Boletim OPSA | n.1, jan/mar de 2015 | Observatório Político Sul-Americano Boletim OPSA O Boletim OPSA reúne análises sobre O Observatório Político Sul-Americano - acontecimentos de OPSA é um núcleo de referência destinado ao política da América do Sul e tem periodicidade monitoramento e registro de eventos políticos trimestral. A publicação é composta por editorial nos planos interno e externo dos países sul- e textos dirigidos a leitores que querem ter americanos. Suas atividades principais envol- acesso rápido a informações de qualidade sobre vem a coleta e sistematização de informações temas contemporâneos. As fontes utilizadas relativas aos processos políticos dos países da para sua confecção são resumos elaborados região, bem como a elaboração de análises pelos pesquisadores do OPSA com base nos pontuais sobre aspectos e problemas das con- jornais de maior circulação em cada um dos junturas doméstica e internacional da área. países e destaque documentos na conjuntura de autoria de pesquisadores ou agências independentes que Coordenadora Acadêmica complementam as informações divulgadas pela imprensa. Maria Regina Soares de Lima Ph.D. em Ciência Política pela Vanderbilt University Este Boletim foi elaborado principalmente com base nas informações referentes aos meses de abril a junho de 2014. Assistentes de Coordenação Regina Kfuri Tatiana Oliveira O Boletim OPSA é publicado na segunda semana do mês seguinte ao trimestre a que se refere. É permitida a reprodução deste texto e dos Assistentes de Pesquisa dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são terminan- Clayton Cunha (Bolívia) temente proibidas. Ana Carolina Vieira de Oliveira (Argentina) Gabrieli Gaio (Paraguai) Paula Gomes Moreira (Peru) ISSN 1809-8827 Alessandro Amorim (Equador) Fidel Flores (Venezuela) Talita Tanscheit (Chile) Tiago Sales (Colômbia) Instituto de Estudos Sociais e Políticos Universidade do Estado do Rio de Janeiro IESP/UERJ Josué Medeiros (Brasil) Marianna Albuquerque (Uruguai) Rua da Matriz, 82 - Botafogo - Rio de Janeiro – RJ | Tel.: (21) 2266-8300 Fax: (21) 2286-7146 http://www.opsa.com.br E-mail: observatorio@iesp.uerj.br Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 Guerra Fria, também a política externa EDITORIAL foi agente de mudança da inserção internacional do país, aproveitando-se "Autonomia na Dependência": A de contexto favorável aos países do Sul Agência da Política Externa como a descolonização nos anos 60 e a da OPEP e da crise do petróleo. Tanto de todos, é o título do livro de Gerson publicado em 1980.1 a "política externa independente", dos Nos 1960, primórdios da disciplina de Relações da escreveu um dos primeiros trabalhos as estruturais que tinha apenas qualquer um determinações papel ou de sistêmicas. Ao externa a periferia de oportunidades modificar do país a na inserção ordem por si só não tenha a capacidade de alterar a situação de vulnerabilidade econômica estrutural, ela pode atenuar as condições da correntes - crise do capitalismo e para "pragmatismo internacional. Ainda que a política contrário das explicações sistêmicas oportunidades a subordinada era epifenômeno combinação orientados no campo, nas quais a política externa ou não o sistêmicas e da ação de agentes interpretações predominavam quanto responsável" dos 1970, foram frutos Internacionais no país, Gerson Moura contestando nova ordem internacional na esteira da formação Este, como deve ser do conhecimento Moura discussão de uma inserção - internacional do país e, inclusive, diversificar sua dependência. Gerson enfatizou o papel da bem sucedida política externa de Vargas A junção destes dois elementos esteve nos anos 40. Esta soube aproveitar a presente nos momentos em que a situação do lógica da autonomia comandou as Nordeste brasileiro e a necessidade de escolhas de política externa, mas não materiais estratégicos para a indústria garantiu de guerra, no contexto da constituição continuidade. Ao contrário, em outras do sistema de poder norte-americano, ocasiões, mesmo que as condições para coisas, internacionais fossem permissivas, as financiamento norte-americano para a escolhas da política externa tenderam construção da usina de Volta Redonda, para um marco na industrialização brasileira concordância com o status quo. Desta nos forma, na política externa do século XX geográfica obter, anos momentos, entre estratégica outras seguintes. ainda no Em outros contexto da o sua eixo permanência da aquiescência e e experimentamos diferentes períodos Gerson Moura, Autonomia na Dependência: A Política Externa Brasileira de 1935 a 1942. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1980. 