Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 1 2 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade Maio de 2008 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 3 Expediente: CONCRAB - Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil Processo 55.3670/2005-0 Setor Comercial Sul, Quadra 6, Bloco A, Ed. Arnaldo Villares, sala 213, 2° Andar CEP. 70 310 - 500 Tel.: (61) 3225-8592 Correio eletrônico: secretaria@concrab.org.br Organização:Luiz Henrique Gomes Capa e diagramação: Fábio Carvalho Tiragem: 2.000 exemplares 4 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade Sumário Introdução ................................................................................................................. 7 Una lectura geopolítica a la problemática de los agrocombustibles en America Latina Elizabeth Bravo ............................................................................................................ 13 Impactos econômicos, sociais e ambientais devido à expansão da oferta do etanol no Brasil Horacio Martins de Carvalho....................................................................................... 23 Contextualização e problematização dos agrocombustíveis no Brasil Jean Pierre Leroy ............................................................................................................ 41 Agrocombustibles: impactos sobre el ambiente, la soberania y la seguridad alimentaria global Elizabeth Bravo ........................................................................................................... 49 Carta final da 1º Conferência Nacional Popular Sobre Agroenergia ................ 62 Declaração Final do Encontro Mulheres em Luta por Soberania Alimentar e Energética ............................................................................................ 65 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 5 6 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade Introdução O paradigma agroecológico no desenvolvimento de alternativas produtivas de agrocombustíveis em assentamentos de reforma agrária 1. Alimentos, energia e agrocombustíveis: a relação dialética entre meio ambiente e agricultura frente às crises mundiais A última metade desta década têm se apresentado como um momento de inflexão dentro dos rumos que o sistema capitalista gerou para espaços importantes da humanidade e mesmo para sua própria reprodução. Além da crise estrutural financeira que vem se aprofundando, a qual não é objeto direto desta publicação, visualizamos um debate mundial sobre as mudanças climáticas e a redução exponencial das reservas alimentares do mundo. A constante expansão do objetivo fundamental do capitalismo – gerar lucros – e a necessidade intrínseca deste sistema de avançar os meios de produção por meio da alta tecnologia promoveram o consumo exorbitante de recursos naturais, principalmente a partir da segunda metade do século passado. Por exemplo, o consumo mundial de carvão mineral entre 1950 e 2002 multiplicou-se por 4,7 vezes1 , enquanto, por sua vez, o petróleo teve a produção aumenta de 48 milhões de barris por dia em 1970, para 86 milhões de barris por dia, em 20042 . O consumo de florestas, recursos hídricos, solos e minerais possuem números igualmente impres- sionantes. De maneira geral, tanto a manutenção em funcionamento da sociedade como um todo, quanto o beneficiamento e transformação constante das matérias primas, vem promovendo a liberação de gases que aceleram o conhecido aquecimento global. Embora este efeito seja causado por diversos fatores, tem-se o padrão de consumo de bens duráveis e nãoduráveis apresentando-se em um patamar altíssimo na Europa e nos EUA, os quais são referência para o resto do mundo. Diante disto, apesar de parecer evidente a necessidade de rediscutir o próprio padrão de consumo hegemônico no contexto global, diversos setores apresentaram soluções pontuais e diferentes para alterar o quadro de cataclísma que se estabeleceu tanto na sociedade, quanto nos meios acadêmicos. Desde a defesa de acordos internacionais como o Protocolo de Kyoto, passando pela racionalização da matriz energética fóssil, até a produção massiva e mundial de agrocombustíveis, a gama de alternativas falsas ou insuficientes é considerável. No caso de nosso país, a “alternativa” chamada agrocombustíveis vem 1 FONTE: OCDE, OECD Environmental Data 2002 (Paris: 2002), p. 11 “Norway –Household Waste Increases More ThanEver”, Warmer Bulletin, 28/06/03 2 Dados obtidos no site HTTP://www.census.gov Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 7 impactando de forma substanciosa a realidade agrária do país. O governo brasileiro, ao perceber a crise energética e a necessidade das grandes corporações automotivas de manterem sua política de venda massiva de veículos individuais, retomou o programa PROALCOOL, concebido em outro momento de crise (na década de 70), e o remodelou, projetandoo não mais como solução nacional, mas sim como solução mundial. O surgimento dos agrocombustíveis tende a impactar severamente a estrutura produtiva global da agricultura em todo o mundo. É importante e talvez fundamental estabelecer uma clara distinção entre a visão e a posição dominante no setor do agronegócio e na mídia em geral, e a leitura que fazem diversas organizações camponesas e ecologistas, por todo o planeta. As corporações capitalistas falam em se tornar mais amigáveis ao meio ambiente, “mais verdes”, no entanto, o que as move é tão somente a busca de lucro, a abertura de novas frentes para acúmulo de capital. Não há de fato uma preocupação ambiental de fundo no centro das prioridades. Antes de simplesmente buscar alternativas, a sociedade poderia se perguntar e debater se o atual modelo de consumo de combustíveis e energia é sustentável e desejável. A resposta certamente seria não! Definitivamente é impossível substituir o combustível fóssil pelos agrocombustíveis. Além destes não serem isentos como poluidores (alias, dependendo do agrocombustível, o diferencial energético liquido chega a ser 8 pequeno se comparado aos combustíveis fósseis), muita terra será necessária para produzir culturas energéticas. E isto vem afetando, junto com outros fatores, a produção, o preço, e a disponibilidade dos alimentos. O grande peso político colocado – em nível mundial – na solução agrocombustível acendeu então a fagulha para outra grande crise, que vem devastando a economia dos países mais pobres: a crise alimentar. Esta crise estourou com o rápido declínio dos estoques mundiais e a elevação brusca no preço das principais commodities agrícolas. Sem dúvidas, não são os agrocombustíveis o fator principal desta crise, e defender esta tese é continuar observando a realidade apenas por questões pontuais. A crise alimentar tem sua origem nos processos econômicos iniciados na década de 70, conhecidos mundialmente pelo termo neoliberalismo. Com esta nova escola econômica, muitos governos passaram para a iniciativa privada o controle de setores estratégicos, dentre eles a alimentação. No Brasil, uma forte e consolidada rede de abastecimento nacional (sintetizada na Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB) foi estrategicamente sucateada e vendida, de tal forma de em apenas uma década (a de 90) os estoques nacionais passem do controle público ao controle total do mercado. Portanto, grandes volumes de alimentos, ou melhor, commodities, são hoje mercadoria estocada nas grandes corporações, as quais desejam apenas um resultado com essas mercadorias – gerar lucro. Concomitante a esta estratégia de privatização dos estoques agrícolas, a Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade política agrícola hegemônica orientou a produção mundial para as commodities, transformando alimentos e fibras em pura mercadoria, fonte de lucro. E para sustentar o consumo destas commodities, grande campanhas publicitárias e uma afinada estratégia entre governos mundiais e transnacionais alimentícias reduziram a base alimentar mundial a menos de uma dezena de produtos (milho, soja, trigo, leite e arroz, principalmente). Essa produção de commodities veio associada ao pacote da Revolução Verde, modelo agrícola petrodependente e de alto impacto ambiental. Uma estratégia desta envergadura também deveria possuir um planejamento espacial da produção agrícola, que se encaixaria dentro da Divisão Internacional do Trabalho. Nesta divisão, coube aos países da América latina o papel de celeiros do mundo, produzindo de forma expressiva principalmente grãos, que sustentam a produção pecuária e de outros alimentos industrializados em todo o mundo. Entretanto, esta divisão geográfica demandou a estruturação de uma complexa e onerosa logística de circulação da mercadoria, toda ela baseada nos petroderivados. Com o brutal aumento do petróleo em um curto espaço de tempo, os alimentos sofreram um forte impacto em seus preços. Afora estas questões estruturais, é importante lembrar que a atual crise alimentar tem no sistema financeiro em colapso um de seus fatores conjunturais. Com o mercado “virtual” de ações e investimentos futuros apresentando grandes incertezas, o capital dito flutuante migrou para investimentos mais seguros, como imóveis e as commodities, incluindo as agrícolas. Desta forma, a elevação do preço dos alimentos também tem seu cunho especulativo. No entanto, os agrocombustíveis também possuem sua importância conjuntural na explosão da crise alimentar mundial. O principal impacto global vem das lavouras de milho estadunidenses. Com o forte apoio governamental, os fazendeiros investiram muito na cadeia produtiva do milho para produção de etanol, e grandes parques industriais de produção de etanol foram estruturados. O preço de uma commodity é tabelado em dólar, já que estes produtos são sempre comercializados em operacionais transnacionais. Neste caso, o preço do milho elevou-se consideravelmente nos EUA, mas teve impacto no preço de todos os negócios realizados em âmbito internacional. Como o milho é base alimentar tanto para a pecuária (nas diversas rações para bovinos, suínos, aves etc) quanto para a humanidade, o efeito-dominó foi inevitável e transformou-se em mais um fator da crise alimentar. Se esta complexa “estrutura” de falsas alternativas, reais urgências e impactos concretos e potenciais apresenta um forte impacto no cenário internacional, esta realidade se materializa em sua forma mais intensa no Brasil. Enquanto experimentamos um crescimento inigualável do setor automobilístico e dos parques industriais nacionais – e de seus conseqüentes impactos ambientais – somos o país que se encontra na vanguarda dos agrocombustíveis, experimentando em suas terras a disputa real entre a produção de energia proveniente de culturas agrícolas e a produção de alimento para sua população. Apesar de o Brasil ser um país tropical, Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 9 onde as mudanças climáticas³ se dão de forma mais tênue, as alterações são consideráveis na agricultura. Os períodos de seca assolam regiões impensáveis anteriormente, como a Amazônia (por exemplo a grande seca do ano de 2005), e acentuam-se em outras regiões. Por outro lado, tempestades se apresentam mais agressivas, como as inéditas formações de furacões na região Sul do país. Com uma matriz energética fortemente apoiada na energia hidráulica, o Brasil aparentemente seria “vítima” do uso exacerbado de combustíveis fósseis por países desenvolvidos, mas sua contribuição para o aquecimento global é fato devido a devastação das florestas dos vários biomas, principalmente por meio das queimadas. Por este motivo, o Brasil dedicou ao agrocombustível o papel de “agente purificador” da imagem de poluidor adquirida pelo país. A toda a frota nacional sendo fabricada com motores flexíveis (gasolina e álcool) e a eficiência energética da produção de etanol a partir da cana-de-açúcar tornou o Brasil em um arauto desta tecnologia. Com uma política agressiva de incentivo fiscal, financeiro e acadêmico, e com um mercado comprador ascendente, o setor sucroalcooleiro foi alçado da falência para as principais negociações internacionais feitas pelo governo brasileiro. A área plantada de cana voltou a crescer: no estado de São Paulo, em 1998 eram utilizados 2,5 milhões de hectares, enquanto que em 2007 este total foi de 3,9 4 milhões de ha . Por sua vez, o biodiesel, estratégia governamental para agricultura familiar, vem se apresentando como alternativa para os grandes produtores de soja no período de baixa dos preços internacionais do produto como grão. Hoje, aproximadamente 85% do biodiesel é proveniente a soja. Este avanço das lavouras destinadas à produção energética tem impacto sobre os alimentos de forma diferente. O primeiro impacto, e talvez mais evidente, é a disputa direta entre áreas para plantio de cana e áreas para outras culturas, principalmente milho, feijão, arroz e mandioca. Esta disputa acontece agressivamente no estado de São Paulo, onde freqüentemente os empreendimentos sucro-alcooleiros “vencem” a “queda-de-braço”. O segundo impacto, e que necessita de um exercício maior de analise econômica da realidade, demonstra-se no preço da terra em toda a região centro-sul. Com a voracidade da agroindústria dos agrocombustíveis, as terras nesta região começam a receber propostas de compra para expansão das áreas cultivadas, sempre com uma considerável inflação a fim de concretizarem rapidamente a negociação. Portanto, torna-se mais caro produzir qualquer produto agrícola, incluindo os alimentos. Todo este quadro influencia diretamente na reforma agrária e em seu público beneficiário. Há cerca de 10 anos o governo federal vem fortalecendo a sua política de compra de terras – ao invés da clássica desapropriação por interesse social. Esse mecanismo, no entanto, é altamente suscetível a estas oscilações no valor de 3 Para um estudo mais aprofundado, observar o relatório Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas: como o aquecimento global já afeta o Brasil, Greenpeace: 2008. 4 Informações obtidas no site do IBGE, dados sobre as safras dos respectivos anos. 10 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade compra da terra. Portanto, a reforma agrária vem se inviabilizando nas áreas onde o agrocombustível está avançando. Em outro aspecto, o projeto de expansão das áreas cultivadas com lavouras destinadas aos agrocombustíveis pressionam os assentados e assentadas, aliciando-os com crédito, insumo e assistência técnica, em troca das terras e mão de obra do assentamento. No estado de São Paulo esta realidade é muito presente nos assentamentos do Pontal do Paranapanema e próximos das áreas de Ribeirão Preto e Araraquara. 2. As bases da produção camponesa de agrocombustíveis É diante desta realidade concreta que a CONCRAB, diversas ONGs e os movimentos sociais do campo vêm trabalhando na posição política de defesa da segurança alimentar das famílias e da soberania alimentar das comunidades rurais e urbanas. Com base na conciliação destes dois objetivos, esta estratégia visa estimular um sistema produtivo diversificado, eficiente e correspondente às necessidades locais. Tendo referencia nas experiências e reflexões obtidas nos últimos anos em diversos trabalhos, se busca na agroecologia o paradigma produtivo que abarca essa possibilidade de diversificação, sustentabilidade e eficiência. A agroecologia apresenta-se como uma matriz tecnológica produtiva que promove o entendimento ecológico do ecossistema agrícola, compreendendo a inter-relação entre culturas agrícolas, florestais, criações animais e populações selvagens. Entretanto, tornar reais estes princípios agroecológicos é mote de diversos experimentos acadêmicos e de trabalhos iniciais de movimentos sociais e ONGs. Porém, no campo dos agrocombustíveis aliado com a produção de alimentos, esta matriz tecnológica ainda se apresenta bastante incipiente. Como a estratégia institucional de promoção dos agrocombustíveis foi por meio do agronegócio, todas as tecnologias (implementos, insumos e tratos culturais) estão voltadas para grandes propriedades e monocultura. É diante desta conjuntura nacional que se faz urgente e necessário o debate sobre a transição agroecológica em sistemas produtivos de agrocombustíveis. Primeiramente, se faz necessária a reflexão sobre o que significa os agrocombustíveis em um contexto mundial e nacional. Em um segundo momento, considerar as reflexões feitas pelos movimentos sociais e entidades da sociedade civil que debatem o tema sob a ótica os agricultores e assentados. E, por fim, realizar experiências práticas de transição agroecológica. Os textos contidos nesta revista cumprem os dois primeiros objetivos: problematizar sobre os agrocombustíveis e apresentar as reflexões da sociedade civil organizada. CONCRAB Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 11 12 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade Una lectura geopolítica a la problemática de los agrocombustibles en America Latina Elizabeth Bravo Red por una América Latina Libre de Transgénicos Agosto del 2007. Dos presidentes. Dos giras en América Latina. Por un lado, el presidente Lula hizo un recorrido por México y el Caribe, para dar continuidad a lo que se le ha llamado su “diplomacia del etanol”, cuyo objetivo es crear un mercado seguro para el etanol y posesionarse como un nuevo líder en el sur del mundo. En esos mismos días, el presidente Hugo Chávez visita cuatro países aliados en cinco días sudamericanos, donde visitó a sus principales aliados (Argentina, Bolivia y Ecuador) y trató de recomponer sus relaciones con Uruguay1 . En estas dos visitas podría resumirse dos visiones geopolíticas en disputa, en torno al control de la energía y de la integración latinoamericana. Mientras Chávez privilegia el petróleo como base de la integración, desde una perspectiva de la soberanía sobre el recurso, pues, mientras los hidrocarburíferos son patrimonio estatal, y aunque los gobiernos establezcan contratos desfavorables para los intereses nacionales, y aun cuando un alto porcentaje de las rentas petroleras se dediquen a pagar la deuda externa y en otros gastos ilegítimos; de cualquier manera, los ingresos petroleros se redistribuyen en la sociedad. En contraste, los agrocombustibles son producidos por el sector privado; el Estado no puede tener el mismo grado de control sobre todas las fases de la cadena productiva, como sucede con el petróleo; y las divisas generadas en su exportación, no se redistribuyen. Lula entonces vende su idea de agrocombustibles desde una lógica empresarial. LAS GIRAS ENERGETICAS LATINOAMERICANAS PRESIDENTE LULA PRESIDENTE CHAVEZ México: plantea la cooperación en agrocombustibles y pide a México ingresar al Mercosur Argentina: compró bonos por 500 millones de dólares y firmó un acuerdo energético con Kirchner Honduras: habló de un TLC entre Centro América y Mercosur. Se incorporó el tema de los agrocombustibles Uruguay: suscribió un acuerdo de seguridad energética y ofreció una refinería Nicaragua: firmó un acuerdo, pero Lula no pudo vender su idea del etanol Ecuador: construirá una refinería en Manabí2 y comprará bonos ecuatorianos Panamá: dará tecnología para agro-combustibles Bolivia: pondrá en marcha una asociación de petroleras estatales Jamaica: más tecnología de agro-combustibles Fuente: El Comercio, 9 de agosto del 2007 1 2 Significativamente una semana después, el presidente Tabaré Vásquez viajó a Ecuador Provincia donde está instalada una base militar estadounidense y que tendrá que salir en 2009 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 13 He usado este ejemplo como introducción al hecho que se está construyendo una nueva geopolítica energética en el mundo, en la que América Latina juega un papel muy importante. ALGO SOBRE LA GEOPOLÍTICA estos, por lo menos dos son políticamente poco estables, y Canadá no es un país de Tercer Mundo al que se pueda entrar como en el patio trasero. Es por tanto urgente diversificar las fuentes de aprovisionamiento, y por lo mismo, el petróleo mundial se ha constituido en un asunto de seguridad nacional para Estados Unidos. Aunque el término geopolítica ha sido utilizado desde inicios del siglo XX por intelectuales europeos, fue general nazi Karl Haushofer, que la modernizó y utilizó como instrumento que justificaba la expansión territorial de Alemania durante el Tercer Reich, para asegurar la subsistencia alemana a través del manejo del territorio de otro país, para apoderarse de los recursos estratégicos requeridos para garantizar el desarrollo y seguridad de Alemania. Él incluyó varios elementos del geógrafo Friedrich Ratzel, quien propuso que un Estado tiene que crecer, extender o morirse dentro de «fronteras vivientes», por ello tales fronteras son dinámicas y sujetas al cambio. Estos conceptos han sido ampliados para enfrentar problemas militares y geoestratégicos, y no sólo de Alemania sino también de otros países. El Vicepresidente Cheney advirtió que en el 2001, Estados Unidos se enfrentó a la más seria carencia de energía desde los embargos petroleros de los 70, y que la dependencia de crudo aumenta cuando poderes extranjeros no siempre tienen a Estados Unidos en su corazón. En el campo petrolero, la Doctrina Carter, define al crudo del Golfo Pérsico como de «interés vital» para Estados Unidos, y debe