Bingo das células: Jogo Didático para o ensino de Citologia Décio Escobar de Oliveira Ladislau* RESUMO Buscou-se, no presente trabalho, a elaboração de um Jogo Didático como estratégia para o ensino de biologia celular e analisar a possibilidade de utilizá-lo em sala de aula no Ensino Médio. A metodologia utilizada foi uma Prática Simulada que tem como principal característica a exploração de temas teóricos. Será realizada em sala de aula em forma de seminário para que se possa trocar experiências da área específica, e envolver a turma na atividade. Palavras-chave: Atividades lúdicas, ferramenta metodológica, ensino de ciências. 1- INTRODUÇÃO Para Oliveira (1999), Ensinar ciências não se restringe a transmitir informações ou apresentar apenas um caminho, mas é ajudar o aluno a tomar consciência de si mesmo, dos outros e da sociedade. A ciência é um processo inspirador de descoberta que ajuda a satisfazer a curiosidade natural com a qual todos nós nascemos. Infelizmente, o ensino tradicional, deturpa a ciência como um conjunto de fatos a serem memorizados e um processo rígido que amortece o espírito de investigação dos alunos. Ainda de acordo com Oliveira (1999), o ensino de ciências deve oferecer várias ferramentas para que ele possa escolher entre muitos caminhos, aquele que for compatível com seus valores, suas concepção de mundo e com ás diversidades que irá encontrar ao longo da vida. * Professor, Economista, Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior, Mestre em Ciências Ambientais, Bioeconomista Neste sentido o professor precisa deixar de ser o mero transmissor de conhecimentos científicos e agir como investigador das ideias e experiências de seus alunos. Os alunos devem receber nas nossas salas de aula uma valorização do mundo natural – devem ficar fascinados por seus meandros e animados para aprender mais. Eles devem ver e ciência como um processo multi-facetado e flexível para melhor compreensão desse mundo. Tais pontos de vista incentivam a aprendizagem ao longo da vida e promovem o surgimento do pensamento crítico sobre os problemas cotidianos que os estudantes enfrentam em suas vidas. O professor deve cultivar essas maneiras de pensar em seus alunos por meio do ensino de ciências e com precisão e entusiasmo comunicar a verdadeira natureza da ciência e incentivar os alunos a questionar como nós sabemos o que sabemos. Friedmann (1996) enfatiza que para a ocorrência de uma aprendizagem significativa deve ser oferecida aos alunos uma quantidade diversificada de tarefas e, para isso, o professor deve conhecer muitas técnicas e recursos, e, portanto, ser mantenedor de metodologias diferenciadas. Por isso, de acordo com as diretrizes curriculares de ciências, o trabalho com a perspectiva lúdica precisa ser considerado nas estratégias de ensino, independentemente da série e da faixa etária do estudante, adequando encaminhamento, linguagem e recursos utilizados como apoio. De acordo com Toscani (2007) Promover o envolvimento do aluno e garantir sua concentração em atividades de sala e extra-classe é um grande desafio para professores. Dentre os vários métodos de trabalhar a Biologia certamente alguns são mais favoráveis que outros para permitir que os alunos entendam a complexidade dos assuntos trabalhados, indicando a necessidade de se propor atividades alternativas que possam contribuir para o processo de ensinoaprendizagem (MORATORI, 2003). Segundo Maluf (2006): Todo o ser humano pode se beneficiar de atividades lúdicas, tanto pelo aspecto de diversão e prazer, quanto pelo aspecto da aprendizagem. Através das atividades lúdicas exploramos e refletimos sobre a realidade, a cultura na qual vivemos, incorporamos e, ao mesmo tempo, questionamos regras e papéis sociais. Podemos dizer que nas atividades lúdicas ultrapassamos a realidade, transformando-a através da imaginação. A incorporação de brincadeiras, de