocalipsis, de Gonzalo Torrente Ballester Sessão 2 - 16h00 – 17h45 SALA: 10B – Prédio I Coordenação: Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari (UNESP – FCL – Assis) Fernanda Aquino Sylvestre (UFU) - Amada: a memória e a história resgatadas em uma narrativa de fantasma. Geisiara Priscila Christ (UENP) - Realimo mágico, realismo maravilhoso ou fantástico: possíveis interpretações do conto La casa inundada de Felisberto Hernández. Gisele de Oliveira Bosquesi (UNESP – UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) - A crítica política por meio do elemento sobrenatural em Incidente em Antares, de Érico Veríssimo. SIMPÓSIO 4 - A VERVE CRÍTICA DO FANTÁSTICO, DO SÉCULO XIX AOS DIAS DE HOJE Coordenadoras: Heloisa Helena Siqueira Correia (UNIR – Universidade Federal de Rondônia); Maria Alice Sabaini de Sousa (UNIR – Universidade Federal de Rondônia) Sessão 1 - 14h00 - 15h45 SALA: 01 – Prédio I Coordenação: Heloisa Helena Siqueira Correia (UNIR – Universidade Federal de Rondônia) Amélia de Jesus Oliveira (Faculdade João Paulo II / UNICAMP) - A guerra dos mundos, de H.G.Wells: ecos da revolução científica do século XVII . Thiago Henrique Sampaio (UNESP – FCL – Assis/ IC) - Críticas ao Imperialismo na obra O Coração das Trevas, de Joseph Conrad. Ramiro Giroldo (UFMS)- Carmilla, de Sheridan Le Fanu e “61 Cygni”, de Fausto Cunha: o corpo amorfo e a sexualidade em conflito. Thiago Destro Rosa Ferreira (UFU) - Aulë, ou do ideal do artesão na obra de J.R. Tolkien. Sessão 2 - 16h00 – 17h45 SALA: 01 – Prédio I 11 Coordenação: Heloisa Helena Siqueira Correia (UNIR - Universidade Federal de Rondônia) Maria Ellem Souza Maciel (UEPB) - A estética e seus paradoxos como problematização do fantástico em Oscar Wilde. Jorge Augusto da Silva Lopes (UNES – FCL – Assis) - O fantástico em O estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Alessandro Yuri Alegrette (UNESP – FCL – Araraquara) - A configuração do fantástico no discurso narrativo de Wuthering Heights (O morro dos ventos uivantes). Caio Vitor Marques Miranda e Adelaide Caramuru Cezar (UEL) - Castex, Cailois e Vax: antecessores de Todorov. SIMPÓSIO 5 - A ESCRITURA FANTÁSTICA: A REESCRITURA DOS MITOS CLÁSSICOS NA LITERATURA Coordenadoras: Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto); Adriana Lins Precioso (UNEMAT – Sinop); Sylvia Maria Trusen (Universidade Federal do Pará/Pesq. RELER - Cátedra Unesco de Leitura – PUC/Rio) Sessão 1 - 14h00 - 15h45 SALA: 02 – Prédio I Coordenação: Adriana Lins Precioso (UNEMAT – Sinop) Claudia Fernanda de Campos Mauro (UNESP–FCL–Araraquara)- A Personagem feminina Dannuziana: entre Górgona e Salomé. Mariana Souza e Silva (UNESP –FCL – Assis) - A criação do mundo: relações intertextuais entre o Ainulindalë, de J. R. R. Tolkien, e a Bíblia Sagrada. Adriana Lins Precioso (UNEMAT – Câmpus de Sinop – FAPEMAT)- Representações do mito judaico-cristão em Murais da Libertação de Cerezo Barredo e Dom Pedro Casaldáliga. Sessão 2 – 16h00 – 17h45 SALA: 02 – Prédio I Coordenação: Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto ) Guilherme Augusto Louzada Ferreira de Morais (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto/IC), Victória Pereira da Silva (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto/IC) e Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) - A releitura dos mitos clássicos em Percy Jackson e os Olimpianos. Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto), Bruno Olivi de Oliveira (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto/IC), Pedro Henrique 12 Pereira Graziano (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto/IC) e Talita Montalvão Pereira (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto/IC) - A reescritura da Ilíada, de Homero, no século XXI e as reflexões sobre a Guerra por Alessandro Baricco, em Omero, Iliade. Maria Teresa Nunes Sanches (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) - O herói sveviano e o herói mitológico. SIMPÓSIO 6 - O FANTÁSTICO DE EXPRESSÃO FRANCESA: MANIFESTAÇÕES INTRA, INTER E EXTRATEXTO Coordenadoras: Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto); Glória Carneiro do Amaral (UPM/USP); Renata Philippov (UNIFESP) Sessão 1 – 14h00 – 15h30 SALA: 12 – Prédio I Coordenação: Glória Carneiro do Amaral (UPM/USP) Bruna Malacrida Cruz (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) - Charles Baudelaire e Odilon Redon: diálogos a partir de As Flores do Mal Brenda Romeda Azevedo (UNESP - IBILCE- São José do Rio Preto) - L'Oeil, comme un ballon bizarre se dirige vers l'infini: o fantástico que une Edgar Allan Poe e Odilon Redon Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP - UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) Suspense em "Nuit de fièvre", de Odilon Redon. SIMPÓSIO 7 - A ESCRITURA FANTÁSTICA NO FINAL DO SÉCULO XIX Coordenadora: Norma Domingos (UNESP – FCL – Assis) Sessão 1 – 14h00 – 15h30 SALA: 11 – Prédio I Coordenação: Norma Domingos (UNESP – FCL – Assis) Karla Menezes Lopes Niels (UERJ) - O fantástico em Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo: o que diz a fortuna crítica? Ana Caroline da Silva Rodrigues (UFPA) - As narrativas fantásticas da obra Contos Amazônicos, de Inglês de Sousa . Giselle Bianca Mussi de Moura (FFLCH – USP) – A literatura fantástica russa de Ivan Turguêniev. Sessão 2 – 16h00 – 17h45 SALA: 11 – Prédio I 13 Coordenação: Norma Domingos (UNESP – FCL – Assis) Maria Cristina Vianna Kuntz (PUC/SP – Cogeae) - La Petite Roque de Guy de Maupassant: o remorso do assassino. Renan Fornaziero de Oliveira (UNESP – FCL – Assis /FAPESP) - “Suis-je fou?”: a lógica da narrativa fantástica de Guy de Maupassant. Carla Cavalcanti e Silva (UNESP – FCL – Assis) - Sonho e loucura em Aurélia de Gérard de Nerval. SIMPÓSIO 8 - FANTÁSTICO, MARAVILHOSO, INSÓLITO: LEITURAS Coordenadoras: Carla Cavalcanti e Silva (UNESP – FCL – Assis); Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade (UNESP – FCL – Assis) Sessão 1 – 14h00 – 15h30 SALA: 10C – Prédio I Coordenação: Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade (UNESP – FCL – Assis) Adriana Kelly Furtado Lisboa (Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora) - De Suassuna a Guel Arraes: o maravilhoso em Auto da Compadecida. Heitor Tavares Zanoni (UFU) - Muitas formas de amar: a noção de amor nos filmes infantis. Bruna de Souza Silva (UNESP – FCL – Assis), Nátalie Ferreira Carvalho Silva (UNESP – FCL – Assis) “Frankenweenie”: uma análise dialógica entre dois gêneros discursivos. Tatiele Novais Silva (UNESP – FCL – Assis), Luciane de Paula (UNESP – FCL – Assis) O fantástico retrato de Dorian Gray. Sessão 2 – 16h00 – 17h30 SALA: 10C – Prédio I Coordenação: Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade (UNESP – FCL – Assis) Ana Paula dos Santos Martins (Secretaria de Estado da Educação- SP) Entre segredar e revelar: o papel da memória e do fantástico em um conto de Maria Teresa Horta. Denise Rocha (NEAB – UFSCar) - Acontecimentos fantásticos em uma família multicultural em Luanda, na época dos holandeses (Pepetela). Suely Leite (UEL) - A representação do insólito e do estranho em “Gertrudes e seu homem” de Augusta Faro Fleury. Natália Rizzatti Ferreira (UNESP – FCL – Assis) - Encontro e redenção na obra “Onde andará Dulce Veiga?”, de Caio Fernando Abreu. QUARTA-FEIRA (15/05/2013) 14 SIMPÓSIO 1 - O ESPAÇO DO MEDO NO FANTÁSTICO BRASILEIRO: TEMÁTICAS E CONFIGURAÇÕES Coordenadores: Alexander Meireles da Silva (UFG – Câmpus Catalão); Julio França (UERJ) Sessão 1 – 14h00 – 15h45 SALA: Salão de Atos – Prédio I Coordenação: Alexander Meireles da Silva (UFG – Câmpus Catalão) Ana Paula Araújo dos Santos (UERJ) - Onde mora o medo: a transformação do espaço doméstico em Gastão Cruls. Luciano Cabral da Silva (UERJ) - “O que há de monstruoso em Passeio Noturno e American Psycho?” – uma análise do medo artístico em Rubem Fonseca e Bret Easton Ellis. Julio França (UERJ) - “Onde se escondem nossos vampiros? Rastros vampirescos na Literatura Brasileira do Oitocentos. Nathália Hernandes Bergantini (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) - O medo ocasionado pela figura do diabo na obra “Macário” de Álvares de Azevedo. Sessão 2 – 16h00 – 17h45 SALA: Salão de Atos – Prédio I Coordenação: Julio França (UERJ) Bruno Silva de Oliveira (CAC/UFG) - Durante a noite a mata é um lugar perigoso: a topofobia em O Saci, de Monteiro Lobato. Pedro Puro Sasse da Silva (UERJ) - Um passeio pelo sertão: as fronteiras do medo na literatura nacional. Raphael da Silva Camara (UERJ) - Festins diabólicos: a irrupção do grotesco em espaços festivos na literatura brasileira. SIMPÓSIO 2 - O FANTÁSTICO CONTEMPORÂNEO: LITERATURA, CINEMA E OUTRAS ARTES Coordenadores: Ana Maria Carlos (UNESP – FCL – Assis) ; Wellington Ricardo Fioruci (UTFPR – Pato Branco) Sessão 1 – 14h00 – 15h30 SALA: 10 – Prédio I 15 Coordenação: Ana Maria Carlos (UNESP – FCL – Assis) Nerynei Meira Carneiro Bellini (UENP-Jacarezinho) - Correlações do insólito em imagens literárias e pictóricas. Marcio Roberto Pereira (UNESP – FCL – Assis) - Narrativa fantástica e o Surrealismo em Campos de Carvalho (sobre A lua vem da Ásia). Cinthia Lopes de Oliveira (CES/JF - SMC) - Metamorfose, fabulação e a reescrita fantástica em Murilo Rubião. Guilherme Sardas (PUC-SP) - O absurdo existencial na obra de Murilo Rubião. Sessão 2 - 16h00 – 17h30 SALA: 10 – Prédio I Coordenação: Ana Maria Carlos (UNESP – FCL – Assis) Alceu João Gregory (UNESP – FCL – Assis) - O Defensor do Esterco: Contos Esclarecidos (Der Hüter des Misthaufens: Aufgeklärte Märchen). Laura Alves do Prado (USP) - A metaficção na Fantasy de Walter Moers. Suelen Marcellino Izidio de Amorim (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) - La fiebre azul, de Cristina Fernández Cubas: uma leitura do duplo na perspectiva do fantástico. Carlos Felipe da Silva dos Santos (UNESP – FCL – Assis) - O mito do duplo e sua presença no filme Cisne negro. SIMPÓSIO 3 - REALISMO MÁGICO E REAL MARAVILHOSO: VERTENTES, DEBATES, LEITURAS Coordenadores: Antonio R. Esteves (UNESP – FCL – Assis) ; Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari (UNESP – FCL – Assis) Sessão 1 - 14h00 - 15h45 SALA: 10B – Prédio I Coordenação: Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari (UNESP – FCL – Assis) Kátia Rodrigues Mello Miranda (UNESP – FCL – Assis) - A presença de elementos mágicos em Como água para chocolate (1989), de Laura Esquivel: uma leitura. Larissa Athayde do Carmo (UNESP – FCL – Assis/IC-FAPESP), Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari (UNESP – FCL – Assis). Realismo mágico em Balún Canán: uma visão transcultural. Suely Aparecida de Souza Mendonça (CPAN/UFMS) - A fotografia do estranho em La muralla robada, de Josefina Plá. Sessão 2 - 16h00 – 17h45 16 SALA: 10B – Prédio I Coordenação: Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari (UNESP – FCL – Assis) Lauro Roberto do Carmo Figueira (UFOPA) - Acauã: uma desleitura sobre as fronteiras entre Fantástico e Realismo Maravilhoso em Inglês de Sousa. Lilian Barbosa (UEPB) - Celestino antes del alba: discurso histórico e maravilhoso. Luan Cardoso Ramos (UNESP – FCL – Assis), Maria de Fatima Alves Oliveira Marcari (UNESP – FCL – Assis) - Magia e erotismo no conto “Niña perversa” de Isabel Allende: uma leitura. SIMPÓSIO 4 - A VERVE CRÍTICA DO FANTÁSTICO, DO SÉCULO XIX AOS DIAS DE HOJE Coordenadoras: Heloisa Helena Siqueira Correia (UNIR – Universidade Federal de Rondônia); Maria Alice Sabaini de Sousa (UNIR – Universidade Federal de Rondônia) Sessão 1 - 14h00 - 15h45 SALA: 01 – Prédio I Coordenação: Maria Alice Sabaini de Sousa (UNIR – Universidade Federal de Rondônia) Maria Alice Sabaini de Souza (UNIR) - A manifestação do fantástico em “The Fall of the House of Usher” e The Turn of the Screw . Gustavo Vargas Cohen (UFRR) - O homem bicentenário de Isaac Asimov enquanto alegoria à escravidão na história norte-americana. Mateus Fernando de Oliveira (IC/ UENP)- Heart-shaped box de Joe Hill sob a ótica do neofantástico. Heloísa Helena Siqueira Correia (UNIR) - Fantástico e física: caminhos cruzados? Sessão 2 – 16h00 – 17h45 SALA: 01 – Prédio I Coordenação: Maria Alice Sabaini de Sousa (UNIR – Universidade Federal de Rondônia) Fabiana Angélica do Nascimento (UNICAMP) - “A casa de Bulemann”, de Theodor Storm: uma crítica ao egoísmo. Andreia Aparecida Pantano (UNIP – ASSIS) - Entre o real e o fantástico: uma leitura de “Bobók”. Gabriel Pereira de Melo (UNIR) - A crítica ao platonismo em “O Imortal” de Borges. Joyce Conceição Gimenes Romero (UNESP – FCL – Araraquara) - O feminino terrível no universo mágico em “História del lagarto que tenía la costumbre de cenar a sus mujeres”, 1993. Ana Cristina Jutgla ( USP) - Imagens do fantástico em Julio Ramón Ribeyro. 17 SIMPÓSIO 5 - A ESCRITURA FANTÁSTICA: A REESCRITURA DOS MITOS CLÁSSICOS NA LITERATURA Coordenadoras: Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto); Adriana Lins Precioso (UNEMAT – Sinop); Sylvia Maria Trusen (Universidade Federal do Pará/Pesq. RELER - Cátedra Unesco de Leitura – PUC/Rio) Sessão 1 – 14h00 – 15h45 SALA: 02 – Prédio I Coordenação: Sylvia Maria Trusen (Universidade Federal do Pará/Pesq. RELER - Cátedra Unesco de Leitura- PUC/Rio) Samantha Pollyana Messiades Pimentel (Universidade Estadual da Paraíba) - As Doze Princesas Dançarinas na versão dos Grimm e do folheto de Manoel Monteiro. Raquel de Vasconcellos Cantarelli (UNESP – FCL – Araraquara ) - Elementos míticos e ritualísticos presentes no conto maravilhoso celta “Morraha”. Sylvia Maria Trusen (Universidade Federal do Pará) - Da Cocanha à Terra dos Loucos: a recepção da fábula dos monos no Kinder-und Hausmaerchen. Sessão 2 – 16h00 – 17h45 SALA: 02 – Prédio I Coordenação: Adriana Lins Precioso (UNEMAT – Sinop) Henrique Roriz Aarestrup Alves (UNEMAT – Câmpus de Sinop) - Simulacros de herói: Dionísio encenado. Nefatalin Gonçalves Neto (UFRPE) - Quando o Eu é Outro: Reflexões sobre o mito de Orfeu e sua figuração em As Intermitências da Morte (ou Contemporaneidade, clássica a todo custo). Marcela Ulhôa Borges Magalhães (UNESP–FCL–Araraquara) - Um estudo isotópico de “Futuros Amantes” de Chico Buarque. SIMPÓSIO 6 - O FANTÁSTICO DE EXPRESSÃO FRANCESA: MANIFESTAÇÕES INTRA, INTER E EXTRATEXTO Coordenadoras: Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto); Glória Carneiro do Amaral (UPM/USP); Renata Philippov (UNIFESP) 18 Sessão 1 – 14h00 – 15h45 SALA: 12 – Prédio I Coordenação: Renata Philippov (UNIFESP) Maria Lúcia Dias Mendes (UNIFESP) - "Je suis fou!" E.T.A. Hoffmann, personagem de Alexandre Dumas. Amor e morte na Paris do período do Terror (1793). Elaine Cristina dos Santos Silva (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) - O artista no conto fantástico francês: E. T. A. Hoffmann e Honoré de Balzac. Marli Cardoso dos Santos (UNESP–FCL–Araraquara) - A narrativa fantástica balzaquiana: Melmoth Réconcilié e o pacto de poder. Sessão 2 – 16h00 – 17h45 SALA: 12 – Prédio I Coordenação: Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) Daniela Mantarro Callipo (UNESP – FCL – Assis) - Diálogo entre Victor Hugo e Charles Nodier: o fantástico no poema "La ronde du sabbat (1825)" e no conto "Smarra ou les Démons de la Nuit" (1821). Glória Carneiro do Amaral (USP/UPM) - Edgar Poe: contos e roteiro. Márcia Valéria Martinez de Aguiar (USP) - A terceira margem do rio e o realismo fantástico. SIMPÓSIO 7 - A ESCRITURA FANTÁSTICA NO FINAL DO SÉCULO XIX Coordenadora: Norma Domingos (UNESP – FCL – Assis) Sessão 1 – 14h00 – 15h30 SALA: 11 – Prédio I Coordenação: Norma Domingos (UNESP – FCL – Assis) João Alexandre Martins Galvão (UNIFAP), Gabriela Cecilia Queiroz Ramos (UNIFAP)Edgar Poe: Nemo me impune lacessetti. Érika Tamirys de Lima (UENP – Jacarezinho) - O fantástico em “O Coração Denunciador: aspectos teóriocos e analíticos”. Carla Denize Moraes (Colégio SESI) - O tema da culpa no fantástico: um estudo dos contos “Roger Marvin’s Burial”, de Nathaniel Hawthorne e “The Tell-Tale Heart”, de Edgar A. Poe. Sessão 2 – 16h00 – 17h00 19 SALA: 11 – Prédio I Gustavo Ramos de Souza (UEL) - O Duplo em O Estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson. Etienne Souza Santos de Lima (UNESP – FCL – Assis/PIBIC/CNPq), Norma Domingos (UNESP – FCL – Assis) - A morte em Villiers de l’Isle-Adam e em Edgar Alan Poe. Norma Domingos (UNESP – FCL – Assis) - A narrativa fantástica francesa no século XIX. SIMPÓSIO 8 - FANTÁSTICO, MARAVILHOSO, INSÓLITO: LEITURAS Coordenadoras: Carla Cavalcanti e Silva (UNESP – FCL – Assis); Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade (UNESP – FCL – Assis) Sessão 1 – 14h00 – 15h30 SALA: 10C - Prédio I Coordenação: Carla Cavalcanti e Silva Ligia Marini Perpétua (UNESP – FCL – Assis/ IC-Reitoria), Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade (UNESP – FCL – Assis) - Fernando Pessoa personagem-fantasma nas narrativas metaficcionais O ano da morte de Ricardo Reis e Requiem. Bruna Cardoso Brasil de Souza (UNESP – FCL – Araraquara) - De Basile a Disney: uma comparação entre Sol, Lua e Tália e A Bela Adormecida. Andresa Lúcia Zandonadi de Oliveira (UNESP –FCL –Assis), Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade (UNESP – FCL – Assis) - O diálogo de Giulio Leoni com a atmosfera fantástica de a Divina Comédia. Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade (UNESP – FCL – Assis) - Elementos do fantástico em Piazza d’Italia. Sessão 2 – 16h00 – 17h30 SALA: 10C – Prédio I Coordenação: Carla Cavalcanti e Silva Antônio Jackson de Souza Brandão (Universidade de Santo Amaro) - Harry Potter: imagens de um mundo paralelo na sala de aula? Paulo de Tarso Cabrini Júnior (Oapec) - O Espiritismo e o Mito de Cthulhu: uma reflexão sobre a ficção de Ângelo Inácio e H. P. Lovecraft. Lilian Fernades (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri), Conceição Aparecida Bento (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri) - Analise Morfológica dos Contos Orais Chapelinho Vermelho e I Aventura de Pedro Malazarte. 20 Mirane Campos Marques (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) Tolkien e a revitalização das narrativas maravilhosas. Aurora Gedra Ruiz Alvarez (Universidade Presbiteriana Mackenzie); Lílian Lopondo (Universidade Presbiteriana Mackenzie). O insólito: das inquietaçãoes da alma urbana à autoconscieência. Teresa Augusta Marques Porto (UNESP – FCL – ASSIS) O fantástico e o heróicomaravilhoso m narrativas japonesas do século XII: mágicas vizinhanças. QUINTA-FEIRA (16/05/2013) SIMPÓSIO 1 - O ESPAÇO DO MEDO NO FANTÁSTICO BRASILEIRO: TEMÁTICAS E CONFIGURAÇÕES Coordenadores: Alexander Meireles da Silva (UFG – Câmpus Catalão); Julio França (UERJ) Sessão 1 – 14h00 – 15h45 SALA: Salão de Atos – Prédio I Coordenação: Julio França (UERJ) Mariana Burin (USP) - A prosa detetivesca e a presença do fantástico em Machado de Assis. Ricardo Gomes da Silva (UNESP–FCL–Araraquara) - De qual tipo de medo estamos falando? Modalidades do medo no conto “Sem olhos” de Machado de Assis. Valdira Meira Cardoso de Souza (UESB) - O medo: Elemento de configuração do fantástico na narrativa de Machado de Assis. SIMPÓSIO 2 - O FANTÁSTICO CONTEMPORÂNEO: LITERATURA, CINEMA E OUTRAS ARTES Coordenadores: Ana Maria Carlos (UNESP – FCL – Assis); Wellington Ricardo Fioruci (UTFPR – Pato Branco) Sessão 1 – 14h00 – 15h30 SALA: 10 – Prédio I Coordenação: Wellington R. Fioruci (UTFPR – Pato Branco) Roberto Henrique Seidel (UEFS) - A categoria do insólito em representações sobre o sertão, na literatura, nos quadrinhos e no cinema. 21 Cleomar Pinheiro Sotta (UNESP – FCL – Assis ) - Elementos fantásticos em As intermitências da morte, de José Saramago. Luana Barossi (USP) - O amálgama do ciência-ficcional e do especulativo na obra de Franklin Cascaes. Sessão 2 – 16h00 – 17h30 SALA: 10 – Prédio I Coordenação: Ana Maria Carlos (UNESP – FCL –Assis) Ana Maria Carlos (UNESP – FCL –Assis) -"Monólogo interior de um e-book" e Coisas do outro mundo: a crítica social no fantástico italiano contemporâneo. Guilherme Magri da Rocha (UNESP – FCL –Assis), Sérgio Augusto Zanoto (UNESP – FCL –Assis) - Sobre “Leaf by Niggle”, de J.R.R. Tolkien. Maurício Ferreira de Araújo Filho (UEP) - Uma comparação entre os elementos fantásticos em “The black cat”: o conto e o curta-metragem. SIMPÓSIO 3 - REALISMO MÁGICO E REAL MARAVILHOSO: VERTENTES, DEBATES, LEITURAS Coordenadores: Antonio R. Esteves (UNESP – FCL –Assis); Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari (UNESP – FCL –Assis) Sessão 1 - 14h00 - 15h45 SALA: 10B – Prédio I Coordenação: Antonio R. Esteves (UNESP – FCL –Assis) Maria de Fatima Alves Oliveira Marcari (UNESP – FCL –Assis) - Mulher, natureza e magia: a reafirmação do feminino em La amortajada de María Luisa Bombal. Naiara Alberti Moreno (UNESP – FCL – Araraquara) - O aproveitamento do mágico pela ficção regionalista brasileira: uma leitura de O coronel e o lobisomem. Paullina Lígia Silva Carvalho (UEPB) - A desconstrução do real nas concepções de tempo e eu: uma leitura do conto “As ruínas circulares”, de Jorge Luis Borges, em diálogo com o budismo. Sessão 2 - 16h00 17h45 SALA: 10B – Prédio I Coordenação: Antonio R. Esteves (UNESP – FCL –Assis) Stanis David Lacowicz (UNIOESTE - Cascavel) - A Ilha do Pavão: uma leitura do real maravilhoso. 22 Kelli Mesquita Luciano (UNESP – FCL – Araraquara) - O realismo mágico em El siglo de las luces, de Alejo Carpentier. Thiago Miguel Andreu (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) - O realismo maravilhoso e o neofantástico: efeitos da narrativa, intersecções teóricas. SIMPÓSIO 4 - A VERVE CRÍTICA DO FANTÁSTICO, DO SÉCULO XIX AOS DIAS DE HOJE Coordenadoras: Heloisa Helena Siqueira Correia (UNIR – Universidade Federal de Rondônia); aria Alice Sabaini de Sousa (UNIR – Universidade Federal de Rondônia) Sessão 1 - 14h00 - 15h45 SALA: 01 – Prédio I Coordenação: Heloisa Helena Siqueira Correia (UNIR – Universidade Federal de Rondônia) Joilson Mendes Arruda (UNIR) - O maravilhoso medieval em o remorso de baltazar serapião. Paulo Alexandre Cardoso Pereira (Universidade de Aveiro) - Santos do apocalipse: parodia sacra e ironia (neo)fantástica em Valter Hugo mãe. Francisco Das Chagas Jacinto Alves (USP)- Continuidades e rupturas em O Homem Duplicado: a expressão do fantástico como crítica ao mundo contemporâneo. Caroline Aparecida de Vargas (IC/UFPR ) - A expectativa pelo sobrenatural em Anátema e O esqueleto (Camilo Castelo Branco) Fernando Vidal Variani (IC-UFPR) - O mandarim assassinado de Eça de Queirós. Sessão 2 – 16h00 – 17h45 SALA: 01 – Prédio I Coordenação: Heloisa Helena Siqueira Correia (UNIR – Universidade Federal de Rondônia) Fábio Dobashi Furuzato (UEMS) - Vertentes do fantástico em Murilo Rubião. Valdemir Boranelli (FIRA-Faculdades Integradas Regionais de Avaré /PG- Universidade Presbiteriana Mackenzie) - Entre “o bloqueio” da linguagem da comunicação e o coroamento da metáfora epistemológica do discurso fantástico em Murilo Rubião. Esequiel Gomes da Silva (UNESP – FCL –Assis) - Aspectos do fantástico no teatro de Artur Azevedo: breve análise de Um roubo no Olimpo. Frederico Santiago da Silva (UNESP – FCL –Assis) - A historiografia literária brasileira e a omissão do fantástico no século XIX: o caso Fagundes Varela. Simone Xavier de Lima (Escola SESC de Ensino Médio / PUC-RJ) - Clube de leitores: literatura fantástica – contos de ontem e de hoje. 23 SIMPÓSIO 5 - A ESCRITURA FANTÁSTICA: A REESCRITURA DOS MITOS CLÁSSICOS NA LITERATURA Coordenadoras: Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto); Adriana Lins Precioso (UNEMAT – Sinop); Sylvia Maria Trusen (Universidade Federal do Pará/Pesq. RELER - Cátedra Unesco de Leitura – PUC/Rio) Sessão 1 – 14h00 – 15h45 SALA: 02 – Prédio I Coordenação: Sylvia Maria Trusen (Universidade Federal do Pará/Pesq. RELER – Cátedra Unesco de Leitura – PUC/Rio) Elaine C. Prado Dos Santos (Universidade Presbiteriana Mackenzie/São Paulo) - A Metamorfose de Erisícton e Gregor Samsa: a fantástica transfiguração do real nos discursos ovidiano e kafkiano. Nathália da Costa Cruz (UEPA) e Josebel Akel Fares (UEPA) - Mitopoética, Literatura e Educação na Amazônia. Alejandro González Urrego (UNESP – FCL – Araraquara) - O mito como elemento de identidade cultural construído a partir do cadáver errante de Evita Perón. Sessão 1 – 16h00 – 17h45 SALA: 02 – Prédio I Coordenação: Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) Muryel da Silva Papeschi (UNESP – FCL – Assis) - Facundo Quiroga, o Átila dos pampas. Danieli Munique Fontes da Silveira (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) - A reescritura da figura da bruxa no conto “Circe”, de Julio Cortazar Talita Annunciato Rodrigues (UNESP – FCL – Assis) - A queda e a reconstrução de Eva: a releitura do mito de origem nas obras de Angela Carter SIMPÓSIO 6 - O FANTÁSTICO DE EXPRESSÃO FRANCESA: MANIFESTAÇÕES INTRA, INTER E EXTRATEXTO Coordenadoras: Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto); Glória Carneiro do Amaral (UPM/USP); Renata Philippov (UNIFESP) 24 Sessão 1 – 14h00 – 15h45 SALA: 12 – Prédio I Coordenação: Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) Ana Luiza Ramazzina Ghirardi (UNIFESP) - Histórias francesas, linguagem fantástica quebequense. Brigitte M. Hervot (UNESP – FCL –Assis) - Maupassant e os gatos. Renata Philippov (UNIFESP) - Aniquilação e queda em Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire: alguns apontamentos. 25 RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS Conferência de Abertura – 13/05/2013 – 20h00 – Salão de Atos Dra. Jacqueline Penjon (Universidade de Paris III – Sorbonne-Nouvelle) O mundo mágico de Jorge Amado Na maioria das obras amadianas as dimensões “natural/sobrenatural” da vida, convivem estabelecendo um diálogo permanente. O autor re-inventa uma Bahia misteriosa em que destabiliza as fronteiras entre real e imaginário. Os temas recorrentes como o mar, o amor, a noite, a tempestade, a morte - uma morte que não é mais fim irremediável -, são impregnados de poesia que, ligada aos cultos afro-brasileiros, se transforma em politeísmo. O maravilhoso torna-se parte integrante da realidade. Será analisado esse realismo mágico da escrita amadiana, transformado várias vezes em alegoria épica, realismo mágico que permite uma crítica da sociedade e que carnavaliza as relações familiares burguesas. (Serão estudadas as obras : Jubiabá, Mar morto, A morte e a morte de Quincas Berro d’Agua, Os Pastores da noite, Dona Flor e seus dois maridos, Tenda dos Milagres e O Sumiço da Santa.) Conferência 2 - 14/05/2013 – 20h00 – Salão de Atos Dr. Flavio García (UERJ) A construção insólita de categorias da narrativa como estratégia necessária e essencial à literatura fantástica As discussões acerca dos discursos fantásticos – sejam os clássicos ou tradicionais, conforme os nomeou Todorov, referindo-se à ficção do Oitocentos, junto à qual se pode anexar a literatura do primeiro quartel do Novecentos; sejam os modernos ou contemporâneos, como variados teóricos, que se contrapõem a Todorov ou dele partem para o completar ou rever, vêm tratando a literatura produzida a partir do segundo quartel do Novecentos – põem em destaque aspectos comuns a todas as narrativas que se podem acolher sob a denominação que envolve esse matiz discursivo. Algumas correntes põem relevo na manifestação da dúvida, por parte de uma ou mais personagens, face um evento verificado no nível diegético, devendo, esta, ser transmitida, pelo narrador, ao narratário, mantendo-a permanente, sem dissolução, até o final da história narrada. Outras correntes destacam o efeito de medo, sentido por uma ou mais personagens, diante de um fenômeno perceptível no universo da história, devendo ser transmitido ao narratário, igualmente pelo 26 narrador, até atingir o leitor real. Muito mais aspectos, que reúnem grupos diferentes de pesquisadores, ainda se poderiam levantar a fim de conceituar o fantástico, mas, não há crítico que deixe de apontar a necessidade de irrupção, no nível diegético, de algum elemento que provoque dúvida ou medo. Em todas as correntes teóricas, essa irrupção corresponde à manifestação de um ou mais aspectos narrativos dissonantes em relação à realidade exterior ao construto ficcional, da qual ele é, inevitavelmente, parasita. Essa dissonância reflete a incoerência de traços de personagem, tempo, espaço e/ou ação, conforme sabe o leitor real, em sua vivência cotidiana. Logo, independentemente da corrente crítico-teórica, o fenômeno discursivo comum a todas elas é a irrupção do insólito em uma ou mais categoria da narrativa, provocando o efeito de negação – “-in” – frente ao que se sabe. Sem insólito ficcional não se tem narrativa fantástica. Conferência de Encerramento – 20h00 – 16/05/2013 – Salão de Atos Dra. Laura Janina Hosiasson (FFLCH – USP) María Luisa Bombal e Silvina Ocampo: mestras do insólito Dentro do panorama da literatura hispano-americana do século XX que incursiona no campo do fantástico e do insólito, duas escritoras brilham de forma discreta, embora não por isso menos refulgente. Falo da chilena María Luisa Bombal (1910-1980) e da argentina Silvina Ocampo (1903-1993). Jorge Luis Borges referiu-se em certa oportunidade a Bombal como sendo uma das melhores narradoras que ele conhecia e quanto a Ocampo, baste dizer que foi sua amiga de toda uma vida, mulher do parceiro, Adolfo Bioy Casares, e irmã caçula de Victoria Ocampo, a emblemática diretora da revista SUR. Mas, para além dessas referencias e pedigrees, falo de duas mestras do relato intimista de atmosfera onírica e nebulosa, em cujas obras o insólito potencializa a penetração no mundo do feminino e dialoga com o lirismo de imagens altamente poderosas. As duas são praticamente desconhecidas do leitor brasileiro, o que me leva a pensar em adentrar em seus universos de produção neste colóquio sobre Vertentes do Fantástico. 27 RESUMOS DAS MESAS-REDONDAS 14/05/2013 – SALÃO DE ATOS 8h30 Mesa Redonda 1 - Manifestações do fantástico na literatura brasileira Coordenação: Dra. Marisa Martins Gama-Khalil (UFU/CNPq) Dra. Adelaide Caramuru Cézar (UEL) Título: O CONTO FANTÁSTICO DE MACHADO DE ASSIS SEGUNDO RAIMUNDO MAGALHÃES JÚNIOR Em 1973, Raimundo Magalhães Júnior (1907-1981) publicou Contos Fantásticos de Machado de Assis. Nesta coletânea apresenta onze contos, caracterizando-os, na “Introdução” à obra, como, “às vezes, de um fantástico mitigado, que não [vai] além dos sonhos que temos não só adormecidos como ainda acordados; outras vezes, de um macabro ostensivo e despejado” (p. 9). Ainda na mesma “Introdução” a esta coletânea, Magalhães Júnior ressalta a influência de Hoffmann e de Edgar Allan Poe na obra machadiana, fazendo-se presentes, conforme ressalta o estudioso, referências explícitas a estes dois autores no corpus dos contos e também das crônicas de Machado de Assis. Os onze contos apontados por Magalhães Júnior como fantásticos na antologia de 1973 são os seguintes: “A chinela turca”, “Sem olhos”, “O imortal”, “A segunda vida”, “A mulher pálida”, “Os óculos de Pedro Antão”, “A vida eterna”, “O anjo Rafael”, “Decadência de dois grandes homens”, “Um esqueleto”, “O capitão Mendonça”. Objetiva-se neste trabalho agora proposto buscar pela compreensão de Magalhães Júnior do que seja um conto fantástico. Para dar conta desta tarefa, os contos serão agrupados segundo características comuns concernentes à natureza do fantástico, tomando como suporte teórico Tras los limites de lo real, obra de David Roas publicada em 2011. Espera-se poder alcançar o conceito de fantástico na citada obra de Raimundo Magalhães Júnior, aproximando-o ou afastando-o da moderna compreensão desta categoria literária. Dra. Marisa Martins Gama-Khalil (UFU/CNPq) Título: REPRESENTAÇÕES ESPACIAIS DO HORROR EM “O LODO”, DE MURILO RUBIÃO, E “O HOMEM CUJA ORELHA CRESCEU”, DE IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO. Umberto Eco, em sua História da feiura, pede para o leitor imaginar um aposento familiar com uma luminária posta sobre a mesa; de repente a luminária se ergue no ar, voa. A mesa e a sala são as mesmas, prosaicas, nenhuma delas se tornou feia, mas a situação, não, tornou-se inquietante e, não conseguindo dar explicação a ela, percebemo-la como 28 aterrorizante. Assim, o que nos apavora é algo que ocorre como não deveria ocorrer, e aí está o ponto de partida de toda narrativa que tem o horror como sua base. Na literatura fantástica em cujo enredamento irrompe o horror, temos notado que alguns espaços merecem ser analisados atentamente, como, por exemplo, os corpos das personagens, que com frequência encontram-se em metamorfose, seja o corpo dos vampiros da literatura do século XIX, seja o corpo das personagens do séculos XX, como o de Galateu, personagem do conto “O lodo”, de Murilo Rubião, que vê seu corpo cobrir-se de feridas ininterruptas e contingentes. Em “O homem cuja orelha cresceu”, Ignácio de Loyola Brandão também nos apresenta um sujeito que vê seu corpo ser interpelado por estranhas modificações – sua orelha cresce ininterruptamente. Nesses dois casos, não só as metamorfoses dos corpos, mas a relação destes com a abjeção é importante para a irrupção do horror. Com essa exposição, pretendemos não só demonstrar a relevância das construções espaciais na ficção fantástica para a deflagração do horror, como também revisitar a noção de horror relacionada à literatura do século XX. 10h00 Mesa Redonda 2 - Românticos, góticos e frenéticos Coordenação: Dra. Ana Luiza Silva Camarani (UNESP – FCL – Araraquara) Dr. Alexander Meireles da Silva (UFG - Câmpus Catalão) Título: SOB A SOMBRA DOS IPÊS: CONSIDERAÇÕES SOBRE O GÓTICO COLONIAL BRASILEIRO Dentre as várias questões que marcaram o meio intelectual brasileiro na República Velha (1889-1930) o debate sobre a constituição do povo brasileiro ocupou lugar de destaque. Pensadores como Oliveira Viana e Azevedo Amaral trataram de desvendar, com base nas Ciências Humanas, as razões da existência no Brasil de um povo, mas não de uma nação, buscando definir, a partir desse diagnóstico, os caminhos para a construção nacional. Neste quadro, intelectuais nacionais e estrangeiros se voltaram para a análise da sociedade brasileira e viram na constituição do povo um dos fatores que impediam o desenvolvimento nacional, enxergando, assim, o Brasil de forma semelhante aos colonizadores europeus da época, que em outras partes do mundo viam as colônias propriamente ditas como uma área de riquezas potenciais, cuja exploração era dificultada pela presença de raças e culturas inferiores. Dentro deste cenário, a mentalidade neocolonial ou imperialista das elites fomentou uma produção literária marcada pelo preconceito em relação a uma parte do país e/ou a segmentos da população que, pelos parâmetros das grandes cidades do período como Rio de Janeiro e São Paulo, ainda pertenciam a um tempo de atraso, superstição e mesmo barbárie. Esta visão, frequentemente alicerçada na oposição meio urbano X meio rural, fomentou a criação de um sertão insólito habitado por seres insólitos que dialogaram com a tradição gótica anglo-americana dos séculos XVIII e XIX resultando no que este trabalho chamou de “Gótico colonial brasileiro”, exemplificado por contos de, dentre outros, Afonso Arinos, Valdomiro Silveira e Bernardo Élis. 29 Dra. Ana Luiza Silva Camarani (UNESP – FCL – Araraquara) Título: SOB O SIGNO DE SATÃ: A LITERATURA FRENÉTICA NO ROMANTISMO A narrativa frenética mostra-se envolta em uma atmosfera de horror que pode resultar da introdução de um componente sobrenatural e apoia-se comumente em um conjunto de elementos característicos: a perseguição, os cemitérios, os castelos em ruínas, a tortura, as sevícias. A referência a Satã passa a ser imprescindível no cenário da literatura frenética e contribui para que Charles Nodier calque a expressão “escola frenética” sobre a de Satanic School, empregada injuriosamente por Robert Southey a propósito de Byron para estigmatizar a depravação moral que atribuía a seu inimigo. A menção a Byron passa, então, a remeter diretamente ao romantismo frenético, bem como ao personagem Satã, recorrente na obra do poeta inglês. Com raízes anteriores à Revolução Francesa, a narrativa frenética na França não cativou uma atenção tão extensa quanto o interesse suscitado pelo romance gótico na Inglaterra, o que não impediu o frenético de persistir, sob formas diversas, e até mesmo de alimentar, por meio de numerosos deslocamentos e hibridismos, a obra de autores já reconhecidos na época, como Charles Nodier, Victor Hugo e Honoré de Balzac. No Brasil, Álvares de Azevedo evidencia-se como um autor representativo dessa modalidade literária, vertente do romantismo brasileiro a qual se convencionou denominar ultrarromantismo, tendência seguida por jovens escritores que praticavam em suas obras os exageros da escola romântica, incluindo a atração pela morte entre os temas desenvolvidos, que repercutem bem os excessos da literatura frenética francesa. Dr. Aparecido Donizete Rossi (UNESP – FCL – Araraquara) Título: PARA UMA TEORIA DA DESRAZÃO: O GÓTICO COMO MODO DE PENSAR A LITERATURA O presente trabalho pretende investigar a presença do gótico no gênero romance para, a partir desse movimento já bastante tradicional, procurar uma possibilidade de ampliar o horizonte do gótico para além do campo temático/estrutural a fim de pensar o gênero não apenas como um aspecto temático e/ou formal do texto literário, mas como modo de olhar e ler o objeto ficcional, como interface interpretativa desse objeto, algo que se poderia denominar “visada gótica”. Assim, o objetivo último e principal dessa breve investigação é refletir sobre a possibilidade de construir um modo inicial de pensar o gótico também como teoria crítica de abordagem do texto literário, o que se poderia denominar inicialmente “Teoria da desrazão”. 