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Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
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Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
Agrocombustíveis no Brasil
e na América Latina:
impactos no campo e na cidade
Maio de 2008
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
3
Expediente:
CONCRAB - Confederação das
Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil
Processo 55.3670/2005-0
Setor Comercial Sul, Quadra 6, Bloco A,
Ed. Arnaldo Villares, sala 213, 2° Andar
CEP. 70 310 - 500
Tel.: (61) 3225-8592
Correio eletrônico:
secretaria@concrab.org.br
Organização:Luiz Henrique Gomes
Capa e diagramação: Fábio Carvalho
Tiragem: 2.000 exemplares
4
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
Sumário
Introdução ................................................................................................................. 7
Una lectura geopolítica a la problemática de los
agrocombustibles en America Latina
Elizabeth Bravo ............................................................................................................ 13
Impactos econômicos, sociais e ambientais devido à expansão
da oferta do etanol no Brasil
Horacio Martins de Carvalho....................................................................................... 23
Contextualização e problematização dos agrocombustíveis no Brasil
Jean Pierre Leroy ............................................................................................................ 41
Agrocombustibles: impactos sobre el ambiente, la soberania
y la seguridad alimentaria global
Elizabeth Bravo ........................................................................................................... 49
Carta final da 1º Conferência Nacional Popular Sobre Agroenergia ................ 62
Declaração Final do Encontro Mulheres em Luta por Soberania
Alimentar e Energética ............................................................................................ 65
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
5
6
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
Introdução
O paradigma agroecológico no desenvolvimento de alternativas
produtivas de agrocombustíveis em assentamentos de reforma agrária
1. Alimentos, energia e agrocombustíveis: a relação dialética entre meio
ambiente e agricultura frente às crises
mundiais
A última metade desta década têm se
apresentado como um momento de
inflexão dentro dos rumos que o sistema
capitalista gerou para espaços importantes
da humanidade e mesmo para sua própria
reprodução. Além da crise estrutural
financeira que vem se aprofundando, a
qual não é objeto direto desta publicação,
visualizamos um debate mundial sobre as
mudanças climáticas e a redução
exponencial das reservas alimentares do
mundo.
A constante expansão do objetivo
fundamental do capitalismo – gerar lucros
– e a necessidade intrínseca deste sistema
de avançar os meios de produção por meio
da alta tecnologia promoveram o consumo
exorbitante de recursos naturais,
principalmente a partir da segunda metade
do século passado. Por exemplo, o
consumo mundial de carvão mineral entre
1950 e 2002 multiplicou-se por 4,7 vezes1 ,
enquanto, por sua vez, o petróleo teve a
produção aumenta de 48 milhões de barris
por dia em 1970, para 86 milhões de barris
por dia, em 20042 . O consumo de florestas,
recursos hídricos, solos e minerais possuem
números igualmente impres- sionantes.
De maneira geral, tanto a manutenção
em funcionamento da sociedade como um
todo, quanto o beneficiamento e
transformação constante das matérias
primas, vem promovendo a liberação de
gases que aceleram o conhecido
aquecimento global. Embora este efeito seja
causado por diversos fatores, tem-se o
padrão de consumo de bens duráveis e nãoduráveis apresentando-se em um patamar
altíssimo na Europa e nos EUA, os quais são
referência para o resto do mundo.
Diante disto, apesar de parecer evidente
a necessidade de rediscutir o próprio
padrão de consumo hegemônico no
contexto global, diversos setores
apresentaram soluções pontuais e
diferentes para alterar o quadro de
cataclísma que se estabeleceu tanto na
sociedade, quanto nos meios acadêmicos.
Desde a defesa de acordos internacionais
como o Protocolo de Kyoto, passando pela
racionalização da matriz energética fóssil,
até a produção massiva e mundial de
agrocombustíveis, a gama de alternativas
falsas ou insuficientes é considerável.
No caso de nosso país, a “alternativa”
chamada
agrocombustíveis
vem
1
FONTE: OCDE, OECD Environmental Data 2002 (Paris: 2002), p. 11 “Norway –Household Waste Increases More ThanEver”, Warmer
Bulletin, 28/06/03
2
Dados obtidos no site HTTP://www.census.gov
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
7
impactando de forma substanciosa a
realidade agrária do país. O governo
brasileiro, ao perceber a crise energética e
a necessidade das grandes corporações
automotivas de manterem sua política de
venda massiva de veículos individuais,
retomou o programa PROALCOOL,
concebido em outro momento de crise (na
década de 70), e o remodelou, projetandoo não mais como solução nacional, mas sim
como solução mundial.
O surgimento dos agrocombustíveis
tende a impactar severamente a estrutura
produtiva global da agricultura em todo
o mundo. É importante e talvez
fundamental estabelecer uma clara
distinção entre a visão e a posição
dominante no setor do agronegócio e na
mídia em geral, e a leitura que fazem
diversas organizações camponesas e
ecologistas, por todo o planeta.
As corporações capitalistas falam em
se tornar mais amigáveis ao meio
ambiente, “mais verdes”, no entanto, o que
as move é tão somente a busca de lucro, a
abertura de novas frentes para acúmulo de
capital. Não há de fato uma preocupação
ambiental de fundo no centro das
prioridades.
Antes de simplesmente buscar
alternativas, a sociedade poderia se
perguntar e debater se o atual modelo de
consumo de combustíveis e energia é
sustentável e desejável. A resposta
certamente seria não!
Definitivamente
é
impossível
substituir o combustível fóssil pelos
agrocombustíveis. Além destes não serem
isentos como poluidores (alias,
dependendo do agrocombustível, o
diferencial energético liquido chega a ser
8
pequeno se comparado aos combustíveis
fósseis), muita terra será necessária para
produzir culturas energéticas. E isto vem
afetando, junto com outros fatores, a
produção, o preço, e a disponibilidade dos
alimentos.
O grande peso político colocado – em
nível mundial – na solução agrocombustível
acendeu então a fagulha para outra grande
crise, que vem devastando a economia dos
países mais pobres: a crise alimentar. Esta
crise estourou com o rápido declínio dos
estoques mundiais e a elevação brusca no
preço das principais commodities agrícolas.
Sem dúvidas, não são os agrocombustíveis o fator principal desta crise, e
defender esta tese é continuar observando
a realidade apenas por questões pontuais.
A crise alimentar tem sua origem nos
processos econômicos iniciados na década
de 70, conhecidos mundialmente pelo
termo neoliberalismo.
Com esta nova escola econômica,
muitos governos passaram para a
iniciativa privada o controle de setores
estratégicos, dentre eles a alimentação. No
Brasil, uma forte e consolidada rede de
abastecimento nacional (sintetizada na
Companhia Nacional de Abastecimento –
CONAB) foi estrategicamente sucateada e
vendida, de tal forma de em apenas uma
década (a de 90) os estoques nacionais
passem do controle público ao controle
total do mercado. Portanto, grandes
volumes de alimentos, ou melhor,
commodities, são hoje mercadoria
estocada nas grandes corporações, as quais
desejam apenas um resultado com essas
mercadorias – gerar lucro.
Concomitante a esta estratégia de
privatização dos estoques agrícolas, a
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
política agrícola hegemônica orientou a
produção mundial para as commodities,
transformando alimentos e fibras em pura
mercadoria, fonte de lucro. E para
sustentar o consumo destas commodities,
grande campanhas publicitárias e uma
afinada estratégia entre governos mundiais
e transnacionais alimentícias reduziram a
base alimentar mundial a menos de uma
dezena de produtos (milho, soja, trigo, leite
e arroz, principalmente). Essa produção de
commodities veio associada ao pacote da
Revolução Verde, modelo agrícola
petrodependente e de alto impacto
ambiental.
Uma estratégia desta envergadura
também deveria possuir um planejamento
espacial da produção agrícola, que se
encaixaria dentro da Divisão Internacional
do Trabalho. Nesta divisão, coube aos
países da América latina o papel de
celeiros do mundo, produzindo de forma
expressiva principalmente grãos, que
sustentam a produção pecuária e de outros
alimentos industrializados em todo o
mundo. Entretanto, esta divisão geográfica
demandou a estruturação de uma
complexa e onerosa logística de circulação
da mercadoria, toda ela baseada nos
petroderivados. Com o brutal aumento do
petróleo em um curto espaço de tempo, os
alimentos sofreram um forte impacto em
seus preços.
Afora estas questões estruturais, é
importante lembrar que a atual crise
alimentar tem no sistema financeiro em
colapso um de seus fatores conjunturais.
Com o mercado “virtual” de ações e
investimentos futuros apresentando
grandes incertezas, o capital dito flutuante
migrou para investimentos mais seguros,
como imóveis e as commodities, incluindo
as agrícolas. Desta forma, a elevação do
preço dos alimentos também tem seu
cunho especulativo.
No entanto, os agrocombustíveis
também possuem sua importância
conjuntural na explosão da crise alimentar
mundial. O principal impacto global vem
das lavouras de milho estadunidenses.
Com o forte apoio governamental, os
fazendeiros investiram muito na cadeia
produtiva do milho para produção de
etanol, e grandes parques industriais de
produção de etanol foram estruturados. O
preço de uma commodity é tabelado em
dólar, já que estes produtos são sempre
comercializados em operacionais
transnacionais. Neste caso, o preço do
milho elevou-se consideravelmente nos
EUA, mas teve impacto no preço de todos
os negócios realizados em âmbito
internacional.
Como o milho é base alimentar tanto
para a pecuária (nas diversas rações para
bovinos, suínos, aves etc) quanto para a
humanidade, o efeito-dominó foi
inevitável e transformou-se em mais um
fator da crise alimentar.
Se esta complexa “estrutura” de falsas
alternativas, reais urgências e impactos
concretos e potenciais apresenta um forte
impacto no cenário internacional, esta
realidade se materializa em sua forma
mais intensa no Brasil. Enquanto
experimentamos um crescimento
inigualável do setor automobilístico e dos
parques industriais nacionais – e de seus
conseqüentes impactos ambientais –
somos o país que se encontra na
vanguarda dos agrocombustíveis,
experimentando em suas terras a disputa
real entre a produção de energia
proveniente de culturas agrícolas e a
produção de alimento para sua população.
Apesar de o Brasil ser um país tropical,
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
9
onde as mudanças climáticas³ se dão de
forma mais tênue, as alterações são
consideráveis na agricultura. Os períodos
de seca assolam regiões impensáveis
anteriormente, como a Amazônia (por
exemplo a grande seca do ano de 2005), e
acentuam-se em outras regiões. Por outro
lado, tempestades se apresentam mais
agressivas, como as inéditas formações de
furacões na região Sul do país.
Com uma matriz energética fortemente
apoiada na energia hidráulica, o Brasil
aparentemente seria “vítima” do uso
exacerbado de combustíveis fósseis por
países
desenvolvidos,
mas
sua
contribuição para o aquecimento global é
fato devido a devastação das florestas dos
vários biomas, principalmente por meio das
queimadas. Por este motivo, o Brasil
dedicou ao agrocombustível o papel de
“agente purificador” da imagem de
poluidor adquirida pelo país. A toda a frota
nacional sendo fabricada com motores
flexíveis (gasolina e álcool) e a eficiência
energética da produção de etanol a partir
da cana-de-açúcar tornou o Brasil em um
arauto desta tecnologia.
Com uma política agressiva de
incentivo fiscal, financeiro e acadêmico, e
com um mercado comprador ascendente,
o setor sucroalcooleiro foi alçado da
falência para as principais negociações
internacionais feitas pelo governo
brasileiro. A área plantada de cana voltou
a crescer: no estado de São Paulo, em 1998
eram utilizados 2,5 milhões de hectares,
enquanto que em 2007 este total foi de 3,9
4
milhões de ha .
Por sua vez, o biodiesel, estratégia
governamental para agricultura familiar,
vem se apresentando como alternativa para
os grandes produtores de soja no período
de baixa dos preços internacionais do
produto
como
grão.
Hoje,
aproximadamente 85% do biodiesel é
proveniente a soja.
Este avanço das lavouras destinadas à
produção energética tem impacto sobre os
alimentos de forma diferente. O primeiro
impacto, e talvez mais evidente, é a disputa
direta entre áreas para plantio de cana e
áreas para outras culturas, principalmente
milho, feijão, arroz e mandioca. Esta
disputa acontece agressivamente no estado
de São Paulo, onde freqüentemente os
empreendimentos
sucro-alcooleiros
“vencem” a “queda-de-braço”.
O segundo impacto, e que necessita de
um exercício maior de analise econômica
da realidade, demonstra-se no preço da
terra em toda a região centro-sul. Com a
voracidade da agroindústria dos
agrocombustíveis, as terras nesta região
começam a receber propostas de compra
para expansão das áreas cultivadas, sempre
com uma considerável inflação a fim de
concretizarem rapidamente a negociação.
Portanto, torna-se mais caro produzir
qualquer produto agrícola, incluindo os
alimentos.
Todo este quadro influencia diretamente
na reforma agrária e em seu público
beneficiário. Há cerca de 10 anos o governo
federal vem fortalecendo a sua política de
compra de terras – ao invés da clássica
desapropriação por interesse social. Esse
mecanismo, no entanto, é altamente
suscetível a estas oscilações no valor de
3
Para um estudo mais aprofundado, observar o relatório Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas: como o aquecimento global já afeta o
Brasil, Greenpeace: 2008.
4
Informações obtidas no site do IBGE, dados sobre as safras dos respectivos anos.
10
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
compra da terra. Portanto, a reforma agrária
vem se inviabilizando nas áreas onde o
agrocombustível está avançando.
Em outro aspecto, o projeto de
expansão das áreas cultivadas com
lavouras destinadas aos agrocombustíveis
pressionam os assentados e assentadas,
aliciando-os com crédito, insumo e
assistência técnica, em troca das terras e
mão de obra do assentamento. No estado
de São Paulo esta realidade é muito
presente nos assentamentos do Pontal do
Paranapanema e próximos das áreas de
Ribeirão Preto e Araraquara.
2. As bases da produção camponesa de
agrocombustíveis
É diante desta realidade concreta
que a CONCRAB, diversas ONGs e os
movimentos sociais do campo vêm
trabalhando na posição política de defesa
da segurança alimentar das famílias e da
soberania alimentar das comunidades
rurais e urbanas. Com base na conciliação
destes dois objetivos, esta estratégia visa
estimular um sistema produtivo
diversificado, eficiente e correspondente às
necessidades locais.
Tendo referencia nas experiências e
reflexões obtidas nos últimos anos em
diversos trabalhos, se busca na
agroecologia o paradigma produtivo que
abarca essa possibilidade de diversificação,
sustentabilidade e eficiência. A
agroecologia apresenta-se como uma
matriz tecnológica produtiva que promove
o entendimento ecológico do ecossistema
agrícola, compreendendo a inter-relação
entre culturas agrícolas, florestais, criações
animais e populações selvagens.
Entretanto, tornar reais estes
princípios agroecológicos é mote de
diversos experimentos acadêmicos e de
trabalhos iniciais de movimentos sociais e
ONGs. Porém, no campo dos
agrocombustíveis aliado com a produção
de alimentos, esta matriz tecnológica ainda
se apresenta bastante incipiente. Como a
estratégia institucional de promoção dos
agrocombustíveis foi por meio do
agronegócio, todas as tecnologias
(implementos, insumos e tratos culturais)
estão voltadas para grandes propriedades
e monocultura.
É diante desta conjuntura nacional
que se faz urgente e necessário o debate
sobre a transição agroecológica em
sistemas produtivos de agrocombustíveis.
Primeiramente, se faz necessária a reflexão
sobre o que significa os agrocombustíveis
em um contexto mundial e nacional. Em
um segundo momento, considerar as
reflexões feitas pelos movimentos sociais
e entidades da sociedade civil que
debatem o tema sob a ótica os agricultores
e assentados. E, por fim, realizar
experiências práticas de transição
agroecológica. Os textos contidos nesta
revista cumprem os dois primeiros
objetivos: problematizar sobre os
agrocombustíveis e apresentar as reflexões
da sociedade civil organizada.
CONCRAB
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
11
12
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
Una lectura geopolítica a la problemática
de los agrocombustibles en America Latina
Elizabeth Bravo
Red por una América Latina Libre de Transgénicos
Agosto del 2007. Dos presidentes.
Dos giras en América Latina. Por un lado,
el presidente Lula hizo un recorrido por
México y el Caribe, para dar continuidad a
lo que se le ha llamado su “diplomacia del
etanol”, cuyo objetivo es crear un mercado
seguro para el etanol y posesionarse como
un nuevo líder en el sur del mundo.
En esos mismos días, el presidente
Hugo Chávez visita cuatro países aliados
en cinco días sudamericanos, donde visitó
a sus principales aliados (Argentina,
Bolivia y Ecuador) y trató de recomponer
sus relaciones con Uruguay1 .
En estas dos visitas podría
resumirse dos visiones geopolíticas en
disputa, en torno al control de la energía y
de la integración latinoamericana. Mientras
Chávez privilegia el petróleo como base de
la integración, desde una perspectiva de la
soberanía sobre el recurso, pues, mientras
los hidrocarburíferos son patrimonio
estatal, y aunque los gobiernos establezcan
contratos desfavorables para los intereses
nacionales, y aun cuando un alto porcentaje
de las rentas petroleras se dediquen a pagar
la deuda externa y en otros gastos
ilegítimos; de cualquier manera, los
ingresos petroleros se redistribuyen en la
sociedad.
En contraste, los agrocombustibles
son producidos por el sector privado; el
Estado no puede tener el mismo grado de
control sobre todas las fases de la cadena
productiva, como sucede con el petróleo;
y las divisas generadas en su exportación,
no se redistribuyen. Lula entonces vende
su idea de agrocombustibles desde una
lógica empresarial.
LAS GIRAS ENERGETICAS LATINOAMERICANAS
PRESIDENTE LULA
PRESIDENTE CHAVEZ
México: plantea la cooperación en agrocombustibles y pide a México ingresar al Mercosur
Argentina: compró bonos por 500 millones de
dólares y firmó un acuerdo energético con
Kirchner
Honduras: habló de un TLC entre Centro América
y Mercosur. Se incorporó el tema de los agrocombustibles
Uruguay: suscribió un acuerdo de seguridad
energética y ofreció una refinería
Nicaragua: firmó un acuerdo, pero Lula no pudo
vender su idea del etanol
Ecuador: construirá una refinería en Manabí2
y comprará bonos ecuatorianos
Panamá: dará tecnología para agro-combustibles
Bolivia: pondrá en marcha una asociación de
petroleras estatales
Jamaica: más tecnología de agro-combustibles
Fuente: El Comercio, 9 de agosto del 2007
1
2
Significativamente una semana después, el presidente Tabaré Vásquez viajó a Ecuador
Provincia donde está instalada una base militar estadounidense y que tendrá que salir en 2009
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
13
He usado este ejemplo como
introducción al hecho que se está
construyendo una nueva geopolítica
energética en el mundo, en la que América
Latina juega un papel muy importante.
ALGO SOBRE LA GEOPOLÍTICA
estos, por lo menos dos son políticamente
poco estables, y Canadá no es un país de
Tercer Mundo al que se pueda entrar como
en el patio trasero. Es por tanto urgente
diversificar
las
fuentes
de
aprovisionamiento, y por lo mismo, el
petróleo mundial se ha constituido en un
asunto de seguridad nacional para Estados
Unidos.
Aunque el término geopolítica ha
sido utilizado desde inicios del siglo XX
por intelectuales europeos, fue general nazi
Karl Haushofer, que la modernizó y utilizó
como instrumento que justificaba la
expansión territorial de Alemania durante
el Tercer Reich, para asegurar la
subsistencia alemana a través del manejo
del territorio de otro país, para apoderarse
de los recursos estratégicos requeridos para
garantizar el desarrollo y seguridad de
Alemania. Él incluyó varios elementos del
geógrafo Friedrich Ratzel, quien propuso
que un Estado tiene que crecer, extender o
morirse dentro de «fronteras vivientes»,
por ello tales fronteras son dinámicas y
sujetas al cambio. Estos conceptos han sido
ampliados para enfrentar problemas
militares y geoestratégicos, y no sólo de
Alemania sino también de otros países.
El Vicepresidente Cheney advirtió
que en el 2001, Estados Unidos se enfrentó
a la más seria carencia de energía desde los
embargos petroleros de los 70, y que la
dependencia de crudo aumenta cuando
poderes extranjeros no siempre tienen a
Estados Unidos en su corazón.
En el campo petrolero, la Doctrina
Carter, define al crudo del Golfo Pérsico
como de «interés vital» para Estados
Unidos, y debe ser defendido «por
cualquier medio necesario, incluida la
fuerza militar». Eso ha sido demostrado en
los últimos años hasta la saciedad.
Dentro de su Plan de Seguridad
Energética, Bush propuso diversificar sus
fuentes, tanto de crudo como de
combustibles alternativos 3 . Para ello es
necesario aumentar substancialmente el
porcentaje de maíz en la producción de
etanol (White House, 2007), lo que desataría
conflictos con importantes grupos
económicos estadounidenses, que usan
grandes cantidades de maíz como materia
prima dentro de Estados Unidos4 . Por lo
que Estados Unidos va a tener que
abastecerse de la importación.
¿QUÉ PASA CON EL PETRÓLEO?