jogos e de brinquedos na prática pedagógica desenvolve diferentes capacidades que contribuem com a aprendizagem, ampliando a rede de significados construtivos tanto para as crianças, como para os jovens. Desta forma, temos como objetivo neste trabalho, a elaboração de um Jogo Didático como estratégia para o ensino de biologia celular e analisar a possibilidade de utilizá-lo em sala de aula no Ensino Médio, buscando com isso, contribuir para a melhoria da qualidade do ensino de Biologia, através da criação e disseminação de práticas educativas diferenciadas. Buscamos com este trabalho analisar também os efeitos da utilização de jogos como recurso didático em sala de aula, bem como valorizar a necessidade de inovação nos processos de ensino e aprendizagem. 2- CONTEÚDO DIDÁTICO PARA UTILIZAÇÃO NO BINGO A Célula A célula é a unidade estrutural e funcional fundamental dos seres vivos, assim como o átomo é a unidade fundamental das estruturas químicas. O termo célula é derivado da palavra latina cellula, que significa quarto pequeno, e foi observado pela primeira vez por um cientista chamado Robert hook no ano de 1665. A célula é a menor unidade da vida, que é capaz de controlar e executar várias funções em todos os organismos vivos. As células animais são de vários tamanhos e têm formas irregulares. A maioria das células tem um tamanho entre 1 e 100 micrômetros e são visíveis apenas com auxílio de microscópio. No corpo humano existem Triliões de células. Em um corpo humano adulto existem cerca de 210 tipos de células distintas. (ALBERTS, 2004) Célula animal Para Alberts et all.(2004) as células animais são eucarióticas. Tem um limite externo conhecido como membrana plasmática. O núcleo e as organelas da célula estão vinculados por uma membrana. O material genético (DNA) está dentro do núcleo que é ligado por uma membrana dupla. As organelas celulares têm uma vasta gama de funções como por exemplo a produção de enzimas para fornecer energia para as células. Organelas de uma célula animal e suas funções: 1- Nucléolo - produção dos componentes ribossômicos; 2 - Núcleo - conservar e transmitir a informação genética na reprodução das células e regular às funções celulares; 3 - Ribossomos - produção de proteínas; 4 - Vesículas - transporte de substância e união com a membrana para eliminar conteúdos para fora da célula; 5 - Retículo endoplasmático rugoso - participa da síntese e transporte de proteínas; 6 - Complexo de Golgi - faz a secreção celular; 7 - Citoesqueleto - participam do transporte de substâncias e dá forma a célula; 8 - Retículo endoplasmático Liso - participa do processo de transporte celular, além de participar da síntese de lipídios; 9 - Mitocôndrias - são responsáveis pela respiração das células; 10 - Vacúolo - atuam no processo de digestão intracelular; 11 - Citoplasma - tem a função de albergar as organelas e favorecer seus movimentos; 12 - Lisossomos - do grego lise quebra, destruição, são bolsas membranosas que contêm enzimas capazes de digerir substâncias orgânicas. Com origem no aparelho de Golgi, os lisossomos estão presentes em praticamente todas as células eucariontes. As enzimas são produzidas no RER e migram para os dictiossomos, sendo identificadas e enviadas para uma região especial do aparelho de Golgi, onde são empacotadas e liberadas na forma de pequenas bolsas. 