1 2 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 de predomínio de uma ou de outra variados matizes na América do Sul, destas lógicas de ação externa, em configuravam um grande expectativas bastante parte em função das cenário de positivas. O orientações que as elites governantes primeiro mandato de Dilma Rousseff, imprimiram, confirmando a agência da porém, acionou o alarme com respeito mesma na definição de diferentes à continuidade da política altiva e ativa trajetórias de inserção internacional. pretérita face ao menor protagonismo da Presidente num contexto em que a No século XXI a política externa "altiva diplomacia presidencial e presencial é e ativa" do governo Lula constituiu mais um momento em que cada vez mais necessária para que o a status combinação das duas dimensões gerou condições para uma política quo não se deteriore, em especial para um país como o Brasil de que tem no poder brando um de seus autonomia no plano externo. Talvez se principais instrumentos de projeção e tenha muito rapidamente acreditado ação que, num contexto de difusão do poder internacional. precária na direção dos emergentes, estavam Ademais, institucionalização a das inciativas anteriores agravou o risco de dadas as condições para uma inserção sua deterioração, em um contexto relativamente menos subordinada do doméstico Brasil no sistema internacional, crença e internacional mais restritivo. também impulsionada pela firmeza das opções de política externa do período O Lula. tenha presidencial, um quadro econômico estimulado o voluntarismo dos agentes preocupante com contingenciamento e de do orçamento, turbulência no interior diversas da corporação diplomática, conflito Talvez esta desestimulado institucionalização inovações do crença medidas das diplomacia aberto entre a direção do MRE e os reconfiguração da integração regional, jovens terceiros secretários em função a cooperação para o desenvolvimento do estreitamento das possibilidades de e a instituição de mecanismos de ascensão na carreira e ameaça de prestação greve contas como da a de período arrefecimento da política dos funcionários externa. As grandes transformações da administrativos, num política diminuição demanda sul-americana, a presença da ambiente de chinesa, menos ostensiva dos EUA na região, apontavam, ao final de 2014, para um em das cenário distinto daquele que presidira estratégias internacionais daquele país os dois mandatos do governo Lula. Os depois do 11 de setembro, a ascensão primeiros meses do segundo mandato da China e o ciclo ascendente de aprofundaram governos enfrentadas por Dilma Rousseff num função da redefinição progressistas dos mais 3 as dificuldades Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 quadro econômico deteriorado, e enterro do projeto de integração relativo enfraquecimento político da regional presidente Congresso, Novamente a força da lógica binária se reunificação das forças de oposição e impôs num quadro de grande incerteza dos segmentos mais conservadores, e além de enfrentar a oposição das internacional do país. Nem uma coisa forças nem outra, porém. Sem diplomacia vis-à-vis sindicais projetado ajuste externo, as o e populares fiscal. No limitações ao plano centrado restrição presencial também forte não no ao Mercosul. protagonismo tem agência, nem política crítica da estrutura normativa cresceram com a demanda global mais do enfraquecida, preços das commodities outro lado, entre o polo da autonomia em queda e prioridade chinesa ao e crescimento doméstico em detrimento graduações possíveis. das exportações. Neste quadro ordenamento o da internacional. aquiescência há Por várias A ênfase em escolhas pragmáticas as parece ser o caminho escolhido pela prioridades da nova gestão são a busca presidente, com a nomeação do novo por retomar as rédeas do governo e a chanceler Mauro Vieira, cuja primeira ênfase nos temas domésticos. Além do tarefa, mais, instrumentos internacional Marco Aurélio Garcia, foi pela a vários largamente turbulento, dos utilizados política secundado recomposição pelo das assessor relações no externa de Lula/Amorim como créditos interior da corporação, extremamente subsidiados esgarçadas do BNDES para no final do primeiro investimentos brasileiros no exterior e mandato, e a implementação de uma recursos orçamentários substanciais política externa de resultados no plano destinados à cooperação internacional, comercial, neste caso alinhada com o sofreram drástica redução diante de MIDIC. O mega acordo com a China e um quadro recessivo e de ajuste fiscal os acordos com México sinalizam nesta que marca estes primeiros meses do direção. De uma tacada, a política governo Dilma Rousseff. externa acenou favoravelmente aos setores As Cassandras de plantão anunciaram críticas da oposição de que o governo ocorreu no passado em situações de crise do a do Brasil. De outro, respondeu às ativa" e, muito provavelmente, como e favoráveis alianças contra hegemônicas da parte o declínio da política externa "altiva e deterioração progressistas não fechara qualquer acordo comercial viés num contexto de perda da posição do autonomista da política externa, o país nas correntes de comércio global. retorno na direção do alinhamento com Também agradou aos empresários que o Norte, aquiescência na política global veem na aproximação com o México 4 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 uma possibilidade de ampliar o acesso das exportações brasileiras de bens e serviços. Mais pragmática impossível! Mas sem agência não tem política externa ativa, quanto mais crítica. Vamos aguardar os próximos passos na expectativa de que a situação econômica não se agrave mais, tornando a escolha por satisfazer os mercados e os investidores a estratégia dominante da política externa. Rio de Janeiro, 5 de junho de 2015. Maria Regina Soares de Lima 5 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 2006), foi eleito. Em seguida, Alan Instituições e Processos Políticos García Pérez (2006-2011), do Partido Aprista Três anos de governo Humala: Da Peruano (Apra), deu seguimento à proposta dos presidentes alternativa ao neoliberalismo ao