ser defendido «por cualquier medio necesario, incluida la fuerza militar». Eso ha sido demostrado en los últimos años hasta la saciedad. Dentro de su Plan de Seguridad Energética, Bush propuso diversificar sus fuentes, tanto de crudo como de combustibles alternativos 3 . Para ello es necesario aumentar substancialmente el porcentaje de maíz en la producción de etanol (White House, 2007), lo que desataría conflictos con importantes grupos económicos estadounidenses, que usan grandes cantidades de maíz como materia prima dentro de Estados Unidos4 . Por lo que Estados Unidos va a tener que abastecerse de la importación. ¿QUÉ PASA CON EL PETRÓLEO? En Estados Unidos, en el año 2000, el 55% de las importaciones de crudo provinieron apenas de 4 países: Canadá, Arabia Saudita, Venezuela y México. De 3 4 Este es el caso del Presidente Chávez, que ha sido calificado por Estados Unidos como parte del “eje del mal”, a pesar de ser Venezuela es el principal proveedor de productos derivados de petróleo a Estados Unidos. Existe entre Venezuela y Estados Unidos una dependencia mutua, y ambos están resueltos a dejar esa dependencia. Venezuela por medio de crear nuevos aliados y nuevos mercados en el Sur, y Bush a través del etanol. Se necesita, por tanto, establecer una nueva geopolítica en torno a los agro- 35.000 millones de galones de combustibles alternativos al año hasta el 2017, que podrían ser a partir de maíz. Como la industria alimenticia y avícola 14 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade combustibles. Bush ve necesario “alentar a sus amigos y aliados a aumentar su producción de petróleo y alternativas, diversificar sus fuentes, reducir su consumo y aumentar sus reservas de petróleo” para reforzar la seguridad energética de Estados Unidos (y el resto del mundo). Y mira con preocupación las acciones en el extranjero que “menoscaban los mercados libres, abiertos y competitivos para el comercio y la inversión en fuentes de energía” (White House, 2007). Es ahí donde entra Brasil como un nuevo amigo y aliado de Estados Unidos. LA GEOPOLÍTICA DEL ETANOL La nueva geopolítica que se está conformando en torno a los agrocombustibles, tiene como objetivo asegurar que estos puedan sustituir paulatinamente al petróleo, y así perpetuar el patrón de vida de las sociedades del Norte, en base a la vieja dependencia de tipo colonial sobre los ecosistemas y pueblos del Sur. Es necesario por tanto, asegurar el control de territorios enteros, lo que implicará el desplazamiento de comunidades locales y de sus formas de vida, reemplazo de ecosistemas naturales por cultivos energéticos, y pérdida de soberanía alimentaria y patrimonial. El punto más alto de esta nueva “diplomacia del etanol” fue la visita del presidente Bush a Brasil, donde se consagró una nueva geopolítica energética. Un paso previo a la consumación de la alianza Lula – Bush, fue la creación de la Comisión Interamericana del Etanol, que es un grupo del sector privado co-dirigido por Luis Moreno - Presidente del BID, Jeb Bush, ex 5 6 gobernador de Florida y hermano del presidente estadounidense, y Roberto Rodrigues, presidente del Consejo Superior de Agronegocios de la Federación de Industrias del Estado de Sao Paulo, y ex Ministro de Agricultura en el primer gobierno de Lula. El objetivo de Estados Unidos es contar con una fuente de abastecimiento de sus nuevas necesidades energéticas. Lula, por su parte, aspira posicionarse como el líder del Sur y hacer de Brasil una potencia energética en base al etanol; asegurar un mercado estable para los agro-combustibles, así como de toda la cadena productiva relacionada (transferencia tecnológica para la producción agrícola, procesamiento, refinación y distribución). Una manifestación de las alianzas Lula – Bush fue la creación de la empresa Brazilian Renewable Energy Company (Brenco), una de las industrias más grandes en la materia5 , formada por inversionistas estadounidenses y brasileños. Con sede en Las Bermudas y encabezada por James Wolfenson ex-presidente del Banco Mundial, la empresa es dirigida por Phillippe Reichstul, el ex-presidente de Petrobras. Otro de sus inversionistas es David Zylbersztanjn, antiguo director de ANP6 y pariente político del ex Presidente Cardozo. LAS RUTAS DE LOS AGROCOMBUSTIBLES a. Brasil y Estados Unidos El gobierno brasileño está promocionando los agro-combustibles en Se iniciará con un capital de 240 millones de dólares e intentarán captar 2.000 millones de dólares Agencia Nacional de Petróleo, Gas Natural y Biocombustibles del Brasil Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 15 varios países del mundo. Desde el 2006, altos funcionarios del gobierno brasileño y representantes empresariales han visitado varios países latinoamericanos y del Caribe; y han establecido alianzas con varios países de la región y de África. Igualmente Petrobrás está asistiendo a varios países a desarrollar el marco técnico y legal en el tema. El proyecto político de Lula es convertirse en el nuevo líder del Sur y conseguir que Brasil acceda al Consejo de Seguridad de la ONU. En su gira nórdica, en septiembre de este año, Lula obtuvo ya el apoyo de varios países escandinavos. En el plano económico el objetivo es convertir a Brasil en el principal proveedor de agrocombustibles y de tecnología para etanol a escala mundial. Entre sus planes se incluye acceder al mercado de los Estados Unidos y Europa, vía las ventajas arancelarias que tienen los países de la Región Andina, Centro América y Caribe. Por eso quiere expandir la producción de caña de azúcar y palma aceitera, y plantas de procesamiento a esos países. También se ha volcado hacia el continente africano, y ha logrado obtener el apoyo de varios países africanos a través de acuerdos bilaterales y trilaterales de cooperación, y se ha apuntalado en la Unión Africana, pasando por alto varias agencias de las Naciones Unidas, para asegurarse la implementación de instrumentos legales y técnicos. Petrobrás y algunas compañías japonesas firmaron un memorando de entendimiento para la producción y venta de etanol, plantas para quemar el bagazo de la caña para la producción energética y oportunidades de venta de créditos MDL, y en su gira por la región Escandinava y 16 España, consiguió también importantes contratos. Para cubrir las necesidades del nuevo mercado agroenergético que se está construyendo, el Plan Nacional de Agroenergía de Brasil estima como área potencial para expansión de cultivos energéticos la cifra de 200 millones de hectáreas, incluyendo la “recuperación de áreas degradadas, reconversión de pastos y ‘reforestación’ de la Amazonia con palma”. Para poner en marcha el Plan, se debe construir una red de Alcohol-ductos, plantas de acopio, procesamiento, puertos, carreteras e hidrovías, lo que incrementará el uso de hierro proveniente de las minas del Gran Carajás, la destrucción de ecosistemas naturales y del tejido social en esta región de Amazonia, además de incrementar dramáticamente la producción de cemento y concreto, una de las industrias más sedientas de energía. b. La soya transgénica en Argentina y el Cono Sur. Transformar el paisaje del campo argentino en un monocultivo de 15,9 millones de hectáreas de soja transgénica sólo tomó 10 años, reemplazando la producción de cereales, carne y otros alimentos por la de sólo un producto para la exportación, concentrada en manos de las principales trasnacionales del comercio internacional. Ahora siendo el primer exportador mundial de aceites, Argentina busca convertirse el principal proveedor para la demanda europea de agrodiesel, para lo cual el gobierno argentino ya solicitó aranceles preferenciales a la Unión Europea. Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade La apuesta del agronegocio por la exportación de agrocombustibles ha puesto funcionar un engranaje de producción de agrodiesel en el que participan empresas como Vicentín, AGD-Bunge S.A y SACEIF Louis Dreyfus, y del sector petrolero (Repsol-YPF y la nacional ENARSA) que participan en proyectos de entre 25 y 30 millones de dólares. La capacidad prevista por el total de las plantas a instalar es de 3,1 millones de toneladas anuales. Para suplir la demanda de exportación de aceites y granos, y ahora la del agrodiesel de soya, y además cumplir con las nuevas metas para agrodiesel, se programa la deforestación de entre 4 y 7 millones más de hectáreas de bosques nativos para avanzar con la frontera soyera, e importar entre 3 y 4 millones de toneladas de soya provenientes de Bolivia, Brasil, y especialmente Paraguay, así como implementar toda una infraestructura para facilitar la exportación de soya desde el interior del país hacia los puertos y plantas de refinación. c. Las plantaciones de palma en ecosistemas naturales y territorios indígenas En la actualidad el 88% del comercio mundial de aceite de palma proviene de Malasia e Indonesia, lo que obedece a una expansión del área cubierta por este cultivo. En los últimos 20 años la producción se duplicó en Malasia y se triplicó en Indonesia, a costa de la desaparición de sus bosques tropicales. El crecimiento de las plantaciones de palma en Malasia e Indonesia responden a la creciente demanda de aceite de palma especialmente para el mercado europeo. A pesar de la defensa oficial de que la industria de la palma aceitera no ha producido deforestación, el gobierno de Sarawak, en el Borneo malayo, aceptó que se ha concesionado 2,4 millones de hectáreas de bosques para la industria palmícola y de la pulpa y papel, extensión que puede llegar a 3 millones de hectáreas a finales del 2007, que constituyen una cuarta parte del área total de Sarawak. Las empresas madereras transnacionales, una vez que deforestan una zona para la extracción de la madera, la siembran con monocultivos de palma, transformando el bosque en aceite. Aun cuando estos bosques son reclamados por comunidades indígenas como parte de sus territorios tradicionales, y aunque muchas de estas comunidades dependen de los recursos del bosque para su subsistencia, ni la legislación ni el gobierno han reconocido totalmente su derecho consuetudinario; y a pesar de sus continuas protestas, las plantaciones de palma continúan extendiéndose. El aceite de palma se perfila como la principal fuente para la producción de agrodiesel a costa de ecosistemas naturales y territorios indígenas también en otros países tropicales, constituyendo el caso más preocupante el de Colombia, donde las plantaciones de palma se extienden de la mano del paramilitarismo, desplazando a poblaciones enteras. En el Ecuador las plantaciones de palma se expanden a costa del territorio de poblaciones indígenas y afrodescendientes, destruyendo los últimos bosques del Chocó biogeográfico ecuatoriano. LOS ACTORES PRIVADOS Lejos de beneficiar a los pueblos, la industria de los agrocombustibles va a Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 17 beneficiar al creciente sector de los agronegocios que en cada uno de los países se han beneficiado tradicionalmente de la agricultura industrial dirigida a la exportación, como son los empresarios cañicultores de Sao Paulo, los grupos soyeros A Maggi y Los Grobo en Brasil y Argentina, etc. En el sector de agronegocios se deben sumar las grandes transnacionales que se dedican a la comercialización de granos y sus derivados (en este caso agrocombustibles), entre los que se incluyen las estadounidenses ADM, Cargill y Bunge y la francesa Louis Dryfus. Pero debido a la complejidad de esta nueva industria, hay otros sectores que trabajan en asociación con el sector de los agronegocios, entre los que se incluyen las empresas petroleras que, aunque aparentemente podrían ser las principales perjudicadas del surgimiento de los agrocombustibles, han tenido la habilidad de reciclarse y adaptarse a las nuevas circunstancias. La industria biotecnológica, que ve en los agrocombustibles una manera de vender sus semillas transgénicas, sin tener que enfrentarse a la resistencia que han generado los alimentos transgénicos. Y tenemos a la gran consumidora final que es la industria automovilística que se encuentra muy ocupada haciendo modificaciones tecnológicas en los motores de los nuevos automóviles en base a etanol o agrodiesel. En torno a los agrocombustibles, se han establecido un nuevo tipo de alianzas entre empresas de distintas ramas, siendo un ejemplo paradigmático, la sociedad establecida entre la petrolera BP y la biotecnológica DuPont quienes van a desarrollar, producir y comercializar en el mercado británico el biobutanol como un biocomponente de la gasolina, y su argumento es que no van a competir con cultivos alimenticios. Las empresas están aprovechando la capacidad biotecnológica de DuPont y la experiencia y know-how de BP en la elaboración de combustibles. En este contexto, BP anunció que ha seleccionado a la Universidad de Berkeley, al Laboratorio Lawrence junto la Universidad de Illinois para crear un Instituto de Biociencia. En el acuerdo, BP se compromete entregar a Berkeley la suma de US$ 500 millones por 10 años, suma que duplica todos los fondos corporativos que recibe la Universidad. El Instituto trabajará en 5 programas7 y en 24 laboratorios. Colaboran también con British Sugar para la introducción del biotetanol en el mercado. ACTORES TALES INTER-GUBERNAMEN- Varias organizaciones intergubernamentales están trabajando en la promoción de los agrocombustibles, desde sus distintas perspectivas, para en definitiva beneficiar a los sectores privados antes mencionados. En la próxima Reunión de las Partes del Protocolo de Kyoto, es muy posible que los agro-combustibles sean aceptados en el nuevo negocio del comercio de carbono. En varios países ya han calificado como proyectos MDL 8 relacionados con 7 Incluyendo secuestro de carbono, biocombustibles, bioproducción de combustibles fósiles (con el uso de microorganismos) y depolimerización de biomasa 8 MDL o Mecanismo de Desarrollo Limpio, a través del cual países del Norte transfieren fondos a Estados del Sur para que lleven a cabo proyectos que mitiguen el cambio climático, especialmente a través de plantaciones 18 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade agrocombustibles, por ejemplo en Indonesia se han presentado 3 proyectos MDL relacionados con palma; en Malasia, 12 proyectos MDL relacionados con el sector palma (lo que represente el 90,3% de los fondos), y hay varios fondos para palma en lista de espera. En el Ecuador hay 3 proyectos MDL relacionados con la generación de energía a partir de caña. En la región Latinoamericana, la Organización Latinoamericana de Energía OLADE, trabaja también en promover proyectos MDL e impulsa el desarrollo de marcos regulatorios y técnicos para la promoción de los agrocombustibles. Otra organización que tiene competencias con el tema agrícola y que impulsa los agrocombustibles es el IICA9 , En el pasado, esta agencia impulsó la revolución verde en la región. Hoy promueve los agrocombustibles, de la mano de los transgénicos. A nivel latinoamericano, el Banco Interamericano de Desarrollo BID está financiando varios proyectos relacionados con la promoción de agrocombustibles, incluyendo un fondo de 120 millones de dólares para la empresa Usina Moema Acucar E Alcool Ltda. de Brasil. Para Centro América ha aprobado un proyecto para facilitar el comercio local e internacional de agrocombustibles a través de “un marco sólido de normatividad y regulación para la producción y el uso de biocombustibles, promoviendo así el aumento de una producción sostenible”. El BID ha creado además un fondo de energía sostenible y cambio climático. Financia el desarrollo y ejecución de evaluaciones nacionales, análisis de estructura de políticas y asistencia a reformas de políticas 9 de inversiones en agrocombustibles, energía renovable y eficiencia energética. Entre las organizaciones que no están muy convencidas de los agrocombustibles se incluye el Fondo Monetario Internacional (FMI), y la Organización Mundial de Comercio. Le preocupa al FMI que los precios de los alimentos estén sujetos al precio de petróleo con la substitución de combustibles fósiles por agro-carburantes, y también los altos subsidios que requieren estos nuevos combustibles, pero tiene altas esperanzas en la segunda generación de agrocombustibles. Por otro lado, Organización Mundial de Comercio identifica algunos problemas relacionados con los agro-combustibles, pues son productos altamente subsidiados, y por otro lado, es difícil clasificarlos, porque pueden ser productos agrícolas, industriales o ambientales, y cada uno de ellos se rige por sus propias normas. En contraste, el UNCTAD, organización de las Naciones Unidas que trata temas de comercio y desarrollo ha lanzado la Iniciativa UNCTAD de Biocombustibles para promover la producción y mercado de agrocombustibles. Esta organización considera importante la participación privada en la promoción de estos nuevos combustibles, y la necesidad de insertar proyectos de agrocombustibles en el MDL. Propone establecer espacios de colaboración con otras organizaciones intergubernamentales y banca multilateral y regional. Desde distintos abordajes, todas estas organizaciones intergubernamentales Este es un organismo especializado del sistema inter-americano (OEA) que da asesoría técnica agrícola a los países miembros Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 19 ven en los agrocombustibles una oportunidad para la creación de un nuevo mercado energético; y a nombre del desarrollo, la protección ambiental y la erradicación de la pobreza, lo que hacen es exacerbar estos problemas. LA PROPUESTA DESDE EL SUR 10 En una reunión llevada a cabo en la ciudad de Quito, con organizaciones de diversos países del “Sur Global”, hicimos un análisis sobre la problemática de los agrocombustibles, sus orígenes e implicaciones para nuestro futuro, y entre otros aspectos, se analizó que los agrocombustibles pertenecen a una matriz que se basa en la ideología del “desarrollo”, que fue elaborada después de la Segunda Guerra como una manera de extender el colonialismo, continuar y profundizar de saqueo del que hemos sido objeto en los últimos 500 años. A finales del siglo XX, el desarrollo se vistió de verde y se acuñó el término “desarrollo sustentable”, que lo que hace en realidad es “sustentar” la dominación y el abastecimiento colonial, y se crea el “ambientalismo de mercado”, que pretende resolver la crisis ambiental (local o global) a través de instrumentos técnicos como los agrocombustibles, o de mercado, como la venta de servicios ambientales, los mecanismos de desarrollo limpio, la certificación, etc. Propusimos la necesidad de iniciar una transición hacia una sociedad post- petrolera sobre bases ecológicas, con un nuevo sentido del “desarrollo” que incluya la superación del capitalismo y el garantizar la Soberanía Energética en acuerdo y complementariedad con la defensa radical de la Soberanía Alimentaria. Propusimos un nuevo paradigma de des-desarrollo que incluya una transformación estructural radical de toda la economía y de nuestro estilo de vida y el desmantelamiento del macro sistema energético que sustenta y garantiza el poder global, que incluya la des-urbanización, para restituir la existencia de la población a escala humana, supliendo las necesidades en el mercado local y con fuentes de energía locales; la desglobalización del comercio y el transporte de mercancías, la des-petrolizar la economía, y la des-centralización en la generación y distribución de energía. FUENTES Isch, Edgar. Geopolítica de la apropiación de la naturaleza. Revista Opción, noviembre 2005 El Comercio. Los ejes del biocombustible y el petróleo. 9 de agosto del 2007. Quito. ESMAP. 2005. Potencial of Biofuels for Transport in Developing Countries. The World Bank Group. Washington. 10 Basado en el documento de posición del Sur Global sobre Soberanía Alimentaria, Soberanía Energética y la transición hacia una sociedad post-petróleo. Encuentro Internacional sobre Agrocombustibles, Soberanía Alimentaria, Soberanía Energética. Quito – Ecuador, del 27 de junio al 01 de julio de 2007. 20 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade IMF. World Economic Outlook. Spillovers and Cycles in the Global Economy. April 2007 Klare, M. 2004. Bush-Cheney Energy Strategy: Procuring the Rest of the World´s Oil. Foreign Policy in Focuys. Eneero 2004. http://biopact.com/2007/03/leadinginvestors-create-major-biofuel.html http://www2.dupont.com/Biofuels/ en_US/facts/BP-DuPontBiofuelsFact Sheet.html Ríos Roca. A. Programa regional de biocombustibles. Perspectiva energética regional. OLADE. Prensa Latina. Lula con empresarios suecos de salida hacia Copenhague. 12 de septiembre de 2006. Quagliotti De Bellis, B. Constantes geopolíticas en Oriente Cercano. La sórdida guerra del Petróleo. GestionPolis. Conferencia ofrecida en el Club Libanés del Uruguay. 21-noviembre-200 Soto, A. Lula busca apoyo escandinavo a la candidatura de Brasil para el Consejo de Seguridad de la ONU. Helsinki, 11 de septiembre del 2007. El País. UNTAC. 2006. The Emerging Biofuels Market: regulatory, market and Development Implications. Vergara, E. 2006. FAO impulsa desarrollo de agroenergías y biocombustibles. 