13 - Centríolos: estão ligados à organização do citoesqueleto e aos movimentos de flagelos e cílios; (TODA BIOLOGIA) Célula vegetal É a unidade básica da estrutura e função em quase todas as plantas. Embora as estruturas e funções nas células vegetais sejam diversas, elas têm muitas características comuns com as células animais. A característica mais marcante de todas as células vegetais é a parede celular rígida, que está ausente nas células animais. A gama de especialização e o caráter de associação das células vegetais é muito ampla. Em uma planta mais simples formada por uma única célula o organismo tem condições de realiza todas às funções da vida. (ALBERTS 2004) As células vegetais e animais são constituídos pelos mesmos componentes fundamentais - ácidos nucleicos, proteínas, lipídios, e várias substâncias inorgânicas, e são organizados fundamentalmente da mesma maneira. Talvez a mais notável e, certamente, a mais estudada das características peculiares das células vegetais é a presença dos plastídios, que desempenham diversas funções, incluindo a fotossíntese. síntese de aminoácidos e ácidos graxos, além de armazenamento. (ALBERTS 2004) Organelas vegetais e suas funções - Retículo Endoplasmático Liso e Rugoso - ampliar a superfície interna da célula; favorecer a troca de substâncias entre a parte interna e externa da célula; favorecer a circulação dentro da célula; armazenar substâncias retiradas do hialoplasma e síntese de lipídios; - Núcleo celular - controlar e regular as reações químicas que ocorrem no interior da célula; guardar as informações genéticas da célula; - Complexo de Golgi - participar do processo de secreção celular; - Ribossomos - atuam na formação das cadeias proteicas; - Plastos - acumular substâncias usadas na nutrição dos vegetais (leucoplastos); realizar a fotossíntese (cloroplastos); - Mitocôndrias - fornecer energia para o metabolismo celular; - Vacúolos - atuam na regulação osmótica e armazenamento de diversas substâncias; - Peroxissomos - atuam no metabolismo dos lipídios e no processo de fotorrespiração. (TODA BIOLOGIA 02) 3- ELABORAÇÃO DO JOGO O jogo foi elaborado para ser aplicado inicialmente em uma turma de primeiro ano do Ensino Médio. Material utilizado no jogo O jogo apresenta os seguintes componentes: uma caixa com dez repartições, com as seguintes representações celulares; dez nucléolos, dez mitocôndrias, dez ribossomos, dez lisossomos, dez centríolos, dez retículos endoplasmáticos lisos, dez retículos endoplasmáticos rugosos, dez núcleos, dez Complexo de golgi, dez Microtubulos, dez bolas de isopor numeradas (0 à 9), uma caixa para sorteio e uma caixa com dez repartições numeradas, contendo dez conjuntos com 08 perguntas e respostas sobre cada organela. Objetivo e participantes do jogo O objetivo é completar toda a célula eucarionte animal e gritar bingo. Em cada jogada, podem participar oito jogadores e um coordenador (para fazer as perguntas e sortear os números) Regras do jogo O jogo apresenta regras que sintetizam sua dinâmica: 1) Cada jogador deve receber uma cartela (célula eucarionte animal); ou (célula eucarionte vegetal); 2) O coordenador sorteia uma bolinha e anuncia o número da bola e observa a repartição que corresponde a esse número na caixa das perguntas; 3) Logo após, realiza a primeira pergunta sobre a determinada estrutura da célula no conjunto de perguntas e respostas. Então, anuncia para os jogadores, o primeiro a ter direito a resposta é o jogador à esquerda do coordenador. Cada participante tem direito a apenas uma tentativa; 4) Quanto a resposta dada pelos jogadores a) Jogador acertando a resposta: O jogador ganha a estrutura que o coordenador pega na caixa das representações celulares e coloca em sua célula. O jogo segue com o participante a esquerda do que acertou a pergunta. Sendo assim, o coordenador coloca a bola retirada anteriormente de volta na caixinha de sorteio e retira outra, repetindo o processo; b) Caso o jogador erre a resposta: O próximo participante a esquerda deste, tem o direito a uma resposta e assim seguidamente até que um jogador acerte; c) Caso ninguém acerte: O coordenador recomeça o processo, sorteando outro número; d) Caso o jogador não saiba a resposta: Caso o jogador não souber responder a pergunta, ele pode passar a vez para o jogador a sua esquerda; 5) O jogo termina quando um dos jogadores completar a célula eucarionte animal ou vegetal, com suas estruturas inseridas na célula e gritar bingo . OBS: o coordenador não pode gritar bingo e nem auxiliar os jogadores. 