Novos documentos sobre a controvérsia de Sor Juana Inés de la

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Limite. ISSN: 1888-4067
nº 5, 2011, pp. 75-89
Novos documentos sobre a controvérsia de
Sor Juana Inés de la Cruz e o padre António Vieira
Luisa Trias Folch
Universidad de Granada
ltrias@ugr.es
Data de recepção do artigo: 09-02-2011
Data de aceitação do artigo: 06-06-2011
Resumo
Novos manuscritos oferecem a possibilidade de estabelecer relações
entre o processo Inquisitorial de Vieira em Espanha e a famosa
controvérsia da Carta Atenagórica de Sor Juana Inés de la Cruz no
México. Vamos tratar aqui do sermão, directamente relacionado com a
Sentença Inquisitorial de Vieira, intitulado El Juicio de 1679, obra do
trinitário espanhol Fr. Manuel de Guerra y Ribera (1638-1692). O padre
fray Manuel de Guerra y Ribera era o porta-voz ideológico do ambicioso
D. Juan José de Austria (1629-1679), filho natural de Felipe IV e inimigo
obstinado do jesuíta austríaco Everardo Nithard, confessor e poderoso
valido da rainha regente Mariana de Áustria, mãe do futuro rei de
Espanha, Carlos II. Este sermão possivelmente chegou ao México, onde a
Companhia de Jesus era poderosa. São de interesse as referências a este
sermão e ao seu autor na Carta de Serafina de Cristo, escrita no México
no dia primeiro de Fevereiro de 1691, carta irónica e satírica que
participa na chamada guerra das finezas.
Palavras-chave: P. António Vieira – Sor Juana Inés de la Cruz – Fr.
Manuel de Guerra y Ribera –Carta Athenagórica – Carta de Serafina de
Cristo – O púlpito como debate político no século XVII.
Abstract
New manuscripts offer de possibility of establishing a relationship
between Vieira’s Inquisitorial process, in Spain and the famous
controversy that involves Sor Juana de la Cruz’s Carta Atenagórica (Letter
Worthy of Athena). Here, we are especially focused on the sermon,
directly related to Vieira’s Inquisitorial Judgement, called El Juicio de
1679, the work of the Trinitarian Spanish Friar Manuel de Guerra y
Ribera (1638-92). The priest, Fray Manuel de Guerra y Ribera, was the
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NOVOS DOCUMENTOS SOBRE A CONTROVÉRSIA…
ideological spokesman of the ambitious D. Juan José de Austria (16291679), natural son of Philip IV and the stubborn enemy of Everardo
Nithard, the Austrian Jesuit, «favourite» and confessor of the Queen
regent, Mariana of Austria, mother of the future King of Spain, Charles II.
This sermon possibly arrived in Mexico, where de Society of Jesus was
very powerful. The references to this sermon and to his author are
relevant in Carta de Serafina de Cristo, written in Mexico on the 1st
February, 1691, an ironic and satirical letter that is included in «La
Guerra de las finezas».
Palavras-chave: Father António Vieira – Sor Juana Inés de la Cruz – Friar
Manuel de Guerra y Ribera – Carta Athenagórica (Letter Worthy of
Athena) – Carta de Serafina de Cristo – The pulpit as a place of political
debate in the 17th century
No século XVII, as relações entre Espanha e o México foram, sem
dúvida, muito estreitas. Mas, até agora, não se tinha estabelecido
qualquer relação entre o processo inquisitorial de Vieira em Espanha e a
famosa controvérsia da Carta Atenagórica de Sor Juana Inés de la Cruz
no México. A descoberta de novos manuscritos sobre a polémica que
provocou a Carta Atenagórica mostra como duas das personalidades
mais extraordinárias das literaturas hispânicas do século XVII, o padre
António Vieira e Sor Juana Inés de la Cruz, foram utilizadas, tanto para
atacar, como para defender a Companhia de Jesus.
O padre António Vieira era admirado na Espanha do século XVII
pelos seus sermões que, como é sabido, tiveram uma grande difusão em
língua espanhola. Mas era também «famoso» pelo seu processo
inquisitorial em Coimbra. Uma figura de tanta importância foi utilizada
nas polémicas entre ordens religiosas rivais: jesuítas e dominicanos.