anteriores de aprofundar as propostas caos. ditadas pelo Consenso de Washington. Paula Gomes Moreira Pesquisadora OPSA Quando Ollanta Humala, do Partido Nacionalista Peruano (PNP) venceu as eleições gerais de 2011, contra a candidata Keiko Fujimori, da coalizão Considerações iniciais Força 2011, a expectativa era de que A frágil democracia peruana sofreu houvesse o rompimento com o modelo duros golpes com a chegada dos anos de livre mercado ortodoxo, consoante 1990, em especial a tentativa, em um governo de centro-esquerda. Seu 1992, de autogolpe, arquitetada pelo triunfo ex-presidente Alberto Fujimori (1990- mercados internacionais, refletido na 2000). Somente após fortes críticas mais forte queda da Bolsa de Lima. “Os por investidores parte internacionais, populares do de observadores aliados país, a é reestabelecimento que da a renúncia de viviam temores momentos nos de setores pânico e o mercado só esperava que houve fossem dados sinais claros de que se ordem iria continuar com o modelo econômico constitucional peruana. Após despertou atual”.2 Fujimori da O passado bate à porta liderança do Peru, vários governos O então recém-eleito presidente, de neoliberais se sucederam no poder. longe lembrava o militar de natureza Valentin Paniagua ficou um ano à reformista, que imbuído de um esprit frente da Casa de Pizarro, sede do Poder Executivo, durante de corps castrense3 (von Clausewitz, tempo 1999), clamava pela recuperação da suficiente para a realização de novas honra militar, fragilizada após uma eleições, nas quais o candidato do Peru década de corrupção no país, sob o Possível (PP), Alejandro Toledo (2001- regime fujimorista.4 TERRA NOTÍCIAS. Elección de Ollanta Humala derrumba la bolsa y reclaman señales de confianza. Elecciones presidenciales 2011. 6 de junho de 2011. Disponível em: http://noticias.terra.com.pe/eleccionespresidenciales/2011/eleccion-de-ollantahumala-derrumba-la-bolsa-y-reclaman-senalesde- confianza,b38a78bf1c660310VgnVCM3000009a f154d0RCRD.html. Acesso em: 22 abr. 2015. 3 VON CLAUSEWITZ, Carl. Da Guerra. Martins Fontes, 1996. 4 NESBET-MONTECINOS, Felipe. Humala antes de Ollanta: evolución política del nuevo presidente peruano. European Review of Latin American and Caribbean Studies/Revista 2 6 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 O episódio remonta a fins dos anos explicação da grave crise política pela 2000, qual quando o então presidente passa o país atualmente. Alberto Fujimori havia anunciado sua Primeiro, saída do cargo e buscava com urgência contextualizar a importância de dois seu assessor de Inteligência, Vladimiro personagens na história apresentada, Montesinos Torres, no quartel andino que são: Vladimiro Montesinos Torres de Locumba, cidade do departamento e de Tacna, próxima à fronteira com a primeiro foi condenado por corrupção e Bolívia, crime organizado pela Justiça peruana7 quando um grupo de 69 faz-se Antauro irmão, major para a campanha de Humala, por parte aposentado, ocuparam uma estação de seu assessor Óscar López Meneses 8. mineradora e exigiram a renuncia Segundo a acusação da Procuradoria imediata de Fujimori.5 Anticorrupção, líder do também particular oferecido por Montesinos Congresso Torres, peruano, Valentín Paniagua Corazao, após viagem de Fujimori Meneses bens pessoais e resguardo policial renúncia foi feito via um fax remitido ao escândalo recebeu dinheiro para aquisição de novembro, o anúncio de sua Japão, do o envolvendo a arrecadação de recursos do pivôs 2014, tenente coronel Ollanta Humala e seu Em dos Em e Humala, um Humala. soldados reservistas, liderados pelo Antauro é necessário suspenso ao país ex-chefe do Serviço recentemente de Inteligência Nacional do Peru (SIN)9. asiático para participação em reunião do bloco econômico de Cooperação O caso levou à renúncia de vários Econômica congressistas, da Ásia e do Pacífico (Apec)6. eles, Wilfredo Pedraza, que era Ministro do Interior desde 24 de julho de 201210 e José Os acontecimentos apresentados se mostram entre fundamentais para a Europea de Estudios Latinoamericanos y del Caribe, p. 81-90, 2011. 5 Idem. 6 LA REPUBLICA. Ronald Gamarra: fujimorismo todavía no aprende sobre valores democráticos. Política. 13 nov. 2011. Disponível em: http://www.larepublica.pe/13-11-2011/ronaldgamarra-fujimorismo-no-aprendio-sobredemocracia. Acesso em: 21 abr. 2015. 7 PERÚ 21. Vladimiro Montesinos encabeza lista de deudores por corrupción en el Perú. Política. 03 de abril de 2015. Disponível em: http://peru21.pe/politica/vladimiro-montesinosencabeza-lista-deudores-corrupcion-pais2215825. Acesso em: 21 abr. 2015. 8 Idem. López Meneses se comunicaba, al parecer, con Humala, según Agustín Mantilla. Política. 26 de outubro de 2014. Disponível em: http://peru21.pe/politica/lopez-meneses-se- comunicaba-al-parecer-humala-segun-agustinmantilla-2202330. Acesso em: 22 abr. 2015. 9 Em 10 de fevereiro de 2015, a primeira ministra Ana Jara havia anunciado o fechamento temporal da Direção Nacional de Inteligência (Dini), órgão principal de administração do SNI, alegando a realização de uma reorganização da instituição, com a melhoria dos controles de fiscalização, prestação de contas e análise da situação laboral de seus funcionários. Em 2000, o SNI foi fechado devido sua utilização indevida para objetivos de campanha de Fujimori, tendo sido restituído em 2008 para apoiar as ações de combate ao terrorismo. 