30 15/05/2013 – SALÃO DE ATOS 8h30 Mesa Redonda 3 - Monstros e criaturas fantásticas: leituras Coordenação: Dr. João Batista de Toledo Prado (UNESP – FCL – Araraquara) Dr. João Batista de Toledo Prado (UNESP – FCL – Araraquara) Título: UMA EXPERIÊNCIA DOS INFERNOS, VIRG. EN. VI, 268-294. Um verdadeiro tópos da épica antiga, a catábase (κατάβασις: “declive”, “caminho descendente”, em especial para o submundo infernal) representa o momento em que o herói desce aos infernos – a região subterrânea para onde se dirigiam as sombras dos que já faleceram (identificadas, muita vez, às almas dos mortos, na falta de melhor ou mais precisa designação) – em busca de alguma forma de resgate, seja de conhecimento seja da presença física de um ente querido com quem ele deseja ter alguma forma de contato ou reaproximação. No livro VI da Eneida, o herói Eneias consulta a sibila de Cumas, uma sacerdotisa de Apolo, que o conduz a uma descida aos infernos para encontrar-se com seu falecido pai, Anquises. Ao ingressarem na gruta que conduz ao reino subterrâneo de Plutão, deus dos territórios infernais e dos mortos, começam a vislumbrar grupos de formas terríveis e assustadoras, monstros que aguardam poder escapar para vitimar a humanidade com seus flagelos. Ao modo de um texto anterior, apresentado na edição passada deste mesmo Colóquio, o presente trabalho procurará demonstrar os expedientes poéticos e retóricos empregados por Virgílio na constituição das imagens apavorantes, monstruosas e fantásticas das primeiras visões infernais colhidas por Eneias e a sibila de Cumas, e, ao mesmo tempo, verificar certos matizes do plano da expressão que constituem a base da expressividade poética da passagem em apreço. Dra. Maira Angélica Pandolfi (UNESP – FCL – Assis) Título: ELEMENTOS DO FANTÁSTICO EM UM RETRATO MULTIFACETADO DO BRASIL NA OBRA “OS RIOS INUMERÁVEIS”, DE ÁLVARO CARDOSO GOMES O livro Os rios inumeráveis (1997), de Álvaro Cardoso Gomes, revisita a História do Brasil em seus momentos decisivos por meio de uma narrativa híbrida que mescla elementos fantásticos como seres metamorfoseantes e animais míticos, parodiando obras e personagens marcantes da literatura brasileira e de literaturas estrangeiras que mantiveram intenso diálogo com a cultura e com escritores brasileiros ao longo dos anos. Nesse intento, são inseridas algumas figuras históricas como Tiradentes, o poeta Álvares de Azevedo, o célebre rei do cangaço Virgulino Lampião e seu bando, dentre outros que marcaram nosso imaginário histórico-literário-cultural num tempo histórico que começa no século XVI até meados do século XX. Além da paródia de estilos, épocas e do intenso diálogo intertextual, pululam aqui e ali seres fantásticos habitando, muitas vezes, um espaço onírico. É o caso, 31 por exemplo, do capítulo intitulado “Livro II – Criaturas do lodo”, que se detém em retratar as maravilhas e os assombros dos relatos dos cronistas do século XVI diante da fauna e da flora brasileiras, com um enfoque especial sobre o “manatí”, que compõe a lenda do boto amazônico. Ainda nesse capítulo, o autor diz criar o mito do amor carnal entre Matu e a princesa Mana. Essa exposição da obra pretende enfocar esses elementos fantásticos com o tradicional aporte teórico sobre o gênero, mas sem deixar de considerar a função desses elementos na narrativa híbrida de Álvaro Cardoso Gomes. 10h00 – Mesa Redonda 4 - Vertentes do fantástico no universo hispânico Coordenação: Dra. Roxana Guadalupe Herrera Álvarez (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) Dra. Ana Lúcia Trevisan (Universidade Presbiteriana Mackenzie) Título: FRAGMENTOS E IMAGENS DE PEDRO PÁRAMO: ENTRE O FANTÁSTICO E O HISTÓRICO. O trabalho estuda a obra Pedro Páramo (1955), de Juan Rulfo a fim de perceber como os fragmentos da História mexicana se conjugam às imagens do fantástico, criadas a partir das referências ao universo do além-túmulo. O tema que orienta a narrativa está ancorado no universo hispano-americano e, particularmente, mexicano, no entanto, uma perspectiva universal se impõe na medida em que os conflitos descritos no enredo são regidos pela profusão de dramas humanos intensos, revelados pela ambição desmedida, pelos amores obsessivos e pela crueldade das vinganças. Em Pedro Páramo, a realidade de uma cultura é penetrada profundamente e um retrato de diferentes vozes históricas, que se revelam por murmúrios e fragmentos de memórias, configura um espaço privilegiado da arte literária, resgatando os sujeitos da ordem cotidiana para inseri-los em uma experiência dilatada pela ruptura das concepções lineares e pré-estabelecidas do real. Na obra são delineados dois blocos narrativos, de um lado a narração linear de Juan Preciado e de outro as historias relatadas pelos múltiplos narradores, revelados por fragmentos interpolados que explicitam a inclusão de pensamentos e recordações de vários personagens. Surge a imagem de um mundo escorregadio, quase ininteligível, que imprime um significado estético para o alémtúmulo, transformado, aqui, na imagem de um mundo fantástico no interior do mundo dos mortos, um mundo no qual se desconhece o que significa estar vivo ou estar morto. Por não saber o que define os sentidos de estar vivo ou morto, ou se vivos e mortos estão em posições discursivas equivalentes, o leitor é conduzido ao universo impreciso de uma leitura destituída de sentidos óbvios, uma leitura que exige o deciframento, que se torna um exercício critico para refletir-se sobre as muitas formas de permanecer no mundo da realidade. 32 Dra. Heloisa Helena Siqueira Correia (UNIR-Universidade Federal de Rondônia) Título: O LUGAR DUPLO: FANTÁSTICO E FILOSOFIA Discussão acerca das transações entre a literatura construída de acordo com determinado fantástico, que se encontra na obra do escritor argentino Jorge Luis Borges, e a filosofia, no que diz respeito a alguns dos aspectos fundamentais da metafísica ocidental. Argumenta-se que a partir do encontro da literatura borgeana com a metafísica ocidental algo híbrido surge: uma espécie de metafísica fantástica ou literatura filosófica que evidencia a convivência de fantasia e filosofia. Trata-se de um campo em que o leitor é capaz de, percorrendo a história da literatura, encontrar questões e conceitos filosóficos habitando textos ficcionais, vivendo como personagens, temas, estruturas e formas e, relendo a história da filosofia, identificar elementos fantásticos que convivem com os constructos da razão. Tal possibilidade indica a existência de questões insuspeitadas para a reflexão conceitual e a sensibilidade, ambas protagonistas da investigação teórica e da criação ficcional. Dra. Maria Cristina Martins (UFU) Título: “UM SEGREDO TRANCADO A SETE CHAVES NO SÓTÃO DA ALMA”: A PERMANÊNCIA DA AMBIGUIDADE E A CONSTRUÇÃO DO FANTÁSTICO EM MARINA, DE CARLOS RUIZ ZAFÓN Marina, de Carlos Ruiz Zafón, é um misto de magia, mistério, romance e aventura, que nos mergulha em uma viagem inesquecível e surpreendente, do começo ao fim da narrativa. Na abertura do romance, o jovem Óscar Drai, um menino de 15 anos que vive em um internato de Barcelona, anuncia que nos revelará “um segredo trancado a sete chaves no sótão da alma”. É o relato dele que nos guia nos labirintos dessa história um tanto detetivesca, que se desenrola em lugares nada convencionais e nos põe em contato com personagens encantadores como Marina e seu pai Germán, e com figuras enigmáticas e aterrorizantes como a dama de negro e Mijail Kolvenik. Como o próprio autor observa, Marina seria possivelmente o romance “mais indefinível e difícil de categorizar” de todos os que já escreveu. O propósito central desta apresentação é abordar a questão da permanência da ambiguidade e a construção do fantástico nesta trama fascinante e multifacetada. Para tal, tomarei como base as noções do fantástico na narrativa, apresentadas por Filipe Furtado, que relê o fantástico Todoroviano. 33 Dra. Roxana Guadalupe Herrera Álvarez (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) Título: A FANTÁSTICA MÁQUINA DE FICÇÕES DE ÁNGEL OLGOSO Ángel Olgoso (Granada, 1961-) é um escritor espanhol contemporâneo cuja produção se concentra no conto e principalmente no miniconto. A obra de Olgoso insere-se no universo do fantástico, visto num sentido lato, e também aborda temas nos quais se destaca a problemática atual do ser humano frente a um mundo caótico. Olgoso revisita em suas narrativas temas recorrentes do fantástico, do maravilhoso e do mítico e muitos dos seus contos e minicontos aludem a personagens e narrativas criadas por outros escritores com os quais estabelece um diálogo. Essa relação intertextual adquire nuanças de paródia em alguns momentos e, em outros, revela-se plena de admiração e se assume como tributo. Olgoso possui obra relevante, constituída pelos seguintes livros: Los días subterráneos (1991), La hélice entre los sargazos (1994), Nubes de piedra (1999), Granada, año 2039 y otros relatos (1999), Cuentos de otro mundo (1999; 2003), El vuelo del pájaro elefante (2006), Los demonios del lugar (2007), Astrolabio (2007), La máquina de languidecer (2009), Los líquenes del sueño. Relatos 1980-1995 (2010). Propomos abordar uma pequena seleção de contos, extraída do livro Los demonios del lugar, com o objetivo de apresentar a perspectiva de Olgoso em relação ao fantástico. Para tal, utilizaremos as propostas teóricas apresentadas por Juan Herrero Cecilia em sua obra Estética y pragmática del relato fantástico. Las estrategias narrativas y la cooperación interpretativa del lector (2000). 20h00 – Mesa Redonda 5 - Leituras excêntricas do insólito Coordenação: Dra. Karin Volobuef (UNESP – FCL – Araraquara) Dr. Antonio Roberto Esteves (UNESP – FCL – Assis) Título: INSÓLITO O AMOR OU INSÓLITA A HISTÓRIA? (LEITURA DE RELATOS DE MARÍA ROSA LOJO) Os dicionários costumam definir “insólito” como algo incomum ou pouco frequente. Também pode ser aquilo que se opõe às regras, à tradição. Enfim, o que se apresenta sob o manto do estranho. Nisso certamente pensava a escritora argentina María Rosa Lojo ao escolher o título de Amores insólitos de nuestra historia (2001) para uma coletânea de relatos, tecidos no limiar entre ficção e história. Tais relatos contam insólitas histórias amorosas ocorridas com personagens que circulam, com maior ou menor frequência, pelos livros de história da Argentina. O presente trabalho pretende discutir como o próprio amor, por suas particularidades, é tratado como um sentimento pouco palpável e de difícil enquadramento no âmbito do racional. Da mesma forma, a história, que antes de se converter em ciência no século XIX, reunia relatos que quase sempre misturavam o factual com prodígios, entremesclando acontecimentos mágicos e fatos cotidianos. Movendo com habilidade os fios narrativos, a narradora tece seus relatos, tratando de apresentar um enfoque diferente da história argentina, com suas gretas e fissuras. O mágico, o maravilhoso e o fantástico contribuem para expor uma realidade múltipla, na qual, a terra 34 americana e seus primitivos habitantes, ocupam um relevante espaço e dando voz a atores normalmente excluídos da construção da história e da identidade argentina. Excêntricos e exóticos personagens ocupam, assim, não apenas o centro dos relatos, mas também o comando das narrativas, protagonizando uma série de amores que apesar de insólitos são históricos. Ou vice-versa. Dra. Cleide Antonia Rapucci (UNESP – FCL – Assis) Título: FICÇÃO ESPECULATIVA E FEMINISMO – O QUE QUEREM ESSAS MULHERES? Em entrevista a Lorna Sage (1977), a autora inglesa Angela Carter afirma ter escrito The Infernal Desire Machines of Dr. Hoffman (1972) e The Passion of New Eve (1977) dentro de um projeto de três romances especulativos. Jordan (1990) confessa ter aprendido a não perguntar qual seria o terceiro volume e nos aconselha a escolher o nosso, ou a reconhecer que Carter evita qualquer conclusão. Parece-me, no entanto, que Nights at the Circus (1984) virá completar a trilogia. O’Day (1994) chama a atenção para o fato de que, entremeadas à “trilogia de Bristol”, já estavam as obras especulativas iniciais da autora: The Magic Toyshop e Heroes and Villains. Hoffman e New Eve representam, portanto, o auge da tendência especulativa na ficção de Carter. Esses dois romances representam a fase declaradamente feminista da obra de Carter, na acepção que Showalter (1986) dá ao termo: a de ruptura e protesto contra os valores patriarcais. Nesses dois romances, há muito pouco espaço para as personagens femininas se tornarem agentes, numa denúncia aos aspectos mais cruéis do patriarcado. A meu ver, a ficção especulativa pode ser uma forma de resistência ao patriarcado. Susana Funck (1993) cita Cranny-Francis que, em Feminist Fiction (1990), argumenta que a apropriação feminista dos gêneros populares é duplamente política: estas formas, como as mulheres, já estão excluídas do estatuto literário “maior”; assim, em vez de naturalizar suas convenções narrativas, tal literatura expõe o sexismo como prática ideológica hegemônica. Minha leitura das personagens femininas em As máquinas infernais de desejo do Dr. Hoffman parte deste pressuposto. Dra. Karin Volobuef (UNESP – FCL – Araraquara) Título: OS CONTOS DE FADAS E SEUS PERSONAGENS: QUEM É QUEM, COMO E PARA QUE? Os contos de fadas têm em seu centro a trajetória de uma figura humana e nisso eles se distinguem de outras narrativas populares, como lendas, legendas ou mitos, que privilegiam aspectos sobre-humanos ao serem protagonizados por deuses e outros seres fabulosos. Personagens como reis, princesas, lenhadores, órfãos e enjeitados povoam o mundo ficcional dos contos de fadas e colocam em movimento seu enredo que, em linhas gerais, acompanha a solução de um problema, promovendo a ascensão social de seu herói ou heroína. Muitos dos personagens desempenham papéis específicos na narrativa: o rei, por 35 exemplo, costuma desincumbir-se de enviar o herói rumo a uma missão, cujo propósito é reinstaurar o equilíbrio destruído pelo malfeitor no início da narrativa. Mais do que apenas emprestar corpo a funções cristalizadas (nos moldes mapeados por Propp), no entanto, os personagens de contos de fadas permitem visualizar aspectos da vida cotidiana de épocas remotas (apontando para questões como condições de trabalho, relações de poder, modos de vida, escala de valores e visão de mundo) assim como também perceber uma grande versatilidade no emprego dos agentes da ação para fins estéticos. O presente trabalho voltase assim a apresentar e discutir um conjunto de aspectos em meio ao rico universo envolvendo os personagens de contos de fadas. 16/05/2013- SALÃO DE ATOS 8h30 Mesa Redonda 6 - O fantástico no universo francês do século XIX Coordenação: Dra. Maria Cristina Batalha (UERJ/CNPq) Dra. Maria Cristina Batalha (UERJ/CNPq) Título: O FANTÁSTICO E A IRONIA ROMÂNTICA: O EXEMPLO DE THÉOPHILE GAUTIER A literatura fantástica é a encenação de uma crise, na medida que ela nasce no fim do século XVIII, onde cruzam-se pretensões racionalistas e cientificistas e a permanência de um universo mental preso ainda a temores, crenças e superstições que o Século das Luzes não conseguira eliminar. O relato fantástico opera com duas ordens de discurso: de um lado, o discurso da razão, da consciência lúcida que trabalha para construir um referencial; de outro, o discurso do inexplicável ou da visão/percepção imprecisa ou alucinatória, traçando aquilo que podemos nomear de “irreal” através de figuras “oblíquas”, dotadas de formas “incompletas”. É seu caráter de incompletude, de ambiguidade e, por conseguinte, de objeto que “chama à reflexão”, que favorece a expressão da ironia romântica tal como é concebida pelos românticos alemães e por alguns artistas franceses, e, em particular, Théophile Gautier, que exerceu a carreira de um “conteur fantastique”, como ele próprio se designava. Supersticioso, e talvez contaminado pelo mundo estranho que evocava em seus contos, sugeriu-nos, posteriormente, não levar muito a sério o que escreveu, acenando-nos, em Jeunes France, com os limites e os exageros do gênero, o que, aliás, também não ficava muito distante daquilo que os autores realistas produziam em sua ficção que ganhava ares de “verdade”. Dra. Norma Domingos (UNESP – FCL – Assis) Título: A ESCRITURA FANTÁSTICA VILLIERIANA 36 Nessa apresentação temos o intuito de discorrer sobre a escritura fantástica de Villiers de l’Isle-Adam (1838-1889). Sua obra Claire Lenoir e os contos “L’Intersigne” e “Véra” consagraram-no como um dos maiores autores franceses de histórias fantásticas da segunda metade do século XIX. O discurso onírico e metafórico, característico das narrativas fantásticas, constitui um instrumento estilístico do qual Villiers faz uso a fim de exprimir suas críticas à sociedade e expressar seus ideais de esperança. Para tanto, usa símbolos criteriosamente escolhidos que representam esses ideais e que servem para sugerir o projeto sagrado do poeta: a evasão para um mundo ideal. 10h00 Mesa Redonda 7 - O mágico, o insólito, o fantástico: leituras em contraponto Coordenação: Dra. Norma Wimmer (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) Dra. Sylvia Maria Trusen (Universidade Federal do Pará/Pesq. RELER – Cátedra Unesco de Leitura – PUC/Rio) Título: AS ILUSTRAÇÕES DE RUI DE OLIVEIRA E DE SUSANNE JANSSEN: LEITURAS-PLURAIS DO HÄNSEL UND GRETEL Em 1812, sai a público a primeira edição do célebre conto Hänsel und Gretel dos Irmãos Grimm. O título desta narrativa, anotado provavelmente por Wilhelm Grimm (BRÜDER GRIMM, KHM, V. 3, p. 448), em Cassel, a partir da história contada pela Família Wild, era então “Irmãozinho e Irmãzinha” (“Brüderchen und Schwesterchen”). A partir da primeira edição da obra (1812/1815), o conto é publicado com o título que o celebrizará - Hänsel und Gretel (n⁰ 15) – comumente traduzido, no Brasil, por João e Maria. A trajetória da narrativa é vasta e, se tem recebido os mais diferentes tipos de traduções e adaptações, as ilustrações não fogem à regra. Neste texto, propomos a leitura comparada de dois trabalhos – o conto por imagens de Rui de Oliveira e a ilustração da alemã Janssen à narrativa dos Grimm. Considerando, portanto a articulação texto-imagem, a partir, igualmente, da leitura de Pelos Jardins de Boboli (2008) de Rui de Oliveira, pretende-se por em evidencia aquilo que seu autor denomina paráfrase visual do texto (OLIVEIRA, 2008, p. 49).Com efeito, as imagens impressas nas páginas de Janssen e Rui de Oliveira parecem se articular ao Hänsel und Gretel como uma espécie de texto-ao-lado que desvela o que fora calado. Dra. Norma Wimmer (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) Título: O FANTÁSTICO EM “LA LUNETTE DE HANS SCHNAPPS” E EM A LUNETA MÁGICA. 37 Émile Erckmann e Alexandre Chartrian escreveram, no século XIX, uma série de textos nos quais privilegiaram aspectos populares da literatura. Dentre esses, obtiveram grande sucesso de público e de crítica os Contes fantastiques (1857). “La lunette de Hans Snapps”, um dos contos que integram o volume, propõe a temática da visão de mundo alterada por um objeto de caráter mágico. No Brasil, em 1869, Joaquim Manoel de Macedo publica A luneta mágica, romance no qual Simplício, o protagonista, confessa sua visão deformada da realidade em decorrência do uso de uma extraordinária luneta. Os dois textos, de caráter alegórico, remetem, a sociedades diversas. Pretende-se, na comunicação a ser apresentada, refletir - tomando como ponto de partida as teorias de Vax, Schneider e Todorov - acerca da presença e do “poder” do objeto mágico em ambos os textos, bem como tecer considerações referentes a seu sentido alegórico. Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) Título: MYGALE, DE THIERRY JONQUET: DO TEXTO À TELA Apesar de recusar rótulos de escritor engajado, Thierry Jonquet (1954-2009) transpõe em seus romances a violência da vida real, possibilitando a seu leitor múltiplos desdobramentos de sua leitura: do mero entretenimento à reflexão. Não são apenas os faits divers a matéria prima de suas obras, mas também seu percurso profissional, lidando ao longo de sua eclética carreira com idosos ou crianças e adolescentes em condições especiais. Dessa forma, a essência de suas obras são as pessoas, seus demônios, suas incoerências, sua natureza ambígua. Controverso em sua recepção na França, o romance Mygale (1984), traduzido no Brasil como Tarântula (2005), recebeu recente versão cinematográfica sob a direção de Pedro Almodóvar. O espectador de A pele que habito (2011) nem sempre está a par da origem dessa inacreditável história: um roman noir francês. O sucesso do filme redireciona os holofotes para Jonquet e sua obra; apreciada em princípio localmente e por um público específico, fiel e reduzido, tornando romance e escritor internacionalmente cult. Interessa-nos, pois, detectar inicialmente em Mygale, sua tecitura narrativa, os elementos pertencentes ao universo real com os do universo surreal, estranho; os efeitos do fantástico literário sobre o insólito da realidade, inquietante, e de que forma horror e terror se entrelaçam com o objetivo de provocar no leitor as mais diversas reações: identidade e repulsa, compaixão e desgosto. Em seguida, buscaremos verificar a transposição do material textual para a tela, o tratamento que o diretor deu ao material literário, analisando os recursos utilizados por Almodóvar para traduzir a violência do texto do texto de Jonquet e suscitar fortes emoções em seus espectadores. 38 RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES SIMPÓSIO 1 – O ESPAÇO DO MEDO NO FANTÁSTICO BRASILEIRO: TEMÁTICAS E CONFIGURAÇÕES Coordenadores: Alexander Meireles da Silva (UFG - Câmpus Catalão) Julio França (UERJ) DÚVIDA E MEDO EM O PASSAGEIRO DA NAU CATARINETA: (DES)ORDENS Ana Carolina Bianco Amaral (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) É fato que a literatura fantástica não é uma exclusividade da Europa oitocentista. A difusão dessa literatura ganhou força, também, com a produção ficcional de escritores nacionais, como atua Álvares de Azevedo no período inaugural do fantástico brasileiro. No século XX, o escritor cearense Moacir C. Lopes propaga o gênero no Nordeste, criando um estilo peculiar que, de um lado, caracteriza o medo na narrativa, por outro, a dúvida, ou seja, simultaneamente, o escritor reutiliza aspectos do fantástico tradicional, apoiando-os em elementos típicos do terror. Ainda que para Todorov (2007) o fantástico seja limitado e portanto encerrado no mesmo século de origem, notamos que a hesitação, a característica mais relevante e produtora do gênero, na visão desse teórico, é uma constante no romance O passageiro da nau catarineta (1982), de Lopes. No entanto, a construção desse efeito, na narrativa contemporânea, não surge de forma isolada: ela desenvolve-se por meio de um cenário lúgubre, que tende a suscitar o sentimento de medo no leitor. Haja vista que personagens espectrais, a violência, o ocultismo, a fúria do mar, a noite, dentre outros, conforme articula o espaço da narração, são temas agudos da literatura terror. Assim sendo, pretendemos discutir o engenho desse tipo de hesitação, formado pela (des)ordem da relação entre o efeito de dúvida e de medo, do fantástico contemporâneo, pondo em questão as práticas e os limites dessa variável. Palavras-chave: O passageiro da nau catanireta; Moacir C. Lopes; Fantástico brasileiro; Literatura contemporânea. ONDE MORA O MEDO: A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO DOMÉSTICO EM GASTÃO CRULS Ana Paula Araujo dos Santos (UERJ) O presente trabalho pretende analisar os contos “O Noturno Nº 13”, “Noites Brancas” e “O Espelho”, de Gastão Cruls. Tais contos possuem a particularidade de provocar no leitor o 39 medo artístico, emoção estética suscitada por certas escolhas temáticas e formais inseridas na narrativa. Através delas, o leitor é capaz de se amedrontar sem necessariamente vivenciar uma experiência real de medo. Na elaboração dessa emoção estética, porém, mostra-se de fundamental importância a construção de um espaço adequado ao intento do tema abordado. O ambiente onde o personagem interage com os acontecimentos da narrativa deve ser, também, um dos elementos propícios à produção do medo na história. A partir dessas ideias procura-se compreender a construção desse espaço característico do gênero do medo nos contos de Gastão Cruls: as três histórias apresentam ambientes domésticos, familiares, que sofrerão intervenções de elementos estranhos, nocivos à segurança dos personagens no desenrolar da narrativa. Para tanto, o autor utiliza-se do medo provocado tanto pelo sobrenatural quanto pelo próprio ser humano, e insere-o num ambiente cotidiano, transformando-o, assim, num ambiente estranho. Essa passagem é o que interessa à análise topográfica da composição do medo artístico na obra de Gastão Cruls. Palavras-chave: “O Noturno Nº 13”; “Noites Brancas”; “O Espelho”; Gastão Cruls; Espaço. DURANTE A NOITE A MATA É UM LUGAR PERIGOSO: A TOPOFOBIA EM O SACI, DE MONTEIRO LOBATO Bruno Silva de Oliveira (UFG – Câmpus Catalão) O medo, para alguns críticos como David Roas e H. P. Lovecraft, é um sentimento intrínseco e indispensável na Literatura Fantástica, enquanto que para Tzvetan Todorov, ele é uma sensação recorrente, mas não essencial para a constituição do modo. Teóricos a parte, concorda-se que o medo, através do sobrenatural ou do metaempírico, é utilizado para se instaurar a incerteza e/ou estranhamento, elementos intrínsecos a Literatura Fantástica. O sobrenatural pode ser inserido por diversos meios, seja pelo enredo, pelo narrador, pelas personagens e/ou pelo espaço; sendo este último elemento diegético muito requisitado nos atuais estudos acerca do Fantástico. Quando se pensa em espaço fantástico na Literatura Brasileira logo vem à mente o Sítio do Picapau Amarelo, criado por Monteiro Lobato. Um dos espaços mais insólitos da Literatura, onde tanto as personagens como o leitor são levados a ter um devaneio coletivo por meio da narrativa envolvente de um dos maiores expoentes da Literatura Infanto-Juvenil brasileira. O autor criou personagens iconográficos para a cultura do país, além de reiterar e/ou (re)inventar um imaginário que até hoje é (re)visitado por inúmeros leitores. Uma das obras que na qual o autor toma emprestado o imaginário popular é O Saci (1921), nesta narrativa, o espaço não é o Sítio, um lugar topofílico; pelo contrário, é no espaço topofóbico da mata que os principais acontecimentos ocorrem. Tendo isso em mente, esse trabalho objetivará em discorrer como o medo é instaurado na narrativa e quais recursos fantásticos são utilizados para tal. Palavras-chave: O Saci; Monteiro Lobato; Topofobia. “QUEM TEM MEDO DE FANTASMA? UMA ANÁLISE DO MEDO EM A NOIVA, DE HUMBERTO DE CAMPOS E APARIÇÃO, DE GUY DE MAUPASSANT” 40 Catia Cristina Sanzovo Jota (UEL) Calafrios. Arrepios na espinha. Suor. Paralisação. Tremores. Palpitações. Todos já experimentamos, pelo menos uma vez na vida, essas sensações provenientes do medo. Na literatura, o gênero fantástico é talvez aquele que mais explora esse sentimento devido ao quesito primordial e unânime para que um texto seja considerado fantástico: a instalação devastadora do sobrenatural inexplicável no cotidiano familiar do ser humano. Vários críticos voltaram suas atenções para a literatura fantástica e, consequentemente, para o medo. Dentre eles, destacam-se Tzvetan Todorov, Remo Ceserani, Davi Roas, Howard Phillips Lovecraft e Noël Carroll. Estudiosos de outras áreas também se debruçaram sobre a questão do medo. Os maiores nomes, neste caso, são o do psicanalista Sigmund Freud e do historiador Jean Delumeau. Mas, medo de quê? De acordo com Marilena Chauí, temos medo de quase tudo na vida. No entanto, o medo do desconhecido e da morte estão no topo da lista. O objetivo desse estudo é, portanto, analisar comparativamente o medo dentro dos textos “A noiva”, de Humberto de Campos; e “Aparição”, de Guy de Maupassant. Em ambos os textos percebe-se a aparição fantasmagórica de uma mulher como elemento sobrenatural, tendo como objeto mediador o cabelo feminino. A análise terá seu alicerce teórico construído sobre os estudiosos citados acima, visando responder aos seguintes questionamentos: O medo é constituinte necessário e fundamental para o efeito fantástico das narrativas em questão? Quais as semelhanças e diferenças na constituição do medo de ambos os textos? A escolha da figura feminina como constituinte do elemento estranho é relevante para o afloramento do medo nos protagonistas? Enfim, pretende-se estabelecer uma ponte entre os contos, tendo o medo como fio condutor da investigação. Preparem os gritos, os fantasmas estão à solta. Palavras-chave: “A noiva”; Humberto de Campos; “Aparição”; Guy de Maupassant; Sobrenatural. O ESPAÇO DO DESCARTE NO CONTO “ESPELHO”, DE JOSÉ J. VEIGA Fabianna Simão Bellizzi Carneiro (UFG – Câmpus Catalão) Limitadamente classificado como escritor regionalista, o goiano José J. Veiga nos deixou uma obra que elenca temas do homem contemporâneo, esteja ele vivendo no campo ou na cidade. Esta é a genialidade da escrita de Veiga – seus temas são universais e atemporais, englobando aspectos vários de nossa inserção no mundo. No conto que será analisado, tais aspectos são alegoricamente mostrados através de entulhos e restos que ocupam uma casa demolida. Portanto, objetivamos um estudo do espaço na literatura imbricado aos aspectos morais das personagens. Não se trata de um trabalho conclusivo, mas sim analítico, portanto a metodologia se sustenta em pesquisa bibliográfica e tem como suporte teórico textos de autores como Gaston Bachelard, Irlemar Chiampi, Michel de Certeau, Osman Lins, além de outros que serão devidamente citados ao longo do texto. Esta apresentação está vinculada ao projeto “Fronteiras do Fantástico: Leituras da Fantasia, do Gótico, da Ficção Científica e do Realismo Mágico” e à dissertação: “Onde vivem os monstros: o espaço da alteridade na narrativa fantástica contemporânea”, e tem como autores Fabianna 41 Simão Bellizzi Carneiro, Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de Goiás, bolsista da Capes e participante do Grupo de Pesquisa L.I.M.E.S; e Alexander Meireles da Silva, orientador da pesquisa acima mencionada, professor Adjunto do Departamento de Letras da Universidade Federal de Goiás, líder do Grupo de Pesquisa L.I.M.E.S. e coordenador do projeto “Fronteiras do Fantástico: Leituras da Fantasia, do Gótico, da Ficção Científica e do Realismo Mágico”. Palavras-chave: “Espelho”; José J. Veiga; Espaço. ASPECTOS E EFEITOS DO SOBRENATURAL EM ÁGUA-MÃE, DE JOSÉ LINS DO REGO Isabella Unterrichter Rechtenthal (UNESP –FCL – Araraquara) José Lins do Rego surpreendeu a crítica literária brasileira com a publicação, em 1941, de Água-mãe, romance que foge da temática comum da produção. Ao ambientar a narrativa na representação das margens da lagoa de Araruama, no Rio de Janeiro, o escritor deixa de lado o compromisso com a realidade presente nos romances de cena nordestina para trabalhar o tema do sobrenatural. Proveniente, segundo creem as personagens, da chamada Casa Azul – habitação majestosa que integra o cenário da história –, o poder maléfico e inexplicável está associado a variados acotecimentos trágicos da qual a mansão fora palco, originando, deste modo, um medo coletivo sobre todos os moradores de Araruama, que a evitam para escapar das desgraças que de lá provêm. Abandonada no início do romance, a casa é comprada pela família Mafra, que a reforma e retoma a vida no lugar. Temidos de início pelas famílias de Cabo Candinho e de Dona Mocinha - personagens centrais de Água-mãe - os Mafra estabelecem, aos poucos, contato com os locais, afastando, por um curto período de tempo, a crença no malefício da Casa Azul. Contudo, a superstição volta à tona quando sucessivas desgraças acometem os novos moradores, resultando na volta destes para o Rio de Janeiro e no abandono, consequentemente, da Casa Azul. Embora possível, a força sobrenatural não é confirmada em nenhum momento da narrativa, o que mantém o leitor na hesitação em acreditar ou não na sua existência, aproximando o romance às proposições todorovianas a respeito da literatura fantástica. A localização do malefício na casa pode ser relacionada, ainda, aos castelos sombrios comuns às narrativas góticas, locais em que poderes maléficos e desconhecidos eram associados a histórias trágicas passadas ali ocorridas. Cria-se, deste modo, a atmosfera terrível tal como a define Lovecraft, necessária para a classificação de uma obra como sobrenatural. Cabe, portanto, avaliar os motivos que levaram José Lins do Rego a flertar com um gênero estranho à produção e estabelecer a importância de Água-mãe no conjunto da obra do escritor. Palavras-chave: Água-mãe; José Lins do Rego; Sobrenatural. ONDE SE ESCONDEM NOSSOS VAMPIROS? RASTROS VAMPIRESCOS NA LITERATURA BRASILEIRA DO OITOCENTOS Julio Cesar França Pereira (UERJ) 42 Pesquisas recentes têm demonstrado que o Gótico foi muito mais influente e disseminado na literatura brasileira do século XIX do que sustentaram, por décadas, a crítica e a historiografia literárias tradicionais. Contudo, um personagem arquetípico da literatura gótica europeia praticamente não se faz presente em nossa literatura do XIX: o vampiro. Há várias hipóteses que procuram explicar essa ausência, como a pouca influência, em nossa cultura, da Europa Oriental, principal fonte das lendas vampirescas, e as condições climáticas do país, desfavoráveis para sustentar lendas de cadáveres preservados. De um ponto de vista estritamente literário, porém, é provável que a literatura vampiresca tenha sofrido da mesma dificuldade que a literatura fantástica experimentou no Brasil: a tendência realista de nossos escritores e a preferência da crítica por temas que versassem sobre questões de identidade nacional e afins obstruíram seu desenvolvimento no país. A maior astúcia do Diabo, dizia Baudelaire, é convencer-nos de que ele não existe. Os monstros – os personagens arquetípicos da literatura do medo – são perenes porque são extremamente adaptáveis. Nosso trabalho procura mostrar como se deu a “aclimatação” do vampiro às nossas narrativas ficcionais e propõe rastrear traços vampirescos em quatro obras: “A Mortalha de Alzira” (1894), de Aluísio Azevedo; “Noites brancas” (1920), de Gastão Cruls; “A esteireira” (1898), de Afonso Arinos e “Dentro da noite” (1910), de João do Rio. Palavras-chave: Literatura brasileira; Século XIX; Literatura vampiresca; Gótico. O QUE HÁ DE MONSTRUOSO EM PASSEIO NOTURNO E AMERICAN PSYCHO? – UMA ANÁLISE DO MEDO ARTÍSTICO EM RUBEM FONSECA E BRET EASTON ELLIS. Luciano Cabral da Silva (UERJ) Partindo de uma perspectiva de comparação entre o conto “Passeio Noturno”, de Rubem Fonseca, e o romance American Psycho, de Bret Easton Ellis, o presente trabalho tentará refletir sobre os mecanismos literários utilizados pelos autores para gerar o medo artístico nestas narrativas. Para tanto, utilizarei os conceitos de monstruosidade desenvolvidos por Jeffrey Jerome Cohen e Noel Carroll, assim como os ensaios de Zygmunt Bauman e Fred Botting. Patrick Bateman é um jovem negociante de Wall Street. Sendo bonito, educado e inteligente, ninguém parece acreditar que o protagonista autodiegético de American Psycho seja um cruel e misógino homicida, capaz de machucar, torturar e matar com tanta perversidade e frieza. Do mesmo modo, se, durante o dia, o protagonista de “Passeio Noturno” é um ordinário pai de família e homem de negócios, à noite, ele encarna um assassino letal ao dirigir seu Jaguar preto. Segundo Noel Carroll, o efeito de horror artístico é conseguido pela combinação entre reação de medo à ameaça do monstro, de repulsa, repugnância e náusea. No entanto, bem diferente dos repulsivos monstros que povoam as histórias de horror, a presença dos protagonistas destas narrativas não causa qualquer reação de medo ou repugnância nas outras personagens. Se estes protagonistas não são medonhos e repulsivos como os monstros que comumente lemos, o que os tornaria monstruosos? 