Como afirma Enrique Martínez López: «del proceso inquisitorial de
Vieira la sentencia y otros papeles se divulgaron, dando lugar a que en
España se le utilizara como arma con la que, alternativamente,
desprestigiar a la Compañía de Jesús o defenderla de la hostilidad de los
dominicos y de ataques de índole política». (1979: 204)
As obras que com este tema circularam em Espanha, impressas e
manuscritas, são de dois tipos. Por um lado, um sermão e, por outro, três
libelos satíricos em forma de cartas assinadas sob pseudónimos. Não
vamos falar destes libelos entre jesuítas e dominicanos por terem sido já
estudados, pormenorizadamente, por Enrique Martínez López. (1979:
203-235) Tais libelos provocaram a famosa Carta Apologética de Vieira,
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escrita em língua espanhola no ano de 1683, dirigida ao Padre
Provincial dos Jesuítas na Andaluzia. (Vieira 1971: 757-813) É muito
possível que a causa destes libelos a favor e contra Vieira, que então se
encontrava no Brasil, estivesse relacionada com a afronta contra o
jesuíta que teve lugar em Coimbra, no Outono de 1681: um grupo de
estudantes da Universidade promoveu um auto de fé contra Vieira, para
assim comemorar a total restauração de poderes da Inquisição, que
tinham sido questionados pelas queixas do jesuíta, durante a sua estada
em Roma. A notícia desta queima em efígie de Vieira chegou a Espanha
e até ao México, onde, nos últimos dias de 1682 ou princípios de 1683,
a Universidade, como reparação desta afronta, dedicou a Vieira umas
conclusões teológicas. (Vieira 1971: 476-477)
Durante o século XVII, o México, vice-reinado de Espanha,
também chamado «Nueva España», floresceu na arquitetura barroca e
especialmente nas letras, cuja figura máxima foi Sor Juana Inés de la
Cruz. «A Décima Musa» continua a ser insuperável pela universalidade
dos seus pensamentos, a celebridade do seu engenho, a correcção da
sua prosa e a magistralidade da sua poesia.
Vamos tratar aqui de um sermão directamente relacionado com a
Sentença Inquisitorial de Vieira: o sermão intitulado El Juicio, de 1679,
obra do trinitário espanhol Frei Manuel de Guerra y Ribera (1638-1692),
brilhante pregador de Sua Majestade, Carlos II, desde 1676. Guerra, sem
dúvida, informado de que, em 1667, os inquisidores de Coimbra tinham
condenado alguns parágrafos do Sermão da Segunda Dominga de
Advento (1650), de Vieira1, dedicou o seu sermão a impugná-lo também.
A matéria do sermão da Segunda Dominga do Advento, de Vieira,
é a seguinte: «que o juízo dos homens é mais temeroso que o juízo de
Deus».
Segundo a Sentença de Vieira, lida em Coimbra, em 1667, entre
muitas outras coisas, fazia-se referência concreta ao Sermão da Segunda
Dominga de Advento (1650), de Vieira, com estas palavras:
E finalmente, as palavras de que usou no sermão da Segunda Dominga
do Advento eram escandalosas, erróneas e ainda sapiestes haeresim;
porque directa e formalmente se opunham à doutrina que Cristo deu a
seus discípulos, como consta do Evangelho de S. Lucas, Cap. XII: Dico
autem vobis, amicis meis: Ne terre amini ab his qui occidunt corpus, et
1
Traduzido para espanhol em Sermones Varios, parte segunda (Madrid, Pablo de Val,
1664).
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post non habent amplius quid faciant (Luc. XII-4)2. Além de que nas
sagradas Letras não se encomenda o temor dos homens, encomenda-se
aliás o de Deus por muitas vezes; e sobre isto podiam as palavras dele,
réu, dar ocasião a que os homens mais insolentes, assim como
puderam não temer ser castigados pelos homens e culpados pelos
ministros da Igreja, conforme a qualidade de suas culpas, muito menos
temam o juízo e o castigo de Deus. (Vieira 1952: 232)
O padre da Ordem Hospitalar da Santíssima Trindade Frei Manuel
de Guerra y Ribera, no seu sermão El Juicio, trata de demonstrar a
hipótese oposta à de Vieira sobre o juízo humano e o divino, seguindo a
sentença inquisitorial de Vieira:
El Norte del Evangelio es la descripción del Juicio. […] Mi oración,
pues, se ha de reducir a pintar este Juicio, como lo concibe mi temor y
mi pasión, en dos Puntos. El primero, será cuan poco es de temer el
juicio humano. El segundo, será que es el Juicio Divino tan estrecho,
que aun por las razones, que he propuesto de amable, viene a salir
mucho más terrible[…]
E continua com uma referência indirecta a Vieira, concordando
com a Sentença Inquisitorial:
Algunos vistosos Ingenios han pretendido hacer más horrible al juicio
humano, que al Divino. […] Quiero primero convencer al Autor. O
quien escribe, que es más de temer el juicio humano, que el Divino, lo
siente como lo escribe, o no? Si no lo siente, es mentiroso; si lo siente,
poco Christiano. Por un lado cae en un engaño muy feo, por otro se
roza en un assenso muy torcido. […] Temer más el Juicio humano, que
el Divino, es flaqueza con achaques de idolatría. (Guerra y Ribera
1734: 109-110)3
O púlpito na Espanha do século XVII foi objecto e instrumento de
luta entre facções nobiliárias. Os pregadores tiveram que tomar partido
durante aquelas circunstâncias críticas, nas quais se vislumbrava uma
troca na cúpula do Governo. O modo de utilizar o púlpito para
participar no combate político originou polémicas entre diversos autores.