27 de julio 2006. Associated Press White House. Veinte en Diez: Reforzr la Seguridad Energética de Estados Unidos, 23 de enero del 2007. Sitios web http://www.iica.int/noticias/detalles/ 2006/CP24-2006_eng.pdf IICA Proposes Cooperation Program for Biofuels Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 21 22 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade Impactos econômicos, sociais e ambientais devido à expansão da oferta do etanol no Brasil1 Horacio Martins de Carvalho 1. Preliminares O padrão de crescimento econômico estabelecido na sociedade capitalista contemporânea repousa, em particular nesta fase de afirmação global e hegemônica das idéias e práticas neoliberais, nas megaempresas capitalistas multinacionais, ainda que estas tenham origens nacionais bem determinadas. É, antes de tudo, um padrão econômico que tem como referencial a concepção de mundo na qual a direção do desenvolvimento e do governo das sociedades nacionais deve ocorrer cada dia mais sob o império de uma nação-rede (império dos EUA e dos paises industrializados que lhe são orgânicos na dominação mundial) e de um grupo restrito dessas megaempresas multinacionais, as quais definem a natureza e a forma do desenvolvimento econômico e do progresso técnico. Essa racionalidade capitalista contemporânea, que vem sendo construída há várias décadas, determinou e determina a forma como se dá e se dará a industrialização e, numa relação de causa e efeito, a composição da matriz energética mundial. Foram diversos os fatores que determinaram a dependência mundial da fonte energética não renovável com base no petróleo após o final do séc. XIX. O principal, talvez, tenha sido a diversidade de usos que o petróleo proporcionou com o sistemático avanço das ciências e das tecnologias aplicadas para a sua utilização desde o início da sua extração comercial (1859). Foi, no entanto, com o advento da indústria automobilística e da aviação, assim como das guerras, que o petróleo se tornou o principal produto estratégico do mundo moderno. As maiores 100 empresas do século XX estavam ligadas ao automóvel ou ao petróleo.2 Em 2004, a OIE (Oferta Interna de Energia) no mundo foi de 86,7% de energia de fontes não renováveis e 13,2% de fontes renováveis. Na OCDE3 , nesse ano, a OIE foi de 93,9% de energia de fontes não renováveis e de 6,1% de fontes renováveis. E o petróleo respondeu, em 2004, por 34% de toda a oferta energia gerada no mundo, sendo que na matriz energética brasileira ele respondeu por 37,9% da OIE em 2006. Segundo o governo dos EUA se prevê que o consumo mundial de energia aumentará 71% entre 2003 e 2030, e a maior parte desse aumento terá como fonte uma maior demanda de petróleo, carvão e gás natural. Para o final desse período (2030) 1 Este texto corresponde a uma nova versão, revista e ampliada, do meu texto denominado “Avalanche do Imperialismo Verde 2”. Curitiba, mimeo 5 p. 3 de maio de 2007. 2 As crises do petróleo. Introdução. In História, por Voltaire Schilling. http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/petroleo.htm. 3 São os seguintes os 30 países membros da Organisation de Coopération et de Développement Économiques - OCDE: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Eslovaca, República Tcheca, Suíça, Suécia e Turquia. Além desses países, também integra a OCDE a União Européia. Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 23 toda a energia renovável (incluído os agrocombustíveis) está estimada em 9% do consumo mundial de energia. Nesse sentido é relativo e perigoso se considerar como certo que os agrocombustíveis jogarão um papel importante na luta contra o aquecimento global.4 A política global de créditos de carbono evidencia que a intenção dos paises mais industrializados é a de manter o padrão econômico historicamente estabelecido na sua industrialização, mesmo com esforços de melhoria do seu rendimento energético. Isso quer dizer que a pretensão dos governos desses paises é a redução mínima da emissão de gases de efeito estufa (GEE) num nível apenas necessário para servir de base para a sua ideologia de pseudoparticipação no controle e redução do aquecimento global. Ao mesmo tempo, esses paises ampliam os processos de transferência das suas indústrias eletrointensivas e aquelas ambientalmente poluidoras do meio ambiente para os paises ditos como em desenvolvimento. A matriz energética brasileira apresenta uma composição mais dependente do petróleo (37,9% em 2006) do que a matriz mundial (34% em 2004), porém menos dependente do carvão mineral (Brasil 6,0% em 2006 e a mundial de 25,1% em 2004) e do gás natural (Brasil 9,6% em 2006 e a mundial 20,9% em 2004). No caso brasileiro a energia de fontes renováveis tem percentagem relativa bem elevada. Em 2006, a OIE no Brasil foi de 55,1% de energia não renovável e 44,9% de fontes renováveis. A composição da matriz energética brasileira em 2006, por fonte de OIE, foi: ⋅ não renovável: petróleo com 37,9%; gás natural 9,6%; carvão mineral 6,0%; urânio 1,6% 4 ⋅ renovável: energia hidráulica 14,8%; produtos da cana-de-açúcar 14,6%; lenha 12,4% e outras fontes 3,0%. Apesar dessa melhor qualidade da matriz energética brasileira em relação à matriz energética mundial, a composição das fontes de energia renovável apresenta problemas de outra natureza, mas muito preocupantes, tanto do ponto de vista econômico e social como ambiental. Duas fontes importantes de energia renovável, a hidráulica e a da biomassa, que representaram somadas 41,8% da oferta total de energia em 2006, tendem a se constituírem como espaços econômicos privilegiados das megaempresas multinacionais e nacionais, associadas entre si ou não, para a produção e consumo a partir de seus interesses corporativos, seja interno nas suas indústrias seja para venda nos mercados interno e externo. Por exemplo, “(...) a Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia (elétrica - HMC) e de Consumidores Livres (Abrace) reúne as principais companhias da indústria eletrointensiva ... consomem 20% da energia elétrica produzida no País ou 45% da soma total do consumo industrial. O faturamento das empresas filiadas à Abrace resvala nos R$ 260 bilhões anuais, o equivalente a 46,1% do valor da produção da indústria extrativa e de transformação; a 13% do faturamento de todas as empresas do país e a 26,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro”, como a própria associação define em seu site. Esse poder de fogo proveniente da união de empresas como Alcoa, Aracruz, Bunge, Camargo Corrêa, Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Gerdau e Votorantim exerce uma substantiva influência na definição de novos investimentos no setor de infra-estrutura e, em especial, no setor elétrico. Parte desses grupos têm interesse direto tanto na participação de consórcios para obras quanto no acesso à GRAIN. ¡No a la fiebre de los agrocombustibles! Junio de 2006, http://www.grain.org/go/agrocombustibles. 24 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade energia barata como ‘consumidores livres’ (consomem acima de 3 mil MW por mês e podem comprar eletricidade diretamente do produtor que desejarem- HMC) (...)”5. Um outro exemplo, um caso particular, ajuda a compreender essa tendência à monopolização no setor elétrico. “(...) Dados do Ministério de Minas e Energia demonstram que 408 indústrias eletrointensivas consomem 28,8% de toda a energia elétrica produzida no País, o que a faz, ao mesmo tempo, massiva exportadora de energia elétrica e água. Vejamos um exemplo prático metade da energia elétrica produzida em Tucuruí é contratualmente destinada à industria de alumínio. Cerca de 41% do custo final do processamento do alumínio corresponde à energia elétrica e, no caso de Tucuruí, isto é significativo porque sua tarifa subsidiada é 30% menor do que seria no sul ou sudeste do país. É por isto que o Japão produzia 1,1 milhão de toneladas de alumínio por ano e baixou a produção para apenas 41 mil toneladas/ano, passando a importar o restante. Neste caso, a indústria eletrointensiva é ‘competitiva’ porque, como todas as exportações de bens primários de baixo valor agregado, soma mão de obra barata, energia elétrica subsidiada e gigantescas quantidades de água virtual.”6 Com relação à fonte de energia a partir da biomassa, em particular a oferta de etanol e de lenha, a perspectiva é de oligopolização da produção pelo controle seja das usinas sucroalcooleiras para a oferta de etanol combustível e dos fornos de produção do carvão vegetal para a indústria siderúrgica, seja pelo controle em parte direto e em outra parte indiretamente da produção da matéria prima cana-deaçúcar e eucalipto. Portanto, por um lado, mesmo que a matriz energética brasileira, ainda dependente do petróleo, tenha na sua composição uma forte presença de fontes renováveis de oferta de energia, o que é desejável, por outro lado, essas fontes renováveis de energia estão sob controle econômico oligopolístico. Esse controle econômico das megaempresas lhes dá poder político de determinar como, quando e onde se dará essa oferta de energia renovável. Esse controle oligopolístico das fontes renováveis de energia ao mesmo tempo em que operam com fontes que poderiam desenvolver mecanismos limpos de produção de energia renovável permitem que as megaempresas se tornem os principais violadores das normas institucionais e da opinião pública no que se referem às questões sociais e ambientais. As fontes renováveis de energia a partir das usinas hidroelétricas e da biomassa (etanol, óleos vegetais e madeira) não devem ser dissociadas de outras variáveis como o controle do território (produção da biomassa), da água doce (energia elétrica e transportes), da presença do capital estrangeiro na economia do país, da oligopolização das fontes de energia renovável e da permissividade na remessa de lucros (royalties, dividendos, etc.). E como conseqüência desses fatores os impactos perversos de natureza econômica, social, ambiental, política e institucional na dinâmica do desenvolvimento do país. Dessa maneira, a reflexão sobre o caso particular da oferta de energia renovável a partir da biomassa, em especial do etanol combustível, não deveria ser dissociada da apreciação das demais fontes que constituem a OIE no Brasil. 5 In Mercado Ético. Assimetria entre empresas e consumidores define setor elétrico. http://mercadoetico.terra.com.br/ noticias.view.php?id=55 6 Henrique Cortez. O século do hidronegócio. Jornal do Brasil, 26/07/2005. In http://www.mabnacional.org.br/noticias/270705_hidronegocio.htm. Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 25 açúcar, a oferta interna de energia fornecida pelos seus derivados cresceu de 13,8%, em 2005, para 14,4% em 2006. 2. A matriz energética brasileira Retomando os dados gerais sobre a matriz energética brasileira, tem-se que OIE no Brasil, em 2006, apresentou a seguinte composição: 55,1% de energia não renovável e 44,9% de fontes renováveis. Essa composição por fonte foi: ⋅ não renovável: petróleo com 37,9%; gás natural 9,6%; carvão mineral 6,0%; urânio 1,6% ⋅ renovável: energia hidráulica 14,8%; produtos da cana-de-açúcar 14,6%; lenha 12,4% e outras fontes 3,0%. ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ Os derivados de petróleo continuam a liderar a participação na matriz energética, com 37,9% de oferta, ainda que tenha apresentado discreta redução (-2,1%) em relação a 2005. O gás natural é a fonte que mais cresce entre as fontes não renováveis da matriz energética. Nos últimos anos, sua participação na oferta interna dobrou de 3,7%, em 1998, para 9,5%, em 2006. A geração de energia de carvão mineral e de seus derivados caiu 3% em relação a 2005. E a oferta interna de energia elétrica cresceu 4,5%, chegando a 461,3 TWh, enquanto a geração termelétrica nuclear, com a operação das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, expandiu-se em 40%. Com relação à fonte renovável biomassa, em particular a cana-de- ⋅ O etanol destaca-se como grande fornecedor de energia a partir da biomassa. Na safra 2005/2006 produção nacional de etanol foi de 17,47 bilhões de litros, 10,8% maior do que a de 2004/5. Para a safra 2006/2007 a previsão é de 20,1 bilhões de litros, ou seja, 14,54% maior que a anterior.7 3. Energias de fontes renováveis na matriz energética brasileira ⋅ De acordo com a OCDE, o Brasil deve manter a liderança na produção de energias renováveis pelos próximos 25 anos entre os países emergentes. ⋅ A energia renovável representa 44,9% da matriz energética brasileira, ante 14% no mundo e apenas 6% nos países mais desenvolvidos da OCDE. ⋅ No caso do Brasil, a expressiva participação da energia hidráulica (14,8 % da energia renovável) e o uso representativo de biomassa (cana 14,6 % e lenha 12, 4%) proporcionam indicadores de emissões de CO2 bem menores que a média dos países desenvolvidos. ⋅ No Brasil, a emissão é de 1,57 ton. de CO 2 por tep 8 da OIE, enquanto nos países da OCDE a emissão é de 2,37 toneladas de CO2 por tep, ou seja, 51% maior. 7 Fonte: Balanço mostra mais energia da cana em 2006. Empresa de Pesquisa Energética (EPE ). 07/04/2007 TEP: tonelada equivalente petróleo. Poder calorífico do petróleo = 10.000 kcal/kg ou 1 Tep; poder calorífico da lenha = 3.100 kcal/kg ou 0,310 tep. 8 26 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade ⋅ . No entanto, apesar da produção mais limpa de energia, essa organização (OCDE) estima que as emissões de dióxido de carbono (CO2) pelo Brasil para a atmosfera vão aumentar em 70,5% até 2030, superior à média mundial, que será de 52%.9 ⋅ Em relação a 2005, a demanda por energia renovável no Brasil decresceu apenas nos usos da lenha (-1,4%), em razão de recuo na cocção de alimentos pelo maior uso do GLP. A maior demanda por energia renovável continuou sendo “hidráulica e eletricidade”, com 14,8% do total da oferta interna de energia. Houve, porém, expressivo aumento da participação dos derivados da canade-açúcar, que passou a representar 14,6 % da matriz energética brasileira (9,6% de crescimento). Todavia, esse esforço governamental e privado de aumento das fontes de energia não renováveis reforça um viés que mantém esse aumento da oferta de energia de fonte hidráulica e da biomassa dependente dos megaprojetos e do capital estrangeiro. Segundo o prof. Garzon10 , o Plano de Aceleração do Crescimento – PAC instituído em 2007 pelo governo federal reforça o abastecimento energético de forma enviesada: ele já vem contaminado pelos interesses particulares e de projetos específicos de grandes grupos econômicos. O PAC é, desse ponto de vista, um programa perverso, pois reforça os que já são fortes e não estabelece nenhum tipo de prioridade para resgatar os setores que encadeiam a economia nacional, ou seja, voltados para o mercado interno, para os mercados regionais, para processos de agregação de valor e multiplicação de talentos, de capacidade, de geração de tecnologias. É crescente o esforço da classe dominante no Brasil, seja a partir dos organismos governamentais, seja das grandes empresas privadas nacionais e estrangeiras, de aumentar a oferta de energia de fontes renováveis como a energia de fonte hidroelétrica e a da biomassa, esta em particular a partir da cana-de-açúcar. Isso porque essas megaempresas nacionais e multinacionais já possuem o controle efetivo da oferta de energia elétrica no país, tem garantias de que ganharam novas licitações para novas hidroelétricas e construam as barragens e usinas com a impunidade pelos impactos ambientais e sociais típicos de situações de exceção política favoráveis ao grande capital. Caminho similar, ainda que um pouco mais amplo, se constrói para a expansão oferta de etanol e de madeira, seja para celulose seja para carvão vegetal, tanto no nível da produção da matéria prima seja no da sua industrialização. Sem dúvida que há uma demanda mundial crescente por agrocombustíveis e que o Brasil apresenta condições favoráveis para participar de maneira importante no atendimento dessa demanda. No entanto, as formas como cresce a oferta de agrocombustíveis no Brasil, em especial a de etanol combustível, revela desde logo uma inadequação entre o aumento da oferta de etanol e a afirmação da soberania popular no país. Continuam sendo reproduzidas aquelas condições e práticas econômicas, sociais e ambientais absolutamente incompatíveis com o que se afirma pela noção de desenvolvimento de mecanismos limpos e sustentáveis de incremento das fontes renováveis de energia. 9 Soraia Abreu Pedrozo. Brasil mantém liderança em energia limpa. BM&F Brasil, 28 de junho de 2007, 11h17 (site BM7F). Entrevista sobre PAC, obras de infraestrutura do governo, etc. com Luis Fernando Nóvoa Garzón, da Unicamp. Páginas da Unisinos, 25 jun 07. 10 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 27 4. Demanda de etanol combustível Três fatores têm sido determinantes para a tendência de alteração discreta da matriz energética mundial: a) a elevação, discreta mas crescente, dos custos da extração, do refino e da distribuição do petróleo; b) a inviabilidade objetiva das grandes empresas multinacionais do petróleo controlarem como desejavam as fontes de petróleo no oriente médio e, recentemente, na Venezuela; c) as questões ambientais, entre elas a redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE) que contribuem para o aquecimento global. Já há, no entanto, a determinação da maioria dos governos dos paises do mundo de substituírem parte da gasolina pelo etanol. A referência é se alcançar em 2017 a substituição de 20% da gasolina pelo etanol em todo o mundo. No Brasil, essa percentagem de mistura de etano, na gasolina já alcança 25% desde 1º de julho de 2007. Mesmo com essa percentagem de mistura de etanol na gasolina o país ainda terá 4 bilhões de litros de etanol excedente.11 ⋅ ⋅ Os EUA possuem 40% de toda a frota mundial de veículos. Portanto, as demandas esperadas de etanol por parte desse país são muito significativas pelo volume da demanda potencial. O EUA e o Brasil produzem juntos 70% de todo etanol do mundo. Isso significou em 2006 cerca de 38,5 bilhões de litros de etanol combustível. Sendo que os EUA produziram 20 bilhões de litros e o Brasil 18,5 bilhões de litros. ⋅ No entanto, o consumo de etanol nos Estados Unidos deve ter ultrapassado os 22,7 bilhões de litros em 2006. ⋅ Em 2005, o governo norte-americano impôs uma meta compulsória de uso de 28,3 bilhões de litros de agrocombustíveis ao ano até 2012; no começo de 2007, 37 governadores propuseram que esse número fosse elevado a 45,3 bilhões de litros ao ano em 2010, e o presidente Bush elevou ainda mais essa meta, para 132 bilhões de litros anuais em 2017. ⋅ Nos EUA mais de 22 bilhões de litros de etanol serão necessários a cada ano para substituir o aditivo conhecido como MTBE12 , tendo em vista reduzir os seus efeitos poluentes sobre o lençol freático. Desde 1990 a gasolina sem chumbo poderia conter de 10% a 15% desse produto.13 ⋅ A perspectiva é de que os Estados Unidos reduzam o consumo de gasolina em 20% até 2017. Isso supõe aumentar em 800% o consumo de etanol em 2017. Mesmo que a produção de milho dos Estados Unidos cresça a 30% ao ano, não alcançará volume para satisfazer demanda de agrocombustíveis além de garantir a oferta para alimentos. ⋅ Acresce-se a isso que o custo do etanol da cana-de-açúcar é muito menor do que aquele extraído do milho. Surge daí uma das causas da necessidade dos capitalistas buscarem sócios estratégicos nos paises onde o etanol possa ser produzido com menor custos e a partir da cana-de-açúcar. 11 Mistura de anidro na gasolina passa para 25% em 1º de julho, (13/06/2007) in http://www.portalunica.com.br/portalunica/?Secao=ÚNICA. MTBE: éter metil-butil terciário, molécula criada a partir da mistura do isobutileno e metanol e que potencializa a octanagem. É um aditivo oxigenado que melhora a combustão no motor. É cancerígeno. Contamina as águas e solos e pode ser persistente nas águas subterrâneas. 13 C. Ford Runge e Benjamin Senauer. A bolha do etanol. Revista Foreign Affairs 12 28 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade A demanda potencial de etanol combustível no nível mundial será crescente e continuada. É necessário salientar que somente a China e a Índia possuem juntas um terço da população mundial (2,3 bilhões de habitantes) e devem continuar a ter altas taxas de crescimento econômico, o que implicará supostamente em aumento da demanda de etanol e de óleos vegetais combustíveis para dar conta das recomendações da mistura etanol com gasolina e dos óleos vegetais para utilização pura ou em mistura com o diesel. E se considerarmos, ainda, os paises industrializados como aqueles da Comunidade Européia, o Japão, a Coréia e a Rússia tudo leva a crer que a corrida pelo etanol e pelos óleos vegetais significará mais do um processo conjuntural. Representará uma mudança estrutural no perfil da oferta de matéria prima mundial para o etanol e os óleos vegetais combustíveis, em especial no Brasil. Essa tendência de alteração da matriz energética mundial está induzindo as grandes empresas capitalistas multinacionais a viabilizarem alternativas energéticas mais rentáveis em curto e médio prazo, em particular relacionadas com os agrocombustíveis como o etanol e os óleos vegetais. Está-se, portanto, em presença de uma disputa mundial pela dominação das fontes de energia a partir da biomassa, em especial pelos territórios com recursos naturais mais adequados para a produção da matéria prima necessária. 