Subido por Rafael Miranda

Pílula-Semanal-05

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MEDITERRÂNEO
PUXAR O PESO
PARA SI
PÍLULA SEMANAL #05
|
HUGO MESQUITA
Nesta semana temos um tema
que gira em torno do
relacionamento entre pessoas,
sobretudo os relacionamentos
afetivos, estáveis, em que há
compartilhamento de
responsabilidades. Ou seja,
em que aquele elemento da
vida ordinária, das tarefas,
dos deveres está incorporado
e ele atravessa o
relacionamento.
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Então, efetivamente, o que
acaba acontecendo? Existem
muitas coisas a serem feitas no
campo prático. Coisas do dia a
dia: trabalho, trabalho
profissional, trabalho
remunerado, trabalho de casa,
compromissos, lembrança de
datas e tudo o mais. Em geral, o
que vai tende a acontecer?
Tendemos a entrar naquela
lógica: se cada um fizer sua
parte, está tudo bem.
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Não é mais ou menos assim que a
gente faz? O peso, quando dividido,
fica leve para todo mundo. Falamos
muito essas coisas. “Ah, cada um
ajuda o outro”, né? “Eu ajudo, você
ajuda. Cada um faz sua parte”. Cada
um cumpre a sua parte e beleza, né?
Não é que isso aí está errado. O
problema é: quando eu parto dessa
perspectiva, ou seja, quando eu já
parto de antemão dessa ideia de que
todo mundo vai cumprir a sua parte,
eu faço o meu e espero que o outro
faça o dele, não é assim?
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E se o outro não fizer? Aí, nesse
elemento, orbitam uma série de
problemas e picuinhas que vão
aparecendo. Gostaria de sugerir
uma perspectiva diferente para
entrar nessa lógica. Cenário real:
eu puxo para mim o peso das
coisas. Ou seja, eu puxo para mim
a responsabilidade. Eu faço o que
eu tenho que fazer? Faço. Sobrou
tempo? Faço o que o outro tem
que fazer também, puxo para
mim.
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Se eu parto do
pressuposto: “Olha,
eu vou puxar a
responsabilidade
para mim. Eu vou
puxar o peso, a
densidade das coisas,
para mim”, ou seja, eu
vou me ocupar
daquilo sem ficar
pensando no que é
meu e no que é do
outro, no que é minha
responsabilidade e
no que é
responsabilidade do
outro. Simplesmente
vou fazer e vou
puxando para mim.
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Se alguma coisa deu errado, eu vou puxar
para mim. “. Quando eu puxo a
responsabilidade para mim, com o tempo
eu convido o outro a dividir esse peso.
Agora, alguém pode estar dizendo: “Ah,
mas eu faço, faço, faço, o outro não faz
nada...”, veja bem: eu não estou falando
para você fazer isso esperando que o outro
vá fazer em algum momento, mas fazer
isso com alegria, com amor. Fazer de um
jeito que a pessoa não vai nem notar que
você está... Porque você está fazendo com
alegria. Em algum momento, a pessoa se
sente convidada a participar daquilo.
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Ela percebe que você fica mais gente,
que você fica mais adulto. Puxar o peso
para si convida o outro a participar da
divisão do peso. Novamente: sem a
expectativa de que isso vá acontecer. É
paradoxal, é uma ação pura. Ou seja, eu
estou agindo e ponto. Eu não estou
colocando, na minha ação, aquele peso:
“Você também tem que fazer” Quando
eu transformo esses atos de serviço, de
entrega e de compartilhamento em:
“Não, eu vou pegar para mim, eu vou
pegar para mim, vou pegar para
mim...”, eu vou tornando o meu
ambiente mais amável. Torna a vida
mais amável, mais agradável.
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Então, fica interessante estar em torno de
mim, mas quando eu faço isso com atitude
boa. Não adianta eu fazer isso com uma má
vontade, fazer isso já reclamando, já jogando
um peso na pessoa, senão não vai funcionar.
Pra que ficar cobrando o outro? Falar não
muda nada. O que muda é fazer, puxar o
peso para si, carregar o peso, com uma
atitude amável, alegre, carinhosa, tranquila,
pacífica, que cria, em volta de mim, uma
aura luminosa. Eu crio um espaço, em torno
de mim, em que as pessoas conseguem se
movimentar com qualidade, com
tranquilidade: Eu reproduzo, naquele
ambiente, algo análogo ao que deveria ser a
primeira infância. Em que a pessoa se sente
segura para agir no mundo.