Uma amostra deste processo foram os factos acontecidos em
1675 e 1676, quando se tentou derrubar o governo da rainha Mariana
de Áustria, viúva de Felipe IV. Durante a regência, a rainha Mariana não
2
Trad. Luc. XII-4 «A vós outros, amigo meus, vos digo: não tenhais medo daqueles que
matam o corpo e depois disto não têm mais que fazer».
3
Cita-se pela segunda edição de 1734; a primeira é de 1679.
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só tinha concedido a direcção do governo, entre 1667 e 1669,a um
jesuíta – o padre Everardo Nithard4 –, mas também tinha dado grande
apoio material à Companhia de Jesus, financiando as suas iniciativas de
várias formas, desde a construção de edifícios para o ensino universitário
até à ajuda económica para as missões nas remotas ilhas do Pacífico.
Mariana era valorada como «madre amantíssima» pelos padres da
Companhia.
O padre Frei Manuel de Guerra y Ribera era o porta-voz
ideológico do ambicioso D. Juan José de Áustria (1629-79), filho natural
de Felipe IV e inimigo obstinado do jesuíta austríaco Everardo Nithard,
que era o confessor e poderoso aliado da rainha regente Mariana de
Áustria, mãe do futuro rei de Espanha, Carlos II.
De facto, Guerra, um dos principais panegiristas de D. Juan,
defendeu nos seus sermões e escritos o carácter providencial deste, até
ao extremo de identificá-lo com os profetas bíblicos. A apoteose da
mitificação de D. Juan José de Áustria teve lugar na Capela do Paço do
Arcebispado de Zaragoça, onde tinha a sua residência D. Juan durante o
seu vice-reinado em Aragão. Em 1670 e 1671, Manuel de Guerra pregou
nesta Capela uns exaltados sermões que glorificavam a trajectória e o
destino de D. Juan. Alguns destes sermões foram impressos em Saragoça
em 1671, embora também tenham circulado manuscritos na corte régia.
No dia 26 de Julho de 1675, o trinitário Manuel de Guerra y Ribera não
hesitou, no púlpito, em aconselhar à rainha um pacto com D. Juan (Soria
Ortega 1991).
Depois de conquistar o poder em Janeiro de 1677, D. Juan José de
Áustria considerou uma das suas prioridades agir contra o poder dos
jesuítas. Os jesuítas, fiéis à rainha e ao seu conselheiro, voltaram-se
contra D. Juan, que, em 1678, prometeu expulsá-los. Nithard (Vieira
1971: 555)5, queimado em efígie (1669), como logo o seria Vieira, por
estudantes dependentes do príncipe, e o facto de D. Juan José de Áustria,
pouco depois, impor a renúncia do protegido da rainha, foram
acontecimentos que tornaram mais violenta ainda a relação entre os
jesuítas e Guerra. O trinitário possivelmente escolheu Vieira para criticálo por ser o pregador mais destacado da Companhia, e talvez para dar
4
Eclesiástico alemão da Companhia de Jesus (1607-81), valido da rainha regente, D.
Mariana de Áustria, foi nomeado, em 1666, Inquisidor Geral e membro do Conselho da
Regência. Expulso por D. Juan José de Austria em 1669, foi embaixador de Espanha em
Roma.
5
Vieira conheceu Nithard em 1670-73, quando ambos, como exilados políticos, se
hospedavam no Colégio dos jesuítas de Roma.
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ao príncipe o prazer de ver atacado um grande defensor da Restauração
lusitana, já que, entre 1661 e 1664, D. Juan tentou, sem êxito,
reconquistar Portugal, sendo objecto de chacota pela sua incompetência
militar.
A notícia da utilização do processo inquisitorial de Vieira em
Espanha, feita pelo trinitário Manuel de Guerra y Ribera, parece que
chegou ao México, onde a Companhia de Jesus era poderosa.