5. Monopolização da oferta da energia da biomassa As fontes de energia a partir da biomassa se inserem no movimento geral e histórico de monopolização das fontes de energia não renováveis pelos grandes capitais. Na atual conjuntura é o etanol o principal produto, mas tudo leva a crer que os óleos vegetais seguirão o mesmo curso. Isso se deve ao fato de que o etanol e os óleos vegetais tornar-se-ão uma importante fonte de agrocombustível para consumo mundial, tendo já se transformado num grande negócio de caráter multinacional. O BID diz que o Brasil tem 120 milhões de hectares disponíveis para o plantio de matérias-primas para os agrocombustíveis, e os grupos de pressão de Europa estão falando de quase 400 milhões de hectares que estariam disponíveis para plantações com destino a agrocombustíveis em 15 países africanos. Está-se falando de uma expropriação de territórios numa escala sem precedentes.14 Há a hipótese, segundo especialista alemão15 , de que o Brasil tem o potencial de abastecer 40% do combustível mundial proveniente da biomassa.16 O Brasil tem uma posição privilegiada nessa estratégia mundial devido ao clima favorável com cerca de 200 milhões de hás terras potencialmente disponíveis, com disponibilidade de força-de-trabalho abundante e barata. Além de conhecimento e experiência na extração do etanol da cana-de-açúcar. No entanto, essas pretensões das megaempresas e dos governos de diversos paises industrializados sobre o território brasileiro, sobre as supostas áreas passíveis de serem ocupadas com culturas que forneçam matérias primas para a produção de agrocombustíveis, nega a presença nesses territórios de populações originárias, de camponeses, de vilas e áreas de proteção ambiental, entre outros elementos. Supõe, como o fez na ocupação 14 GRAIN. ¡No a la fiebre de los agrocombustibles! Junio de 2006, http://www.grain.org/go/agrocombustibles. Ernst Schrimpff, Presidente da Associação Federal Alemã de Óleos Vegetais. 16 Schrimpff, Ernst (2006). A experiência européia de combustíveis renováveis, com destaque aos óleos vegetais. In Werner Fuchs (ed.). Colha óleos vegetais. Curitiba, Edição do Autor, 120 p.; p. 18. 15 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 29 européia do continente americano no século XVI, que há no Brasil um território vazio, de gentes e de biodiversidade, passível de ser explorado, agora pelo capital monopolista das megaempresas multinacionais. ⋅ Para abastecer 5% do mercado mundial de etanol combustível, o Brasil precisará aumentar a sua produção em seis vezes, atingindo 100 bilhões de litros. O dobro disso seria necessário para substituir 10% do consumo mundial de gasolina. ⋅ Conforme a CONAB (2007)17 a área ocupada com cana-de-açúcar no Brasil na safra 2007/2008 é de 6,6 milhões de hectares, superior em 7,40 % à safra anterior, e assim distribuída: 82,49% nas regiões Centro-Sul e 17,51 % nas regiões N e NE. A cana vem crescendo basicamente nas áreas anteriormente ocupadas com pastagens. ⋅ ⋅ ⋅ 17 30 A produção nacional estimada de álcool para a safra 2006/2007 será de 20,01 bilhões de litros, superior em 14,54% (2,54 bilhões de litros) à da safra anterior. Desse total a região Centro-Sul participa com 91,20% (18,25 bilhões de litros) e a Norte e Nordeste com 8,80% (1,76 bilhões de litros). Dos 20,01 bilhões de litros de álcool, 46,73% (9,35 bilhões de litros) serão de anidro; 53,11% (10,63 bilhões de litros) de hidratado e 0,16% (32,08 milhões de litros) de neutro, cf. CONAB (op.cit.). A produção total estimada de canade-açúcar no Brasil para a safra 2007/ 2008 é de 528 milhões de ton. Desse total, 88,67% destina-se à indústria sucroalcooleira, e o restante para a fabricação de cachaça, alimentação animal, sementes, fabricação de rapadura, açúcar mascavo e outros fins. ⋅ Do total de cana-de-açúcar (468,15 milhões de ton.) que estará sendo esmagada em 2007 pelo setor sucroalcooleiro, São Paulo esmagará 59,41% (278,11 milhões de ton.); o Paraná 8,97% (42,00 milhões de ton.); Minas Gerais 7,85% (36,74 milhões de ton.); Alagoas 5,16% (24,14 milhões de ton.); Goiás 4,24% (19,85 milhões de ton.) e Pernambuco 3,50% (16,39 milhões de ton.) (cf. CONAB, op.cit.). ⋅ Supõe-se que em cinco anos a área com cana-de-açúcar deverá atingir 10,3 milhões de hectares com produção prevista de 728 milhões de toneladas. Dessa matéria-prima sairão 38 milhões de toneladas de açúcar e 38 bilhões de litros de álcool, variando essa percentagem entre açúcar e álcool em função das demandas futuras. Numa estimava para um futuro de médio prazo a indústria sucroalcooleira tem a pretensão de atingir no país a marca de 110 bilhões de litros de etanol anuais. Nessa perspectiva, se mantido os atuais níveis médios de produtividade da canade-açúcar e os de rendimentos na fabricação do etanol, os canaviais teriam que ocupar 28 milhões de hectares, próximo à metade dos cerca de 60 milhões que perfazem toda a área usada hoje pela agricultura nacional. As áreas de expansão dos plantios de cana-de-açúcar estão localizadas nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, sudoeste de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, sul do Maranhão, sudoeste do Piauí e oeste da Bahia. CONAB (julho 2007). Safra cana 2007/2008 Estimativa. 1º Levantamento, maio 2007. Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade O Estado de São Paulo detém 58,52% da produção de cana-de-açúcar do país, com 3,5 milhões de has plantados em 2007 (52,1% da área total de cana no país), e tem como expectativa ampliar mais 1,7 milhão de hectares do produto nos próximos cinco anos, somando uma área total de 5,2 milhões de hectares. Mas, o preço das terras poderá transferir essa produção para Minas Gerais. O Brasil vai construir, em média, duas a 3 usinas de álcool e açúcar por mês até 2013. Hoje com 336 unidades, deve chegar a 409 (ou 598, com os projetos em consultas) até o final da safra 2012/2013. Fora as 73 usinas confirmadas, há hoje no Brasil 189 consultas em andamento, tanto para construção como para ampliação de unidades. As regiões de Ribeirão Preto e Araçatuba no interior de São Paulo se tornaram área de visitação obrigatória para os interessados na fabricação do álcool. Somente o presidente da Usina Moema, Maurílio Biagi Filho, recebeu, no seu escritório de Ribeirão Preto, vários grupos de executivos, autoridades governamentais e empresários de mais de 20 paises nos últimos 16 meses com um interesse em comum: o álcool. Originários de países da América Central (Cuba, inclusive), Venezuela — com um grupo de usineiros e quatro diretores da estatal de petróleo (PDVSA), Colômbia, Peru, Equador, Bolívia, México, Estados Unidos, China, Coréia do Sul, Japão, Tailândia, Índia, Austrália, Alemanha, França, Suécia, Holanda e África do Sul.18 O grupo Odebrecht, líder da construção e petroquímica na América Latina, está disposto a investir R$ 5 bilhões na produção de etanol nos próximos oito anos. Sua meta é tornar-se líder do setor num prazo de dez anos, quando terá capacidade de moagem de 30 bilhões a 40 bilhões de toneladas de cana.19 A perspectiva é de que o etanol combustível brasileiro seja negociado como “commodity” na próxima safra. A pretensão de certificação poderá tornar-se possível devido ao projeto “Programa de Qualidade Triplo A - Etanol” da empresa de pesquisa brasileira Triplo A – Normas. É um programa que está filiado ao “FoodPlus/Eurepgap” — empresa da União Européia que desenvolve protocolos de qualidade para as cadeias produtivas do agronegócio.20 A Case IH comemorou a produção de sua 1000 colheitadeira de cana no Brasil. “Não temos limite de capacidade, uma vez que essa máquina tem índice de nacionalização de 92% e os nossos fornecedores estão bem preparados”, declarou Valentino Rizzioli, presidente da CNH Latin America. Segundo Isomar Marticher, diretor comercial da CNH para o Brasil e Argentina, a produção em 2007 será de 550 unidades, ante 265 unidades em 2006. Para 2008, ele espera produzir 40% mais. “Produziremos em 2007 e 2008 mais do que nos últimos dez anos”. 21 Essa abertura indiscriminada para a produção de etanol combustível é que torna o Brasil um território global em disputa pelas grandes potenciais mundiais e suas megaempresas multinacionais. A presença do capital estrangeiro é elevada tanto para a aquisição de terras como de usinas sucroalcooleiras (ver adiante em Impactos, capítulo 7). 18 Angela Fernanda Belfort. Álcool : o Brasil no foco mundial. LQES NEWS. (esta matéria foi primeiramente veiculada no Jornal do Commércio (Recife, Brasil), em 20 de agosto de 2006, dentro da rubrica JC Economia). 19 CEPAT. Conjuntura da Semana. Uma leitura das Notícias do Dia do IHU de 27 de junho a 03 de julho de 2007. 20 Márcio Rodrigues. Projeto brasileiro pode garantir certificação do álcool na próxima safra, in Folha ON LINE 04/06/2007 - 09h00 21 Gazeta Mercantil. Case acelera produção de colheitadeiras. Busca Fácil, 19/4/2007 10:03:00. Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 31 6. Etanol a partir da lignocelulose O processo de fabricação do etanol celulósico consiste na extração do etanol de toda forma de resíduo vegetal (lignocelulose), partes das árvores e os resíduos agrícolas. O EUA prevê, em médio prazo, talvez até 2030, a conversão anual de 1,3 bilhões de toneladas de biomassa seca em 227 bilhões de litros de etanol, o equivalente a 30% do seu consumo de combustíveis, tudo isto supostamente com pequeno impacto na produção de alimentos ou de madeira. O Departamento de Energia dos Estados Unidos irá investir US$ 385 milhões em seis biorefinarias de etanol celulósico. O valor será aplicado até 2010. Os seis projetos vão produzir cerca de 480 milhões de litros de etanol celulósico por ano, além de outros subprodutos como hidrogênio, amônia e metanol. Alguns projetos também irão gerar bioeletricidade. Esse investimento faz parte do plano de tornar o etanol celulósico competitivo em 2012. A hipótese é se combinar usinas extratoras de etanol celulósico com aquelas de diesel vegetal, para aproveitar as folhas, caules, bagaços e demais resíduos agrícolas. O etanol celulósico, segundo o governo do EUA, deixaria para trás o debate “combustível versus comida”, uma vez que apenas resíduos agrícolas e florestais seriam empregados em sua produção. Sua eficiência na redução de gases de efeito estufa (GEE) é maior que o etanol do milho. Enquanto um litro de etanol de milho reduz as emissões de GEE em apenas 18%, o etanol celulósico propicia um corte nas emissões de até 88%. No Brasil já estudos para a produção de etanol de origem lignocelulósica. Há interesses e investimentos em pesquisa a partir de organismos governamentais e universidades públicas até grandes empresas de pesquisa constituídas pelas megaempresas nacionais e de capital estrangeiro. Conforme Gonçalves (2007) 22 o etanol celulósico estará sendo vendido no Brasil no máximo 10 anos. Se alguns resultados mais recentes de conversão enzimática se confirmarem, sendo aplicados em escala maior, a previsão pode cair para 5 ou 6 anos. O principal obstáculo hoje é a produção e a aplicação de enzimas em larga escala, tendo o processo baseado na hidrólise enzimática do bagaço de cana. 7. Impactos econômicos, sociais e ambientais devido à expansão da oferta de etanol Impactos econômicos: concentração e centralização da riqueza ⋅ Preços da terra: do início de 2002 a agosto de 2004, as terras para grãos subiram 244% em Presidente Prudente (SP), por exemplo, mas, com a queda das “commodities”, esses preços recuaram 29% daquela época até fevereiro de 2007, conforme dados do Instituto FNP23 . A área de pastagem, que já havia perdido espaço para a soja até 2004, agora perde para a cana. A valorização nos últimos cinco anos foi de 66%. 22 Adilson Roberto Gonçalves (2007). Entrevista por e-mail a Terra Magazine, in Daniel Bramatti. Etanol celulósico chega em até 10 anos. Terra Economia, 14 de março de 2007, 09h31. 23 In AgraFNP, ver http://www.fnp.com.br/terras/index.php. 32 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ Táticas de produção: dos 3,67 milhões de hectares de cana-deaçúcar cultivados em São Paulo (safra 2006/2007), um milhão pertence às próprias usinas. Outro um milhão é de fundos de produtores agrícolas (pessoas físicas) e 1,67 milhão refere-se às parcerias e ou arrendamentos (relação entre fornecedores de cana e usinas).24 Renda da terra: a pressão pela aquisição de terras aliada à expansão das monoculturas inflaciona os preços das terras e a renda paga pelos arrendamentos. Há dois anos, pagavam de 10 a 15 toneladas de cana por hectare quando arrendavam terras na região de Araçatuba (São Paulo). Hoje, não encontram mais terra para arrendar com valores inferiores a 20 toneladas. Em Mato Grosso do Sul, o arrendamento já se dá na faixa de 30 a 35 toneladas por alqueire.25 Expansão da fronteira de cana: a expansão da área plantada com cana em São Paulo, com a conseqüente valorização do preço das terras, pressiona as demais lavouras e áreas de pastagens para novas fronteiras. E Minas Gerais será o caminho preferido, conforme avaliação da Unica. O Estado de Minas Gerais, que na safra 2006/2007 produziu 33,56 milhões de toneladas de cana, já tem estimativa (CONAB, op.cit.) de produzir na safra 2007/2008 um estimado de 40,96 milhões de ton., ou seja um aumento previsto de 20,10 %. Se essa tendência se mantiver, o Estado de Minas Gerais deverá produzir em 2011/12 cerca de 80 milhões de ton. o que significará cerca de 1 milhão de hectares plantadas com cana-de-açúcar. Na safra 2007/2008 foi plantado 490 mil hás com cana. ⋅ A produção de cana também avança para os Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Paraná. Juntos, esses Estados, que estimam colher na safra 2007/2008 124 milhões de ton., poderão alcançar 253 milhões em 2012/13. Ou seja, vão acrescentar 129 milhões de toneladas em relação à produção atual, o que equivaleria a uma ampliação do plantio de 1,63 milhão de hectares nesses quatro Estados. ⋅ Novas usinas e capital estrangeiro: para dar conta da moagem dessa cana, o setor deve investir US$ 17 bilhões e acrescentar no curto prazo 76 novas usinas às 336 já existentes.26 ⋅ Levantamento da empresa de consultoria KPMG mostra que foram oito as aquisições de usinas pelas megaempresas em 2005 e nove no ano passado, e a consultoria prevê que o número deve chegar a 12 em 2007. Desde 2005 houve 29 aquisições por novos proprietários de usinas brasileiras, das quais 13 passaram às mãos de grupos internacionais.”27 ⋅ A forte demanda mundial pelo álcool está trazendo o capital estrangeiro, que já detém o controle de 18 usinas, com capacidade de moagem de 28 milhões de toneladas por safra. Esse volume representa 5,9% da safra nacional 2006/2007 (475 milhões de ton. de cana). Com esse apetite dos investidores externos, “daqui a cinco anos 9,6% da moagem estará nas mãos de estrangeiros, o que 24 Mauro Zafalon. Boom do álcool dobra valor de terra e usina, in FSP 18-03-07 Mauro Zafalon. Minas Gerais assume segundo lugar na cana. FSP. 26 Mauro Zafalon. Minas Gerais assume segundo lugar na cana. FSP. 27 Cibelle Bouças. Número de aquisições de usinas deve bater recorde esse ano. Jornal Valor, quinta-feira, 31 de maio de 2007 16:22. 25 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 33 vai corresponder ao processamento de 70 milhões de toneladas”, diz Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). Eles (capital estrangeiro - HMC) vão ter 27 unidades somente no Estado de São Paulo.28 ⋅ usados como substitutos do milho, a área reservada ao seu plantio está caindo devido à ampliação das plantações de milho pelos agricultores. ⋅ Os preços dos alimentos estão subindo em ritmo preocupante na Europa, China, Índia e nos Estados Unidos. Neste ano (2007), a inflação dos alimentos deve ficar em 4% nos EUA, ante 2,5% em 2006. Será a maior inflação de alimentos em 17 anos. O preço do frango industrializado subiu 30% em um ano nos EUA. O leite nos EUA deverá subir 14% neste ano. Na Europa, o preço da manteiga subiu 40%. O trigo está sendo negociado a preços recordes no mercado futuro. Na China, o porco subiu 20% em 2006 e o índice de preços de alimentos na Índia subiu 11%. No México, o aumento de 60% no preço das “tortilhas” causou protestos.31 ⋅ O governo dos Estados Unidos continua a subsidiar pesadamente os produtores de milho e os de etanol. Os subsídios diretos à produção de milho no país atingiram os US$ 8,9 bilhões em 2005. Ainda que esse total deva cair em 2006 e 2007 devido aos preços elevados do milho, o sistema vigente de subsídio pode em breve ser soterrado sob a ampla gama de créditos tributários, concessões de verbas e empréstimos públicos que fazem parte do projeto de lei de energia aprovado em 2005 e de um projeto de lei da agricultura que tem por objetivo apoiar os produtores de etanol. O governo federal já oferece aos refinadores de etanol um credito tributário de 14 centavos de dólar por litro que produzem, e muitos Estados pagam subsídios adicionais.32 Mas, há outras versões e informações sobre o tema. Lídia Moraes 29 adverte que “(...) todos estão preocupados com os EUA, mas o país que mais compra usinas no Estado de São Paulo é o Japão. São cerca de 40 usinas. Contando que o Brasil tem 377 usinas operacionais, este é um dado perigoso”. Impactos econômicos na alimentação O enorme volume de milho requerido pelo setor de etanol está causando ondas de choque em todo o sistema de alimentação nos EUA (o EUA responde por cerca de 40% da produção mundial de milho, e por mais da metade das exportações totais). No Brasil, a CONAB (julho 2007) admite que milho, soja e trigo vêm perdendo áreas nos Estados de MT, MG, SP e no PR, com provável repercussão nos seus preços futuros.30 ⋅ Em março de 2007, no EUA, os preços futuros do milho ultrapassaram a marca de US$ 4,38 por bushel (27,21 kg.) ante US$ 2,40 em 2006, a qual foi considerada a maior alta em 10 anos. Os preços do trigo e do arroz também dispararam para as marcas mais elevadas em 10 anos, porque ao mesmo tempo em que esses cereais passam a ser mais 28 Mauro Zafalon. Boom do álcool dobra valor de terra e usina, in FSP 18-03-07 Lídia Maria Pepe Moraes (UNB) (2007), entrevista a Daniel Bramatti, in Etanol celulósico chega em 10 anos. Terra Magazine, 14 de março de 2007, 09h31. http://terramagazine.terra.com.br/interna. 30 Fabíola Gomes, in Etanol no lugar de alimentos. São Paulo, Jornal O Estado de São Paulo, 4 julho 2007. 31 Patrícia Campos Mello. Os alimentos vão subir de preço por causa do etanol in O Estado de São Paulo, 01 julho 07. 32 C. Ford Runge e Benjamin Senauer A bolha do etanol. Revista Foreign Affairs. 29 34 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade O Banco Mundial estimou que, em 2001, 2,7 bilhões de pessoas viviam com menos de US$ 2 ao dia, no mundo; para elas, aumentos ainda que moderados nos custos dos cereais básicos poderiam ser devastadores. Encher o tanque de um veículo utilitário esportivo (95 litros) com etanol puro requereria mais de 200 quilos de milho, um volume de cereal que contém calorias suficientes para alimentar uma pessoa por um ano. “O Instituto Internacional de Políticas de Alimentos estimou que o preço da cesta básica irá subir de 20 a 33 por cento até o ano 2010, e de 26 a 135 por cento até 2020. O consumo calórico tipicamente declina quando os preços sobem na razão de 1:2. A cada 1 por cento de aumento no custo dos alimentos, 16 milhões de pessoas perdem a sua segurança alimentar. Se as atuais tendências continuarem 1,2 bilhões de pessoas poderiam estar cronicamente famintos em 2025, ou seja, 600 milhões a mais do que havia sido previsto anteriormente.”33 As possibilidades de deslocamento das áreas atuais com plantio de cereais no Brasil, devido ao aumento relativo dos preços das terras, ainda são bastante favoráveis devido às grades extensões de terras agricultáveis passíveis de serem postas em produção, inclusive as áreas com pastagens para criação extensiva de bovinos. No entanto, tudo leva a crer que haverá redução relativa de produção de alimentos. Já há uma tendência no aumento das importações de alimentos no país. Ambientais A expansão do cultivo da cana-deaçúcar tende a consolidar o modelo econômico dominante na agricultura brasileira que é a afirmação das grandes áreas de monoculturas (como na soja, algodão, milho e outros cereais) e a artificialização da agricultura, esta a através dos cultivos transgênicos, fertilizantes de origem industrial, uso intensivo de agrotóxicos e de herbicidas, da automação, da mecanização pesada e da aviação agrícola. Esse modelo é ambientalmente insustentável e favorece a degradação ambiental. ⋅ Um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, o óxido nitroso (N2O), tem como principal fonte de emissão a agricultura, que é 310 vezes mais poluente34 que o dióxido de carbono (CO2), o mais comum na atmosfera.35 ⋅ Contaminação das águas e do solo pelos agrotóxicos e os herbicidas, assim como saturação dos solos pelos fertilizantes nitrogenados. ⋅ Compactação dos solos pela motomecanização pesada. ⋅ Os dados do último levantamento da Conab (10º Levantamento da Safra 2007/08, maio 2007) para a cana-deaçúcar apontam a expansão da cultura na comparação da atual safra ante 2006/07: em Minas Gerais houve aumento de 16,8% na área plantada em Mato Grosso do Sul, 18%; e no Paraná, 25%.36 ; 33 Runge, C. Ford e Senauer, Benjamin (2007). Como os biocombustíveis podem matar os pobres de fome, Foreign Affairs, May/june. Citado por Eric Holt-Giménez (2007). Biocombustíveis: Os Cinco Mitos da Transição dos Agro-combustíveis. Food First/Institute for Food and Development Policy. Tradução do inglês por Ana Amorim. 