43 Palavras-chave: “Passeio Noturno”; Rubem Fonseca; American Psycho; Bret Easton Ellis; Medo artístico; Monstros. MEDO E TERROR NA NARRATIVA CONTEMPORÂNEA: A HISTÓRIA CONTADA PELA JANELA Luzia A. Oliva dos Santos (UNEMAT/Sinop) Seguindo o eco das questões postas no resumo deste simpósio, pretende-se aqui apresentar a obra Correspondências (2012), de Santiago Villela Marques, escritor contemporâneo que transita pelos bosques do fantástico. As respostas serão, de maneira especial, buscadas por meio da leitura do conto “Hora de dormir”, em que a presença da ave denominada Iacurutu (Bicho Tutu) promove o encontro de imagens ambivalentes do imaginário do personagem Danilo. Iacurutu, ave noturna, torna-se “conversador” com o menino que, do lado de dentro de seu quarto, aventura-se pelos enigmas apresentados nas histórias contadas pela ave por meio do vidro da janela. Do lado de fora, há um mundo a ser descoberto, oriundo da fantasia impressa na narrativa da ave; do lado de dentro do quarto, um universo mítico transubstanciado na figura opressora do pai de Danilo, ao molde do “bicho-papão”, recorrente nas histórias infantis desde sua gênese. O entrelaçamento do sentido que se eleva desse encontro aponta para o terror suscitado pelos dois espaços. Enquanto o espaço físico desenha a figura do medo configurada a partir da imagem paterna com “seu estupro de portas”, o simbólico se esbate entre as fronteiras da verossimilhança interna da narrativa e o universo imaginário impresso na figura da ave que visita o personagem à noite. Os dois polos, dentro e fora, realidade interna e elemento fantástico, nutrem a temática do medo e provocam a inquietação do leitor ao ser enredado na incapacidade de visualizar o possível na narrativa da ave, ao mesmo tempo em que o impele a identificar-se com o personagem. Palavras-chave: Correspondências; “Hora de dormir”; Santiago Villela Marques; Literatura contemporânea. A PROSA DETETIVESCA E A PRESENÇA DO FANTÁSTICO EM MACHADO DE ASSIS Mariana Burin (USP) Este trabalho tem a intenção de analisar a faceta contista de Machado de Assis, a partir da vertente policial e fantástica, utilizando como base para este fim o conto “Os óculos de Pedro Antão” (1874). Pretende-se também, apresentar elucidações em torno do fantástico, de que forma o gênero é trabalhado por autores que com ele se envolvem e o fascínio que essas narrativas de mistério exercem sob o leitor. Na narrativa “fantástica/ policial” a ser analisada, “Os óculos de Pedro Antão”, observaremos o diálogo com as histórias “extraordinárias” de Edgar Allan Poe (de quem Machado era admirador confesso) e o diálogo com tantos outros grandes nomes da literatura pertencentes ao gênero. Avaliaremos ainda, que Machado, à maneira do autor de O corvo e mestre do gênero em questão, 44 também desloca o sobrenatural para o eixo lógico e racional, reduzindo a narrativa ao “quase-macabro”. Palavras-chave: “Os óculos de Pedro Antão”; Machado de Assis; Edgar Allan Poe; Narrativa fantástica; Narrativa policial. O MEDO OCASIONADO PELA FIGURA DO DIABO NA OBRA “MACÁRIO” DE ÁLVARES DE AZEVEDO Nathália Hernandes Bergantini (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) O medo é uma característica considerada de grande importância para a caracterização do Fantástico. O medo está, com frequência, ligado ao fantástico, como coloca Tzvetan Todorov em Introdução a Literatura Fantástica. Outro teórico que trata deste assunto, David Roas, é ainda mais firme nesta questão, segundo o autor em Tras los límites de lo real. Una definición de lo fantástico, o medo é uma condição necessária para a criação do fantástico. Levando em conta as ideias defendidas pelos dois teóricos, podemos nos deslocar ao contexto do Brasil, neste caso um contexto mais antigo, da época do Romantismo brasileiro e ter como foco a peça de teatro de Álvares de Azevedo: “Macário”. Esta peça nos conta a história do jovem Macário, que se vê envolvido com o diabo em pessoa; temos ai uma atmosfera de medo, o medo de que fala H. P. Lovecraft em O horror sobrenatural em literatura, que é o medo do desconhecido; pois ainda que a figura do diabo seja muito conhecida na religião, não faz parte do nosso cotidiano nos defrontar com a própria criatura no plano material. Assim, pretendemos nesta comunicação, debater a questão do medo em “Macário”, de como este medo é trabalhado dentro da obra, de como a figura do diabo é utilizada para criar esta atmosfera de medo, e também analisaremos esta figura tão polêmica e ameaçadora: o diabo; além disso, trataremos de alguns diálogos existentes entre “Macário” e outras obras literárias. Faremos uso principalmente das teorias de David Roas e Tzvetan Todorov, para responder a estas questões. Palavras-chave: Álvares de Azevedo; “Macário”; Diabo. A CONFIGURAÇÃO DO MEDO EM O CORONEL E O LOBISOMEM Paula Cristina Piva (UNESP –FCL – Araraquara) Depois de 25 anos de seu primeiro romance, José Cândido de Carvalho publica O coronel e o lobisomem. Por ter sido lançado no ano do golpe militar, não é fortuita a escolha desse momento para falar de um coronel e sua decadência. Ponciano de Azeredo Furtado, todavia, é um tipo diferente dos outros coronéis que aparecem na literatura brasileira. Ponciano tem grande respeito pelos pobres e injustiçados e luta com coragem por eles. No subtítulo, Deixados do Oficial Superior da Guarda Nacional, Ponciano de Azeredo Furtado, natural da praça de São Salvador de Campos dos Goitacazes, existe a tentativa de fazer o leitor pensar que não se trataria de uma obra de ficção, mas de “deixados”, 45 portanto de notas autobiográficas deixadas pelo coronel que intitula o romance. As recordações do coronel são entrelaçadas com os mitos mais consagrados do folclore brasileiro e universal como o da sereia, da onça e o do lobisomem, com a particularidade de que o narrador torna-se herói dessas histórias. Pelos diálogos irônicos e debochados do coronel, o maravilhoso é naturalizado, suspendendo-se a dúvida sobre o insólito do narrado. Em todos os episódios em que Ponciano pretende enfrentar os seres sobrenaturais sobrevêm incidentes que despistam o confronto. Também não passa despercebido que o coronel se lança por essas peripécias, na maioria das vezes, em estado próximo do sono. Tais evidências fazem o leitor duvidar da veracidade de suas aventuras, principalmente porque o próprio protagonista afirma que é “de muito inventismo, um danado em fazer parolagem”. Em paralelo com a coragem do coronel, essa comunicação pretende discutir como o medo se expressa em meio à aura de encantamento e humor que percorre a obra-prima de José Cândido de Carvalho. Palavras-chave: José Cândido de Carvalho; O coronel e o lobisomem; Mitos; Folclore brasileiro e universal. UM PASSEIO PELO SERTÃO: AS FRONTEIRAS DO MEDO NA LITERATURA NACIONAL Pedro Puro Sasse da Silva (UERJ) No âmbito dos estudos da literatura do medo nacional encontramos, com certa frequência, três principais espaços narrativos: a selva, cheia de seus mistérios e encantos, ambiente propício para o irromper do medo sobrenatural; a metrópole, onde o confinamento urbano faz florescer os medos naturais, os medos do Outro, de assaltos, assassinatos, sequestros; e o sertão, espaço pródigo em narrativas tanto de temática sobrenatural quanto natural. O presente artigo visa justamente à análise do híbrido espaço sertanejo na literatura do medo, a fim de caracterizá-lo como local limítrofe entre o ambiente do medo natural e o ambiente do medo sobrenatural. Para tanto, utilizaremos os contos “Assombramento”, “A esteireira”, “A garupa” e “Feiticeira”, do escritor mineiro Afonso Arinos. Pretende-se, assim, mostrar como a própria configuração espacial do sertão – sua urbanização precária, a pouca densidade populacional, o entorno muito mais selvagem do que o que das grandes cidades – propicia esse caráter dual ao espaço. Nas narrativas analisadas, observaremos como, em um mesmo ambiente, há a mescla entre o medo sobrenatural, construído, principalmente, a partir do imaginário popular, dos “causos” fantásticos, e o natural, notável pela presença da violência dos personagens de natureza agreste, típicos do sertão. Palavras-chave: Afonso Arinos; Configuração espacial; Sertão; Imaginário popular. FESTINS DIABÓLICOS: A IRRUPÇÃO DO GROTESCO EM ESPAÇOS FESTIVOS NA LITERATURA BRASILEIRA Raphael da Silva Camara (UERJ) 46 Universal em sua manifestação, o grotesco é um efeito estético peculiar que, por vezes, caracteriza o personagem arquetípico da literatura do medo: o monstro. Monstruosidades ficcionais, em geral, funcionam como autênticas alegorias do mundo, corporificando práticas e comportamentos interditos e violando conceitos de ordenação humanos. As monstruosidades grotescas também causam repulsa e horror, ao cruzarem as fronteiras da normalidade, mas também provocam riso e desejo, por evocarem intensas fantasias de fuga e rebaixamento da imposição normativa. Para que a irrupção do ser grotesco aconteça, fazse necessário um espaço e um contexto situacional propícios à sua manifestação, onde os limites entre a elevação e a degradação não estejam bem demarcados. Por excelência, os espaços festivos e populares tornam-se os ideais para a manifestação do grotesco, uma vez que neles há a suspensão momentânea da ordem. Prevalece em seus domínios o princípio da vida material e corporal, com a manifestação das necessidades naturais, físicas e sexuais de maneira incontida. São nesses espaços em que o ser grotesco funde-se com o povo, formando um corpo único, sem fisionomia ou identidade conhecidas e projetando todos os seus aspectos de maneira exagerada e hipertrofiada, causando – nas personagens e no leitor – esse jogo de atração e repulsão inerentes à sua imagem. Ao analisar obras pertencentes à literatura do medo brasileiras que causam o efeito grotesco no leitor, percebemos que os espaços festivos e populares marcam presença significativa. Adaptados ao contexto nacional, eles permitem a aparição de monstruosidades grotescas que corporificam a transgressão dos padrões sociais e culturais de determinada época e lugar em nosso país. Assim, o presente trabalho visa estabelecer as relações existentes entre os seres grotescos e os espaços que propiciam sua irrupção no âmbito da literatura brasileira, utilizando narrativas de Inglês de Sousa, João do Rio e Monteiro Lobato como corpus de análise. Palavras-chave: Inglês de Sousa; João do Rio; Monteiro Lobato; Espaço; Grotesco; Monstuosidades. DE QUAL TIPO DE MEDO ESTAMOS FALANDO? MODALIDADES DO MEDO NO CONTO “SEM OLHOS” DE MACHADO DE ASSIS Ricardo Gomes da Silva (UNESP –FCL – Araraquara) O conto “Sem olhos”, publicado no Jornal das Famílias em 1876, nos incita a algumas reflexões acerca do medo, à medida que explora amplamente o sentido do termo. No conto estão reunidos na casa dos Vasconcelos, além dos anfitriões, o casal Maria do Céu e Bento Soares e mais dois personagens, o Bacharel Antunes e o Desembargador Cruz. Sendo que este último senhor, a princípio, parece estar interessado em causar medo aos demais convivas ao contar-lhes uma história acerca de fantasmas. Contudo, ao final do conto é possível perceber que tal história se tratava, na verdade, de um subterfugio de Cruz para causar medo especificamente em uma personagem: Maria do Céu, que trocava gracejos com Bacharel Antunes. Ou seja, neste conto Machado de Assis parte, inicialmente, da noção de medo relacionada ao sobrenatural e caracterizada pela alusão a fantasmas, com a finalidade de chegar à outra modalidade de medo: o medo moral, associado a uma possível inclinação à infidelidade. Maria do Céu, que perante o anúncio do início da narrativa sobre fantasmas exclamara “Não tenho medo de nada nem de ninguém”, ao final estremece e se 47 recua num canto, amedrontada com a possibilidade dos demais perceberem a indireta lançada pelo Desembargador Cruz. Em meio a esta narrativa difusa do conto “Sem olhos”, buscaremos refletir sobre a articulação feita por Machado de Assis com a significação da noção de medo e como esta parece, num primeiro momento, ir em direção a sobrenaturalidade - tão típica nos contos fantásticos da época - mas escapa pela tangente, para aludir a outro tipo de medo mais palpável e real. Palavras-chave: Machado de Assis; “Sem olhos”; Sobrenatural; Medo moral. VISAGENS NO SERTÃO: O MEDO NA OBRA DE ARIANO SUASSUNA Solange Peixe Pinheiro de Carvalho (USP) O Romance d’A Pedra do Reino (1971), obra em prosa de Ariano Suassuna, se caracteriza pela forte mescla de elementos da cultura popular nordestina e da cultura ibérica medieval trazida para o Brasil pelos colonizadores portugueses, sobretudo as novelas de cavalaria. E é destas – mais especificamente, da Demanda do Santo Graal, uma das obras mais importantes da literatura medieval – que o autor paraibano vai retomar um de seus elementos mais significativos, a Besta Ladradora, adaptando-a à realidade brasileira e transformando-a na Besta Bruzacã, que assombra o sertão nordestino, e na Onça Mijadeira, que aparece na cidadezinha de Taperoá, cenário da narrativa suassuniana, configurando assim duas vertentes aparentemente opostas no contexto do Romance, o fantástico (Besta) e o concreto (Onça); engendrando o medo e subvertendo os valores da Demanda, produzindo a paródia que leva ao riso, em uma narrativa centrada em questões concretas, como a situação política do país nas primeiras décadas do século XX e a presença do mito sebastianista na cultura nordestina. Por meio dessas tendências, podemos observar como Suassuna utiliza esses elementos para fixar de forma profunda sua narrativa no ambiente nordestino, e, ao mesmo tempo, sem perder de vista sua fonte, a Demanda. Com este trabalho pretendemos, portanto, analisar a presença do medo e do fantástico no texto suassuniano, relacionando-os à paródia e ao riso, e observar como essa junção de elementos auxilia a compor uma novela de cavalaria brasileira do século XX. Palavras-chave: O Romance d’A Pedra do Reino; Ariano Suassuna; Novelas de cavalaria; Paródia; Riso. O MEDO – ELEMENTO DE CONFIGURAÇÃO DO FANTÁSTICO NA NARRATIVA DE MACHADO DE ASSIS Valdira Meira Cardoso de Souza (UESB) A definição de literatura fantástica apresenta complexidade porque há uma fecundidade que a envolve em diversas literaturas. Esta proposta tem por objetivo discutir e refletir concepções do gênero fantástico, especialmente alguns critérios que são caros ao estudo do gênero, a saber: a presença do sobrenatural em um mundo familiar, a questão da ambiguidade que envolve o gênero, o medo e o terror como elementos para a configuração 48 do fantástico na literatura. Para realização desta proposta, selecionamos a narrativa “Sem olhos” do escritor Machado de Assis, texto publicado originalmente no Jornal das Famílias, dezembro de 1876. Machado de Assis revela interesse pela narrativa fantástica já em suas primeiras produções literárias, linha que percorrerá vários de seus textos a exemplo de “O país das quimeras” (1862 no Futuro), “Uma excursão milagrosa” (1866) reaproveitada de “O país das quimeras,” “Um esqueleto”, (Jornal das Famílias, 1875), “Sem olhos” (1876), “A chinela turca” (Papéis avulsos, 1882), “A igreja do diabo” (1883) “Entre santos” (1886), “Ideias do canário” (Páginas Recolhidas 1899) entre outras. A narrativa “Sem olhos” pode ser inserida no domínio do conto fantástico posto que há elementos que a aproximam desse gênero, conforme veremos. Para a realização do estudo proposto abordaremos concepções de literatura fantástica com base nos estudos desenvolvidos por T. Todorov, H. P. Lovecraft, Filipe Furtado, José Paulo Paes, R. Ceserani, David Roas, entre outros. Certamente a presença do “medo” como critério para a configuração do fantástico na literatura será identificada no conto selecionado para este estudo. Palavras-chave: “Sem olhos”; Machado de Assis; Conto fantástico. SIMPÓSIO 2 – O FANTÁSTICO CONTEMPORÂNEO: LITERATURA, CINEMA E OUTRAS ARTES Coordenadores: Ana Maria Carlos (UNESP- FCL- Assis) Wellington Ricardo Fioruci (UTFPR - Pato Branco) O DEFENSOR DO ESTERCO: CONTOS ESCLARECIDOS (DER HÜTER DES MISTHAUFENS: AUFGEKLÄRTE MÄRCHEN) Alceu João Gregory (UNESP – FCL – Assis) O autor alemão Peter Rühmkorf publicou em 1983 uma coletânea de contos modernos com o nome O defensor do esterco: contos esclarecidos. Como o livro não se encontra traduzido para o português, objetivamos apresentar em linhas gerais o conteúdo do mesmo. Peter Rühmkorf, nascido em 1929, figura entre os mais importantes líricos e ensaístas da literatura alemã contemporânea, dedicou-se nos últimos anos também à prosa. Em sua coletânea de sete contos serve-se do antigo gênero "contos fantásticos" para trazer ao leitor as suas experiências e esperanças. Nos Contos esclarecidos a lógica se mistura entre o fantástico e o maravilhoso. Os contos estão repletos de alusões e exageros. Percebe-se neles o gosto do autor pela fábula. Já nos títulos “O defensor do esterco”, “A última viagem do Barba Azul”, “Chapeuzinho Vermelho e o Pele de Lobo”, entre outros, insinuam provocações que remetem a ironias em relação ao contexto social e político da atualidade. Neste sentido, queremos investigar como e em que medida a crítica à sociedade moderna se faz presente nos textos e quais os recursos estilísticos utilizados pelo autor para construí-la. Palavras-chave: Peter Rühmkorf; Contos esclarecidos; Elementos do fantástico; Crítica social. 49 NONSENSE E QUADRINHOS: INFLUÊNCIA DO GÊNERO NAS TIRAS DO QUADRINISTA LINIERS Ana Cláudia e Silva Xavier (PUC-Minas) O nonsense, além de ser um dos estilos literários mais inovadores, é também um dos mais influentes. Muito da literatura do século XX, movimentos como o Dadaísmo e o Surrealismo e obras filosóficas de autores como Sartre e Deleuze se inspiraram no gênero iniciado por Lewis Carroll e Edward Lear. Mas a influência desses autores vai ainda além, chegando até mesmo aos quadrinhos. A tira Macanudo, do argentino Liniers, traz diversas características do nonsense que fazem com que ela se destaque entre trabalhos semelhantes e tenha um humor diferenciado. Em suas tiras, Liniers introduz algumas das características mais básicas do nonsense. Seus personagens frequentemente lidam com problemas para se ajustarem a seus ambientes e vivem entre uma realidade e uma ficção próprias, tendo amigos imaginários ou características corporais absurdas. Ele cria tiras que abordam temas sociais e culturais de forma irreverente e crítica, retratando o processo criativo de Quentin Tarantino em um Mc Donalds e um vampiro que não consegue se adaptar ao padrão de sex symbol desses personagens. Porém, o que mais diferencia Liniers de outros quadrinistas é a forma como ele altera a estrutura tradicional e básica dos quadrinhos. Ele utiliza os quadros das tiras para criar um sentido próprio, criando uma condição estética que favoreça os acontecimentos se desenvolvendo na tira. Para retratar a rotina do super herói Capitán Déja Vu, a tira se torna quase circular, indicando um ciclo que se repete. Em outra tira, um duende confuso caminha entre quadros de diversos formatos perguntando o que havia acontecido com as estruturas. Ao encontrar outro duende este diz que não houve nada, mas que os quadros ficam lindos dessa forma. Assim, as características presentes no trabalho de Liniers ecoam os trabalhos de Carroll e Lear, introduzindo o nonsense em uma área onde ele raramente é visto. Palavras-chave: Nonsense; Liniers; Quadrinhos; Macanudo . "MONÓLOGO INTERIOR DE UM E-BOOK" E COISAS DO OUTRO MUNDO: A CRÍTICA SOCIAL NO FANTÁSTICO ITALIANO CONTEMPORÂNEO Ana Maria Carlos (UNESP – FCL – Assis) Como afirma Silvia Zangrandi, em texto sobre o fantástico contemporâneo, o gênero não objetiva mais aterrorizar o leitor, como faziam as narrativas fantásticas tradicionais, e sim deixá-lo atônito, uma vez que o absurdo e o insólito das situações descritas são, na verdade, plenamente plausíveis. Apesar dessa forma de fantástico ser pautada pela ironia e pelo jogo, ela acaba projetando na obra em que se manifesta uma sombra de incerteza. As duas narrativas abordadas aqui, o conto “Monólogo interior de um e-book” (2003), de Umberto Eco, e o filme Cose dell'altro mondo (2011), de Francesco Patierno, pertencem a esse tipo de fantástico contemporâneo, mais ligado à crítica e à sátira social. Umberto Eco, amante 50 confesso do livro de papel, cria um conto cujo narrador é um e-book, animando, dessa forma (como era comum no fantástico tradicional), um objeto inerte que adquire vida e pensamento próprio. Mostrando as desventuras desse livro eletrônico, Eco mostra-se incerto sobre seu destino: "seremos mais afortunados que nossos antepassados? Não tenho muita certeza", pergunta-se, em um trecho, seu e-book pensante. Francesco Patierno, por sua vez, irá trabalhar com um dos "fantasmas" da Itália, assim como de grande parte da Europa atual, e que diz respeito à questão dos imigrantes. Cose dell'altro mondo, filme de 2011, apresenta uma Itália na qual, por um acontecimento inexplicável ocorrido após uma terrível tempestade, todos os "extra-comunitários" desaparecem. As consequências do fato insólito, como se pode imaginar, são desastrosas. É nossa intenção observar essas duas narrativas a fim de apresentar algumas características do fantástico italiano do século XXI. Palavras-chave: Umberto Eco; “Monologo interiore di un e-book”; Francesco Patierno; Cose dell'altro mondo; Fantástico contemporâneo. MUTABILIDADE DO PASSADO E RECONFIGURAÇÃO DA REALIDADE: UM DIÁLOGO INTERTEXTUAL ENTRE 1984 DE GEORGE ORWELL E 1Q84 DE HARUKI MURAKAMI. André Felipe de Sousa Almeida (USP) Em 1984 (Orwell, 1949), o princípio da mutabilidade do passado é um dos alicerces do Ingsoc - regime totalitário pautado na entidade mítica do Grande Irmão. Nesse universo ficcional, a história é constantemente reescrita, possibilitando o controle da realidade do presente e do passado. Orwell resume esse princípio na célebre passagem "Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado." Em 1Q84 (Murakami, 2009), obra assumidamente inspirada no clássico de Orwell, a realidade do ano de 1984 apresenta recorrentes anomalias em razão da mutação de acontecimentos passados: o que uma vez fora, deixou de ser; o que não fora, passou a ser. Essa reconfiguração da realidade permite a criação de um “mundo novo” fantástico –1Q84–, habitado por seres irreais, e onde no céu veem-se duas luas. Há de se questionar, todavia, até que ponto essas nova realidade pode ser fruto da memória coletiva ou individual dos personagens. Essas e outras questões referentes à temporalidade e realidade ficcionais serão discutidas no presente trabalho, através de um diálogo intertextual entre 1984 e 1Q84. Propor-se-á, nesse sentido, uma reflexão sobre o princípio de mutabilidade do passado e seu emprego como mecanismo de reconfiguração da realidade em ambas as obras. O estudo comparativo desses romances tem como objetivo revelar como se realiza essas representações e investigar, do ponto de vista teórico-literário, como as mesmas funcionam. Palavras-chave: Literatura fantástica; Haruki Murakami; George Orwell; 1Q84; 1984. O IMAGINÁRIO SOBRENATURAL JAPONÊS HABITANDO OS MODERNOS MANGÁS - O EXEMPLO DE XXXHOLIC Anielle Miranda Yanaguiya (USP) 51 É de conhecimento geral a vastidão cultural da parte oriental do globo onde suas civilizações perpetuam por milhares de anos de existência e desenvolvimento; vastidão esta a qual se ramifica e se expande progressivamente e que apesar da modernização das mídias e facilidades de intercâmbios, seja físico ou informacional, países como o Japão alimentam e mantêm sua poderosa base firme através, por exemplo, de celebrações de festivais sazonais que datam do período Heian ( 794-1185 d.C.), conservação e manutenção de arquiteturas dos tempos de guerra do período Sengoku (metade do século XV e o início do século XVII), vestimentas, mesmo não comumente utilizadas, do período Edo (1603-1868) ou na simples transmissão oral de histórias que datam antes mesmo da escrita tomar seu lugar. Neste trabalho proponho dissertar e relacionar duas destas raízes, sendo que a primeira delas diz respeito ao folclore nipônico muito influenciado pelo xintoísmo e budismo, tratando mais especificamente sobre o que tange as criaturas fabulosas que habitam o imaginário. A segunda abrange um ponto de propriedade dos tempos modernos, embora seus primórdios se localizem a onze séculos de distância, o mangá. Para tal propósito fora selecionada a obra xxxHolic (CLAMP, publicado no Brasil dela Ed. JBC de 2006 a 2001) e analisado todos os seres clássicos do imaginário nipônico (posteriormente adicionados itens que transpassam tal classificação de ‘’ser’’, porém permanecendo no sobrenatural imaginário criando, portanto, uma segmentação) além da disposição das linhas históricas de ambas as pontas, ligando passado e presente, extraindo as possibilidades e vantagens desta união que a primeira vista parece incoerente, sempre procurando exemplificações de outras obras preferencialmente dentre aquelas disponibilizadas ao público brasileiro. Palavras-chave: Sobrenatural; Imaginário; Mangá; Japão; Fantástico. O MITO DO DUPLO E SUA PRESENÇA NO FILME CISNE NEGRO Carlos Felipe da Silva dos Santos (UNESP – FCL – Assis) Lançado em 2010, o filme Cisne Negro, dirigido por Darren Aronofsky, vem provocando emoções dos espectadores, seja por seu caráter artístico cinematográfico ou pela trama psicológica que rege a vida da protagonista Nina, interpretada pela atriz Nicole Portman. O enredo tem como base principal o conto “O lago dos cisnes”, escrito pelo alemão Johan Karl August Musäus no século XVIII que foi, posteriormente, transformado na obra musical homônima pelo compositor Tchaikovsky. Desde a sua origem como conto, pode-se perceber certa dualidade na trama: somos transportados ao mito literário do duplo, o qual se aplica, com excelência, na análise do filme quanto ao seu caráter fantástico, o embate entre o cisne branco e o cisne negro. Essa "teoria do espelhamento" ou mito do duplo é muito recorrente na literatura fantástica, como por exemplo, nos contos "Willian Wilson", "O gato preto" e "A queda da casa de Usher", de Edgar Allan Poe, e também no romance O duplo, de Dostoiévski. Há em Nina dois tipos de duplos: um interno e outro externo. Lutando contra si mesma para poder interpretar perfeitamente o cisne negro, assim como o faz a rainha dos cisnes, ela oscila entre momentos de lucidez e de descontrole diante de situações tensas, fato que a leva ao seu grande momento final como bailarina. Palavras-chave: Cisne Negro; Duplo; Mito Literário; Cinema; “O lago dos cisnes”. 52 METAMORFOSE, FABULAÇÃO E A REESCRITA FANTÁSTICA EM MURILO RUBIÃO Cinthia Lopes de Oliveira (CES/JF – SMC) Este estudo apresenta a metamorfose como elemento temático e metalinguístico nos contos de Murilo Rubião. Tem por finalidade apresentar aspectos da obra rubiana de caráter tanto interno quando externo que realçam a sua condição fantástica, tais como a intertextualidade das citações bíblicas e a constante reelaboração linguística. Essas características podem ser observadas, por exemplo, em contos como “O ex-mágico da Taberna Minhota” e “O pirotécnico Zacarias” cujas temáticas abordam a fabulação da metamorfose e a impossibilidade da convivência decorrente da inapreensibilidade humana. Tais elementos seriam determinantes na classificação de modernidade do gênero fantástico em Rubião. Nesses contos, podem ser observadas, ainda, características internas da obra do escritor como a reescrita dos contos, a intertextualidade epigráfica e a escrita cíclica. Sob o véu da fantasticidade, os contos revelam reflexões existenciais com as quais os leitores podem se identificar. Por meio da indiferença e da estagnação de algumas personagens dos contos, revela-se o inconformismo dos indivíduos e a dificuldade dos relacionamentos sociais. Por fim, conclui-se que o Fantástico é um véu da literatura que permite um posicionamento crítico diante dos acontecimentos. A fabulação natural do ser humano lhe dá capacidade, portanto, de construir realidades alternativas que espelhem novas significações para as relações entre o indivíduo e a sociedade. Palavras-chave: Fabulação; Fantasticidade; Fragmentação; Metalinguagem; Metamorfose; Murilo Rubião. ELEMENTOS FANTÁSTICOS EM AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE, DE JOSÉ SARAMAGO Cleomar Pinheiro Sotta (UNESP – FCL – Assis) Em suas considerações sobre a literatura fantástica, Tzvetan Todorov (1975) aponta que uma das marcas de tal gênero reside no fato de surgir, em meio à representação de um mundo que nos é familiar, algo que não possa ser explicado pelas leis que regem esse mesmo mundo. Semelhante posicionamento é o de Castex (1951), ao afirmar que o fantástico é marcado pela introdução do mistério em cenas da vida real. Em As intermitências da morte (2005), de José Saramago, pode-se observar a concretização destas ideias. A narrativa relata o momento em que a morte, tão temida e odiada pela humanidade, decide deixar de atuar em um país não identificado, bem como todos os problemas decorrentes desta decisão, afetando profundamente vários segmentos da sociedade. Tempos depois, a morte decide voltar ao trabalho, porém, desta vez, avisando suas vítimas por meio de uma carta enviada sete dias antes de tomar a vida a alguém. Ocorre, contudo, que uma dessas cartas, endereçada a um violoncelista, é devolvida ao remetente, obrigando a morte a personificar-se, ganhando a aparência de uma mulher, a fim de averiguar quem é o ser que 53 foi capaz de adiar o seu derradeiro momento, por quem ela acaba se apaixonado. Como se pode notar, o pano de fundo da narrativa é a imitação do mundo em que vivemos, que repentinamente é surpreendido pela morte, a qual todos sempre tomaram como algo de que não se pode escapar, apresentada como intermitente. Nesta linha, o propósito desta comunicação é identificar alguns dos elementos do fantástico que permeiam o texto, mostrando sua contribuição para a configuração estética da obra. Palavras-chave: Morte, As intermitências da morte, Literatura fantástica, José Saramago. UMA APROXIMAÇÃO AO FANTÁSTICO NA RELEITURA DA HISTÓRIA EM “CARNIVÀLE” Flavio Pereira (UNIOESTE – Foz do Iguaçu) Carnivàle é o título de uma série de TV produzida pela HBO para o mercado estadunidense, cuja trama se passa durante a Grande Depressão e o Dust Bowl, em duas temporadas exibidas entre 2003 e 2005, num total de 24 episódios. Mesmo tendo sua duração prevista reduzida em quatro temporadas, a série foi vencedora de cinco Primetime Emmy Awards e lançou um novo paradigma de narrativa seriada. No Brasil, foi transmitida somente pelo SBT entre os canais abertos. Ao acompanhar a trajetória de dois grupos de personagens, um dos quais agrupado em torno à trupe itinerante de circo denominada Carnivàle e outro em torno ao pregador metodista irmão Justin Crowe (interpretado por Clancy Brown, ex-vilão de Highlander), a série vincula o devir histórico a um enquadramento fantástico-apocalíptico de luta entre o Bem e o Mal. Nesta primeira aproximação, pretendemos nos valer da categoria do fantástico e do subsídio crítico legado pelas reflexões de Northrop Frye na Anatomia da Crítica (1973), The secular scripture (1978) e O código dos códigos: a Bíblia e a Literatura (1982) para analisar de que forma se entretecem na trama as relações entre a história e a fantasia, bem como alguns efeitos de sentido gerados por esta proposta original de composição narrativa. Palavras-chave: Carnivàle; Literatura, história e fantástico; Crítica dos modos; Crítica dos mitos; Northrop Frye. SOBRE “LEAF BY NIGGLE”, DE J.R.R. TOLKIEN Guilherme Magri da Rocha; Sérgio Augusto Zanoto (UNESP – FCL – Assis) Seja entre estudiosos, seja entre o público, não há uma conformidade sobre o gênero fantástico. Os textos de J.R.R. Tolkien são diferentes, em diversos aspectos, por exemplo, daqueles produzidos por outros autores, também consagradores daquilo que hoje entendemos como literatura fantástica, como Edgar Allan Poe, George MacDonald, Lewis Carroll, entre outros. O texto “On fairy stories” foi escrito, inicialmente, para uma conferência na Universidade de St. Andrews e nele há ideias do professor sobre o gênero da fantasia (chamado por ele de “fairy-stories”). Nesta comunicação, discutiremos alguns 54 conceitos do ensaio, tendo como base exemplificativa o conto “Leaf by Niggle” (“Folha por Niggle”), também do autor. Palavras-chave: Literatura fantástica; J.R.R. Tolkien; Fairy-stories. O ABSURDO EXISTENCIAL NA OBRA DE MURILO RUBIÃO Guilherme Sardas (PUC-SP) A percepção de que algumas narrativas do contista mineiro Murilo Rubião (1916-1991) são absurdas deve-se muito à dimensão existencial e metafísica de sua obra. Ou seja, longe de serem narrativas absurdas, porque sem sentido, são, na verdade, repletas de índices que permitem uma leitura de teor existencial. Pode-se dizer, portanto, que não são narrativas absurdas, mas sobre o absurdo. Mas, o que é o absurdo? Este trabalho visa investigar como algumas destas narrativas podem ser interpretadas a partir do conceito de absurdo presente no pensamento filosófico de Albert Camus, no ensaio "O Mito de Sísifo", e de alguns conceitos do existencialismo sartreano, associação esta já sinalizada por parte da crítica, mas pouco aprofundada até aqui. Um edifício planejado para ter "ilimitado número de andares", uma fila que distancia cada vez mais o cidadão de seu intento, um mágico desencantado no escritório burocrático, um homem que deixa o lar para acompanhar o irmão errante transformado em dromedário etc. Analisando algumas destas narrativas, o trabalho pretende investigar as personagens murilianas, tendo como referência a figura mitológica de Sísifo, que, para Camus, é o legítimo "herói absurdo". Até que ponto as criaturas murilianas também podem ser entendidas como "heróis absurdos", verdadeiros Sísifos modernos? Ao que se refere ao existencialismo sartreano, que tipo de semelhanças a obra de Rubião traz em relação ao pensamento do filósofo francês? Conceitos existencialistas como o "absurdo", a "má-fé", entre outros, têm ressonância na obra de Rubião e podem ajudar no entendimento de sua obra. Por fim, tendo em vista a dificuldade de definição de gênero narrativo na obra do autor, tão versátil no uso das formas do fantástico, o trabalho visa introduzir uma discussão: como o conceito de absurdo, extraído da filosofia, pode auxiliar na discussão de gênero na obra de Murilo Rubião? Palavras-chave: Absurdo; Fantástico; Murilo Rubião; Camus; Sartre; Sísifo. A METAFICÇÃO NA FANTASY DE WALTER MOERS Laura Alves do Prado (USP) É bastante significativo o número de best-sellers publicados nos últimos 10 anos em diversos países que tem a própria literatura como temática central. Seja a leitura, os livros, os escritores, os editores, ou até mesmo os próprios leitores, nota-se uma tendência pósmoderna em tratar da literatura nela mesma. Levando, muitas vezes, o público-leitor para dentro de um universo fictício construído e inventado de maneira complexa, muitas dessas obras enquadram-se no subgênero da Fantasy. 55 O presente trabalho pretende discutir elementos constitutivos da desse subgênero da literatura fantástica a partir de um sucesso editorial alemão publicado em 2004: “Die Stadt der träumenden Bücher” (“A cidade dos livros que sonham”), de Walter Moers. Trata-se aqui de um romance metaficcional, que, além de uma jornada com muitas aventuras, perigos, criaturas inusitadas e cenários desconhecidos; apresenta ao seu leitor referências, reflexões e críticas à literatura mundial de maneira irreverente e fantástica. Palavras-chave: Literatura fantástica; Fantasy, Literatura contemporânea alemã; Metaficção. O AMÁLGAMA DO CIÊNCIA-FICCIONAL E DO ESPECULATIVO NA OBRA DE FRANKLIN CASCAES Luana Barossi (USP) Escritas entre 1946 e 1975, as 24 narrativas do florianopolitano Franklin Cascaes e as ilustrações que as acompanham apresentam um cenário que mistura o cotidiano caboclo e suas narrativas folclóricas com interessantes “especulações” políticas e tecnológicas, além da recorrência de elementos que, de acordo com Chu Seo-Young (2010), corresponderiam a aspectos ciência-ficcionais, graças aos efeitos de concomitante cognição e estranhamento no processo de compreensão do enredo e das imagens que o acompanham. Comumente tratadas como folclóricas ou fantásticas, dadas suas características locais, seu dialeto caboclo e suas personagens “bruxólicas”, tanto as ilustrações quanto as narrativas rompem com os estereótipos de gênero literário e artístico, por serem permeadas de aspectos “típicos” de outros gêneros ou subgêneros. Trataremos, nesta comunicação, do que é considerado, na obra em questão, inerente à “Science Fiction” e à “Speculative Fiction”, sem, no entanto, procurar reduzir a obra a essas características, como muitos pesquisadores o fizeram ao “classificá-la” como folclórica ou fantástica. Palavras-chave: Franklin Cascaes, Ciência Ficção, Ficção Especulativa, Folclore. APARIÇÕES DO SOBRENATURAL EM “OS CÃES DE BASKERVILLE”, DA MINISSÉRIE SHERLOCK (BBC) Marcela Barchi Paglione (UNESP – FCL – Assis) Este trabalho tem como objeto a minissérie Sherlock (BBC). Nesta, há uma recriação das histórias do mítico herói transportadas para os dias atuais, de modo que, por exemplo, Holmes recorre ao smartphone para auxiliá-lo nas pesquisas. Os episódios são plenos de intertextualidade em relação à obra de Conan Doyle, mas os discursos são completamente inovadores. Será analisado o episódio “Os cães de Baskerville”, o qual é inspirado no romance de Doyle que leva o mesmo nome. Apesar de ser uma minissérie policial, na qual busca-se a verdade, o real, é perceptível uma relação com o sobrenatural. A indagação sobre a presença ou não do elemento sobrenatural é central na trama e entra em choque com a concepção de mundo de Holmes, na qual tudo pode e deve ser explicado racionalmente. Há um embate travado entre a explicação racional e a aceitação do sobrenatural que se 56 personalizam em Holmes e seu cliente, mas o qual também se passa dentro mesmo do herói. Serão utilizadas para análise a concepção de fantástico e suas vertentes (estranho e maravilhoso), vinda de Todorov assim como o conceito de ideologia de Bakhtin em relação à necessidade de racionalização de Sherlock. Palavras-chave: Sherlock Holmes; BBC; Sobrenatural; Todorov; Bakhtin; Ideologia. NARRATIVA FANTÁSTICA E O SURREALISMO EM CAMPOS DE CARVALHO (SOBRE A LUA VEM DA ÁSIA) Marcio Roberto Pereira (UNESP – FCL – Assis) O objetivo desse trabalho é analisar a construção do romance A lua vem da Ásia, de Campos de Carvalho, a partir do caráter surrealista e fantástico das narrativas entrecruzadas que compõem a obra. Determinado pela dicotomia entre rigor e fantasia, a obra de Campos de Carvalho é caracterizada por um geometrismo da composição que converge na polifonia de um narrador dividido entre a razão e o fantástico. Em A lua vem da Ásia, a presença do narrador tece sua arquitetura linguística e romanesca por meio de um movimento surrealista da linguagem que redunda na história de um homem e suas relações com os espaços em que vive. Ao propor um novo olhar para o cotidiano, em que o estranho e o imprevisível constroem uma lógica diferente daquela proposta pela razão, o surrealismo destrói os aspectos ordinários da existência em nome da poesia e do inesperado. Adentrar pelo inusitado e pelo maravilhoso é uma maneira dos escritores, que se aproximam do surrealismo, de decomporem o real e o cotidiano. Palavras-chave: Narrativa; Romance; Exílio. UMA COMPARAÇÃO ENTRE OS ELEMENTOS FANTÁSTICOS EM “THE BLACK CAT”: O CONTO E O CURTA-METRAGEM Maurício Ferreira de Araújo Filho (UEP) Este trabalho tem como objetivo comparar os elementos fantásticos do conto “The Black Cat” do escritor Edgar Allan Poe e do curta-metragem homônimo do diretor Roger Corman. O fantástico, de acordo com as palavras de Todorov em sua Introdução à literatura fantástica (2010), consistiria em ser um momento de hesitação, dúvida e incerteza diante um evento que é desconhecido pelas leis naturais que regem nosso mundo. É por intermédio dessa perspectiva que analisaremos ao texto literário e ao texto cinematográfico “The Black Cat”. A teoria utilizada aqui, sobre a adaptação cinematográfico, foi auxiliada pelas palavras de Brito (1996, 2006), Stam (1999), Xavier (2006), Hutcheon (2006), Diniz (2007), Da Silva (2008) e Gerbase (2009). As colaborações de Marques (1999) nos foram servidas para análise do conto, assim como algumas palavras do próprio Edgar Allan Poe enquanto crítico literário. Para a comparação dos elementos fantásticos de ambas as obras, o método de Francis Vanoye (apud Brito, 1996, 2006) foi que o se melhor se encaixou na nossa proposta. 