En Estados Unidos, en el año 2000,
el 55% de las importaciones de crudo
provinieron apenas de 4 países: Canadá,
Arabia Saudita, Venezuela y México. De
3
4
Este es el caso del Presidente Chávez,
que ha sido calificado por Estados Unidos
como parte del “eje del mal”, a pesar de ser
Venezuela es el principal proveedor de
productos derivados de petróleo a Estados
Unidos. Existe entre Venezuela y Estados
Unidos una dependencia mutua, y ambos
están resueltos a dejar esa dependencia.
Venezuela por medio de crear nuevos
aliados y nuevos mercados en el Sur, y Bush
a través del etanol.
Se necesita, por tanto, establecer una
nueva geopolítica en torno a los agro-
35.000 millones de galones de combustibles alternativos al año hasta el 2017, que podrían ser a partir de maíz.
Como la industria alimenticia y avícola
14
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
combustibles. Bush ve necesario “alentar a
sus amigos y aliados a aumentar su
producción de petróleo y alternativas,
diversificar sus fuentes, reducir su consumo
y aumentar sus reservas de petróleo” para
reforzar la seguridad energética de Estados
Unidos (y el resto del mundo). Y mira con
preocupación las acciones en el extranjero
que “menoscaban los mercados libres,
abiertos y competitivos para el comercio y
la inversión en fuentes de energía” (White
House, 2007).
Es ahí donde entra Brasil como un
nuevo amigo y aliado de Estados Unidos.
LA GEOPOLÍTICA DEL ETANOL
La nueva geopolítica que se está
conformando en torno a los agrocombustibles, tiene como objetivo asegurar
que estos puedan sustituir paulatinamente
al petróleo, y así perpetuar el patrón de vida
de las sociedades del Norte, en base a la
vieja dependencia de tipo colonial sobre los
ecosistemas y pueblos del Sur. Es necesario
por tanto, asegurar el control de territorios
enteros, lo que implicará el desplazamiento
de comunidades locales y de sus formas de
vida, reemplazo de ecosistemas naturales
por cultivos energéticos, y pérdida de
soberanía alimentaria y patrimonial.
El punto más alto de esta nueva
“diplomacia del etanol” fue la visita del
presidente Bush a Brasil, donde se consagró
una nueva geopolítica energética. Un paso
previo a la consumación de la alianza Lula
– Bush, fue la creación de la Comisión
Interamericana del Etanol, que es un grupo
del sector privado co-dirigido por Luis
Moreno - Presidente del BID, Jeb Bush, ex
5
6
gobernador de Florida y hermano del
presidente estadounidense, y Roberto
Rodrigues, presidente del Consejo
Superior de Agronegocios de la Federación
de Industrias del Estado de Sao Paulo, y
ex Ministro de Agricultura en el primer
gobierno de Lula.
El objetivo de Estados Unidos es
contar con una fuente de abastecimiento de
sus nuevas necesidades energéticas.
Lula, por su parte, aspira
posicionarse como el líder del Sur y hacer
de Brasil una potencia energética en base
al etanol; asegurar un mercado estable para
los agro-combustibles, así como de toda la
cadena
productiva
relacionada
(transferencia tecnológica para la
producción agrícola, procesamiento,
refinación y distribución).
Una manifestación de las alianzas
Lula – Bush fue la creación de la empresa
Brazilian Renewable Energy Company
(Brenco), una de las industrias más grandes
en la materia5 , formada por inversionistas
estadounidenses y brasileños. Con sede en
Las Bermudas y encabezada por James
Wolfenson ex-presidente del Banco
Mundial, la empresa es dirigida por
Phillippe Reichstul, el ex-presidente de
Petrobras. Otro de sus inversionistas es
David Zylbersztanjn, antiguo director de
ANP6 y pariente político del ex Presidente
Cardozo.
LAS RUTAS DE LOS AGROCOMBUSTIBLES
a. Brasil y Estados Unidos
El gobierno brasileño está
promocionando los agro-combustibles en
Se iniciará con un capital de 240 millones de dólares e intentarán captar 2.000 millones de dólares
Agencia Nacional de Petróleo, Gas Natural y Biocombustibles del Brasil
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
15
varios países del mundo. Desde el 2006,
altos funcionarios del gobierno brasileño
y representantes empresariales han
visitado varios países latinoamericanos y
del Caribe; y han establecido alianzas con
varios países de la región y de África.
Igualmente Petrobrás está asistiendo a
varios países a desarrollar el marco técnico
y legal en el tema.
El proyecto político de Lula es
convertirse en el nuevo líder del Sur y
conseguir que Brasil acceda al Consejo de
Seguridad de la ONU. En su gira nórdica,
en septiembre de este año, Lula obtuvo ya
el apoyo de varios países escandinavos.
En el plano económico el objetivo
es convertir a Brasil en el principal
proveedor de agrocombustibles y de
tecnología para etanol a escala mundial.
Entre sus planes se incluye acceder al
mercado de los Estados Unidos y Europa,
vía las ventajas arancelarias que tienen los
países de la Región Andina, Centro
América y Caribe. Por eso quiere expandir
la producción de caña de azúcar y palma
aceitera, y plantas de procesamiento a esos
países. También se ha volcado hacia el
continente africano, y ha logrado obtener
el apoyo de varios países africanos a través
de acuerdos bilaterales y trilaterales de
cooperación, y se ha apuntalado en la
Unión Africana, pasando por alto varias
agencias de las Naciones Unidas, para
asegurarse
la implementación de
instrumentos legales y técnicos.
Petrobrás y algunas compañías
japonesas firmaron un memorando de
entendimiento para la producción y venta
de etanol, plantas para quemar el bagazo
de la caña para la producción energética y
oportunidades de venta de créditos MDL,
y en su gira por la región Escandinava y
16
España, consiguió también importantes
contratos.
Para cubrir las necesidades del
nuevo mercado agroenergético que se está
construyendo, el Plan Nacional de
Agroenergía de Brasil estima como área
potencial para expansión de cultivos
energéticos la cifra de 200 millones de
hectáreas, incluyendo la “recuperación de
áreas degradadas, reconversión de pastos
y ‘reforestación’ de la Amazonia con
palma”. Para poner en marcha el Plan, se
debe construir una red de Alcohol-ductos,
plantas de acopio, procesamiento, puertos,
carreteras e hidrovías, lo que incrementará
el uso de hierro proveniente de las minas
del Gran Carajás, la destrucción de
ecosistemas naturales y del tejido social en
esta región de Amazonia, además de
incrementar dramáticamente la producción
de cemento y concreto, una de las
industrias más sedientas de energía.
b. La soya transgénica en Argentina y el Cono
Sur.
Transformar el paisaje del campo
argentino en un monocultivo de 15,9
millones de hectáreas de soja transgénica
sólo tomó 10 años, reemplazando la
producción de cereales, carne y otros
alimentos por la de sólo un producto para
la exportación, concentrada en manos de
las principales trasnacionales del comercio
internacional. Ahora siendo el primer
exportador mundial de aceites, Argentina
busca convertirse el principal proveedor
para la demanda europea de agrodiesel,
para lo cual el gobierno argentino ya
solicitó aranceles preferenciales a la Unión
Europea.
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
La apuesta del agronegocio por la
exportación de agrocombustibles ha puesto
funcionar un engranaje de producción de
agrodiesel en el que participan empresas
como Vicentín, AGD-Bunge S.A y SACEIF Louis Dreyfus, y del sector petrolero
(Repsol-YPF y la nacional ENARSA) que
participan en proyectos de entre 25 y 30
millones de dólares. La capacidad prevista
por el total de las plantas a instalar es de
3,1 millones de toneladas anuales.
Para suplir la demanda de
exportación de aceites y granos, y ahora la
del agrodiesel de soya, y además cumplir
con las nuevas metas para agrodiesel, se
programa la deforestación de entre 4 y 7
millones más de hectáreas de bosques
nativos para avanzar con la frontera soyera,
e importar entre 3 y 4 millones de toneladas
de soya provenientes de Bolivia, Brasil, y
especialmente Paraguay, así como
implementar toda una infraestructura para
facilitar la exportación de soya desde el
interior del país hacia los puertos y plantas
de refinación.
c. Las plantaciones de palma en ecosistemas
naturales y territorios indígenas
En la actualidad el 88% del comercio
mundial de aceite de palma proviene de
Malasia e Indonesia, lo que obedece a una
expansión del área cubierta por este cultivo.
En los últimos 20 años la producción se
duplicó en Malasia y se triplicó en
Indonesia, a costa de la desaparición de sus
bosques tropicales. El crecimiento de las
plantaciones de palma en Malasia e
Indonesia responden a la creciente
demanda de aceite de palma especialmente
para el mercado europeo.
A pesar de la defensa oficial de que
la industria de la palma aceitera no ha
producido deforestación, el gobierno de
Sarawak, en el Borneo malayo, aceptó que
se ha concesionado 2,4 millones de
hectáreas de bosques para la industria
palmícola y de la pulpa y papel, extensión
que puede llegar a 3 millones de hectáreas
a finales del 2007, que constituyen una
cuarta parte del área total de Sarawak. Las
empresas madereras transnacionales, una
vez que deforestan una zona para la
extracción de la madera, la siembran con
monocultivos de palma, transformando el
bosque en aceite.
Aun cuando estos bosques son
reclamados por comunidades indígenas
como parte de sus territorios tradicionales,
y aunque muchas de estas comunidades
dependen de los recursos del bosque para
su subsistencia, ni la legislación ni el
gobierno han reconocido totalmente su
derecho consuetudinario; y a pesar de sus
continuas protestas, las plantaciones de
palma continúan extendiéndose.
El aceite de palma se perfila como
la principal fuente para la producción de
agrodiesel a costa de ecosistemas naturales
y territorios indígenas también en otros
países tropicales, constituyendo el caso más
preocupante el de Colombia, donde las
plantaciones de palma se extienden de la
mano del paramilitarismo, desplazando a
poblaciones enteras.
En el Ecuador las plantaciones de
palma se expanden a costa del territorio de
poblaciones
indígenas
y
afrodescendientes, destruyendo los últimos
bosques del Chocó biogeográfico
ecuatoriano.
LOS ACTORES PRIVADOS
Lejos de beneficiar a los pueblos, la
industria de los agrocombustibles va a
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
17
beneficiar al creciente sector de los
agronegocios que en cada uno de los países
se han beneficiado tradicionalmente de la
agricultura industrial dirigida a la
exportación, como son los empresarios
cañicultores de Sao Paulo, los grupos
soyeros A Maggi y Los Grobo en Brasil y
Argentina, etc. En el sector de agronegocios
se deben sumar las grandes transnacionales
que se dedican a la comercialización de
granos y sus derivados (en este caso
agrocombustibles), entre los que se
incluyen las estadounidenses ADM, Cargill
y Bunge y la francesa Louis Dryfus.
Pero debido a la complejidad de esta
nueva industria, hay otros sectores que
trabajan en asociación con el sector de los
agronegocios, entre los que se incluyen las
empresas petroleras que, aunque
aparentemente podrían ser las principales
perjudicadas del surgimiento de los
agrocombustibles, han tenido la habilidad
de reciclarse y adaptarse a las nuevas
circunstancias. La industria biotecnológica,
que ve en los agrocombustibles una manera
de vender sus semillas transgénicas, sin
tener que enfrentarse a la resistencia que
han generado los alimentos transgénicos.
Y tenemos a la gran consumidora final que
es la industria automovilística que se
encuentra muy ocupada haciendo
modificaciones tecnológicas en los motores
de los nuevos automóviles en base a etanol
o agrodiesel.
En torno a los agrocombustibles, se
han establecido un nuevo tipo de alianzas
entre empresas de distintas ramas, siendo
un ejemplo paradigmático, la sociedad
establecida entre la petrolera BP y la
biotecnológica DuPont quienes van a
desarrollar, producir y comercializar en el
mercado británico el biobutanol como un
biocomponente de la gasolina, y su
argumento es que no van a competir con
cultivos alimenticios. Las empresas están
aprovechando la capacidad biotecnológica
de DuPont y la experiencia y know-how de
BP en la elaboración de combustibles. En este
contexto, BP anunció que ha seleccionado a
la Universidad de Berkeley, al Laboratorio
Lawrence junto la Universidad de Illinois
para crear un Instituto de Biociencia. En el
acuerdo, BP se compromete entregar a
Berkeley la suma de US$ 500 millones por
10 años, suma que duplica todos los fondos
corporativos que recibe la Universidad. El
Instituto trabajará en 5 programas7 y en 24
laboratorios. Colaboran también con British
Sugar para la introducción del biotetanol en
el mercado.
ACTORES
TALES
INTER-GUBERNAMEN-
Varias organizaciones intergubernamentales están trabajando en la
promoción de los agrocombustibles, desde
sus distintas perspectivas, para en
definitiva beneficiar a los sectores privados
antes mencionados.
En la próxima Reunión de las Partes
del Protocolo de Kyoto, es muy posible que
los agro-combustibles sean aceptados en el
nuevo negocio del comercio de carbono. En
varios países ya han calificado como
proyectos
MDL 8 relacionados con
7
Incluyendo secuestro de carbono, biocombustibles, bioproducción de combustibles fósiles (con el uso de microorganismos) y
depolimerización de biomasa
8
MDL o Mecanismo de Desarrollo Limpio, a través del cual países del Norte transfieren fondos a Estados del Sur para que lleven a cabo
proyectos que mitiguen el cambio climático, especialmente a través de plantaciones
18
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
agrocombustibles, por ejemplo en
Indonesia se han presentado 3 proyectos
MDL relacionados con palma; en Malasia,
12 proyectos MDL relacionados con el
sector palma (lo que represente el 90,3% de
los fondos), y hay varios fondos para palma
en lista de espera. En el Ecuador hay 3
proyectos MDL relacionados con la
generación de energía a partir de caña. En
la región Latinoamericana, la Organización
Latinoamericana de Energía OLADE,
trabaja también en promover proyectos
MDL e impulsa el desarrollo de marcos
regulatorios y técnicos para la promoción
de los agrocombustibles.
Otra organización que tiene
competencias con el tema agrícola y que
impulsa los agrocombustibles es el IICA9 ,
En el pasado, esta agencia impulsó la
revolución verde en la región. Hoy
promueve los agrocombustibles, de la
mano de los transgénicos.
A nivel latinoamericano, el Banco
Interamericano de Desarrollo BID está
financiando varios proyectos relacionados
con la promoción de agrocombustibles,
incluyendo un fondo de 120 millones de
dólares para la empresa Usina Moema
Acucar E Alcool Ltda. de Brasil. Para
Centro América ha aprobado un proyecto
para facilitar el comercio local e
internacional de agrocombustibles a través
de “un marco sólido de normatividad y
regulación para la producción y el uso de
biocombustibles, promoviendo así el
aumento de una producción sostenible”. El
BID ha creado además un fondo de energía
sostenible y cambio climático. Financia el
desarrollo y ejecución de evaluaciones
nacionales, análisis de estructura de
políticas y asistencia a reformas de políticas
9
de inversiones en agrocombustibles,
energía renovable y eficiencia energética.
Entre las organizaciones que no
están muy convencidas de los
agrocombustibles se incluye el Fondo
Monetario Internacional (FMI), y la
Organización Mundial de Comercio. Le
preocupa al FMI que los precios de los
alimentos estén sujetos al precio de petróleo
con la substitución de combustibles fósiles
por agro-carburantes, y también los altos
subsidios que requieren estos nuevos
combustibles, pero tiene altas esperanzas
en la segunda generación de agrocombustibles.
Por otro lado, Organización Mundial
de Comercio identifica algunos problemas
relacionados con los agro-combustibles,
pues son productos altamente subsidiados,
y por otro lado, es difícil clasificarlos,
porque pueden ser productos agrícolas,
industriales o ambientales, y cada uno de
ellos se rige por sus propias normas.
En contraste, el UNCTAD,
organización de las Naciones Unidas que
trata temas de comercio y desarrollo ha
lanzado la Iniciativa UNCTAD de
Biocombustibles para promover la
producción y mercado de agrocombustibles. Esta organización considera
importante la participación privada en la
promoción de estos nuevos combustibles,
y la necesidad de insertar proyectos de
agrocombustibles en el MDL. Propone
establecer espacios de colaboración con
otras organizaciones intergubernamentales
y banca multilateral y regional.
Desde distintos abordajes, todas
estas organizaciones intergubernamentales
Este es un organismo especializado del sistema inter-americano (OEA) que da asesoría técnica agrícola a los países miembros
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
19
ven en los agrocombustibles una
oportunidad para la creación de un nuevo
mercado energético; y a nombre del
desarrollo, la protección ambiental y la
erradicación de la pobreza, lo que hacen es
exacerbar estos problemas.
LA PROPUESTA DESDE EL SUR
10
En una reunión llevada a cabo en la
ciudad de Quito, con organizaciones de
diversos países del “Sur Global”, hicimos
un análisis sobre la problemática de los
agrocombustibles, sus orígenes e
implicaciones para nuestro futuro, y entre
otros aspectos, se analizó que los
agrocombustibles pertenecen a una matriz
que se basa en la ideología del
“desarrollo”, que fue elaborada después de
la Segunda Guerra como una manera de
extender el colonialismo, continuar y
profundizar de saqueo del que hemos sido
objeto en los últimos 500 años. A finales del
siglo XX, el desarrollo se vistió de verde y
se acuñó el término “desarrollo
sustentable”, que lo que hace en realidad
es “sustentar” la dominación y el
abastecimiento colonial, y se crea el
“ambientalismo de mercado”, que
pretende resolver la crisis ambiental (local
o global) a través de instrumentos técnicos
como los agrocombustibles, o de mercado,
como la venta de servicios ambientales, los
mecanismos de desarrollo limpio, la
certificación, etc.
Propusimos la necesidad de iniciar
una transición hacia una sociedad post-
petrolera sobre bases ecológicas, con un
nuevo sentido del “desarrollo” que incluya
la superación del capitalismo y el
garantizar la Soberanía Energética en
acuerdo y complementariedad con la
defensa radical de la Soberanía
Alimentaria.
Propusimos un nuevo paradigma
de des-desarrollo que incluya una
transformación estructural radical de toda
la economía y de nuestro estilo de vida y
el desmantelamiento del macro sistema
energético que sustenta y garantiza el poder
global, que incluya la des-urbanización,
para restituir la existencia de la población
a escala humana, supliendo las
necesidades en el mercado local y con
fuentes de energía locales; la desglobalización del comercio y el transporte
de mercancías, la des-petrolizar la
economía, y la des-centralización en la
generación y distribución de energía.
FUENTES
Isch, Edgar. Geopolítica de la apropiación
de la naturaleza. Revista Opción,
noviembre 2005
El Comercio. Los ejes del biocombustible
y el petróleo. 9 de agosto del 2007. Quito.
ESMAP. 2005. Potencial of Biofuels for
Transport in Developing Countries. The
World Bank Group. Washington.
10
Basado en el documento de posición del Sur Global sobre Soberanía Alimentaria, Soberanía Energética y la transición hacia una sociedad
post-petróleo. Encuentro Internacional sobre Agrocombustibles, Soberanía Alimentaria, Soberanía Energética. Quito – Ecuador, del 27 de
junio al 01 de julio de 2007.
20
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
IMF. World Economic Outlook. Spillovers
and Cycles in the Global Economy. April
2007
Klare, M. 2004. Bush-Cheney Energy
Strategy: Procuring the Rest of the World´s
Oil. Foreign Policy in Focuys. Eneero
2004.
http://biopact.com/2007/03/leadinginvestors-create-major-biofuel.html
http://www2.dupont.com/Biofuels/
en_US/facts/BP-DuPontBiofuelsFact
Sheet.html
Ríos Roca. A. Programa regional de
biocombustibles. Perspectiva energética
regional. OLADE.
Prensa Latina. Lula con empresarios
suecos de salida hacia Copenhague. 12 de
septiembre de 2006.
Quagliotti De Bellis, B. Constantes
geopolíticas en Oriente Cercano. La
sórdida guerra del Petróleo. GestionPolis.
Conferencia ofrecida en el Club Libanés
del Uruguay. 21-noviembre-200
Soto, A. Lula busca apoyo escandinavo a
la candidatura de Brasil para el Consejo
de Seguridad de la ONU. Helsinki, 11 de
septiembre del 2007. El País.
UNTAC. 2006. The Emerging Biofuels
Market: regulatory, market and
Development Implications.
Vergara, E. 2006. FAO impulsa desarrollo
de agroenergías y biocombustibles. 27 de
julio 2006. Associated Press
White House. Veinte en Diez: Reforzr la
Seguridad Energética de Estados Unidos,
23 de enero del 2007.
Sitios web
http://www.iica.int/noticias/detalles/
2006/CP24-2006_eng.pdf
IICA Proposes Cooperation Program for
Biofuels
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
21
22
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
Impactos econômicos, sociais e ambientais
devido à expansão da oferta do etanol no Brasil1
Horacio Martins de Carvalho
1. Preliminares
O padrão de crescimento econômico
estabelecido na sociedade capitalista
contemporânea repousa, em particular
nesta fase de afirmação global e
hegemônica das idéias e práticas
neoliberais, nas megaempresas capitalistas
multinacionais, ainda que estas tenham
origens nacionais bem determinadas.
É, antes de tudo, um padrão
econômico que tem como referencial a
concepção de mundo na qual a direção do
desenvolvimento e do governo das
sociedades nacionais deve ocorrer cada dia
mais sob o império de uma nação-rede
(império dos EUA e dos paises
industrializados que lhe são orgânicos na
dominação mundial) e de um grupo restrito
dessas megaempresas multinacionais, as
quais definem a natureza e a forma do
desenvolvimento econômico e do
progresso técnico.