Las Trampas de la fe de Octavio Paz(1982), nos inícios da década
dos 80 do século XX, e a descoberta, por Aureliano Tapia Méndez,
numa Biblioteca de Monterrey, da Carta al Padre Núñez6, de 1681, na
qual Sor Juana decide acabar as suas relações com aquele que tinha sido
seu confessor desde 1667, têm feito renascer um grande interesse pela
freira mexicana e pela sua obra.
Recentemente foram descobertos novos documentos sobre a
famosa polémica, também chamada “guerra das finezas”, provocada
pela Carta Atenagórica. Vamos citá-los, por uma questão meramente
prática, pela data em que foram escritos e não por aquela em que foram
encontrados.
1. Defensa del Sermón del Mandato del padre Antonio Vieira,
assinada por don Pedro Muñoz de Castro, em 9 de Janeiro de 1691, na
qual, apesar de ser uma defesa de Vieira, este trata com a maior
elegância Sor Juana Inés de la Cruz. (Este documento foi achado por José
Antonio Rodríguez Garrido na Biblioteca Nacional do Peru, em 2004).
2. Ricardo Camarena (1995: 283-306)7 estudou um processo
inquisitorial que condenava Francisco Javier Palavicino da Companhia
de Jesus como herege, por causa do sermão que pregou, em 26 de
Janeiro de 1691, no convento das freiras Jerónimas, intitulado La fineza
mayor, onde exaltava a freira mexicana pela sua grande habilidade para
a argumentação teológica.
6
O jesuíta Antonio Nuñez de Miranda foi confessor de Sor Juana desde 1667. Em 1681,
sor Juana decide terminar as suas relações com o seu confessor com o seguinte escrito:
Carta de la Madre Juana Inés de la Cruz escrita al R.P.M. Antonio Núñez de la Compañía
de Jesus, conhecida também como Autodefensa espiritual ou Carta de Monterrey.
7
Ricardo Camarena estudou um processo do Santo Ofício contra o jesuíta Francisco Javier
Palavicino, autor do sermão intitulado La fineza mayor, panegírico dedicado a los
gloriosos natalicios de la Ilustrísima y Santísima Matrona Paula, fundadora de dos
Ilustrísimas religiones, que debajo de la nomenclatura del Máximo Gerónimo militan ,
María de Benavides, Vda. De Juan Ribera, México.
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É importante assinalar que do sermão de Palavicino se pode
deduzir que, em tempos de Sor Juana, houve um impugnador anónimo e
feroz da Carta Atenagórica: Palavicino nega expressamente ser ele o
autor deste libelo tão agressivo e trata o autor encoberto como «un
Soldado».
3. Carta de Sor Serafina de Cristo (1988: 182-193)8, escrita no dia
primeiro de Fevereiro de 1691. Este documento (publicado por Elías
Trabulse, em 1995) provocou uma intensa polémica, por ser atribuído
por Trabulse a Sor Juana; Antonio Alatorre y Marta Lilia Tenório (1988)
não concordam com esta hipótese. Trata-se de uma carta lúdica sobre o
debatido tema “das finezas” (será fina?), mas também irónica e burlesca,
capaz de pôr em ridículo outros destinatários além do padre António
Vieira. Sor Serafina, que diz ser freira Jerónima, também faz referência
àquele libelo agressivo do «Soldado».
4. Discurso apologético en respuesta a la Fe de erratas que sacó
un Soldado sobre la Carta atenagórica de la madre Juana Inés de la Cruz,
com data de 19 de Fevereiro de 1691, de autor anónimo. Alatorre (2005:
67-96) chama a ele «Incógnito» e afirma que poderia tratar-se de um
eclesiástico espanhol muito douto. (Este documento também foi
descoberto por José Antonio Rodríguez Garrido na Bibliteca Nacional do
Peru).
Pensamos que tanto o Discurso apologético como a Carta de
Serafina de Cristo tratam de averiguar a identidade deste «Soldado» e
introduzem a Respuesta a Sor Filotea de la Cruz de Sor Juana, no
primeiro dia de Março de 1691, documento, aliás, que se pode entender
como defesa, alegação, confissão, autobiografia e exposição do seu
pensamento. E pelas referências na Carta de Serafina de Cristo (de 1 de
Fevereiro) e na própria Respuesta a Sor Filotea de sor Juana (de 1 de
Março de 1691) pode-se deduzir que a agressão do «Soldado» foi escrita
nos primeiros dias de Janeiro de 1691.