57 Palavras-chave: “The Black Cat”; Fantástico; Adaptação. CORRELAÇÕES DO INSÓLITO EM IMAGENS LITERÁRIAS E PICTÓRICAS Nerynei Meira Carneiro Bellini (UENP-Jacarezinho) Ao apreender e interpretar obras do insólito, o leitor pode fruir e sentir emoções diversificadas e intensas. Isto devido à realização estética, isto é, formal, recorrente na urdidura de tais produções. Há, contudo, especificidades no que tange às características do realismo mágico, realismo maravilhoso, maravilhoso e fantástico. Em termos de conceitos teóricos, Todorov defendeu a primazia da hesitação para se efetuar e caracterizar a literatura fantástica, tanto no que diz respeito à tessitura interna da obra quanto à recepção do leitor. Por sua vez, Carpentier afirmou que o fantástico literário embasava-se no insólito real das vivências culturais latino-americanas, cunhando-o de realismo maravilhoso, sem, todavia, distingui-lo do realismo mágico. Já, Menton diferenciou o primeiro termo em relação ao segundo. Caillois disse que no universo maravilhoso o encantamento era a regra suprema. A pesquisadora Irlemar Chiampi sistematizou esses pressupostos em seu livro O realismo maravilhoso: forma e ideologia no romance hispano-americano, defendendo a primazia do realismo maravilhoso no contexto contemporâneo da América Hispânica. Os aspectos do insólito artístico, discriminados nas teorias afins, podem ser percebidos em produções literárias e em pinturas, a partir de estudos apropriados. Assim, pretende-se, neste trabalho, realizar análises temáticas e estruturais de algumas pinturas e narrativas, no caso, obras de Kafka, Rubião e José J. Veiga, bem como telas de Brecht Evens, Balthus, Marc Chagall e Salvador Dalí, sob a ótica das definições e terminologias do insólito literário. Conclui-se, portanto, que os múltiplos e específicos traços do insólito, em distintas manifestações da arte, revelam proximidades e imbricações nas diferenças. Palavras-chave: Insólito; Teorias; Análises; Narrativas; Telas; Correlações. REPRESENTAÇÕES DO ESPAÇO FANTÁSTICO EM 3012 L'ANNO DEL PROFETA, DE SEBASTIANO VASSALLI Paulo Fernando Zaganin Rosa (UNESP – FCL – Assis) Levando-se em conta que o espaço, nas narrativas literárias, não deve ser analisado tão somente como localizador de personagens e de ações, mas sim como formador de sentidos, esse trabalho procurará fazer reflexões acerca do espaço fantástico usado para a composição do romance 3012 L`anno del profeta (1995), de Sebastiano Vassalli, afim de demonstrar que o espaço na narrativa fantástica se constitui como um fator determinante, principalmente para explorar assuntos da realidade. Por meio de uma narrativa futurista, que tem como uma das finalidades a desconstrução do presente, na qual imperam vários tipos de guerra, Vassalli procura mostrar que o ódio parece ser a razão da existência da raça humana. O autor descreve uma “nova sociedade”, que não por acaso está inteiramente 58 identificada com todas as sociedades de todos os tempos, cuja força motora seria a repugnância, a aversão e a antipatia pelo outro. Nesse sentido, a obra vassalliana vai ao encontro de uma das proposições da narrativa fantástica, que corresponde à subversão dos conceitos de tempo, espaço e destino. A escolha de uma ambientação no futuro permitiu ao autor narrar a única coisa que no passado não existiu: um período de paz bastante duradouro. Fazendo uso de uma das vertentes da narrativa fantástica, a ficção científica, Vassalli acaba fortalecendo a tese de que a eterna tentativa humana de se viver em uma sociedade idealizada acaba falindo também na ficção. Palavras-chave: Sebastiano Vassalli; 3012 L`anno del profeta; Ficção Científica; Narrativa Fantástica. A CATEGORIA DO INSÓLITO EM REPRESENTAÇÕES SOBRE O SERTÃO, NA LITERATURA, NOS QUADRINHOS E NO CINEMA Roberto Henrique Seidel (UEFS) O assim chamado “sertão” brasileiro, desde a sua emergência enquanto imagem/conceito descritivo de uma região/geografia/local espacial na obra Os sertões, tem gerado vasta produção artístico-cultural. Mitos, lendas, contos populares; histórias de cangaceiros e de assassinos sanguinários; histórias de assombrações, de horrores e de misticismos de toda ordem povoam o imaginário do “sertanejo”, proporcionando subsídios para a criação e recriação de obras simbólicas. A hipótese de trabalho aqui é que, o próprio sertão sendo plural — considerado de forma não-essencialista —, pode ser encarado atualmente como espaço de disputa sócio-simbólico, ensejado por um imaginário social resultado de processos híbridos e transculturadores de várias matrizes culturais (tais como o armorialmedieval, o indígena, o afro-americano), caracterizado por temporalidades sobrepostas e imbricadas de forma complexa. As temporalidades sobrepostas geram conflitos entre o velho e o novo, entre o antigo e o moderno, entre práticas sociais obscurantistas e práticas sociais ditas iluministas; tal conflito é de ordem simbólica e se plasma nas narrativas (pois o conflito modernizador é um conflito de linguagem), sendo ainda uma das marcas do insólito encontrado nas narrativas fantásticas tradicionais, elas mesmo parte de uma tradição literariamente marginal. O próprio “real” então se dará neste “nó” — em que o imaginário, o simbólico e o real se encontram —, aparecendo nas representações ficcionais com a característica da duplicidade e ambiguidade. Analisa-se obras em que o elemento do insólito surja como relevante para o contexto de estudos, seja na literatura, na arte sequencial e no cinema. Espera-se empreender mapeamento inicial da incidência do insólito nas representações sobre o sertão. O projeto embasa-se em pesquisas sobre os diferentes tipos de realismo, abordando questões propriamente dos gêneros, em cujo contexto a teoria literária, a narratologia e a semiótica proporcionarão subsídios importantes, bem como os estudos culturais e pós-coloniais contemporâneos. Palavras-Chave: Insólito, Sertão, Literatura, Cinema, Quadrinhos. LA FIEBRE AZUL, DE CRISTINA FERNÁNDEZ CUBAS: UMA LEITURA DO DUPLO NA PERSPECTIVA DO FANTÁSTICO 59 Suelen Marcellino Izidio de Amorim (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) A origem do duplo na literatura, tema antigo na literatura ocidental que passou a ser recorrente no Romantismo, foi a busca pela verdadeira identidade do indivíduo, a necessidade de conhecer-se a si mesmo que ultrapassaria conhecer um outro que tivesse simplesmente a mesma aparência física. O duplo, que ocupa um lugar importante como tema do fantástico, mas não é exclusivo desse, para Martín López (2006), associa-se ao fantástico por duas características essenciais: a confrontação do real por meio do 'original' com o sobrenatural 'duplicado'. No presente trabalho propomos a análise do conto “La fiebre azul”, da escritora contemporânea espanhola Cristina Fernández Cubas, que traz ambientação mística e misteriosa por conta da lenda que ronda entre as personagens do conto. Narrativa onde o duplo aparece por meio de um evento fantástico e se mantém por uma série de fatores inexplicáveis. Propomos uma análise com foco no duplo que sendo um tema enigmático por excelência, considerando suas raízes, apresenta-se de distintas formas, onde os sentimentos e as relações entre os duplos são bem variadas. E, a partir das considerações feitas sobre o duplo na literatura e sobre o fantástico, como esses se associam? Essa é uma das questões consideradas para análise que tem como suporte teórico Todorov (2010), Martín López (2006), Herrero Cecilia (2011) e Roas (2011). Palavras-chave: Duplo; Fantástico; Conto; Cristina Fernández Cubas. DA LITERATURA À TELEVISÃO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A GUERRA DOS TRONOS, DE GEORGE R. R. MARTIN Wellington R. Fioruci (UTFPR–Pato Branco) As obras A guerra dos tronos e A fúria dos reis, publicadas originalmente no final dos anos de 1990, nos Estados Unidos (respectivamente A Game of Thrones e A Clash of Kings), pertencem à volumosa série intitulada As crônicas de gelo e fogo (A song of ice and fire) e vêm se consagrando entre os títulos mais vendidos no mundo, sucesso que deve muito à sua adaptação à televisão em forma de minissérie, a cargo do canal HBO. Nestas obras, observa-se a presença de elementos fantásticos inseridos em uma narrativa que prima pelo efeito de real provocado no leitor/espectador. Diferindo-se, neste sentido, do clássico inglês O Senhor dos anéis, cuja ambientação e personagens transmitem uma atmosfera mais marcadamente ficcional desde o início, as duas obras em questão pareceriam saídas da Idade Média europeia, não fosse pela presença dos elementos fantásticos, os quais vão aparecendo gradativamente na trama. Na televisão esses textos literários ganharam uma adaptação à altura do sucesso obtido pelo escritor George R. R. Martin junto ao público, uma produção que reforça, duplamente, a forte impressão de veracidade expressa pela linguagem literária, ao mesmo tempo em que ganha mais e mais atenção à medida que os elementos fantásticos vão inesperadamente surgindo no enredo. À crítica cabe analisar qual é o papel destas obras na produção literária contemporânea, bem como compreender os motivos do êxito obtidos pela recepção da mesma seja no papel, seja nas telinhas. 60 Palavras-chave: Literatura; Televisão; Narrativa contemporânea; A guerra dos tronos; George R. R. Martin. OS ESPAÇOS FANTÁSTICOS EM PEDRO PÁRAMO Yvonne Ortiz Moran (UNICAMP) Minha apresentação terá como finalidade suscitar a discussão sobre parte da produção intelectual do escritor mexicano Juan Rulfo (1917-1986). Uma análise mais detida sobre o modo como os espaços se configuram em seu romance Pedro Páramo (1955). A narrativa tem início com o trajeto de Juan Preciado, que vai até o povoadozinho de Comala, em busca do pai, Pedro Páramo. Chegando ali, Juan se depara com um lugar inóspito; não há vivos ali, somente sombras, ecos e fantasmas. O rumo tortuoso das personagens revelam as intempéries dessa geografia espacial que incorpora ao mesmo tempo em que representa todo o drama humano desses camponeses mexicanos; que ali vivem e remoem com fatalismo a dureza de seu destino, o de reviver as lembranças de seu passado: vidas inextricavelmente arruinadas por Pedro Páramo, caudilho cruel e astuto. Instala-se um emaranhado de sensações, reminiscências e emoções que não respeitam nem o lugar, nem o espaço demarcado, o ir e vir dessas memórias misturam presente e passado, de modo que um estudo acerca do espaço careceria de elementos se não levasse em consideração a articulação de tempo, espaço e memória. A narrativa elabora conjecturas racionais a respeito do evento sobrenatural que nunca são comprovadas de fato, deste modo mapear o espaço em que vivos e mortos coexistem torna-se um desafio quando não há uma delimitação concreta entre vida e morte. Para tanto, recorro à definição de literatura fantástica utilizada por Todorov, como categoria que me auxiliará a problematizar e aprofundar questões referentes à construção desse espaço. Palavras-chave: Ruan Rulfo; Pedro Páramo; Espaço fantástico. Simpósio 3 – REALISMO MÁGICO E REAL MARAVILHOSO: VERTENTES, DEBATES, LEITURAS Coordenadores: Antonio R. Esteves (UNESP- FCL- Assis) Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari (UNESP- FCL- Assis) REFLEXÕES SOBRE UM SENHOR MUITO VELHO COM UMAS ASAS ENORMES (1968), CONTO DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ Amanda Pérez Montañés (UEL) 61 Através da análise do conto “Um senhor muito velho com umas asas enormes” (1968), de Gabriel García Márquez, pretende-se explorar, à luz do realismo maravilhoso, a presença do outro e a maneira como essa estranha presença conduz a uma inversão total dos parâmetros de percepção da realidade. Neste célebre relato de García Márquez, pertencente à coletânea de contos A incrível e triste história da Cândida Eréndira e sua avô desalmada (1972), o elemento insólito (um anjo muito velho) instala-se no mundo real sem abalar as referências adquiridas. Desde o início da história, o narrador introduz elementos maravilhosos que não produzem um efeito de assombro no leitor, porque são apresentados como reais e familiares, ou seja, o desconhecido incorpora-se imediatamente ao real. A figura do anjo é desmitificada ao contradizer o cânone clássico do que seria um anjo. No conto apresenta-se com “um senhor muito velho vestido como um trapeiro, a cabeça pelada e muitos poucos dentes na boca, e as asas de grande galináceo, sujas e meio depenadas, encalhadas para sempre no lodaçal”. Assim, ao longo da narrativa, o velho se comunica através de uma língua incompreensível e essa incompreensão gera o isolamento, a solidão, a intolerância à diferença, à alteridade em que foi relegada. Palavras-chave: Gabriel García Márquez; “Um senhor muito velho com umas asas enormes”; Realismo maravilhoso. METAMORFOSE NAS RUAS DA BAHIA: ENTRE O REAL E O FICCIONAL Cláudia Cristina Ferreira (UEL) A Bahia sempre foi um cenário mágico que incita a imaginação tanto de escritores como de leitores. Suas cores, paisagens e sabores fascinam e fomentam o imaginário de muitos, visto que rompem com o convencional e nos conduzem a um mundo de encantamentos, peculiar à realidade americana. É em meio ao sincretismo religioso, à mestiçagem étnica e cultural e ao tempero baiano que encontramos a possibilidade de enveredar-nos por uma leitura analítico-crítica da obra O Sumiço da Santa (1988), sob o viés do realismo mágico como aporte teórico. Narrativa esta que apresenta personagens fictícios e ícones da cultura baiana, reflete os conflitos entre a tradição e modernidade e relata as aventuras ou desventuras da Santa Bárbara (Iansã) que se metamorfoseia e sai aprontando pelas ruas da Bahia. Convém mencionar que o Realismo Mágico suscita o desdobramento entre a realidade e o sonho, ou seja, entre o que é e o que poderia ser; por conseguinte, permite, por meio da fantasia, uma interlocução entre texto e leitor mais aberta à pluralidade de interpretações e leituras. Essa possibilidade a várias análises e pontos de vista se dá porque o cenário revela mundos alternativos ou universos paralelos independentes da realidade cotidiana, sem a obrigatoriedade de transpor fatos comprovados pelo cientificismo. Isto posto, esta comunicação tem o objetivo, primeiramente, de situar historicamente e de (re)pensar o Realismo Mágico em suas características, alguns teóricos e críticos (Chiampi, Bowers, Todorov, Roas) e de ilustrar aspectos inerentes ou presentes dessa temática em algumas obras literárias. A posteriori, pretendemos fazer uma possível leitura e analisar a obra O Sumiço da Santa, do renomado autor baiano Jorge Amado, sob a perspectiva do realismo mágico, que subsidiará a análise da obra em questão. Palavras-chave: Realismo mágico; Jorge Amado; O Sumiço da Santa. 62 O INSÓLITO NO UNIVERSO FICCIONAL DE ROA BASTOS: YO EL SUPREMO Damaris Pereira Santana Lima (UNESP – FCL – Assis) O objetivo deste trabalho é analisar o romance Yo el Supremo (1974) do paraguaio Augusto Roa Bastos (1917-2005). Esta obra foi escrita no período da ditadura de Alfredo Stroessner, mas centra-se na figura de José Gaspar Rodríguez de Francia (O Supremo), presidente do Paraguai no período de 1814 a 1840. No romance, a ação do protagonista é posterior à sua morte: em sua condição de defunto ele dita, escreve e corrige a história do Paraguai desde a independência até a ditadura atual à narrativa. Apesar de ser reconhecido como ferrenho defensor da soberania do Paraguai, os juízos a seu respeito não são unânimes: enquanto para alguns é um déspota, para outros é um prócer da nação paraguaia. Roa Bastos tem como objetivo em sua obra ficcional construir uma contra-história do Paraguai. Para a construção dessa contra-história, o autor recorre ao mito e à história oficial. A narrativa faz uma reflexão sobre a natureza do poder, não apenas do poder político, mas também do poder da palavra e de sua capacidade representativa. Neste romance o insólito ocorre com a capacidade de discurso que é dada a um morto, comprovando desta maneira que a ficção permite dar voz ao que a história oficial silenciou. Palavras-chave: Roa Bastos; Insólito; História; Mito. AMADA: A MEMÓRIA E A HISTÓRIA RESGATADAS EM UMA NARRATIVA DE FANTASMA Fernanda Aquino Sylvestre (UFU) Na obra Amada, Toni Morrison, autora norte-americana, dedica suas palavras à memória e à história da escravidão nos Estados Unidos, mostrando um trágico retrato da vida dos escravos, causado pelos efeitos desumanizadores do escravismo. Para os primeiros escravos, o passado configurava-se como um fardo que desejavam esquecer para sempre. Além de explorar essa experiência dramática sob a perspectiva daqueles que foram escravizados e não de seus donos, a autora norte-americana investiga, ainda, a natureza do amor e como ele constrói a história particular dos personagens. Narra a história que se perdeu nos silêncios forçados e nos esquecimentos desejados. O romance se configura também como uma narrativa que perpassa o Realismo Mágico. Interessa-nos, neste trabalho, a perspectiva sobrenatural e a histórica do romance de Morrison, mais especificamente a reflexão sobre o papel que Amada (incorporação do espírito da filha assassinada de Seth) exerce na vida de sua família e na construção da ideologia de Seth acerca da escravidão. Para esta personagem, as memórias do passado são inevitáveis como foram para a escrava Margaret Garner, em cuja vida Morrison se baseou para escrever seu romance. Garner assassinou sua filha em Ohio, enquanto fugia de perseguidores que tentavam trazê-la de volta para Kentucky, de onde tinha escapado pensando encontrar uma vida livre. 63 Palavras-chave: Toni Morrison; Amada; Realismo mágico; Escravidão; Memória; História. REALISMO MARAVILHOSO, REALISMO MÁGICO OU FANTÁSTICO: POSSÍVEIS INTERPRETAÇÕES DO CONTO LA CASA INUNDADA DE FELISBERTO HERNÁNDEZ Geisiara Priscila Christ (UENP) O presente trabalho tem como objetivo traçar considerações teóricas sobre realismo maravilhoso (Carpentier, 1969), realismo mágico (Menton, 1999), realismo mágico e realismo maravilhoso (Esteves e Figueiredo, 2005) e fantástico (Todorov, 1975) a fim de se refletir sobre a configuração do insólito no conto La casa inundada, de Felisberto Hernández. Para tanto, será efetuada uma análise estrutural deste conto e seus possíveis significados. É sabido que o sobrenatural, esteticamente criado, promove sentidos múltiplos, vinculados a questões humanísticas. Todo leitor, na utilização do seu raciocínio, tem conhecimento entre os limites do real e do irreal, entre o que é possível e o que é impossível. No entanto, para criar uma determinada história, o escritor faz desaparecer esse limite. Não é proibida a criação de situações e personagens irreais com fins de se engendrar efeitos diversos e despertar sensações múltiplas no leitor. Aos estudiosos da narrativa do insólito, cabe o profícuo desafio de analisar os recursos estéticos desenvolvidos, assim como suas especificidades. Antes de se chegar às definições teóricas, vale ressaltar a necessidade do ser humano de evadir-se do dia a dia comum e privado de surpresas e imaginações. Os sonhos podem levar a um ponto em que seja possível alcançar outras vitórias almejadas, muitas vezes, em um contexto ou universo sobrenatural. Neste trabalho, portanto, mostraremos o valor do imaginário e os possíveis significados a que o irreal alude em La casa inundada, apontando para o tipo de modalidade desenvolvida. Palavras-chave: Realismo maravilhoso, realismo mágico, fantástico, Felisberto Hernández, imaginário. A CRÍTICA POLÍTICA POR MEIO DO ELEMENTO SOBRENATURAL EM INCIDENTE EM ANTARES, DE ÉRICO VERÍSSIMO Gisele de Oliveira Bosquesi (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) O presente trabalho tem como objetivo analisar a obra Incidente em Antares, de Érico Veríssimo, do ponto de vista do sobrenatural. Partindo da hipótese de que o romance, ao retratar a volta dos mortos, faz com que eles funcionem como a imagem do duplo que traz à tona aspectos negados pela sociedade da fictícia Antares, pretendemos demonstrar que a crítica política torna-se mais pungente ao utilizar-se do elemento sobrenatural. Incidente em Antares pode ser considerado uma sátira política, conforme observa Maria da Glória Bordini (2006). Em entrevistas ao jornal Opinião, em 29 de janeiro e 5 de fevereiro de 1973, Veríssimo comenta uma conversa que teve com o escritor cubano Alejo Carpentier sobre a “a fatalidade” que os havia impelido para o realismo mágico. Sobre tal conceito, Bordini afirma que o adjetivo mágico também pode ser significar absurdo, sendo este o 64 viés de leitura pelo qual “o impacto de Incidente se torna maior, uma vez que sugere o advento do ininteligível como gatilho para a derrocada da democracia no país” (2006, p. 276) Dessa forma, ao final do romance, completa-se uma alegoria do processo que resultou no Brasil pós-64. O contato do autor com Carpentier nos leva de antemão à leitura do romance sob o olhar do realismo mágico, porém consideramos relevante o conceito de neofantástico proposto por Jaime Alazraki (2001) para a análise de Incidente em Antares, uma vez que o crítico argentino considera a irrupção do fato insólito como um vislumbre da segunda realidade que estava mascarada sob uma realidade aparentemente lógica e racional. Dessa forma, o romance de Veríssimo nos proporciona, do ponto de vista teórico, a oportunidade de colocar em diálogo os conceitos de realismo mágico, absurdo e neofantástico, e, do ponto de vista interpretativo, uma leitura crítica das tensões políticosociais presentes no Brasil na década de 60. Palavras-chave: Érico Veríssimo; Realismo mágico; Absurdo; Neofantástico; Duplo; Crítica política. A PRESENÇA DE ELEMENTOS MÁGICOS EM COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE (1989), DE LAURA ESQUIVEL: UMA LEITURA Kátia Rodrigues Mello Miranda (UNESP – FCL – Assis) Como água para chocolate (1989), romance de maior sucesso da escritora mexicana Laura Esquivel (1950-), é ambientado na época da Revolução Mexicana (1910-1940) e apresenta a história de Tita, caçula de três irmãs, obrigada a cumprir uma tradição familiar em que a filha mais nova devia permanecer solteira para cuidar da mãe. Apaixonada por Pedro e inconformada com seu destino, Tita empreende uma trajetória de luta pela ruptura dessa tradição castradora, marcada pelo embate ideológico e enfrentamento em relação à mãe, Elena, e à irmã mais velha, Rosaura, ambas figuras representativas do patriarcado na narrativa. A luta da protagonista se intensifica sobretudo após o nascimento de sua sobrinha, Esperanza, que, por ser a última filha, também teria de cumprir a tradição. O palco principal das ações é a cozinha, espaço ressignificado pela atuação subversiva da protagonista, que, através dos pratos que prepara, intervém no comportamento dos comensais. É possível observar em várias passagens do romance a presença de elementos mágicos, que aparecem sempre associados à protagonista. Em face de tal contexto – e isento do engessamento a categorias teóricas já bastante discutidas, porém, muitas vezes, movediças – este trabalho pretende esboçar uma leitura sobre a presença de elementos mágicos em Como água para chocolate, a partir do destaque e comentário de alguns excertos. Palavras-chave: Laura Esquivel; Literatura-hispano-americana; Realismo mágico; Narrativa mexicana contemporânea. O REALISMO MÁGICO EM EL SIGLO DE LAS LUCES, DE ALEJO CARPENTIER Kelli Mesquita Luciano (UNESP – FCL – Araraquara) 65 Em El Siglo de las Luces, (1967), de Alejo Carpentier, encontramos referências a crenças, a uma diversidade de culturas e etnias, pois são mencionados rituais religiosos, bem como à existência de Igrejas Católicas, de rituais mocambeiros, da Maçonaria; pode-se perceber, também, a presença de índios, negros, europeus e americanos, convivendo em uma mesma região, além da ocorrência de eventos inusitados no referido romance. A partir dessas leituras, consideramos importante que seja traçado um panorama sobre as variações do realismo mágico, haja vista que estas, muitas vezes são confundidas. Com isso, pretende-se uma melhor depreensão da classificação a qual o romance em questão mais se aproxima, no caso, ao realismo mágico metafísico e antropológico. Para tanto, será realizada a análise dos elementos insólitos da narrativa, partindo-se das teorias de estudiosos como: Chiampi, Carpentier e Spindler. El Siglo de las Luces é um romance ambientado no século XVIII, em que Victor Hugues, entusiasta da Revolução Francesa, chega em Cuba, onde transforma e movimenta ativamente a vida dos irmãos Carlos e Sofia e de Esteban, primo destes. Os três primos são de família abastada e com o tempo passam a se interessar pelas ideias libertárias da Revolução; vivenciam revoltas e guerras, sofrem frustrações, mas ainda assim, têm esperança numa sociedade melhor. Desse modo, Carpentier trata de questões revolucionárias e suas contradições, bem como das frustrações e esperanças do intelectual burguês. Estes temas apresentam pontos de intersecção com acontecimentos históricos do século XX, como a Revolução Cubana e suas características autoritárias podem ser relacionadas, em certos aspectos, com elementos presentes até mesmo em governos considerados libertários e igualitários como a Revolução Francesa no século XVIII. Palavras-chave: Realismo mágico; Literatura hispanoamericana; Alejo Carpentier. REALISMO MÁGICO EM BALÚN CANÁN: UMA VISÃO TRANSCULTURAL Larissa Athayde do Carmo (UNESP – FCL – Assis – IC – FAPESP) Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari (UNESP – FCL – Assis) O presente trabalho tem como objetivo analisar a presença de aspectos do realismo mágico no romance Balún Canán (1957), da escritora mexicana Rosario Castellanos, associados ao conceito de transculturação narrativa (RAMA, 2008). A narrativa está permeada por mitos, lendas e crenças maias, que são retratados por meio da relação entre a narradorapersonagem, filha de fazendeiros, e sua babá índia, a qual tem um importante papel simbólico ao vincular o contexto histórico mexicano à memória cultural maia. Ao entretecer universos antagônicos - o do indígena e do homem branco; o mundo mítico e o histórico -, o romance reflete o conceito de transculturação narrativa, adaptado pelo crítico uruguaio Ángel Rama a partir dos estudos do antropólogo cubano Fernando Ortiz. De acordo com Rama, a transculturação narrativa busca mecanismos literários próprios, assim como a recuperação das fontes orais da narração popular, apresentando uma nova perspectiva frente às memórias e vozes marginalizadas da América Latina. Neste sentido, o romance de Rosario Castellanos apresenta os elementos mágicos da tradição indígena da região de Chiapas, com o intuito de retomar o mistério criativo da mestiçagem cultural da sociedade mexicana. 66 Palavras-chave: Balún Canán; Realismo mágico, Transculturação narrativa. ACAUÃ: UMA DESLEITURA SOBRE AS FRONTEIRAS ENTRE FANTÁSTICO E REALISMO MARAVILHOSO EM INGLÊS DE SOUSA Lauro Roberto do Carmo Figueira (UFOPA) O conto “Acauã”, de Inglês de Sousa (1853-1918), inserto no regionalismo naturalista brasileiro, surpreende por apresentar uma narrativa em que o discurso do narrador manifesta uma linguagem afim com o discurso fantástico, além de apresentar tipologias consagradas desse gênero literário. Entretanto, o acontecimento inusitado e as representações de uma experiência proveniente da colonização europeia esboçam as projeções de crenças comunitárias do final do século XIX, na Amazônia brasileira, ainda comuns nas vilas, cidades e periferias das cidades nortistas. A fala do narrador, prenhe de deixis e modalizantes, além de reiteradas incertezas sobre os lances do enredo, perfaz um discurso com precárias certezas a perturbar o leitor, tolhido por ambiguidades. Essa modalidade discursiva, além de ambígua e hesitante, advinda da construção das protagonistas de “Acauã”, configurada pelo narrador entre o ser e parecer, é uma tentativa de explicar, pelo plano da linguagem, as zonas tênues em que aparecem, entre o antropomorfismo e zoomorfismo, o masculino e o feminino, o real e o absurdo, o ordinário e o extraordinário. A análise apenas por esta vertente conduz a narrativa inglesiana ao cânone do fantástico: incertezas, hesitações, ambiguidades, natural x sobrenatural, medo e o incitamento pela discussão entre o real e o irreal. O contraponto do entendimento dessa narrativa amazônica sob a orientação de leitura pela argumentação do gênero fantástico é o agente de representação de crenças comunitárias por elementos mágico-maravilhosos relativos a superstições, lendas e mitos arquetípicos. Palavras-chave: Fantástico; Realismo maravilhoso; Inglês de Sousa; Amazônia. CELESTINO ANTES DEL ALBA: DISCURSO HISTÓRICO E MARAVILHOSO Lilian Barbosa (UEPB) O trabalho que ora propomos objetiva mapear o discurso maravilhoso no romace Celestino antes del alba, do escritor cubano Reinaldo Arenas. De acordo com o crítico uruguaio Ángel Rama (2001, p. 206) a narrativa de Arenas “não invalida a realidade, mas a tira de seu eixo”, em uma trama alucinante, na qual, real e maravilha, possível e impossível se entrecruzam de modo a formar um discurso característico de alguns escritores de nuestra América. Para realizar tal leitura, partiremos da teoria acerca do realismo maravilhoso, sistematizada por Irlemar Chiampi, bem como das ponderações realizadas por Ángel Rama acerca da literatura e cultura na América Latina, culminando em uma análise crítica do romance em questão. Com base nos mencionados teóricos, prescrutaremos a estrutura do texto narrativo, de modo a averiguar a ocorrência do real maravilhoso no mundo criado por Arenas, mais específicamente em Celestino antes del alba, que conjuga fatos históricos da realidade cubana com elementos que se desdobram de maneira delirante na voz do garoto 67 Celestino, que povoa seu mundo hostil de espíritos, seres e feitos extraordinários. Nossa hipótese culmiará em uma análise que privilegiará questões textuais, vislumbrando, no texto, as proposições teóricas discutidas por Chiampi e Rama. Palavras-chave: Realismo maravilhoso; Literatura hispano-americana; Reinaldo Arenas. MAGIA E EROTISMO NO CONTO “NIÑA PERVERSA” DE ISABEL ALLENDE: UMA LEITURA Luan Cardoso Ramos (UNESP – FCL – Assis) Maria de Fatima Alves Oliveira Marcari (UNESP – FCL – Assis) Este trabalho tem por objetivo analisar o conto “Niña perversa” da escritora chilena Isabel Allende, apoiando-se em alguns elementos da crítica feminista e das teorias do realismo mágico. Analisaremos o processo de transformação da protagonista, que vai desde um estado de submissão até a emancipação. Nessa trajetória, são minuciosamente descritos sintomas de alteração física e psicológica que se evidenciam pela ansiedade que domina a protagonista durante sua adolescência. Elena Mejías, uma menina de onze anos, sente o desejo sexual aflorar precocemente diante da presença de um homem, Bernal, o cantor Rouxinol, amante de sua mãe. A atração sexual torna-se uma verdadeira obsessão, e a menina tenta seduzir o homem por meio de artimanhas e rituais mágicos e sensuais. Assim, a magia se faz presente no conto através de rituais que se caracterizam por uma espécie de fetichismo, no qual os objetos do ser amado são utilizados para que a menina possa conquistar sua alma. A utilização de estratégias narrativas próprias do realismo mágico, como sinédoques, hipérboles, enumerações, as quais colocam o leitor diante da representação de um erotismo amplificado e exagerado, também serão objeto de nossa análise, dentre outros elementos. Palavras-chave: Isabel Allende; Realismo mágico; Literatura hispano-americana; Narrativa feminina. MULHER, NATUREZA E MAGIA: A REAFIRMAÇÃO DO FEMININO EM LA AMORTAJADA DE MARÍA LUISA BOMBAL Maria de Fátima Alves de Oliveira Marcari (UNESP – FCL – Assis) Em 1938, a escritora María Luisa Bombal publica La amortajada, romance sobre o qual Jorge Luis Borges profetizou, em uma crítica publicada na Revista Sur no mesmo ano: “Libro de triste magia, [...], libro que no olvidará nuestra América." Contudo, a escritora chilena foi subestimada pela crítica de seu tempo, permanecendo à margem do chamado boom da narrativa latino-americana. Em La amortajada, a protagonista Ana Maria, em seu leito de morte, rememora os principais acontecimentos de sua vida. A personagem decide manifestar-se contra os elementos que sempre a reprimiram: sua família e a estrutura social em que se inscreve - o patriarcado chileno da primeira metade do século XX. Em um processo rememorativo marcado pela subjetividade e pelo devaneio, Ana rememora a entrega apaixonada ao primeiro amor e o posterior abandono; a alegria e o temor diante da 68 gravidez; o aborto durante uma tempestade; o casamento sem amor; os conflitos com os filhos; um novo amor e a descoberta do prazer físico. Após sua morte, a personagem integra-se aos espaços naturais, à harmonia do universo, em contraposição com os espaços fechados que limitavam sua vida na sociedade patriarcal. Maria Luisa Bombal evita a linguagem convencional para expressar-se em uma linguagem oética repleta de símbolos, caracterizada pelo mágico e o maravilhoso, o lírico e o misterioso. Palavras chave: Narrativa feminina; Realismo mágico; Maria Luisa Bombal. O APROVEITAMENTO DO MÁGICO PELA FICÇÃO REGIONALISTA BRASILEIRA: UMA LEITURA DE O CORONEL E O LOBISOMEM Naiara Alberti Moreno (UNESP –FCL – Araraquara) Este trabalho tem como objetivo apresentar uma leitura do romance O coronel e o lobisomem (1964), do brasileiro José Cândido de Carvalho (1914-1989), considerando-se o aproveitamento de elementos mágicos pela narrativa. Para tanto, será exposto, inicialmente, o percurso da crítica que, partindo dessa mesma perspectiva, se ocupou do romance: Bernardo Élis, Zilá Bernd e José Hildebrando Dacanal, entre outros estudiosos, reconheceram a incorporação do insólito na obra do autor, compreendendo o fenômeno de diferentes modos ou, pelo menos, valendo-se de diferentes nomenclaturas. Da imprecisão terminológica do primeiro para a denominação de “real maravilhoso”, pela segunda, ou de “realismo mágico”, pelo terceiro, o romance de José Cândido continua a requerer uma leitura que se mostre profícua, inclusive, para a compreensão de um momento de transformação da prosa regionalista brasileira, vertente a qual costuma ser associado. Desse modo, serão levantadas algumas hipóteses interpretativas tendo em vista teóricos do realismo mágico e do regionalismo brasileiro. Essa combinação auxilia a compreender como os lobisomens, sereias, ururaus e fantasmas presentes no relato do narradorprotagonista Ponciano relacionam-se a um espaço rural decadente, marcado pelas crendices populares e pouco atingido pela modernização citadina. Por esses fatores internos e por seu período de publicação, a obra parece corresponder a um período em que a prosa regionalista passa a aderir a uma representação marcada por elementos “não realistas”, a que Antonio Candido chamou super-regionalismo. Finalmente, no encalço dessas reflexões, a leitura aqui proposta acena a um possível diálogo existente entre esse período de transição no Brasil, que diferencia a tendência regionalista da década de 1930 para a de 1960, e momento semelhante encontrado em outras literaturas da América Latina. A DESCONSTRUÇÃO DO REAL NAS CONCEPÇÕES DE TEMPO E EU: UMA LEITURA DO CONTO “AS RUÍNAS CIRCULARES”, DE JORGE LUIS BORGES, EM DIÁLOGO COM O BUDISMO Paullina Lígia Silva Carvalho (PG-UEPB) 69 O projeto literário que o autor Jorge Luis Borges (1899-1986) inaugura tem como lugar de sentido paradigmático, primordialmente, a experiência do onírico que se expressa em uma escrita labiríntica marcada pela vertiginosa simultaneidade e multiplicidade de diversos planos narrativos, reconfigurando, assim, no espaço ficcional as ideias de sujeito, de tempo linear e de todo absolutismo das verdades racionalizantes que objetivaram e estreitaram as consciências de si e de mundo do ser humano. O presente trabalho estabelece um estudo da narrativa ficcional borgiana em diálogo hermenêutico com as narrativas que fundamentaram as crenças e o pensamento filosófico budistas, levando em consideração as refutações do real, do eu, e do tempo, que se fazem presentes, mais especificamente, na narrativa do conto que nos propomos analisar “As ruínas circulares”, do livro Ficciones (1944). Sobre as nuances das representações do tempo, ser e verdade na história do pensamento mítico e filosófico, ocidental e oriental, nos guiou o estudo de Octavio Paz, em Los Hijos del Limo (2003), assim como as considerações do próprio Borges no ensaio intitulado “Buda” (1977), cuja crítica retoma o imaginário mítico das lendas e narrativas sagradas do hinduísmo sob o viés da estética do fantástico, de modo que, ressalvamos que em Borges as concepções de identidade e verdade atrelam-se à originalidade do tempo mítico e circular do asceticismo filosófico budista . Palavras-chave: Tempo circular; Narrativas fantásticas; Borges; Budismo. Palavras-chave: O coronel e o lobisomem; Regionalismo; Realismo mágico; Transculturação narrativa. O REALISMO MÁGICO, O REAL MARAVILHOSO E O FANTÁSTICO EM FRAGMENTOS DE APOCALIPSIS, DE GONZALO TORRENTE BALLESTER Regina Kohlrausch (PUCRS) Do conjunto da produção escrita e publicada por Gonzalo Torrente Ballester destaca-se a denominada “trilogia fantástica”, sem o consenso da crítica especializada da obra do escritor espanhol, composta pelos romances La saga/fuga de J.B., Fragmentos de Apocalipsis e La isla de los Jacintos Cortados. Visando contribuir com a discussão acerca caracterização de um determinado texto literário como realismo mágico, real maravilhoso e/ou fantástico, o presente trabalho volta-se para a análise do romance Fragmentos de Apocalipsis objetivando mostrar como se configuram no texto essa(s) caracterização(ões) tendo como base referências teóricas diversas, dentre elas Seymour Menton, Irlemar Chiampi e o próprio Gonzalo Torrente Ballester. Palavras-chave: Literatura espanhola; Realismo mágico; Real maravilhoso; Fantástico; Fragmentos de Apocalipsis; Gonzalo Torrente Ballester. A ILHA DO PAVÃO: UMA LEITURA DO REAL MARAVILHOSO Stanis David Lacowicz (Unioeste-Cascavel) 70 No romance O feitiço da ilha do Pavão (1997), João Ubaldo Ribeiro reconstrói parte da história colonial brasileira, situando os eventos na imaginária ilha do Pavão, espécie de microcosmo reflexo do Brasil da época, geograficamente posicionada no Recôncavo baiano. Sua existência, conforme apresentada pelo narrador, em um espaço mítico na fronteira entre o fictício e o real, permeia o imaginário do continente, aterrorizando aqueles que lá temem encontrar demônios e bruxas, reacendendo os desejos daqueles sedentos pela fuga da realidade ordinária. A ilha/romance, com seus laços da sedução, busca envolver o leitor/viajante para que ele, relativizando-se no tempo e na própria identidade, consiga ultrapassar as imensas escarpas e redemoinhos que guardam a ilha e aporte em suas praias. Desse modo, a ilha do Pavão se constrói como um paraíso edênico e de constituição sóciohistórica utópica, na qual se percebe um diálogo tanto com A utopia, de Thomas Morus, quanto com as narrativas do real maravilhoso e do realismo mágico. Buscaremos nesse trabalho, portanto, uma leitura do referido romance no sentido de evidenciar a apropriação de elementos do real maravilhoso e do fantástico, mesclados em um texto que se conduz por uma estética neobarroca, e os significados que decorrem desse diálogo para a configuração da obra. Na leitura desse romance, atenta-se também à constituição do real maravilhoso por meio da valorização da mestiçagem étnica e cultural, verificável na construção das personagens principais. Palavras-chave: O feitiço da ilha do Pavão (1997); Real maravilhoso; Fantástico; neobarroco. A FOTOGRAFIA DO ESTRANHO EM LA MURALLA ROBADA, DE JOSEFINA PLÁ Suely Aparecida de Souza Mendonça (CPAN/UFMS) A literatura fantástica paraguaia ainda é desconhecida pela crítica em geral, salvo algumas obras de Augusto Roa Bastos, como Hijo del hombre (1960,) classificadas por Jean Franco como parte do real maravilhoso hispano-americano, ao lado do cubano Alejo Carpentier e do guatemalteco Miguel Ángel Asturias. No entanto, parafraseando José Peiró-Barco (2001), a narrativa paraguaia fantástica contemporânea pode ser observada sob dois vieses: por um lado, ao modo de Poe e do estilo metafísico de Borges, como reflexo da insegurança do homem frente à realidade atual e, por outro, chamando a atenção para a ambiguidade que o leitor observa entre o real e o irreal do narrado. Assim, ao avaliar as premissas levantadas por Tzvetan Todorov (2003) em relação aos ambientes configurados como estranhos e o maravilhosos para definir os limites ou as diversas tendências da literatura fantástica, e levando em consideração alguns pressupostos teóricos de Júlio Cortázar em relação ao conto e suas implicações com a arte de fotografar, apresentaremos uma leitura do conto “La muralla robada”, de Josefina Plá, ressaltando como se inscrevem o tempo e o espaço da narrativa dentro do enfoque cortazariano, assinalando também as releituras que essa narrativa literária propõe enquanto representação do tempo e do espaço hispanoamericano. Palavras-chave: Literatura; Tempo; Espaço estranho; Fotografia. 