Essa racionalidade capitalista
contemporânea, que vem sendo construída
há várias décadas, determinou e determina
a forma como se dá e se dará a
industrialização e, numa relação de causa
e efeito, a composição da matriz energética
mundial.
Foram diversos os fatores que
determinaram a dependência mundial da
fonte energética não renovável com base
no petróleo após o final do séc. XIX. O
principal, talvez, tenha sido a diversidade
de usos que o petróleo proporcionou com
o sistemático avanço das ciências e das
tecnologias aplicadas para a sua utilização
desde o início da sua extração comercial
(1859). Foi, no entanto, com o advento da
indústria automobilística e da aviação,
assim como das guerras, que o petróleo
se tornou o principal produto estratégico
do mundo moderno. As maiores 100
empresas do século XX estavam ligadas
ao automóvel ou ao petróleo.2
Em 2004, a OIE (Oferta Interna de
Energia) no mundo foi de 86,7% de energia
de fontes não renováveis e 13,2% de fontes
renováveis. Na OCDE3 , nesse ano, a OIE
foi de 93,9% de energia de fontes não
renováveis e de 6,1% de fontes renováveis.
E o petróleo respondeu, em 2004, por 34%
de toda a oferta energia gerada no mundo,
sendo que na matriz energética brasileira
ele respondeu por 37,9% da OIE em 2006.
Segundo o governo dos EUA se
prevê que o consumo mundial de energia
aumentará 71% entre 2003 e 2030, e a maior
parte desse aumento terá como fonte uma
maior demanda de petróleo, carvão e gás
natural. Para o final desse período (2030)
1
Este texto corresponde a uma nova versão, revista e ampliada, do meu texto denominado “Avalanche do Imperialismo Verde 2”.
Curitiba, mimeo 5 p. 3 de maio de 2007.
2
As crises do petróleo. Introdução. In História, por Voltaire Schilling.
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/petroleo.htm.
3
São os seguintes os 30 países membros da Organisation de Coopération et de Développement Économiques - OCDE: Alemanha,
Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria,
Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Eslovaca,
República Tcheca, Suíça, Suécia e Turquia. Além desses países, também integra a OCDE a União Européia.
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
23
toda a energia renovável (incluído os
agrocombustíveis) está estimada em 9%
do consumo mundial de energia. Nesse
sentido é relativo e perigoso se considerar
como certo que os agrocombustíveis
jogarão um papel importante na luta
contra o aquecimento global.4
A política global de créditos de
carbono evidencia que a intenção dos paises
mais industrializados é a de manter o padrão
econômico historicamente estabelecido na
sua industrialização, mesmo com esforços de
melhoria do seu rendimento energético. Isso
quer dizer que a pretensão dos governos
desses paises é a redução mínima da
emissão de gases de efeito estufa (GEE) num
nível apenas necessário para servir de base
para a sua ideologia de pseudoparticipação
no controle e redução do aquecimento
global. Ao mesmo tempo, esses paises
ampliam os processos de transferência das
suas indústrias eletrointensivas e aquelas
ambientalmente poluidoras do meio
ambiente para os paises ditos como em
desenvolvimento.
A matriz energética brasileira
apresenta uma composição mais
dependente do petróleo (37,9% em 2006)
do que a matriz mundial (34% em 2004),
porém menos dependente do carvão
mineral (Brasil 6,0% em 2006 e a mundial
de 25,1% em 2004) e do gás natural (Brasil
9,6% em 2006 e a mundial 20,9% em 2004).
No caso brasileiro a energia de fontes
renováveis tem percentagem relativa bem
elevada.
Em 2006, a OIE no Brasil foi de 55,1%
de energia não renovável e 44,9% de fontes
renováveis. A composição da matriz
energética brasileira em 2006, por fonte de
OIE, foi:
⋅ não renovável: petróleo com 37,9%;
gás natural 9,6%; carvão mineral
6,0%; urânio 1,6%
4
⋅ renovável: energia hidráulica 14,8%;
produtos da cana-de-açúcar 14,6%;
lenha 12,4% e outras fontes 3,0%.
Apesar dessa melhor qualidade da
matriz energética brasileira em relação à
matriz energética mundial, a composição
das fontes de energia renovável apresenta
problemas de outra natureza, mas muito
preocupantes, tanto do ponto de vista
econômico e social como ambiental.
Duas fontes importantes de energia
renovável, a hidráulica e a da biomassa,
que representaram somadas 41,8% da
oferta total de energia em 2006, tendem a
se constituírem como espaços econômicos
privilegiados das megaempresas
multinacionais e nacionais, associadas
entre si ou não, para a produção e
consumo a partir de seus interesses
corporativos, seja interno nas suas
indústrias seja para venda nos mercados
interno e externo.
Por exemplo, “(...) a Associação
Brasileira de Grandes Consumidores de Energia
(elétrica - HMC) e de Consumidores Livres
(Abrace) reúne as principais companhias da
indústria eletrointensiva ... consomem 20% da
energia elétrica produzida no País ou 45% da
soma total do consumo industrial. O
faturamento das empresas filiadas à Abrace
resvala nos R$ 260 bilhões anuais, o equivalente
a 46,1% do valor da produção da indústria
extrativa e de transformação; a 13% do
faturamento de todas as empresas do país e a
26,5% do Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro”, como a própria associação define em
seu site. Esse poder de fogo proveniente da
união de empresas como Alcoa, Aracruz,
Bunge, Camargo Corrêa, Companhia Vale do
Rio Doce (CVRD), Gerdau e Votorantim exerce
uma substantiva influência na definição de
novos investimentos no setor de infra-estrutura
e, em especial, no setor elétrico. Parte desses
grupos têm interesse direto tanto na participação
de consórcios para obras quanto no acesso à
GRAIN. ¡No a la fiebre de los agrocombustibles! Junio de 2006, http://www.grain.org/go/agrocombustibles.
24
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
energia barata como ‘consumidores livres’
(consomem acima de 3 mil MW por mês e podem
comprar eletricidade diretamente do produtor que
desejarem- HMC) (...)”5.
Um outro exemplo, um caso
particular, ajuda a compreender essa
tendência à monopolização no setor
elétrico. “(...) Dados do Ministério de Minas e
Energia demonstram que 408 indústrias
eletrointensivas consomem 28,8% de toda a
energia elétrica produzida no País, o que a faz,
ao mesmo tempo, massiva exportadora de energia
elétrica e água. Vejamos um exemplo prático metade da energia elétrica produzida em Tucuruí
é contratualmente destinada à industria de
alumínio. Cerca de 41% do custo final do
processamento do alumínio corresponde à energia
elétrica e, no caso de Tucuruí, isto é significativo
porque sua tarifa subsidiada é 30% menor do que
seria no sul ou sudeste do país. É por isto que o
Japão produzia 1,1 milhão de toneladas de
alumínio por ano e baixou a produção para
apenas 41 mil toneladas/ano, passando a importar
o restante. Neste caso, a indústria eletrointensiva
é ‘competitiva’ porque, como todas as exportações
de bens primários de baixo valor agregado, soma
mão de obra barata, energia elétrica subsidiada e
gigantescas quantidades de água virtual.”6
Com relação à fonte de energia a
partir da biomassa, em particular a oferta
de etanol e de lenha, a perspectiva é de
oligopolização da produção pelo controle
seja das usinas sucroalcooleiras para a
oferta de etanol combustível e dos fornos
de produção do carvão vegetal para a
indústria siderúrgica, seja pelo controle em
parte direto e em outra parte indiretamente
da produção da matéria prima cana-deaçúcar e eucalipto.
Portanto, por um lado, mesmo que
a matriz energética brasileira, ainda
dependente do petróleo, tenha na sua
composição uma forte presença de fontes
renováveis de oferta de energia, o que é
desejável, por outro lado, essas fontes
renováveis de energia estão sob controle
econômico oligopolístico. Esse controle
econômico das megaempresas lhes dá
poder político de determinar como, quando
e onde se dará essa oferta de energia
renovável.
Esse controle oligopolístico das
fontes renováveis de energia ao mesmo
tempo em que operam com fontes que
poderiam desenvolver mecanismos limpos
de produção de energia renovável
permitem que as megaempresas se tornem
os principais violadores das normas
institucionais e da opinião pública no que
se referem às questões sociais e ambientais.
As fontes renováveis de energia a
partir das usinas hidroelétricas e da
biomassa (etanol, óleos vegetais e madeira)
não devem ser dissociadas de outras
variáveis como o controle do território
(produção da biomassa), da água doce
(energia elétrica e transportes), da presença
do capital estrangeiro na economia do país,
da oligopolização das fontes de energia
renovável e da permissividade na remessa
de lucros (royalties, dividendos, etc.). E
como conseqüência desses fatores os
impactos perversos de natureza econômica,
social, ambiental, política e institucional na
dinâmica do desenvolvimento do país.
Dessa maneira, a reflexão sobre o
caso particular da oferta de energia
renovável a partir da biomassa, em especial
do etanol combustível, não deveria ser
dissociada da apreciação das demais fontes
que constituem a OIE no Brasil.
5
In Mercado Ético. Assimetria entre empresas e consumidores define setor elétrico. http://mercadoetico.terra.com.br/
noticias.view.php?id=55
6
Henrique Cortez. O século do hidronegócio. Jornal do Brasil, 26/07/2005.
In http://www.mabnacional.org.br/noticias/270705_hidronegocio.htm.
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
25
açúcar, a oferta interna de energia
fornecida pelos seus derivados
cresceu de 13,8%, em 2005, para
14,4% em 2006.
2. A matriz energética brasileira
Retomando os dados gerais sobre a
matriz energética brasileira, tem-se que
OIE no Brasil, em 2006, apresentou a
seguinte composição: 55,1% de energia não
renovável e 44,9% de fontes renováveis.
Essa composição por fonte foi:
⋅
não renovável: petróleo com
37,9%; gás natural 9,6%; carvão
mineral 6,0%; urânio 1,6%
⋅
renovável: energia hidráulica
14,8%; produtos da cana-de-açúcar
14,6%; lenha 12,4% e outras fontes
3,0%.
⋅
⋅
⋅
⋅
Os derivados de petróleo
continuam a liderar a participação na
matriz energética, com 37,9% de
oferta, ainda que tenha apresentado
discreta redução (-2,1%) em relação a
2005.
O gás natural é a fonte que mais
cresce entre as fontes não renováveis
da matriz energética. Nos últimos
anos, sua participação na oferta
interna dobrou de 3,7%, em 1998, para
9,5%, em 2006.
A geração de energia de carvão
mineral e de seus derivados caiu 3%
em relação a 2005. E a oferta interna
de energia elétrica cresceu 4,5%,
chegando a 461,3 TWh, enquanto a
geração termelétrica nuclear, com a
operação das usinas nucleares Angra
1 e Angra 2, expandiu-se em 40%.
Com relação à fonte renovável
biomassa, em particular a cana-de-
⋅
O etanol destaca-se como
grande fornecedor de energia a partir
da biomassa. Na safra 2005/2006
produção nacional de etanol foi de
17,47 bilhões de litros, 10,8% maior
do que a de 2004/5. Para a safra
2006/2007 a previsão é de 20,1
bilhões de litros, ou seja, 14,54%
maior que a anterior.7
3. Energias de fontes renováveis na
matriz energética brasileira
⋅
De acordo com a OCDE, o Brasil
deve manter a liderança na produção
de energias renováveis pelos
próximos 25 anos entre os países
emergentes.
⋅
A energia renovável representa
44,9% da matriz energética brasileira,
ante 14% no mundo e apenas 6% nos
países mais desenvolvidos da OCDE.
⋅
No caso do Brasil, a expressiva
participação da energia hidráulica
(14,8 % da energia renovável) e o uso
representativo de biomassa (cana
14,6 % e lenha 12, 4%) proporcionam
indicadores de emissões de CO2 bem
menores que a média dos países
desenvolvidos.
⋅
No Brasil, a emissão é de 1,57
ton. de CO 2 por tep 8 da OIE,
enquanto nos países da OCDE a
emissão é de 2,37 toneladas de CO2
por tep, ou seja, 51% maior.
7
Fonte: Balanço mostra mais energia da cana em 2006. Empresa de Pesquisa Energética (EPE ). 07/04/2007
TEP: tonelada equivalente petróleo. Poder calorífico do petróleo = 10.000 kcal/kg ou 1 Tep; poder calorífico da lenha = 3.100 kcal/kg
ou 0,310 tep.
8
26
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
⋅
.
No entanto, apesar da produção
mais limpa de energia, essa
organização (OCDE) estima que as
emissões de dióxido de carbono
(CO2) pelo Brasil para a atmosfera
vão aumentar em 70,5% até 2030,
superior à média mundial, que será
de 52%.9 ⋅
Em relação a 2005, a demanda por
energia renovável no Brasil decresceu
apenas nos usos da lenha (-1,4%), em
razão de recuo na cocção de alimentos
pelo maior uso do GLP. A maior
demanda por energia renovável
continuou sendo “hidráulica e
eletricidade”, com 14,8% do total da
oferta interna de energia. Houve,
porém, expressivo aumento da
participação dos derivados da canade-açúcar, que passou a representar
14,6 % da matriz energética brasileira
(9,6% de crescimento).
Todavia, esse esforço governamental
e privado de aumento das fontes de energia
não renováveis reforça um viés que
mantém esse aumento da oferta de energia
de fonte hidráulica e da biomassa
dependente dos megaprojetos e do capital
estrangeiro.
Segundo o prof. Garzon10 , o Plano
de Aceleração do Crescimento – PAC
instituído em 2007 pelo governo federal
reforça o abastecimento energético de
forma enviesada: ele já vem contaminado
pelos interesses particulares e de projetos
específicos de grandes grupos econômicos.
O PAC é, desse ponto de vista, um
programa perverso, pois reforça os que já
são fortes e não estabelece nenhum tipo de
prioridade para resgatar os setores que
encadeiam a economia nacional, ou seja,
voltados para o mercado interno, para os
mercados regionais, para processos de
agregação de valor e multiplicação de
talentos, de capacidade, de geração de
tecnologias.
É crescente o esforço da classe
dominante no Brasil, seja a partir dos
organismos governamentais, seja das
grandes empresas privadas nacionais e
estrangeiras, de aumentar a oferta de
energia de fontes renováveis como a
energia de fonte hidroelétrica e a da
biomassa, esta em particular a partir da
cana-de-açúcar. Isso porque essas
megaempresas nacionais e multinacionais
já possuem o controle efetivo da oferta de
energia elétrica no país, tem garantias de
que ganharam novas licitações para novas
hidroelétricas e construam as barragens e
usinas com a impunidade pelos impactos
ambientais e sociais típicos de situações de
exceção política favoráveis ao grande
capital. Caminho similar, ainda que um
pouco mais amplo, se constrói para a
expansão oferta de etanol e de madeira, seja
para celulose seja para carvão vegetal, tanto
no nível da produção da matéria prima seja
no da sua industrialização.
Sem dúvida que há uma demanda
mundial crescente por agrocombustíveis e
que o Brasil apresenta condições
favoráveis para participar de maneira
importante no atendimento dessa
demanda. No entanto, as formas como
cresce a oferta de agrocombustíveis no
Brasil, em especial a de etanol combustível,
revela desde logo uma inadequação entre
o aumento da oferta de etanol e a afirmação
da soberania popular no país. Continuam
sendo reproduzidas aquelas condições e
práticas econômicas, sociais e ambientais
absolutamente incompatíveis com o que se
afirma pela noção de desenvolvimento de
mecanismos limpos e sustentáveis de
incremento das fontes renováveis de
energia.
9
Soraia Abreu Pedrozo. Brasil mantém liderança em energia limpa. BM&F Brasil, 28 de junho de 2007, 11h17 (site BM7F).
Entrevista sobre PAC, obras de infraestrutura do governo, etc. com Luis Fernando Nóvoa Garzón, da Unicamp. Páginas da Unisinos,
25 jun 07.
10
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
27
4. Demanda de etanol combustível
Três fatores têm sido determinantes para a tendência de alteração
discreta da matriz energética mundial: a)
a elevação, discreta mas crescente, dos
custos da extração, do refino e da
distribuição do petróleo; b) a
inviabilidade objetiva das grandes
empresas multinacionais do petróleo
controlarem como desejavam as fontes de
petróleo no oriente médio e, recentemente,
na Venezuela; c) as questões ambientais,
entre elas a redução da emissão de gases
de efeito estufa (GEE) que contribuem
para o aquecimento global.
Já há, no entanto, a determinação da
maioria dos governos dos paises do
mundo de substituírem parte da gasolina
pelo etanol. A referência é se alcançar em
2017 a substituição de 20% da gasolina
pelo etanol em todo o mundo. No Brasil,
essa percentagem de mistura de etano, na
gasolina já alcança 25% desde 1º de julho
de 2007. Mesmo com essa percentagem de
mistura de etanol na gasolina o país ainda
terá 4 bilhões de litros de etanol
excedente.11
⋅
⋅
Os EUA possuem 40% de toda a
frota mundial de veículos.
Portanto, as demandas esperadas
de etanol por parte desse país são
muito significativas pelo volume
da demanda potencial.
O EUA e o Brasil produzem juntos
70% de todo etanol do mundo. Isso
significou em 2006 cerca de 38,5
bilhões de litros de etanol
combustível. Sendo que os EUA
produziram 20 bilhões de litros e o
Brasil 18,5 bilhões de litros.
⋅
No entanto, o consumo de etanol
nos Estados Unidos deve ter
ultrapassado os 22,7 bilhões de
litros em 2006.
⋅
Em 2005, o governo norte-americano
impôs uma meta compulsória de
uso de 28,3 bilhões de litros de
agrocombustíveis ao ano até 2012;
no começo de 2007, 37 governadores
propuseram que esse número fosse
elevado a 45,3 bilhões de litros ao
ano em 2010, e o presidente Bush
elevou ainda mais essa meta, para
132 bilhões de litros anuais em 2017.
⋅
Nos EUA mais de 22 bilhões de
litros de etanol serão necessários a
cada ano para substituir o aditivo
conhecido como MTBE12 , tendo em
vista reduzir os seus efeitos
poluentes sobre o lençol freático.
Desde 1990 a gasolina sem chumbo
poderia conter de 10% a 15% desse
produto.13
⋅
A perspectiva é de que os Estados
Unidos reduzam o consumo de
gasolina em 20% até 2017. Isso supõe
aumentar em 800% o consumo de
etanol em 2017. Mesmo que a
produção de milho dos Estados
Unidos cresça a 30% ao ano, não
alcançará volume para satisfazer
demanda de agrocombustíveis
além de garantir a oferta para
alimentos.
⋅
Acresce-se a isso que o custo do
etanol da cana-de-açúcar é muito
menor do que aquele extraído do
milho. Surge daí uma das causas da
necessidade dos capitalistas
buscarem sócios estratégicos nos
paises onde o etanol possa ser
produzido com menor custos e a
partir da cana-de-açúcar.
11
Mistura de anidro na gasolina passa para 25% em 1º de julho, (13/06/2007) in http://www.portalunica.com.br/portalunica/?Secao=ÚNICA.
MTBE: éter metil-butil terciário, molécula criada a partir da mistura do isobutileno e metanol e que potencializa a octanagem. É um
aditivo oxigenado que melhora a combustão no motor. É cancerígeno. Contamina as águas e solos e pode ser persistente nas águas
subterrâneas.
13
C. Ford Runge e Benjamin Senauer. A bolha do etanol. Revista Foreign Affairs
12
28
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
A demanda potencial de etanol
combustível no nível mundial será
crescente e continuada. É necessário
salientar que somente a China e a Índia
possuem juntas um terço da população
mundial (2,3 bilhões de habitantes) e
devem continuar a ter altas taxas de
crescimento econômico, o que implicará
supostamente em aumento da demanda de
etanol e de óleos vegetais combustíveis
para dar conta das recomendações da
mistura etanol com gasolina e dos óleos
vegetais para utilização pura ou em mistura
com o diesel. E se considerarmos, ainda,
os paises industrializados como aqueles da
Comunidade Européia, o Japão, a Coréia e
a Rússia tudo leva a crer que a corrida pelo
etanol e pelos óleos vegetais significará
mais do um processo conjuntural.
Representará uma mudança estrutural no
perfil da oferta de matéria prima mundial
para o etanol e os óleos vegetais
combustíveis, em especial no Brasil.
Essa tendência de alteração da
matriz energética mundial está induzindo
as grandes empresas capitalistas
multinacionais a viabilizarem alternativas
energéticas mais rentáveis em curto e
médio prazo, em particular relacionadas
com os agrocombustíveis como o etanol e
os óleos vegetais.
Está-se, portanto, em presença de
uma disputa mundial pela dominação das
fontes de energia a partir da biomassa, em
especial pelos territórios com recursos
naturais mais adequados para a produção
da matéria prima necessária.
5. Monopolização da oferta da energia
da biomassa
As fontes de energia a partir da
biomassa se inserem no movimento geral
e histórico de monopolização das fontes
de energia não renováveis pelos grandes
capitais. Na atual conjuntura é o etanol o
principal produto, mas tudo leva a crer
que os óleos vegetais seguirão o mesmo
curso. Isso se deve ao fato de que o etanol
e os óleos vegetais tornar-se-ão uma
importante fonte de agrocombustível para
consumo mundial, tendo já se
transformado num grande negócio de
caráter multinacional.