Em resumo, entre a Carta Atenagórica, publicada nos últimos dias
de Novembro de 1690, e a Respuesta a Sor Filotea de Sor Juana,
assinada no primeiro dia de Março de 1691, isto é, durante um pequeno
8
O título da Carta é o seguinte: «Carta que habiendo visto la Athenagórica que con tanto
acierto dio a la estampa Sor Philotea de la Cruz del Convento de la Santísima Trinidad de
la Ciudad de los Ángeles, escribía Seraphina de Cristo en el Convento de N. P. S.
Gerónimo de México».
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período de tempo, foram escritos, que se conheçam, quatro9
documentos sobre esta polémica, sem contar o escrito do famoso
«Soldado», que se pode reconstruir, em parte, pelas múltiplas referências
que a ele se encontram no Discurso apologético.
Depois desta exposição, a pergunta é a seguinte: que motivos
poderia haver e quem poderia estar interessado em provocar tamanha
polémica? Segundo a leitura de Trabulse, o «Soldado» não poderia ser
outro senão o antigo confessor de Sor Juana, o padre António Nuñez de
Miranda da Companhia de Jesus, ordem religiosa que considerava os
seus membros como soldados de Cristo; por outras palavras, na Carta
Atenagórica «ocultava-se» uma crítica ao próprio Núñez de Miranda,
seu antigo confessor, sempre crítico e hostil a suas actividades literárias,
e com ele o misógino inimigo do teatro, das diversões e das letras
profanas, o poderoso jesuíta arcebispo Aguiar y Seijas10.
Precisamente, Sor Juana foi criticada pelas suas obras profanas,
mas foi a sua única carta teológica que provocou mais escândalo. Este
facto foi considerado uma total subversão dos cânones religiosos pela
sua condição de mulher, freira e escritora, diante da hierarquia
eclesiástica, a quem estava reservada a máxima ocupação religiosa: a
teologia.
Os especialistas, em geral, concordam em que as críticas de Sor
Juana ao sermão sobre as finezas de Cristo de Vieira são dirigidas
unicamente à dialéctica: aquilo que discute e combate é a
argumentação de Vieira, mas aceita o seu estilo, já que ambos possuem
em comum a mesma agudeza. Por outras palavras, a Carta Atenagórica
foi para Sor Juana Inés de la Cruz uma maneira de demonstrar que,
apesar de ser mulher e freira, podia manter uma disputa teológica com
um contemporâneo seu e escritor de fama gigantesca como o padre
António Vieira, por quem, com certeza, tinha grande admiração.
9
É preciso não esquecer que, nos últimos dias de 1692 ou nos primeiros de 1693, Sor
Juana escreveu os Enigmas a la Casa del Placer. Trata-se de 20 poemas manuscritos que
sor Juana enviou às freiras e poetas portuguesas, a instâncias da sua mecenas, María Luisa
Manrique de Lara, condessa de Paredes, marquesa de la Laguna. Este manuscrito foi
descoberto por Enrique Martínez López na Biblioteca Nacional de Lisboa na década de 60,
e cuja edição crítica, obra de Alatorre, apareceu em 1994.
10
Aguiar y Seijas era um admirador de Vieira. Além dos tomos de sermões publicados em
Madrid, apareceram no México, em 1683, umas Conclusiones a toda la teología que a
Real e Pontifícia Universidade do México dedicava a Vieira, seguramente por sugestão de
Aguiar y Seijas, que acabava de ocupar o arcebispado do México. Em 1685, publicou-se
de Vieira, também no México, o Heráclito defendido (por la Viuda de Rodríguez Lupercio).
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De toda esta nova documentação interessa-nos, em primeiro
lugar, a Carta de Serafina de Cristo, pelas referências ao padre Manuel
de Guerra y Ribera. A Carta começa com uma comparação entre a
beleza já passada de D. Maria de Ataíde (pela qual Vieira, como é
sabido, pregou um sermão nas suas exéquias) e a fama de Vieira, que
também, segundo a suposta freira, se estava a acabar; para, a seguir,
afirmar: «Lo cierto es que en la siempre florídisima vega de los ingenios
nunca pudo ciprés difunto sino siempreviva, y aun inmortal, la gloria de
su fama». É preciso lembrar que em Espanha se chegou a pensar que
Vieira tinha sido queimado pela Inquisição.