71 O REALISMO MARAVILHOSO E O NEOFANTÁSTICO: EFEITOS DA NARRATIVA, INTERSECÇÕES TEÓRICAS Thiago Miguel Andreu (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) Resumo: A teoria e a crítica que se desdobram para entender os mecanismos de instauração do realismo maravilhoso em uma narrativa concordam que o conceito se organiza em função de uma estrutura principal: a presença de uma verossimilhança discursiva, ainda que esta esteja contaminada por elementos transgressores de um parâmetro racionalista e hegemônico; de igual maneira, postulam que haveria uma naturalização dos fatos sobrenaturais, pela não indicação das personagens e do narrador de que tais fatos ou objetos incomodam a lógica narrativa, causando a anulação dessas incongruências e, por extensão, desmanchando os possíveis nódulos de problematização da racionalidade por meio de um acionamento de estratagemas de que dispõe o próprio ato de narrar. A teórica Irlemar Chiampi propõe, acertadamente, em seu O realismo maravilhoso: forma e ideologia no romance hispano-americano, que o “efeito de encantamento” (2008, p. 52) seria uma das manifestações do discurso realista maravilhoso: realmente, muitas das narrativas realistas maravilhosas produzem o efeito positivo de encantamento, conforme averiguamos em estudos anteriores. Por outro lado, a partir de uma verificação de determinados contos, é possível perceber, igualmente, uma extrapolação deste efeito, conformando tais narrativas ao postulado prioritário de não hesitação entre os elementos personagens e narrador quanto ao fato sobrenatural, não descaracterizando, portanto, o eixo central do realismo maravilhoso, contudo indicando outros possíveis efeitos. Por outro lado, nos estudos do argentino Jaime Alazraki (2001) e de Lidia Morales Benito (2008), embora trabalhem com o conceito de neofantástico, encontramos a inquietação e a perplexidade como possíveis efeitos das narrativas que se erigem em torno de um fato ou objeto sobrenatural. Nosso estudo objetiva, assim, analisar as intersecções entre o realismo maravilhoso e o neofantástico, sondando os mecanismos discursivos que culminam nos efeitos referidos pelos teóricos aqui assinalados, tendo como corpus de análise as narrativas “La luz es como el agua” (2010), de Gabriel García Márquez e “Los sueños de Oropéndola” (1981) de Gabriel Jiménez Emán. Palavras-chave: Realismo maravilhoso; Neofantástico; Efeito; Estrutura narrativa. Simpósio 4 – A VERVE CRÍTICA DO FANTÁSTICO, DO SÉCULO XIX AOS DIAS DE HOJE Coordenadoras: Heloisa Helena Siqueira Correia (UNIR - Universidade Federal de Rondônia) Maria Alice Sabaini de Sousa (UNIR - Universidade Federal de Rondônia) A CONFIGURAÇÃO DO FANTÁSTICO NO DISCURSO NARRATIVO DE WUTHERING HEIGHTS 72 Alessandro Yuri Alegrette (UNESP – FCL – Araraquara) O objetivo é propor uma discussão sobre a configuração do fantástico em algumas passagens de Wuthering Heights – O Morro dos Ventos Uivantes (1847), de Emily Brontë. Inicialmente, rejeitado por grande parte da crítica literária e pelos leitores na época em que foi publicado pela primeira vez, este romance com o passar dos anos foi reavaliado e com isso foi alçado ao status de clássico da literatura universal. Trata-se de uma obra inserida dentro do gênero gótico-romântico, onde são descritos em detalhes alguns eventos que fogem à compreensão do pensamento lógico-racional, nos quais são enfatizados elementos de terror e horror sempre presentes nos textos góticos e românticos. Assim, visando compreender melhor esses estranhos eventos, que aparentemente se configuram como manifestações sobrenaturais e que têm grande importância em seu enredo, recorro ao conceito de fantástico proposto por Todorov, no qual são admitidas duas possibilidades: a aceitação da existência do sobrenatural, ou a explicação racional para algo aparentemente inexplicável. Além disso, a abordagem do fantástico pela perspectiva de Todorov, também enfatiza a importância do que ele chama de “narrador não confiável”, que no romance de Emile Brontë parece estar configurado em dois personagens que se alternam na narração: Lookwood e Nely Dean, que evoca a figura da “contadora de histórias”. Dessa forma, esta comunicação procura ampliar a leitura dessa obra que, apesar de ter sido escrita no século XIX, tem sua importância reconhecida na época atual, onde foi revista em outros textos literários e também adaptada para a linguagem cinematográfica. Palavras-chave: Literatura inglesa; Romance gótico; Romantismo; Fantástico; Sobrenatural; Discurso narrativo. A GUERRA DOS MUNDOS, DE H.G.WELLS: ECOS DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA DO SÉCULO XVII Amélia de Jesus Oliveira (Faculdade João Paulo II / UNICAMP) Quando discute a contribuição de Galileu Galilei na revolução do século XVII, em A revolução copernicana, Thomas Kuhn discorre sobre o impacto causado pelo telescópio, que, na época, acabou se tornando um brinquedo popular. Em decorrência da observação amadora de homens ávidos por observarem os céus em noites claras, surgiu uma nova literatura, cujo assunto mais importante dizia respeito diretamente ao telescópio e às descobertas por ele propiciadas. Tanto os textos de divulgação quanto a ficção científica teriam tido seu início no século XVII segundo Kuhn. Neste trabalho, apresentamos considerações sobre a obra de Wells, A guerra dos mundos, publicada originalmente em 1898, buscando discutir as implicações de uma nova visão do universo proveniente da revolução científica. De início, apresentamos uma aproximação entre a obra do astrônomo Johannes Kepler (1571-1630), Somnium, publicada postumamente em 1634, e A guerra dos mundos – uma aproximação sugerida pelo próprio Wells que cita Kepler no início de sua 73 obra. A seguir, focamos a crítica social presente na ficção científica do século XIX. É assim que, ao mesmo tempo em que podemos refletir sobre as novidades científicas que ampliaram o imaginário humano no século XVII e que continuaram a ecoar nos séculos seguintes, podemos ainda perceber, na obra de Wells, um exame dos efeitos do progresso científico advindos da revolução. Palavras-chave: Ficção científica; Mudança revolucionária; H.G. Wells; Johannes Kepler. IMAGENS DO FANTÁSTICO EM JULIO RAMÓN RIBEYRO Ana Cristina Jutgla (USP) A tradição do conto fantástico na América Latina inicia-se no século XIX, fato observável, por exemplo, na obra de Horacio Quiroga, Leopoldo Lugones e Macedonio Fernández (ARRIGUCCI JR, 1987). O interesse pelo fantástico continuará de maneira produtiva no século seguinte, tornando-se fundamentais os nomes de Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Felisberto Hernández, Bioy Casares e Gabriel García Márquez. Seguindo esse caminho, Julio Ramón Ribeyro (1929-1994), autor peruano ainda pouco conhecido no Brasil, também incursionaria por esse campo. Nossa comunicação tem por objetivo analisar criticamente alguns aspectos fantásticos nos contos “Doblaje” (1955) e “Ridder y el pisapapeles” (1971), nos quais sua escrita, aparentemente construída sobre bases realistas, incursiona de modo sui generis pelo fantástico. Nos contos aqui selecionados, notamos o enfoque do autor em estratégias para criar o “efeito de fantástico” (na expressão de Barthes). Embora considerado por parte da crítica peruana um escritor de linhagem realista, no universo de Ribeyro o fantástico assume grande importância, sobretudo, na recorrente imagem de um mundo caótico prescrito por leis arbitrárias e sem sentido para seus personagens, incluídos também os responsáveis pela manutenção das leis. Esse caráter aleatório da existência serve como ponto de partida na análise proposta acerca do fantástico nos contos de Julio Ramón Ribeyro. Palavras-chave: Julio Ramón Ribeyro; Literatura peruana; Contos. ENTRE O REAL E O FANTÁSTICO: UMA LEITURA DE “BOBÓK” Andreia Aparecida Pantano (UNIP-ASSIS) Pretende-se analisar o conto fantástico “Bobók” de Dostoiévski publicado em 1873, tendo em vista a forma com o autor busca através do fantástico discorrer sobre o realismo (FRANK, 2007). No conto “Bobók”, Dostoiévski inova no campo estético. O autor delicia seu leitor com uma narrativa que percorre o fantástico, pois ao tratar do real o autor bebe na fonte do extraordinário, e, por sua vez, ao relatar tal história, busca uma forma que reserva a interpretação para o leitor já que permanece a dúvida a respeito do diálogo com os mortos, se realmente aconteceu, ou foi apenas um sonho, como salienta Paulo Bezerra em sua análise do conto (BEZERRA, 2005). Assim, busca-se discutir os elementos do fantástico presente neste conto de Dostoiévski. Em “Bobók”, também irá aparecer a 74 preocupação com a verdade, o questionamento sobre ela aparece na fala de uma das personagens. “Na terra é impossível viver e não mentir, pois vida e mentira são sinônimos; mas com o intuito de rir, aqui não vamos mentir” (DOSTOIÉVSKI, 2005, p.35). Neste sentido, uma das personagens propõe que agora uma vez mortos, todos devem contar sua história revelando a verdade. Eis o momento de se desnudar, é a partir deste enfoque que iremos orientar nossa comunicação. Palavras-chave: Fantástico; Realismo; Verdade. CASTEX, CAILOIS E VAX: ANTECESSORES DE TODOROV Caio Vitor Marques Miranda (IC-UEL) e Adelaide Caramuru Cezar (UEL) Pierre-Georges Castex (1915-1995), autor de Le conte fantastique en France de Nodier à Maupassant (1951), Roger Cailois (1913-1978), organizador e prefaciador de Anthologie du fantastique (1966) e Louis Vax (1924- ), autor de L’ art et la littérature fantastique (1960) e La séduction de l’étrange (1965) antecipam Introduction à la littérature fantastique (1970), do escritor, crítico e linguista búlgaro radicado na França desde 1963, Tzvetan Todorov (1939- ). Objetiva-se nesta comunicação ater-se à definição que cada um dos antecessores de Todorov aqui apresentados atribui ao fantástico, procurando pelas convergências e divergências de enfoque entre eles e pela presença destas três definições naquela tão difundida do estudioso búlgaro: “’Cheguei quase a acreditar’: eis a fórmula que resume o espírito do fantástico. A fé absoluta como a incredulidade total nos levam para fora do fantástico: é a hesitação que lhe dá vida”. Uma vez efetivada a leitura dos conceitos de fantástico para os três autores e a presença dos mesmos na definição de Todorov, alcançar-se-á a visão estruturalista do autor de Introduction à la littérature fantastique, enraizando-a em seu momento histórico: 1970. Espera-se poder contribuir com os estudos sobre o fantástico, atendo-se a um de seus momentos mais significativos, gerador da referência primeira destes estudos: Tzvetan Todorov. Palavras-chave: Antecessores; Tzvetan Todorov; fantástico. A EXPECTATIVA PELO SOBRENATURAL EM ANÁTEMA E O ESQUELETO (CAMILO CASTELO BRANCO) Caroline Aparecida de Vargas (IC – UFPR) As obras Anátema (1851) e O Esqueleto (1865) de Camilo Castelo Branco (1825-1890) apresentam elementos que as inscreveriam em uma tradição literária gótica. Como exemplo podemos citar a presença de cenas aterrorizantes; a atmosfera de mistério construída ao longo da narrativa; a ambientação em espaços inóspitos e castelos medievais; e a aflição constante em que se encontram inúmeras personagens que alimentam medo de serem punidas pela Providência Divina. Especialmente essa expectativa de punição, recorrentemente exposta ao longo da narrativa, faz com que o leitor também partilhe da mesma aflição vivenciada pelas personagens. Além de se esperar por funestos 75 acontecimentos, a alusão a elementos sobrenaturais, como o divino e o demoníaco, cria a expectativa de que o “inexplicável” seja motivado por alguma instância sobre-humana. Porém, o "sobrenatural por acontecer", criado por uma sucessão de acontecimentos, não se concretiza. Os fatos trágicos que ocorrem no desfecho das duas obras resultam apenas da ação humana, apesar ainda de as personagens acreditarem no contrário. O presente trabalho tem como intenção analisar a construção da expectativa pelo sobrenatural, examinando mais a fundo a descrição dos espaços e a caracterização das personagens e de suas crenças. Desejamos ainda compreender de que forma a quebra da expectativa do leitor pelo insólito pode significar a não total adesão do narrador camiliano à tradição gótica. Palavras-chave: Camilo Castelo Branco; Anátema; O Esqueleto; Gótico; Expectativa do leitor. ASPECTOS DO FANTÁSTICO NO TEATRO DE ARTUR AZEVEDO: BREVE ANÁLISE DE UM ROUBO NO OLIMPO Esequiel Gomes da Silva (UNESP – FCL – Assis) Em março de 1882 aconteceu no Rio de Janeiro o episódio que ficou conhecido como “o roubo das joias da Coroa”: ladrões entraram no Paço de São Cristovão e foram aos aposentos do casal imperial, onde arrombaram um guarda-roupa e roubaram duas caixas contendo joias de grande valor. O escândalo foi tamanho que além de repercutir na imprensa brasileira, as agências telegráficas transmitiram a notícia para o exterior, em proporções exageradas. Contribuiu para a repercussão do roubo o fato de os culpados terem sido soltos sem sofrer punição alguma, levando à suposição de que estavam sendo acobertados pelo próprio Imperador, como lembra Lilia Moritz Schwarcz (1998). Artur Azevedo, que à época fazia parte da redação da Gazetinha, também se ocupou do episódio, por meio da opereta-bufa Um roubo no Olimpo, publicada entre os dias 31 de março e 5 de abril daquele ano, no periódico em que colaborava. Como o título sugere, a peça se passa no Olimpo e nela tomam parte apenas personagens mitológicos, como Júpiter, Mercúrio e Juno. Nosso objetivo, nesta comunicação, é analisar os procedimentos utilizados pelo dramaturgo maranhense ao criar esse ambiente fantástico em que tratava das questões da realidade exterior ao texto dramático. Palavras-chave: Rio de Janeiro; Teatro; Imprensa; Mitologia. “A CASA DE BULEMANN”, DE THEODOR STORM: UMA CRÍTICA AO EGOÍSMO Fabiana Angélica do Nascimento (UNICAMP) O Realismo Poético, período da literatura alemã que abrange os anos de 1850 a 1890, ficou mais conhecido pelo seu caráter regionalista: resignados pelo fracasso da Revolução de 1848, os autores privilegiaram retratar as peculiaridades de seu povo e de sua região. Nesse contexto, Theodor Storm destacou-se por focalizar, principalmente, o ambiente cinzento e 76 melancólico do Norte da Alemanha e do mar do Norte. Uma de suas obras mais conhecidas entre nós, O homem do cavalo branco, notabilizou-se como narrativa fantástica ao recriar sombriamente essa paisagem inóspita, com seu cavaleiro fantasma e seus habitantes cheios de histórias, sem, contudo, deixar de abordar criticamente o contexto histórico da época. Outra narrativa, A casa de Bulemann, apresenta também elementos do fantástico e do grotesco, além de alguns elementos dos Märchen (contos de fadas). Sem perder o viés crítico, A casa de Bulemann, ambientada na Düsterstraβe (que podemos traduzir como Rua Sombria), é a história de um homem que, devido à sua avareza e rapacidade, é abandonado pelos homens e por Deus, tornando-se um fantasma: “É um conto de fadas sobre o egoísmo contra o qual seu próprio fantasma se insurge”, afirmou o autor. Veremos como o fantástico se articula nessa narrativa para refletir sobre um tempo em que o materialismo é uma ameaça sufocante. Palavras-chave: Literatura alemã; Realismo poético; Conto de fadas. VERTENTES DO FANTÁSTICO EM MURILO RUBIÃO Fábio Dobashi Furuzato (UEMS) O contista mineiro Murilo Eugênio Rubião (1918-1991) é considerado, por grande parte da crítica, como o precursor de um determinado gênero fantástico moderno no Brasil. Desde o seu livro de estreia, O ex-mágico (1947), a originalidade do escritor foi reconhecida de forma unânime, sendo que a estranheza de seu mundo ficcional fez com que Álvaro Lins o aproximasse de ninguém menos do que Franz Kafka. Exageros à parte, o fato é que Murilo Rubião merece ter seu nome lembrado, quando se trata de investigar a verve crítica do fantástico, do século XIX aos dias de hoje. O presente trabalho se propõe a apresentar resumidamente o percurso de nossas pesquisas de mestrado e doutorado sobre o autor. No mestrado, buscamos descrever os contos murilianos, a partir da teoria de Todorov sobre o fantástico, defendendo a interpretação proposta por José Paulo Paes, segundo a qual o fantástico, na ficção muriliana, expressa o agnosticismo do autor, ou seja, a hesitação entre a fé de sua formação religiosa e o ceticismo do clima intelectual vivido por ele no pósguerra. No doutorado, investigamos o material esparso produzido por Murilo: textos publicados em jornais e revistas, na década de 1940, mas jamais recolhidos em livros. Reunindo e organizando esse material, numa edição batizada com o nome de Histórias do Grão Mogol – em homenagem a um personagem caro ao autor, mas abandonado por ele –, buscamos, por fim, mostrar como esse conjunto de textos esparsos fortalecia a interpretação de Paes. Palavras-chave: Murilo Rubião; Literatura brasileira; Fantástico; Todorov; José Paulo Paes; Agnosticismo. O MANDARIM ASSASSINADO DE EÇA DE QUEIRÓS Fernando Vidal Variani (IC – UFPR) 77 No decorrer do século XIX é perceptível a produção de obras literárias com características do que convencionou-se denominar de literatura fantástica, embora esse mesmo século também seja considerado o auge da veiculação do pensamento positivista e cientificista na literatura, que opõe-se a qualquer explicação de ordem sobrenatural/sobre-humana para acontecimentos que envolvem o homem e a vida social. É nesse contexto que surgem as denominadas escolas Realista e Naturalista. No âmbito português, pensamos imediatamente em Eça de Queirós (1845-1900), que com romances como O Crime do Padre Amaro (1871) e O Primo Basílio (1878) consagrou-se como um dos mais importantes autores de língua portuguesa ligados a essas escolas. Todavia, caracterizá-lo exclusivamente desse modo, como algumas leituras críticas produzidas na primeira metade do século XX propuseram, nos levaria a considerar menos relevantes escritos que detêm elementos relacionados à literatura de cunho fantástico, como os primeiros contos reunidos postumamente no volume Prosas Bárbaras (1905) e romances como A Relíquia (1887) e O Mandarim (1879). Dando especial enfoque a essa última narrativa, realizaremos primeiramente um breve apanhado do modo como a crítica tradicionalmente entendeu o lugar ocupado por O Mandarim no conjunto da obra queirosiana e, em um segundo momento, buscaremos refletir sobre a maneira como poderíamos compreender tal narrativa na atualidade. Palavras-chave: Eça de Queirós; O Mandarim; Realismo; Naturalismo; Literatura fantástica. CONTINUIDADES E RUPTURAS EM O HOMEM DUPLICADO: A EXPRESSÃO DO FANTÁSTICO COMO CRÍTICA AO MUNDO CONTEMPORÂNEO Francisco Das Chagas Jacinto Alves (USP) O conjunto dos romances do escritor português José Saramago, laureado com o Nobel de Literatura, pode se dividido em dois grupos temáticos. Nos romances históricos, há a mescla de personalidades e lugares reais do passado com fatos e personagens ficcionais. Isso ocorre em Levantado do chão (1980), Memorial do Convento (1982) e O Ano da morte de Ricardo Reis (1984). Nos romances de temática universal, por sua vez, prevalece a verve crítica à sociedade contemporânea a partir de enredos situados em grandes metrópoles, mas sem explicitação da localidade. Neste segundo grupo, insere-se O Homem Duplicado (2002), romance voltado à questão da perda da identidade. O encontro com o duplo e os processos duplicativos presentes na obra ficam no limiar entre o real e a fantasia. O modo como autor constrói o enredo impossibilita o leitor de afirmar se o duplo, dentro da verossimilhança da obra, faz parte realmente de um acontecimento ou se é meramente uma fantasia do protagonista. Trata-se, portanto, de uma obra que não apenas retoma o topos do duplo, como da tradição da associação desta temática com a expressão do gênero fantástico, para potencializar a capacidade da literatura analisar, refletir e criticar o mundo atual e ainda a própria literatura e suas convenções. Palavras-chave: Romance contemporâneo; José Saramago; Fantástico. 78 A HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA BRASILEIRA E A OMISSÃO DO FANTÁSTICO NO SÉCULO XIX: O CASO FAGUNDES VARELA Frederico Santiago da Silva (UNESP – FCL – Assis) A historiografia literária parece ter negado a existência da literatura fantástica no Brasil no século XIX, reconhecendo apenas Álvares de Azevedo como seu praticante. Apesar disso, houve outros autores que também se ocuparam do fantástico em solo brasileiro. Assim, nossa intenção é destacar esse aspecto da história de nossa literatura, fixando-nos especialmente no Romantismo, ressaltando nesse contexto a faceta pouco conhecida do fluminense Fagundes Varela, que, além de sua bem conhecida carreira como poeta, explorou também a prosa de ficção. O fantástico com o qual Varela flerta em suas publicações de 1861 é de natureza bastante restritiva, aproximando-se, pois, da definição todoroviana para o fantástico. Ao publicar As Ruínas da Glória, A Guarida de Pedra e As Bruxas, Varela não foi o primeiro de nossos escritores a se dedicar ao fantástico. Em seus escritos, é patente a influência da Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, bem como se sente o peso de um E. T. A. Hoffmann, mestre do gênero, evocado nas falas das personagens. Dessa forma, além do intento de trazer à luz um Fagundes Varela ficcionista, cultor da literatura fantástica, esperamos contribuir igualmente para os estudos que vão em direção de se buscar uma tradição fantástica no Brasil que não se limite apenas à Noite e ao Macário, do célebre discípulo de Byron, mesmo que sua obra tenha influenciado os escritores brasileiros que trilharam os caminhos da literatura fantástica e, entre eles, Fagundes Varela. Palavras-chave: Romantismo; Literatura fantástica; Prosa de ficção; Fagundes Varela. A CRÍTICA AO PLATONISMO EM “O IMORTAL” DE BORGES Gabriel Pereira de Melo (PG-UNIR) O presente texto aborda o conto O Imortal, presente no livro O Aleph (1949) de Jorge Luis Borges, por meio de uma leitura que retoma a teoria do conhecimento platônica, figurada na alegoria da caverna, e o conceito de neofantástico cunhado por Jaime Alazraki. Traça um paralelo entre o conto e a alegoria platônica demonstrando o percurso da personagem borgeana à procura, primeiramente, da verdade (Bem) representada pela cidade dos imortais e, em seguida, da imortalidade do corpo adquirida quando bebe a água imortalizante encontrada na cidade. Diferente do que ocorre com o homem, no texto platônico, que se liberta da caverna e alcança a eternidade e a verdade das formas que via projetada na parede da caverna, no conto de Borges, a personagem Tribuno, após alcançar a negação temporal e ver que a realidade que a cercava era uma realidade demasiadamente física, arrepende-se e passa a procurar pelo mundo o caminho inverso: do tempo, isto é, deseja o retorno à mortalidade, ao universo que sempre conhecera. O conto borgeano, desse modo, critica a teoria do conhecimento platônica por meio de ferramentas ficcionais, reafirmando o tempo e a vida como eventos necessários para o desenvolvimento do homem, contrários ao ideal platônico. 79 Palavras-chave: Imortalidade; Borges; Teoria do conhecimento; Neofantástico; Tempo. O HOMEM BICENTENÁRIO DE ISAAC ASIMOV ENQUANTO ALEGORIA À ESCRAVIDÃO NA HISTÓRIA NORTE-AMERICANA Gustavo Vargas Cohen (UFRR) “O Homem Bicentenário” é uma novelette escrita pelo norte-americano Isaac Asimov (1920-1992) e publicada pela primeira vez na revista Stellar-2 pela Ballentine Books em fevereiro de 1976, à ocasião da comemoração dos duzentos anos de independência dos Estados Unidos. No mesmo ano, a estória recebeu os distintos Hugo Award e Nebula Award, dois dos mais importantes prêmios da literatura de ficção-científica. O presente estudo pretende apresentar a potencialidade crítica inerente à narrativa de Asimov, explicitando os pontos de encontro entre texto fantástico e crítica social, política e ideológica por meio de alegoria da escravidão na América desde o período colonial até o século XX (e além). O tratamento do ser enquanto objeto, a utilização exploratória de sua força de trabalho, a sujeição não remunerada, o desejo pela liberdade, a luta por direitos iguais e o pleito por reconhecimento enquanto Ser Humano, são alguns dos temas que, de maneira alegórica, compõem o ambiente ficcional em que o personagem principal, o robô Andrew, participa ativamente no desdobrar de sua jornada. Estes tópicos, apresentados de forma figurada, formam um conjunto de elementos que consolidam “O Homem Bicentenário” como uma crítica à discriminação, ao racismo e a um dos capítulos mais tristes da história da humanidade. Palavras-chave: Isaac Asimov; “O Homem Bicentenário”; Alegoria; Escravidão; História Norte-Americana. FANTÁSTICO E FÍSICA: CAMINHOS CRUZADOS? Heloísa Helena Siqueira Correia (UNIR) Em que medida o modo fantástico de fazer literatura compartilha a “imagem de mundo” com a física moderna e contemporânea? A subversão da concepção de tempo newtoniana, por exemplo, notória em textos como A máquina do tempo, de H.G Wells, perdeu sua irreverência no contexto da física contemporânea, em que há tempos conceitualmente diferentes operando simultaneamente. A presença de tais concepções de tempo nos textos fantásticos contemporâneos, como, por exemplo, em “O jardim de caminhos que se bifurcam”, de Jorge Luis Borges, demonstra que a literatura veicula saberes das ciências duras, em especial da física, de modo implícito ou utilizando tais saberes como pressupostos e estratégias textuais. O mesmo pode ser percebido em relação ao conceito de espaço. O espaço na ficção acompanha, muitas vezes, concepções físicas que estão em consonância com a física mais atual, distanciando-se da concepção newtoniana de espaço. O espaço se curva não apenas na teoria física, mas também em contos e romances. Mas isto quer significar que o fantástico literário caminha pari passu com os saberes físicos, adianta80 se, critica-os ou os obedece? Este trabalho inicia abordagem investigativa que objetiva compreender o status da capacidade subversiva do fantástico quando se trata dos fundamentos de nossa “imagem de mundo”, no que diz respeito ao modo como ela é informada por conhecimentos produzidos pela física. Palavras-chave: Modo fantástico; Fantástico contemporâneo, Física moderna; Física contemporânea. O FANTÁSTICO EM O ESTRANHO CASO DE DR. JEKYLL E MR. HYDE Jorge Augusto da Silva Lopes (UNESP – FCL – Assis) Escrito em 1885, como que inspirado em um sonho, O estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde foi publicado em 1886 e colocou o nome de seu autor, Robert Louis Stevenson, dentre os grandes escritores do fantástico, do mistério e do horror. Tamanho foi o impacto desta ‘novela’ que a expressão Jekyll e Hyde – ou médico e o monstro – é usada para designar pessoas com caráter dúbio, oscilante entre comportamentos completamente opostos. Uma porta na parede de um pátio com “marcas de um prolongada e sórdida negligência” esconde um mistério que perturba as caminhadas dominicais de dois circunspectos cidadãos na Londres Vitoriana e envolve diretamente um respeitável amigo de seu círculo social. Gradativamente as relações obscuras entre o respeitável Dr. Jekill e o perverso e animalesco Sr. Hyde revelam-se como um estranho caso de dupla personalidade em que o horror e o fantástico continuamente se conjugam. Envolto em ações de perversidade extrema, a ponto de ser descrito como quem traz a assinatura de Satã no próprio rosto, o Sr. Hyde é a exteriorização de uma personalidade maligna, componente indissociável da alma do bondoso e bem comportado Dr. Jekyll. A assustadora manhã quando Dr. Jekill, ao despertar, vê sua própria mão tornar-se a mão nodosa e sombria do Sr. Hyde, sintetiza então sua pavorosa descoberta de que “o homem não é verdadeiramente um, mas verdadeiramente dois”. Igualmente sintetiza a imprecisa respeitabilidade e aparente retidão da sociedade vitoriana. Admirados e respeitados por sua narrativa em que se destacam uma imaginação inventiva e uma aguçada sensibilidade visual, O estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde e seu autor Robert Louis Stevenson têm fascinado escritores como Conrad, Borges, Calvino e tantos outros. Nesta comunicação discorremos sobre este fascínio. Palavras-chave: Fantástico; Século XIX; Sociedade vitoriana. O MARAVILHOSO MEDIEVAL EM O REMORSO DE BALTAZAR SERAPIÃO Joilson Mendes Arruda (UNIR) Neste trabalho buscaremos analisar o maravilhoso desenvolvido no romance o remorso de baltazar serapião (com letras minúsculas, conforme desejo do autor Valter Hugo Mãe). O narrador-protagonista baltazar é um jovem rapaz que pertence a família serapião, conhecida em seu vilarejo pela relação íntima que mantém com a vaca sarga, família sarga, baltazar 81 dos sarga. Eles vivem e trabalham na propriedade rural de d. afonso, um vassalo do rei, tudo se passa num período notadamente medieval. Baltazar casa-se com ermesinda, que passa a viver sob o jugo violento do marido por conta de ciúmes. Ao acompanhar o irmão aldegundes, talentoso pintor, numa viagem até o reino, o narrador é amaldiçoado por gertrudes, a mulher queimada. O feitiço consiste em incinerar a si e a tudo ao redor, caso baltazar, aldegundes e dagoberto afastem-se um do outro. Os três voltam à vila onde moram, são execrados por todos os cidadãos, não conseguem encontrar quem possa desfazer o feitiço e isolam-se num lugar ermo onde morrem. Os feitiços e as maldições são os elementos maravilhosos do enredo. Contudo, é possível perceber que o maravilhoso do romance mantém uma relação dialética com o conceito de maravilhoso em Tzvetan Todorov. Afasta-se deste em muitos pontos e se aproxima do conceito de maravilhoso cristão identificado por Jaques Le Goff nas narrativas dos séculos XII e XIII (baixa Idade Média). Enquanto para Todorov o maravilhoso é um evento sobrenatural somente explicado pelo próprio sobrenatural, para Le Goff o maravilhoso medieval tem uma explicação divina ou satânica que aposta na crença do leitor. Mãe aproveita essa explicação do maravilhoso medieval, mas a restringe unicamente ao âmbito da narrativa, de maneira homológica, rejeitando seu caráter extradiegético de crença, guia-se apenas pelas personagens, não importando se o leitor acredita ou não. Assim tem-se uma narrativa com aspectos medievais e linguagem moderna dando tratamento diferenciado ao maravilhoso. Palavras-chave: Maravilhoso medieval; Romance; Narrativa; Crítica; Valter Hugo Mãe. O FEMININO TERRÍVEL NO UNIVERSO MÁGICO EM “HISTÓRIA DEL LAGARTO QUE TENÍA LA COSTUMBRE DE CENAR A SUS MUJERES”, 1993 Joyce Conceição Gimenes Romero (UNESP – FCL – Araraquara) O presente trabalho busca analisar a abordagem crítica concedida por Eduardo Galeano a temática do feminino, percebida aqui na construção específica da personagem feminina do conto “Historia del lagarto que tenia la costumbre de cenar a sus mujeres”, 1993 . O conto foi lançado no livro Las palabras andantes, 1993 e novamente publicado em Mujeres, 1995, compêndio de microcontos que apresenta releituras míticas, majoritariamente de cunho mágico, cuja temática é focalizada no feminino. Galeano, notoriamente reconhecido por seu engajamento social, não pode deixar de transparecer nessa obra sua delicada percepção e através do rico e profícuo universo da literatura fantástica recompõe e questiona velhos paradigmas e arquétipos pertencentes à literatura e ao imaginário. Assim, o objetivo principal deste trabalho é a realização de uma análise mitocrítica da construção do arquétipo feminino sob o aspecto do “feminino terrível” presente no conto mencionado. Atenta-se para a questão da composição do gênero literário (fantástico, maravilhoso e realismo mágico) que, no referido conto, é construído através da personagem feminina, sendo essa mesma a própria representação do fenômeno insólito na obra. Esse processo será devidamente alicerçado num aporte teórico específico e objetivando a explanação das possíveis relações entre a composição da personagem, e dessa em relação à perspectiva do realismo mágico enquanto modalidade literária e desdobramento do fantástico. Cabe enfatizar que para a realização da análise mitocrítica 82 será de fundamental importância a perspectiva adotada por Gilbert Durant em sua obra As estruturas antropológicas do imaginário. Palavras-chave: Imaginário; Arquétipo; Feminino; Realismo mágico. A MANIFESTAÇÃO DO FANTÁSTICO EM “THE FALL OF THE HOUSE OF USHER” E THE TURN OF THE SCREW Maria Alice Sabaini de Souza (UNIR) A presente comunicação tem como objetivo analisar a manifestação do fantástico nos contos “The Fall of the House of Usher” e “The Turn of the Screw”. O primeiro conto foi escrito em 1839 por Edgar Allan Poe e narra a historia de Usher e sua irmã que estão doentes e prestes a desmoronar assim como a casa em que eles vivem. Usher, ao perceber que seu fim está próximo escreve ao seu amigo, pedindo que este vá visita-lo. Durante essa visita, o amigo de Usher presencia vários acontecimentos estranhos e sombrios que caracteriza a presença do fantástico na literatura do século XIX. “The Turn of the Screw”, escrito por Henry James em 1898 recebe influência de Poe, pela recorrência ao fantástico, pelos acontecimentos estranhos que permeiam a estória tais como a presença de um casal de fantasmas que aterroriza a vida de uma jovem governanta e modifica o comportamento das crianças que a mesma cuidava. O final deste conto é semelhante ao de Poe, na medida em que as duas crianças morrem e a governanta praticamente enlouquece. Em ambas narrativas percebe-se o grave desequilíbrio psíquico de seus personagens principais, devido ao profundo mergulho nos labirintos sombrios do inconsciente, seguindo implacavelmente os rastros dos horrores presentes na alma do Homem. O embasamento teórico desse trabalho será: Todorov, Cortázar, Cesarini, Furtado, Rodrigues entre outros. Palavras-chave: Fantástico; “Fall of the House of Usher”; “The Turn of the Screw”; Personagens. A ESTÉTICA E SEUS PARADOXOS COMO PROBLEMATIZAÇÃO DO FANTÁSTICO EM OSCAR WILDE Maria Ellem Souza Maciel (PG/UEPB) Famoso pelas peças de teatro dotadas de uma fina ironia e de um humor ácido que criticava a hipocrisia da sociedade vitoriana, Oscar Wilde, além de dramaturgo e poeta, também se dedicou à prosa em sua produção literária. No gênero narrativo, Wilde escreveu dezenas de contos, muitos deles com a presença de temas do insólito, tendo ainda publicado um único romance: O retrato de Dorian Gray. Nele, o fantástico se faz presente pelo inexplicável envelhecimento de um retrato do protagonista, enquanto este mantém por muitos anos a jovialidade e a doçura do momento em que o quadro terminou de ser pintado. Será que aquela beleza exposta e indiscutível era o espelho da verdadeira alma de Dorian Gray? Sua face, no retrato pintado, vai envelhecendo e adquirindo os contornos crueis de um homem capaz de matar para manter intacto o seu segredo e, consequentemente, a ilusão de uma 83 juventude perene. No presente trabalho, buscaremos trazer à tona a problemática dos valores estéticos e seus paradoxos face a uma sociedade acostumada, no passado e nos dias de hoje, a exaltar um culto à beleza, que sabemos efêmera. A obra de Oscar Wilde prova, então, a sua atualidade. Como aporte teórico, utilizaremos os textos de CORTAZAR (2008), FREUD (1996), KRIEGER (2012) e TODOROV (2008), dentre outros que se mostrarem importantes ao desenvolvimento da pesquisa proposta. Palavras-chave: Literatura fantástica; Oscar Wilde; Dorian Gray; Paradoxos estéticos. HEART-SHAPED BOX DE JOE HILL SOB A ÓTICA DO NEOFANTÁSTICO Mateus Fernando de Oliveira (IC – UENP) Verificam-se nesta pesquisa as questões estéticas e metodológicas no que se referem aos elementos do insólito e às narrativas de terror na literatura contemporânea, contemplando as impressões de Roger Caillois, bem como de Howard Phillips Lovecraft, no que diz respeito à recepção e à configuração desse gênero. Pretende-se, ainda, refletir a presença desses elementos diante da concepção de neofantástico cunhada por Jaime Alazraki e contemplar, ainda, alguns estudos de autores como David Roas e Remo Ceserani, a fim de que, por meio de uma comparação dessas teorias, possamos refletir a metodologia e a estética do neofantástico. A finalidade deste trabalho é justamente comparar as definições dos estudiosos com obras contemporâneas que vislumbram o insólito nas suas produções, mais especificamente, em produções de terror, correspondendo, assim, ao projeto de pesquisa vislumbrado neste estudo. A obra interpretada e analisada é Heart-shaped Box (A Estrada da Noite – no Brasil), o romance de estreia do escritor norte americano Joe Hill, lançado em 2007. Palavras-chave: Neofantástico; Joe Hill; Fantástico; Contemporâneo. SANTOS DO APOCALIPSE: PARODIA SACRA E IRONIA (NEO) FANTÁSTICA EM VALTER HUGO MÃE Paulo Alexandre Cardoso