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Só assim eu começo a
conseguir provocar
uma mudança para
bem no clima do meu
ambiente, e assim as
coisas ficam muito
boas. Alguém pode
dizer: “Ah, mas, se eu
fizer isso, eu não vou
me anular?” Esse é o
tipo de expressão que
não significa nada, é
uma expressão vazia.
Ninguém se anula por
servir. No ideal do
mundo de hoje, a
ideia é: cada um por
si, cada um faz o seu,
se vira.
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Nos filmes e séries que
mostram relacionamentos, é
visível a total incapacidade de
compartilhar uma vida. Total. As
pessoas começam a sofrer, a
chorar, com defeitinhos. “Ai, que
ele não fez o café... Porque me
olhou assim... Não respondeu
assado... Não perguntou isso...
Não fez aquilo... ela é
bagunceira"
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As pessoas começam a ficar
muito atentas a tudo aquilo
que o outro deveria fazer, que
ele espera que ele faça. Ou
seja: eu quero conviver
comigo, não quero um outro.
Eu não estou tendo um
relacionamento pessoal. Eu
não tenho uma relação de
alteridade. Eu quero um “eu”
na minha frente.
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Tive um professor muito
engraçado, muito divertido.
Não que fosse simpático
porque não era. Era engraçado
pelo jeito dele. Professor de
linguagem, psicanalista. Ele
falava sobre como as pessoas
têm essa mania de se
relacionar sem relacionar. Ou
seja, eu me relaciono com a
projeção que eu faço de mim
no outro.
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Ele falava assim: “Conheci uma
pessoa...”, Aí vem a conversa:
“Montanha ou mar?”, “Montanha”,
“Ar-condicionado ou ventilador?,
“Ventilador”. Aí no final: “Bate
tudo”. Então ele diz: “Conheci uma
pessoa especial: eu”. Eu achei
especial exatamente isso: traços
meus e que eu projetei no outro e
ele confirmou. Aí, quando a
pessoa para de confirmar, eu digo:
“Me decepcionei com aquela
pessoa". Claro, descobri que ela
não sou eu.
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A MENTALIDADE É:" EU AMO O OUTRO NA MEDIDA
EM QUE ELE SOU EU”, NA MEDIDA EM QUE EU ME
ESPELHO NELE E QUE ELE ATENDE ÀS MINHAS
EXPECTATIVAS, E SÃO EXPECTATIVAS MUITO
BAIXAS. NÃO ESTOU FALANDO DE EXPECTATIVAS
DO TIPO: COMPARTILHAR VALORES... NÃO. “AH,
NÃO, ELE NÃO RI QUANDO EU ACHO QUE ELE TEM
QUE RIR”, “AI, ELA NÃO LAVA A LOUÇA DEPOIS DA
REFEIÇÃO”...
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ENTÃO, QUAL O SEGREDO? PUXAR O
PESO PARA SI, PUXAR A
RESPONSABILIDADE PARA SI. DEIXA
COMIGO, DEIXA QUE EU MATO NO PEITO.
QUANDO EU FAÇO ISSO DE MANEIRA
ALEGRE, DE MANEIRA TRANQUILA,
PACÍFICA, AMOROSA, O OUTRO SE SENTE
CONVIDADO A FAZER O MESMO. AÍ SIM
OCORRE O EQUILÍBRIO, UM EQUILÍBRIO
DINÂMICO. NÃO ESTÁTICO. É COMO
NAQUELAS HISTÓRIAS CONTADAS SOBRE
O INFERNO. O SUJEITO MORREU E PÔDE
DAR UMA OLHADA NO INFERNO.
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Lá tinha um sopão gigante e todo
mundo com umas colheres muito
compridas, daí eles tentavam comer
com aquela colher e não conseguiam:
ficava um batendo na cara do outro e
ninguém conseguia. “Ai, que coisa
horrível, deixa eu ver o Céu”. Chegou
no Céu e viu a mesma cena: sopão,
colher grandona e, aí vem o detalhe:
um servindo o outro. A diferença está
no serviço. A diferença está no: “tá
bom. Essa colher é grande, então eu
vou te servir”, eu não me preocupo.
Ação de serviço sem expectativa, mas
repleta de esperança.
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MEDITERRÂNEO
CONTEÚDO:
HUGO MESQUITA | @HUGOJMESQUITA
DIAGRAMAÇÃO E ARTE:
JEOVAH FIALHO | @JEOVAHFIALHO
DISPONÍVEL PARA DOWNLOAD:
WWW.OMEDITERRANEO.COM.BR
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