34 Poder destrutivo dos gases de efeito estufa – Existe um conceito conhecido como Potencial de dano global (ou Global Warming Potential – GWP), que se refere ao poder destrutivo das moléculas de cada gás de efeito estufa. A molécula de dióxido de carbono equivale a 1 neste índice. O metano (CH4) tem um potencial 21 vezes maior que o CO2. O óxido nitroso (N2O) tem um potencial de dano 310 vezes maior que o CO2. O hexafluoreto de enxofre (SF6) tem um GWP 23.900 vezes maior que o CO2. 35 Soraia Abreu Pedrozo. Agricultura libera gases mais poluentes. BM&F Brasil . 16 de abril de 2007, 14h55 . 36 Fabíola Gomes, in Etanol no lugar de alimentos. São Paulo, Jornal O Estado de São Paulo, 4 julho 2007. Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 35 ⋅ Pressão da área plantada com canade-açúcar desloca outros cultivos e criações para o Centro-Oeste do país, criando nova fonte de pressão sobre novas terras a Amazônia. pela presença massiva dos plantios de cana-de-açúcar cercando fisicamente as comunidades camponesas e indígenas. ⋅ Desemprego: o governo do Estado de São Paulo e a Unica (União das Indústrias de Cana-de-Açúcar) assinaram um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para acabar com as queimadas nas áreas de canade-açúcar até 2017. Segundo o governador de São Paulo, José Serra, o objetivo é chegar a 2014 com 100% da área mecanizada sem queimadas e com apenas 440 mil hectares de queimadas referentes às áreas não mecanizadas — aquelas cujo desnível impede o acesso de máquinas.37 ⋅ Exploração dos bóias-frias: a partir da década de 1990 - quando se consolida o processo de tecnificação desta agricultura, pelo uso intensivo de máquinas colhedeiras de cana, capazes de substituir até 120 trabalhadores, ocorreram vários processos simultâneos: aumento da precarização das relações de trabalho, existência de alguns casos de condições análogas à de escravo, aumento abusivo da exploração da força de trabalho, por meio da produtividade em torno hoje de 12 toneladas de cana cortada por dia, ocorrência de mortes súbitas, supostamente em função da fadiga e de mortes lentas, simbolizadas por uma verdadeira legião de mutilados. ⋅ Para um total de dez toneladas de cana, há a necessidade de 9.700 golpes de facão, portanto quase 1.000 golpes por tonelada. A este cenário podem se acrescentados: o calor excessivo, pois a jornada de trabalho inicia-se ás 7:00 hs e termina por Impactos Sociais Se no cultivo da soja a demanda de força de trabalho nos cultivos era reduzida, no cultivo da cana-de-açúcar a tendência dominante é a de utilização de grades contingentes de força de trabalho assalariada temporária. Essa demanda de força de trabalho se, por um lado, redistribui salários para uma grande massa de trabalhadores desempregados ou em situação de emprego precário, por outro lado, como é usual nos cultivos da cana-de-açúcar no Brasil, a superexploração do trabalho e a prática de trabalho em situação similar às dos escravos se amplia e se consolida. A expansão das monoculturas, além de degradarem o meio ambiente e realizarem a ampliação da exploração do trabalho assalariado, destrói os territórios camponeses provocando o êxodo rural, ampliando mais ainda as desigualdades sociais no campo e na cidade. ⋅ ⋅ 37 Exclusão social do campesinato pela concentração das terras, introdução massiva de arrendamentos de terras e crescimento dos contratos de integração agroindústrias – camponeses, assim como a desorganização dos territórios camponeses e de médios produtores com a monocultura da cana-deaçúcar. Deslegitimação da cultura camponesa e dos povos originários Márcio Rodrigues. Usinas terão até 2017 para colher cana sem queimadas em São Paulo.Folha ON LINE. 04/06/2007 - 18h19 36 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade volta das 17:00 hs; a fuligem que é aspirada no momento do corte; a má alimentação; a violência simbólica existente no ambiente laboral, no sentido de considerar frouxo, fraco, aquele que não consegue atingir a produtividade (média) exigida, além da ameaça de perder o emprego, caso isto ocorra. (p.4 e 5). Na década de 1980, a média (produtividade) exigida era de 5 a 8 toneladas de cana cortada/dia; em 1990, passa para 8 a 9; em 2000 para 10 e em 2004 para 12 a 15 toneladas!38 ⋅ a imposição das altas taxas de produtividade do trabalho, levandoos, em alguns casos, à morte, é suportada em virtude deste processo de introjeção da autodisciplina que 39 os acompanha durante toda a vida. 7. A avalanche verde imperialista: macroconseqüências A ofensiva das grandes empresas capitalistas nacionais e multinacionais para o controle e monopolização da fonte de energia renovável etanol faz-se como uma avalanche: carrega ou destrói qualquer barreira que se interponha a ela, seja econômica, política, ideológica ou institucional. Essa avalanche é estimulada pelo governo brasileiro que já se comprometeu com as estratégias das grandes potencias, em particular os EUA, de facilitar a elas o controle da fonte de energia renovável a partir da biomassa no Brasil, via a grande inversão de capitais, compra de terras, de implantação e compra de usinas sucroalcooleiras e de produção de óleo diesel. Essa atitude política do governo brasileiro tem ressonância internacional considerável, mais fortemente em relação com os paises latinoamericanos. O Brasil, através dos acordos com EUA, tornar-seão a plataforma do imperialismo verde norte-americano para a América Latina, via acordos entre governos e fusões das empresas Brasil-EUA com outras dos paises canavieiros do continente. A questão fundamental, nas relações com os paises latinoamericanos (e outros, com certeza) está no controle oligopolista pelas megaempresas multinacionais, via suas experiências no Brasil, das tecnologias recentes transgênicas tanto para as novas variedades de cana-de-açúcar como para os novos fermentos. Essa avalanche do imperialismo verde constrange ou desarticula qualquer proposta dos governos de reforma agrária; muda e reduz as formas de controle social sobre o capital , seja pelo enfraquecimento político e ideológico do Congresso Nacional seja pela despolitização das lutas sociais populares, estas arrefecidas pelas políticas governamentais compensatórias; estimula e consagra a monocultura; institui de forma massiva o arrendamento capitalista de terras; cerca e desarticula economicamente o campesinato e, em última instância, integra os camponeses ao capital pelos contratos de produção. Essa avalanche potencializa o assalariamento rural temporário massivo e em condições precárias (bóias-frias), amplia a exploração dos trabalhadores e cria sistemas de controle político e trabalhista para a perseguição à filiação e luta sindical. 38 Maria Aparecida de Moraes Silva (2006). Mortes dos “severinos” nos canaviais paulistas, in Conflitos no campo em 2005. Goiânia, CPT, Gráfica e Editora América, p.162-166. 39 Maria Aparecida de Moraes Silva e Rodrigo Constante Martins. A modernidade da economia Junker à moda contemporânea do rural paulista: a degradação social do trabalho e da natureza (Uma versão preliminar deste texto foi publicada no Dossiê Dimensões da Questão Agrária no Brasil da revista Lutas e Resistências (Londrina, n.1, p.91-106, set.2006). Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 37 Os apelos e denúncias ambientalistas estarão sendo sufocados política e economicamente pela altíssima movimentação e alocação de capitais estrangeiros e pela potencial introdução do etanol celulósico tendo como fonte de energia a partir de partes das plantas e dos resíduos agrícolas. Essa nova lógica do capital verde tenta superar o conflito produção de alimentos versus produção de agrocombustíveis e mascara a apropriação privada da terra e o controle financeiro das usinas e distribuição dos combustíveis (álcool e diesel vegetal) pelo capital estrangeiro. Do ponto de vista político e ideológico o etano celulósico facilita a manipulação da opinião pública e a cooptação de ONGs próximas ao capital. A implantação desse imperialismo verde demanda estabilidade social no país, já em curso pelas empresas multinacionais e pelo governo. O que significa o controle social dos movimentos sociais populares, sindicatos de trabalhadores, pastorais e ong’s críticas, seja através da cooptação e ou da repressão; o livre acesso às terras devolutas e dos latifúndios sem ameaças de reforma agrária e ocupações de terras; a flexibilidade das relações de trabalho assalariado no campo, seja via a legislação seja via a terceirização sem controle político e social, e a redução da importância das medidas governamentais de fiscalização da predação do meio ambiente. 38 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade ANEXO MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA. DADOS PRELIMINARES DE 2006 Fonte: MME; Resenha Energética Brasileira (março 2007) OFERTA INTERNA DE ENERGIA - OIE (mil tep) FONTES 2005 2006 NÃO RENOVÁVEL 121.349 124.321 Petróleo 84.553 85.485 Gás Natural 20.526 21.721 5,8 Carvão Mineral 13.721 13.464 -1,9 Urânio (U 3O 8) 2.549 3.650 43,2 RENOVÁVEL 97.314 101.434 4,2 Energia hidráulica 32.379 33.452 3,3 Lenha 28.468 28.058 -1,4 Produtos cana-de-açúcar 30.147 33.043 9,6 OUTRAS RENOVÁVEIS 6.320 6.880 8,9 TOTAL 218.663 225.754 3,2 % Produto Interno Bruto - PIB 06/05 % 2,4 3,7 ESTRUTURA % DA OFERTA INTERNA DE ENERGIA FONTES 2005 2006 NÃO RENOVÁVEL 55,5 55,1 PETRÓLEO 38,7 37,9 GÁS NATURAL 9,4 9,6 2,5 CARVÃO MINERAL 6,3 6,0 -5,0 URÂNIO (U3O8) 1,2 1,6 38,7 RENOVÁVEL 44,5 44,9 1,0 ENERGIA HIDRÁULICA 14,8 14,8 0,1 LENHA 13,0 12,4 -4,5 PRODUTOS DA CANA-DE-AÇÚCAR 13,8 14,6 6,2 OUTRAS RENOVÁVEIS 2,9 3,0 5,4 100,0 100,0 0,0 TOTAL 06/05 % -2,1 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 39 40 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade Contextualização e problematização dos agrocombustíveis no Brasil Jean Pierre Leroy* Eric Hobsbawm assinala três mudanças fundamentais na era da Revolução Industrial, num período que ele baliza de 1789 a 1848: o início da “explosão” demográfica; o desenvolvimento das comunicações, não só das estradas e, a seguir, das ferrovias, mas da velocidade e da capacidade de carga; e enfim, do comércio internacional e da emigração1 . Apoiado no uso do carvão mineral e na máquina a vapor, o capitalismo industrial inicia seu curso triunfal que culminará nas Décadas Gloriosas, dos cinqüenta, sessenta e setenta do século XX, a “Era do Ouro”, também sintetizada por Hobsbawm. Nesses “anos dourados”, o mundo ocidental alcançou uma prosperidade da qual a grande maioria da sua população se beneficiou, mas o historiador trata essa Era como um fenômeno mundial, pois “a população do Terceiro Mundo aumentou de maneira espetacular” e, durante certo período, a fome endêmica desapareceu” 2 . Isso não significava “prosperidade”. Pelo contrário, ao mesmo tempo em que se mantinha uma distância incomensurável entre os países ocidentais industrializados, a muito relativa melhoria da sua situação podia dar a ilusão que a sua sorte estava começando a mudar. Com a ideologia do desenvolvimento que nasce e cresce com o fim da segunda guerra mundial e o início da guerra fria, o modelo de produção e de consumo do mundo ocidental industrial se estabelece como parâmetro a ser atingido pelas nações então ditas subdesenvolvidas. Explode o consumo de energia, tendo como vedetes o petróleo e o nuclear, alcançando as massas populares da Europa. Petróleo torna-se poder, não para os países produtores, mas para as grandes corporações. Hiroshima prenuncia a energia nuclear, batizada energia do futuro. Mal se chegou, no Brasil, na América Latina e no “Sul” do mundo, a provar as delícias dos anos dourados. No entanto, não adianta espernear, afirmar que os países industrializados são os culpados e reivindicar o nosso direito de país “em desenvolvimento” a gastar a energia que precisamos para crescer. Vivemos a ressaca mundial de uma “embriaguez energética”, resultado de um modelo de produção e de consumo que foi sobretudo de outros. Mesmo que as previsões sejam menos catastróficas para nós que para os EUA e a Europa, as mudanças climáticas vão nos alcançar e quem persistir sem buscar alternativas ao uso da energia fóssil arriscará ficar para trás. Tem-se a sensação que há um enorme abismo entre o mantra repetido pela maioria dos governos da América Latina, pelo empresariado e apoiado por boa parte das nossas sociedades, renovando fé e esperança no crescimento, e as profundas mudanças que a catástrofe planetária que se aproxima recomendaria. Por memória, lembro que a persistência das enormes desigualdades sociais tampouco comove e que não é de se admirar que a maioria continua insensível ao que não lhe afeta direta e imediatamente. Não se trata somente de buscar uma transição lenta e gradual para outros combustíveis, mantendo o mesmo 1 HOBSBAWM, Eric .J. A Era das Revoluções 1789 – 1948. Paz e Terra, 4a ed., Rio de Janeiro, 1982. P.187-191 HOBSBAWM, Eric .J. Era dos Extremos O breve século XX 1914-199. Companhia das Letras, 2a ed., São Paulo, 1995. P. 255. * Coordenador do Projeto Brasil Sustentável e Democrático/Fase 2 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 41 padrão de consumo, mas de reverter drasticamente - e acrescentaria: tragicamente – o padrão de produção e de consumo. O organizador deste livro foi um dos primeiros a fazer uma aproximação da questão energética no Brasil sob o ponto de vista da sustentabilidade democrática3 . Seu estudo, depois de empreender uma crítica radical ao modelo energético brasileiro e ao cenário futuro businesss as usual, iniciava uma reflexão sobre o que poderia ser a “sustentabilidade energética” no nosso país. Muito se caminhou e a energia renovável ganhou as manchetes e entrou no vocabulário usual. No entanto, não é por acaso que sua aceitação na prática se restringe quase que exclusivamente à energia hidroelétrica e à de biomassa. Há tempos que a matriz energética brasileira está principalmente calcada na energia hidroelétrica e o mercado dessa energia é extremamente interessante, para as construtoras de obras e de equipamentos, e para as vendedoras de energia. Quanto à energia de biomassa, o Brasil soube, quando da primeira crise do petróleo, aproveitar da sua condição de grande produtor de cana de açúcar para encorajar o carro funcionando com etanol e, com o alerta climático geral e a previsão de esgotamento das jazidas de petróleo, entrar com vontade na produção de biodiesel. Estará assim o Brasil no caminho certo? Como essa vontade, e mesmo esse entusiasmo para energias renováveis, se combinam com a aposta no crescimento a qualquer custo? Este crescimento, na maioria das áreas no qual ele se apóia agronegócio, siderurgia, montadoras de automóveis, petroquímica, papel-celulose, etc, é manifestamente insustentável do ponto de vista sócio-ambiental. As energias renováveis por si só são indicativas de alguma mudança no modelo de desenvolvimento existente ou este modelo pode absorvê-las? Pode-se buscar um elemento da resposta no tratamento dado aos pequenos empreendimentos. Este livro mostra como custou para criar o Proinfa e como é difícil viabilizar pequenos empreendimentos, distantes (ainda) do mercado; como é difícil aceitar a produção descentralizada e autônoma de energia quando a produção e a distribuição de energia são vistas antes de tudo como mercado e não como serviço. Assim, a primeira questão a colocar quando se fala de energias renováveis é se são sustentáveis, se elas se inserem dentro de uma concepção de desenvolvimento e de sociedade sustentáveis. Por isso, recupero aqui uma reflexão coletiva desenvolvida durante alguns anos no quadro do Projeto Interinstitucional Brasil Sustentável e Democrático4 . Nos acostumamos a falar de desenvolvimento sustentável, seguindo, conscientemente ou não, a definição do Relatório Brundtland: “O desenvolvimento sustentável é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. Essa definição serviu de referência para a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - Unctad, a Rio 92. Satisfazer as necessidades? Ótimo, não posso ser contra. Mas quais são essas necessidades? Quem as define? A Agenda 21 respondeu implicitamente. Nela, o desenvolvimento sustentável é entregue aos cuidados do mercado, como anuncia o seu capítulo 2, pudicamente intitulado “Cooperação 3 BERMANN, Célio e MARTINS, Oswaldo Stella. Sustentabilidade Energética no Brasil. Limites e possibilidades para uma estratégia energética sustentável e democrática. Projeto Brasil Sustentável e Democrático. Cadernos Temáticos No 1. Rio de Janeiro, Fase, 2000. 4 Sob o patrocínio do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - FBOMS, esse Projeto era coordenado por AS-PTA, Fase, Ibase, IEE/USP, IPPUR/UFRJ, PACS, Redeh. 42 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade internacional para acelerar o desenvolvimento sustentável dos países em desenvolvimento e políticas internas correlatas” 5 que vai, portanto, definir quais são as necessidades, tendo alguns critérios para norteá-lo: redução da pobreza e melhoria do meio ambiente. Sabemos que o mercado se orienta pela busca do lucro, que os desejos do consumidor são orientados em grande parte pelo mercado, e que ele se preocupa com o meio ambiente somente quando a pressão dos consumidores assim o exige. No fundo, a definição Brundtland e a Agenda 21 nos convidam, com algumas ressalvas, a continuar com o modelo de produção e de consumo atuais. Este modelo, claro, é convidado a se adaptar, produzindo novas tecnologias poupadoras de recursos naturais e energia, com as quais se abrem novas fontes de lucros para a indústria de bens de capital dos países mais industrializados. Sustentabilidade não é algo dado. Porque os donos do poder econômico e político definiriam de antemão o que é bom para todos? Não são as suas estratégias de manutenção da dominação que reforçam os mecanismos de exclusão e de reprodução das desigualdades, assentadas em boa parte sobre o saque dos recursos naturais e o do meio ambiente? Os países industrializados manifestam uma hipocrisia sem igual quando propõem ao mundo seu modelo de desenvolvimento, quando sabem que a extensão desses privilégios ao mundo inteiro é impossível, já que ele supõe justamente a manutenção de parte da humanidade na iniqüidade. E nós, aqui, não sabemos também que os miseráveis nunca chegarão a possuir os bens de consumo ditos necessários no atual padrão de consumo? Não sabemos que a perseguição desse desenvolvimento supõe a reprodução dessa mesma desigualdade? O seminário que deu origem à Rede Brasileira de Justiça Ambiental, na sua Declaração Final, definiu injustiça ambiental como “o mecanismo pelo qual sociedades desiguais, do ponto de vista econômico e social, destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento às populações de baixa renda, aos grupos raciais discriminados, aos povos étnicos tradicionais, aos bairros operários, às populações marginalizadas e vulneráveis”. Não se faz omelete sem quebrar os ovos! Quando se constata que são os que nos levaram a essa situação os que dizem promover o desenvolvimento sustentável, a circunspeção sobre o conceito de “desenvolvimento sustentável” se impõe. O capitalismo fez dele um oximoro, unindo duas palavras que, juntas, formam uma contradição. Entendemos a sustentabilidade não como algo dado, mas como um projeto a construir, o projeto de uma outra sociedade. Portanto, um projeto de democracia. Se uma minoria atrelou e subordinou a sustentabilidade ao mercado e à ideologia que o sustenta, outros grupos sociais e classes podem lutar para que outros valores se imponham à consciência da humanidade. Definimos sustentabilidade como “o processo pelo qual as sociedades administram as condições materiais da sua reprodução, redefinindo os princípios éticos e sociopolíticos que orientam a distribuição de seus recursos naturais”6. Como processo, a sustentabilidade não é algo pré-estabelecido, mas é uma construção social. Não dá para dizer ‘alcançamos a sustentabilidade’ ou ‘se mudamos isso e aquilo, vamos atingi-la’. É uma permanente procura ativa de melhores condições de vida, “em inter- 5 Câmara dos Deputados. Comissão de defesa do consumidor, Meio ambiente e minorias. Agenda 21 Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e o desenvolvimento. Brasília, Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 1995. 6 LEROY, Jean-Pierre et alii. Tudo ao mesmo tempo Agora. Desenvolvimento, sustentabilidade, democracia: o que isso tem a ver com você?. Rio de Janeiro: Ed. Vozes/Projeto Brasil Sustentável e Democrático, 2002. pág. 18. Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 43 relação constante com as condições do meio ambiente e do planeta”, deveríamos acrescentar à nossa definição. Nessa redefinição entram os princípios éticos da não dominação e da convivência com a natureza, a moderação no uso dos bens materiais, a absoluta predominância do valor de uso sobre o valor de troca, o princípio da precaução e o de responsabilidade, o da solidariedade e da equidade, o senso dos limites, etc. Uma outra reflexão, ao retomar de outra forma essas idéias, poderá talvez ajudar a entender o nosso propósito. Nos anos 90 do último século, o Instituto alemão Wuppertal, num projeto em conjunto com outras organizações como Amigos da Terra e Misereor, elaborou o conceito de espaço ambiental, decorrente da “capacidade de sustentação” do planeta. Essa capacidade de sustentação faz com que devamos nos contentar com um espaço de consumo definido entre o sobre consumo ecologicamente não sustentável no teto e, no piso, a privação socialmente não sustentável7 . Elaborada na Europa, a noção se situa dentro do marco atual modelo de produção e de consumo, entre produzir e consumir menos, no Norte, e mais, no Sul. Ela “deixa clara uma concepção de sustentabilidade expressa em quantidades” 8 e não em qualidade. Quer dizer: “Não basta perguntar quanto dos recursos se está utilizando se não se pergunta também ‘para que?’ e ‘para quem?’”9 . Ao espaço ambiental, com seu máximo (abaixo do consumo de matéria e energia que faria o teto voar, o planeta não suportar) e seu mínimo (acima da “linha da pobreza”) opusemos a idéia de “linha de dignidade” 10 . Que tipo de consumo seria digno, não só para os de baixo, mas para todos, sendo uma indignidade estar tanto abaixo quanto acima dessa linha imaginária e evidentemente flutuante, já que é fruto de uma construção social? Quantidade ou qualidade? Aqui está a nossa primeira preocupação: que a oferta de energia renovável, em particular a bioenergia, se resuma a uma estratégia do capital surfando na nova onda ambiental e não mais do que isso. Quando se oferece sob o selo da sustentabilidade carros e caminhos que possam utilizar etanol ou biodiesel, não mudamos nada no modelo de desenvolvimento. Este continuará baseado sobre o modelo de transporte individual e o uso intensivo de recursos naturais. Mesmo poupando combustíveis fosseis, continuamos gastando energia para produzir aço e veículos. Pouca coisa nos distingue do século XIX e do salto que deu, quando o comércio começou a se mundializar. Encontramos mais uma “solução” para evitar enfrentar a questão de fundo: de um lado, a reorientação para o transporte coletivo e as ferrovias, hidrovias e navegação de cabotagem; e do outro, a imperiosa necessidade de reduzir os circuitos de produção e comercialização, extremamente energívoros e destruidores das economias locais e regionais. Uma segunda preocupação prendese à histórica e sempre presente tragédia agrária brasileira. O programa biodiesel do governo federal merece ser reconhecido. Qual governo, antes deste, investiu tanto na agricultura familiar? A intenção de aproveitar o momento para fazer com que uma parte do campesinato se aproveite da demanda potencialmente explosiva de energia renovável era e é louvável. Porém, é possível que essa estratégia ajude os 7 SPANGENBERG, Joachim H. Critérios integrados para a elaboração do conceito de sustentabilidade. Projeto Brasil Sustentável e Democrático. Cadernos de debate No 3. Rio de Janeiro: Fase, 1999, p.21. 8 ACSELRAD, Henri. Sustentabilidade e desenvolvimento: modelos, processos e relações. Projeto Brasil Sustentável e Democrático. Cadernos de debate No 4. Rio de Janeiro: Fase, 1999, p.17. 9 Id. Ibid. 10 PACHECO, Tânia (org.). Seminário Linha de dignidade construindo a sustentabilidade e a cidadania. Rio de Janeiro, Fase/Projeto Brasil sustentável e Democrático/ Programa Cone Sul Sustentável, 2005. 44 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade pequenos produtores e assentados a enfrentar o avassalador movimento de concentração de terra e de capital no campo e o mercado e a “mistura explosiva” que a combinação de agronegócio e de biocombustíveis representa11 ? Vale ressaltar que, mais do que o biodiesel, o carro chefe das energias renováveis é o etanol. A produção da cana de açúcar passa longe da democratização da terra e da sustentabilidade12 . Vastas extensões de terra contínua estão sendo subtraídas aos ecossistemas naturais; a queima da cana e o uso de agrotóxicos continuam. Mais famílias estão sendo compelidas a sair da roça. A exploração da mão de obra se sofisticou. O famélico morador do engenho nordestino é substituído no corte pelo bóia-fria atlético turbinado com anabolizantes. A produção do biodiesel escapa hoje em boa parte do programa governamental, e começa a trilhar o mesmo caminho insustentável da cana. A soja não tem uma grande eficiência energética. Seu óleo é um sub-produto e o farelo, o principal produto, utilizado para alimentação animal, o que elevou o Brasil ao posto de segundo maior produtor e exportador mundial13 . Mesmo assim, os produtores de soja em particular, se posicionam fortemente também como produtores potenciais de biodiesel. Se a eficiência energética do óleo de soja é baixa, a eficiência dos lobbys do agronegócio poderá suprir essa carência. A publicação do GT Energia do FBOMS, já citada, reproduz e comenta uma esclarecedora declaração do Sr Antônio Ernesto de Salvo, presidente da Confederação da Agricultura-CNA: “Não somos contra o apoio que se dá à agricul- tura familiar, entendemos que é necessário, mas não podemos aceitar que se criem castas privilegiadas para um ou outro segmento da cadeia produtiva” 14 . Não há dúvida que essa flagrante injustiça será reparada. O caderno +Mais! da Folha de São Paulo de 21 de janeiro de 2007 exibia uma foto e uma manchete sugestivas. A legenda da foto nos informa que “o Presidente Lula e o governador Blairo Maggi (ambos com um largo sorriso) exibem provetas com biodiesel extraído da soja na inauguração de uma usina em Barra do Bugre”. A foto estampada corresponde na medida exata à manchete: “Embriaguez bioenergética”. Não será desta vez, quando a combinação do ideal desenvolvimentista e da política de estabilização macro-econômica exige apoio irrestrito às classes produtoras e exportadoras que a mão beneficente do Estado vai desampará-las. O peso na balança do Programa Biodiesel de um lado, e do outro, do agronegócio, é bastante desigual. A mesma relação entre o renovável e o sustentável deve ser feita com a hidroeletricidade. Há alguns anos uma Comissão mundial convocada pelo Banco Mundial condenou as grandes barragens como insustentáveis. A Professora Andréa Zhouri, estudiosa dos impactos sociais e ambientais dos empreendimentos hidroelétricos em Minas Gerais, chama a atenção para a insustentabilidade socioambiental dessas barragens. De Balbina a Barra Grande, não faltam escândalos para nos lembrar o estrago ambiental que causam essas barragens. No plano social, soma-se mais de um milhão de pessoas atingidas diretamente. Os estudos de Célio Bermann mostram que 11 NORONHA, Sílvia; ORTIZ, Lúcia (coordenação geral) e SCHLESINGER, Sergio (coord. editorial). Agronegócio e biocombustíveis: uma mistura explosiva. Impactos da expansão das monoculturas para a produção de bioenergia. GT Energia do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – FBOMS. Rio de janeiro: Núcleo Amigos da Terra, 2006. 12 Ver RODRIGUES, Délcio & ORTIZ, Lúcia. Em direção à produção de etanol de cana de açúcar no Brasil .São Paulo: Amigos da Terra Brasil e Vitae Civilis, outubro 2006. Disponível em: www.vitaecivilis.org.br/anexos/etanol_sustentabilidade.pdf 13 Ver SCHLESINGER, Sergio. Soja:. O grão que cresceu demais. Rio de Janeiro: Fase, 2006. 14 NORONHA, Silvia, op. cit, p. 9. Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 45 uma parte ponderável da energia elétrica é destinada a indústrias eletro-intensivas que produzem poucos empregos e exportam, através da energia, nossa água. Quando o setor de alimentos e bebidas fornecia em 2000, 884.901 empregos e consumia 15.732 GWh de eletricidade, o de alumínio primário gerava 14.877 empregos e consumia 19.951 GWh. A siderurgia, por sua vez, fornecia 50.365 empregos por um consumo elétrico de 15.541 GWh 15 . Entraram no Programa de Aceleração do Crescimento–PAC, as hidroelétricas de Santo Antônio e Girau, no rio Madeira, em Rondônia e de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará. A Alcoa, que começa a explorar uma mina de bauxita no município de Juruti, no oeste do Pará, já manifestou a sua intenção de construir uma planta industrial de refino da bauxita e uma de fabricação de alumínio, à condição que Belo Monte seja construída. As nossas vantagens comparativas são impressionantes: minério em abundância, menos pressão sobre as empresas para que cumpram rigorosas normas ambientais, energia altamente subsidiada, incentivos fiscais. Vale reconhecer a importância e o sucesso do programa Luz para Todos, mas a discrepância entre o tratamento dado a grandes empresas e às pequenas e médias empresas brasileiras e ao consumidor doméstico é enorme. Preocupa a intenção manifestada pelo governo de orientar parte da produção de álcool etanol e de biodiesel para a exportação. A União Européia acaba de publicar seu novo plano energético, que impõe colocar na sua gasolina e no seu diesel 10% de biocombustível até 2020. Observadores estimam que a Europa não terá condição de produzir biomassa em quantidade suficiente para atender às exigências colocadas pelas novas normas, sem colocar em risco o seu abastecimento alimentar. No problem! O Brasil está a seu serviço; e não só ele, como se informou em Davos. O professor Mário Ferreira Presser, coordenador do Curso de Diplomacia Econômica da Universidade de Campinas (Unicamp), disse à Agência Brasil que “isso tem vários atrativos: contempla os africanos, os europeus, o Brasil. Resolve a questão do clima, da pobreza e da liberação do mercado de açúcar e álcool”16 . O Brasil exportaria parte do seu álcool e do seu biodiesel e venderia sua tecnologia. O avanço da pecuária e da soja sobre o cerrado e a floresta amazônica em particular, nos fazem imaginar o impacto que tal dinâmica teria, tanto sobre os ecossistemas quanto sobre a sua população de pequenos produtores e agroextrativistas sobrevivente. Mesmo que a tendência dominante no governo esteja clara, o Programa Biodiesel, fomentado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, de um lado, e, do outro, o apoio aos lobbys do agronegócio manifestado pelo Ministério da Agricultura mostram a disputa de projetos que permeia ainda governo e sociedade. Importa por isso apoiar as políticas públicas voltadas para as energias alternativas, para que não se subordinem à lógica do mercado e mantenham seu caráter público, num duplo sentido: o de criar mecanismos de redução das desigualdades que não sejam meras medidas compensatórias, e o de ter uma visão de futuro, para além dos interesses imediatos. As energias renováveis e sustentáveis oferecem condições de responder a esses dois parâmetros da ação pública. Elas supõem uma visão descentralizada da geração e da distribuição de energia. Elas abrem a possibilidade de inovação, já que estamos ainda no início. Vemos aqui uma rica possibilidade de desenvolvimento de 15 BERMANN, Célio. Exportando a Nossa Natureza. Produtos intensivos em energia: implicações sociais e ambientais. Cadernos sobre Comércio e Meio Ambiente No 1. Brasil Sustentável e Democrático. Rio de Janeiro: Fase, 2004. 16 Mylena Fiori, enviada especial a Davos, capturado em mensagem da Rede GTEnergia de 26 de janeiro de 2007. 46 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade tecnologia apropriada própria; a geração de empregos em número bem maior do que o fornecido no sistema atual; um efeito de sinergia a ser criado localmente entre a geração e a distribuição e empreendimentos agroindustriais e industriais locais. Somos convidados a sair do “pensamento único” sobre o nosso desenvolvimento. Porque chamar de desenvolvimento somente o que aparece no balanço comercial e no PIB? Incentivar o aquecimento de água com energia solar, micro-solução de fácil e barata implantação, não vai por si só incrementar os indicadores econômicos, mas evitariam a construção de uma hidroelétrica de bom tamanho, que esta, sim, constaria do PIB. Micro-usinas de geração hidroelétrica, ou de produção de energia de biomassa ou eólica para comunidades, isoladas ou não, embora possam ser um instrumento poderoso de desenvolvimento local, ainda são consideradas como experiências totalmente marginais, para as quais nem existe marco regulatório. O ambiente começa a mudar. Os Programas analisados neste livro abrem um caminho. A permanente campanha das organizações sociais e ambientalistas que questionam o modelo energético atual, confortadas agora com as primeiras projeções do painel internacional de cientistas sobre “nosso futuro comum”, produzirá, com o apoio da opinião pública enfim sensibilizada, outras mudanças. Concretamente, se multiplicam as iniciativas, tais como a das “cidades solares” 17 , incentivando prefeituras a investir no aquecimento solar. No Pará, organizações da sociedade civil, junto com pesquisadores e políticos locais, discutem com o Programa Luz para Todos e a Eletronorte, um Projeto de Medida Provisória que “dispõe sobre a 17 18 instituição de Sistema Integrado de Produtores Independentes de Energia e as condições de comercialização com a distribuidora em sistemas isolados” 18 . Evidentemente que, por si só, esse tipo de iniciativas não resolve a situação. Mas elas têm que ser vistas como parte de um novo movimento de abordagem da crise energética. Esperamos que no final do século, um novo Hobsbawm possa escrever: “2007, o ano em que, frente à catástrofe ambiental anunciada, a humanidade buscou se reconciliar consigo mesma e com o planeta terra”. Ver www.vitaecivilis.org.br Informes FASE Amazônia para o GTEnergia. E-mail de 31/01/07. Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 47 48 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade Agrocombustibles: impactos sobre el ambiente, la soberania y la seguridad alimentaria global¹ Elizabeth Bravo Los agrocombustibles son biocombustibles procedentes de cultivos cuyo destino es exclusivamente energético y, cada vez más, forrajero aprovechando los subproductos. La definición propuesta por la Vía Campesina, red de organizaciones campesinas de todo el mundo que ha elaborado y difundido el concepto de soberania alimentaria, no incluye a los piensos, se refiere a la incipiente industria agroenergética que está transformando la agricultura mundial y es el ariete de la llamada segunda revolución verde, cuya formula es: transgenicos y agroquímica. Se supone que el uso de carburantes de origen agrícola tiene un balance de emisiones nulo porque es un ciclo artificial del carbono atmosférico, pero esta suposición no está respaldada por un consenso apreciable de la comunidad científica, mas bien encuentra la opinión negativa de muchos científicos (Pimientel, 2005; Altieri, 2007; Altieri, Bravo, 2007; Carpintero, 2006) y la deforestación previa y la expansión de los cultivos energéticos es una de las principales causas del cambio climático (IPCC, 2007; Stern, 2006). Los cultivos más usados son: maíz, trigo, soja, colza y caña de azúcar. Se ha generado competencia entre alimentación humana y agrocombustibles: sirven groso modo 10 Kg. de piensos para producir 1 Kg. de carne vacuna y 2 o 3 para 1 Kg. de carne de cerdo o de ave. En la producción pecuaria entre el 50 y el 80% del gasto de producción es representado por los piensos. El maíz que produce etanol para llenar el tanque de un todo terreno podría alimentar directamente a un hombre durante un año (Brown, Abril 2007). Somos hombres de arroz, maíz y trigo, dice al antiguo adagio, pero que pasa con estos alimentos básicos tradicionales cuando la capacidad industrial de transformarlos en carburantes para autos crece exponencialmente, junto a las inversiones y a sus precios mientras menguan las condiciones para producirlos? Los combustibles de origen agrícola resultan rentables a partir de un precio de $ 55 por el barril de petróleo. El petróleo ya no puede bajar de este umbral porque compañías petroleras, automovilísticas, biotecnológicas, inmobiliarias y de la grande distribución alimentaria (Ford, Repsol, Acciona, Monsanto, General Motors, Cargil, Volkswagen, ADM, Petrobras, etc.) invierten y forman alianzas para producir agrocarburantes. Fatalmente acoplados, los precios de estos alimentos siguen el mismo destino que el del petróleo, como ya ocurre desde hace por lo menos un año. Los objetivos de sustituir porcentajes importantes de combustibles con productos agrícolas (10% UE, 5% Canadá y 20% USA, etc.) están produciendo efectos devastadores de las economías más vulnerables, agrediendo ecosistemas ya vulnerados y acabando con los pobladores indígenas. Según el informe Stern la deforestación es responsable de un 18% de las emisiones de gases de efecto invernadero. Estos procesos aceleran según los fervores “ambientalistas” de los países 1 El presente estudio no recoje el caso de la palma aceitera en Indonesia y Malesia, usada para biodiesel y cuyos residuos sustituyen disctutiblemente al maiz en los piensos. Sus impactos socioecologicos son devastadores. Tanpoco se ofrece suficiente informacion sobre el caso africano. Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 49 ricos y por el boom de los precios internacionales de granos alimenticios. El 2007 es un año de cambios tumultuosos con un incremento record de superficies cultivadas, pero también temperaturas y sequías record, peor que el 2003. La FAO (Food and Agriculture Organization) ha lanzado una alerta global: el hongo Ug99 amenaza todos los cultivos de trigo del mundo, allí donde no se tenga acceso a variedades resistentes, habrá que reducir las épocas de siembra para controlar la plaga, aplicar controles y preparar planes de contingencia2 . Foco de origen: África, estado de Uganda en donde se registra una represión sangrienta de la población rural que se opone a la expansión de la frontera agroenergética. Esto se suma al aumento de la inseguridad alimentaria previsto en sur África a causa del uso de tierras para agrocombustibles y agravada por la peor sequía en 40 años3 . Relaciones Norte-Sur The Economist ha dedicado la tapa del numero de Febrero al “enverdecimiento de América”, olvidando comentar que hacen falta entre 1,3 y 1,6 calorías (de petróleo) para producir 1 caloría de etanol (Pimientel, 20054 ), que la demanda de maíz USA, no obstante los altos subsidios, ha causado el aumento del precio durante el 2006 de este alimento básico del 60% (Brown, Abril 2007) en México y hasta del 100% en Argentina (Markos, 2007) llevando a ásperos conflictos sociales por la subida de precios de toda producción relacionada con el maíz: las tortillas en México, sacando la gente a las calles, la carne en Argentina, provocando severos paros y graves problemas a los pequeños y medianos productores al reducirse sus ganancias. La soja también ha alcanzado precios record en el 2006 gracias a las previsiones de aumento de la demanda porque útil para producir biodiesel. Ha subido el precio de carnes y productos animales en cuanto soja y maíz (GM) representan la base de la alimentación del ganado. UE y China son las mayores importadoras de estos granos. En la UE han sido los productores pecuarios quienes han contenido el precio final de productos animales. Todo esto ha ocurrido antes de los objetivos USA y UE. Un estudio documenta los problemas relativos a la producción de maíz en dos comunidades campesinas mexicanas5 . La menguada capacidad productiva de este alimento es entendida como consecuencia del dumping practicado por EEUU a través de sus TLC, un atentado a la soberanía alimentaria de México. El trabajo hace referencia a un periodo de poco anterior al catastrófico año 2006, que vio el aumento de los precios del maíz provocado por la demanda USA de etanol y la crisis de alimentos en México. Frente a precios más altos del maíz México ya no contaba con una capacidad productiva suficiente, viéndose obligado a importar este alimento básico e ingrediente fundamental de los piensos. Se ha visto afectada la población pobre y la producción pecuaria. Actualmente el BID tiene planes multimillonarios para llevar los agronegocios a este país y el actual gobierno acaba de firmar acuerdos con Monsanto para introducción de variedades de maíz GM no aptas para alimentación que abastecerán las destilerías EEUU. Resulta ahora mas comprensible la muralla que EEUU está edificando al confine con México. 