Pereira (UNIVERSIDADE DE AVEIRO) Revelando, nas suas próprias palavras, uma tendência crônica para “destrambelhar a realidade”, o autor português Valter Hugo Mãe parece, na sua multímoda produção ficcional, fundar uma poética do estranhamento alicerçada numa consistente sabotagem do real. Propõe-se, na presente comunicação, uma leitura de dois romances do autor (o nosso reino e o apocalipse dos trabalhadores), destacando o modo como, em ambos, a mobilização de um regime de representação fundado numa ordem metaempírica (e que inclui a convocação assídua do maravilhoso sancionado pela dogmática cristã, mas também a intromissão do estranho ou mesmo do fantástico), ao invés de instaurar uma epistemologia da dúvida, minando a gramática de verossimilhança das narrativas, é indissociável de uma intenção satírica, neste caso dirigida ao fanatismo religioso e ao fideísmo cego. Com efeito, embora a ficção de Valter Hugo Mãe insistentemente sinalize a 84 sua radicação no real concreto, partindo, não raras vezes, de uma sondagem de contornos sociológicos da realidade portuguesa ― seja ela a da monomania religiosa induzida pela cartilha do obscurantismo ditatorial ou a da imigração de leste e das desinteligências e encontros entre culturas ―, o autor reconhece que “não sou um repórter, não faço a reportagem da realidade, imagino como pode ser”. E a realidade desliza, nesta ficção conjectural, para o território do delírio onírico, do desregramento alucinatório, da distorção grotesca ou mesmo do abjecionismo expressionista. Será ainda destacado o recurso a estratégias de recontextualização paródica de modelos textuais conformados pela teologia do medo que é objeto de desmontagem derrisória em ambos os romances, designadamente a hagiografia (o nosso reino) e a moralidade (apocalipse dos trabalhadores). Reflete-se, enfim, sobre a relevância do diálogo transtextual e da concitação hermenêutica do leitor no processo de construção de um (neo) fantástico intertextualmente crítico. Palavras-chave: Valter Hugo Mãe; Hagiografia; Moralidade; Maravilhoso cristão; Paródia. CARMILLA, DE SHERIDAN LE FANU E “61 CYGNI”, DE FAUSTO CUNHA: O CORPO AMORFO E A SEXUALIDADE EM CONFLITO Ramiro Giroldo (UFMS) O trabalho toma como objetos de estudo o romance Carmilla (1872), de J. Sheridan Le Fanu, e o conto “61 Cygni” (1960), de Fausto Cunha. O romance trata de uma vampiresa cuja presença perturba a ordem patriarcal em seus parâmetros morais. Dotada de nuances homoeróticos, a obra associa a orientação sexual da personagem título à transformação corpórea pela qual ela passa diante dos mantenedores do estado vigente. Quando se transmuta e assume a real forma de vampiresa, a personagem perde suas formas e se revela uma forma negra de “grande e palpitante massa”. No conto de Fausto Cunha, uma mulher solitária e reprimida ganha a noite à procura de companhia masculina para lhe satisfazer os desejos sexuais. Nas margens de uma lagoa, é atacada por um ser alienígena disforme que envolve seu corpo e o violenta como que em um estupro. O contato com a criatura resulta em um apagamento da identidade de Ruth, que perde o controle e a posse de seu corpo. Em ambos os textos, o de Fanu e o de Cunha, pode ser observada uma associação entre a repressão sexual e o corpo que não possui contornos discerníveis. Cada texto, porém, lida com a questão de acordo com os paradigmas de sua época. O trabalho proposto pretende discutir a instância segundo um viés comparativo, amparado em noções propostas por Noel Carroll em A Filosofia do Horror, por H. P. Lovecraft em O Horror Sobrenatural na Literatura e nas percepções de Sigmund Freud acerca do prazer e da civilização, apresentadas em Além do Princípio de Prazer e O Mal-Estar na Civilização. Palavras-chave: J. Sheridan Le Fanu; Fausto Cunha; H. P. Lovecraft; Noel Carroll; Sexualidade. CLUBE DE LEITORES: LITERATURA FANTÁSTICA – CONTOS DE ONTEM E DE HOJE 85 Simone Xavier de Lima (Escola SESC de Ensino Médio/PUC-RJ) A proposta do presente artigo é apresentar um relato de experiência que envolve leituras de literatura fantástica, realizadas por leitores adolescentes em uma escola de Ensino Médio situada no Rio de Janeiro. A experiência encontra-se em curso, em seu segundo ano de prática. Hoje assume a forma de clube de leitores, mas iniciou como parte do projeto de iniciação científica, em que professora e alunos embrenharam-se pelos caminhos da pesquisa e de leituras sobre o tema a partir de afinidades pessoais. Partindo da discussão do conceito de fantástico (TODOROV, 2010; FURTADO, 1980), imbricado paralelamente por leituras do gênero, muitas experiências têm sido vivenciadas por esses jovens leitores. No “Clube de leitores: literatura fantástica” realiza-se um percurso por contos fantásticos ao longo dos séculos, com ênfase no século XIX aos dias atuais. A cada semana, lê-se, discute-se, debate-se e descobre-se a sedução e o espírito crítico presentes na literatura fantástica. Palavras-chave: Literatura fantástica; Contos; Clube de leitores. AULË, OU DO IDEAL DO ARTESÃO NA OBRA DE J.R. TOLKIEN Thiago Destro Rosa Ferreira (PG-UFU) O ideal de progresso, calcado na crença do contínuo aperfeiçoamento da humanidade e nos benefícios da ciência e, mais recentemente, da técnica, foi um dos guias decisivos do projeto de modernidade das sociedades ocidentais, e, apesar de abalado no decorrer do último século, ainda persiste no imaginário atual. Nesse contexto, a obra literária de J.R.R. Tolkien, elaborada, em sua maior parte, durante a primeira metade do século XX, propõe um mundo fictício embasado na fantasia e no mítico, aparentemente anacrônico com sua época. No entanto, esse incômodo com seu próprio tempo é, segundo o filósofo G. Agamben, a característica do contemporâneo por excelência, uma vez que este, não é aquele que se acomoda totalmente a seu tempo, mas percebe as sombras que a sua contemporaneidade comporta. Dentre os vários temas e motivos trabalhados pelo autor, a figura do artífice, e sua arte, terá um destaque especial em sua obra, possibilitando reflexões e críticas importantes em relação a algumas características da modernidade. No mundo ficcional de Tolkien, homens e elfos realizam obras grandiosas para o engrandecimento do mundo. Mas como conduzir essa atividade criativa? Até onde o artesão pode criar? A partir da análise das narrativas que envolvem o personagem Aulë, o ferreiro divino, esse trabalho se propõe a discutir o ideal do artesão e da arte presente na obra literária de J.R.R. Tolkien, ideal este que tenciona a todo o momento pressupostos, tais como a ciência e a razão, que orientaram o projeto moderno. O contraponto que se dará entre o ideal ético e estético representado por Aulë, e a hybris de Melkor, outro artífice semidivino do mundo de Tolkien, tem muito a dialogar não apenas com o projeto moderno, que creditou ao progresso científico o domínio humano sobre o mundo, mas também com nossa própria contemporaneidade. Palavras-chave: J.R.R. Tolkien; Estética; Hybris; Modernidade 86 CRÍTICAS AO IMPERIALISMO NA OBRA O CORAÇÃO DAS TREVAS, DE JOSEPH CONRAD Thiago Henrique Sampaio (IC – UNESP – FCL – Assis) O livro O Coração das Trevas, de Joseph Conrad foi publicado a primeira vez em 1902. Sua leitura tem um caráter crítico na medida em que denúncia as barbaridades ocorridas no processo denominado Imperialismo, em finais do século XIX e início do XX. O enredo conta a história de Charles Marlow, um inglês que conseguiu trabalho junto a uma companhia de comércio belga como capitão de um barco a vapor em um rio no continente africano. Marlow ao longo do enredo relata todas as dificuldades e precariedade das condições encontradas no local. Refletindo sobre a relação colonizador e colonizado, encontramos na obra O Coração das Trevas uma análise do cenário que foi os finais do século XIX. A corrida imperialista que ocorre na época em busca de mercados consumidores, matérias-primas, mão de obra barata e territórios para ocupações. A forma brutal e enlouquecedora que era o sistema colonial em oitocentos, que fazia suas vítimas tanto o dominado quanto o dominador. Este período de ocupação da África foi cercado de estranhamentos. O modo de vida dos nativos, seus ritos, costumes, crenças eram vistos como atrasados para o colonizador europeu. Seu pensamento era que, ocupando aqueles territórios levariam a civilização e o progresso. Mesmo não havendo referências, o local onde passa a obra é a região do Rio Congo, que foi cercado de mitos, lendas e crenças no imaginário europeu como um lugar de riquezas, perigo e povos selvagens. A construção da imagem do Rio Congo no século XIX deve-se a muitos viajantes que foram para a região na época. O presente trabalho visa entender até que ponto os relatos fantásticos e brutais contados na obra tem uma base histórica e real diante do processo de colonização. E, além disso, mostrar como uma obra literária pode criticar seu momento histórico de criação. Palavras-chave: Imperialismo; Século XIX; O Coração das Trevas; Joseph Conrad; Colonialismo. ENTRE “O BLOQUEIO” DA LINGUAGEM DA COMUNICAÇÃO E O COROAMENTO DA METÁFORA EPISTEMOLÓGICA DO DISCURSO FANTÁSTICO EM MURILO RUBIÃO Valdemir Boranelli (FIRA – Avaré /Universidade Presbiteriana Mackenzie) Em seu texto ¿Qué es lo neofantástico?, Jaime Alazraki afirma que a metáfora corresponde à visão e descrição dos vazios em nossa percepção causal da realidade. Vazios que não podem ser preenchidos pela linguagem comum, desse modo, cabe à metáfora tal preenchimento. Para denominar a essa metáforas, Alazraki adota o termo “metáforas epistemológicas”, apresentando-as como “alternativas”, modos de nomear o inomeável. Porém essas metáforas epistemológicas provocam um efeito de incômodo intenso no leitor, levando-o a uma desestabilização diante da realidade circundante, gerando o efeito fantástico na obra, em especial nos contos de Murilo Rubião. Esse trabalho tem por 87 objetivo, analisar como essas metáforas se articulam em meio a uma engrenagem linguística adotada na construção do fantástico por meio do conto muriliano “O bloqueio”. Assim, temos a visão de que o texto fantástico é uma maquinaria formada por engrenagens linguísticas, dentre elas as metáforas epistemológicas, que se articulam para gerar o efeito fantástico no leitor, de modo que estas correspondem à visão e descrição dos vazios em nossa percepção causal da realidade, a qual seria impossível ser descrita pela linguagem da comunicação e/ou pela linguagem científica. Palavras-chave: Fantástico; Linguagem da comunicação; Metáfora epistemológica; Murilo Rubião. SIMPÓSIO 5 – A ESCRITURA FANTÁSTICA: A REESCRITURA DOS MITOS CLÁSSICOS NA LITERATURA Coordenadoras: Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP - IBILCE - São José do Rio Preto) Adriana Lins Precioso (UNEMAT – Sinop) Sylvia Maria Trusen (Universidade Federal do Pará/Pesq. RELER Cátedra Unesco de Leitura- PUC/Rio) REPRESENTAÇÕES DO MITO JUDAICO-CRISTÃO EM MURAIS DA LIBERTAÇÃO DE CEREZO BARREDO E DOM PEDRO CASALDÁLIGA Adriana Lins Precioso (UNEMAT – Câmpus de Sinop – FAPEMAT) A mitologia judaico-cristã surge renovada na obra Murais da Libertação: na Prelazia de São Félix do Araguaia, MT, Brasil (2005). As ilustrações dos painéis das igrejas no Araguaia são do missionário claretiano Maximino Cerezo Barredo e os poemas de Dom Pedro Casaldáliga, os quais, por meio da Teologia da Libertação, linha teológica da Igreja Católica, da qual são adeptos, promovem uma renovação no projeto de representação da divindade. Essa nova vertente propõe uma reinterpretação antropológica da fé cristã, em que o divino apresenta sua função no chão da história, envolvendo os pobres e as minorias na luta pela libertação do sistema capitalista desenfreado. O compromisso dos religiosos dessa concepção teológica é desenvolver uma revolução espiritual que promova a participação ativa do povo na sociedade e na Igreja. A busca pelo Cristo primordial, negro e pobre ganha na teologia da libertação um novo tom divino, um sagrado renovado nos ritos e rituais nas comunidades de base. Nossa proposta é identificar no processo dialógico dos elementos pictóricos e poéticos inseridos na obra citada a atualização mitológica da figura de Cristo, a intertextualidade com o Cristianismo Primitivo e as relações da arte sacra com a comunidade onde ela está inserida por meio do processo multicultural. Palavras-chave: Mitologia judaico-cristã; Renovação; Murais da Libertação: na Prelazia de São Félix do Araguaia, MT, Brasil (2005); Elementos pictóricos e poéticos. 88 O MITO COMO ELEMENTO DE IDENTIDADE CULTURAL CONSTRUIDO A PARTIR DO CADÁVER ERRANTE DE EVITA PERÓN. Alejandro González Urrego (UNESP – FCL – Araraquara) Esta comunicação propõe uma abordagem sobre a reconstrução narrativa do mito de Evita que é enfatizado no romance Santa Evita do jornalista argentino, Tomás Eloy Martínez, Na obra o mito de Evita é potenciado à “dimensão mítica” e aparece associado à memória, e a narrativa ficcional, cobrando valor a partir do embalsamamento do corpo e o cadáver errante dela. Para lograr êxito, busco suporte teórico nos estudos de Lévi Strauss (1990) sobre o conceito de herói mítico, uma vez que Evita, dentro do imaginário popular do povo argentino se tornou uma espécie de heroína devido a sua postura política revolucionária que combatia a autoridade da oligarquia e buscava erradicar a desigualdade social na Argentina, objetivando uma sociedade nova e justa, onde a equidade e a justiça social fossem marcas presentes. Começando desta maneira, o que podemos chamar de “processo de mitificação”, que o mito de Evita começa a ganhar força, graças à angústia que sofrem os pobres da Argentina pelas suas diferenças falências sociais, encontrando em Evita a ajuda e a solução para os seus problemas. Do mesmo modo, a mentalidade popular começa a mitificá-la, otorgando-lhe atributos espirituais, como resposta as ações empreendidas por ela, nascendo, deste modo, a ritualização do povo como mecanismo de agradecimento e como solicitude de milagres. Esta comunicação, portanto, visa compreender melhor como se deu a criação da figura mítica de Evita, como ela aparece e sua importância dentro da trama do romance de Tomás Eloy Martínez. Palavras-chave: Tomás Eloy Martínez; Santa Evita; Evita; Lévi Strauss; Imaginário popular. A PERSONAGEM FEMININA DANNUNZIANA: ENTRE GÓRGONA E SALOMÉ Claudia Fernanda de Campos Mauro (UNESP – FCL – Araraquara) Sendo frequente a presença da figura da mulher fatal na produção artística finissecular, escolhemos como objeto de estudo deste trabalho o romance Trionfo della Morte do escritor italiano Gabriele D’Annunzio. As personagens femininas têm presença constante e marcante no espaço da criação artística dannunziana, o que dificulta muito a tarefa de seleção do material a ser investigado. Como o nosso foco de atenção está, neste momento, voltado para a construção da personagem feminina enquanto mulher fatal e várias são as que se enquadram nesta categoria espalhadas pelos escritos dannunzianos , encontramos em Trionfo della Morte a solução adequada à nossa necessidade de delimitação do corpus deste trabalho. O mito bíblico de Salomé é invertido a partir do momento em que, ao invés de seduzir e destruir, Ippolita, a personagem principal do romance, seduz e é destruída; enquanto Salomé deseja a morte de João Batista, Ippolita não deseja , de modo algum, a morte , nem de Giorgio e nem a própria. D’Annunzio também não relaciona erotismo a pecado e castigo, mas à pura satisfação dos instintos e, portanto, ligado ao banal, ao animalesco, distante da situação almejada por Giorgio; o erotismo é, então, algo negativo, 89 mas não por ser pecado cristão. É muito mais marcante em Trionfo della Morte a presença do mito pagão da Górgona que a do mito cristão de Salomé. Palavras-chave: Gabriele D’Annunzio; Trionfo della Morte; Personagens femininas; Mulher fatal; Górgona; Salomé. A REESCRITURA DA FIGURA DA BRUXA NO CONTO CIRCE, DE JULIO CORTÁZAR Danieli Munique Fontes da Silveira (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) No conto “Circe”, do argentino Julio Cortázar, a personagem principal Delia é caracterizada com atributos típicos da bruxa mítica imaginária e pode ser relacionada com a feiticeira Circe, como o próprio título já diz. Circe é uma feiticeira da mitologia grega especialista em venenos e conhecida por seus feitiços que transformava homens em animais, isso é relatado nas aventuras de Ulisses do escritor grego Homero. O diálogo intertextual promove uma recriação do mito grego. Desse modo, pretendemos discutir nesta comunicação a construção e a caracterização do arquétipo da bruxa presente nas obras já citadas a fim de detectar a contribuição do mito à obra de Cortázar. Para o estudo do diálogo intertextual utilizaremos A Palavra, o Diálogo e o Romance de Julia Kistreva presente no livro Introdução à semanálise. A mulher pode estar relacionada com a manifestação do sobrenatural na literatura fantástica. Segundo Tzvetan Todorov em Introdução a Literatura Fantástica, a figura feminina também está ligada a sexualidade, e “o diabo é a mulher enquanto objeto do desejo” (TODOROV, 2009, pág. 137). Dessa forma, a figura feminina pode ser negativizada recebendo características relacionadas ao mal e o homem pode ser vítima da sedução dessa figura, como ocorre no conto de Cortázar. Assim, utilizaremos também o estudo de Todorov referente aos temas do fantástico como fundamentação teórica de nosso trabalho. Partiremos de uma reflexão em torno da presença feminina presente na manifestação do sobrenatural no conto Circe e depois faremos uma comparação com a personagem mitológica de Homero. A figura da bruxa está ligada a várias culturas de diferentes povos e por esse motivo tentaremos relacionar sua construção no conto e na epopeia com a configuração mítica desse arquétipo pelo prisma da literatura fantástica. Palavras-chave: Julio Cortázar; “Circe”; Ulisses; Homero; Bruxa; Arquétipo. A METAMORFOSE DE ERISÍCTON E GREGOR SAMSA: A FANTÁSTICA TRANSFIGURAÇÃO DO REAL NOS DISCURSOS OVIDIANO E KAFKIANO Elaine C. Prado Dos Santos (Universidade Presbiteriana Mackenzie – São Paulo) A metamorfose, segundo o pensamento clássico, é um fantástico e prodigioso evento de transformação, que se apresenta como uma espécie de continuidade, pois aquele que é transformado em animal, planta, pedra, não morre propriamente, mas permanece, de alguma maneira, em uma alteridade. Segundo o poeta latino Ovídio (I a. C.), é toda 90 transformação sobrenatural que afeta a aparência de um ser: in noua ....mutatas..... formas / corpora (Ov. Met. I,1-2), como resultado tanto de uma intervenção exterior, imputada por uma divindade, quanto de uma mutação interna provocada por grande sofrimento, ou seja, é a fantástica transformação de engendrar o outro sem deixar de ser o mesmo. Intenciona-se apresentar, nesta comunicação, uma estreita relação de semelhança entre o episódio de Erisícton (livro VIII), das Metamorfoses de Ovídio, e a metamorfose de Gregor Samsa em um inseto, da obra Metamorfose de Franz Kafka (1912). A partir da leitura da Introdução à Literatura Fantástica de T. Todorov, procurar-se-á estabelecer a possível e estreita relação entre as duas personagens – Erisícton e Gregor Samsa- demonstrando de que forma o processo de metamorfose foi transposto para o universo de Kafka, ao investigar as características que permeiam o discurso literário ovidiano e kafkiano que visa à insólita transfiguração do real, proporcionando ao narratário ou leitor novas e múltiplas dimensões de vida. Em suma, a proposta do trabalho é constatar, a partir de um elo comparativo, que a obra de Kafka é uma metamorfose metaforizada da condição humana, representada pela tragédia de Gregor Samsa. Palavras-chave: Metamorfose; Ovídio; Franz Kafka; Insólito. A RELEITURA DOS MITOS CLÁSSICOS EM “PERCY JACKSON E OS OLIMPIANOS” Guilherme Augusto Louzada Ferreira de Morais (IC – UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto); Victória Pereira da Silva (IC – UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto); Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) A pesquisa busca verificar como ocorre o diálogo intertextual entre os livros que compõem a série "Percy Jackson e os Olimpianos", do autor norte-americano Rick Riordan, e a Mitologia Clássica. Na apresentação pretendemos enfocar, principalmente, O ladrão de raios, A maldição do Titã e O último olimpiano (primeiro, terceiro e quinto livros da série). Dentre inúmeros personagens ou objetos encontrados nos textos de Riordan, inspirados em narrativas mitológicas revisitadas, selecionamos as mais relevantes; dentre eles estão os feitos do herói Perseu, alguns trabalhos do herói Hércules, características do ser mitológico chamado Mantícora, a atuação de Titãs diversos e a interferência de Deuses como Poseidon, Zeus e Hades; todos já descritos pelos autores gregos e romanos como Homero, Hesíodo, Ovídio e outros em suas obras, escritas na Antiguidade Clássica. Temos como base teórica as considerações tecidas por Samoyault (2008) que afirma que a Literatura, antes de falar do mundo, fala de si mesma. Nossos objetivos são: encontrar os textos-fontes de cada referência selecionada, verificar como o diálogo intertextual acontece, tendo em vista os registros antigos dos mitos relidos e a nova apresentação que possuem nos textos tomados como corpus de nossa pesquisa, e, ainda, confirmar nossa hipótese de que o autor da série fez uso constante da Intertextualidade ao retomar e acrescentar novas significações aos elementos pertencentes à Mitologia Clássica no contexto da Literatura contemporânea, o que nos remete à motivação da permanência do mito na atualidade e à necessidade constante da representação literária ou artística em geral de heróis, com características clássicas, nos quais o homem contemporâneo possa se espelhar. 91 Palavras-chave: Percy Jackson e os Olimpianos; Rick Riordan; Mitologia clássica; Diálogo intertextual. SIMULACROS DE HERÓI: DIONÍSIO ENCENADO Henrique Roriz Aarestrup Alves (UNEMAT – Câmpus de Sinop) Os romances de Gutiérrez e de Noll impressionam pela fragmentação física e identitária de seus personagens. A errância, a embriaguez de Reinaldo e Magda pela maconha, pelo rum e pelo sexo, a esfoladura de seus corpos, no texto de Gutiérrez, assim como a sexualidade explosiva do narrador personagem e de sua parceira Afrodite, na narrativa de Noll, compõem cenários contemporâneos de violências e esfacelamentos múltiplos. Dessa maneira, o esvaziamento do mito do herói - seu nascimento na Grécia antiga e sua provável morte nas sociedades “(pós-) modernas” - prepara esse cenário contemporâneo de deslocamentos diversos, que se estendem, principalmente, para os espaços da cidade, contaminando a identidade do sujeito, desestabilizando-a. Esse processo é levado ao extremo em ambas as narrativas, embora na de Gutiérrez perceba-se, mais nitidamente, um esvaziamento da própria cultura, a qual se relaciona com a diluição das fronteiras entre os espaços da cidade, os corpos e suas identidades, ligando-os pela via da degradação. Na narrativa de Noll não se percebe a completa indiferença como nos personagens cubanos, mas uma intensa vontade de mergulhar na miséria. De qualquer maneira, a figura do herói encontrar-se-ia bastante comprometida e problemática em ambas as narrativas, já que também sofre as fragmentações e os deslocamentos do sujeito inserido nos contextos incertos da pós-modernidade. Palavras-chave: Gutiérrez; Noll; Herói; Pós-modernidade. UM ESTUDO ISOTÓPICO DE “FUTUROS AMANTES” DE CHICO BUARQUE Marcela Ulhôa Borges Magalhães (UNESP – FCL – Araraquara) As cidades submersas povoam nosso imaginário desde a Antiguidade Clássica e causamnos um misto de fascínio e temor. Platão, o primeiro a registrar a lenda de Atlântida, cidade que afundou no oceano e, nele, ficou completamente submersa, inspirou, com suas descrições ricas em detalhes que beiram o fantástico, muitos poetas e escritores a produzirem obras nas quais a imagem da cidade submersa por vezes sobreleva-se. Chico Buarque, na letra da canção “Futuros Amantes”, apropria-se também dessa mesma imagem, criando uma relação dialógica e intertextual com essa mesma referência, mas, sobretudo, criando uma isotopia em que se instalam figuras – a exemplo dos versos “E quem sabe então / o Rio será / alguma cidade submersa / os escafandristas virão / explorar sua casa / seu quarto, suas coisas / sua alma desvãos” – que remetem à imagem poética predominante no poema: a cidade submersa que preserva, intactos, os espaços físicos, bem como os sentimentos e as paixões daqueles que ali viveram, a fim de potencializar o efeito de sentido passional do texto. Na presente intervenção no Colóquio do Fantástico, propomo92 nos demonstrar quais foram os expedientes expressivos manipulados pelo enunciador, sobretudo no que concerne à figuratividade, para configurar os efeitos de sentido pretendidos no discurso, pois as paixões que aparecem no plano de conteúdo do texto transbordam para o plano da expressão de modo a formar uma tessitura uniforme, em cuja plasticidade, expressão e conteúdo solidarizam-se mutuamente. Palavras-chave: Chico Buarque; “Futuros Amantes”; Cidades submersas; Atlântida; Isotopia; Figuratividade. A REESCRITURA DA ILÍADA, DE HOMERO, NO SÉCULO XXI E AS REFLEXÕES SOBRE A GUERRA POR ALESSANDRO BARICCO, EM OMERO, ILIADE Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto); Bruno Olivi de Oliveira (IC – UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto); Pedro Henrique Pereira Graziano (IC – UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) e Talita Montalvão Pereira (IC – UNESP – IBILCE – São José do Rio Preto) A presente pesquisa tem como corpus de estudo a obra Omero, Iliade, do autor italiano Alessandro Baricco, escrita em forma de monólogos teatrais para ser representada nos palcos e publicada em forma de texto literário, em 2004. Ela foi criada, segundo o autor, pela necessidade de um texto mais compatível com o público moderno, tanto em linguagem quanto em duração de leitura. Para isso, o autor italiano, com base numa versão em prosa em italiano, fez uma reescritura da Ilíada, de Homero, realizando, evidentemente, supressões em relação ao texto-fonte e inovando ao dar voz a diversas personagens, o que descentralizou a narrativa. Primeiramente, evidenciamos, ao máximo, a estreita relação intertextual que liga o texto contemporâneo italiano ao clássico homérico. A seguir, nos aprofundamos nos aspectos narrativos da obra italiana, para depois nos determos nas considerações que o autor faz na “Postilla sulla guerra”, espécie de posfácio que acrescenta a seu texto, de cunho filosófico-literário, propondo uma reflexão sobre a motivação e a estruturação das guerras, desde a de Tróia até as contemporâneas. Em nossa pesquisa, buscamos compreender como o clássico permanece na nova obra produzida; quem e como são os narradores presentes nela; quais eventos e de que forma narram e que reflexões a mais a nova obra desperta, uma vez que se propõe a algo além de narrar, exatamente na parte final, ou seja, se propõe a levantar questões sobre a guerra. Além disso, intencionamos investigar as razões que levam à permanência do clássico homérico e do mito clássico no início dos século XXI. Palavra-chave: Omero, Iliade; Alessandro Baricco; Ilíada; Homero; Intertextualidade. O HERÓI SVEVIANO E O HERÓI MITOLÓGICO Maria Teresa Nunes Sanches (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) 93 O herói criado por Italo Svevo (pseudônimo de Ettore Schimitz, nascido em Trieste, autor de romances, contos e peças teatrais, destaque na Literatura Italiana do século XX), fragmentado e impotente, transita da inépcia, à senilidade e à doença, prisioneiro da feroz engrenagem da sociedade moderna – uma sociedade em crise de valores que culminará na Primeira Guerra Mundial. Alfonso Nitti, personagem do romance Una Vita (1892) e Emilio Brentani, de Senilià (1898), mostram o fracasso do começo ao fim de suas histórias. Constituem metáforas da incapacidade à vida, expressam a crise da personagem que reflete a do homem contemporâneo, tal como a personagem-narradora do terceiro romance La coscienza di Zeno, Zeno Cosini. Texto híbrido, misto de autobiografia e diário, no qual o narrador rememora o passado por meio da escrita, como forma de curar-se de suas neuroses. Refletir sobre a trajetória desses (anti)heróis, resgatando elementos da gênese do mito do herói símbolo do ser humano na aventura da vida, implica estabelecer um paralelo com o mito d'annunziano do super-homem, bem como revisitar a Mitologia grega e seus elementos constitutivos: o logos, o eros, o ethos, a psiche, o theós e o pathos, de cujo desequilíbrio advém a complexidade do ato de viver e a angústia existencial expressos nos romances. A visão de Italo Svevo evidencia-se ao longo da evolução de seu processo de escrita: a autoconsciência narrativa, a relação intertextual, irônica e paródica que os seus textos estabelecem com as tradições históricas e literárias da Itália, são recursos que teoria que Linda Hutcheon denominou de metaficção historiográfica. Palavras-chave: Italo Svevo; Literatura Italiana do século XX; Hibridismo; Herói; Mito d'annunziano. A CRIAÇÃO DO MUNDO: RELAÇÕES INTERTEXTUAIS ENTRE O AINULINDALË, DE J. R. R. TOLKIEN, E A BÍBLIA SAGRADA Mariana Souza e Silva (USP) O fenômeno da intertextualidade ocorre de diversas maneiras na literatura, se considerado em sentido amplo. Pode aparecer sob a forma de citação, exaltação, crítica, subversão etc., havendo ou não mudança de estilo e gênero. A característica presente em toda e qualquer relação intertextual, que é o diálogo entre os textos, é mantida em todas estas formas, e fica a cargo do autor revelar, ou não, sua intenção ao leitor. Neste estudo consideramos a Bíblia uma obra literária de cunho religioso, estendendo-se assim seu poder de influência em outras obras, a ponto de ser denominada fonte de intertextualidade. Para a análise em questão, levaremos em consideração o primeiro livro do Antigo Testamento da Bíblia, o Gênesis. Assim como o significado do nome, este livro nos conta a origem do mundo e de todos os seres que nele habitam, incluindo a raça humana; é o livro responsável por abrir a História do Cristianismo, podendo ser considerado um dos mais importantes da obra. Assim como a Bíblia Sagrada propõe uma explicação à origem do homem e do mundo, J. R. R. Tolkien também o faz. Sua obra The Silmarillion, da mesma forma que a Bíblia, é aberta com o Ainulindalë, o texto que conta a criação do universo mitológico criado pelo autor inglês. Pretendemos, com esta comunicação, mostrar o percurso traçado por Tolkien, paralelo ao Gênesis bíblico, a fim de estabelecermos as relações de intertextualidade entre os textos. Palavras-chave: Ainulindalë; J. R. R. Tolkien; Bíblia Sagrada; Gênesis; Intertextualidade 94 FACUNDO QUIROGA, O ÁTILA DOS PAMPAS Muryel da Silva Papeschi (UNESP – FCL – Assis) Pretende-se com esta comunicação identificar a convergência existente entre os personagens Facundo Quiroga e Átila, o rei dos hunos e compreender a influência deste último na definição das características de Quiroga na Literatura atual. Retirados da História, argentina e oriental respectivamente, ambos deixaram de ser apenas personagens históricos para configurem-se como mitos especialmente pelas características e situações que os envolvem e não apenas pelas atuações que tiveram em meio às guerras que atuaram. Apesar de parecer um tanto ilógica a aproximação entre os dois personagens, situados historicamente em momentos distantes, o que se pretende aqui é desenvolver a proposta feita pelo argentino Domingo Faustino Sarmiento quando, ao escrever e publicar a obra Facundo o civilización y barbárie, no ano de 1845, já suscitou a possível semelhança entre eles. Recentemente, a contemporânea escritora e crítica teórica argentina Maria Rosa Lojo retomou e confirmou a hipótese de Sarmiento referindo-se a Facundo como um “novo Átila”, o que nos permite reinvestigar os dados, buscar a intertextualidade sugerida e discorrer sobre os possíveis diálogos que facilitam a releitura do mito. Como fonte para esta pesquisa, serão utilizados livros considerados biográficos sobre os personagens mencionados e também a teoria crítica oferecida por Maria Rosa Lojo, além de outros teóricos que permeiam este campo da intertextualidade. Palavras-chave: Facundo Quiroga; Átila; Domingo Faustino Sarmiento; Facundo o civilización y barbárie (1845); Maria Rosa Lojo. MITOPOÉTICA, LITERATURA E EDUCAÇÃO NA AMAZÔNIA Nathália da Costa Cruz (UEPA); Josebel Akel Fares (PPGED/UEPA) Este estudo intenta compreender como o imaginário que compõem as narrativas mitopoéticas amazônicas inscritas pela Literatura do poeta paraense Paulo Nunes pode contribuir para a Educação, bem como para a preservação das identidades sociais, das poéticas e dos saberes culturais da Amazônia. Em vários poemas de sua obra, Paulo Nunes reproduz o mito e o seu discurso poético se elabora a partir das imagens que povoam o construto imaginário da mitologia amazônica. O Boto, a Iara, a Cobra-Grande, de repente saem das águas, encharcam o chão da página e avançam floresta adentro, seduzindo, aterrorizando e já em terra encontram-se com a Matintaperera, com o Curupira que continuam seu mister(io) conduzindo com a sua invisível meada, o código de regras dos povos da floresta. Centrado na teoria do imaginário proposta por Gaston Bachelard e Gilbert Durand, se desenvolve este estudo que pretende, em linhas gerais, analisar, à luz da mitodologia, como prática hermenêutica fundamentadora, as narrativas mitopoéticas amazônicas (re)contadas pelo poeta paraense Paulo Nunes, de modo a contribuir para a formação e sensibilização de leitores/educandos. As narrativas mitopoéticas atestam 95 experiências, padrões de vida, refletem a vivência. São criações nascidas da experiência local, movimentando valores particulares da região, refletindo uma cosmovisão nos limites do horizonte da cultura, da alma do amazônida. Espera-se contribuir para a (re)valorização da Literatura, a partir das mitopoéticas amazônicas, como ferramenta indispensável à Educação. Palavras-chave: Paulo Nunes; Narrativas mitopoéticas amazônicas; Educação. QUANDO O EU É OUTRO: REFLEXÕES SOBRE O MITO DE ORFEU E SUA FIGURAÇÃO EM AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE (OU CONTEMPORANEIDADE, CLÁSSICA A TODO CUSTO) Nefatalin Gonçalves Neto (UFRPE) Orfeu é conhecido, nas diversas narrativas míticas, como o sujeito que enfrentou a morte em favor de sua amada, Eurídice. Relida posteriormente por diversos escritores, esta passou a ser tida enquanto forma propicia de se lidar com a morte, tendo até dado origem aos cultos órficos da antiguidade clássica. Modelo axial, a narrativa de Orfeu e Eurídice foi retomada diversas vezes, dentro de perspectivas ora de valoração, ora de negação. Contudo, a contemporaneidade apresenta uma faceta distinta desta postura: ao revisitar os mitos clássicos, os escritores contemporâneos buscam uma forma de dialogar com os mesmos, propondo releituras no sentido de completar ou apontar os diversos caminhos iniciados pela pelo mito. Partindo dessa proposição, o trabalho que ora objetivamos apresentar tem como intuito mapear o discurso mítico de Orfeu e sua descida aos infernos, buscando estabelecer relações desta narrativa mítica com a música para reencontrá-la, lida intertextual e parodicamente, no romance As intermitências da Morte, do escritor português José Saramago. Para realizar nosso intento, partiremos da análise do elemento musical presente no mito de Orfeu e, posteriormente, averiguar como o narrador saramaguiano soma a esta questão o artifício do insólito para a composição de sua obra. Entendendo o insólito como um elemento não disposto no pacto realista para representar a factualidade, comporemos nosso percurso crítico e analítico perscrutando a construção intertextual de Saramago enquanto forma de interpretativa da realidade por meio de um modo fantástico. Assim, nossa hipótese é a de que, mesmo decorridos mais de dois milênios, a sociedade ainda não sabe como lidar com a questão da morte, tendo a necessidade de que seus escritores, sujeitos diferenciados no trato para com os fatos da vida cotidiana, proponham caminhos que levem o leitor a vislumbrar novas possibilidades de relação com o mundo. Palavras-chave: Orfeu; Eurídice; Contemporaneidade; As intermitências da Morte; José Saramago; Morte. ELEMENTOS MÍTICOS E RITUALÍSTICOS PRESENTES NO CONTO MARAVILHOSO CELTA “MORRAHA”. Raquel de Vasconcellos Cantarelli (UNESP – FCL – Araraquara) 96 Por meio de uma leitura crítica do conto popular celta “Morraha” (JACOBS, 2001, p. 16780) será evidenciada a intertextualidade dessa narrativa com elementos inerentes às mitologias celta e egípcia, além daqueles advindos de ritos e mitos primitivos, de caráter mais universal. Além disso, demonstraremos de que modo, além de simples citações, alguns dos elementos ritualísticos podem agir profundamente nesse gênero literário, condicionando a própria estrutura profunda do mesmo. Uma vez que esse tipo de narrativa encerra motivos advindos de diferentes culturas, pertencentes a diferentes épocas, recorreremos à divisão morfológica naqueles pontos em que isso nos traga maior clareza para identificar elementos mítico-ritualísticos, bem como algumas transformações de origem sociocultural e estilística sofridas por certos motivos, quando adquirem novos significados para melhor satisfazer as aspirações do público ouvinte/leitor, de acordo com Propp (2002; 2006) e Lüthi (1976). Esse tipo de análise morfológica, aliada à análise de cunho histórico, facilita o isolamento dos elementos tardios, pertencentes às tradições celtas ou advindos de outras culturas, daqueles de origem primitiva universal, bem como a identificação de alterações no estilo padrão do gênero e a natureza das mesmas. Dessa forma, traremos à tona significados há muito obscurecidos pelo tempo, além de novos sentidos engendrados pela posterior conformação do conto a padrões socioculturais mais evoluídos. Finalmente, por meio da teoria actancial (COURTÉS, 1979), definiremos o percurso das principais personagens, a fim de estabelecermos com mais clareza os fatores axiológicos presentes na narrativa e suas implicações no diálogo entre obra e sociedade. Palavras-chave: “Morraha” (2001); Jacobs; Mitologia celta egípcia; Propp (2002; 2006); Lüthi (1976). “CONTOS RECONTADOS EM CORDEL: ‘AS DOZE PRINCESAS DANÇARINAS’ NA VERSÃO DOS GRIMM E DO