10 EL COMERCIO. Caso López Meneses: Wilfredo Pedraza renunció al Ministerio del Interior. Política. 15 de novembro de 2013. Disponível em: http://www.larepublica.pe/15-112013/caso-lopez-meneses-wilfredo-pedraza- 7 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 Cueto Aservi, ex-chefe do Comando Sem o apoio do irmão e com a Conjunto das Forças Armadas. constante troca de ministros – tendo as mudanças Somado este quadro, que contribuiu oscilaram ministro13 e, de Ana María Sanchéz entre como sua quarta ministra de Relações 32% a 24% nos últimos meses 11, Exteriores14 – Humala ainda transita houve a prisão, logo que assumiu o entre mandato em 2011, de seu irmão Antauro Humala. Antauro Penal Permanente, da compromisso . Em outras 15 e falta de apoio, seu governo ainda navega por uma miríade de influências políticas, dificultando, inclusive, sua capacidade sua de realizar uma boa gestão. pena, Antauro iniciou seu apoio à Frente pela Unidade e Defesa do Povo Sobre Peruano (FUDP) criada pelo Movimento esta conjuntura, Adalberto Vergara chegou a defender que existe pela Anistia e Direitos Fundamentais no (Movadef), e que agrupa, ainda, o país institucional’, Pátria para todos, o Etnocacerista e o Terra Verde um e palavras, não obstante a crise política morte de policiais da Polícia Nacional. de “ideias nacionalistas [proposta de] Chávez” em janeiro de 2005, que resultou na revisão de rumo à autonomia étnica, igual a Corte ocupação de uma delegacia de polícia, aguarda mescla autoritárias, com Suprema de Justiça, por liderar a Enquanto uma esquerdistas, foi condenado a 19 anos de reclusão pela Sala sido Cateriano, como seu sétimo primeiro- refletida em seus baixos níveis de que recentes marcadas pela nomeação de Pedro para mexer com a imagem de Humala, popularidade, mais “um ‘macroarranjo surgido com a promulgação da Constituição de 1993 . 12 e que se manteve inalterado em suas linhas fundamentais”16. Ou seja, o Mudanças favoráveis renuncio-al-ministerio-del-interior. Acesso em: 22 abr. 2015. 11 GESTIÓN. Aprobación de Ollanta Humala sube ocho puntos porcentuales en E y alcanza 40%. Política. 24 de abril de 2015. Disponível em: http://gestion.pe/politica/ollanta-humala-subeocho-puntos-porcentuales-y-alcanza-402129954. Acesso em: 22 abr. 2015. 12 CORREO. Elecciones 2016: Movadef encabeza frente con apoyo de Antauro Humala. Política. 15 de janeiro de 2015. Disponível em: http://diariocorreo.pe/politica/elecciones-2016movadef-encabeza-frente-con-apoyo-deantauro-humala-557629/. Acesso em: 22 abr. 2015. 13 PERU THIS WEEK. Pedro Cateriano replaces Ana Jara as Prime Minister. National. 02 abr. 2015. Disponível em: http://www.peruthisweek.com/news-pedro- cateriano-replaces-ana-jara-as-prime-minister105751. Acesso em: 22 abr. 2015. 14 EL COMERCIO. Ana María Sánchez: quién es la canciller que relevó a Gutiérrez. Política. 03 de abril de 2015. Disponível em: http://elcomercio.pe/politica/gobierno/anamaria-sanchez-quien-canciller-que-relevogutierrez-noticia-1801847. Acesso em: 23 abr. 2015. 15 LAUER, Mirko. “Ojo, contiene ingredientes conservadores”. La República, Política. 15 de novembro de 2005. Disponível em: http://www.larepublica.pe/15-11-2005/ojocontiene-ingredientes-conservadores. Acesso em: 23 abr. 2015. 16 VERGARA, Adalberto. Alternancia sin alternativa: ¿Un año de Humala o 20 años de un sistema?. Revista Argumentos, Ano 6, Nº 3, 13 p., 2012. 8 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 esperado giro à esquerda não econômico criado pouco antes de o aconteceu, tendo política e economia atual presidente assumir a liderança do peruanas permanecidas as mesmas de país, em abril de 2011, formado por outrora. Chile, Peru, Colômbia e México, além de alguns observadores, já é visto No entanto, do ponto de vista da como um forte concorrente ao Mercado manutenção do regime político, o Peru Comum do Sul (Mercosul), do qual vive desde o fim do governo de transição encabeçado por fazem parte Brasil, Uruguai, Argentina, Valetín Paraguai e Venezuela19. Paniaga (2000-2001), do Ação Popular (AP), o seu ciclo de democracia Além de avanços no setor econômico, eleitoral mais longo. Carlos Alberto os Adrianzén defende que a democracia parcerias regionais e extra-regionais no país tem se mantido, apesar da para facilitação de processos como ausência de um sistema de partidos, e trâmite de um conjunto de agremiações que a fronteiriça. Humala tem levado adiante cada ano têm se hiperfragmentado. também esforços binacionais em suas Como partidos relações exteriores, a exemplo da perderam realização de gabinetes conjuntos com consequência, políticos os nacionais membros de AP vistos e buscado integração países organizações e promoção da integração de áreas, a regionais, que não conseguem manter- exemplo da Amazônia, que requerem se por muito tempo17. mais incentivos do Estado para seu locais desenvolvimento A essa estabilidade democrático dentro da instabilidade de economia, buscado que enfrentar Humala com a de para a regional20. a eliminação do Visto Schengen para peruanos21 documento necessário para tem ingresso em países da União Europeia maior (UE). O mesmo esforço tem sido abertura da pauta de exportações e estabelecimento Colômbia, Recentemente, o presidente negociou organizações políticas18, soma-se a desaceleração da a têm importância, frente à proliferação de políticas como da realizado com relação ao Visa Waiver acordos Program, com o objetivo de permitir comerciais, sobretudo no âmbito da aos peruanos viajar a turismo ou Aliança do Pacífico (AP). O bloco ADRIANZÉN, Carlos Alberto. Una obra para varios elencos. Apuntes sobre la estabilidad del neoliberalismo en el Perú. Nueva sociedad, Nº 254, p. 100-111, 2014. 