O BID diz que o Brasil tem 120
milhões de hectares disponíveis para o
plantio de matérias-primas para os
agrocombustíveis, e os grupos de pressão
de Europa estão falando de quase 400
milhões de hectares que estariam
disponíveis para plantações com destino
a agrocombustíveis em 15 países africanos.
Está-se falando de uma expropriação de
territórios numa escala sem precedentes.14
Há a hipótese, segundo especialista
alemão15 , de que o Brasil tem o potencial
de abastecer 40% do combustível mundial
proveniente da biomassa.16
O Brasil tem uma posição
privilegiada nessa estratégia mundial
devido ao clima favorável com cerca de 200
milhões de hás terras potencialmente
disponíveis, com disponibilidade de
força-de-trabalho abundante e barata.
Além de conhecimento e experiência na
extração do etanol da cana-de-açúcar. No
entanto,
essas
pretensões
das
megaempresas e dos governos de diversos
paises industrializados sobre o território
brasileiro, sobre as supostas áreas
passíveis de serem ocupadas com culturas
que forneçam matérias primas para a
produção de agrocombustíveis, nega a
presença nesses territórios de populações
originárias, de camponeses, de vilas e
áreas de proteção ambiental, entre outros
elementos. Supõe, como o fez na ocupação
14
GRAIN. ¡No a la fiebre de los agrocombustibles! Junio de 2006, http://www.grain.org/go/agrocombustibles.
Ernst Schrimpff, Presidente da Associação Federal Alemã de Óleos Vegetais.
16
Schrimpff, Ernst (2006). A experiência européia de combustíveis renováveis, com destaque aos óleos vegetais. In Werner Fuchs (ed.).
Colha óleos vegetais. Curitiba, Edição do Autor, 120 p.; p. 18.
15
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
29
européia do continente americano
no século XVI, que há no Brasil um
território vazio, de gentes e de
biodiversidade, passível de ser explorado,
agora pelo capital monopolista das
megaempresas multinacionais.
⋅
Para abastecer 5% do mercado
mundial de etanol combustível, o
Brasil precisará aumentar a sua
produção em seis vezes, atingindo 100
bilhões de litros. O dobro disso seria
necessário para substituir 10% do
consumo mundial de gasolina.
⋅
Conforme a CONAB (2007)17 a área
ocupada com cana-de-açúcar no
Brasil na safra 2007/2008 é de 6,6
milhões de hectares, superior em 7,40
% à safra anterior, e assim distribuída:
82,49% nas regiões Centro-Sul e 17,51
% nas regiões N e NE. A cana vem
crescendo basicamente nas áreas
anteriormente ocupadas com
pastagens.
⋅
⋅
⋅
17
30
A produção nacional estimada de
álcool para a safra 2006/2007 será de
20,01 bilhões de litros, superior em
14,54% (2,54 bilhões de litros) à da
safra anterior. Desse total a região
Centro-Sul participa com 91,20%
(18,25 bilhões de litros) e a Norte e
Nordeste com 8,80% (1,76 bilhões de
litros).
Dos 20,01 bilhões de litros de álcool,
46,73% (9,35 bilhões de litros) serão
de anidro; 53,11% (10,63 bilhões de
litros) de hidratado e 0,16% (32,08
milhões de litros) de neutro, cf.
CONAB (op.cit.).
A produção total estimada de canade-açúcar no Brasil para a safra 2007/
2008 é de 528 milhões de ton. Desse
total, 88,67% destina-se à indústria
sucroalcooleira, e o restante para a
fabricação de cachaça, alimentação
animal, sementes, fabricação de
rapadura, açúcar mascavo e outros
fins.
⋅
Do total de cana-de-açúcar (468,15
milhões de ton.) que estará sendo
esmagada em 2007 pelo setor
sucroalcooleiro, São Paulo esmagará
59,41% (278,11 milhões de ton.); o
Paraná 8,97% (42,00 milhões de ton.);
Minas Gerais 7,85% (36,74 milhões de
ton.); Alagoas 5,16% (24,14 milhões de
ton.); Goiás 4,24% (19,85 milhões de
ton.) e Pernambuco 3,50% (16,39
milhões de ton.) (cf. CONAB, op.cit.).
⋅
Supõe-se que em cinco anos a área
com cana-de-açúcar deverá atingir
10,3 milhões de hectares com
produção prevista de 728 milhões de
toneladas. Dessa matéria-prima
sairão 38 milhões de toneladas de
açúcar e 38 bilhões de litros de álcool,
variando essa percentagem entre
açúcar e álcool em função das
demandas futuras.
Numa estimava para um futuro de
médio prazo a indústria sucroalcooleira
tem a pretensão de atingir no país a marca
de 110 bilhões de litros de etanol anuais.
Nessa perspectiva, se mantido os atuais
níveis médios de produtividade da canade-açúcar e os de rendimentos na
fabricação do etanol, os canaviais teriam
que ocupar 28 milhões de hectares,
próximo à metade dos cerca de 60 milhões
que perfazem toda a área usada hoje pela
agricultura nacional.
As áreas de expansão dos plantios
de cana-de-açúcar estão localizadas nos
estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso
do Sul, Mato Grosso, sudoeste de Minas
Gerais, Goiás, Tocantins, sul do Maranhão,
sudoeste do Piauí e oeste da Bahia.
CONAB (julho 2007). Safra cana 2007/2008 Estimativa. 1º Levantamento, maio 2007.
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
O Estado de São Paulo detém
58,52% da produção de cana-de-açúcar do
país, com 3,5 milhões de has plantados em
2007 (52,1% da área total de cana no país),
e tem como expectativa ampliar mais 1,7
milhão de hectares do produto nos
próximos cinco anos, somando uma área
total de 5,2 milhões de hectares. Mas, o
preço das terras poderá transferir essa
produção para Minas Gerais.
O Brasil vai construir, em média,
duas a 3 usinas de álcool e açúcar por mês
até 2013. Hoje com 336 unidades, deve
chegar a 409 (ou 598, com os projetos em
consultas) até o final da safra 2012/2013.
Fora as 73 usinas confirmadas, há hoje no
Brasil 189 consultas em andamento, tanto
para construção como para ampliação de
unidades.
As regiões de Ribeirão Preto e
Araçatuba no interior de São Paulo se
tornaram área de visitação obrigatória para
os interessados na fabricação do álcool.
Somente o presidente da Usina Moema,
Maurílio Biagi Filho, recebeu, no seu
escritório de Ribeirão Preto, vários grupos
de executivos, autoridades governamentais e empresários de mais de 20
paises nos últimos 16 meses com um
interesse em comum: o álcool. Originários
de países da América Central (Cuba,
inclusive), Venezuela — com um grupo de
usineiros e quatro diretores da estatal de
petróleo (PDVSA), Colômbia, Peru,
Equador, Bolívia, México, Estados Unidos,
China, Coréia do Sul, Japão, Tailândia,
Índia, Austrália, Alemanha, França, Suécia,
Holanda e África do Sul.18
O grupo Odebrecht, líder da
construção e petroquímica na América
Latina, está disposto a investir R$ 5 bilhões
na produção de etanol nos próximos oito
anos. Sua meta é tornar-se líder do setor
num prazo de dez anos, quando terá
capacidade de moagem de 30 bilhões a 40
bilhões de toneladas de cana.19
A perspectiva é de que o etanol
combustível brasileiro seja negociado
como “commodity” na próxima safra. A
pretensão de certificação poderá tornar-se
possível devido ao projeto “Programa de
Qualidade Triplo A - Etanol” da empresa
de pesquisa brasileira Triplo A – Normas.
É um programa que está filiado ao
“FoodPlus/Eurepgap” — empresa da
União Européia que desenvolve
protocolos de qualidade para as cadeias
produtivas do agronegócio.20
A Case IH comemorou a produção
de sua 1000 colheitadeira de cana no Brasil.
“Não temos limite de capacidade, uma
vez que essa máquina tem índice de
nacionalização de 92% e os nossos
fornecedores estão bem preparados”,
declarou Valentino Rizzioli, presidente da
CNH Latin America. Segundo Isomar
Marticher, diretor comercial da CNH para
o Brasil e Argentina, a produção em 2007
será de 550 unidades, ante 265 unidades
em 2006. Para 2008, ele espera produzir
40% mais. “Produziremos em 2007 e 2008
mais do que nos últimos dez anos”. 21
Essa abertura indiscriminada para
a produção de etanol combustível é que
torna o Brasil um território global em
disputa pelas grandes potenciais
mundiais e suas megaempresas
multinacionais. A presença do capital
estrangeiro é elevada tanto para a
aquisição de terras como de usinas
sucroalcooleiras (ver adiante em Impactos,
capítulo 7).
18
Angela Fernanda Belfort. Álcool : o Brasil no foco mundial. LQES NEWS. (esta matéria foi primeiramente veiculada no Jornal do
Commércio (Recife, Brasil), em 20 de agosto de 2006, dentro da rubrica JC Economia).
19
CEPAT. Conjuntura da Semana. Uma leitura das Notícias do Dia do IHU de 27 de junho a 03 de julho de 2007.
20
Márcio Rodrigues. Projeto brasileiro pode garantir certificação do álcool na próxima safra, in Folha ON LINE 04/06/2007 - 09h00
21
Gazeta Mercantil. Case acelera produção de colheitadeiras. Busca Fácil, 19/4/2007 10:03:00.
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
31
6. Etanol a partir da lignocelulose
O processo de fabricação do etanol
celulósico consiste na extração do etanol de
toda forma de resíduo vegetal
(lignocelulose), partes das árvores e os
resíduos agrícolas. O EUA prevê, em
médio prazo, talvez até 2030, a conversão
anual de 1,3 bilhões de toneladas de
biomassa seca em 227 bilhões de litros de
etanol, o equivalente a 30% do seu
consumo de combustíveis, tudo isto
supostamente com pequeno impacto na
produção de alimentos ou de madeira.
O Departamento de Energia dos
Estados Unidos irá investir US$ 385
milhões em seis biorefinarias de etanol
celulósico. O valor será aplicado até 2010.
Os seis projetos vão produzir cerca de 480
milhões de litros de etanol celulósico por
ano, além de outros subprodutos como
hidrogênio, amônia e metanol. Alguns
projetos também irão gerar bioeletricidade.
Esse investimento faz parte do plano de
tornar o etanol celulósico competitivo em
2012.
A hipótese é se combinar usinas
extratoras de etanol celulósico com aquelas
de diesel vegetal, para aproveitar as folhas,
caules, bagaços e demais resíduos
agrícolas.
O etanol celulósico, segundo o
governo do EUA, deixaria para trás o
debate “combustível versus comida”, uma
vez que apenas resíduos agrícolas e
florestais seriam empregados em sua
produção. Sua eficiência na redução de
gases de efeito estufa (GEE) é maior que o
etanol do milho. Enquanto um litro de
etanol de milho reduz as emissões de GEE
em apenas 18%, o etanol celulósico propicia
um corte nas emissões de até 88%.
No Brasil já estudos para a
produção de etanol de origem
lignocelulósica. Há interesses e
investimentos em pesquisa a partir de
organismos
governamentais
e
universidades públicas até grandes
empresas de pesquisa constituídas pelas
megaempresas nacionais e de capital
estrangeiro.
Conforme Gonçalves (2007) 22 o
etanol celulósico estará sendo vendido no
Brasil no máximo 10 anos. Se alguns
resultados mais recentes de conversão
enzimática se confirmarem, sendo
aplicados em escala maior, a previsão
pode cair para 5 ou 6 anos. O principal
obstáculo hoje é a produção e a aplicação
de enzimas em larga escala, tendo o
processo baseado na hidrólise enzimática
do bagaço de cana.
7. Impactos econômicos, sociais e
ambientais devido à expansão da oferta
de etanol
Impactos econômicos: concentração e
centralização da riqueza
⋅
Preços da terra: do início de 2002 a
agosto de 2004, as terras para grãos
subiram 244% em Presidente
Prudente (SP), por exemplo, mas,
com a queda das “commodities”,
esses preços recuaram 29% daquela
época até fevereiro de 2007, conforme
dados do Instituto FNP23 . A área de
pastagem, que já havia perdido
espaço para a soja até 2004, agora
perde para a cana. A valorização nos
últimos cinco anos foi de 66%.
22
Adilson Roberto Gonçalves (2007). Entrevista por e-mail a Terra Magazine, in Daniel Bramatti. Etanol celulósico chega em até 10 anos.
Terra Economia, 14 de março de 2007, 09h31.
23
In AgraFNP, ver http://www.fnp.com.br/terras/index.php.
32
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
⋅
⋅
⋅
⋅
Táticas de produção: dos 3,67
milhões de hectares de cana-deaçúcar cultivados em São Paulo
(safra 2006/2007), um milhão
pertence às próprias usinas. Outro
um milhão é de fundos de
produtores agrícolas (pessoas físicas)
e 1,67 milhão refere-se às parcerias e
ou arrendamentos (relação entre
fornecedores de cana e usinas).24
Renda da terra: a pressão pela
aquisição de terras aliada à expansão
das monoculturas inflaciona os
preços das terras e a renda paga
pelos arrendamentos. Há dois anos,
pagavam de 10 a 15 toneladas de cana
por hectare quando arrendavam
terras na região de Araçatuba (São
Paulo). Hoje, não encontram mais
terra para arrendar com valores
inferiores a 20 toneladas. Em Mato
Grosso do Sul, o arrendamento já se
dá na faixa de 30 a 35 toneladas por
alqueire.25
Expansão da fronteira de cana: a
expansão da área plantada com cana
em São Paulo, com a conseqüente
valorização do preço das terras,
pressiona as demais lavouras e áreas
de pastagens para novas fronteiras.
E Minas Gerais será o caminho
preferido, conforme avaliação da
Unica. O Estado de Minas Gerais, que
na safra 2006/2007 produziu 33,56
milhões de toneladas de cana, já tem
estimativa (CONAB, op.cit.) de
produzir na safra 2007/2008 um
estimado de 40,96 milhões de ton., ou
seja um aumento previsto de 20,10 %.
Se essa tendência se mantiver, o
Estado de Minas Gerais deverá
produzir em 2011/12 cerca de 80
milhões de ton. o que significará
cerca de 1 milhão de hectares
plantadas com cana-de-açúcar. Na
safra 2007/2008 foi plantado 490 mil
hás com cana.
⋅
A produção de cana também avança
para os Estados de Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso, Goiás e Paraná.
Juntos, esses Estados, que estimam
colher na safra 2007/2008 124 milhões
de ton., poderão alcançar 253 milhões
em 2012/13. Ou seja, vão acrescentar
129 milhões de toneladas em relação
à produção atual, o que equivaleria a
uma ampliação do plantio de 1,63
milhão de hectares nesses quatro
Estados.
⋅
Novas usinas e capital estrangeiro:
para dar conta da moagem dessa
cana, o setor deve investir US$ 17
bilhões e acrescentar no curto prazo
76 novas usinas às 336 já existentes.26
⋅
Levantamento da empresa de
consultoria KPMG mostra que foram
oito as aquisições de usinas pelas
megaempresas em 2005 e nove no
ano passado, e a consultoria prevê
que o número deve chegar a 12 em
2007. Desde 2005 houve 29 aquisições
por novos proprietários de usinas
brasileiras, das quais 13 passaram às
mãos de grupos internacionais.”27
⋅
A forte demanda mundial pelo
álcool está trazendo o capital
estrangeiro, que já detém o controle
de 18 usinas, com capacidade de
moagem de 28 milhões de toneladas
por safra. Esse volume representa
5,9% da safra nacional 2006/2007 (475
milhões de ton. de cana). Com esse
apetite dos investidores externos,
“daqui a cinco anos 9,6% da moagem
estará nas mãos de estrangeiros, o que
24
Mauro Zafalon. Boom do álcool dobra valor de terra e usina, in FSP 18-03-07
Mauro Zafalon. Minas Gerais assume segundo lugar na cana. FSP.
26
Mauro Zafalon. Minas Gerais assume segundo lugar na cana. FSP.
27
Cibelle Bouças. Número de aquisições de usinas deve bater recorde esse ano. Jornal Valor, quinta-feira, 31 de maio de 2007 16:22.
25
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
33
vai corresponder ao processamento
de 70 milhões de toneladas”, diz
Antônio de Pádua Rodrigues,
diretor técnico da Unica (União da
Indústria de Cana-de-Açúcar). Eles
(capital estrangeiro - HMC) vão ter
27 unidades somente no Estado de
São Paulo.28
⋅
usados como substitutos do milho, a
área reservada ao seu plantio está
caindo devido à ampliação das
plantações de milho pelos
agricultores.
⋅
Os preços dos alimentos estão
subindo em ritmo preocupante na
Europa, China, Índia e nos Estados
Unidos. Neste ano (2007), a inflação
dos alimentos deve ficar em 4% nos
EUA, ante 2,5% em 2006. Será a maior
inflação de alimentos em 17 anos. O
preço do frango industrializado
subiu 30% em um ano nos EUA. O
leite nos EUA deverá subir 14% neste
ano. Na Europa, o preço da manteiga
subiu 40%. O trigo está sendo
negociado a preços recordes no
mercado futuro. Na China, o porco
subiu 20% em 2006 e o índice de
preços de alimentos na Índia subiu
11%. No México, o aumento de 60%
no preço das “tortilhas” causou
protestos.31
⋅
O governo dos Estados Unidos
continua a subsidiar pesadamente os
produtores de milho e os de etanol.
Os subsídios diretos à produção de
milho no país atingiram os US$ 8,9
bilhões em 2005. Ainda que esse total
deva cair em 2006 e 2007 devido aos
preços elevados do milho, o sistema
vigente de subsídio pode em breve
ser soterrado sob a ampla gama de
créditos tributários, concessões de
verbas e empréstimos públicos que
fazem parte do projeto de lei de
energia aprovado em 2005 e de um
projeto de lei da agricultura que tem
por objetivo apoiar os produtores de
etanol. O governo federal já oferece
aos refinadores de etanol um credito
tributário de 14 centavos de dólar por
litro que produzem, e muitos Estados
pagam subsídios adicionais.32
Mas, há outras versões e
informações sobre o tema. Lídia
Moraes 29 adverte que “(...) todos
estão preocupados com os EUA, mas
o país que mais compra usinas no
Estado de São Paulo é o Japão. São
cerca de 40 usinas. Contando que o
Brasil tem 377 usinas operacionais,
este é um dado perigoso”.
Impactos econômicos na alimentação
O enorme volume de milho
requerido pelo setor de etanol está
causando ondas de choque em todo o
sistema de alimentação nos EUA (o EUA
responde por cerca de 40% da produção
mundial de milho, e por mais da metade
das exportações totais). No Brasil, a
CONAB (julho 2007) admite que milho,
soja e trigo vêm perdendo áreas nos
Estados de MT, MG, SP e no PR, com
provável repercussão nos seus preços
futuros.30
⋅
Em março de 2007, no EUA, os
preços
futuros
do
milho
ultrapassaram a marca de US$ 4,38
por bushel (27,21 kg.) ante US$ 2,40
em 2006, a qual foi considerada a
maior alta em 10 anos. Os preços do
trigo e do arroz também dispararam
para as marcas mais elevadas em 10
anos, porque ao mesmo tempo em
que esses cereais passam a ser mais
28
Mauro Zafalon. Boom do álcool dobra valor de terra e usina, in FSP 18-03-07
Lídia Maria Pepe Moraes (UNB) (2007), entrevista a Daniel Bramatti, in Etanol celulósico chega em 10 anos. Terra Magazine, 14 de
março de 2007, 09h31. http://terramagazine.terra.com.br/interna.
30
Fabíola Gomes, in Etanol no lugar de alimentos. São Paulo, Jornal O Estado de São Paulo, 4 julho 2007.
31
Patrícia Campos Mello. Os alimentos vão subir de preço por causa do etanol in O Estado de São Paulo, 01 julho 07.
32
C. Ford Runge e Benjamin Senauer A bolha do etanol. Revista Foreign Affairs.
29
34
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
O Banco Mundial estimou que, em
2001, 2,7 bilhões de pessoas viviam com
menos de US$ 2 ao dia, no mundo; para
elas, aumentos ainda que moderados nos
custos dos cereais básicos poderiam ser
devastadores. Encher o tanque de um
veículo utilitário esportivo (95 litros) com
etanol puro requereria mais de 200 quilos
de milho, um volume de cereal que
contém calorias suficientes para alimentar
uma pessoa por um ano.
“O Instituto Internacional de
Políticas de Alimentos estimou que o
preço da cesta básica irá subir de 20 a 33
por cento até o ano 2010, e de 26 a 135 por
cento até 2020. O consumo calórico
tipicamente declina quando os preços
sobem na razão de 1:2. A cada 1 por cento
de aumento no custo dos alimentos, 16
milhões de pessoas perdem a sua
segurança alimentar. Se as atuais
tendências continuarem 1,2 bilhões de
pessoas poderiam estar cronicamente
famintos em 2025, ou seja, 600 milhões a
mais do que havia sido previsto
anteriormente.”33
As possibilidades de deslocamento
das áreas atuais com plantio de cereais no
Brasil, devido ao aumento relativo dos
preços das terras, ainda são bastante
favoráveis devido às grades extensões de
terras agricultáveis passíveis de serem
postas em produção, inclusive as áreas
com pastagens para criação extensiva de
bovinos. No entanto, tudo leva a crer que
haverá redução relativa de produção de
alimentos. Já há uma tendência no aumento
das importações de alimentos no país.