FOLHETO DE MANOEL MONTEIRO” Samantha Pollyana Messiades Pimentel (Universidade Estadual da Paraíba) A literatura de Cordel brasileira tem passado nos últimos anos por um momento de (re)valorização, onde torna-se alvo do interesse de estudantes universitários, pesquisadores da cultura popular, entre outros sujeitos sociais. Essa mudança decorre da revalorização dos movimentos culturais calcados na cultura popular, como afirma GALVÃO (2001). As mudanças observadas na literatura de cordel, e na cultura popular como um todo, refletem essas modificações, sem, contudo, esquecer as características que a identificam. Nesse panorama se insere a Literatura de Cordel que reconta histórias clássicas da literatura infantil. Nesses folhetos, ao mesmo tempo em que se reconta a história já conhecida por todos, reproduzindo e reforçando a memória, o poeta popular inevitavelmente cria uma realidade diferente, por vezes tornando-as mais atuais, num processo de amplificação, que “[...] implica desfazer/refazer um modelo instituído por acréscimos de novos atributos em irradiações que o presente ao passado envia, amplificando-lhe o espaço-tempo de sua ocorrência” (PALO; OLIVEIRA, 2003, p.60). Nesta perspectiva tomamos como corpus de pesquisa o conto “As Doze Princesas Dançarinas”, dos Irmãos Grimm, e a sua versão em folheto, intitulada “A Dança das Doze Princesas: um cordel contando contos”, de autoria de Manoel Monteiro. Buscamos examinar os indícios que apontam para esse processo de 97 desfazer/refazer o padrão já instituído, por meio do acréscimo e/ou da supressão de elementos, como já adverte o poeta Manoel Monteiro em seu folheto: “Venho traduzindo para a língua do cordel vários contos tradicionais, no entanto, quase sempre, dou uma nova vestimenta ao desenvolvimento da história, atualizando o cenário, os termos, a mensagem.” (MONTEIRO, 2009, p.2). Também se torna ponto de interesse deste estudo as aproximações entre o conto maravilhoso e o mito, e os arquétipos que podemos verificar no conto corpus dessa pesquisa. Objetivamos assim, realizar uma análise comparativa entre as duas literaturas, com base principalmente nos conceitos de Paródia, Intermidialidade e Tradução Intersemiótica, utilizando como principais aportes teóricos as contribuições de Lucrécia Ferrara (1981), Vladimir Propp (2001), Claus Clüver (2011), Júlio Plaza (2003) e Raul Fiker (2000 Palavras-chave: Literatura de Cordel; Cultura popular; “As Doze Princesas Dançarinas”; Irmãos Grimm; “A Dança das Doze Princesas: um cordel contando contos”. “DA COCANHA À TERRA DOS LOUCOS: A RECEPÇÃO DA FÁBULA DOS MONOS NO KINDER-UND HAUSMAERCHEN.” Sylvia Maria Trusen (UFPA/ Pesq. RELER – Cátedra Unesco de Leitura- PUC/Rio) A fábula do mono ou Schlauraffenland remonta, sem dúvida, à idade bem antiga, pois esta atual narrativa já aparece em poema do século XIII. (Brüder Grimm, 1982, III V.: 251)” Com esta explicação, os Grimm assinalam a proveniência do conto nº 158, publicado no segundo volume da primeira edição do Kinder-und Hausmärchen (1815), intitulado “Das Märchen vom Schlauraffenland”. Observam, entretanto, o parentesco com outro conto, “João e Maria, bem mais conhecido do público brasileiro, salientado pela enunciação da sedutora casa coberta de confeitos, dado que ambos estariam enlaçados ao mito do Éden. O presente estudo, pertencente ao domínio dos estudos literários, pretende, portanto, examinar o conto publicado pelos Irmãos Grimm, em 1815, Das “Märchen vom Schlauraffenland” na coletânea Kinder-und Hausmärchen (Contos maravilhosos para as crianças e para o lar), articulando-o ao país lendário retratado no fablieau “De Cocaigne”, versão escrita no século XIII, provavelmente na Picardia. A partir da etimologia do título dado à narrativa, pretende-se enlaçar o mito do Éden a designação alemã dada à lendária Cocanha em sua publicação na compilação e nos anexos. O recorte teórico será dado pelos livros de Hilário Franco Jr, Cocanha: a história de um país imaginário, pelo de Clausen-Stilzenburg, Märchen und mittelalterliche Literaturtradition, bem como pelos estudos de Propp e Victor Bravo acerca do maravilhoso. Palavras-chave: Fábula dos Monos; recepção; Mito do Éden; Cocanha. A QUEDA E A RECONSTRUÇÃO DE EVA: A RELEITURA DO MITO DE ORIGEM NAS OBRAS DE ANGELA CARTER Talita Annunciato Rodrigues (UNESP – FCL – Assis) 98 Em seu estudo sobre os mitos, Mircea Eliade afirma que há mais de meio século, os eruditos ocidentais passaram a estudar o mito por uma perspectiva que contrasta sensivelmente com a do século XIX. Ao invés de tratar o mito na acepção usual do termo, como “fábula”, “invenção”, “ficção”, como seus predecessores, eles o aceitaram como era compreendido pelas sociedades arcaicas, onde o mito designa, ao contrário, uma “história verdadeira”, extremamente valiosa por seu caráter sagrado exemplar e significativo. Hoje, segundo considera o estudioso, a palavra é empregada tanto no sentido de “ficção” e “ilusão” quanto no sentido de tradição sagrada, revelação primordial, modelo exemplar. Nenhuma narrativa mítica associa-se tanto a essas funções como a história bíblica de Adão e Eva. Incorporado ao livro sagrado, o mito judaico-cristão constitui as bases da cultura Ocidental, inspirando diversas releituras e interpretações. Angela Carter, uma das mais consagradas escritoras de autoria feminina de sua época, explorou o tema em duas de suas obras, The Magic Toyshop, de 1967, e The Passion of New Eve, de 1977. Enquanto no primeiro romance a protagonista Melanie aproxima-se de Eva ao enfrentar as consequências da transgressão, no segundo, a narrativa de Gênesis é recontada e a “nova Eva”, antes um homem, é construída. Em ambos os casos, o diálogo com a mitologia está vinculado às formas de construção e representação do gênero na literatura. Procura-se refletir nesta comunicação, portanto, como o mito é trabalhado na ficção carteriana e propõe-se discutir como ele contribui para expressar a crítica sugerida por Carter nos dois romances citados, ou seja, a denúncia ao patriarcado e a possível ruptura com seus valores. Palavras-chave: Angela Carter; The Magic Toyshop; The Passion of New Eve; Mito judaico-cristão. SIMPÓSIO 6 – O FANTÁSTICO DE EXPRESSÃO MANIFESTAÇÕES INTRA, INTER E EXTRATEXTO FRANCESA: Coordenadoras: Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP –IBILCE- São José do Rio Preto) Glória Carneiro do Amaral (UPM/USP) Renata Philippov (UNIFESP) HISTÓRIAS FRANCESAS, LINGUAGEM FANTÁSTICA QUEBEQUENSE Ana Luiza Ramazzina Ghirardi (EFLCH – UNIFESP) Quando parte do Canadá ainda se chamava Nova França, a língua francesa encontrava entraves para se consolidar em sua forma escrita e, por isso, a literatura quebequense conheceu um nascimento tardio. Por aproximadamente um século, ela se confina quase totalmente à dimensão oral, conhecendo suas primeiras manifestações escritas apenas quando seu povo começa a resgatar da memória ancestral canções, contos e lendas. No século XIX, essa literatura escrita revela uma nova figura narrativa, a do contador. Este é um simples e fiel transcritor que adapta histórias criadas pela imaginação popular, ocorridas na França ou na colônia. Elas são objeto de crença popular e revelam o fantástico e o maravilhoso, descrevendo personagens quotidianos como símbolo de uma cultura que 99 existe e que resiste. Esta comunicação se propõe a investigar como a mudança da literatura oral para a escrita impactou a criação de uma linguagem fantástica quebequense, fruto do desejo de um povo de estabelecer uma literatura escrita, literatura que irá resgatar histórias do universo francês e quebequense. Para isso, toma-se como fio condutor o Conte Populaire de Charles Laberge, sob a ótica de Propp (2010), que leva o leitor a descobrir tradições de festas como o dia de Sainte Catherine, livros misteriosos como o Petit-Albert e personagens do outro mundo, como o Diabo. Palavras-chave: Literatura quebequense; Literatura fantástica; Identidade; Literatura oral. L'OEIL, COMME UN BALLON BIZARRE SE DIRIGE VERS L'INFINI: O FANTASTICO QUE UNE EDGAR ALLAN POE E ODILON REDON Brenda Romeda Azevedo (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) O pintor simbolista francês Odilon Redon (1840 – 1916) sempre foi um aficionado por literatura. Precursor das vanguardas surrealistas francesas, Redon homenageou em diversas ocasiões vários escritores como Baudelaire, Mallarmé, Flaubert e Edgar Allan Poe. O primeiro contato de Redon com obras de Poe dá-se através de contos fantásticos, traduzidos por Baudelaire, pouco depois de sua publicação, por volta de 1856. A atmosfera irreal e misteriosa presente nos contos do autor conquistam Redon que, anos mais tarde (1882), inspira-se em aspectos de diversas obras de Poe para compor o álbum A Edgar Poe. Tal obra reúne seis litografias, cada uma com referências de seus textos, unindo ambas as expressões artísticas e usando o fantástico como fio condutor. A proposta nesta comunicação é de levantar algumas considerações referentes ao diálogo literatura/pintura entre obras de Poe e de Redon, fazendo o recorte de uma das seis pranchas inspiradas pelo escritor: L'Oeil, comme un ballon bizarre se dirige vers l'infini. Pretendemos, por meio de uma amostragem, destacar alguns trechos que dialogam com essa ilustração. Selecionamos inicialmente quatro contos nos quais os balões aparecem de forma explícita: The Angel of the Odd: An Extravaganza, The Balloon-Hoax, On Board a Balloon called «Skylark» e The Unparalleled Adventure of One Hans Pfaall. Trata-se uma primeira abordagem, impressionista, que está em vias de desdobramento e faz parte da etapa inicial de nossa pesquisa. Palavras-chave: Odilon Redon; Edgar Allan Poe; Literatura; Pintura; Intertextualidade. MAUPASSANT E OS GATOS Brigitte M. Hervot (UNESP – FCL – Assis) Trata-se aqui de analisar a figura do gato em alguns textos de Guy de Maupassant (18501893), o escritor francês considerado por muitos como o mestre do conto fantástico. O gato sempre ocupou um lugar de destaque no bestiário literário. Sua presença discreta, silenciosa, a sensualidade de seu contato e a elegância refinada de seus movimentos, a complexidade de seu caráter levam inúmeros escritores a inserir esse animal em seus textos 100 e fazer dele seu companheiro de trabalho. Símbolo do duplo, da esperteza, da mulher misteriosa, da justiça implacável, o gato assume várias significações e é sempre mais do que um simples elemento do cenário. É justamente essa ambiguidade simbólica do gato que pode conferir um caráter de estranheza às cenas mais familiares, ou ao contrário torna familiar um ambiente estranho, nos textos de Maupassant. Como é precisamente essa mistura de estranheza e de familiaridade que define os textos fantásticos, aos poucos, o gato vai se situar no limiar do real e do fantástico, entre o humano e o sobrenatural, seja divino, seja demoníaco. Palavras-chave: Século XIX; Maupassant; Fantástico; Gato. CHARLES BAUDELAIRE E ODILON REDON: DIÁLOGOS A PARTIR DE AS FLORES DO MAL Bruna Malacrida Cruz (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) A presente proposta insere-se nos estudos sobre inter e paratextualidade e tem por objetivo a observação do diálogo entre imagem e literatura, a partir da obra de Odilon Redon e de Charles Baudelaire. Neste simpósio, interessa-nos realizar uma primeira abordagem sobre as 9 pranchas que o pintor simbolista francês Odilon Redon (1840-1916) consagrou à obra As Flores do Mal (1857), de Charles Baudelaire. Ao coterjarmos as pranchas (1890), consideradas pelo próprio pintor como sendo “interpretações, traduções ou releituras” (em detrimento do termo “ilustrações”, que não o agradava), com os poemas, buscaremos realizar, ainda que indiretamente, um panorama do Impressionismo e do Simbolismo francês do século XIX. O corpus que se apresenta é, pois, resultado de um levantamento e parte das ilustrações de Redon e de sua explícita correspondência com os versos de Baudelaire, uma vez que cada uma das 8 pranchas (capa à parte), traz um ou mais versos que se referem a As Flores do Mal. Embasando-nos teoricamente na teoria da paratextualidade de Gérard Genette, propomos realizar uma análise de base sobre a flagrante relação intertextual estabelecida entre os 8 poemas de As Flores do Mal escolhidos para serem ilustrados por Redon, revelando o diálogo entre dois sistemas semióticos distintos: pintura e literatura, imagem e texto e suas respectivas narrativas. Palavras-chave: Odilon Redon; Charles Baudelaire; As Flores do Mal; Pintura e literatura; Intertexto; Paratexto DIÁLOGO ENTRE VICTOR HUGO E CHARLES NODIER: O FANTÁSTICO NO POEMA “LA RONDE DU SABBAT (1825)” E NO CONTO “SMARRA OU LES DÉMONS DE LA NUIT” (1821) Daniela Mantarro Callipo (UNESP – FCL – Assis) A décima quarta balada da coletânea Odes et Ballades publicada em sua versão definitiva por Victor Hugo em 1828, intitula-se “La ronde du sabbat” e é dedicada a Charles Nodier (1780-1844), considerado precursor do conto fantástico na França. Nesse poema criado em 101 1825, Hugo alude a Smarra, o cruel demônio criado por Nodier em seu romance Smarra, ou les démons de la nuit, de 1821. A escolha de uma “balada” favorece o sonho e a evocação de superstições, além de inserir na poesia a noção de grotesco, tão cara a Hugo. Em um ambiente noturno, macabro e sinistro, o poeta descreve o encontro de Satã com seus seguidores, dentre os quais uma feiticeira. Hugo dedica o poema a Nodier, estabelecendo com ele um diálogo intertextual. Nodier, por sua vez, no prefácio de seu conto, admite ter feito um “pastiche dos clássicos”, remetendo sua criação a Virgílio, Dante e Shakespeare, entre outros. Tomando-se por base as teorias apresentadas por Todorov (2003) e Vax (1972), pretende-se comparar o poema hugoano “La ronde du sabbat”, tendo em vista sua construção baseada no sobrenatural, e o conto de Nodier “Smarra ou les Démons de la Nuit”, que permite aproximações com o gênero fantástico e frenético. Palavras-chave: Victor Hugo; Charles Nodier; Diálogo intertextual; Entidades fantásticas. O ARTISTA NO CONTO FANTÁSTICO FRANCÊS: E. T. A. HOFFMANN E HONORÉ DE BALZAC Elaine Cristina dos Santos Silva (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) Tendo suas raízes na literatura gótica inglesa, a literatura fantástica aparece como uma combinação própria de elementos do real e do sobrenatural no final do século XVIII e início de século XIX, criando, nas narrativas deste gênero, um jogo bastante característico com a verossimilhança interna e externa. A literatura fantástica surge em um contexto no qual o ser humano, influenciado pelo pensamento iluminista, em frenética busca por conhecimento, não consegue obter, por meio do progresso técnico e científico até então alcançado, a esperada sensação de plenitude e realização. Nos contos de E. T. A. Hoffmann (1776–1822), percebemos que a literatura fantástica começa a distanciar-se de suas raízes góticas, abandonando os típicos cenários mal-assombrados para aproximar-se da realidade do leitor da época. Com uma visão mais moderna, Hoffmann passa a explorar o universo das mais perturbadas mentes humanas. Nessa comunicação, serão apresentados três contos de dois importantes representantes dessa literatura na França, dois do já citado E. T. A. Hoffmann e um de Honoré de Balzac (1779–1850): “La cour d’Artus” (1816), “La leçon de violon” (1819) e “Le chef d’œuvre inconnu” (1831). Observamos, nos três contos, a presença de personagens artistas geniais e mentalmente transtornadas, a partir das quais o “fantástico” é desencadeado. A visão distorcida da realidade que essas personagens apresentam, em virtude da condição conturbada de suas mentes, também é uma questão cara à literatura fantástica, na medida em que propõe uma reflexão acerca dos limites entre realidade e imaginação. Palavras-chave: Literatura fantástica; Literatura comparada; Hoffmann; Balzac; Artista; loucura. EDGAR POE: CONTOS E ROTEIRO Gloria Carneiro do Amaral (USP/Universidade Presbiteriana Mackenzie) 102 O filme “O corvo” (2012), dirigido por James Mac Teigue, permite uma discussão sobre a viabilidade do fantástico do século XIX em nosso XXI. Trata-se de um filme de equipe: roteiro esperto, boa fotografia, atores competentes, direção de arte discreta e elegante, montagem com ritmo envolvente. Tudo orquestrado por James McTeigue. O resultado é uma obra divertida, engenhosa, que prende o espectador ao que acontece na tela. O que nos interessa é sobretudo o roteiro: nos últimos dias de Poe em uma Baltimore meio inglesa, o escritor americano tem sua vida misturada a um serial killer que procura reproduzir a intriga de seus contos. Estabelece-se uma rede intertextual atraente para os leitores de Poe. O filme nos traz contos como “Assassinatos da rua Morgue”, “O demônio da perversidade”, “O pêndulo e o poço” e outros. Por que estes? Qual a ligação com a biografia do autor? Estaremos diante de lugares comuns? E na perspectiva de nosso simpósio, como se colocaria um de seus primeiros biógrafos, Baudelaire, tão atento aos tormentos existenciais do escritor inglês, diante dessa versão da vida de Poe? Palavras-chave: Edgar Poe; Baudelaire; O corvo; Diálogo cinematográfico; Recepção e apropriação. A TERCEIRA MARGEM DO RIO E O REALISMO FANTÁSTICO Márcia Valéria Martinez de Aguiar (USP – FFLCH) Ao ler a correspondência de João Guimarães Rosa com seu tradutor francês, Jean-Jacques Villard, surpreendi-me ao descobrir que um de seus contos mais conhecidos, “A terceira margem do rio”, havia sido publicado na revista Planète, editada pelos pais do realismo fantástico Louis Pauwels e Jacques Bergier. A revista, publicada na esteira da comoção provocada por O despertar dos mágicos, colocava-se, antes de tudo, contra o positivismo científico dominante na época e levava em conta os fenômenos paranormais, a alquimia, as capacidades inexploradas do cérebro humano. “Rien de ce qui est étrange ne nous est étranger" era o lema da revista. Nesta comunicação, gostaríamos de, por um lado, contar a estória da publicação e da tradução desse conto e, por outro, pensar esse fenômeno como integrado ao modo como as obras de Guimarães Rosa e de outros escritores latinoamericanos foram recebidas na França dos anos 1960. Palavras-chave: Realismo fantástico; Guimarães Rosa; Planète. SUSPENSE EM “NUIT DE FIÈVRE”, DE ODILON REDON Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP –IBILCE – São José do Rio Preto) O pintor francês Odilon Redon (1840-1916) era um grande amante de literatura. Montaigne, Pascal e Gide eram algumas de suas preferências. Huysmans e Mallarmé figuravam entre seus amigos íntimos. Redon realizou ilustrações que chamou de “traduções, interpretações, adaptações” para as obras de Flaubert, de Edgar Allan Poe e de Baudelaire. O que não se sabia até pouco tempo é que o pintor, além de dominar o pincel, 103 aventurou-se igualmente com a pluma. Não estamos falando de seu diário, de seus artigos no jornal de Bordeaux La Gironde ou de sua cotidiana correspondência mantida com amigos, material conhecido em vida e publicado postumamente, nem dos textos autobiográficos ou escritos sobre arte descobertos por sua família após sua morte, mas de dez textos, em forma de contos, adquiridos pelo Art Institute de Chicago, em 1991, e publicados, em 2005, por Claire Moran, do University College de Dublin. Singelos e distintos em sua composição e dimensão, os textos foram recentemente publicados na França e merecem a atenção dos admiradores de Redon, estudiosos de literatura fantástica. A observação do material em questão, as possíveis interfaces e diálogos com textos da época e com a obra pictural de Redon tem sido foco de nosso interesse e pesquisa. Elegemos mostrar neste simpósio nossa leitura do conto “Nuit de fièvre”, de inspiração fantástica. Assim como no conto do contemporâneo de Redon, Prosper Mérimée (18031870), “La chambre bleue” (1866), o quarto e o que nele se vivencia, ganha proporções fantasmagóricas. Impossível, pois, não traçarmos um paralelo entre os dois contos, evocando os recursos narrativos dos escritores no que tange os sentidos e os procedimentos de manutenção ou esclarecimento do mistério em ambos os textos. Palavras-chave: Odilon Redon; Prosper Mérimée; Literatura e pintura; Intertextualidade. “Je suis fou!” E.T.A. Hoffmann, personagem de Alexandre Dumas. Amor e morte na Paris do período do Terror (1793) Maria Lúcia Dias Mendes (UNIFESP) Paris, 1793. A cidade fervilha: execuções, festas, teatros, cassinos. A multidão feérica persegue os espetáculos, ávida por diversão. O som da guilhotina harmoniza-se com os ruídos da intensa vida noturna da cidade. Neste momento macabro chega à cidade o jovem Hoffmann (E. T. A. Hoffmann, compositor e escritor alemão, 1772-1822), ansioso para estudar música, pintura e “la science de la liberté”. Saído da pequena Mannheim, na qual deixa sua amada Antonia, depara-se com uma cidade mítica e envolvente, na qual o Amor e a Morte, a Realidade e a Loucura, a História e a Alucinação, caminham lado a lado. Paris, 1849. A cidade ainda sofre com as lembranças da Revolução de 1848 que, para os românticos, representa um marco crucial. Depois da perda de alguns ideais políticos e a morte de amigos próximos (Charles Nodier, Alfred d’Orsaye Marie Dorval) Alexandre Dumas, nostálgico, rememora os tempos felizes dos saraus do Arsenal na companhia do grande amigo Nodier. Em La femme au collier de velours, novela publicada de 22 de setembro a 27 de outubro de 1849, no jornal Le Constitutionnel, Alexandre Dumas soma ao seu repertório habitual (diálogos e coups de théâtre, o tom de causerie, a aventura, a História e o romance) uma pintura da época do Terror que toca a desolação e o horror. Se, por um lado, podemos pensar que tudo é parte de uma alucinação, por outro, os detalhes minuciosos da cidade, as personagens históricas, nos remetem diretamente à realidade. Narrativa bem construída, essa novela nos propõe as inquietações e reflexões de um autor envolvido com as revoluções, sejam elas feitas com a pena ou com o fuzil. Seria a História mais cauchemardesque do que uma alucinação fantástica? Ou, como diz a personagem Hoffmann: “Oh! mon Dieu! s’écria Hoffmann, en laisant tomber sa tête dans ses mains, tout cela est-il vrai, et suis-je donc si près de devenir fou?” 104 Palavras-chave: Romantismo Francês; Fantástico; História; Alexandre Dumas. A NARRATIVA FANTÁSTICA BALZAQUIANA: MELMOTH RÉCONCILIÉ E O PACTO DE PODER Marli Cardoso dos Santos (UNESP – FCL – Araraquara) A figura lendária de Fausto torna-se a mais representativa dos personagens na história da literatura, para esboçar um tipo de personagem, sempre ligado às forças demoníacas. Uma das narrativas mais conhecidas em todo o mundo é a de Goethe, que foi dividida em duas partes – a mais célebre escrita em 1808. O Fausto de Goethe é um poema de dimensões épicas, que traz a história de um cientista que fez um pacto com Mefistófeles, em busca de poder e de sucesso. Essa figura representa o anseio de ultrapassar a ordem, o desejo pelo conhecimento a qualquer custo, e por esse motivo o pacto é firmado. Outros escritores também retomaram o mito de Fausto e podemos dizer que Balzac realizou esse feito de modo exemplar. Satã é representado nas narrativas balzaquianas de duas formas: como o tentador, caso de Melmoth Réconcilié e do antiquário em La peau de chagrin, e como arquétipo satânico, que modelam grande parte dos personagens de La comédie Humaine (Milner, 1960). Melmoth réconcilié (1835) surge como uma espécie de continuação do Melmoth de Maturin, personagem que carregava ambas as naturezas, a humana e a demoníaca. Por desprezar a humanidade, acabou não se convertendo, já que ele esperava ser livrado do pacto, mas não conseguiu. No caso do Melmoth de Balzac, há uma reconciliação, uma vez que surgindo como uma figura de investidor, Melmoth transfere seu fardo a Castanier, um bancário endividado e cheio de problemas. Nosso objetivo com este trabalho é analisar o fantástico balzaquiano representado pelo pacto com as forças do mal, com o auxílio dos críticos Pierre Georges Castex, Max Milner e Albert Béguin. Palavras-chave: Fausto; Pacto; Fantástico; Comportamento humano; Honoré de Balzac. ANIQUILAÇÃO E QUEDA EM EDGAR ALLAN POE E CHARLES BAUDELAIRE: ALGUNS APONTAMENTOS Renata Philippov (UNIFESP) Esta comunicação pretende levantar algumas considerações acerca da questão da aniquilação do ser e da queda dentro de alguns contos de Edgar Allan Poe e poemas em prosa de Charles Baudelaire. Tal presença, bastante recorrente no conjunto de suas poéticas e estéticas, pode ser vista como tributária, da corrente gótica inglesa do século XVIII e XIX, e do romantismo francês, enquanto topos, caracterização de personagens, ambientação e enredo. Ao mesmo tempo, parece deles se distanciar, como ruptura rumo a uma crescente fragmentação espaço-temporal, linguística e textual dentro do conjunto das obras de Poe e Baudelaire. Portanto, esta comunicação pretende discutir em que medida a questão da aniquilação e da queda, tão marcantes dentro das narrativas gótica e neogótica 105 em termos de temática, foi tomada em particular por Poe e Baudelaire para compor uma poética e teoria estética sui generis dentro dos romantismos norte-americano e francês, assim se aproximando da estética do fragmento do pré-romantismo alemão. Assim, Poe e Baudelaire talvez antecipem em um século a questão da fragmentação do homem, do tempo e do espaço, questão essa tão forte na arte e filosofia dos séculos XX e XXI, mas, até certo ponto, ainda inovadora em meados do século XIX norte-americano e francês. Palavras-chave: Poe; Baudelaire; Queda; Aniquilação; Topos; Texto. SIMPÓSIO 7 – A ESCRITURA FANTÁSTICA NO FINAL DO SÉCULO XIX Coordenadora: Norma Domingos (UNESP - FCL - Assis) AS NARRATIVAS FANTÁSTICAS DA OBRA CONTOS AMAZÔNICOS, DE INGLÊS DE SOUSA Ana Caroline da Silva Rodrigues (UFPA) O objetivo deste trabalho é analisar de que forma o gênero fantástico é utilizado na construção dos contos, visto que por meio do narrador é possível perceber a antítese dos pensamentos entre o sobrenatural e o real. Essa dicotomia aparece na narrativa, principalmente pelo fato de elas pertencerem ao imaginário amazônico tão dispare da lógica dominante da época, na qual se baseava o pensamento positivista, característico do estilo naturalista, ao qual o autor foi um dos fundadores no Brasil. Um dos elementos principais a serem analisados será o narrador, posto que as narrativas além de possuírem o narrador culto (que não participa da história) temos os narradores característicos da região, personagens que fazem parte do povo e são porta-vozes dele e que ao narrarem os episódios já mostram conflitos existentes entre a tradição da região (representadas pelos contos populares sobrenaturais) e os valores urbanos - em que a comprovação é base para o crédito de verdade - visto que na própria narrativa eles já apresentam justificativas para possíveis dúvidas quanto a veracidade dos fatos. Para a análise serão utilizadas teorias de TzvetanTodorov, sobre o Fantástico; de Ligia Leite, sobre o Narrador; Paul Zumthor, sobre recepção e leitura; Alfredo Bosi e Afrânio Coutinho, acerca da literatura regionalista. Palavras-chave: Fantástico, Narrador, Amazônia. O TEMA DA CULPA NO FANTÁSTICO: UM ESTUDO DOS CONTOS “ROGER MARVIN’S BURIAL”, DE NATHANIEL HAWTHORNE E “THE TELL-TALE HEART”, DE EDGAR A. POE. Carla Denize Moraes (Colégio SESI) É difícil falar em literatura fantástica sem, em algum momento, fazer referência a Edgar Allan Poe, um dos mestres do gênero, cujo legado vem inspirando grandes escritores desde o século XIX. Outro autor do fantástico, contemporâneo de Poe, porém menos conhecido, é Nathaniel Hawthorne, que ficou conhecido pela autoria do conto “The Scarlet Letter”. No 106 entanto, interessa-nos, para este trabalho, seu conto “Roger Marvin’s Burial”, que explora, assim como no anterior, o tema da culpa, tema esse que aparece também em “O coração delator”, de Edgar Allan Poe. Em ambos, revela-se um retrato das aflições que se criam nas mentes atormentadas pela culpa e pode-se perceber que a ela é atribuída aos protagonistas, os quais chegam à beira da loucura, consumidos por esse sentimento. Tendo em vista que a criação dos dois autores se deu no mesmo período e que há similaridade de tema nos dois textos, trabalhos dedicados à literatura fantástica, pretende-se analisar o tema da culpa em Edgar Allan Poe e Nathaniel Hawthorne, explorando o universo da escritura fantástica e seus recursos de estilo. Com isso, propõe-se traçar um paralelo entre os dois contos, procurando identificar os recursos de estilo e de que maneira, na literatura fantástica, os autores trabalham o tema. Palavras-chave Literatura fantástica; Edgar Allan Poe; Nathaniel Hawthorne; Culpa. SONHO E LOUCURA EM AURÉLIA DE GÉRARD DE NERVAL Carla Cavalcanti e Silva (UNESP – FCL – Assis) Considerado por muito tempo como um romântico menor, Gérard de Nerval se destacou no final do século XIX como um precursor da poesia moderna, sua obra sendo recuperada, primeiramente pelos simbolistas que viram uma prefiguração, talvez inconsciente de suas próprias tentativas estéticas, e num segundo momento, pelos surrealistas que vislumbraram em sua obra Aurélia os primórdios da vida onírica e das explorações interiores, temas buscados por Breton e seus companheiros. Aurélia, iniciada em1841, ano da primeira crise mental de Nerval, retoma o tema da dupla busca de si através da mulher perdida (Aurélia – Jenny Colon, sua amante), sendo ao mesmo tempo uma espécie de “descida aos infernos” do sonho e da loucura. Persuadido da existência de correspondências entre o cotidiano e o sobrenatural, o narrador se debruça sobre o deciframento de seus pesadelos e suas visões como uma chave para o além, buscando desta forma explicações e lenitivos aos tormentos da vida terrestre. Aurélia, narrativa e análise dos espaços obscuros do sonho e do onirismo, introduzia, pela primeira vez, de forma subliminar, o discurso da loucura na literatura, abrindo uma via por onde se embrenhariam posteriormente Lautréamont, Rimbaud, Artaud e todos aqueles para quem o sonho é uma segunda vida. A presente comunicação tem por objetivo discutir alguns desses componentes para entender o sonho e a loucura como elementos propícios para a construção do fantástico. Palavras-chave: Sonho; Loucura; Aurélia; Gérard de Nerval. O FANTÁSTICO EM “O CORAÇÃO DENUNCIADOR”: ASPECTOS TEÓRIOCOS E ANALÍTICOS Érika Tamirys de Lima (UENP - Jacarezinho) No livro Contos fantásticos do século XIX, Italo Calvino faz uma seleção de narrativas fantásticas que ao longo deste período impactaram muitos leitores e marcaram gerações. Entre elas, “O coração denunciador”, considerado, pelo escritor e crítico literário italiano, a 107 obra-prima de Edgar Allan Poe. Este conto revela outra faceta do sobrenatural, isto é, o fantástico psicológico, nomeado e esclarecido por Calvino como aquele que ocorre com os mínimos meios materiais possíveis, assim, configurando-se como um insólito, prioritariamente, mental. No caso deste conto, o extraordinário se caracteriza a partir da subjetividade do protagonista que demonstra um lado sombrio, oculto em sua mente obsessiva. Neste tipo de fantástico não há uma característica visível do sobrenatural, mas sim, introspecções insólitas que culminam em atitudes extremas e absurdas, além da lógica e da moral. Dito em outras palavras, o elemento incomum brota no interior da personagem e manifesta-se em suas ações, sem que haja uma configuração externa do fantástico, a não ser no que tange às atitudes premeditadas e mórbidas do protagonista. A partir de tais considerações, o objetivo deste trabalho é analisar criticamente “O coração denunciador” sob a ótica do fantástico psicológico, na acepção de Calvino, cotejando às teorias de Todorov, sistematizações e conceitos críticos de Roas. Palavras-chave: Fantástico psicológico; Poe; Calvino; Todorov; Roas; Protagonista. A MORTE EM VILLIERS DE L’ISLE-ADAM E EM EDGAR ALAN POE Etienne Souza Santos de Lima (UNESP – FCL – Assis – PIBIC/CNPq), Norma Domingos (UNESP – FCL – Assis) Muitas obras de Villiers de l’Isle-Adam (1838-1889) são marcadas por traços que revelam a influência do escritor americano Edgar Allan Poe (1809-1849), sendo assim, propomos uma análise dos contos “A tortura pela esperança” (“La Torture par l’Espérance”), de Villiers, e “O poço e o pêndulo” (“The Pit and the Pendulum”), de Poe. Esta análise tem como objetivo destacar as intertextualidades e influências de Poe no texto villieriano, ponderar sobre um tema que é muito presente em suas obras, a morte, e, também, tentar entender como esta se encaixa nas narrativas fantásticas. Nesses dois textos, é possível perceber uma série de elementos linguísticos que representam a morte, pois os autores questionam continuamente sobre o que acontece depois, colocando, ainda, como plano de fundo um tema perturbador, a inquisição. Há nos textos, a todo o momento, indagações sobre a vida e a morte resultantes, sobretudo, da exploração que os autores fazem do conceito de tempo. Ambos se encontram em um estado quase alucinatório, e isso mantém a curiosidade leitor aguçada e, por vezes, apreensiva, na expectativa pelo desfecho. Sempre nos confrontando com o sentido da existência, os dois autores vão além dos limites da realidade expressas por teorias ocultistas ou espirituais. Grosso modo, o maior questionamento, pode-se dizer, é a morte que “é uma possibilidade absolutamente certa; [que] é a possibilidade que possibilita toda possibilidade.” (LÉVINAS, Emmanuel, 2003, p.71). Palavras-chave: Morte, Narrativa Fantástica, Edgar Allan Poe, Villiers de l’Isle-Adam, Sobrenatural. A LITERATURA FANTÁSTICA RUSSA DE IVAN TURGUÊNIEV Giselle Bianca Mussi de Moura (USP - FFLCH) 108 Saindo um pouco do universo já conhecido por leitores de literatura fantástica russa, onde se expressam com maior força mestres como Nikolai Gógol e Fiodor Dostoiévski, gostaria de apresentar o escritor russo Ivan S. Turguêniev (1818 - 1883), que se consagrou principalmente como autor de narrativas realistas. Seu livro mais conhecido, Pais e filhos, (trad. de Rubens Figueiredo, Cosac Naify, 2004) trata do debate intergeracional nos seus aspectos sociais, políticos, culturais e serviu de veículo para disseminar a discussão política que fermentava na Rússia do início do século XIX. No entanto, alguns contos e novelas, como Klara Militch (1883), (sem tradução publicada em língua portuguesa), O Sonho (1876), entre outros, oferecem a oportunidade ao leitor brasileiro de conhecer outra faceta de Turguêniev como autor de obras fantásticas, onde temos o mundo sobrenatural e carregado de misticismo e o interesse nas artes ocultas, que dão vazão ao fantástico de modo bastante natural e inquietante. De maneira muito própria, Klara Militch consegue transmitir justamente a transposição dos momentos românticos, naturalistas e simbolistas da literatura do final do século XIX. Ao dar à luz uma personagem naturalista que se envolve no mundo romântico do espetáculo até estar sobre o domínio demoníaco de uma cantora lírica, Turguêniev demonstra como o fantástico das aparições encontra o cotidiano de um mundo num momento social de afastamento do individualismo romântico alemão, onde os atores da sociedade ainda são um tanto sentimentais mesmo que num esforço de ver o mundo através da lente cientificista. Palavras-chave: Literatura russa; Literatura fantástica; Naturalismo; Sonho; Sobrenatural. EDGAR POE: NEMO ME IMPUNE LACESSETTI João Alexandre Martins Galvão (UNIFAP); Gabriela Cecilia Queiroz Ramos (UNIFAP) Edgar Poe é conhecido como autor de contos de terror e como um estadunidense sombrio. Morte foi-lhe algo conhecido desde os primeiros anos de sua vida. Escritor, jornalista, crítico, poeta, nunca recebeu justo reconhecimento por sua escrita, enquanto vivo, que está recheada de fatos fantásticos que refletem sua experiência de vida. Por ter criado personagens fantasmagóricos, sobrenaturais, Poe é muitas vezes tido como protagonista de seus contos. Poe ter frequentado um cemitério no ano de 1824, ter vestido roupas pretas e ser o mais solitário de seus amigos não o torna um personagem de suas obras. Ter sido encontrado inconsciente nas ruas de Baltimore em 1824, acontecimento que não estava nos planos daquele período de sua vida, contribuiu para que Poe fosse acusado de alcoolismo e insanidade. Rufus Griswold é o nome do responsável por quase dois séculos de sombras na biografia de Poe. Poe era mal visto nos Estados Unidos da América, mas era exaltado na França e Europa. Este estudo, portanto, pretende analisar a vida de Edgar Poe, discutir sua difamação póstuma a partir século XIX até a atualidade, desmitificar sua biografia, distinguir escritor de autor personagem, ficção de realidade, fatos de invenções. Para tanto, analisaremos escritos de Poe, diversas biografias, documentos, levando em consideração a metodologia do paradigma indiciário. Palavras-chave: Edgar Poe; Morte; Biografia; Literatura Americana. 