18 Idem. 19 A Bolívia também anunciou sua adesão ao Mercosul, a partir de junho de 2015, quando passará a ser membro pleno do bloco. 20 EL COMERCIO. Humala a Santos: "La Alianza del Pacífico no es suficiente". Política. 30 de setembro de 2014. Disponível em: http://elcomercio.pe/politica/actualidad/ollanta humala-juanmanuelsantos-alianza-pacifico-nosuficiente-gabinetebinacional-noticia-1760621. Acesso em: 23 abr. 2015. 21 A Colômbia também tem negociado junto à UE a eliminação da necessidade do visto para seus cidadãos. 17 9 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 negócios para os Estados Unidos, através de benefícios financeiros a podendo lá permanecer por até 90 adultos com mais de 65 anos de idade, dias22. que carecem de condições básicas para sua Assim, apesar dos bons resultados obtidos no setor externo, é Programa alimentos adequados aos hábitos de consumo locais de diferentes grupos Humala, nos últimos meses, devido etários de estudantes. aproximação do fim de seu mandato e próximas o Warma, que consiste na provisão de atenção na agenda de governo de das e Nacional de Alimentação Escolar Qali a conjuntura interna que tem tido maior convocação subsistência eleições Em 2016, Humala pretende utilizar os presidenciais pelo Escritório Nacional mesmos programas como uma de suas de Eleições (JNE), para 2016. principais bandeiras contra a candidata fujimorista Considerações finais foi realizado eleições. Por um lado, representava em Humala como o candidato das dúvidas, uma mesma cidade em que esteve anos peruanos. enfatizou sociais O a outros muitos criados dos ao do gerava PNP de em vulnerabilidade situação social Pensão de 65, Assistência que outorga incerteza devido os meios consolidada do estilo de governo do fujimorismo, de desrespeito em caracterizado às por seu instituições democráticas, proclividade em violar universidades do país; o Programa Nacional o das provas, haja vista a imagem já fornece bolsas de estudo para ingresso jovens defendia outro lado, definia Keiko, a candidata seu governo, a exemplo do Bolsa 18, que de ele propostos para alcançar tal feito. Por programas longo que social, ao mesmo tempo em que militares candidato vez crescimento econômico com inclusão atrás, quando pedia a renúncia de junto Steven cada um dos candidatos, nas últimas novembro de 2014, em Locumba, Fujimori Fujimori. Levitsky24 já caracterizara o perfil de O anúncio do início de sua campanha presidencial23 Keiko os direitos humanos, uso clientelista Solidaria dos programas sociais e corrupção proteção institucionalizada25. LA REPUBLICA. Eliminación de visa Schengen para Perú sería en 2016. Sociedad. 27 de abril de 2015. Disponível em: http://www.larepublica.pe/27-042015/eliminacion-de-visa-schengen-para-peruseria-en-2016. Acesso em: 27 abr. 2015. 23 Idem. Ollanta Humala anuncia inicio de campaña electoral al 2016. Política. 03 de novembro de 2014. Disponível em: http://www.larepublica.pe/03-11-2014/ollanta- humala-anuncia-inicio-de-campana-electoral-al2016-video. Acesso em: 27 abr. 2015. 24 Levistsky ficou famoso na segunda rodada de eleições em 2011 no Peru, ao dizer que “nós podemos ter dúvidas sobre Humala, mas temos provas sobre Keiko”. 25 CUADROS, Carlo Magno Salcedo. El gran desafío de Ollanta Humala: realizar un verdadero gobierno de centroizquierda. Nueva Sociedad. Opinión. Disponível em: 22 10 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 Por fim, na corrida eleitoral já em integrante do Mercosul marcha, ao origem em 1991, com a assinatura do a Tratado de Assunção, a integração um colocado cenário por parecido Levitsky começa despontar, sendo que, dessa vez a regional indecisão política de Humala parece governantes uruguaios para além da contribuir do dimensão comercial, como uma forma eleitorado pela candidata da oposição. de solidariedade entre os povos e de Ou seja, apesar das conquistas já garantia da estabilidade continental. para a preferência realizadas pelo governo, em especial política de ideológicos, fato, que em irá pelos Frente Ampla, antes com José Mujica e termos decidir encarada Para além do discurso, os governos da na área social nos últimos três anos, é a foi desde sua agora com Tabaré Vásquez, estão a implementando ações para aprofundar continuação ou não de Humala na os pontos de contato entre o Uruguai e presidência do Peru, nos próximos seus pares. Destaca-se, nesse sentido, anos. os acordos recentes realizados com Bolívia e Paraguai para que os dois países mediterrâneos obtenham uma saída para o mar. Dessa forma, além de contribuir para o desenvolvimento Integração Regional econômico O Porto de Rocha e a Integração uruguaio Regional da região, ajuda a o governo apaziguar uma discórdia que se iniciou com a Guerra do Pacífico e que se entende até hoje em litígios na Corte Internacional de Marianna Albuquerque Pesquisadora OPSA Justiça. A Guerra do Pacífico e a demanda Introdução na Corte Internacional de Justiça Desde de que foi admitido no processo No final do século XIX, entre os anos negociador de 1879 e 1883, Chile enfrentou forças para a integração da América do Sul, que havia sido iniciado conjuntas por esforços bilaterais de Brasil e disputa de áreas ricas em recursos Argentina, o Uruguai colocou-se como estratégicos na região do deserto do um forte incentivador da união entre as Atacama. nações vencedor do conflito, o Chile anexou a sul-americanas. Parte http://www.nuso.org/opinion.php?id=96. Acesso em: 27 abr. 2015. 