Imediatamente faz referência ao «Soldado» com estas palavras:
«Dícenme que ha salido no sé qué soldado castellano a la demanda del
valentísimo Portugués, o por mejor decir, me dicen que no ha salido». E,
como se estivesse a manter um diálogo com alguém que conhece a
identidade do «Soldado», prossegue:
Díjele entonces que me parecía muy bien el Juicio/ de no parecer; que
se quedase el buen soldado en/ paz, o que se fuera a Guerra, que a
mano está/ la Cuaresma, donde hallaría bien en que batallar/ y que allí
Viera un Juicio de Dios contra el suyo,/ y Viera y Viera sin duda, allí, a
Guerra galana lo/ bastante para no salir con la suya a Guerra viva.
Nesta Carta de Sor Serafina encontra-se a seguinte nota na
primeira vez que aparece a palavra «Guerra»:
El Rmo. P. fray Manuel de Guerra en su serm(ón) del primer lunes de
Cuaresma. Tomo. 1 impugna el Serm(ón) de la D(omé)n(i)ca 2 de
Adviento. T. 2 del Rmo. P. Vieira, donde ingeniosísimo como siempre
persuade que el Juicio de los hombres es más temeroso que el Juicio de
Dios. (AA.VV. 1988:192)
A Carta de Sor Serafina está cheia de enigmas difíceis de decifrar,
mas é evidente que a suposta Sor Serafina conhecia perfeitamente a
polémica entre o padre Guerra e a Companhia de Jesus, que além da
crítica ao sermão de Vieira em 1679, continuava com o tema da
«licitude moral do teatro».
Depois da morte de D. Juan José de Áustria, o padre Guerra,
parece que por influência de Calderón de la Barca, foi pregador do rei
Carlos II. Foi famoso pela sua defesa das comédias e das representações
teatrais na sua Aprobación da Verdadera quinta parte de las comedias de
don Pedro Calderón de la Barca, em Madrid, Francisco Sanz, 1682
(García Lorenzo 1995: 60-71), que provocou uma reacção muito
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violenta por parte dos jesuítas, que centraram o debate no plano
filosófico e teológico, chegando inclusive a pôr em dúvida a ortodoxia
do autor.
Também é interessante destacar que Sor Serafina põe em dúvida
que o Sermão do Mandato, objecto da Carta Atenagórica, seja da autoria
do «ingeniosísimo y casi divino P. Vieira». Como é sabido na «Lista»
crítica das edições dos seus sermões, publicada no primeiro volume da
editio princeps portuguesa de 1679, Vieira, além de indicar os sermões a
ele erroneamente atribuídos e deformados nas edições espanholas de
1662 e 1664, cita ainda outro volume que andava com o título de
Terceyra Parte, Madrid 1678. Na página 100 deste volume encontra-se
um Sermón del Mandato, que considera alheio, e na página 119 outro
Sermon del Mandato que reconhece como próprio, do qual, juntamente
com outros quatro, diz: «Estes cinco sermões, & com mays razão tres
delles, se puderão tambem contar entre os alheyos, pela notavel
corrupção (que em algum se ve foi industria) com que saem
deformados». (Vieira: 1679) Pudemos comprovar que o Sermón del
Mandato que Vieira reconhece como próprio, embora corrompido, se
encontra no Volume III, publicado a expensas de Gabriel de León, em
Madrid, em 1678, e que coincide com a leitura da Carta Athenagórica
(Vieira 1678: 119).
Esta nossa tese é confirmada no Discurso apologético en respuesta
a la Fe de erratas que sacó un Soldado sobre la Carta atenagórica de la
madre Juana Inés de la Cruz, de 19 de Fevereiro de 1691, de autor
anónimo, que diz textualmente: «el Sermón del Mandato que leyó sor
Juana se hallará en el Tomo III de Sus Obras, folio 119, aunque en esto
hay variedad de opiniones […]» (Alatorre 2005: 77).
Este dado pode ajudar a compreender o facto de que a Carta
Athenagórica fosse não só uma controvérsia teológica, mas também um
texto polémico. Os dois primeiros tomos da coleção de sermões de
Vieira em Espanha, a expensas de Gabriel de León, publicados em 1678,
eram dedicados a Aguiar y Seijas, então bispo de Michoacán. O padre
António Vieira era admirado em Espanha e no México. Segundo a tese
de Octavio Paz, a rivalidade entre Fernández de Santa Cruz e Aguiar y
Seijas consistia em que ambos pretendiam o lugar que frei Payo
Enríquez de Rivera, amigo de Sor Juana, deixava vago: o arcebispado do
México. O bispado de Puebla de los Angeles era o mais importante da
«Nueva España» abaixo apenas do da cidade do México, mas Aguiar y
Seijas tinha o apoio dos jesuítas e foi nomeado arcebispo da cidade do
México.