2 http://www.fao.org/newsroom/en/news/2007/1000537/index.html Sugrue A., Douthwaite R., Biofuel production and the threat to South Africa’s food security, Wahenga.brief num. 11, 2007. http// www.wahenga.net 4 http://www.news.cornell.edu/stories/July05/ethanol.toocostly.ssl.html 5 Esquivel, et al., Es posible evaluar la dimension social de la sustentabilidad? Aplicacion de una metodologia en dos comunidades campesinas del valle de Toluca, Mexico. Convergencia, revista de ciencias sociales, ISSN 1405-1435, UAEM, Mexico, enero-abril 2006, num. 40, pp.107-139 3 50 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade Los 35 millones de estadounidenses cuya mitad son niños, que no comen lo suficiente (Imhoff, 20076 ) no se verá beneficiada por el Farm Bill a punto de aprobarse en EEUU. Importantes cifras que acabarán en manos de las grandes corporaciones concentradoras de tierras, que mecanizan las producciones y controlan las redes alimentarías del florido mercado EEUU. Destinarán a cultivos e investigación bioenergética $ 4200 millones 7 , para alcanzar una dudosa independencia de la importación de petróleo de países “inestables”. El gobierno estadounidense se preocupa por su seguridad alimentaría destinando muchos subsidios a la investigación para producción de etanol celulósico, o sea no procedente de granos alimenticios. Esta tecnología presenta una serie de riesgos muy serios y se desarrollará quizás dentro de 5-8 años, tiempo demasiado largo para que haya alguna ventaja ambiental o se desarrolle un mercado no food de agrocombustibles. La industria de transformación de alimentos de EEUU (Grocery Manufacturers Association) manifiesta preocupación por la subida de precios de insumos debida a estos nuevos mercados y presiona al congreso para una política prudencial, el riesgo es quedar fuera del mercado8 . Bioetanol brasileño Bush habla de reducir la adicción al petróleo pero no de ratificar los harto insuficientes objetivos del protocolo de Kyoto. Añadir un etilismo crónico agrava el cuadro general. Cuales campos agrícolas van a alimentar a los todo terrenos USA? A este pro- blema se debió la gira de Bush por América Latina a firmar acuerdos directos y triangulados con Lula para etanol. Muchos países se han dejado seducir para producir etanol en vez que comida, países en los cuales ya se habían profundizado patrones de desposesión violenta de tierras como consecuencia de la difusión de los monocultivos transgenicos (Bravo, 2006)9 , muchos de los cuales hoy útiles a la producción de agrocombustibles. El primer paso es garantizar un ambiente amigable a los inversores garantizándoles un mercado interno al país con objetivos obligatorios de sustitución, formula que todos los nuevos productores están aplicando. Un funcionario del Banco Interamericano de Desarrollo me ha confirmado que el plan de inversiones de $ 200000 millones para produccion de agrocombustibles en América Latina preparado por el BID será muy negativo para las familias campesinas y el ambiente10 . En Brasil hay planes de deforestar por lo menos 80 millones de has. en la selva Amazónica11 (La superficie de Italia y España) para cultivos energéticos y otros 200 mas de suelos “degradados”. Es sabido que el suelo de la selva Amazónica no es apto para cultivos, afirma Lula12 , pero su microclima atrae empresarios de todo el mundo que también desde la ciudad de La Paz, Bolivia, penetran a la selva buscando al rendimiento de todo el año por la soja. El microclima del rendimiento milagroso parece tener las estaciones contadas, su rol en las precipitaciones será alterado posiblemente provocando sequías e incendios y todo ello en muy breves años. Según la teoría económica dominante ya se trataría de “largo plazo” y no parece preo- 6 http://www.ecoliteracy.org/publications/rsl/dan_imhoff_farm_bill.html http://www.usda.gov/documents/FBP_Release_MASTHEAD_Spa.DOC 8 http://www.checkbiotech.org/green_News_Biofuels.aspx?Name=biofuels&infoId=14695 9 Bravo, 2006, Biocombustibles, cultivos energéticos y soberanía alimentaria en América Latina http://www.debtwatch.org/es/inicio/ enprofunditat/plantilla_1.php?identif=578 10 Comunicacion confidencial, Abril 2007 11 http://www.biodieselspain.com/2007/02/19/selva-amazonica-sera-la-arabia-saudita-del-biodiesel/ 12 http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2007/03/29/AR2007032902019.html 7 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 51 cupar a muchos ambientalistas de la última hora. En selva Amazónica de Brasil la deforestación, según un estudio de la NASA, acelera acorde a la subida del precio de la soja13 . El know how acumulado desde los tiempos del pro alcohol Brasilero hace de este país el líder de los agrocombustibles. El cultivo con el mejor balance energético, la caña azucarera, es rentable solo con trabajo casi esclavo: en el interior de Brasil los jornaleros siguen muriéndose por desnutrición, excesivo trabajo (12-14 h/día por $ 7) y por las fumigaciones de pesticidas (Álvarez, 2007). Crecen las favelas por el éxodo rural, y el número de las cárceles. Pero ahora Brasil tiene un nuevo un rol protagónico: exporta su modelo a toda América Latina y a África contando con fantásticas inversiones en dólares y euros. Es tiempo de ambiguos reveses de las asimetrías Norte-Sur y las relaciones neocoloniales cambian en estructura y significación. Centros y periferias responden a geometrías más bien fractales. La UE se prepara a hacer frente a la dependencia energética y alimentaria que se le perfila apostando por la segunda revolución verde en África con inversiones intergubernamentales, entre otras, las brasileras-italianas de cerca de • 480 millones. ¿Habrá que repensar algunas categorías como el neocolonialismo? El control de los precios y de los medios de producción alimentaria, desde la genética hasta la infraestructura industrial y comercial, se ha de considerar el primer paso de un nuevo orden mundial. El caso de la soja en Argentina Las principales provincias sojeras de Argentina, Entre ríos y Santa fe, han sido sumergidas por inundaciones de gravedad inédita a principios de abril 2007. Los científicos gritan al cambio climático, pero solo algunos toman en cuenta los millones de has. convertidas en monocultivos de soja. Si Argentina ha perdido el 72% de los ya esquilmados bosques censados en 1935, en Santa fe el porcentaje llega al 88%. El agua escurre y devasta estos campos completamente vulnerables e inunda las ciudades. Los lodos son contaminados, las casas inhabitables. Los 800 millones de pesos disponibles no serán suficientes para cubrir esta emergencia. Los ciudadanos están furibundos porque los gobernantes no hicieron nada para prevenir esta catástrofe cuyo precedente se dio en 2003 en que hubo 173 muertos. Corrupción e impunidad, antipilares de resiliencia institucional 14 , hacen al negocio de las ayudas para emergencias; cualquier entrevista publicada on line en esos días revela a quienes los afectados culpan15 . Si bien la falta de resiliencia institucional juega su papel hay que considerar la falta de resiliencia ecológica: los agroecosistemas que han rediseñado el paisaje de la zona transformándolo en un desierto verde, son vulnerables y aun produciendo energía “verde”, su balance socioecológico debe de considerarse devastador porque expone el país a mayor inseguridad alimentaria. Los terratenientes argentinos prefieren la soja más bien que tener producción animal. Tantos monocultivos para exportar forraje barato en el pasado y ahora agrodiesel, piensos elaborados y productos animales. En realidad esta integración vertical esta cada vez más controlada por empresas transnacionales como es el caso de la alianza entre Tyson, Cresus y Cactus feeders en Argentina, lideres en varios aspectos de producción ganadera intensiva 16 . Lejos de representar un 13 http://tinyurl.com/2pfga4 Melillo A., Ojeda E.N.S., 2001, Resiliencia, Descubriendo las propias fortalezas, Paidos. 15 Transparency International construye sus índices relevando las percepciones de los ciudadanos con entrevistas. 16 http://www.clarin.com/suplementos/rural/2007/01/20/r-01001.htm 14 52 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade desarrollo industrial nacional desplazaran a los productores locales, que ven mas conveniente producir soja, para gozar de un régimen tarifario conveniente según el consolidado modelo de saqueo. La mitad de las exportaciones argentinas del año pasado fueron constituidas por soja RR, principalmente sin procesar o sea sin dejar el valor agregado que representaría la pretendida “oportunidad de desarrollo sustentable” de este modelo agroindustrial. Circunstancia agravada por los nuevos regalos fiscales concedidos a la exportación de agrocombustibles. El European Biodiesel Board grita a la competencia desleal y apela a la OMC17 : Argentina aplica un régimen de tasas a la exportación diferenciado: el 27,5% a la soja, el 24% al aceite, 20% la harina para el ganado, subproducto del biodiesel, el 5% al biodiesel y el 0% si se trata de mezcla. Un juego peligroso vista la vulnerabilidad ecológica de este país. En apariencia la medida apunta a favorecer un desarrollo industrial nacional, si bien muchos capitales y tierras son extranjeros y los principales subproductos son riesgos y hambre. Junto a las subvenciones USA sería competencia desleal, según el EBB, para los también subvencionados cultivos energéticos Europeos (1,248 millones de has., casi un cuarto en España en el 2006, contra los 18 millones de has. de sola soja argentina del 2006). Depender de un único cultivo para la exportación, en ortodoxo respeto a la anti-ecológica teoría de las ventajas comparativas expone enteras economías nacionales a los altibajos de los precios internacionales (Galeano, 1973). A ello se suman hoy día las decisiones de la OMC y los fenómenos extremos acarreados por el cambio climático. 17 Soberania y Seguridad en la Unión Europea y MERCOSUR Argentina y Brasil, principales abastecedoras de harinas se están aliando para convertirse en exportadoras de agrocombustibles, piensos y productos pecuarios. La poderosa industria biotransformadora de estos países emergentes se esta concentrando y cuenta con inversiones enormes y parece llegar a su fin la época en que eran exportadoras de commodities. La creciente disponibilidad de subproductos de la producción agroenergética aprovechables para piensos no está bajando los precios de estos últimos. Las sobreproducciones no encuentran salida al mercado para mantener los altos márgenes de especulación. Junto al régimen tarifario, las inversiones y los precios internacionales, todo favorece a que las transnacionales retengan valor agregado exportando piensos elaborados cuyos precios crecientes hacen más competitiva la producción pecuaria in loco. La pugna no será fácil pero EU podría salir perdiendo como ya manifiestan crisis los subvencionados sectores pecuarios y de producción de piensos por la suba de precios. Se trata de pugnas entre transnacionales y por lo general las más poderosas apuntan a controlar las producciones en los países más pobres, o sea más competitivos. Países del Sur global tienen mas fuerza contractual que los del norte si están respaldados frente a la OMC por Monsanto y afines. Seria prudente para la UE dejar de invertir en el exterior y retirar cuanto antes nuestras subvenciones a los cultivos energéticos para en su vez garantizar la autosuficiencia alimentaria. Considerando el manejo de Ug99, mas amenazador que el de la gripe aviar, sequías y mercados internacionales renunciar a los objetivos de agrocarburantes e invertir en un modelo http://www.ebb-eu.org/EBBpressreleases/let%20to%20CM%20Mandelson%20unfair%20B99%20and%20DETs.pdf Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 53 agroecológico altamente eficiente y de filiera corta sería lo más prudente para construir soberanía alimentaria también en la UE. La actual disponibilidad de renta no nos asegura seguridad alimentaria a largo plazo y no tiene nada que ver con la soberanía alimentaria. Ni seguros ni soberanos: la disponibilidad a pagar más para los alimentos les deja un interesante margen para explotar a las corporaciones. Conforme aumenta la capacidad transformadora del trigo en etanol este aumenta de precio: 115% en EEUU en apenas 15 meses (Guillet, 2007) y sus futuros son de record (Brown, Abril 2007). La cebada, otro ingrediente de piensos y fuente de etanol, ha crecido de un 50%. Los contratos para cultivos agroenergéticos subvencionados en Europa son de cinco a diez años, lo cual reduce aun más la menguante capacidad de auto producción alimentaria Europea. Una vez construidas las plantas transformadoras quien les explicará que no pueden trabajar o que no pueden vender a precios internacionales? Depender de un dúo polio (Brasil, Argentina) para importación de todos los insumos para piensos es un problema serio en Europa (el 85% de las proteínas para piensos son importadas18 ) que esta poniendo de manifiesto su falta de soberanía alimentaria. La práctica Europea del dumping podría ser un recuerdo del pasado a partir el 2007: en cuanto empiecen a funcionar las plantas transformadoras europeas no habrán excedentes de trigo europeo para invadir África. Ahora muchos euros están llevando la segunda revolución verde a África para producir agrocombustibles, algo similar a lo que ocurre con EEUU y México. Quedan sin embargo desprotegidos los productores pecuarios Europeos. Los insumos para piensos aumentan de precio, y todo apunta a una concentración de las actividades pecuarias en los países más competitivos. La competencia de Argentina y Brasil es imbatible en este sentido y la crisis ya es sentida19 . Lejos de ser una oportunidad de desarrollo sustentable para estos países esto repercute en la soberanía alimentaria de Brasil y Argentina peor que en Europa. Los mismos sectores que hoy día presionan en Argentina para vender el trigo en el mercado interno a precios internacionales, tendrán mucha mas fuerza para subir estos precios internacionalmente y a la vez lograr de reglamentar el mercado interno. Al daño ecológico se agregaría el económico, financiado por una confiable inelasticidad de la demanda europea respeto al precio de los alimentos. Los productores pecuarios europeos creen que la de los agrocombustibles solo es una moda pasajera. Menos preparados no podrían estar. La anestesia producida por la fe en el neoliberalismo muestra no ingenuidad sino quien se esta realmente beneficiando de estos cambios: el capital, las grandes transnacionales y algunos gobiernos inescrupulosos. Productores pequeños y medianos y consumidores están perdiendo de los dos lados del océano20 . Recursos naturales estratégicos y agrocombustibles La contradicción entre agrocombustibles, ambiente, biodiversidad y alimentación humana aparece insanable. Miguel Altieri no duda 18 FAO, sumarios de estadisticas agricolas y alimentarias mundiales 2005. http://www.infobae.com/notas/nota.php?Idx=293796&IdxSeccion=100896 20 Por ejemplo en el primer trimestre del 2007 el gasto para alimentos de los espaoles ha crecido de un 6%mas respeto al mismo periodo del ao pasado. Panel de Consumo del Monisterio de agricultura, pesca y alimentacion. 19 54 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade en definir este modelo imperialismo biológico (Altieri, 2007). La perdida de ecosistemas lleva a la vulnerabilidad frente a los sucesos climatológicos. La falta de bosque y monte provoca el escurrimiento rápido de las aguas con erosión de suelos y a la alteración de los ciclos del agua, lo cual intensifica el uso de aguas fósiles de los grandes reservorios como el acuífero Guaraní que ya se ve sobre-explotado y contaminado por agroquímicos. Militares de EEUU se instalan en Paraguay y buscan células dormidas de terroristas en la triple frontera, allí por Misiones donde casi aflora el precioso oro azul del Acuífero guaraní que sirve a producir el oro verde. Seguridad alimentaria soberanía y seguridad alimentaría, estaría limitando en su territorio el ciego crecimiento de la capacidad transformadora de la industria para etanol de arroz, trigo y maíz que dan los peores balances energéticos 22 y a parte de ser alimentos básicos humanos entran en proporciones importantes en las dietas de los animales de cría (trigo y maíz). Serán países más pobres y con mayores extensiones de tierras los que tendrán que suplir sus necesidades “ambientalmente amigables” ya que China enfrenta una grave crisis de la agricultura: los vientos se convierten en tormentas de arena levantando los suelos agrícolas degradados23 . El World Food Programme y las Naciones Unidas han declarado su preocupación por la escasez de granos prevista. Con 18’000 niños que mueren de hambre cada día. Los alimentos y el agua que aumentan de precios (Brown, Abril y Marzo 200724 ) el cambio climático y dos de tres ecosistemas seriamente amenazados (MEA, 2005) lo único que nos preocupa es llenar el tanque del auto. Según Fidel Castro hay un diseño siniestro de Bush detrás de este businness del etanol que hace subir el precio de los alimentos. Ha hablado “prudencialmente” de 3 mil millones de condenados a muerte prematura por hambre y sed para alimentar a los autos 21 . Pero que soberanía tiene realmente una potencia imperialista que financia sus campañas militares endeudándose con su peor enemigo? EEUU le compran obligaciones a China para pagar sus guerras. Cuando un poder hegemónico contrae deudas con su principal enemigo no le queda mucho tiempo para que pase la mano (Arrighi, 1994), por aquel entonces las elites de EEUU que se benefician hoy de las guerras imperiales estarán invirtiendo en otros negocios. Según el Financial Times en EEUU los precios de las tierras agrícolas crecen más rápido que los de suelos edificables en Manhattam 25 . ¿Que pasará cuando también Argentina, como ya se conversa por los corredores del Senado de la Nación, aprobará alguna ley para favorecer la especulación inmobiliaria? Que va a pasar en un país como España que ya sufre escasez de viviendas a causa de la especulación y conflicto entre uso agrícola del suelo, para campos de golf o viviendas? China, muy preocupada por su La subida de precios de los 21 http://www.granma.cu/espanol/2007/marzo/juev29/reflexiones.html Sugrue A., Douthwaite R., Biofuel production and the threat to South Africa’s food security, Wahenga.brief num. 11, 2007. http// www.wahenga.net 23 http://rs.resalliance.org/2007/04/18/sandstorms-and-land-degradation-in-china/ 24 http://www.earth-policy.org/Updates/2007/Update64.htm 25 h t t p : / / w w w. c h e c k b i o t e c h . o rg / r o o t / i n d e x . c f m ? f u s e a c t i o n = n e w s & d o c _ i d = 1 4 7 7 9 & s t a r t=1&control=211&page_start=1&page_nr=101&pg=1 22 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 55 alimentos y la caída vertical de su calidad y seguridad son consecuencias actuales. Cuánto mas tiempo aguantará el techo al precio del trigo en Argentina, subido “solo” del 30% durante el 2006 (Markos, 2007) 26 ? Los empresarios agrícolas, el cuarto sector, presionan aquellos sectores del poder publico que se benefician de las exportaciones para que el gobierno de reglamente el mercado interno 27 . Los precios se definen en la bolsa de Chicago, los futuros son profecías que se auto cumplen, los gobiernos nacionales obstáculos al “libre comercio” y al “desarrollo sustentable”. Como para Europa en Argentina el trigo es alimento básico, pero allí hay un 13% de la población en pobreza extrema. Queda a las claras quienes están pagando el boom agroenergético en este país pionero: los pobres y el ambiente. Las cotizaciones del trigo aumentan junto a la capacidad procesadora Europea, además que de los otros países, para transformar este alimento fundamental de nuestras dietas en etanol. Parece que entre los países ricos los europeos somos los más desprotegidos contra nuestra propia locura. Las sequías del 2007, año de temperaturas record, ya amenazan los cultivos del norte de Italia (jamás tan grave, declarado el estado de emergencia ambiental). Porque producir en la UE trigo para etanol en vez que remolacha, que rinde tres veces mas por ha. (Medido en TEP28 ), con un proceso transformador más simple y menor consumo de energía (no hay que transformar el almidón en azúcar) y cuya parte aérea es saludable y rica? La subida de precio del azúcar no ha matado ni matará de hambre a nadie pero la UE financia el abandono de la producción remolachera. Tanta irracionalidad económica y energética indica si no un diseño, una siniestra deriva. Los agrocombustibles: ¿una solución ante el cambio climático? Las proyecciones del International Panel on Climate Change prevén un empeoramiento de las condiciones para la agricultura en todo el mundo, con degradación de suelos, reducción de la superficie de tierras, sequías y aluviones. El cambio climático, definido como un fenómeno inercial y progresivo, se nos presenta como un hecho consumido que nada podría mitigar. Al no tener en cuenta la expansión abrumadora de los cultivos agroenergéticos parecen ser muy optimistas. Para América Latina el penúltimo informe del IPCC (6 de Abril 2007 29 ) atribuye al cambio climático previsibles sequías y violentas precipitaciones con las imaginables consecuencias sobre los cultivos y curiosamente otras consecuencias normalmente debidas a la sobreexplotación agrícola: transformación de selvas en sabanas en la zona este de Amazonía (lo cual ocurre con generosa ayuda de la 26 Markos A., Argentina: paradiso dell’energia verde, .ECO febbraio 2007. Gustavo Grobocopatel al seminario nacional del INTA: Caminos compartidos hacia la sustentabilidad del agro argentino, 23, Nov. 2006, Buenos Aires. 28 Jornadas abulenses de energías renovables, Ávila 18 y 19 Mayo 2006, ponencia: Fabricación de biodiesel a partir de Cultivos Energéticos. 