11 de Ao Bolívia sair e Peru como pela grande Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 região peruana de Tarapacá e a região O boliviana de Antofagasta, retirando da apaziguador do conflito: Bolívia a possibilidade de acesso extensão um acesso ao oceano passou a ser uma de marítimas, dos objetivos constitucionais do país, estratégicos como sua plataforma continental de 200 para 350 milhas questão nacional, que consta como um motivos Rocha ONU, após três anos de negociação, a governos bolivianos, a retomada de seus de Em 2014, o Uruguai conseguiu na soberano ao mar. Para os sucessivos por Porto aumentando o limite estabelecido pela Convenção de Direito e do Mar de Montego Bay. Com a econômicos. extensão, o país pode procurar Em face desse objetivo, em 2013, a hidrocarbonetos na nova área que se Bolívia entrou com uma ação na Corte encontra sobre sua Internacional de Justiça (CIJ), órgão da aliviando assim a Organização das Nações Unidas (ONU) energética de localizada em Haia, na Holanda, para Uruguai enfrenta. Com a decisão, a que o Chile negocie de boa fé um zona marítima uruguaia passaria a acesso soberana para a Bolívia ao equivaler a quase metade da superfície Oceano Pacífico. Como os dois países territorial do país, mas a efetivação envolvidos reconhecem a jurisdição da plena da medida ainda requer estudos CIJ para julgar litígios internacionais, a e Bolívia demanda que o Chile, ao longo especialistas dos acordos e da prática diplomática favorável ao país abriu precedente realizadas desde a Guerra do Pacífico, para Brasil e Argentina, que possuem havia se comprometido com o diálogo demandas sobre a questão, o que havia criado organização. uma expectativa de direito que deve A pelos decisão na do Porto de águas profundas, localizado no departamento A CIJ concluiu pela procedência do de pedido boliviano e, uma semana depois Rocha, torna-se especialmente relevante para a projeção econômica de ajuizada a ação, comunicou ao a ONU. semelhantes construção possui questões pendentes com o país. Rodriguez, da feitas o próspera. Nesse sentido, o projeto de com a Bolívia e que, portanto, não Eduardo demarcações que porta de acesso ao mundo ainda mais Tratado de Paz e Amizade, em 1904, em importações passou a enxergar o oceano como uma por sua vez, alega que assinou um boliviano dependência Com o direito adquirido, o Uruguai ser efetivamente cumprida. O Chile, embaixador jurisdição, do Haia, país e aparece como tópico prioritário do Ministério de Transporte decisão e favorável. Obras Públicas. A vantagem comparativa que o porto oferecia é sua 12 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 maior profundidade, com um calado recursos. De um orçamento total de natural de 20 metros, que supera os aproximadamente R$ 100 milhões, o portos da região, como o Porto de Brasil contribui com 70%, a Argentina Santos, que possui um calado natural com 27%, o Uruguai com 2% e o de 12 metros. Dessa forma, o Uruguai Paraguai com 1%. A distribuição é feita poderia tornar-se um grande centro na seguinte proporção: Brasil recebe logístico da região, ao permitir o 10%, Argentina fica com 10%, Uruguai desembarque de navios maiores e a com 32% e Paraguai com 48%. O distribuição de volumes de produção objetivo do fundo é financiar projetos mais significativos a baixos menores, de infraestrutura que contribuam para no Oceano Atlântico. o desenvolvimento da região. O projeto prevê um orçamento de Colocando os recursos do FOCEM na aproximadamente US$ 500 milhões, e perspectiva da integração regional, em contará com recursos do Fundo de 26 de fevereiro de 2015, nos últimos Convergência Estrutural do Mercosul dias de seu mandato, o ex-presidente (FOCEM), criado em 2005. O FOCEM e atual senador da Frente Ampla José possui uma estrutura reflexa entre “Pepe” contribuição presidente boliviano, Evo Morales, um e distribuição dos Mujica assinou com o Localização estratégica do Porto de Rocha: Fonte: http://www.ipsnoticias.net/ 13 1 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 memorando em que o Uruguai concede Integração da Infra-estrutura Regional à Bolívia acesso ao oceano por meio do da América do Sul (IIRSA), atualmente Porto de Rocha. O objetivo do governo vinculada à Cosiplan da Unasul, ficou uruguaio é conceder facilidades para o visível a importância que a integração uso do espaço terrestre do porto e da física entre os Estados possui para a plataforma continental estendida para efetividade de uma integração regional que a Bolívia possua saída marítima. O que vá além de trocas comerciais. argumento de Mujica foi baseado na Dessa forma, a iniciativa uruguaia, importância do comércio marítimo, iniciada por Mujica e continuada por visto como um “direito natural para o desenvolvimento econômico Vásquez, demonstra a percepção do das governo nações”. O Acordo foi firmado na Casa de Governo do Uruguai, tensões em entre satisfação por Morales, que agradeceu acordo por meio do Chile e Bolívia econômico e do dos obtenha êxito, será ainda o necessário