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Em consequência, podemos perguntar: a Carta Atenagórica foi
utilizada como crítica contra a Companhia de Jesus? Sor Juana foi um
instrumento de Fernández de Santa Cruz contra Aguiar y Seijas?
Sabemos que Aguiar y Seijas era um admirador de Vieira. Além dos dois
tomos de sermões publicados em Madrid, apareceram no México, em
1683, umas Conclusiones a toda la teologia, que a Real e Pontifícia
Universidade do México dedicou a Vieira, quase com certeza por
sugestão de Aguiar y Seijas, que acabava de ocupar o arcebispado.
Vieira faz referência, com grande satisfação, a esta homenagem , em
carta ao Marquês de Gouveia de 14 de Junho de 1683 (Vieira 1971:
482-490). Em 1685, publicou-se, também no México, o Heráclito
defendido, de Vieira (Vieira 1685). Segundo Octavio Paz: «Atacar a
Vieira era atacar de refilón a Aguiar. También era enfrentarse a
influyentes jesuitas amigos del arzobispo». (Paz 1982: 525)
Há ainda outro tema de interesse relacionado com a Carta
Atenagórica e o padre Guerra: Robert Ricard (1951: 61-87) informa que
consultou a famosa Apologia de Soror Margarida Ignacia num tomo
facsimilado da Bibioteca Nacional de Lisboa (R.1.273). Este tomo traz no
dorso da encadernação o seguinte: Vieyra. Colleç. De varios papeis;
entre outros, contem Voz sagrada, política, rhetorica e metrica ou
supplemento as vozes saudosas da eloquencia, do espirito, do zelo, e
eminente sabedoria de Pade Antonio Vieira, etc.,11 Ricard cita um nota,
na página 210 da Voz sagrada, a qual introduz o texto em língua
espanhola da Crisis, isto é da Carta Atenagórica:
Ao sermao do Mandato, que o P. Antonio Vieira prégon na Capella
Real no anno de 1640, e he o XL na setima Parte dos seus Sermoens,
fez a Madre Soror Joanna Ignez da Cruz, profesa no Mosteiro de S.
Jeronymo da Cidade de Mexico, a seguinte Crisi: ainda que parece mais
versimel, que esta Crisi não seja fruto das applicaçoens desta religiosa
penna; antes sim do P. M. Guerra, que por alguma implicancia, que
teve com o nosso Vieira quis cobrir com capa alheya, o que se não
atrevera a fazer com a propia, talvez receando que em pouco tempo
visse malogrado o seu trabalho em desbono da sua opiniao. A esta Crisi
se deu resposta em Portugal em nome de outra Religiosa, que por
correr já impressa em volume separado, se não repete nesta Collecçao.
11
Voz sagrada, política, rhetorica e metrica ou supplemento as vozes saudosas da
eloquencia, do espirito, do zelo, e eminente sabedoria de Pade Antonio Vieira offerecida
ao senhor doutor Joseph de Lima Pinheiro e Aragametc., Lisboa, Na Officina de Francisco
Luis Ameno, Impressor de Congregação Cameraria da S. Igreja de Lisboa. MDCCXLVIII.
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A Apologia a favor de Vieira que em Portugal se deu como
resposta à Carta Atenagórica é já conhecida pelos especialistas: obra
assinada por Soror Margarida Ignacia12, publicada muitos anos depois da
morte de Sor Juana, em Lisboa, em 1727. Como é sabido também, esta
apologia diz ser da autoria de uma religiosa de Sto Agostinho no
Convento de Santa Mónica de Lisboa oriental, embora o verdadeiro
autor fosse o irmão da freira, Luís Gonçalves Pinheiro, que faz uma
grande defesa de Vieira e um feroz ataque a Sor Juana.
A surpreendente atribuição da autoria da Carta Atenagórica ao
Padre Manuel de Guerra y Ribera, coisa totalmente inesperada e até
agora inexplicável, poderia talvez ajudar a entender, no futuro, as
quintilhas com as quais acaba a Carta de Sor Serafina.
Até agora tem-se querido identificar o «Soldado» com o jesuíta
Padre Nuñez Miranda, mas também com o poder da Companhia de
Jesus no México, representado por Aguiar y Seijas, como «soldado de
Cristo». Mas não se pode chamar «soldado» também àquele que «vai à
guerra», isto é, a quem compartilhe com o padre trinitário Manuel de
Guerra y Ribera a sua crítica a Vieira e com ela à Companhia de Jesus?
Parece que Sor Serafina de Cristo o quer dar a entender desta forma.
Vamos ler parte das quintilhas com que acaba a Carta de Sor
Serafina de Cristo:
[…] estas negras quintillas. Puede ser que sirvan siquiera de pizto en la
flaqueza que en el dicho soldado se ha descubierto. Y no más. A Dios.