109 O FANTÁSTICO EM NOITE NA TAVERNA, DE ÁLVARES DE AZEVEDO: O QUE DIZ A FORTUNA CRÍTICA? Karla Menezes Lopes Niels (UERJ) Diversos críticos enfatizaram a vertente fantástica de Noite na taverna, de Álvares de Azevedo, classificando-a com termos que a associaram a uma forma de literatura incomum no Brasil nacionalista do século XIX. Afrânio Peixoto foi um deles. Em 1931, afirmou que a obra seria de cunho fantástico e gótica. Por isso poderia ser classificada como a pioneira do gênero fantástico no Brasil. Mas não foi o único. Outros antes e depois dele se ocuparam de categorizá-la da mesma forma contribuindo para a sua consagração como narrativa de gênero fantástico. O livro de contos se consagrou, portanto, como uma narrativa pertencente ao gênero, apesar de seus contos não corresponderem plenamente à concepção do gênero desenvolvida por Tzvetan Todorov, em Introdução à literatura fantástica, subsídio fundamental para os estudos da ficção insólita. “Fantástica”, “sobrenatural”, “de horror”, “tétrica” “sombria”, “macabra”, “monstruosa”, “dantesca”, “simbolista avant la lettre”, “gótica”, “satanista”, “byroniana” são alguns dos termos empregados pela crítica nos principais estudos publicados acerca da obra. Uma multiplicidade de classificações que, no entanto, não a caracterizam adequadamente, e só demonstram a dificuldade de definirlhe o gênero. Refletindo sobre tais aspectos e partindo dos principais estudos críticos acerca de Noite na taverna, consideraremos a pertinência de a classificarmos como integrante do gênero fantástico. Levaremos também em conta nesse estudo as considerações teóricas sobre o gênero de Remo Ceserani, David Roas, Filipe Furtado e Irene Bessière. Palavras-chave: Fantástico; Século XIX; Noite na Taverna; Recepção crítica. LA PETITE ROQUE DE GUY DE MAUPASSANT: O REMORSO DO ASSASSINO Maria Cristina Vianna Kuntz (PUC-SP-Cogeae) La Petite Roque, publicada em 1885, na revista Gil Blas, dará o título a um conjunto de contos Cruéis ou Fantásticos no ano seguinte. Para o autor, o “sobrenatural é o inexplicável” ou seja, “são as modalidades da existência humana que são inexplicáveis” (BANCQUART, M.C, 1976). Nessa época o autor já sofria de crises de solidão, de medo e de perseguição. Neste conto veremos estes três sentimentos levados ao extremo. Na esteira de Edgard Allan Poe, Guy de Maupassant narra um crime e procura o assassino. Mas o insólito invade o conto policial e leva o protagonista ao desespero. Misturam-se, assim, os elementos e, o leitor, em suspense até o final, poderá talvez perdoar ao criminoso... O insólito aparece, então, como fruto do remorso transformando-se em perseguição até que seja feita a justiça. À luz de Freud, examinaremos os mecanismos da culpa e do remorso e sua ligação com o insólito, ou o estranho (FREUD, 1926). Se a estética realista leva o narrador a criticar as instituições, no caso a justiça e a política, a crueza do assunto denuncia o naturalismo que rodeava Maupassant. Por outro lado, a sensibilidade do autor aponta para um humanismo e uma compreensão das misérias humanas. Nesta comunicação 110 pretendemos mostrar de que maneira a pena de Maupassant surpreende o leitor e tenta justificar um crime hediondo como sendo fruto de transgressões próprias da natureza. Palavras-chave: La Petite Roque; Guy de Maupassant; Fantástico; Insólito; Contos cruéis. A NARRATIVA FANTÁSTICA FRANCESA NO SÉCULO XIX Norma Domingos (UNESP – FCL – Assis) A grande onda de inspiração fantástica no século XIX está ligada, segundo Castex (1963), à história do Romantismo e é comum também a todas as nações alcançadas pelo movimento. Contudo, é importante ressaltar que as histórias fantásticas francesas se subdividem em dois períodos. O primeiro período corresponde, de fato, ao Romantismo. O gosto pelo mistério, pelo sobrenatural e a ânsia do absoluto propiciaram uma grande produção de contos fantásticos entre 1830 e 1840. Nesse período os românticos franceses estão influenciados, principalmente, pela repercussão das obras do autor alemão Hoffmann, no país. Posteriormente, no último quarto do século, uma nova onda coincide com o Naturalismo e com o Simbolismo, estando ligada ainda ao grande interesse pelas ciências ocultas, pelas práticas do magnetismo, do hipnotismo e pelo sonambulismo. Edgar Allan Poe é um dos autores que mais influenciaram os escritores franceses do gênero nesse período. No que diz respeito aos contos do segundo período, além dos aspectos comuns ao gênero, os aspectos diferenciais, isto é, o grau de intromissão do fantástico, a economia de incidentes, a rigorosa organização, a composição condensada, a necessidade de resolver o fantástico e o tom controlado em relação ao efeito que produzirá. É, principalmente, a evocação psicológica do elemento fantástico por meio da sugestão, algo que os autores do período compartilham com o movimento simbolista, que faz os contos desse período diferirem daqueles que se inserem no Romantismo. Assim, este trabalho tem a intenção de discutir a escritura fantástica francesa no século XIX, ressaltando os aspectos que fazem diferir os dois períodos acima mencionados. Palavras-chave: Narrativa fantástica; Literatura francesa; Século XIX; Romantismo; Simbolismo. “SUIS-JE FOU?”: A LÓGICA DA NARRATIVA FANTÁSTICA DE GUY DE MAUPASSANT Renan Fornaziero de Oliveira (UNESP – FCL – Assis – FAPESP) O final do século XIX é decisivo para a humanidade: após o boom do cientificismo, da teoria de Darwin e da descoberta do inconsciente, estabelecem-se novos limites ao homem. É nesse contexto fin-de-siècle que Guy de Maupassant anuncia o fim da literatura fantástica, ao compará-la ao perfume que se evapora pouco a pouco de uma garrafa. À época de Maupassant, os fantasmas e diabos desaparecem e cedem lugar às alucinações, à loucura, à perda da sanidade, como no célebre “Le Horla”. Desse modo, a literatura maupassantiana se caracteriza a partir de uma experiência humana vivida, e não em relação 111 a um universo sobrenatural que, bruscamente, irrompe no mundo “normal”. Desse modo, Maupassant nos leva a aceitar o inaceitável, a adentrar o inconsciente de seus personagens e mostrar que há tanta lógica e coerência no discurso de um louco como no de um homem são. Assim, propõe-se neste trabalho apresentar a poética de Maupassant, a partir de sua produção literária e crítica, demonstrando de que modo se configura o fantástico em sua obra e quais os elementos fazem dele um visionário em relação à teoria de Freud. Palavras-chave: Fantástico; Inconsciente; Guy de Maupassant; Loucura. O DUPLO EM O ESTRANHO CASO DE DR. JEKYLL E MR. HYDE, DE ROBERT LOUIS STEVENSON Gustavo Ramos de Souza (UEL) Embora muito comentada, a novela O estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson, não rende muitos estudos acadêmicos especificamente voltados à sua compreensão, isto é, as análises recaem geralmente no âmbito da literatura comparada. Publicada pela primeira vez em 1886, tornou-se um dos maiores clássicos da literatura fantástica do século XIX, tendo sido, posteriormente, adaptada pelo cinema dezenas de vezes, além de ter inspirado paródias e imitações. A premissa é simples: um médico respeitável, Dr. Jekyll, ingere uma poção que faz com que se transforme no abominável Mr. Hyde, podendo, assim, praticar as atrocidades que seriam condenáveis aos olhos da sociedade vitoriana em que vive. O problema é que, com o passar do tempo, começa a perder o controle da situação, aumentando a dosagem e tornando-se cada vez mais dependente da poção e da possibilidade de usufruir de seus condenáveis prazeres como Hyde. Aos poucos, Hyde passa a dominar sobre Jekyll, o que culmina num fim inevitavelmente trágico. Trata-se do ancestral conflito entre o bem e o mal que o homem traz dentro de si, mas, sobretudo, da representação do mito literário do duplo. Nesse sentido, para a análise desta novela, faz-se necessário recorrer considerações de Otto Rank, em O Duplo; Sigmund Freud, em “O estranho”; e Clément Rosset, em O real e seu duplo, a fim de verificar a maneira como Robert Louis Stevenson recorre ao duplo para a construção de sua novela. Palavras-chave: Robert Louis Stevenson; Duplo; “Estranho”. SIMPÓSIO 8 – FANTÁSTICO, MARAVILHOSO, INSÓLITO: LEITURAS Coordenadoras: Carla Cavalcanti e Silva (UNESP- FCL - Assis) Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade (UNESP- FCL - Assis) DE SUASSUNA A GUEL ARRAES: O MARAVILHOSO EM AUTO DA COMPADECIDA Adriana Kelly Furtado Lisboa (Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora) 112 Considerando as variadas formas de transposição de uma obra literária para o contexto cinematográfico, a presente pesquisa propõe um olhar sobre a cena final da peça Auto da Compadecida, escrita em 1955 por Ariano Suassuna, e em sua releitura apresentada pelo filme O Auto da Compadecida, dirigido por Guel Arraes e lançado em 2000, em que o maravilhoso cristão evidencia-se através do confronto entre celestes e demônios no julgamento dos humanos. Utilizando as terminologias propostas por Genette – hipotexto (texto de partida) e hipertexto (texto de chegada) - e a classificação do texto cinematográfico a partir dos estudos do francês Yannick Mouren sobre transposições literárias para o cinema, faz-se uma análise dos dois corpus apresentados (peça e filme) abordando os recursos empregados na construção da cena do julgamento, tanto no texto teatral quanto na montagem fílmica. As considerações teóricas a respeito do maravilhoso estarão ancoradas principalmente nos estudos de Jean Suberville sobre o tema, em uma divisão baseada em seis categorias – maravilhoso pagão, maravilhoso cristão, maravilhoso fantástico, maravilhoso alegórico, maravilhoso subjetivo e maravilhoso científico – que o autor faz sobre aquilo que não é explicável em um texto. Com isso, pretende-se demonstrar que a recorrência de Ariano Suassuna ao maravilhoso configurou-se, juntamente com elementos da cultura popular, como estratégia para desenvolver um texto vivo e saboroso bem ao gosto popular, a partir do qual Guel Arraes deleitou-se e, após algumas contribuições, fez uma recriação também digna de aplausos. Palavras-chave: Auto da Compadecida; Hipotexto; Hipertexto; Texto teatral; Cinema; Maravilhoso. ENTRE SEGREDAR E REVELAR: O PAPEL DA MEMÓRIA E DO FANTÁSTICO EM UM CONTO DE MARIA TERESA HORTA Ana Paula dos Santos Martins (Secretaria de Estado da Educação- SP) Nas sociedades tradicionais, que desconheciam a escrita, às mulheres sempre coube o papel de transmissoras, de narradoras, nas aldeias, das lendas e dos feitos normalmente realizados por grandes homens, experiência que deveria ser preservada por meio da oralidade pelas comunidades; por essa razão, Michelle Perrot (1989) afirma que “a memória da mulher é verbo”. É justamente o papel desempenhado pela memória da protagonista do conto “Com mão firme e doce”, de Maria Teresa Horta, que dará, sub-repticiamente, a chave para a compreensão dos elementos insólitos e sobrenaturais presentes no referido texto literário. Tais elementos funcionam como estratégias narrativas utilizadas pela escritora portuguesa para fazer emergir toda uma história de opressão e silêncio a que figura feminina foi submetida por diversas gerações, especialmente no âmbito familiar. Nesse sentido, por meio da problematização da relação homem-mulher, o vai e vem das digressões e memórias individuais e coletivas da protagonista Renata denuncia sua condição de subalternidade e manifesta o desejo de romper os estreitos limites que lhes são impostos. O fantástico como modo literário que se opõe aos padrões de representação realista traz à tona, nesse conto, o que é repressivo e dominador na sociedade portuguesa, como a própria lógica patriarcal, 113 delineando, como quer Rosemary Jackson, o que não pode ser observado na cultura, por estar perdido ou ausente. Palavras-chave: Fantástico; Memória; Mulheres; Literatura portuguesa. O DIÁLOGO DE GIULIO LEONI COM A ATMOSFERA FANTÁSTICA DE A DIVINA COMÉDIA. Andresa Lúcia Zandonadi de Oliveira (UNESP – FCL – Assis) Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade (UNESP – FCL – Assis) O presente trabalho pretende destacar a presença de elementos do fantástico nas narrativas de Giulio Leoni – Os crimes do Mosaico (2004); Os crimes da Luz (2005) e A Cruzada das Trevas (2006) – que fazem parte da série de livros policiais que traz o poeta-personagem Dante desempenhando papel de detetive. A obra máxima do poeta florentino percorre todas essas narrativas e o diálogo com a Divina Comédia se dá, inclusive, pela atmosfera fantástica impressa pelo próprio Dante em sua viagem além-túmulo. Nas narrativas de Leoni o poeta- personagem, envolto em um clima de suspense e mistérios, usará de toda a sua capacidade intelectual e seu conhecimento de mundo para descobrir, não apenas o criminoso, mas principalmente as razões que o levaram a cometer tais crimes. Do mesmo modo como Dante percorre o inferno durante sua viagem pelos reinos ultraterrenos em Os crimes do Mosaico, por exemplo, o personagem também é levado a um mundo desconhecido no subterrâneo da cidade de Florença, onde vivia a população excluída da sociedade, lugar que o próprio protagonista compara com o inferno. Além de Dante Alighieri, outros personagens históricos também fazem parte dessa série de narrativas de Leoni, como o papa Bonifácio VII, citado por Dante em um dos cantos do Inferno. Alguns personagens fictícios aparecem de forma misteriosa, com características e comportamentos que deixam uma lacuna entre o real e o sobrenatural. Desse modo, a partir da atmosfera fantástica presente em A Divina Comédia é que pretendemos destacar e discutir acerca dos elementos do fantástico presentes nessas narrativas de Leoni. Palavras-chave: Giulio Leoni; Dante Alighieri; Gêneros Híbridos; Literatura italiana; Literatura Comparada; Fantástico. HARRY POTTER: IMAGENS DE UM MUNDO PARALELO NA SALA DE AULA? Antônio Jackson de Souza Brandão (Universidade de Santo Amaro) Um dos grandes problemas enfrentados por pais e educadores é deparar-se com filhos e alunos desinteressados pela leitura, situação que não se restringe, evidentemente, a uma determinada classe social, mas estende-se a grande parcela da sociedade tecnicista em que estamos inseridos. No entanto, apesar de toda essa apatia, surgiu uma obra literária dita infanto-juvenil, que poderia ter revertido, em tese, tal situação se tivesse sido tão bem explorada por professores, como o fora por outros meios. Fato que não ocorreu. Assim, o estrondoso sucesso representado pela obra de J. K. Rowling, Harry Potter, para o mundo 114 editorial caracterizou-se, como grande parte dos best-sellers que atingem tais proporções, por sua execração por intelectuais, críticos, professores e pais. Esta comunicação pretenderá, portanto, demonstrar como a comunidade escolar perdeu a chance de ter aproveitado o sucesso do livro em benefício dos próprios jovens que, ávidos, leram suas centenas de páginas. Dessa forma, se não fosse devido a ideias preconcebidas, nossos alunos poderiam ter aprendido muito mais com as aventuras do pequeno bruxo, se seus professores (com o aval dos pais) pudessem ter tirado o máximo de proveito da obra e de seu mundo moral, ético, cultural e imagético. Palavras-chave: Harry Potter e a pedra filosofal; Preconceito; Maravilhoso medieval; Ética; Literatura juvenil; Imagem. O INSÓLITO: DAS INQUIETAÇÕES DA ALMA HUMANA À AUTOCONSCIÊNCIA Aurora Gedra Ruiz Alvarez (UPM) Lílian Lopondo (UPM) As diferentes manifestações de fenômenos literários que escapam daquilo que se considera reconhecível no cotidiano conhecem vários registros, tais como: fantástico, neofantástico, realismo mágico, maravilhoso, insólito, estranho, macabro, dentre outros tantos. Essas nomenclaturas querem dar conta do caráter de certos acontecimentos que interferem na diegese, do modo como as personagens reagem no enfrentamento desse expediente e da leitura de mundo que o criador faz. Neste trabalho, propomos discutir o insólito, examinar a sua natureza, observar como incide e que sentidos ele produz no relato. Nossa hipótese de leitura ao conto “Capítulo dos chapéus”, de Machado de Assis, é de que o insólito se inscreve como um acontecimento de ruptura no ritmo da narrativa, podendo provocar uma redimensão da personagem. O papel desse componente narrativo semelha ao da peripécia na tragédia grega, na medida em que desestabiliza a personagem e leva-a a questionar-se. Sua função, portanto, não é apenas de alterar os rumos da narrativa, procedendo à reviravolta das ações, mas, também, de colocar a personagem em xeque diante de uma situação que a desacomoda da rotina, que cobra dela uma reflexão sobre si mesma e sobre o seu posicionamento diante do outro. Para estudar esse fenômeno e o seu efeito estético na narrativa, amparamo-nos na Teoria da Literatura, nos ensinamentos de Georg Lukács e Antonio Candido, e na Filosofia da Linguagem, nos fundamentos teóricos de Mikhail Bakhtin. Palavras-chave: Insólito; autoconsciência; Machado de Assis. DE BASILE A DISNEY: UMA COMPARAÇÃO ENTRE SOL, LUA E TÁLIA E A BELA ADORMECIDA. 115 Bruna Cardoso Brasil de Souza (UNESP-FCL – Araraquara) Ao nos depararmos com o conto Sol, Lua e Tália, escrito em 1964, por Giambattista Basile na Itália, perceberemos as significativas mudanças operadas até que conhecêssemos o tão famoso A Bela Adormecida largamente difundido pelo desenho animado produzido em 1959 por Walt Disney nos Estados Unidos. Objetivamos analisar as transformações e permanências do fantástico na obra fílmica em relação ao conto italiano, pois enquanto este último é carregado de referências mitológicas, passagens cruéis e até mesmo imorais, pois trata de traições, do adultério e do estupro da protagonista, o filme é infantilizado, possuidor de uma moral cristã e do tão famoso final feliz. Enquanto Tália é colocada à prova em diversas situações, Aurora, a protagonista do filme, apenas cai em um sono amaldiçoado até a chegada do príncipe, sendo esse o único dano sofrido. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo apresentar as principais transformações constatadas na comparação entre as duas obras e investigar como elementos mitológicos e pagãos deram lugar à moral cristã na versão fílmica do conto. Discutiremos, ainda em relação à moral, como esta se apresenta contraditória no conto Sol, Lua e Tália, ora lidando naturalmente com situações como o adultério e o estupro, ora reivindicando a honra e a justiça. Palavras-chave: Basile, Disney; A Bela Adormecida; Fantástico; Maravilhoso. “FRANKENWEENIE”: UMA ANÁLISE DIALÓGICA ENTRE DOIS GÊNEROS DISCURSIVOS Bruna de Souza Silva (UNESP –FCL – Assis) Nátalie Ferreira Carvalho Silva (UNESP –FCL – Assis) Esta comunicação tem por finalidade analisar a obra cinematográfica “Frankenweenie”; estreada no Brasil em 2012 e dirigida pelo cineasta Tim Burton, em consideração aos possíveis diálogos estabelecidos com a obra literária Frankenstein (1818) - de Mary Shelley. A apresentação intenciona expor por meio das concepções de diálogo e elementos que constituem o gênero (forma, conteúdo e estilo) da perspectiva dos estudos do Círculo Bakhtin (2000), Medvedev (1994), Volochinov (1992) os elementos linguísticos e translinguísticos que permitem descrever a relação entre autoria, estilo, estética, esfera de atividade, diálogo e gênero discursivo na produção de determinados gêneros. Para tanto, utilizar-se-á a pesquisa contextual de produção e estilo de cada criação. Como não há uma metodologia consolidada de análise do gênero discursivo ou uma proposta que enfatize o aspecto arquitetônico de construção do discurso, propõe-se uma pesquisa de natureza qualitativa com caráter interpretativista analítico-descritivo, composta por etapas de análise de gêneros que partem do texto. Por tratar-se de um estudo inicial descrever-se-á a seguir, em consonância com a metodologia utilizada no projeto de pesquisa de Paula (2010) nomeado A intergenericidade da canção, o percurso metodológico a ser seguido é calcado em três etapas: a descrição do objeto; a análise discursiva do corpus; a interpretação propriamente dita, que busca identificar, dadas a esfera, a materialidade e os recursos discursivos e textuais do corpus, que efeitos de sentido são nele criados. A relevância deste 116 estudo justifica-se pela proposta de refletir a formação do gênero por meio de outros gêneros em possíveis diálogos, ao qual se constituem estilos autorais distintos. Palavras-chave: Bakhtin; Gênero; Diálogo; Autoria; Frankenweenie; Frankenstein. ELEMENTOS DO FANTÁSTICO EM PIAZZA D’ITALIA Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade (UNESP - FCL - Assis ) Antonio Tabucchi (Pisa -1943, Lisboa - 2012) escritor italiano reconhecido pela crítica como autor de uma refinada narrativa, que dialoga com o cânone literário ocidental, estreou, em 1975, com o romance Piazza d'Italia. O romance experimental, definido por seu autor como um “conto popular em três tempos”, apresenta, como a maior parte da produção do escritor pisano, o entrelaçamento de gêneros literários. Assim, muitas vezes em uma única narrativa de Tabucchi é possível perceber a presença de aspectos comuns à narrativa policial, de elementos do fantástico, de literatura de viagem, de romance de formação, de memórias, etc, além de características comuns à poética da pós-modernidade tais como o uso de tramas abertas, do hibridismo, da metaficção e da intertextualidade, entre outros. Piazza d’Italia, que tem como elemento condutor o passado histórico da Toscana, narra, sob o ponto de vista dos “perdedores”, a saga de uma família de anarquistas durante três gerações desde a época de Garibaldi até o final da Segunda Guerra. Neste “conto popular”, ao lado da história e das memórias, percebemos a presença de acontecimentos “estranhos” e “irreais” que, a priori, estão presentes na narrativa para enfatizar o absurdo de certos fatos históricos catastróficos ocorridos durante o período, além de “amenizarem” a descrição de tais fatos históricos. A própria construção da narrativa e de alguns personagens nos remete às fábulas, aos contos de fadas, ao mágico e ao fantástico. Desse modo, pretendemos com esse trabalho destacar e discutir acerca desses elementos do fantástico presentes em Piazza d’ Itália. Palavras-chave: Antonio Tabucchi; Gêneros Híbridos; Fantástico. ACONTECIMENTOS FANTÁSTICOS EM UMA FAMÍLIA MULTICULTURAL EM LUANDA, NA ÉPOCA DOS HOLANDESES (PEPETELA) Denise Rocha (NEAB- UFSCar) No romance A Gloriosa família: o tempo dos flamengos, publicado em 1997, o escritor angolano Pepetela (1941), baseado em documentos e narrativas oficiais da historiografia de Angola, cria a saga de um clã multiétnico, os Van Dum, que viviam imersos em uma religiosidade mesclada: a católica europeia, com adaptações locais, e a nativa, com uma cosmovisão própria. Baltazar, flamengo da gema, genitor de vários descendentes legítimos e naturais, educou seus meninos, segundo a ideologia patriarcal, para se tornarem responsáveis pelo seu sustento e o de sua prole, mas um deles, Ambrósio, virou um “chulo”, mantido por uma prostituta, Angélica Ricos Olhos, assassina e degredada brasileira. Dilacerado pela existência indigna de seu filho, o pai não aceita o 117 relacionamento e nega o envio de dinheiro para ele, e a ofendida dama busca a ajuda de uma senhora detentora de poderes superiores, para mudar a situação. Estranhos acontecimentos, que ocorrem na casa da família, atingem diretamente Baltazar, que resoluto afirma somente conhecer e aceitar as leis naturais. Apesar de já viver cerca de vinte anos em Angola, e de ter presenciado de perto ritos étnicos-religiosos, o velho senhor tenta distancia-se dos episódios insólitos, que o atingem, provocando nele medo, em uma tentativa de explicar o sobrenatural, com afirmações apoiada no pacto realista de representação europeu. Palavras-chave: Literatura angolana; Pepetela; Novo romance histórico; Fantástico; Todorov. MUITAS FORMAS DE AMAR: A NOÇÃO DE AMOR NOS FILMES INFANTIS Heitor Tavares Zanoni (UFU/MG ) Partiu-se do pressuposto de que toda sociedade passa pela divisão dos indivíduos na categoria gênero. Assim, tanto homens quanto mulheres são socializados de maneira que se enquadrem dentro de padrões, que definem seus princípios, suas maneiras de agir e de pensar, controlando impulsos e disciplinando desejos. Este estudo visa compreender a maneira como os filmes infantis colaboram na construção das identidades de gênero em crianças. O amor, e as relações amorosas, aparecem como uma das manifestações das configurações de gênero. O material utilizado são cinco filmes, divididos em dois momentos históricos: 1930 a 1950, que representam as primeiras produções cinematográficas voltadas para o público infantil; e década de 2000, que representa os filmes que fazem sucesso na atualidade. As obras selecionadas foram: Branca de Neve e os Sete Anões (1939), Cinderela (1950), A Bela Adormecida (1959), Shrek (2001) e Encantada (2007). Notou-se que os filmes, nas décadas de 1930 a 1950, disseminam padrões idealizados de gênero e relacionamentos românticos heterossexuais. Porém, os filmes lançados na década de 2000 apresentam novas configurações, oferecendo para as crianças personagens mais complexos e que vivenciam problemas do cotidiano contemporâneo. Considerando as análises de filmes feitas neste estudo, concluiu-se que as crianças podem, assimilando as novas configurações de gênero disseminadas, desenvolver uma personalidade apta ao convívio com as diferenças existentes, em todos os âmbitos da sociedade, aceitando mais facilmente as sexualidades diversas e considerando-as como possíveis. Palavras-chave: Gênero; Amor; Filmes Infantis; Sociologia das Emoções. FERNANDO PESSOA PERSONAGEM-FANTASMA NAS NARRATIVAS METAFICCIONAIS O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS E REQUIEM Ligia Marini Perpétua (UNESP – FCL – Assis/IC – Reitoria) Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade (UNESP – FCL –Assis) 118 Em seu artigo “Heróis da Literatura”, publicado na Revista Estudos Avançados (n.71, 2011), Leyla Perrone-Moisés discorre sobre um subgênero romanesco que tem crescido muito desde a década de 80, do século XX, a metaficção historiográfica. Segundo ela, é cada vez mais comum grandes escritores do passado aparecerem como personagens em tais obras. Estas criam uma discussão sobre o fazer literário a partir de dados biográficos de tais escritores, detalhes colhidos de suas obras e jogo ficcional (Ibid, p. 255). E, muitas vezes, os escritores-personagens aparecem sob a forma de fantasmas. Derrida (1993, apud: PERRONE-MOISÉS, 2011) explica essa constância pelo fato de que o “espectro é o que nos vem do passado, da tradição, e que deve ser acolhido para que se faça o trabalho de luto e se dê lugar ao porvir” (Ibid, p. 264-65). Fernando Pessoa, o grande poeta português, talvez um dos mais ficcionalizados em narrativas desse subgênero, também é personagem dos livros O ano da Morte de Ricardo Reis (1984), de José Saramago, e Réquiem (1991), de Antonio Tabucchi. No caso específico dessas narrativas o poeta-personagem surge como fantasma para conviver e conversar com os protagonistas. Porém, a construção de tal personagem e o ambiente fantástico são construídos de forma muito distinta em tais obras. Assim, o presente trabalho pretende analisar como Saramago e Tabucchi transformaram Pessoa em personagem-fantasma e como o ambiente fantástico foi abordado em tais narrativas. Palavras-chave: José Saramago; Antonio Tabucchi; Fernando Pessoa; Gêneros Híbridos; Fantástico; Personagem. ANALISE MORFOLÓGICA DOS CONTOS ORAIS CHAPELINHO VERMELHO E I AVENTURA DE PEDRO MALAZARTE Liliam Fernandes (UFVJM) Conceição Aparecida Bento (UFVJM) Histórias orais são como “memórias narradas”, pois a sua reprodução não se exaure com o tempo, o objetivo deste trabalho é analisar dois contos orais transcritos na obra “Contos Tradicionais do Brasil” de Câmara Cascudo com base teórica em A Morfologia do Conto Maravilhoso escrito pelo russo V. I. Propp. Procuraremos relacionar as narrativas às funções das personagens de acordo com o método morfológico desse autor. Os textos selecionados foram: “Seis aventuras de Pedro Malazarte” e “Chapelinho Vermelho”. Procuraremos relacionar as narrativas às funções das personagens de acordo com o método morfológico do crítico russo. A metodologia utilizada foi: relacionar as funções proposta por Propp; analisar os contos tradicionais presentes no texto de Camâra Cascudo; selecionar os contos para análise segundo as ideias de ProppVladimir. Propp demonstrou que os contos populares se constituem em torno de um núcleo simples: o dano e a carência sofridos pelo herói e as tentativas de superá-los constituem o corpo da narrativa. Propp afirma a existência de funções constantes dos personagens: Um exemplo é a função de ausência ou partida de um membro da família: Chapelinho Vermelho e Pedro Malazarte saem de casa para levar o bolo à vovó e para vingar-se do patrão do irmão João, respectivamente. O crítico russo identifica 31 funções no interior do conto, mas nem todas estão presentes em uma mesma narrativa. Procuraremos ver como as funções de Propp se 119 apresentam nos contos escolhidos. Podemos concluir que os Contos orais Brasileiros possuem uma estrutura interna, mas não possui todas as funções estabelecidas por Propp. Palavras-chave: Contos Fantásticos; Analise Morfológica; V. Propp; Câmara Cascudo. TOLKIEN E A REVITALIZAÇÃO DAS NARRATIVAS MARAVILHOSAS. Mirane Campos Marques (UNESP – IBILCE - São José do Rio Preto ) Essa comunicação pretende enfocar um dos meios pelos quais o escritor inglês J. R. R. Tolkien (1892-1973) contribuiu para a revitalização de determinados tipos de narrativas (romance de cavalaria, poesia épica, narrativas de aventuras e maravilhosas), por meio da retomada dessas histórias tradicionais em suas obras literárias. Tolkien revisita, por vezes com reverência e por outras com certo distanciamento, muitos dos procedimentos e características próprias dessas narrativas, realizando, dessa maneira, uma releitura em que se destaca o fato de introduzir uma diferença fundamental: os heróis passam a ser seres simples e, à primeira vista, não merecedores de confiança na realização de grandes tarefas que salvariam seus respectivos mundos. Tendo em vista essa questão abordaremos as seguintes obras: O Hobbit (1937), O Senhor dos Anéis (1954-1955) e Mestre Gil de Ham (1949). Nesses textos institui-se uma espécie de “herói relutante”, aquele que só age quando é estritamente necessário, mais por não ter outra saída do que por escolha própria. Nesse sentido são sintomáticas as personagens Mestre Gil de Ham, Bilbo e Frodo, pois todas elas representam, pelo menos a princípio, seres pacatos, apegados a uma vida bastante prosaica que acabam, muitas vezes à revelia, envolvidos em aventuras que requerem deles coragem, esperteza e uma boa dosagem de sorte. Palavras-chave: J. R. R. Tolkien; O Hobbit; O Senhor dos Anéis; Mestre Gil de Ham. ENCONTRO E REDENÇÃO NA OBRA “ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?”, DE CAIO FERNANDO ABREU Natália Rizzatti Ferreira (UNESP – FCL – Assis) O presente projeto de pesquisa tem em seu horizonte analítico investigar as críticas à ideologia moderna e capitalista no interior da obra de Caio Fernando Abreu (1948-1996). As relações humanas e a formação da subjetividade dos indivíduos encontra-se no centro das principais preocupações deste autor. Desta forma, nesta pesquisa, busca-se compreender como a crítica empreendida pelo autor articula o conteúdo veiculado e os traços formais, numa dialética em que através da matéria romanesca seus temas atingem status de recurso estilístico, característicos de toda uma ideologia. Para tanto, toma-se como foco da análise o romance Onde andará Dulce Veiga?, com base nos escritos de Walter Benjamin, Györg Lukács e Antônio Candido pretendendo-se compreender a inter-relação existente no jogo entre texto e contexto. A transposição de recursos da vertente do fantástico promoverá um desacordo entre a representação e o seu contexto. Resulta-se dessa querela – foco das preocupações de grande parte da tradição da crítica literária do Brasil – 120 um terreno fértil para perscrutarmos a singularidade de nossa cultura literária.De tal sorte, o texto de Abreu, ao se apropriar de aspectos do romance policial à luz de elementos fantásticos cria um descompasso com a paisagem local e implodiria sua forma artística, indiciando assim a singularidade e autonomia da obra. Palavras-chave: Caio Fernando Abreu; Romance policial; Fantástico. O ESPIRITISMO E O MITO DE CTHULHU: UMA REFLEXÃO SOBRE A FICÇÃO DE ÂNGELO INÁCIO E H. P. LOVECRAFT Paulo de Tarso Cabrini Júnior (Oapec) As ligações entre a literatura de ficção e a espiritualidade – ou, o mundo não-fenomênico – são tão antigas, que mal se podem traçar as suas origens. Não é o propósito desta comunicação fazer tal histórico, mas, apenas tomar o fio da meada em meados do século XIX, quando, na França, Allan Kardec (1804 - 1869) divulga a “Doutrina dos Espíritos”, que teve uma larga influência, na Europa, logo obliterada à época da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), para frutificar, apenas, no Brasil. A “doutrina espírita”, como é conhecida, lança mão de diversos meios de divulgação, e, entre eles, está a literatura de ficção, mais ou menos doutrinária, reclamando, ou não, o concurso da chamada “escrita psicográfica”, pela qual um espírito desencarnado usaria uma pessoa encarnada para transmitir suas ideias e sentimentos. Essa literatura de ficção, para a qual concorrem, muitas vezes, (supostamente) espíritos que se dedicaram, na Terra, ao mister literário, pretende esclarecer, em muitas ocasiões, certos aspectos da nossa própria literatura de ficção, por meio de explicações retiradas de supostas observações do “mundo espiritual”. Este trabalho se propõe a explicar as semelhanças entre a narrativa de Ângelo Inácio (Espírito), autor da trilogia No Reino das Sombras, e alguns contos de H. P. Lovecraft (1890 - 1937), autor norte-americano, conhecido, principalmente, por ter criado “o Mito de Cthulhu”. Nosso propósito é perguntar, ao final, se a nossa literatura de ficção conteria, de fato, intuições de um mundo post-mortem, ou se, pelo contrário, a literatura de ficção espiritista se aproveitaria de conhecimentos e recursos imaginativos hauridos na literatura de ficção convencional a fim de compor a sua própria narrativa. Palavras-chave: Espiritismo; H. P. Lovecraft (1890-1937); Cthulhu; Literatura espírita; Allan Kardec (1804-1869); Literatura Comparada. A REPRESENTAÇÃO DO INSÓLITO E DO ESTRANHO EM “GERTRUDES E SEU HOMEM” DE AGUSTA FARO FLEURY. Suely Leite (UEL) A literatura constitui-se em terreno fértil para a ficcionalização das experiências humanas, entre elas a interação do indivíduo com o Outro e consigo mesmo. Essa interação reflete semelhança e estranheza, facetas que compõem a totalidade múltipla do ser. No ensaio “¿Qué es lo Neofantástico” incluído na antologia Teorías de lo Fantástico (2001) 121 organizada pelo crítico espanhol David Roas, o crítico argentino Jaime Alazraki apresenta uma abordagem do fantástico contemporâneo, que ele propõe denominar neofantástico. A característica principal de obras pertencentes a esse novo gênero seria a de tentar intuir e representar a realidade superando a barreira criada e imposta pela razão, cujos ditames estão diretamente ligados às convenções sociais e culturais. Para o crítico argentino, o medo, efeito produzido pelo elemento fantástico passa a ser substituído pela perplexidade e a inquietação, por uma nova forma de lidar com o surgimento do insólito num cenário pretensamente normal. O conto “Gertrudes e seu homem” de autoria de Augusta Faro, publicado na coletânea intitulada Friagem (2000), traz para o discurso a estória de uma costureira que vive em uma cidade do interior e que constrói uma relação com as pessoas daquela cidade baseada em um elemento insólito: a identidade de seu marido. O texto ainda aborda a questão da loucura e da solidão das personagens. Dentro dos estudos mais recentes sobre o fantástico, o conto de Faro se situa no que David Roas e Alazraki chamam de neofantástico, textos que abordam o medo, a inquietude e o insólito. Palavras-chave: Insólito; Contos; Augusta Faro; Escrita feminina. O FANTÁSTICO RETRATO DORIAN GRAY Tatiele Novais Silva (UNESP – FCL – Assis) Luciane de Paula (UNESP – FCL – Assis) Esta apresentação é parte integrante do projeto de pesquisa intitulado “A VAIDADE DE DORIAN GRAY: análise dialógica entre gêneros – o romance e o cinema no centro da cena”. O corpus da pesquisa é composto pelo romance O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde; e duas adaptações cinematográficas de títulos homônimos ao da referida obra, sendo uma de 2009, de Oliver Parker; e outra de 1945, de Albert Lewin. Propõe-se a, por meio das obras, refletir acerca do elemento fantástico presente na figura do retrato de Dorian. Elemento ímpar para a realização estética do conteúdo e do estilo das obras. Nestas, o elemento fantástico é representado de diferentes maneiras. A representação, em sua semiose, figurativizada de maneira diferente em cada obra, decorre tanto do estilo de cada autor-criador quanto da diferença de tempo-espaço (cronotopo) de cada produção, em especial, ao se levar em consideração que se tratam de gêneros discursivos (literatura – romance; e cinema – filme) distintos. A ênfase no caráter dialógico das obras permite refletir acerca da diferenciação dos traços estilísticos típicos a cada uma, como a abordagem das representações do fantástico, por exemplo. Para tanto, o presente estudo tem por base a filosofia dialógica da linguagem do Círculo de Bakhtin, Medvedev, Volochinov. Acredita-se que o estudo das diferentes formas de representação por meio dos gêneros romanesco e fílmico possibilite maior compreensão acerca da forma específica de realização de atos discursivos estilísticos de cada obra e de suas relações dialógicas. Palavras-chave: Círculo de Bakhtin; Diálogo; Retrato/representação; Dorian Gray. O FANTÁSTICO E O HERÓICO-MARAVILHOSO EM NARRATIVAS JAPONESAS DO SÉCULO XII. MÁGICAS VIZINHANÇAS. 122 PORTO, Teresa Augusta Marques. UNESP – FCL – Assis) É proposta deste estudo realizar um cotejo crítico entre narrativas japonesas compiladas no século XII no Japão na Antologia Literária Konjaku Monogatarishû, ou “Narrativas de Hoje e Antigamente”, narrativas denominadas setsuwa – remetendo-se a “contar”, “narrar”, “dizer” - sugerindo como fonte o universo narrativo oral que engloba principalmente o imaginário do período histórico Heian, que compreende um intervalo criativo do século VIII ao XII. Consideradas como o olhar desconstrutivo da sociedade refinada de então, e opostas ao elogio efetuado por outro tipo de narrativa, o monogatari (YOSHIDA, 1994), os setsuwa laicos virarão de pernas para o alto as classes sociais, em especial a clerical, tentando desmascarar seus vícios e excessos e sua pretensão de “santidade”, tratando seus deslizes em viés fantástico, mostrando, por exemplo, a conjunção carnal de seres humanos com estátuas de divindades em sonhos, a vitória do terror da gula de demônios sobre vítimas indefesas (YOSHIDA, 1991); por outro lado, no caso das narrativas budistas, nas quais o valor da boa conduta garante sempre o socorro da divindade, os protagonistas percorrerão caminho heróico enquanto adentram o território do fantástico, contaminados por qualidades terríveis dos subjugadores espirituais como o oni, ou ogro; o espírito-raposa e também o próprio ardil humano montado pelo psiquismo sabotador como fantasma ou monstro a ser temido. Explorar-se-à a sutileza dos limites da conceituação do fantástico como estranheza da subversão das leis naturais conhecidas (TODOROV, 2004) e do maravilhoso como sinonímia de ganho miraculoso e heróico, compartilhamento de qualidades sobrenaturais de espíritos realizados (PAUL, 2000 ). Palavras-chave: Literatura japonesa do séc. XII; narrativas setsuwa laicas e budistas; literatura fantástica; literatura heróico-miraculosa, bestiário japonês, Sutra do Lótus. 123 124