o apoio de Brasil, Argentina funcionamento da parceria ainda estão e Paraguai, rotas de passagem para o em negociação, afora no governo de escoamento da produção boliviana em Tabaré principal direção ao Oceano Atlântico. Essa é, problemática envolvida é que Uruguai sem dúvidas, uma boa oportunidade e Bolívia não fazer fronteira, o que para a convergência estrutural e o demanda que o transporte seja feito diálogo geopolítico entre os principais anteriormente pelo território brasileiro, governos da região. Vásquez. A para minimizar países sul-americanos. Para que o laços regionais. técnicas região, desenvolvimento a iniciativa uruguaia em aprofundar os questões na de apaziguamento do conflito histórico Montevidéu, e foi recebido com muita As uruguaio ou através de Paraguai e Argentina. A intenção é estender ao Paraguai, que também não possui saída para o mar, os benefícios concedidos à Bolívia. Conclusão As obras do Porto de Rocha, que possuem previsão de durar dois anos, ainda estão longe de serem concluídas, mas o projeto já possui relevância estratégica para a integração regional. Após o lançamento da Iniciativa para a 14 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 revés Política Governamental político, na trajetória e desenvolvimento do processo iniciado em 2007. Nas disputas para os Executivos locais, o movimento AP Rafael Correa, “revolução cidadã” perdeu para forças de centro-direita e reeleição ilimitada. nas três principais cidades do país: Guayaquil, Cuenca e Quito. Alessandro Michael Cunha Amorim Pesquisador OPSA Tal fato, dado sua gravidade política na conjuntura do país, acabou gerando Há uma proposta constituição, de emenda tramitando expectativas à governistas na ilimitada. A possível cenário restauração de todavia, no ímpeto frear Correa e o seus correligionários passaram a investir diversos esforços, no sentido de uma oposicionistas, de conservadora, presidente Rafael Correa e da própria “revolução Grupos levou, “revolução cidadã” contra uma suposta instabilidade, traça o futuro político de cidadã”. que com o fito de garantir a manutenção da para o bloco governista, pois, dentro um o próprio movimento. Como resultado, e emenda supracitada é de suma importância de AP, os reflexões e avaliações no interior do busca tornar a reeleição para cargos de popular do para consequentemente, a uma série de Assembleia Nacional no Equador, que voto negativas mudança constitucional, para tornar a tal reeleição ilimitada nos cargos de voto emenda, tem se mobilizado em torno de uma consulta popular. popular. Com a referida mudança, Correa poderá se candidatar A “revolução cidadã”, projeto político novamente à Presidência da República, levado a cabo por Rafael Correa e o nas movimento Aliança País (AP), tem continuidade fomentado, nos últimos anos, diversas revolução transformações no Equador. Além da cabe estabilidade política alcançada após equatoriana, que foi aprovada via uma década turbulenta – entre 1996 e referendo em 2008, ou seja, já sobre a 2006 o Equador teve 10 presidentes – gestão de Correa, permite apenas uma , houve no país latino-americano, sob única reeleição consecutiva. eleições de ao 2017, seu bolivariana. destacar, a e projeto dar de Atualmente, Constituição a rubrica de tal projeto, consideráveis avanços sociais, econômicos e A decisão em torno da proposta de de reeleição ilimitada, que até então não infraestrutura. Nas eleições ocorridas era em fevereiro de 2014, todavia, parece nem mesmo cogitada publicamente por Correa, foi tomada ter ocorrido um início de inflexão, ou 15 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 pelo movimento AP em sua quarta cada vez mais um método comum de convenção, governança. realizada em maio de com popular pela uma meses de consulta, com apoio da população fevereiro. Após esse episódio, Correa, acima de 60%, como pesquisas do que já havia se pronunciado contra a instituto Cedatus-Gallup sua mostrando, os das reeleição eleições em diversas oportunidades anteriores, começou a se manifestar positivamente em em direção à aprovação da emenda constitucional da reeleição ilimitada, pedido ao bloco parlamentar para que foi uma consulta à Corte Constitucional se iniciasse no legislativo a tramitação A questão, para (CC). A CC do Equador, a contragosto o da expectativa dos oposicionistas – Presidente, não diria respeito a um que defendiam uma consulta popular – mero anseio de caráter personalista – , decidiu que a proposta de mudança, como apontado por opositores –, mas impulsionada sim ao próprio futuro e estabilidade da do principal governo, seria Nacional. A CC compreendeu que esta mandatário seria a tramitação adequada posto que equatoriano, estaria vivendo tempos a proposta não objetiva alterar a difíceis. Cabe pelo tratada via emenda pela Assembleia “revolução cidadã”. O Equador, na avaliação ainda O passo inicial dado pelo movimento, decisão do movimento, realizou um proposta. governistas, vem assim, preferiram o outro método26. relação ao tema e, corroborando a da demanda mesmo 2014, na cidade de Esmeraldas, dois depois alta Todavia, estrutura fundamental tampouco os destacar, a elementos constitutivos do Estado. de Nesse sentido, a decisão foi bastante discussões apenas no legislativo – e positiva para os governistas, posto que não via consulta popular –, defendida eles detêm maioria das cadeiras no pelo movimento AP, coloca