Ambientais
A expansão do cultivo da cana-deaçúcar tende a consolidar o modelo
econômico dominante na agricultura
brasileira que é a afirmação das grandes
áreas de monoculturas (como na soja,
algodão, milho e outros cereais) e a
artificialização da agricultura, esta a
através dos cultivos transgênicos,
fertilizantes de origem industrial, uso
intensivo de agrotóxicos e de herbicidas,
da automação, da mecanização pesada e da
aviação agrícola. Esse modelo é
ambientalmente insustentável e favorece a
degradação ambiental.
⋅
Um dos gases responsáveis pelo
efeito estufa, o óxido nitroso (N2O),
tem como principal fonte de emissão
a agricultura, que é 310 vezes mais
poluente34 que o dióxido de carbono
(CO2), o mais comum na atmosfera.35
⋅
Contaminação das águas e do solo
pelos agrotóxicos e os herbicidas,
assim como saturação dos solos pelos
fertilizantes nitrogenados.
⋅
Compactação dos solos pela
motomecanização pesada.
⋅
Os dados do último levantamento
da Conab (10º Levantamento da Safra
2007/08, maio 2007) para a cana-deaçúcar apontam a expansão da cultura
na comparação da atual safra ante
2006/07: em Minas Gerais houve
aumento de 16,8% na área plantada
em Mato Grosso do Sul, 18%; e no
Paraná, 25%.36 ;
33
Runge, C. Ford e Senauer, Benjamin (2007). Como os biocombustíveis podem matar os pobres de fome,
Foreign Affairs, May/june. Citado por Eric Holt-Giménez (2007). Biocombustíveis: Os Cinco Mitos da Transição dos Agro-combustíveis.
Food First/Institute for Food and Development Policy. Tradução do inglês por Ana Amorim.
34
Poder destrutivo dos gases de efeito estufa – Existe um conceito conhecido como Potencial de dano global (ou Global Warming Potential
– GWP), que se refere ao poder destrutivo das moléculas de cada gás de efeito estufa. A molécula de dióxido de carbono equivale a 1 neste
índice. O metano (CH4) tem um potencial 21 vezes maior que o CO2. O óxido nitroso (N2O) tem um potencial de dano 310 vezes maior
que o CO2. O hexafluoreto de enxofre (SF6) tem um GWP 23.900 vezes maior que o CO2.
35
Soraia Abreu Pedrozo. Agricultura libera gases mais poluentes. BM&F Brasil . 16 de abril de 2007, 14h55 .
36
Fabíola Gomes, in Etanol no lugar de alimentos. São Paulo, Jornal O Estado de São Paulo, 4 julho 2007.
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
35
⋅
Pressão da área plantada com canade-açúcar desloca outros cultivos e
criações para o Centro-Oeste do país,
criando nova fonte de pressão sobre
novas terras a Amazônia.
pela presença massiva dos plantios
de cana-de-açúcar cercando fisicamente as comunidades camponesas
e indígenas.
⋅
Desemprego: o governo do Estado
de São Paulo e a Unica (União das
Indústrias de Cana-de-Açúcar)
assinaram um TAC (Termo de
Ajustamento de Conduta) para acabar
com as queimadas nas áreas de canade-açúcar até 2017. Segundo o
governador de São Paulo, José Serra,
o objetivo é chegar a 2014 com 100%
da área mecanizada sem queimadas
e com apenas 440 mil hectares de
queimadas referentes às áreas não
mecanizadas — aquelas cujo
desnível impede o acesso de
máquinas.37
⋅
Exploração dos bóias-frias: a partir
da década de 1990 - quando se
consolida o processo de tecnificação
desta agricultura, pelo uso intensivo
de máquinas colhedeiras de cana,
capazes de substituir até 120
trabalhadores, ocorreram vários
processos simultâneos: aumento da
precarização das relações de
trabalho, existência de alguns casos
de condições análogas à de escravo,
aumento abusivo da exploração da
força de trabalho, por meio da
produtividade em torno hoje de 12
toneladas de cana cortada por dia,
ocorrência de mortes súbitas,
supostamente em função da fadiga e
de mortes lentas, simbolizadas por
uma verdadeira legião de mutilados.
⋅
Para um total de dez toneladas de
cana, há a necessidade de 9.700
golpes de facão, portanto quase 1.000
golpes por tonelada. A este cenário
podem se acrescentados: o calor
excessivo, pois a jornada de trabalho
inicia-se ás 7:00 hs e termina por
Impactos Sociais
Se no cultivo da soja a demanda de
força de trabalho nos cultivos era reduzida,
no cultivo da cana-de-açúcar a tendência
dominante é a de utilização de grades
contingentes de força de trabalho
assalariada temporária. Essa demanda de
força de trabalho se, por um lado,
redistribui salários para uma grande
massa de trabalhadores desempregados
ou em situação de emprego precário, por
outro lado, como é usual nos cultivos da
cana-de-açúcar no Brasil, a superexploração do trabalho e a prática de
trabalho em situação similar às dos
escravos se amplia e se consolida.
A expansão das monoculturas, além
de degradarem o meio ambiente e
realizarem a ampliação da exploração do
trabalho assalariado, destrói os territórios
camponeses provocando o êxodo rural,
ampliando mais ainda as desigualdades
sociais no campo e na cidade.
⋅
⋅
37
Exclusão social do campesinato pela
concentração das terras, introdução
massiva de arrendamentos de terras
e crescimento dos contratos de
integração
agroindústrias
–
camponeses, assim como a
desorganização dos territórios
camponeses e de médios produtores
com a monocultura da cana-deaçúcar.
Deslegitimação
da
cultura
camponesa e dos povos originários
Márcio Rodrigues. Usinas terão até 2017 para colher cana sem queimadas em São Paulo.Folha ON LINE. 04/06/2007 - 18h19
36
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
volta das 17:00 hs; a fuligem que é
aspirada no momento do corte; a má
alimentação; a violência simbólica
existente no ambiente laboral, no
sentido de considerar frouxo, fraco,
aquele que não consegue atingir a
produtividade (média) exigida, além
da ameaça de perder o emprego,
caso isto ocorra. (p.4 e 5). Na década
de 1980, a média (produtividade)
exigida era de 5 a 8 toneladas de cana
cortada/dia; em 1990, passa para 8 a
9; em 2000 para 10 e em 2004 para 12
a 15 toneladas!38
⋅
a imposição das altas taxas de
produtividade do trabalho, levandoos, em alguns casos, à morte, é
suportada em virtude deste processo
de introjeção da autodisciplina que
39
os acompanha durante toda a vida.
7. A avalanche verde imperialista:
macroconseqüências
A ofensiva das grandes empresas
capitalistas nacionais e multinacionais
para o controle e monopolização da fonte
de energia renovável etanol faz-se como
uma avalanche: carrega ou destrói
qualquer barreira que se interponha a ela,
seja econômica, política, ideológica ou
institucional.
Essa avalanche é estimulada pelo
governo brasileiro que já se comprometeu
com as estratégias das grandes potencias, em
particular os EUA, de facilitar a elas o controle
da fonte de energia renovável a partir da
biomassa no Brasil, via a grande inversão de
capitais, compra de terras, de implantação e
compra de usinas sucroalcooleiras e de
produção de óleo diesel.
Essa atitude política do governo
brasileiro tem ressonância internacional
considerável, mais fortemente em relação
com os paises latinoamericanos. O Brasil,
através dos acordos com EUA, tornar-seão a plataforma do imperialismo verde
norte-americano para a América Latina, via
acordos entre governos e fusões das
empresas Brasil-EUA com outras dos
paises canavieiros do continente.
A questão fundamental, nas relações
com os paises latinoamericanos (e outros,
com certeza) está no controle oligopolista
pelas megaempresas multinacionais, via
suas experiências no Brasil, das tecnologias
recentes transgênicas tanto para as novas
variedades de cana-de-açúcar como para os
novos fermentos.
Essa avalanche do imperialismo
verde constrange ou desarticula qualquer
proposta dos governos de reforma agrária;
muda e reduz as formas de controle social
sobre o capital , seja pelo enfraquecimento
político e ideológico do Congresso
Nacional seja pela despolitização das lutas
sociais populares, estas arrefecidas pelas
políticas governamentais compensatórias;
estimula e consagra a monocultura; institui
de forma massiva o arrendamento
capitalista de terras; cerca e desarticula
economicamente o campesinato e, em
última instância, integra os camponeses ao
capital pelos contratos de produção.
Essa avalanche potencializa o
assalariamento rural temporário massivo
e em condições precárias (bóias-frias),
amplia a exploração dos trabalhadores e
cria sistemas de controle político e
trabalhista para a perseguição à filiação e
luta sindical.
38
Maria Aparecida de Moraes Silva (2006). Mortes dos “severinos” nos canaviais paulistas, in Conflitos no campo em 2005. Goiânia,
CPT, Gráfica e Editora América, p.162-166.
39
Maria Aparecida de Moraes Silva e Rodrigo Constante Martins. A modernidade da economia Junker à moda contemporânea do rural
paulista: a degradação social do trabalho e da natureza (Uma versão preliminar deste texto foi publicada no Dossiê Dimensões da Questão
Agrária no Brasil da revista Lutas e Resistências (Londrina, n.1, p.91-106, set.2006).
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
37
Os apelos e denúncias ambientalistas estarão sendo sufocados política e
economicamente
pela
altíssima
movimentação e alocação de capitais
estrangeiros e pela potencial introdução do
etanol celulósico tendo como fonte de
energia a partir de partes das plantas e dos
resíduos agrícolas.
Essa nova lógica do capital verde
tenta superar o conflito produção de
alimentos
versus
produção
de
agrocombustíveis e mascara a apropriação
privada da terra e o controle financeiro das
usinas e distribuição dos combustíveis
(álcool e diesel vegetal) pelo capital
estrangeiro. Do ponto de vista político e
ideológico o etano celulósico facilita a
manipulação da opinião pública e a
cooptação de ONGs próximas ao capital.
A implantação desse imperialismo
verde demanda estabilidade social no país,
já em curso pelas empresas multinacionais
e pelo governo. O que significa o controle
social dos movimentos sociais populares,
sindicatos de trabalhadores, pastorais e
ong’s críticas, seja através da cooptação e
ou da repressão; o livre acesso às terras
devolutas e dos latifúndios sem ameaças
de reforma agrária e ocupações de terras;
a flexibilidade das relações de trabalho
assalariado no campo, seja via a legislação
seja via a terceirização sem controle
político e social, e a redução da importância
das medidas governamentais de
fiscalização da predação do meio
ambiente.
38
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
ANEXO
MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA. DADOS PRELIMINARES DE 2006
Fonte: MME; Resenha Energética Brasileira (março 2007)
OFERTA INTERNA DE ENERGIA - OIE (mil tep)
FONTES
2005
2006
NÃO RENOVÁVEL
121.349
124.321
Petróleo
84.553
85.485
Gás Natural
20.526
21.721
5,8
Carvão Mineral
13.721
13.464
-1,9
Urânio (U 3O 8)
2.549
3.650
43,2
RENOVÁVEL
97.314
101.434
4,2
Energia hidráulica
32.379
33.452
3,3
Lenha
28.468
28.058
-1,4
Produtos cana-de-açúcar
30.147
33.043
9,6
OUTRAS RENOVÁVEIS
6.320
6.880
8,9
TOTAL
218.663
225.754
3,2
% Produto Interno Bruto - PIB
06/05 %
2,4
3,7
ESTRUTURA % DA OFERTA INTERNA DE ENERGIA
FONTES
2005
2006
NÃO RENOVÁVEL
55,5
55,1
PETRÓLEO
38,7
37,9
GÁS NATURAL
9,4
9,6
2,5
CARVÃO MINERAL
6,3
6,0
-5,0
URÂNIO (U3O8)
1,2
1,6
38,7
RENOVÁVEL
44,5
44,9
1,0
ENERGIA HIDRÁULICA
14,8
14,8
0,1
LENHA
13,0
12,4
-4,5
PRODUTOS DA CANA-DE-AÇÚCAR
13,8
14,6
6,2
OUTRAS RENOVÁVEIS
2,9
3,0
5,4
100,0
100,0
0,0
TOTAL
06/05 %
-2,1
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
39
40
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
Contextualização e problematização
dos agrocombustíveis no Brasil
Jean Pierre Leroy*
Eric Hobsbawm assinala três
mudanças fundamentais na era da
Revolução Industrial, num período que ele
baliza de 1789 a 1848: o início da “explosão”
demográfica; o desenvolvimento das
comunicações, não só das estradas e, a
seguir, das ferrovias, mas da velocidade e
da capacidade de carga; e enfim, do
comércio internacional e da emigração1 .
Apoiado no uso do carvão mineral e na
máquina a vapor, o capitalismo industrial
inicia seu curso triunfal que culminará nas
Décadas Gloriosas, dos cinqüenta, sessenta
e setenta do século XX, a “Era do Ouro”,
também sintetizada por Hobsbawm. Nesses
“anos dourados”, o mundo ocidental
alcançou uma prosperidade da qual a
grande maioria da sua população se
beneficiou, mas o historiador trata essa Era
como um fenômeno mundial, pois “a
população do Terceiro Mundo aumentou de
maneira espetacular” e, durante certo
período, a fome endêmica desapareceu” 2 .
Isso não significava “prosperidade”. Pelo
contrário, ao mesmo tempo em que se
mantinha uma distância incomensurável
entre os países ocidentais industrializados,
a muito relativa melhoria da sua situação
podia dar a ilusão que a sua sorte estava
começando a mudar. Com a ideologia do
desenvolvimento que nasce e cresce com o
fim da segunda guerra mundial e o início
da guerra fria, o modelo de produção e de
consumo do mundo ocidental industrial se
estabelece como parâmetro a ser atingido
pelas nações então ditas subdesenvolvidas.
Explode o consumo de energia, tendo como
vedetes o petróleo e o nuclear, alcançando
as massas populares da Europa. Petróleo
torna-se poder, não para os países
produtores, mas para as grandes
corporações. Hiroshima prenuncia a
energia nuclear, batizada energia do futuro.
Mal se chegou, no Brasil, na América
Latina e no “Sul” do mundo, a provar as
delícias dos anos dourados. No entanto,
não adianta espernear, afirmar que os
países industrializados são os culpados e
reivindicar o nosso direito de país “em
desenvolvimento” a gastar a energia que
precisamos para crescer. Vivemos a ressaca
mundial de uma “embriaguez energética”,
resultado de um modelo de produção e de
consumo que foi sobretudo de outros.
Mesmo que as previsões sejam menos
catastróficas para nós que para os EUA e a
Europa, as mudanças climáticas vão nos
alcançar e quem persistir sem buscar
alternativas ao uso da energia fóssil
arriscará ficar para trás. Tem-se a sensação
que há um enorme abismo entre o mantra
repetido pela maioria dos governos da
América Latina, pelo empresariado e
apoiado por boa parte das nossas
sociedades, renovando fé e esperança no
crescimento, e as profundas mudanças que
a catástrofe planetária que se aproxima
recomendaria. Por memória, lembro que a
persistência das enormes desigualdades
sociais tampouco comove e que não é de
se admirar que a maioria continua
insensível ao que não lhe afeta direta e
imediatamente. Não se trata somente de
buscar uma transição lenta e gradual para
outros combustíveis, mantendo o mesmo
1
HOBSBAWM, Eric .J. A Era das Revoluções 1789 – 1948. Paz e Terra, 4a ed., Rio de Janeiro, 1982. P.187-191
HOBSBAWM, Eric .J. Era dos Extremos O breve século XX 1914-199. Companhia das Letras, 2a ed., São Paulo, 1995. P. 255.
*
Coordenador do Projeto Brasil Sustentável e Democrático/Fase
2
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
41
padrão de consumo, mas de reverter
drasticamente - e acrescentaria:
tragicamente – o padrão de produção e de
consumo.
O organizador deste livro foi um
dos primeiros a fazer uma aproximação da
questão energética no Brasil sob o ponto
de vista da sustentabilidade democrática3 .
Seu estudo, depois de empreender uma
crítica radical ao modelo energético
brasileiro e ao cenário futuro businesss as
usual, iniciava uma reflexão sobre o que
poderia ser a “sustentabilidade energética”
no nosso país. Muito se caminhou e a
energia renovável ganhou as manchetes e
entrou no vocabulário usual. No entanto,
não é por acaso que sua aceitação na prática
se restringe quase que exclusivamente à
energia hidroelétrica e à de biomassa. Há
tempos que a matriz energética brasileira
está principalmente calcada na energia
hidroelétrica e o mercado dessa energia é
extremamente interessante, para as
construtoras de obras e de equipamentos,
e para as vendedoras de energia. Quanto à
energia de biomassa, o Brasil soube,
quando da primeira crise do petróleo,
aproveitar da sua condição de grande
produtor de cana de açúcar para encorajar
o carro funcionando com etanol e, com o
alerta climático geral e a previsão de
esgotamento das jazidas de petróleo, entrar
com vontade na produção de biodiesel.
Estará assim o Brasil no caminho
certo? Como essa vontade, e mesmo esse
entusiasmo para energias renováveis, se
combinam com a aposta no crescimento a
qualquer custo? Este crescimento, na
maioria das áreas no qual ele se apóia agronegócio, siderurgia, montadoras de
automóveis, petroquímica, papel-celulose,
etc, é manifestamente insustentável do
ponto de vista sócio-ambiental. As energias
renováveis por si só são indicativas de
alguma mudança no modelo de
desenvolvimento existente ou este modelo
pode absorvê-las? Pode-se buscar um
elemento da resposta no tratamento dado
aos pequenos empreendimentos. Este livro
mostra como custou para criar o Proinfa e
como é difícil viabilizar pequenos
empreendimentos, distantes (ainda) do
mercado; como é difícil aceitar a produção
descentralizada e autônoma de energia
quando a produção e a distribuição de
energia são vistas antes de tudo como
mercado e não como serviço.
Assim, a primeira questão a
colocar quando se fala de energias
renováveis é se são sustentáveis, se elas
se inserem dentro de uma concepção de
desenvolvimento e de sociedade
sustentáveis. Por isso, recupero aqui uma
reflexão coletiva desenvolvida durante
alguns anos no quadro do Projeto
Interinstitucional Brasil Sustentável e
Democrático4 . Nos acostumamos a falar
de desenvolvimento sustentável,
seguindo, conscientemente ou não, a
definição do Relatório Brundtland: “O
desenvolvimento sustentável é “aquele que
atende às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade de as gerações
futuras atenderem a suas próprias
necessidades”. Essa definição serviu de
referência para a Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento - Unctad, a Rio 92.
Satisfazer as necessidades? Ótimo, não
posso ser contra. Mas quais são essas
necessidades? Quem as define?
A Agenda 21 respondeu
implicitamente. Nela, o desenvolvimento
sustentável é entregue aos cuidados do
mercado, como anuncia o seu capítulo 2,
pudicamente intitulado “Cooperação
3
BERMANN, Célio e MARTINS, Oswaldo Stella. Sustentabilidade Energética no Brasil. Limites e possibilidades para uma estratégia
energética sustentável e democrática. Projeto Brasil Sustentável e Democrático. Cadernos Temáticos No 1. Rio de Janeiro, Fase, 2000.
4
Sob o patrocínio do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - FBOMS, esse
Projeto era coordenado por AS-PTA, Fase, Ibase, IEE/USP, IPPUR/UFRJ, PACS, Redeh.
42
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
internacional
para
acelerar
o
desenvolvimento sustentável dos países
em desenvolvimento e políticas internas
correlatas” 5 que vai, portanto, definir
quais são as necessidades, tendo alguns
critérios para norteá-lo: redução da
pobreza e melhoria do meio ambiente.
Sabemos que o mercado se orienta pela
busca do lucro, que os desejos do
consumidor são orientados em grande
parte pelo mercado, e que ele se
preocupa com o meio ambiente somente
quando a pressão dos consumidores
assim o exige. No fundo, a definição
Brundtland e a Agenda 21 nos convidam,
com algumas ressalvas, a continuar com
o modelo de produção e de consumo
atuais. Este modelo, claro, é convidado
a se adaptar, produzindo novas
tecnologias poupadoras de recursos
naturais e energia, com as quais se abrem
novas fontes de lucros para a indústria
de bens de capital dos países mais
industrializados.
Sustentabilidade não é algo dado.
Porque os donos do poder econômico e
político definiriam de antemão o que é
bom para todos? Não são as suas
estratégias de manutenção da dominação
que reforçam os mecanismos de exclusão
e de reprodução das desigualdades,
assentadas em boa parte sobre o saque dos
recursos naturais e o do meio ambiente?
Os países industrializados manifestam
uma hipocrisia sem igual quando
propõem ao mundo seu modelo de
desenvolvimento, quando sabem que a
extensão desses privilégios ao mundo
inteiro é impossível, já que ele supõe
justamente a manutenção de parte da
humanidade na iniqüidade. E nós, aqui,
não sabemos também que os miseráveis
nunca chegarão a possuir os bens de
consumo ditos necessários no atual
padrão de consumo? Não sabemos que a
perseguição desse desenvolvimento
supõe a reprodução dessa mesma
desigualdade? O seminário que deu
origem à Rede Brasileira de Justiça
Ambiental, na sua Declaração Final,
definiu injustiça ambiental como “o
mecanismo pelo qual sociedades desiguais, do
ponto de vista econômico e social, destinam a
maior carga dos danos ambientais do
desenvolvimento às populações de baixa renda,
aos grupos raciais discriminados, aos povos
étnicos tradicionais, aos bairros operários, às
populações marginalizadas e vulneráveis”. Não
se faz omelete sem quebrar os ovos!