4- CONSIDERAÇÕES FINAIS Tradicionalmente, os professores utilizam o mesmo formato de aula para ensinar ciências aos seus alunos. Uma das desvantagens para o uso do formato tradicional é que ele não envolve os estudantes em sua aprendizagem. Esta técnica de ensino incentiva a memorização em vez da excitação pelo prazer de conhecer o mundo da ciência. As atividades lúdicas são ferramentas fundamentais para os processos de ensino e aprendizagem, e o jogo didático caracteriza-se como uma importante e viável alternativa para auxiliar em tais processos por favorecer a construção do conhecimento ao aluno. Kishimoto (1996), afirma que os jogos recreativos e a competitividade sadia desenvolvem além da cognição, pois permitem que se construam as representações mentais, a afetividade, as funções sensório- motoras e a área social, no que diz respeito às relações entre os alunos e a percepção das regras. Kishimoto (1996, p.37) diz ainda: “A utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do conhecimento, por contar com a motivação interna típica do lúdico”. Os professores de ciências têm uma excelente oportunidade com o uso de atividades lúdicas ensinarem aos seus alunos de forma divertida e eficaz. Infelizmente, as dificuldades do dia em sala de aula e a apatia por parte deles, por vezes, torna-se difícil fazer os alunos se interessarem em temas como citologia, anatomia, física e química. No entanto, o uso de novas técnicas de ensino ajuda envolver os alunos e faz com que compreendam a importância da ciência na sua vida. Elas também possibilitam tornar divertido ensinar conceitos científicos e ajudam os alunos a compreender temas comuns no mundo científico. 5- REFERÊNCIAS ALBERTS, B. Biologia Molecular da Célula. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. ALBERT, B.; BRAY, D.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K. e WALTER, P. Fundamentos da Biologia Celular: uma introdução à biologia da célula. 3. reimpressão. Porto Alegre: Artmed, 2004. ALVES. R. J. L. O lúdico no ensino de citologia e sua importância para o desenvolvimento de competências e habilidades. 2011. 39f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Ciências Biológicas), Universidade de Brasília. Brasília, 2011. BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da Educação/SEMTec, 2000. CAMPOS, L. M. L.; FELICIO, A. K. C.; BORTOLOTO, T. M. A produção de jogos didáticos para o ensino de Ciências e Biologia: uma proposta para favorecer a aprendizagem. Cadernos dos Núcleos de Ensino, p. 35-48, 2003. FRIEDMANN, A. Brincar: crescer e aprender - o resgate do jogo infantil. Moderna, São Paulo, 1996. KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. Cortez, São Paulo, 1996. MALUF, A.C.M. Atividades lúdicas como estratégias de ensino aprendizagem . 2006. Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=850 Acesso em: 17 de outubro de 2009. MORATORI, P. B. Por que utilizar jogos educativos no processo de ensino aprendizagem? Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2003. SÓ BIOLOGIA - “Citologia” acesso em: 12/04/2015 Disponível em: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Citologia OLIVEIRA, D.L. de. Ciências nas salas de aula. Porto Alegre: Ed. Mediação, 1999. TODA BIOLOGIA – “Citologia” - acesso em: 12/04/2015 Disponível em: http://www.todabiologia.com/citologia/celula_animal.htm TODA BIOLOGIA 02 – “Botânica” - acesso em: 12/04/2015 Disponível em: http://www.todabiologia.com/botanica/organelas_celula_vegetal.htm TOSCANI, N. V.; SANTOS, A. J. D. S.; SILVA, L. L. M.; TONIAL, C. T.; CHAZAN, M.; WIEBBELLING, A. M. P. & MEZZARI, A. Desenvolvimento e análise de jogo educativo para crianças visando à prevenção de doenças parasitológicas. Interface – Comunicação, Saúde e Educação, v. 11, n. 22, p. 281-94, 2007.