o projeto legislativo (100 das 130 cadeiras). Os democrático do país em uma situação membros da oposição, após a decisão delicada. da da Corte, iniciaram vários movimentos Constituição em 2008, que, reiterando, de articulação em torno da promoção foi efetivada via referendo, dois anos de uma consulta popular. mudança após a entretanto, constitucional Desde ascensão a que através aprovação de Correa, as Para que a consulta ocorra, de acordo consultas populares tem se tornado com a legislação, faz-se necessário a Segundo dados da Cedatos, em maio de 2014, 61% da população acreditava que a consulta popular era o melhor caminho para estabelecer ou não a reeleição ilimitada, ao passo que apenas 18% defendiam o tramite via emenda. Em junho, a parcela da população que apoia a consulta popular sobe para 69%, chegando a 73% em setembro do mesmo ano. Na última pesquisa, realizada em abril de 2015, 81,6% da população opina a favor da consulta popular para definir a questão. (fonte: http://www.cedatos.com.ec) 26 16 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 coleta de certa quantidade de e sociais, tem como lideres Guillermo assinaturas da população. Todavia, o Lasso, processo não é simples, os formulários Oportunidades para Montúfar, do movimento Concertação. a coleta de assinaturas são disponibilizados, constitucional depois dos de do movimento (CREO), Criando e César análise O coletivo apresentou uma pergunta das em novembro, mas foi negada pelo méritos perguntas, pela CC e pela Conselho conselho. Nacional Eleitoral (CNE). Aqui reside outra um dos grandes problemas enfrentado reformulada, que foi enviada do CNE pelos grupos que querem frear a para a CC. A CC, entretanto, devolveu reeleição os o pedido ao CNE, o argumento da Corte pedidos de consulta, quando não são foi de que ela não teria competência imediatamente têm direta para dar uma decisão. O CNE, peregrinado entre um órgão e o outro. por fim, em março deste ano, devolveu O a solicitação ao coletivo. que ilimitada, tem posto que recusados, levando suspeitas, sobretudo para atores oposicionistas, em relação à neutralidade CNE, estão: mas dessa vez Diego Borja, ex-ministro de governo, foi entregue a CC em dezembro de os grupos que realizaram pedidos à CC à pergunta, novamente O pedido do grupo DS, cujo dirigente é e independência desses órgãos. Dentre e/ou Apresentou 2014. A decisão, cujo resultado foi a Sociedade inadmissão do pedido, só saiu quatro Patriótica (SP), Compromisso Equador meses depois, em abril deste ano. O (CE), Democracia Sim (DS) e o partido veredicto foi tomado por três juízes, Pachakutik. segundo a análise dos magistrados, o A primeira organização a entregar conteúdo das pergunta proposta se pedido ao CNE foi o partido Sociedade referia Patriótica (SP), grupo que tem Gilmar procedimento Gutiérrez como presidente executivo. Constituição. Dessa forma, como já O pedido foi entregue a CNE, em existe uma iniciativa de reforma cidadã outubro do ano passado, e foi negado. sobre Em novembro do mesmo ano o partido possível apresentar outra. A Corte, na resolveu acudir à CC, mas a solicitação ocasião, se referia ao pedido proposto foi inadmitida, a corte julgou que o por Alberto Arias e outros cidadãos, ao pedido não estava claro. qual pedem uma consulta para que se a o assunto de mesmo relacionado reforma tema, não a da seria permita a reeleição indefinida das A petição de consulta do coletivo autoridades de eleição popular, pedido Compromisso Equador foi recusada até então desconhecido por grande três vezes pelo Conselho. O coletivo, parte dos grupos aqui mencionados. formado por 40 agremiações políticas 17 Boletim OPSA | 01 | jan/mar 2015 A última organização que realizou o atual contexto do país. Enquanto os pedido de consulta junto aos órgãos setores supracitados conjuntamente foi o Pachakutik. A descritos em se torno mobilizam de uma proposta foi realizada em março deste consulta popular, a emenda continua ano. O grupo, para evitar imbróglios sendo discutida pelo Legislativo e o jurídicos, como os ocorridos com as futuro de Rafael Correa e da própria outras organizações, fez o pedido junto “revolução ao CNE e a CC ao mesmo tempo. O eleições, permanece incerto. Dado a CNE negou a consulta, agora o partido importância do tema para a região aguarda a decisão da CC. latino-americana, diálogos conjuntos dessas forças no sentido de formar uma unidade contra a emenda da reeleição ilimitada, entre esses grupos estão: Pachakutik, CE, SP e País Livre (PL). A iniciativa de mobilização conjunta partiu do partido Pachakutik. O grupo DS, entretanto, compor ação com organizações à direita do espectro ideológico, decidiu não participar da articulação. Uma das primeiras iniciativas da composição (Pachakutik, CE, SP e PL) foi criar uma comissão para analisar as propostas de consulta popular. O grupo conta com Santiago Utitiaj, do Pachakutik; César Monge, pelo CE; Fernando Balda e Víctor Hugo Erazo, pelo SP, e Grace Almeida, pelo PL. Além de assessoria de participa da contar com advogados, comissão, resta próximas agora os desdobramentos desses eventos. CNE, têm ocorrido, no último mês, não nas acompanhar a conjuntura do país e ver Diante das desventuras com a CC e o alegando cidadã”, uma também como representante de um setor específico dos ex-constituintes, Betty Amores. No que diz respeito à questão da emenda da reeleição ilimitada, esse é 18