Quando se constata que são os que
nos levaram a essa situação os que dizem
promover o desenvolvimento sustentável,
a circunspeção sobre o conceito de
“desenvolvimento sustentável” se impõe.
O capitalismo fez dele um oximoro,
unindo duas palavras que, juntas, formam
uma contradição. Entendemos a
sustentabilidade não como algo dado, mas
como um projeto a construir, o projeto de
uma outra sociedade. Portanto, um projeto
de democracia. Se uma minoria atrelou e
subordinou a sustentabilidade ao
mercado e à ideologia que o sustenta,
outros grupos sociais e classes podem lutar
para que outros valores se imponham à
consciência da humanidade.
Definimos sustentabilidade como
“o processo pelo qual as sociedades administram
as condições materiais da sua reprodução,
redefinindo os princípios éticos e sociopolíticos
que orientam a distribuição de seus recursos
naturais”6. Como processo, a sustentabilidade não é algo pré-estabelecido, mas
é uma construção social. Não dá para dizer
‘alcançamos a sustentabilidade’ ou ‘se
mudamos isso e aquilo, vamos atingi-la’.
É uma permanente procura ativa de
melhores condições de vida, “em inter-
5
Câmara dos Deputados. Comissão de defesa do consumidor, Meio ambiente e minorias. Agenda 21 Conferência das Nações Unidas
sobre o meio ambiente e o desenvolvimento. Brasília, Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 1995.
6
LEROY, Jean-Pierre et alii. Tudo ao mesmo tempo Agora. Desenvolvimento, sustentabilidade, democracia: o que isso tem a ver com
você?. Rio de Janeiro: Ed. Vozes/Projeto Brasil Sustentável e Democrático, 2002. pág. 18.
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
43
relação constante com as condições do meio
ambiente e do planeta”, deveríamos
acrescentar à nossa definição. Nessa
redefinição entram os princípios éticos da
não dominação e da convivência com a
natureza, a moderação no uso dos bens
materiais, a absoluta predominância do
valor de uso sobre o valor de troca, o
princípio da precaução e o de
responsabilidade, o da solidariedade e da
equidade, o senso dos limites, etc.
Uma outra reflexão, ao retomar de
outra forma essas idéias, poderá talvez
ajudar a entender o nosso propósito. Nos
anos 90 do último século, o Instituto
alemão Wuppertal, num projeto em
conjunto com outras organizações como
Amigos da Terra e Misereor, elaborou o
conceito de espaço ambiental, decorrente
da “capacidade de sustentação” do planeta.
Essa capacidade de sustentação faz com que
devamos nos contentar com um espaço de
consumo definido entre o sobre consumo
ecologicamente não sustentável no teto e,
no piso, a privação socialmente não
sustentável7 . Elaborada na Europa, a noção
se situa dentro do marco atual modelo de
produção e de consumo, entre produzir e
consumir menos, no Norte, e mais, no Sul.
Ela “deixa clara uma concepção de
sustentabilidade expressa em quantidades”
8
e não em qualidade. Quer dizer: “Não
basta perguntar quanto dos recursos se está
utilizando se não se pergunta também ‘para
que?’ e ‘para quem?’”9 . Ao espaço ambiental,
com seu máximo (abaixo do consumo de
matéria e energia que faria o teto voar, o
planeta não suportar) e seu mínimo (acima
da “linha da pobreza”) opusemos a idéia de
“linha de dignidade” 10 . Que tipo de
consumo seria digno, não só para os de
baixo, mas para todos, sendo uma
indignidade estar tanto abaixo quanto
acima dessa linha imaginária e
evidentemente flutuante, já que é fruto de
uma construção social?
Quantidade ou qualidade? Aqui
está a nossa primeira preocupação: que a
oferta de energia renovável, em particular
a bioenergia, se resuma a uma estratégia do
capital surfando na nova onda ambiental e
não mais do que isso. Quando se oferece
sob o selo da sustentabilidade carros e
caminhos que possam utilizar etanol ou
biodiesel, não mudamos nada no modelo
de desenvolvimento. Este continuará
baseado sobre o modelo de transporte
individual e o uso intensivo de recursos
naturais. Mesmo poupando combustíveis
fosseis, continuamos gastando energia para
produzir aço e veículos. Pouca coisa nos
distingue do século XIX e do salto que deu,
quando o comércio começou a se
mundializar. Encontramos mais uma
“solução” para evitar enfrentar a questão de
fundo: de um lado, a reorientação para o
transporte coletivo e as ferrovias, hidrovias
e navegação de cabotagem; e do outro, a
imperiosa necessidade de reduzir os
circuitos de produção e comercialização,
extremamente energívoros e destruidores
das economias locais e regionais.
Uma segunda preocupação prendese à histórica e sempre presente tragédia
agrária brasileira. O programa biodiesel do
governo federal merece ser reconhecido.
Qual governo, antes deste, investiu tanto
na agricultura familiar? A intenção de
aproveitar o momento para fazer com que
uma parte do campesinato se aproveite da
demanda potencialmente explosiva de
energia renovável era e é louvável. Porém,
é possível que essa estratégia ajude os
7
SPANGENBERG, Joachim H. Critérios integrados para a elaboração do conceito de sustentabilidade. Projeto Brasil Sustentável e
Democrático. Cadernos de debate No 3. Rio de Janeiro: Fase, 1999, p.21.
8
ACSELRAD, Henri. Sustentabilidade e desenvolvimento: modelos, processos e relações. Projeto Brasil Sustentável e Democrático.
Cadernos de debate No 4. Rio de Janeiro: Fase, 1999, p.17.
9
Id. Ibid.
10
PACHECO, Tânia (org.). Seminário Linha de dignidade construindo a sustentabilidade e a cidadania. Rio de Janeiro, Fase/Projeto Brasil
sustentável e Democrático/ Programa Cone Sul Sustentável, 2005.
44
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
pequenos produtores e assentados a
enfrentar o avassalador movimento de
concentração de terra e de capital no
campo e o mercado e a “mistura
explosiva” que a combinação de
agronegócio e de biocombustíveis
representa11 ? Vale ressaltar que, mais do
que o biodiesel, o carro chefe das energias
renováveis é o etanol. A produção da cana
de açúcar passa longe da democratização
da terra e da sustentabilidade12 . Vastas
extensões de terra contínua estão sendo
subtraídas aos ecossistemas naturais; a
queima da cana e o uso de agrotóxicos
continuam. Mais famílias estão sendo
compelidas a sair da roça. A exploração
da mão de obra se sofisticou. O famélico
morador do engenho nordestino é
substituído no corte pelo bóia-fria atlético
turbinado com anabolizantes.
A produção do biodiesel escapa
hoje em boa parte do programa
governamental, e começa a trilhar o mesmo
caminho insustentável da cana. A soja não
tem uma grande eficiência energética. Seu
óleo é um sub-produto e o farelo, o
principal produto, utilizado para
alimentação animal, o que elevou o Brasil
ao posto de segundo maior produtor e
exportador mundial13 . Mesmo assim, os
produtores de soja em particular, se
posicionam fortemente também como
produtores potenciais de biodiesel. Se a
eficiência energética do óleo de soja é
baixa, a eficiência dos lobbys do
agronegócio poderá suprir essa carência.
A publicação do GT Energia do FBOMS,
já citada, reproduz e comenta uma
esclarecedora declaração do Sr Antônio
Ernesto de Salvo, presidente da
Confederação da Agricultura-CNA: “Não
somos contra o apoio que se dá à agricul-
tura familiar, entendemos que é necessário, mas não podemos aceitar que se
criem castas privilegiadas para um ou
outro segmento da cadeia produtiva” 14 .
Não há dúvida que essa flagrante injustiça
será reparada. O caderno +Mais! da Folha
de São Paulo de 21 de janeiro de 2007
exibia uma foto e uma manchete
sugestivas. A legenda da foto nos informa
que “o Presidente Lula e o governador
Blairo Maggi (ambos com um largo
sorriso) exibem provetas com biodiesel
extraído da soja na inauguração de uma
usina em Barra do Bugre”. A foto
estampada corresponde na medida exata
à manchete: “Embriaguez bioenergética”.
Não será desta vez, quando a combinação
do ideal desenvolvimentista e da política
de estabilização macro-econômica exige
apoio irrestrito às classes produtoras e
exportadoras que a mão beneficente do
Estado vai desampará-las. O peso na
balança do Programa Biodiesel de um
lado, e do outro, do agronegócio, é
bastante desigual.
A mesma relação entre o renovável
e o sustentável deve ser feita com a
hidroeletricidade. Há alguns anos uma
Comissão mundial convocada pelo Banco
Mundial condenou as grandes barragens
como insustentáveis. A Professora Andréa
Zhouri, estudiosa dos impactos sociais e
ambientais dos empreendimentos
hidroelétricos em Minas Gerais, chama a
atenção para a insustentabilidade
socioambiental dessas barragens. De
Balbina a Barra Grande, não faltam
escândalos para nos lembrar o estrago
ambiental que causam essas barragens. No
plano social, soma-se mais de um milhão
de pessoas atingidas diretamente. Os
estudos de Célio Bermann mostram que
11
NORONHA, Sílvia; ORTIZ, Lúcia (coordenação geral) e SCHLESINGER, Sergio (coord. editorial). Agronegócio e biocombustíveis:
uma mistura explosiva. Impactos da expansão das monoculturas para a produção de bioenergia. GT Energia do Fórum Brasileiro de
ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – FBOMS. Rio de janeiro: Núcleo Amigos da Terra, 2006.
12
Ver RODRIGUES, Délcio & ORTIZ, Lúcia. Em direção à produção de etanol de cana de açúcar no Brasil .São Paulo: Amigos da Terra
Brasil e Vitae Civilis, outubro 2006. Disponível em: www.vitaecivilis.org.br/anexos/etanol_sustentabilidade.pdf
13
Ver SCHLESINGER, Sergio. Soja:. O grão que cresceu demais. Rio de Janeiro: Fase, 2006.
14
NORONHA, Silvia, op. cit, p. 9.
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
45
uma parte ponderável da energia elétrica
é destinada a indústrias eletro-intensivas
que produzem poucos empregos e
exportam, através da energia, nossa água.
Quando o setor de alimentos e bebidas
fornecia em 2000, 884.901 empregos e
consumia 15.732 GWh de eletricidade, o de
alumínio primário gerava 14.877 empregos
e consumia 19.951 GWh. A siderurgia, por
sua vez, fornecia 50.365 empregos por um
consumo elétrico de 15.541 GWh 15 .
Entraram no Programa de Aceleração do
Crescimento–PAC, as hidroelétricas de
Santo Antônio e Girau, no rio Madeira, em
Rondônia e de Belo Monte, no rio Xingu,
no Pará. A Alcoa, que começa a explorar
uma mina de bauxita no município de
Juruti, no oeste do Pará, já manifestou a
sua intenção de construir uma planta
industrial de refino da bauxita e uma de
fabricação de alumínio, à condição que Belo
Monte seja construída. As nossas
vantagens
comparativas
são
impressionantes: minério em abundância,
menos pressão sobre as empresas para que
cumpram rigorosas normas ambientais,
energia altamente subsidiada, incentivos
fiscais. Vale reconhecer a importância e o
sucesso do programa Luz para Todos, mas
a discrepância entre o tratamento dado a
grandes empresas e às pequenas e médias
empresas brasileiras e ao consumidor
doméstico é enorme.
Preocupa a intenção manifestada
pelo governo de orientar parte da
produção de álcool etanol e de biodiesel
para a exportação. A União Européia acaba
de publicar seu novo plano energético, que
impõe colocar na sua gasolina e no seu
diesel 10% de biocombustível até 2020.
Observadores estimam que a Europa não
terá condição de produzir biomassa em
quantidade suficiente para atender às
exigências colocadas pelas novas normas,
sem colocar em risco o seu abastecimento
alimentar. No problem! O Brasil está a seu
serviço; e não só ele, como se informou em
Davos. O professor Mário Ferreira Presser,
coordenador do Curso de Diplomacia
Econômica da Universidade de Campinas
(Unicamp), disse à Agência Brasil que “isso
tem vários atrativos: contempla os
africanos, os europeus, o Brasil. Resolve a
questão do clima, da pobreza e da
liberação do mercado de açúcar e
álcool”16 . O Brasil exportaria parte do seu
álcool e do seu biodiesel e venderia sua
tecnologia. O avanço da pecuária e da soja
sobre o cerrado e a floresta amazônica em
particular, nos fazem imaginar o impacto
que tal dinâmica teria, tanto sobre os
ecossistemas quanto sobre a sua
população de pequenos produtores e
agroextrativistas sobrevivente.
Mesmo que a tendência dominante
no governo esteja clara, o Programa
Biodiesel, fomentado pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário, de um lado, e,
do outro, o apoio aos lobbys do
agronegócio manifestado pelo Ministério
da Agricultura mostram a disputa de
projetos que permeia ainda governo e
sociedade. Importa por isso apoiar as
políticas públicas voltadas para as
energias alternativas, para que não se
subordinem à lógica do mercado e
mantenham seu caráter público, num
duplo sentido: o de criar mecanismos de
redução das desigualdades que não sejam
meras medidas compensatórias, e o de ter
uma visão de futuro, para além dos
interesses imediatos. As energias
renováveis e sustentáveis oferecem
condições de responder a esses dois
parâmetros da ação pública. Elas supõem
uma visão descentralizada da geração e
da distribuição de energia. Elas abrem a
possibilidade de inovação, já que estamos
ainda no início. Vemos aqui uma rica
possibilidade de desenvolvimento de
15
BERMANN, Célio. Exportando a Nossa Natureza. Produtos intensivos em energia: implicações sociais e ambientais. Cadernos sobre
Comércio e Meio Ambiente No 1. Brasil Sustentável e Democrático. Rio de Janeiro: Fase, 2004.
16
Mylena Fiori, enviada especial a Davos, capturado em mensagem da Rede GTEnergia de 26 de janeiro de 2007.
46
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
tecnologia apropriada própria; a geração
de empregos em número bem maior do
que o fornecido no sistema atual; um efeito
de sinergia a ser criado localmente entre a
geração e a distribuição e empreendimentos agroindustriais e industriais locais.
Somos convidados a sair do
“pensamento único” sobre o nosso
desenvolvimento. Porque chamar de
desenvolvimento somente o que
aparece no balanço comercial e no PIB?
Incentivar o aquecimento de água com
energia solar, micro-solução de fácil e
barata implantação, não vai por si só
incrementar os indicadores econômicos,
mas evitariam a construção de uma
hidroelétrica de bom tamanho, que esta,
sim, constaria do PIB. Micro-usinas de
geração hidroelétrica, ou de produção
de energia de biomassa ou eólica para
comunidades, isoladas ou não, embora
possam ser um instrumento poderoso
de desenvolvimento local, ainda são
consideradas como experiências
totalmente marginais, para as quais nem
existe marco regulatório. O ambiente
começa a mudar. Os Programas
analisados neste livro abrem um
caminho. A permanente campanha das
organizações sociais e ambientalistas
que questionam o modelo energético
atual, confortadas agora com as
primeiras projeções do painel
internacional de cientistas sobre “nosso
futuro comum”, produzirá, com o apoio
da opinião pública enfim sensibilizada,
outras mudanças. Concretamente, se
multiplicam as iniciativas, tais como a
das “cidades solares” 17 , incentivando
prefeituras a investir no aquecimento
solar. No Pará, organizações da
sociedade
civil,
junto
com
pesquisadores e políticos locais,
discutem com o Programa Luz para
Todos e a Eletronorte, um Projeto de
Medida Provisória que “dispõe sobre a
17
18
instituição de Sistema Integrado de
Produtores Independentes de Energia e
as condições de comercialização com a
distribuidora em sistemas isolados” 18 .
Evidentemente que, por si só, esse
tipo de iniciativas não resolve a situação.
Mas elas têm que ser vistas como parte
de um novo movimento de abordagem da
crise energética. Esperamos que no final
do século, um novo Hobsbawm possa
escrever: “2007, o ano em que, frente à
catástrofe ambiental anunciada, a
humanidade buscou se reconciliar
consigo mesma e com o planeta terra”.
Ver www.vitaecivilis.org.br
Informes FASE Amazônia para o GTEnergia. E-mail de 31/01/07.
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
47
48
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
Agrocombustibles: impactos sobre el ambiente,
la soberania y la seguridad alimentaria global¹
Elizabeth Bravo
Los
agrocombustibles
son
biocombustibles procedentes de cultivos
cuyo destino es exclusivamente energético
y, cada vez más, forrajero aprovechando los
subproductos. La definición propuesta por
la Vía Campesina, red de organizaciones
campesinas de todo el mundo que ha elaborado y difundido el concepto de soberania alimentaria, no incluye a los piensos, se
refiere a la incipiente industria
agroenergética que está transformando la
agricultura mundial y es el ariete de la
llamada segunda revolución verde, cuya
formula es: transgenicos y agroquímica. Se
supone que el uso de carburantes de origen
agrícola tiene un balance de emisiones nulo
porque es un ciclo artificial del carbono atmosférico, pero esta suposición no está respaldada por un consenso apreciable de la
comunidad científica, mas bien encuentra
la opinión negativa de muchos científicos
(Pimientel, 2005; Altieri, 2007; Altieri, Bravo, 2007; Carpintero, 2006) y la
deforestación previa y la expansión de los
cultivos energéticos es una de las
principales causas del cambio climático
(IPCC, 2007; Stern, 2006). Los cultivos más
usados son: maíz, trigo, soja, colza y caña
de azúcar. Se ha generado competencia entre
alimentación
humana
y
agrocombustibles: sirven groso modo 10
Kg. de piensos para producir 1 Kg. de carne vacuna y 2 o 3 para 1 Kg. de carne de
cerdo o de ave. En la producción pecuaria
entre el 50 y el 80% del gasto de producción
es representado por los piensos. El maíz que
produce etanol para llenar el tanque de un
todo terreno podría alimentar directamente
a un hombre durante un año (Brown, Abril
2007).
Somos hombres de arroz, maíz y trigo, dice al antiguo adagio, pero que pasa con
estos alimentos básicos tradicionales
cuando la capacidad industrial de
transformarlos en carburantes para autos
crece exponencialmente, junto a las
inversiones y a sus precios mientras
menguan las condiciones para producirlos?
Los combustibles de origen agrícola
resultan rentables a partir de un precio de
$ 55 por el barril de petróleo. El petróleo
ya no puede bajar de este umbral porque
compañías petroleras, automovilísticas,
biotecnológicas, inmobiliarias y de la grande distribución alimentaria (Ford, Repsol,
Acciona, Monsanto, General Motors, Cargil,
Volkswagen, ADM, Petrobras, etc.)
invierten y forman alianzas para producir
agrocarburantes. Fatalmente acoplados, los
precios de estos alimentos siguen el mismo
destino que el del petróleo, como ya ocurre
desde hace por lo menos un año.
Los objetivos de sustituir porcentajes
importantes de combustibles con
productos agrícolas (10% UE, 5% Canadá y
20% USA, etc.) están produciendo efectos
devastadores de las economías más
vulnerables, agrediendo ecosistemas ya
vulnerados y acabando con los pobladores
indígenas. Según el informe Stern la
deforestación es responsable de un 18% de
las emisiones de gases de efecto
invernadero. Estos procesos aceleran según
los fervores “ambientalistas” de los países
1
El presente estudio no recoje el caso de la palma aceitera en Indonesia y Malesia, usada para biodiesel y cuyos residuos sustituyen
disctutiblemente al maiz en los piensos. Sus impactos socioecologicos son devastadores. Tanpoco se ofrece suficiente informacion sobre
el caso africano.
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
49
ricos y por el boom de los precios
internacionales de granos alimenticios.
El 2007 es un año de cambios tumultuosos con un incremento record de
superficies cultivadas, pero también temperaturas y sequías record, peor que el
2003. La FAO (Food and Agriculture
Organization) ha lanzado una alerta global:
el hongo Ug99 amenaza todos los cultivos
de trigo del mundo, allí donde no se tenga
acceso a variedades resistentes, habrá que
reducir las épocas de siembra para controlar la plaga, aplicar controles y preparar
planes de contingencia2 . Foco de origen:
África, estado de Uganda en donde se registra una represión sangrienta de la
población rural que se opone a la expansión
de la frontera agroenergética. Esto se suma
al aumento de la inseguridad alimentaria
previsto en sur África a causa del uso de
tierras para agrocombustibles y agravada
por la peor sequía en 40 años3 .
Relaciones Norte-Sur
The Economist ha dedicado la tapa del
numero de Febrero al “enverdecimiento de
América”, olvidando comentar que hacen
falta entre 1,3 y 1,6 calorías (de petróleo)
para producir 1 caloría de etanol (Pimientel,
20054 ), que la demanda de maíz USA, no
obstante los altos subsidios, ha causado el
aumento del precio durante el 2006 de este
alimento básico del 60% (Brown, Abril 2007)
en México y hasta del 100% en Argentina
(Markos, 2007) llevando a ásperos conflictos
sociales por la subida de precios de toda
producción relacionada con el maíz: las
tortillas en México, sacando la gente a las
calles, la carne en Argentina, provocando
severos paros y graves problemas a los
pequeños y medianos productores al
reducirse sus ganancias. La soja también ha
alcanzado precios record en el 2006 gracias
a las previsiones de aumento de la demanda porque útil para producir biodiesel. Ha
subido el precio de carnes y productos
animales en cuanto soja y maíz (GM)
representan la base de la alimentación del
ganado. UE y China son las mayores importadoras de estos granos. En la UE han
sido los productores pecuarios quienes han
contenido el precio final de productos
animales. Todo esto ha ocurrido antes de
los objetivos USA y UE.