29 http://www.ipcc.ch/SPM6avr07.pdf 27 56 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade mecánica pesada), salinización de suelos y desertificación. Se prevén también crecientes cosechas de soja en zonas templadas, como por ejemplo las áreas recién inundadas de Santa Fe y Entre ríos, lo cual podría mal orientar a los inversores. Estudios recientes revelan la perdida de cosechas entre un 6 y un 10% por cada grado centígrado de aumento de la temperatura media 30 desde el 1981. Depender de las exportaciones agrícolas es muy arriesgado en estas condiciones. El último informe aconseja expresamente el uso intensivo de agroenergía para reducir el cambio climático. Después de echarle la culpa al cambio climático por las consecuencias previsibles de los monocultivos el IPCC recomienda extenderlos como si fuera una panacea, atrayendo de esta forma las criticas de movimientos ecologistas de todo el mundo. La industrialización de la agricultura y la concentración de tierras se ven profundizadas por los cultivos energéticos. Con la tierra en tan pocas manos y tantas manos sin tierra los flujos migratorios internos a los países productores han crecido junto a miseria e inseguridad en las ciudades. La falta de condiciones para un desarrollo realmente sostenible refuerza aquellos flujos migratorios internacionales que las grandes potencias estrangulan cada día más duramente. El aumento de precios de petróleo y alimentos genera fondos de inversiones de los más lucrativos. Las bases productivas para estos mercados van a crecer brutalmente con las deforestaciones y se restringirán por el cambio climático y la 30 perdida de suelos, pero la escasez aumenta valor, precio y cotizaciones. Mismo para las cotizaciones de las empresas de infraestructuras hídricas. La perdida de biodiversidad provocada por la expansión de la frontera agroenergética, verdadero frente bélico contra la biosfera, es funcional a aquel mismo sector industrial que se jacta de producir biodiversidad en sus laboratorios y genera la escasez de variabilidad genética que asegura sus negocios futuros. Los mismos financiadores de la segunda revolución verde y de las deforestaciones están archivando toda la información genética todavía disponible adelantando los bulldozers a toda prisa (entre ellos la fundación Gates). La museificación de la información genética es el primer paso por su sustitución ingenieristica. Se perfilan unos nuevos inquietantes lock in. La expansión financiera inducida por el suicidio de los estados del bienestar es otro elemento acelerador: los nuevos fondos agroenergéticosalimentarios prometen ser muy lucrativos y bastante estables: no podemos dejar de comer y no queremos renunciar a la nuestra absurda way of life a cuatro ruedas y de comercio internacional. Estos fondos de inversión entran a formar parte de los planes de seguridad social privados y seguros de salud pero ningún seguro cubre las consecuencias del cambio climático: olas de calor, huracanes, sequías, inundaciones, carestías, enfermedades, guerras, etc.; lo cual reduce las probabilidades para los inversionistas de llegar a la edad para cobrar una pensión. Resumiendo: los cultivos http://globalecology.standford.edu/DGE/GIWDGE.Html Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 57 agroenergéticos resultan ineficientes para el propósito de reducir las emisiones de gases de efecto invernadero, si a esto se suma la deforestación tienen un balance ambiental devastador que atenta directamente a la salud humana. Aceleran las sinergias degenerativas entre el cambio climático y la perdida de biodiversidad, ya considerada la prueba de que estamos asistiendo a la sexta, y la mas severa, extinción masiva en el planeta Tierra (IUCN, 2004; Buiatti, 2004). Antes de ser obligatorios ya habían provocado la subida de precios de alimentos básicos y de piensos provocando una caída global de la seguridad y soberania alimentarias. No contribuyen al desarrollo de los países productores sino que agravan la exclusión social y expulsan los campesinos de sus tierras. No mejoran la calidad de vida de los países consumidores ya que contribuyen a acelerar el crecimiento de los precios de petróleo, suelos y alimentos y aumentan su dependencia de las importaciones. La perdida de resiliencia socio ecológica resulta neta y se multiplican vulnerabilidades y riesgos. Investigar en todas las áreas los efectos indeseables de estos nuevos procesos agroindustriales es una necesidad imperiosa de la sociedad global. Todo lo expuesto resume los impactos de la sustitución actual de un 1% de agrocombustibles a nivel global 31 , extrapolar estos impactos a los niveles de consumo previstos por leyes nacionales es arduo (las NU estiman un 25% de un consumo creciente en 15 años 32 ). Transformar la estructura de la demanda parece ser la única forma de detener la devastación ecológica, social y económica 31 32 de estos cultivos ya que la UE considera elevar sus objetivos de sustitución a un 20%. Otro modelo de movilidad y otra agricultura son entre las cosas más urgentes que necesitamos. Si el objetivo fuera la tutela ambiental seria mucho más simple, prudente y efectivo reducir el consumo de petróleo de un 10 o 20% en vez que sustituir estos porcentajes de consumos crecientes, reestructurando la agricultura mundial con daños ecológicos irreparables. La campaña Stop Biofuel Targets aboga por una moratoria contra estos cultivos. Se puede leer el documento en español y apoyar la campaña conectándose al sitio Web: http:// www.regenwald.org/international/ spanisch/protestaktion.php?id=169 Véase también: www.biofuelwatch.com www.grr.com.ar Andrea Markos andreamarkos@fastwebnet.it Candidato a Doctor en Ciencias sociales y medioambiente, Universidad P. De Olavide. Agradecimientos por sus lecturas del borrador: Monica Medelius, Jorge Eduardo Rulli, Monica Vargas. Referencias: Aguirre R., soberanía alimentaría. Diálogo con el doctor Miguel Altieri “Los biocombustibles son un modo de imperialismo biológico”, Agencia Prensa MERCOSUR, Almuth Ernsting, Biofuel watch. United Nations, UN-Energy, Sustainable Bioenergy: a framework for decision makers. 58 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade www.prensamerco- sur.com.ar Álvarez V., Etanol brasileño: El elevado costo humano que tiene producir el combustible del futuro, http://diario.elmercurio.com/ 2007/03/26/internacional/_portada/ noticias/4F7B5C4E-B570-4495-94299 8 6 8 0 B C E 1 0 5 4 . h t m ? session=pp_sc:BE011B8009cab238EBxqV39778B4 Arrighi Giovanni, 1994, Il lungo XX secolo, ed. Il Saggiatore. Bravo, 2006, Biocombustibles, cultivos energéticos y soberanía alimentaria en América Latina http://www.debtwatch.org/es/ i n i c i o / e n p r o f u n d i t a t / plantilla_1.php?identif=578 Brown L.R., Water prices rising worldwide, March 2007, http://www.earth-policy.org/Updates/ 2007/Update64.htm Brown L.R., Massive diversion of U.S. grain to fuel cars is raising world food prices, April 2007 http://www.earth-policy.org/Updates/ 2007/Update65.htm M. Buiatti, 2004, Il benevolo disordine della vita, la diversità dei viventi tra scienza e società, Torino, Utet. Carpintero O., Biocombustibles y uso energético de la biomasa, un estudio crítico, El ecologista n. 49, otoño 2006. Castro F., Condenados a muerte prematura por hambre y sed más de 3 mil millones de personas en el mundo, 29 de Marzo de 2007 http:// www.granma.cu/espanol/2007/marzo/ juev29/reflexiones.html Guillet D., A poner sangre en los motores! 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Estamos diante de uma encruzilhada: ou mudamos o paradigma de civilização atual ou a humanidade e a vida no planeta será destruída. A nossa luta é por uma nova civilização que se baseie em uma relação de harmonia entre a humanidade e a natureza, na qual não prevaleça o consumismo e a lógica do lucro e do mercado, que devasta os recursos naturais, concentra riqueza e poder nas mãos de poucos e gera pobreza e desigualdade social. Lutamos por uma sociedade baseada na justiça social e ambiental, na igualdade, na solidariedade entre os povos, assentada em valores éticos coerentes com uma sociedade voltada a sustentabilidade de todas as formas de vida. Diante disso nos posicionamos: Posição das organizações, movimentos e pastorais sociais sobre a agroenergia no Brasil: • 1 - Defendemos que a terra, água, sol, ar, subsolo e a biodiversidade sejam conservados e utilizados de modo sustentável para prioritariamente produzir alimentos e proporcionar trabalho e qualidade de vida. 62 • 2 - Afirmamos o direito da soberania popular sobre o seu território e seu destino. A soberania alimentar e energética é o direito do povo produzir e controlar os alimentos e a energia para atender suas necessidades. • 3 - A produção de energia não pode, de modo algum, substituir ou colocar em risco a produção de alimentos. A agroenergia só deverá ser produzida de forma diversificada e complementar à produção de alimentos. • 4 - A política de produção de agroenergia não pode ser determinada pela lógica do mercado. E pelos interesses de lucro das empresas petrolíferas, automobilísticas e do agronegócio. • 5 - Rechaçamos e combatemos qualquer tipo de monocultura e propomos o limite do tamanho das propriedades rurais e o limite das áreas destinadas para produção de agroenergia em cada estabelecimento, município e região. • 6 - Reafirmamos a necessidade de uma reforma agrária popular e de um processo de democratização de acesso á terra como via para garantir a soberania alimentar e a soberania energética. O atual modelo do agronegócio é um processo de continua concentração da propriedade da terra. • 7 - A soberania alimentar e energética é baseada na agroecologia e na economia Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade local e regional. Combatemos o modelo insustentável e excludente do agronegócio, um dos principais causadores das mudanças climáticas devido a transformação do uso da terra, o desmatamento e a utilização massiva de agrotóxicos e transgênicos, além da mecanização e do transporte de mercadorias em escala planetária. • 13 - O atual modelo de produção de agrocombustíveis degradará os biomas brasileiros, principalmente a Amazônia e o Cerrado, pressionando a expansão das fronteiras agrícolas. Frente a isso, afirmamos a soberania de todos os povos e as comunidades tradicionais sobre o território. Basta de desmatamento em todos os ecossistemas brasileiros. • 8 - A agroenergia deve ser produzida para garantir a soberania energética do povo e não para ser exportada com o objetivo de abastecer os países ricos e gerar lucros para o agronegócio e as grandes empresas privadas e transnacionais. • 14 - O papel dos camponeses e da agricultura familiar deve ser definido pela sua soberania e autonomia. Portanto, somos contra o sistema de integração que atrela os agricultores a empresas de agroenergia, que apenas explora sua mão de obra. Defendemos políticas públicas que garantam crédito, assistência técnica e condições para que os camponeses e agricultores produzam agroenergia em pequenas unidades de produção. • 9 - Combatemos o controle do capital estrangeiro sobre a economia, a terra, os recursos naturais e as fontes de energia do Brasil. • 10 - Lutamos por um modelo energético sustentável e diversificado. A* * agroenergia é uma das alternativas ao lado de medidas de eficiência e outras fontes de energia renovável e sustentável. • 15 - Exigimos ao Estado brasileiro estimular, normatizar e controlar uma política de soberania energética em nosso • 11 - Defendemos um modelo energético popular e descentralizado, que expresse as necessidades sociais e as características e potencialidades locais e regionais. Propomos a produção e gestão na forma de pequenas usinas cooperativadas, comunitárias ou familiares sob controle dos camponeses e trabalhadores. • 12 - Lutamos por um novo sistema de transporte que integre suas diferentes formas (fluvial, ferroviário, rodoviário) e privilegie o transporte público e coletivo de qualidade, em vez do modelo insustentável e irracional dependente de petróleo e que privilegia o transporte individual. Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 63 64 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade Declaração Final do Encontro “Mulheres em Luta por Soberania Alimentar e Energética” Por Soberania Alimentar e Energética! Nós, mulheres do campo e da cidade reunidas em Belo Horizonte, de 28 a 31 de Agosto de 2008, expressamos nossa visão sobre desafios e alternativas para a construção de Soberania Alimentar e Energética. Somos mulheres organizadas, protagonistas de lutas de resistência em defesa de uma sociedade igualitária, onde a organização da economia tenha como centralidade a sustentabilidade da vida humana e não o mercado e o lucro. O modelo atual de desenvolvimento se apropria do racismo e do sexismo. Fundamenta-se em uma visão de economia que considera o econômico apenas as atividades mercantis e desconsidera a reprodução e invisibiliza o trabalho das mulheres. Esse modelo se pauta por uma concepção de desenvolvimento baseada na idéia de crescimento econômico ilimitado, onde o mercado e o lucro privado são priorizados em detrimento do interesse público e dos direitos humanos fundamentais, onde a política econômica se orienta pela opção exportadora, apoiada fortemente pelo Estado, no agronegócio empresarial e no setor minero-metalúrgicoenergético e em uma demanda energética insustentável. Para manter esse modelo, grandes projetos energéticos e de infra-estrutura são construídos, distantes das lógicas produtivas e culturais que organizam os territórios, provocando a expulsão do campesinato e de populações tradicionais das suas terras, a contaminação dos trabalhadores e trabalhadoras e o aprofundamento da crise ambiental e das mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, são desconsiderados os caminhos alternativos e modos de desenvolvimento voltados para a igualdade social e a justiça ambiental que nossos movimentos têm proposto a partir de suas práticas concretas nos territórios que se pautam pela construção de Soberania Alimentar e Energética. Em contraposição a este modelo afirmamos nossa luta feminista e socialista por uma nova economia e sociedade baseada na justiça social e ambiental, na igualdade, na solidariedade entre os povos, assentada em valores éticos coerentes com a sustentabilidade de todas as formas de vida e a soberania de todos os povos e comunidades tradicionais sobre seus territórios. Diante disso: Denunciamos: 1- O atual modelo de produção de energia que visa manter um padrão de Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 65 produção e de consumo ambientalmente insustentável e socialmente injusto, baseado no monopólio das fontes de energia pelas grandes empresas. 2 - As falsas soluções de mercado que estão sendo propostas para reverter o quadro de mudanças climáticas como a produção de agrocombustíveis em grande escala, assim como as expansão de impactantes projetos hidroelétricos e a retomada do programa nuclear brasileiro, energia perigosa, cara e sem soluções para os seus rejeitos. 3 - O atual modelo de produção de agrocombustíveis, baseado em monoculturas; modelo defendido pelo governo brasileiro e controlado pelo agronegócio, que vem homogeneizando os territórios, pressionando a expansão das fronteiras agrícolas, gerando impactos sociais e ambientais e que tem sido um dos grandes responsáveis pelo aumento dos preços dos alimentos. 4 - A especulação internacional dos produtos alimentícios que também se constitui em uma das causas do aumento dos preços dos alimentos, ao lado do aumento do preço do petróleo e do desvio de alimentos para produção de etanol e biodiesel. 5 - O trabalho escravo que sustenta esse modelo e as péssimas condições de trabalho e de exploração do assalariado e assalariada rural, além do abuso sexual e o assedio moral a que são vitimas as trabalhadoras do campo e da cidade. 6 - O controle da cadeia produtiva alimentar pelas grandes transnacionais ameaça a soberania alimentar e a saúde da população. Em especial os produtos 66 transgênicos e os altos níveis de agrotóxicos utilizados nos alimentos com a cumplicidade das autoridades públicas que não zelam para que as legislações sobre rotulagem de transgênicos e agrotóxicos sejam respeitada pelas indústrias. 7 - O desaparecimento de sementes crioulas, a perda de biodiversidade e a ameaça a segurança alimentar em virtude da liberação comercial de cultivos transgênicos e da expansão das monoculturas de exportação, apoiadas por empresas e universidades publicas, enquanto falta pesquisa para avaliar riscos no meio ambiente e‘a saúde do consumo de transgênico. 8 - A privatização dos recursos naturais e a apropriação de nossas terras, a exploração da nossa floresta, das águas e de nossos rios, mares e manguezais pelo capital com apoio dos recursos públicos. 9 - A privatização do setor elétrico que contribuiu para que as tarifas de energia sejam diferenciadas entre os consumidores residenciais e indústria e as políticas energéticas beneficiem as grandes indústrias para obterem cada vez mais, mais lucros. As cidades brasileiras sofrem impactos diretos desse modelo de desenvolvimento alimentar e energético, com as altas taxas no preço da energia, com o aumento dos preços dos alimentos, com a precarização do trabalho e do transporte coletivo urbano e com a especulação imobiliária. Reafirmamos: 1 - A necessidade de construir um novo Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade modelo energético para o Brasil que priorize a produção e a distribuição descentralizada de energia visando atender as necessidades locais e territoriais e que contemple a participação da população no seu planejamento, decisão e execução. E que contribua para a autonomia das mulheres, possibilitando a elas protagonizarem experiências de Soberania Energética em seus territórios. 2 - A necessidade de desenvolvermos formas de consumo e comercialização de produtos de forma solidária e sustentável com o fortalecimento dos mercados locais e feiras livres, assim como o reconhecimento do trabalho produtivo das mulheres e seu fortalecimento. 3 - Que é tarefa do Estado a viabilização de políticas públicas que garantam a nossa Soberania Alimentar e Energética. 4 - A importância da pesquisa, desenvolvimento e implantação de fontes energéticas alternativas e o reconhecimento e investimento do Governo nas experiências descentrizadas de produção alternativa de energia, na socialização do trabalho doméstico e no fortalecimento da agricultura camponesa. 5 - A agroecologia como projeto político para alcançar a soberania alimentar, assim como a luta pela Reforma Urbana, a agricultura urbana e a defesa de uma nova ocupação do espaço urbano para moradia e produção como orientadoras de políticas publicas. A luta pelo direito à terra através da Reforma Agrária, onde esteja garantido o direito da mulher a terra, o acesso aos recursos naturais e ‘as decisões sobre seus usos. 6 - Os direitos territoriais de povos indígenas e populações quilombolas. 7 - O direito ao trabalho em condições dignas e bem remunerado. O direito a previdência social, a diminuição da jornada de trabalho, a socialização do trabalho reprodutivo. 8 - Uma integração regional que esteja pautada na solidariedade, na complementariedade entre nossas economias, na sustentabilidade das praticas socioculturais e produtivas. Nos comprometemos: 1 - A lutar por justiça ambiental, pela reforma agrária, e em defesa da sustentabilidade da vida como valor central para a economia. 2 - A desenvolver formas organizativas de luta das mulheres contra esse modelo de desenvolvimento que afeta o campo e a cidade e a denunciar permanentemente as diferentes formas de opressão e mercantilização que vivem as mulheres. 3 - A construir e a fortalecer alianças entre movimentos sociais do campo e da cidade e a defender a necessidade de articularmos nossas experiências reivindicando políticas públicas que visibilizem as nossas experiências alternativas e nossas propostas para construção de uma transição rumo a um modelo de desenvolvimento que tenha como centro a sustentabilidade e a dignidade da vida humana. 4 - A desenvolver formas de uso sustentável dos recursos naturais e das Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 67 energias renováveis sustentáveis (eólica, solar e biomassa) bem como o aproveitando a água da chuva através da utilização de cisternas, o uso de placas solares e de experiências autônomas que contribuam para a construção de um novo modelo energético; 5 - A lutar pela reestatização do setor elétrico e a defender o uso sustentável das águas e dos recursos energéticos. 6 - A lutar pela autonomia econômica das mulheres e pelo direito ao trabalho digno e a fortalecer a luta dos trabalhadoras e trabalhadores assalariadas. 7 - A lutar pela recuperação, preservação e multiplicação das plantas medicinais e sementes crioulas, em defesa da biodiversidade, da água e pelo direito de decidir sobre nossa vida, nossos alimentos, nosso corpo. 8 - A lutar pelo direitos territoriais dos quilombolas e indígenas, porque suas lutas também são nossas. Por isso apoiamos a demarcação continua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol em Roraima e reafirmamos os direitos dos povos indígenas aos seus territórios. 9 - A realizar as mobilizações dos dias 16 e 17 de outubro por Soberania Alimentar, a participar da campanha contra o preço de energia e a fortalecer nossa marcha no 8 de março como processos de reafirmação de nossa luta por soberania alimentar e energética, diante da necessidade de construir um novo modelo energético e alimentar para o Brasil. Mulheres em Luta por Soberania Alimentar e Energética! 68 Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade 69