Guerra que de Juicio hubiera
Hizo en Madrid un profundo
Grave examen porque Vieira
A grande juicio del Mundo
Lo que a su juicio debiera
En cosa de juicio es buena
Razón que sonara al fin
12
Apologia a favor de R. P. A. Vieyra da Companhia de Iesu da provincia de Portugal,
Porque se desvanece e convence o Tratado que com o nome de Crisis (sobre un sermón)
escreveu contra elle a Reverenda Senhora D. Ioanna Ignes da Cruz.... Escrevem-a am. Sor
Margarida Ignacia, religiosa de Sto Agostinho no Convento de Santa Mónica de Lisboa
oriental, que a consagra e dedica ao muyto reverendo Provinciale, e mais religiosos da
Companhia de Iesu da Provincia de Portugal, Lisboa Occidental. Na Officina de Bernardo
da Costa, Anno de 1727.
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En señal de juicio llena
Por todo el mundo el clarín
De S. Gerónimo suena.
[…]
Oyó la guerra un soldado
Y como de juicio fuera
Por razón sólo de estado
En Juicio, como debiera
Con todo su juicio ha entrado.
Sacó la cara, más no,
Que no hay razón que aparezca
En el juicio se metió
Tal que así sólo parezca
Que se Athenagoricó.
[…]
Si confuso caracol
Es lo dicho, Madre Cruz
Aplíquese su arrebol
Que yo no lo saco a luz
Sino que lo saco al sol
Al fuego así se ilumina
Acrisolando finezas
De Christo en la Cruz se afina
Alma, a pesar de tibiezas
Que de Christo Seraphina
A Companhia de Jesus era poderosa no México e a glória de
Vieira estendia-se para além de Portugal e do Brasil. Quanta pretensão,
por parte de uma freira, era «irse a la guerra» deste modo contra uma
das mais famosas personalidades da Companhia de Jesus e da Igreja
toda! Era, pois, necessário reduzir a freira ao silêncio, acabar com o
escândalo que a Carta Atenagórica tinha provocado. Assim o
entenderam aqueles que pretenderam silenciá-la.
Vamos terminar com uma das anedoctas famosas de Vieira, citada
por João Lúcio de Azevedo:
Preso o Padre António Vieira no Santo Ofício lhe perguntarao os
Inquisidores: «Basta Padre que dissestes em hum sermão que os juizos
dos homens são mais para temer que os juizos de Deos». Respondeo
elle: «Pois se eu disse isso lá fora, que direi agora cá dentro». (Azevedo
1931: 391)
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Evidentemente, tanto para Sor Juana como para o padre António
Vieira, era mais temido o juízo humano do que o Divino.
Bibliografia
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segunda edição, tomo segundo, no apêndice intitulado “A Tradição”:
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El padre Manuel de Guerra y Ribera y su Aprobación a las comedias
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de Teatro, Ediciones Aldecoa, Burgos, pp. 60-71.
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continua. Oraciones Evangelicas para todos los dias que predico &
dexo escritas el Rmo. P. M. Fr. Manuel de Guerra y Ribera, [...] Tomo
Primero. Segunda Impression. Em la Imprenta Real, por Joseph
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estereotipo del jesuita demonizado”, AA.VV, Vieira Escritor, Edições
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Compañia De Iesvs./ Con XVIII Sermones Nvevos, Y Dos Indices,/
uno Doctrinal, y otro de lugares de Escritura./ Dedicados al
Reverendisimo Padre/ Fray Nicolás de Alcocer... Tomo Tercero./ Año
1678./ Con Privilegio: En Madrid. Por Antonio Francisco de Zafra,
Criado de su Magestad en su Bolateria. / Acosta de Gabriel de León,
Mercader de Libros.
Vieira (1679): «Lista dos sermoes que andão impressos com nome do
Author em varias linguas, para que se conheça quaes são propios,
legítimos, e quaes alheyos, & suppostos», Sermoens do P. António
Vieira da Companhia de Jesu. Pregador de Sua Alteza. Primeyra
Parte. Dedicada ao principe N. S. Em Lisboa. Na Officina de Ioam da
Costa. MDCLXXIX. Com todas as licenças & Privilegio Real.
Vieira (1685): António Vieira, Heráclito defendido, por la Viuda de
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Vieira (1971): António Vieira. Cartas III, Imprensa Nacional, Lisboa, pp.
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Vieira (1971): António Vieira, Cartas II, Imprensa Nacional, Lisboa, pp.
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