Un estudio documenta los problemas relativos a la producción de maíz en
dos comunidades campesinas mexicanas5 .
La menguada capacidad productiva de
este alimento es entendida como
consecuencia del dumping practicado por
EEUU a través de sus TLC, un atentado a
la soberanía alimentaria de México. El
trabajo hace referencia a un periodo de poco
anterior al catastrófico año 2006, que vio el
aumento de los precios del maíz provocado por la demanda USA de etanol y la crisis
de alimentos en México. Frente a precios
más altos del maíz México ya no contaba
con una capacidad productiva suficiente,
viéndose obligado a importar este alimento básico e ingrediente fundamental de los
piensos. Se ha visto afectada la población
pobre y la producción pecuaria.
Actualmente el BID tiene planes
multimillonarios para llevar los
agronegocios a este país y el actual
gobierno acaba de firmar acuerdos con
Monsanto para introducción de variedades
de maíz GM no aptas para alimentación
que abastecerán las destilerías EEUU. Resulta ahora mas comprensible la muralla
que EEUU está edificando al confine con
México.
2
http://www.fao.org/newsroom/en/news/2007/1000537/index.html
Sugrue A., Douthwaite R., Biofuel production and the threat to South Africa’s food security, Wahenga.brief num. 11, 2007. http//
www.wahenga.net
4
http://www.news.cornell.edu/stories/July05/ethanol.toocostly.ssl.html
5
Esquivel, et al., Es posible evaluar la dimension social de la sustentabilidad? Aplicacion de una metodologia en dos comunidades
campesinas del valle de Toluca, Mexico. Convergencia, revista de ciencias sociales, ISSN 1405-1435, UAEM, Mexico, enero-abril 2006,
num. 40, pp.107-139
3
50
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
Los 35 millones de estadounidenses
cuya mitad son niños, que no comen lo suficiente (Imhoff, 20076 ) no se verá beneficiada por el Farm Bill a punto de aprobarse
en EEUU. Importantes cifras que acabarán
en manos de las grandes corporaciones
concentradoras de tierras, que mecanizan
las producciones y controlan las redes
alimentarías del florido mercado EEUU.
Destinarán a cultivos e investigación
bioenergética $ 4200 millones 7 , para
alcanzar una dudosa independencia de la
importación de petróleo de países
“inestables”. El gobierno estadounidense
se preocupa por su seguridad alimentaría
destinando muchos subsidios a la
investigación para producción de etanol
celulósico, o sea no procedente de granos
alimenticios. Esta tecnología presenta una
serie de riesgos muy serios y se
desarrollará quizás dentro de 5-8 años,
tiempo demasiado largo para que haya
alguna ventaja ambiental o se desarrolle un
mercado no food de agrocombustibles. La
industria de transformación de alimentos
de EEUU (Grocery Manufacturers
Association) manifiesta preocupación por
la subida de precios de insumos debida a
estos nuevos mercados y presiona al
congreso para una política prudencial, el
riesgo es quedar fuera del mercado8 .
Bioetanol brasileño
Bush habla de reducir la adicción al
petróleo pero no de ratificar los harto insuficientes objetivos del protocolo de Kyoto.
Añadir un etilismo crónico agrava el cuadro
general. Cuales campos agrícolas van a alimentar a los todo terrenos USA? A este pro-
blema se debió la gira de Bush por América Latina a firmar acuerdos directos y
triangulados con Lula para etanol. Muchos
países se han dejado seducir para producir
etanol en vez que comida, países en los
cuales ya se habían profundizado patrones
de desposesión violenta de tierras como
consecuencia de la difusión de los
monocultivos transgenicos (Bravo, 2006)9 ,
muchos de los cuales hoy útiles a la
producción de agrocombustibles. El primer
paso es garantizar un ambiente amigable a
los inversores garantizándoles un mercado interno al país con objetivos
obligatorios de sustitución, formula que
todos los nuevos productores están aplicando. Un funcionario del Banco
Interamericano de Desarrollo me ha confirmado que el plan de inversiones de $
200000 millones para produccion de
agrocombustibles en América Latina preparado por el BID será muy negativo para
las familias campesinas y el ambiente10 .
En Brasil hay planes de deforestar
por lo menos 80 millones de has. en la selva Amazónica11 (La superficie de Italia y
España) para cultivos energéticos y otros
200 mas de suelos “degradados”. Es sabido que el suelo de la selva Amazónica no
es apto para cultivos, afirma Lula12 , pero
su microclima atrae empresarios de todo
el mundo que también desde la ciudad de
La Paz, Bolivia, penetran a la selva buscando al rendimiento de todo el año por la
soja. El microclima del rendimiento milagroso parece tener las estaciones contadas,
su rol en las precipitaciones será alterado
posiblemente provocando sequías e
incendios y todo ello en muy breves años.
Según la teoría económica dominante ya se
trataría de “largo plazo” y no parece preo-
6
http://www.ecoliteracy.org/publications/rsl/dan_imhoff_farm_bill.html
http://www.usda.gov/documents/FBP_Release_MASTHEAD_Spa.DOC
8
http://www.checkbiotech.org/green_News_Biofuels.aspx?Name=biofuels&infoId=14695
9
Bravo, 2006, Biocombustibles, cultivos energéticos y soberanía alimentaria en América Latina http://www.debtwatch.org/es/inicio/
enprofunditat/plantilla_1.php?identif=578
10
Comunicacion confidencial, Abril 2007
11
http://www.biodieselspain.com/2007/02/19/selva-amazonica-sera-la-arabia-saudita-del-biodiesel/
12
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2007/03/29/AR2007032902019.html
7
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
51
cupar a muchos ambientalistas de la última hora. En selva Amazónica de Brasil la
deforestación, según un estudio de la
NASA, acelera acorde a la subida del precio
de la soja13 . El know how acumulado desde
los tiempos del pro alcohol Brasilero hace de
este país el líder de los agrocombustibles.
El cultivo con el mejor balance energético,
la caña azucarera, es rentable solo con
trabajo casi esclavo: en el interior de Brasil
los jornaleros siguen muriéndose por
desnutrición, excesivo trabajo (12-14 h/día
por $ 7) y por las fumigaciones de pesticidas
(Álvarez, 2007). Crecen las favelas por el
éxodo rural, y el número de las cárceles.
Pero ahora Brasil tiene un nuevo un rol
protagónico: exporta su modelo a toda
América Latina y a África contando con fantásticas inversiones en dólares y euros. Es
tiempo de ambiguos reveses de las
asimetrías Norte-Sur y las relaciones
neocoloniales cambian en estructura y
significación. Centros y periferias
responden a geometrías más bien fractales.
La UE se prepara a hacer frente a la
dependencia energética y alimentaria que
se le perfila apostando por la segunda
revolución verde en África con inversiones
intergubernamentales, entre otras, las
brasileras-italianas de cerca de • 480
millones. ¿Habrá que repensar algunas
categorías como el neocolonialismo? El
control de los precios y de los medios de
producción alimentaria, desde la genética
hasta la infraestructura industrial y comercial, se ha de considerar el primer paso de
un nuevo orden mundial.
El caso de la soja en Argentina
Las principales provincias sojeras de
Argentina, Entre ríos y Santa fe, han sido
sumergidas por inundaciones de gravedad
inédita a principios de abril 2007. Los científicos gritan al cambio climático, pero
solo algunos toman en cuenta los millones
de has. convertidas en monocultivos de
soja. Si Argentina ha perdido el 72% de los
ya esquilmados bosques censados en 1935,
en Santa fe el porcentaje llega al 88%. El
agua escurre y devasta estos campos completamente vulnerables e inunda las
ciudades. Los lodos son contaminados, las
casas inhabitables. Los 800 millones de
pesos disponibles no serán suficientes para
cubrir esta emergencia. Los ciudadanos
están furibundos porque los gobernantes
no hicieron nada para prevenir esta catástrofe cuyo precedente se dio en 2003 en que
hubo 173 muertos. Corrupción e
impunidad, antipilares de resiliencia
institucional 14 , hacen al negocio de las
ayudas para emergencias; cualquier entrevista publicada on line en esos días revela
a quienes los afectados culpan15 . Si bien la
falta de resiliencia institucional juega su
papel hay que considerar la falta de
resiliencia ecológica: los agroecosistemas
que han rediseñado el paisaje de la zona
transformándolo en un desierto verde, son
vulnerables y aun produciendo energía
“verde”, su balance socioecológico debe de
considerarse devastador porque expone el
país a mayor inseguridad alimentaria.
Los terratenientes argentinos
prefieren la soja más bien que tener
producción animal. Tantos monocultivos
para exportar forraje barato en el pasado y
ahora agrodiesel, piensos elaborados y
productos animales. En realidad esta
integración vertical esta cada vez más controlada por empresas transnacionales como
es el caso de la alianza entre Tyson, Cresus
y Cactus feeders en Argentina, lideres en
varios aspectos de producción ganadera
intensiva 16 . Lejos de representar un
13
http://tinyurl.com/2pfga4
Melillo A., Ojeda E.N.S., 2001, Resiliencia, Descubriendo las propias fortalezas, Paidos.
15
Transparency International construye sus índices relevando las percepciones de los ciudadanos con entrevistas.
16
http://www.clarin.com/suplementos/rural/2007/01/20/r-01001.htm
14
52
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
desarrollo industrial nacional desplazaran
a los productores locales, que ven mas conveniente producir soja, para gozar de un
régimen tarifario conveniente según el consolidado modelo de saqueo.
La mitad de las exportaciones argentinas del año pasado fueron constituidas
por soja RR, principalmente sin procesar o
sea sin dejar el valor agregado que
representaría la pretendida “oportunidad
de desarrollo sustentable” de este modelo
agroindustrial. Circunstancia agravada por
los nuevos regalos fiscales concedidos a la
exportación de agrocombustibles. El
European Biodiesel Board grita a la
competencia desleal y apela a la OMC17 :
Argentina aplica un régimen de tasas a la
exportación diferenciado: el 27,5% a la soja,
el 24% al aceite, 20% la harina para el
ganado, subproducto del biodiesel, el 5%
al biodiesel y el 0% si se trata de mezcla.
Un juego peligroso vista la vulnerabilidad
ecológica de este país. En apariencia la
medida apunta a favorecer un desarrollo
industrial nacional, si bien muchos capitales
y tierras son extranjeros y los principales
subproductos son riesgos y hambre. Junto
a las subvenciones USA sería competencia
desleal, según el EBB, para los también subvencionados cultivos energéticos Europeos
(1,248 millones de has., casi un cuarto en
España en el 2006, contra los 18 millones
de has. de sola soja argentina del 2006).
Depender de un único cultivo para
la exportación, en ortodoxo respeto a la
anti-ecológica teoría de las ventajas
comparativas expone enteras economías
nacionales a los altibajos de los precios
internacionales (Galeano, 1973). A ello se
suman hoy día las decisiones de la OMC y
los fenómenos extremos acarreados por el
cambio climático.
17
Soberania y Seguridad en la Unión
Europea y MERCOSUR
Argentina y Brasil, principales
abastecedoras de harinas se están aliando
para convertirse en exportadoras de
agrocombustibles, piensos y productos
pecuarios. La poderosa industria biotransformadora de estos países emergentes
se esta concentrando y cuenta con
inversiones enormes y parece llegar a su
fin la época en que eran exportadoras de
commodities. La creciente disponibilidad de
subproductos de la producción
agroenergética aprovechables para piensos
no está bajando los precios de estos
últimos. Las sobreproducciones no
encuentran salida al mercado para
mantener los altos márgenes de
especulación. Junto al régimen tarifario, las
inversiones y los precios internacionales,
todo favorece a que las transnacionales
retengan valor agregado exportando
piensos elaborados cuyos precios
crecientes hacen más competitiva la
producción pecuaria in loco. La pugna no
será fácil pero EU podría salir perdiendo
como ya manifiestan crisis los
subvencionados sectores pecuarios y de
producción de piensos por la suba de
precios. Se trata de pugnas entre
transnacionales y por lo general las más
poderosas apuntan a controlar las
producciones en los países más pobres, o
sea más competitivos. Países del Sur global
tienen mas fuerza contractual que los del
norte si están respaldados frente a la OMC
por Monsanto y afines. Seria prudente para
la UE dejar de invertir en el exterior y
retirar cuanto antes nuestras subvenciones
a los cultivos energéticos para en su vez
garantizar la autosuficiencia alimentaria.
Considerando el manejo de Ug99, mas
amenazador que el de la gripe aviar,
sequías y mercados internacionales
renunciar
a
los
objetivos
de
agrocarburantes e invertir en un modelo
http://www.ebb-eu.org/EBBpressreleases/let%20to%20CM%20Mandelson%20unfair%20B99%20and%20DETs.pdf
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
53
agroecológico altamente eficiente y de
filiera corta sería lo más prudente para
construir soberanía alimentaria también
en la UE. La actual disponibilidad de
renta no nos asegura seguridad
alimentaria a largo plazo y no tiene nada
que ver con la soberanía alimentaria. Ni
seguros ni soberanos: la disponibilidad a
pagar más para los alimentos les deja un
interesante margen para explotar a las
corporaciones.
Conforme aumenta la capacidad
transformadora del trigo en etanol este
aumenta de precio: 115% en EEUU en
apenas 15 meses (Guillet, 2007) y sus
futuros son de record (Brown, Abril 2007).
La cebada, otro ingrediente de piensos y
fuente de etanol, ha crecido de un 50%. Los
contratos para cultivos agroenergéticos
subvencionados en Europa son de cinco a
diez años, lo cual reduce aun más la
menguante capacidad de auto producción
alimentaria Europea. Una vez construidas
las plantas transformadoras quien les
explicará que no pueden trabajar o que no
pueden vender a precios internacionales?
Depender de un dúo polio (Brasil,
Argentina) para importación de todos los
insumos para piensos es un problema
serio en Europa (el 85% de las proteínas
para piensos son importadas18 ) que esta
poniendo de manifiesto su falta de
soberanía alimentaria. La práctica
Europea del dumping podría ser un
recuerdo del pasado a partir el 2007: en
cuanto empiecen a funcionar las plantas
transformadoras europeas no habrán
excedentes de trigo europeo para invadir
África. Ahora muchos euros están
llevando la segunda revolución verde a
África para producir agrocombustibles,
algo similar a lo que ocurre con EEUU y
México.
Quedan sin embargo desprotegidos los productores pecuarios Europeos.
Los insumos para piensos aumentan de
precio, y todo apunta a una concentración
de las actividades pecuarias en los países
más competitivos. La competencia de
Argentina y Brasil es imbatible en este
sentido y la crisis ya es sentida19 . Lejos de
ser una oportunidad de desarrollo
sustentable para estos países esto repercute
en la soberanía alimentaria de Brasil y
Argentina peor que en Europa. Los mismos
sectores que hoy día presionan en
Argentina para vender el trigo en el
mercado interno a precios internacionales,
tendrán mucha mas fuerza para subir estos
precios internacionalmente y a la vez lograr
de reglamentar el mercado interno. Al
daño ecológico se agregaría el económico,
financiado por una confiable inelasticidad
de la demanda europea respeto al precio
de los alimentos.
Los productores pecuarios europeos
creen que la de los agrocombustibles solo
es una moda pasajera. Menos preparados
no podrían estar. La anestesia producida
por la fe en el neoliberalismo muestra no
ingenuidad sino quien se esta realmente
beneficiando de estos cambios: el capital,
las grandes transnacionales y algunos
gobiernos inescrupulosos. Productores
pequeños y medianos y consumidores
están perdiendo de los dos lados del
océano20 .
Recursos naturales estratégicos y
agrocombustibles
La
contradicción
entre
agrocombustibles,
ambiente,
biodiversidad y alimentación humana
aparece insanable. Miguel Altieri no duda
18
FAO, sumarios de estadisticas agricolas y alimentarias mundiales 2005.
http://www.infobae.com/notas/nota.php?Idx=293796&IdxSeccion=100896
20
Por ejemplo en el primer trimestre del 2007 el gasto para alimentos de los espaoles ha crecido de un 6%mas respeto al mismo periodo
del ao pasado. Panel de Consumo del Monisterio de agricultura, pesca y alimentacion.
19
54
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
en definir este modelo imperialismo
biológico (Altieri, 2007). La perdida de
ecosistemas lleva a la vulnerabilidad frente
a los sucesos climatológicos. La falta de
bosque y monte provoca el escurrimiento
rápido de las aguas con erosión de suelos
y a la alteración de los ciclos del agua, lo
cual intensifica el uso de aguas fósiles de
los grandes reservorios como el acuífero
Guaraní que ya se ve sobre-explotado y
contaminado por agroquímicos. Militares
de EEUU se instalan en Paraguay y buscan
células dormidas de terroristas en la triple
frontera, allí por Misiones donde casi aflora
el precioso oro azul del Acuífero guaraní
que sirve a producir el oro verde.
Seguridad alimentaria
soberanía y seguridad alimentaría, estaría
limitando en su territorio el ciego
crecimiento
de
la
capacidad
transformadora de la industria para etanol
de arroz, trigo y maíz que dan los peores
balances energéticos 22 y a parte de ser
alimentos básicos humanos entran en
proporciones importantes en las dietas de
los animales de cría (trigo y maíz). Serán
países más pobres y con mayores
extensiones de tierras los que tendrán que
suplir sus necesidades “ambientalmente
amigables” ya que China enfrenta una
grave crisis de la agricultura: los vientos
se convierten en tormentas de arena
levantando los suelos agrícolas
degradados23 .
El World Food Programme y las
Naciones Unidas han declarado su
preocupación por la escasez de granos
prevista. Con 18’000 niños que mueren de
hambre cada día. Los alimentos y el agua
que aumentan de precios (Brown, Abril y
Marzo 200724 ) el cambio climático y dos de
tres ecosistemas seriamente amenazados
(MEA, 2005) lo único que nos preocupa es
llenar el tanque del auto.
Según Fidel Castro hay un diseño
siniestro de Bush detrás de este businness
del etanol que hace subir el precio de los
alimentos. Ha hablado “prudencialmente”
de 3 mil millones de condenados a muerte
prematura por hambre y sed para alimentar
a los autos 21 . Pero que soberanía tiene
realmente una potencia imperialista que
financia sus campañas militares
endeudándose con su peor enemigo?
EEUU le compran obligaciones a China
para pagar sus guerras. Cuando un poder
hegemónico contrae deudas con su
principal enemigo no le queda mucho
tiempo para que pase la mano (Arrighi,
1994), por aquel entonces las elites de
EEUU que se benefician hoy de las guerras
imperiales estarán invirtiendo en otros
negocios.
Según el Financial Times en EEUU
los precios de las tierras agrícolas crecen
más rápido que los de suelos edificables
en Manhattam 25 . ¿Que pasará cuando
también Argentina, como ya se conversa
por los corredores del Senado de la Nación,
aprobará alguna ley para favorecer la
especulación inmobiliaria? Que va a pasar
en un país como España que ya sufre
escasez de viviendas a causa de la
especulación y conflicto entre uso agrícola
del suelo, para campos de golf o viviendas?
China, muy preocupada por su
La subida de precios de los
21
http://www.granma.cu/espanol/2007/marzo/juev29/reflexiones.html
Sugrue A., Douthwaite R., Biofuel production and the threat to South Africa’s food security, Wahenga.brief num. 11, 2007. http//
www.wahenga.net
23
http://rs.resalliance.org/2007/04/18/sandstorms-and-land-degradation-in-china/
24
http://www.earth-policy.org/Updates/2007/Update64.htm
25
h t t p : / / w w w. c h e c k b i o t e c h . o rg / r o o t / i n d e x . c f m ? f u s e a c t i o n = n e w s & d o c _ i d = 1 4 7 7 9 & s t a r
t=1&control=211&page_start=1&page_nr=101&pg=1
22
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
55
alimentos y la caída vertical de su calidad
y seguridad son consecuencias actuales.
Cuánto mas tiempo aguantará el techo al
precio del trigo en Argentina, subido
“solo” del 30% durante el 2006 (Markos,
2007) 26 ? Los empresarios agrícolas, el
cuarto sector, presionan aquellos sectores
del poder publico que se benefician de las
exportaciones para que el gobierno de
reglamente el mercado interno 27 . Los
precios se definen en la bolsa de Chicago,
los futuros son profecías que se auto
cumplen, los gobiernos nacionales
obstáculos al “libre comercio” y al
“desarrollo sustentable”. Como para
Europa en Argentina el trigo es alimento
básico, pero allí hay un 13% de la población
en pobreza extrema. Queda a las claras
quienes están pagando el boom
agroenergético en este país pionero: los
pobres y el ambiente.
Las cotizaciones del trigo aumentan
junto a la capacidad procesadora Europea,
además que de los otros países, para
transformar este alimento fundamental de
nuestras dietas en etanol. Parece que entre
los países ricos los europeos somos los más
desprotegidos contra nuestra propia locura.
Las sequías del 2007, año de temperaturas
record, ya amenazan los cultivos del norte
de Italia (jamás tan grave, declarado el
estado de emergencia ambiental).
Porque producir en la UE trigo para
etanol en vez que remolacha, que rinde tres
veces mas por ha. (Medido en TEP28 ), con
un proceso transformador más simple y
menor consumo de energía (no hay que
transformar el almidón en azúcar) y cuya
parte aérea es saludable y rica? La subida
de precio del azúcar no ha matado ni matará
de hambre a nadie pero la UE financia el
abandono de la producción remolachera.
Tanta irracionalidad económica y
energética indica si no un diseño, una
siniestra deriva.
Los agrocombustibles: ¿una solución ante
el cambio climático?
Las proyecciones del International
Panel on Climate Change prevén un
empeoramiento de las condiciones para la
agricultura en todo el mundo, con
degradación de suelos, reducción de la
superficie de tierras, sequías y aluviones.
El cambio climático, definido como un
fenómeno inercial y progresivo, se nos
presenta como un hecho consumido que
nada podría mitigar. Al no tener en cuenta
la expansión abrumadora de los cultivos
agroenergéticos parecen ser muy
optimistas.
Para América Latina el penúltimo
informe del IPCC (6 de Abril 2007 29 )
atribuye al cambio climático previsibles
sequías y violentas precipitaciones con las
imaginables consecuencias sobre los
cultivos y curiosamente otras consecuencias
normalmente debidas a la sobreexplotación
agrícola: transformación de selvas en
sabanas en la zona este de Amazonía (lo
cual ocurre con generosa ayuda de la
26
Markos A., Argentina: paradiso dell’energia verde, .ECO febbraio 2007.
Gustavo Grobocopatel al seminario nacional del INTA: Caminos compartidos hacia la sustentabilidad del agro argentino, 23, Nov.
2006, Buenos Aires.
28
Jornadas abulenses de energías renovables, Ávila 18 y 19 Mayo 2006, ponencia: Fabricación de biodiesel a partir de Cultivos
Energéticos.
29
http://www.ipcc.ch/SPM6avr07.pdf
27
56
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
mecánica pesada), salinización de suelos y
desertificación. Se prevén también
crecientes cosechas de soja en zonas
templadas, como por ejemplo las áreas
recién inundadas de Santa Fe y Entre ríos,
lo cual podría mal orientar a los inversores.
Estudios recientes revelan la perdida de
cosechas entre un 6 y un 10% por cada grado
centígrado de aumento de la temperatura
media 30 desde el 1981. Depender de las
exportaciones agrícolas es muy arriesgado
en estas condiciones.
El último informe aconseja
expresamente el uso intensivo de
agroenergía para reducir el cambio
climático. Después de echarle la culpa al
cambio climático por las consecuencias
previsibles de los monocultivos el IPCC
recomienda extenderlos como si fuera una
panacea, atrayendo de esta forma las criticas
de movimientos ecologistas de todo el
mundo.
La industrialización de la agricultura
y la concentración de tierras se ven
profundizadas por los cultivos energéticos.
Con la tierra en tan pocas manos y tantas
manos sin tierra los flujos migratorios
internos a los países productores han
crecido junto a miseria e inseguridad en las
ciudades. La falta de condiciones para un
desarrollo realmente sostenible refuerza
aquellos flujos migratorios internacionales
que las grandes potencias estrangulan cada
día más duramente.
El aumento de precios de petróleo y
alimentos genera fondos de inversiones de
los más lucrativos. Las bases productivas
para estos mercados van a crecer
brutalmente con las deforestaciones y se
restringirán por el cambio climático y la
30
perdida de suelos, pero la escasez aumenta
valor, precio y cotizaciones. Mismo para las
cotizaciones de las empresas de
infraestructuras hídricas.
La perdida de biodiversidad
provocada por la expansión de la frontera
agroenergética, verdadero frente bélico
contra la biosfera, es funcional a aquel
mismo sector industrial que se jacta de
producir biodiversidad en sus laboratorios
y genera la escasez de variabilidad genética
que asegura sus negocios futuros. Los
mismos financiadores de la segunda
revolución verde y de las deforestaciones
están archivando toda la información
genética todavía disponible adelantando
los bulldozers a toda prisa (entre ellos la
fundación Gates). La museificación de la
información genética es el primer paso por
su sustitución ingenieristica.
Se
perfilan
unos
nuevos
inquietantes lock in. La expansión financiera
inducida por el suicidio de los estados del
bienestar es otro elemento acelerador: los
nuevos
fondos
agroenergéticosalimentarios prometen ser muy lucrativos
y bastante estables: no podemos dejar de
comer y no queremos renunciar a la nuestra
absurda way of life a cuatro ruedas y de
comercio internacional. Estos fondos de
inversión entran a formar parte de los
planes de seguridad social privados y
seguros de salud pero ningún seguro cubre
las consecuencias del cambio climático:
olas de calor, huracanes, sequías,
inundaciones, carestías, enfermedades,
guerras, etc.; lo cual reduce las
probabilidades para los inversionistas de
llegar a la edad para cobrar una pensión.
Resumiendo:
los
cultivos
http://globalecology.standford.edu/DGE/GIWDGE.Html
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
57
agroenergéticos resultan ineficientes para
el propósito de reducir las emisiones de
gases de efecto invernadero, si a esto se
suma la deforestación tienen un balance
ambiental devastador que atenta
directamente a la salud humana. Aceleran
las sinergias degenerativas entre el cambio
climático y la perdida de biodiversidad,
ya considerada la prueba de que estamos
asistiendo a la sexta, y la mas severa,
extinción masiva en el planeta Tierra
(IUCN, 2004; Buiatti, 2004). Antes de ser
obligatorios ya habían provocado la
subida de precios de alimentos básicos y
de piensos provocando una caída global
de la seguridad y soberania alimentarias.
No contribuyen al desarrollo de los países
productores sino que agravan la exclusión
social y expulsan los campesinos de sus
tierras. No mejoran la calidad de vida de
los países consumidores ya que
contribuyen a acelerar el crecimiento de los
precios de petróleo, suelos y alimentos y
aumentan su dependencia de las
importaciones. La perdida de resiliencia
socio ecológica resulta neta y se multiplican
vulnerabilidades y riesgos.
Investigar en todas las áreas los
efectos indeseables de estos nuevos
procesos agroindustriales es una
necesidad imperiosa de la sociedad global.
Todo lo expuesto resume los impactos de
la sustitución actual de un 1% de
agrocombustibles a nivel global 31 ,
extrapolar estos impactos a los niveles de
consumo previstos por leyes nacionales es
arduo (las NU estiman un 25% de un
consumo creciente en 15 años 32 ).
Transformar la estructura de la demanda
parece ser la única forma de detener la
devastación ecológica, social y económica
31
32
de estos cultivos ya que la UE considera
elevar sus objetivos de sustitución a un
20%. Otro modelo de movilidad y otra
agricultura son entre las cosas más
urgentes que necesitamos. Si el objetivo
fuera la tutela ambiental seria mucho más
simple, prudente y efectivo reducir el
consumo de petróleo de un 10 o 20% en
vez que sustituir estos porcentajes de
consumos crecientes, reestructurando la
agricultura mundial con daños ecológicos
irreparables.
La campaña Stop Biofuel Targets
aboga por una moratoria contra estos
cultivos. Se puede leer el documento en
español y apoyar la campaña
conectándose al sitio Web: http://
www.regenwald.org/international/
spanisch/protestaktion.php?id=169
Véase también:
www.biofuelwatch.com
www.grr.com.ar
Andrea Markos
andreamarkos@fastwebnet.it
Candidato a Doctor en Ciencias sociales y
medioambiente, Universidad P. De
Olavide.
Agradecimientos por sus lecturas del
borrador:
Monica Medelius, Jorge Eduardo Rulli,
Monica Vargas.
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el doctor Miguel Altieri “Los biocombustibles
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60
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
61
Carta final da 1º Conferência Nacional
Popular Sobre Agroenergia
Não há dúvida de que o planeta
Terra está gravemente enfermo devido à
ação destruidora do Capital, responsável
pelo aquecimento global e mudanças
climáticas, além da privatização de todas
as formas de vida. Estamos diante de uma
encruzilhada: ou mudamos o paradigma
de civilização atual ou a humanidade e a
vida no planeta será destruída.
A nossa luta é por uma nova
civilização que se baseie em uma relação
de harmonia entre a humanidade e a
natureza, na qual não prevaleça o
consumismo e a lógica do lucro e do
mercado, que devasta os recursos naturais,
concentra riqueza e poder nas mãos de
poucos e gera pobreza e desigualdade
social. Lutamos por uma sociedade
baseada na justiça social e ambiental, na
igualdade, na solidariedade entre os
povos, assentada em valores éticos
coerentes com uma sociedade voltada a
sustentabilidade de todas as formas de
vida. Diante disso nos posicionamos:
Posição
das
organizações,
movimentos e pastorais sociais sobre a
agroenergia no Brasil:
• 1 - Defendemos que a terra, água, sol,
ar, subsolo e a biodiversidade sejam
conservados e utilizados de modo
sustentável para prioritariamente produzir
alimentos e proporcionar trabalho e
qualidade de vida.
62
• 2 - Afirmamos o direito da soberania
popular sobre o seu território e seu destino.
A soberania alimentar e energética é o
direito do povo produzir e controlar os
alimentos e a energia para atender suas
necessidades.
• 3 - A produção de energia não pode, de
modo algum, substituir ou colocar em risco
a produção de alimentos. A agroenergia só
deverá ser produzida de forma
diversificada e complementar à produção
de alimentos.
• 4 - A política de produção de agroenergia não pode ser determinada pela lógica
do mercado. E pelos interesses de lucro das
empresas petrolíferas, automobilísticas e
do agronegócio.
• 5 - Rechaçamos e combatemos qualquer
tipo de monocultura e propomos o limite
do tamanho das propriedades rurais e o
limite das áreas destinadas para produção
de agroenergia em cada estabelecimento,
município e região.
• 6 - Reafirmamos a necessidade de uma
reforma agrária popular e de um processo
de democratização de acesso á terra como
via para garantir a soberania alimentar e a
soberania energética. O atual modelo do
agronegócio é um processo de continua
concentração da propriedade da terra.
• 7 - A soberania alimentar e energética é
baseada na agroecologia e na economia
Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
local e regional. Combatemos o modelo
insustentável e excludente do agronegócio,
um dos principais causadores das
mudanças
climáticas
devido
a
transformação do uso da terra, o
desmatamento e a utilização massiva de
agrotóxicos e transgênicos, além da
mecanização e do transporte de
mercadorias em escala planetária.
• 13 - O atual modelo de produção de
agrocombustíveis degradará os biomas
brasileiros, principalmente a Amazônia e
o Cerrado, pressionando a expansão das
fronteiras agrícolas. Frente a isso,
afirmamos a soberania de todos os povos
e as comunidades tradicionais sobre o
território. Basta de desmatamento em
todos os ecossistemas brasileiros.
• 8 - A agroenergia deve ser produzida
para garantir a soberania energética do
povo e não para ser exportada com o
objetivo de abastecer os países ricos e gerar
lucros para o agronegócio e as grandes
empresas privadas e transnacionais.
• 14 - O papel dos camponeses e da
agricultura familiar deve ser definido pela
sua soberania e autonomia. Portanto,
somos contra o sistema de integração que
atrela os agricultores a empresas
de agroenergia, que apenas explora sua
mão de obra. Defendemos políticas
públicas que garantam crédito, assistência
técnica e condições para que os
camponeses e agricultores produzam
agroenergia em pequenas unidades de
produção.
• 9 - Combatemos o controle do capital
estrangeiro sobre a economia, a terra, os
recursos naturais e as fontes de energia do
Brasil.
• 10 - Lutamos por um modelo energético
sustentável e diversificado. A* *
agroenergia é uma das alternativas ao lado
de medidas de eficiência e outras fontes de
energia renovável e sustentável.
• 15 - Exigimos ao Estado brasileiro
estimular, normatizar e controlar uma
política de soberania energética em nosso
• 11 - Defendemos um modelo energético
popular e descentralizado, que expresse as
necessidades sociais e as características e
potencialidades locais e regionais.
Propomos a produção e gestão na forma
de pequenas usinas cooperativadas,
comunitárias ou familiares sob controle
dos camponeses e trabalhadores.
• 12 - Lutamos por um novo sistema de
transporte que integre suas diferentes
formas (fluvial, ferroviário, rodoviário) e
privilegie o transporte público e coletivo
de qualidade, em vez do modelo
insustentável e irracional dependente de
petróleo e que privilegia o transporte
individual.
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Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade
Declaração Final do Encontro “Mulheres
em Luta por Soberania Alimentar e Energética”
Por Soberania Alimentar e Energética!
Nós, mulheres do campo e da
cidade reunidas em Belo Horizonte, de 28
a 31 de Agosto de 2008, expressamos nossa
visão sobre desafios e alternativas para a
construção de Soberania Alimentar e
Energética.
Somos mulheres organizadas,
protagonistas de lutas de resistência em
defesa de uma sociedade igualitária, onde
a organização da economia tenha como
centralidade a sustentabilidade da vida
humana e não o mercado e o lucro.
O modelo atual de desenvolvimento
se apropria do racismo e do sexismo.
Fundamenta-se em uma visão de economia
que considera o econômico apenas as
atividades mercantis e desconsidera a
reprodução e invisibiliza o trabalho das
mulheres. Esse modelo se pauta por uma
concepção de desenvolvimento baseada na
idéia de crescimento econômico ilimitado,
onde o mercado e o lucro privado são
priorizados em detrimento do interesse
público e dos direitos humanos
fundamentais, onde a política econômica
se orienta pela opção exportadora, apoiada
fortemente pelo Estado, no agronegócio
empresarial e no setor minero-metalúrgicoenergético e em uma demanda energética
insustentável.
Para manter esse modelo, grandes
projetos energéticos e de infra-estrutura são
construídos, distantes das lógicas
produtivas e culturais que organizam os
territórios, provocando a expulsão do
campesinato e de populações tradicionais
das suas terras, a contaminação dos
trabalhadores e trabalhadoras e o
aprofundamento da crise ambiental e das
mudanças climáticas. Ao mesmo tempo,
são desconsiderados os caminhos
alternativos e modos de desenvolvimento
voltados para a igualdade social e a justiça
ambiental que nossos movimentos têm
proposto a partir de suas práticas concretas
nos territórios que se pautam pela
construção de Soberania Alimentar e
Energética.
Em contraposição a este modelo
afirmamos nossa luta feminista e socialista
por uma nova economia e sociedade
baseada na justiça social e ambiental, na
igualdade, na solidariedade entre os povos,
assentada em valores éticos coerentes com
a sustentabilidade de todas as formas de
vida e a soberania de todos os povos e
comunidades tradicionais sobre seus
territórios.
Diante disso:
Denunciamos:
1- O atual modelo de produção de
energia que visa manter um padrão de
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produção e de consumo ambientalmente
insustentável e socialmente injusto,
baseado no monopólio das fontes de
energia pelas grandes empresas.
2 - As falsas soluções de mercado que
estão sendo propostas para reverter o
quadro de mudanças climáticas como a
produção de agrocombustíveis em grande
escala, assim como as expansão de
impactantes projetos hidroelétricos e a
retomada do programa nuclear brasileiro,
energia perigosa, cara e sem soluções para
os seus rejeitos.
3 - O atual modelo de produção de
agrocombustíveis,
baseado
em
monoculturas; modelo defendido pelo
governo brasileiro e controlado pelo
agronegócio, que vem homogeneizando os
territórios, pressionando a expansão das
fronteiras agrícolas, gerando impactos
sociais e ambientais e que tem sido um dos
grandes responsáveis pelo aumento dos
preços dos alimentos.
4 - A especulação internacional dos
produtos alimentícios que também se
constitui em uma das causas do aumento
dos preços dos alimentos, ao lado do
aumento do preço do petróleo e do desvio
de alimentos para produção de etanol e
biodiesel.
5 - O trabalho escravo que sustenta esse
modelo e as péssimas condições de
trabalho e de exploração do assalariado e
assalariada rural, além do abuso sexual e
o assedio moral a que são vitimas as
trabalhadoras do campo e da cidade.
6 - O controle da cadeia produtiva
alimentar pelas grandes transnacionais
ameaça a soberania alimentar e a saúde da
população. Em especial os produtos
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transgênicos e os altos níveis de agrotóxicos
utilizados nos alimentos com a
cumplicidade das autoridades públicas
que não zelam para que as legislações sobre
rotulagem de transgênicos e agrotóxicos
sejam respeitada pelas indústrias.
7 - O desaparecimento de sementes
crioulas, a perda de biodiversidade e a
ameaça a segurança alimentar em virtude
da liberação comercial de cultivos
transgênicos e da expansão das
monoculturas de exportação, apoiadas por
empresas e universidades publicas,
enquanto falta pesquisa para avaliar riscos
no meio ambiente e‘a saúde do consumo
de transgênico.
8 - A privatização dos recursos naturais
e a apropriação de nossas terras, a
exploração da nossa floresta, das águas e
de nossos rios, mares e manguezais pelo
capital com apoio dos recursos públicos.
9 - A privatização do setor elétrico que
contribuiu para que as tarifas de energia
sejam diferenciadas entre os consumidores
residenciais e indústria e as políticas
energéticas beneficiem as grandes
indústrias para obterem cada vez mais, mais
lucros. As cidades brasileiras sofrem
impactos diretos desse modelo de
desenvolvimento alimentar e energético,
com as altas taxas no preço da energia, com
o aumento dos preços dos alimentos, com
a precarização do trabalho e do transporte
coletivo urbano e com a especulação
imobiliária.
Reafirmamos:
1 - A necessidade de construir um novo
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modelo energético para o Brasil que
priorize a produção e a distribuição
descentralizada de energia visando atender
as necessidades locais e territoriais e que
contemple a participação da população no
seu planejamento, decisão e execução. E
que contribua para a autonomia das
mulheres, possibilitando a elas
protagonizarem experiências de Soberania
Energética em seus territórios.
2 - A necessidade de desenvolvermos
formas de consumo e comercialização de
produtos de forma solidária e sustentável
com o fortalecimento dos mercados locais
e feiras livres, assim como o
reconhecimento do trabalho produtivo das
mulheres e seu fortalecimento.
3 - Que é tarefa do Estado a viabilização
de políticas públicas que garantam a nossa
Soberania Alimentar e Energética.
4 - A importância da pesquisa,
desenvolvimento e implantação de fontes
energéticas alternativas e o reconhecimento
e investimento do Governo nas
experiências descentrizadas de produção
alternativa de energia, na socialização do
trabalho doméstico e no fortalecimento da
agricultura camponesa.
5 - A agroecologia como projeto político
para alcançar a soberania alimentar, assim
como a luta pela Reforma Urbana, a
agricultura urbana e a defesa de uma nova
ocupação do espaço urbano para moradia
e produção como orientadoras de políticas
publicas.
A luta pelo direito à terra através da
Reforma Agrária, onde esteja garantido o
direito da mulher a terra, o acesso aos
recursos naturais e ‘as decisões sobre seus
usos.
6 - Os direitos territoriais de povos
indígenas e populações quilombolas.
7 - O direito ao trabalho em condições
dignas e bem remunerado. O direito a
previdência social, a diminuição da jornada
de trabalho, a socialização do trabalho
reprodutivo.
8 - Uma integração regional que esteja
pautada
na
solidariedade,
na
complementariedade entre nossas
economias, na sustentabilidade das praticas
socioculturais e produtivas.
Nos comprometemos:
1 - A lutar por justiça ambiental, pela
reforma agrária, e em defesa da
sustentabilidade da vida como valor central
para a economia.
2 - A desenvolver formas organizativas
de luta das mulheres contra esse modelo
de desenvolvimento que afeta o campo e a
cidade e a denunciar permanentemente as
diferentes formas de opressão e
mercantilização que vivem as mulheres.
3 - A construir e a fortalecer alianças entre
movimentos sociais do campo e da cidade
e a defender a necessidade de articularmos
nossas experiências reivindicando políticas
públicas que visibilizem as nossas
experiências alternativas e nossas
propostas para construção de uma
transição rumo a um modelo de
desenvolvimento que tenha como centro a
sustentabilidade e a dignidade da vida
humana.
4 - A desenvolver formas de uso
sustentável dos recursos naturais e das
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energias renováveis sustentáveis (eólica,
solar e biomassa) bem como o
aproveitando a água da chuva através da
utilização de cisternas, o uso de placas
solares e de experiências autônomas que
contribuam para a construção de um novo
modelo energético;
5 - A lutar pela reestatização do setor
elétrico e a defender o uso sustentável das
águas e dos recursos energéticos.
6 - A lutar pela autonomia econômica
das mulheres e pelo direito ao trabalho
digno e a fortalecer a luta dos
trabalhadoras e trabalhadores assalariadas.
7 - A lutar pela recuperação, preservação
e multiplicação das plantas medicinais e
sementes crioulas, em defesa da
biodiversidade, da água e pelo direito de
decidir sobre nossa vida, nossos alimentos,
nosso corpo.
8 - A lutar pelo direitos territoriais dos
quilombolas e indígenas, porque suas lutas
também são nossas. Por isso apoiamos a
demarcação continua da Terra Indígena
Raposa Serra do Sol em Roraima e
reafirmamos os direitos dos povos
indígenas aos seus territórios.
9 - A realizar as mobilizações dos dias
16 e 17 de outubro por Soberania
Alimentar, a participar da campanha contra
o preço de energia e a fortalecer nossa
marcha no 8 de março como processos de
reafirmação de nossa luta por soberania
alimentar e energética, diante da
necessidade de construir um novo modelo
energético e alimentar para o Brasil.
Mulheres em Luta por Soberania Alimentar e
Energética!
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